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Leitura Escrita na Era Digital Cleide J M Pareja

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Curitiba
2013
Leitura e Escrita 
na Era Digital
Cleide J. M. Pareja 
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Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
Pareja, Cleide J. M.
P227l Leitura e escrita na era digital / Cleide J. M. Pareja. – Curitiba: 
Editora Fael, 2013.
139 p.: il.
ISBN 85-64224-95-7
Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua 
Portuguesa.
1. Leitura e escrita. 2. Produção textual. 3. Tecnologia da 
informação e comunicação. I. Título.
CDD 302.2
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
Editora faEl
Gerente Editorial William Marlos da Costa
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Edição Jaqueline Nascimento
revisão Fernanda Calvetti Corrêa
diagramação Karlla Cristyne Plaviak
Capa Quieliton Camargo Batista
fotos da Capa Suat Gursozlu
Toria
Yuralaits Albert
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Apresentação
Atualmente, sabe-se que o estudo da língua portuguesa 
na Era Digital mostra-se absolutamente necessário, posto que o 
domínio da palavra escrita e falada não mais representa um talento 
particular, mas um atributo essencial do profissional competente, 
atualizado, moderno e eficaz.
No entanto, pergunta-se: quem nunca teve dúvidas sobre a 
língua portuguesa na hora de falar ou de escrever? Muitas pes-
soas, apesar de lerem e de escreverem diariamente, apresentam 
dificuldades.
A proposta da autora Cleide J. M. Pareja é de facilitar a comu-
nicação, assim como de mostrar, de forma simplificada, como os 
atos de escrever e de falar bem não são tão difíceis, como muitos 
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Leitura e Escrita na Era Digital
imaginam. Também deixa claro que, em um mundo no qual a comunicação 
é o elemento propulsor do desenvolvimento, profissionais, dos mais variados 
ramos de atividade, precisam expressar-se corretamente, com clareza e obje-
tividade, mostrando-se capazes e produtivos.
A autora também objetiva expor um trabalho prático e incessante a fim 
de que os indivíduos desenvolvam a habilidade de realizar a comunicação de 
forma coerente, tanto na modalidade escrita quanto na oral. Ou seja, ela pro-
cura trabalhar o domínio da linguagem a partir de uma perspectiva da diver-
sidade linguística, sobretudo em relação à oposição entre a fala e a escrita, 
às diferentes formas como a linguagem é apresentada e à maneira como os 
falantes de uma língua fazem uso dela.
Na obra, aborda, ainda, em cada capítulo, noções teóricas e exemplos de 
situações práticas de comunicação e de linguagem que auxiliarão o leitor no 
desenvolvimento da língua falada e escrita, promovendo, dessa forma, uma 
produção textual bem redigida. 
Assim, apoiada em referenciais teóricos que envolvem a conceituação 
e o estudo da linguagem, bem como o estudo de gêneros virtuais e tex tuais, 
a autora está, também, atenta à aplicação prática do assunto, ou seja, empe-
nha-se em destacar a contribuição da leitura para o desenvolvimento do 
potencial criativo da experiência existencial do indivíduo.
As reflexões aqui veiculadas abrem um leque de possibilidades de uso da 
língua que, se colocadas em prática, certamente contribuirão para transfor-
mar o estudo na Leitura e Escrita na Era Digital na competência de ouvir, ver 
e praticar a linguagem de forma a ampliar o conhecimento já interiorizado 
pelo usuário da língua e aumentar sua capacidade de expressar-se e interagir 
nos mais diferentes contextos e circunstâncias que a vida moderna exige.
Veridiana Almeida* 
* Doutora em Literatura e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa 
Catarina. É autora das obras Fundamentos e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa (2010), 
Alfabetização, Fundamentos e Métodos (2010) e Literatura Infantojuvenil (2011). Atualmente, é 
professora titular da Fael, nas modalidades presencial e a distância, nos níveis de graduação e 
de pós-graduação.
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Sumário
 Prefácio | 7
1 Homem e linguagem | 9
2 Leitura e escrita | 31
3 Construção do texto | 51
4 Tecendo os parágrafos | 67
5 Gêneros textuais e tipos de textos | 83
6 Novas tecnologias da informação e da comunicação | 113
 Referências | 133
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Prefácio
O espaço universitário caracteriza-se como um espaço 
letrado que exige pessoas proficientes na leitura e na produção tex-
tual, portanto, é necessário ofertar, no primeiro ano, um ensino de 
leitura e escrita que atenda à demanda exigida pelo próprio meio. 
