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A NULIDADE DA PENHORA REALIZADA ANTES DA CITAÇÃO NA

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A NULIDADE DA PENHORA REALIZADA ANTES DA CITAÇÃO NA 
EXECUÇÃO FISCAL 
 
Felipe Garcia Lisboa Borges* 
 
Por primeiro, é importante destacar que todo e qualquer ato de constrição do 
patrimônio, ou da liberdade do cidadão, deverá observar o devido processo legal e os 
direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, consoante artigo 5º, inciso LIV, da 
CF/88. 
Nenhuma pretensa rapidez processual ou celeridade judicial legitima o Poder 
Público a desconsiderar os postulados supracitados, sob pena de esvaziamento dos 
princípios constitucionais afetos à questão. 
James Marins tece fundamentada crítica nesse sentido: 
 
As aplicações imoderadas da lei processual em face do contribuinte, 
através de providências executórias instantâneas, que agridem o direito de 
defesa e ampliam a vulnerabilidade do devedor do Estado, frequentemente 
incidem no risco inconsciente de escapar da “legalidade do razoável” e 
resvalar para o campo do arbítrio.1 
 
Nesse passo, temos que somente após decisão judicial fundamentada, nos termos 
do artigo 93, IX, da CF/88, é que os atos constritivos podem se efetivar. Caso contrário, são 
nulos de pleno direito. 
Outrossim, sabe-se que somente a citação regular produz efeitos válidos nas 
ações judiciais. A regra é a citação efetivada e juntada aos autos, pois só assim é formada a 
relação processual com relação ao demandado. 
Contudo, no âmbito da execução fiscal, aproveitando-se das facilidades do 
sistema Bacenjud, certas varas fazendárias passaram a adotar, em nome da celeridade 
processual, a “penhora preventiva”. Trata-se da penhora efetivada antes da citação do 
executado. 
No caso do bloqueio on-line, ato constritivo que é, deve ser utilizado de maneira 
restritiva, sob pena de atrocidades processuais. Embora seja ferramenta de grande utilidade 
 
1 MARINS, James. Defesa e vulnerabilidade do contribuinte. São Paulo: Dialética, 2009. p. 125. 
para a agilidade dos processos executivos judiciais, não pode subverter a regra 
constitucional. 
Sabe-se que a execução faz-se no interesse do credor. Contudo, também é de 
conhecimento geral que ela deve ser feita da maneira menos onerosa para o devedor (Art. 
620, CPC), e sempre respeitando os princípios comezinhos do direito, como, por exemplo, o 
devido processo legal. 
A despeito de muitos questionarem a existência de impedimento legal à penhora 
antes da citação, temos que o artigo 185-A, do CTN, é explícito ao dar ao executado a 
garantia de ser regularmente citado antes da penhora de seus bens. 
 
Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, não 
pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem 
encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de 
seus bens e direitos, comunicando a decisão, preferencialmente por meio 
eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros de transferência 
de bens, especialmente ao registro público de imóveis e às autoridades 
supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais, a fim de que, 
no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial. (Incluído 
pela Lcp nº 118, de 2005)2 
 
E a melhor jurisprudência assim entende: 
 
TRF2: Processo: AG 162281 RJ 2008.02.01.001111-6 
Relator(a): Desembargador Federal LUIZ PAULO S ARAUJO Fº/no afast. 
Relator 
Julgamento: 25/06/2008 
Órgão Julgador: SÉTIMA TURMA ESPECIALIZADA 
Publicação: DJU - Data::01/07/2008 - Página::196/197 
Ementa 
PROCESSUAL CIVIL. PENHORA ON LINE. CITAÇÃO DO 
EXECUTADO. 
1. A utilização do sistema BACEN-JUD para a penhora on line de ativos 
financeiros em nome do executado é medida excepcional, a ser admitida 
 