No entanto, a maioria dos currículos do ensino superior não 
assumem para si a responsabilidade do desenvolvimento dessas com-
petências nos alunos, o que acabará interferindo na aprendizagem 
dos conteúdos ensinados nas diversas disciplinas do curso escolhido 
Neste livro, os conceitos básicos para o ensino das competên-
cias indispensáveis de leitura e escrita situam-se na visão socioin-
teracionista do letramento acadêmico, ao se concentrarem em seu 
desenvolvimento para interagir com o mundo na posição de escritor 
e leitor de textos, em especial de textos acadêmicos. A linguagem é 
então vista como um conjunto de atividades e uma forma de ação. 
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Leitura e Escrita na Era Digital
O objetivo desta obra é possibilitar aos alunos o domínio das habilida-
des de leitura e produção de textos acadêmicos para facilitar a entrada em 
todas as áreas do conhecimento.
A forma como a obra foi estruturada é fruto de anos de experiência com 
alunos ingressantes na graduação e em diferentes cursos. É possível perceber 
que, seguindo este caminho, ao final do semestre os acadêmicos conseguem 
ler, escrever e entender melhor os textos com os quais têm contato. Desven-
da-se o mistério da leitura e da escrita.
São seis capítulos: o primeiro discorre sobre a importância da linguagem 
para o homem, as variedades linguísticas e as funções da linguagem, apre-
sentando conceitos fundamentais sobre linguagem, língua e fala; o segundo, 
sobre leitura e escrita, apresenta os procedimentos de leitura e sua estreita 
relação com a produção do resumo; o terceiro foca sua atenção no estudo 
do parágrafo, sua estrutura e tipos de desenvolvimento; o quarto incide sobre 
a forma e recursos para manter a coesão e a coerência no texto; o quinto 
apresenta os diversos gêneros e tipologias textuais e no sexto capítulo são 
apresentados os gêneros textuais virtuais, a leitura e a escrita na Era Digital.
Com a clareza dos conceitos trabalhados e um exercício contínuo de 
produção e revisão dos textos escritos, certamente os professores que intera-
gem com os alunos conscientizam a todos de que a língua deve ser aprendida 
como um instrumento social, interativo e dinâmico.
A autora.* 
* Cleide J. M. Pareja é doutoranda em educação pela Universidade Católica de Santa Fé, 
Mestre em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina e Especialista em Letras pela 
Universidade Federal do Paraná. Graduada em Letras pela Universidade do Contestado, é 
professora de graduação e pós-graduação da Universidade do Vale do Itajaí. Pesquisadora 
do Grupo Cultura, Escola e Educação, criadora do mestrado e doutorado em educação da 
Univali. Autora de vários livros didáticos para o curso de letras EaD da Univali. Bolsista 
da CAPES como coordenadora de área no programa institucional de bolsas de incentivo à 
 docência (PIBID/LETRAS) da Univali.
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1
Homem e linguagem
Neste capítulo, realizaremos uma reflexão sobre os 
conceitoslinguísticos fundamentais para a aprendizagem e o ensino 
da língua portuguesa. 
Serão abordados os conceitos de linguagem, língua e fala, as 
diferentes formas como a linguagem é apresentada e a maneira 
como os falantes de uma língua fazem uso dela. Serão apresentadas 
ainda as funções da linguagem e suas variações.
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Leitura e Escrita na Era Digital
Ao final do capítulo, será possível identificar os elementos da comuni-
cação, além de distinguir as funções da linguagem em relação aos elementos 
do processo comunicativo. Também será possível diferenciar os conceitos de 
linguagem, língua e fala e reconhecer a variação linguística como uma mani-
festação decorrente das influências recebidas no contato com as diversas cul-
turas existentes em nosso país. 
A língua é, sem dúvida, um dos mais importantes produtos da cultura, 
porque é o código utilizado em grande parte dos nossos atos de comunicação.