2 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm. Acesso em 18 de novembro de 2013. 
somente quando o exeqüente comprovar o exaurimento dos esforços 
tendentes a encontrar bens penhoráveis, o que não ocorre in casu. 
2. Além disso, é necessária a regular citação do executado para a validade 
do processo de execução, nos termos do inciso II do art. 618 do CPC, não 
podendo haver penhora antes da citação, ainda que editalícia, do 
executado, sob pena de se ferir o princípio do devido processo legal. 
3. Agravo interno desprovido3 
 
STJ: EDcl no AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.296.737 - BA 
(2011/0299896-7) 
RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO 
EMBARGANTE : FAZENDA NACIONAL 
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL 
EMBARGADO : BRASKEM S/A 
ADVOGADO : DANIELA DE SOUSA SATURNINO BRAGA E 
OUTRO(S) EMENTA 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO 
ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. BACEN-JUD 
(PENHORA ON LINE). ART. 185-A DO CTN. POSSIBILIDADE DE 
BLOQUEIO DE ATIVOS FINANCEIROS EM DEPÓSITO DESDE QUE 
O EXECUTADO, VALIDAMENTE CITADO, DEIXE DE PAGAR A 
DÍVIDA OU NOMEAR BENS PASSÍVEIS DE PENHORA. 
PRECEDENTE: RESP. 1.044.823/PR, REL. MIN. FRANCISCO 
FALCÃO, DJE 15.09.2008. AUSÊNCIA DOS VÍCIOS DO ART. 535 DO 
CPC. EMBARGOS DA FAZENDA NACIONAL REJEITADOS. 1. A teor 
do disposto no art. 535, incisos I e II do CPC, os Embargos de Declaração 
destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade ou eliminar contradição 
existente no julgado, o que não se verifica na hipótese. Excepcionalmente o 
Recurso Aclaratório pode servir para amoldar o julgado à superveniente 
orientação jurisprudencial do Pretório Excelso, quando dotada de efeito 
vinculante, em atenção à instrumentalidade das formas, de modo a garantir 
a celeridade e a eficácia da prestação jurisdicional e a reverência ao 
pronunciamento superior, hipótese diversa da apresentada nos presentes 
autos. 2. Os Embargos de Declaração não se prestam à finalidade de 
 
3 Disponível em: http://trf-2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1553233/agravo-de-instrumento-ag-162281-rj-
20080201001111-6. Acesso em 18 de novembro de 2013. 
 
sustentar eventual incorreção do decisum hostilizado ou propiciar novo 
exame da própria questão de direito material, de modo a viabilizar, em sede 
processual inadequada, a desconstituição de ato judicial regularmente 
proferido. 3. Verifica-se que a controvérsia foi solucionada de acordo com 
os parâmetros necessários ao seu deslinde. O entendimento desta Corte 
Superior orienta-se no sentido de que apenas o executado validamente 
citado que não pagar nem nomear bens à penhora é que poderá ter seus 
ativos financeiros bloqueados por meio do sistema conhecido como 
BACEN-JUD, sob pena de violação ao princípio do devido processo legal. 
4. Com efeito, no caso dos autos, restou incontroverso o fato de que a 
penhora on line foi deferida pelo Magistrado de piso antes da citação 
regular do executado (fls. 97), pelo que o acórdão ora recorrido encontra-se 
em consonância com o entendimento desta Corte. 5. Assim, percebe-se que 
o acórdão embargado não contém quaisquer dos vícios elencados no art. 
535 do CPC, merecendo estes Embargos a rejeição. 6. Embargos de 
Declaração da Fazenda Nacional rejeitados, por ausente qualquer dos 
pressupostos de sua aceitação.4 
 
Neste caso, entendemos que a penhora é nula e o prejuízo é manifesto, pois, sem 
a citação regular o executado não gozará de um termo inicial válido e formal para pagar a 
dívida ou garantir a execução, contrariando o artigo 185-A, do CTN, e, sobretudo, os artigos 
7, inciso II, e 10, da Lei de Execução Fiscal, que garantem expressamente tal direito. 
 
 
 
4 Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/53556048/stj-25-04-2013-pg-696. Acesso em 18 de 
novembro de2013.

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