1.1 Linguagem, língua e fala 
No dia a dia, costuma-se afirmar – o que cientificamente comprova-se – 
que a linguagem diferencia o homem dos demais animais. Dessa forma, no 
Dicionário de comunicação (RABAÇA, 1987, p. 367), encontramos a seguinte 
definição: “a linguagem é um fato exclusivamente humano, um método de 
comunicação racional de ideias, emoções e desejos por meio de símbolos 
produzidos de maneira deliberada”. Isso porque a linguagem humana pode 
ser articulada por seu usuário, pode envolver o pensamento e o simbólico, 
a representação da sua realidade e suas relações nos atos comunicativos. 
Assim, a linguagem, a língua possibilita ao homem criar e agir sobre a rea-
lidade. Segundo Vygotsky, “o momento de maior significado no curso do 
desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas 
de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prá-
tica, então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, 
convergem” (VYGOTSKY, 2010, p. 12).
No texto a seguir, o filósofo Louis Hjelmslev (1975, p. 15) apresenta, de 
modo filosófico e literário, a indiscutível importância da linguagem para o 
homem:
A linguagem, a fala humana é uma inesgotável riqueza de 
múltiplos valores. A linguagem é inseparável do homem e 
segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento 
graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus senti-
mentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, 
o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, 
a base última e mais profunda da sociedade humana. Mas é 
também o recurso último e indispensável do homem, seu refú-
gio nas horas solitárias em que o espírito luta com a existên-
cia, e quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na 
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Homem e linguagem
meditação do pensador. Antes mesmo do primeiro despertar 
de nossa consciência, as palavras já ressoavam à nossa volta, 
prontas para envolver os primeiros germes frágeis de nosso 
pensamento e a nos acompanhar inseparavelmente através 
da vida, desde as mais humildes ocupações da vida quotidiana 
aos momentos mais sublimes e mais íntimos dos quais a vida 
de todos os dias retira, graças às lembranças encarnadas pela 
linguagem, força e calor A linguagem não é um simples acom-
panhante, mas sim um fio profundamente tecido na trama do 
pensamento; para o indivíduo, ela é o tesouro da memória e a 
consciência vigilante transmitida de pais para filhos. Para seu 
bem e para o mal, a fala é a marca da personalidade, da terra 
natal e da nação, o título de nobreza da humanidade. 
Para dominar a linguagem como língua, é preciso que a pessoa desen-
volva várias habilidades necessárias ao processo de comunicação. Ouvir, 
falar, ler e escrever são as ações que, gradualmente, vão propiciar o desenvol-
vimento desse domínio. 
A partir do nascimento (alguns estudiosos afirmam que até antes), 
começa-se a ouvir todos que estão próximos; pelo processo de imitação, 
associado com o desenvolvimento físico, inicia-se a repetição do que se ouve. 
Nasce a fala, no início restrita, com pouquíssimas palavras que, em geral, 
servem para várias situações e objetos, tais como: “mamá” (comida), “mãma” 
(mãe); “papá” (comida), “pápa” (pai), e assim por diante. Por volta dos sete 
anos, chegamos a 1 mil ou 1,2 mil palavras e, por volta dos 14 anos, a 15 ou 20 
mil, dependendo do contexto e das situações relacionadas com a linguagem.
Na sequência, a oralidade irá se transformar em linguagem simbólica, 
a partir do momento em que as habilidades de leitura e escrita passam a ser 
dominadas. Essas duas habilidades necessitam de aprendizagens diferencia-
das, pois “para escrever é preciso ter um acervo de recursos e ter o que dizer 
sobre o assunto. Para ler, é preciso ter um acervo de recursos que permita 
compreender o texto” (LIMA, 2002, p. 15). Se, por um lado, é ruim apren-
der as duas habilidades separadamente e não como um conhecimento auto-
mático, por outro, é salutar, porque, em caso de qualquer problema físico, 
pode-se ficar com uma ou com outra (se tiver sorte).
Após o processo de domínio das quatro habilidades, adquire-se uma com-
petência muito mais importante do que simplesmente o domínio de uma língua, 
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Leitura e Escrita na Era Digital
é a competência de pensar, que torna o homem, segundo a tradição, efetivamente 
humano. Ou seja, se há linguagem, há pensamento ou, como diz o filósofo Des-
cartes: “Cogito, ergo sum” (“Penso, logo existo”). Vygotsky pondera que
a relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa 
mas um processo, um movimento contínuo de vaivém entre 
a palavra e o pensamento: nesse processo a relação entre o 
pensamento e a palavra sofre alterações que, também elas, 
podem ser consideradas como um desenvolvimento no sen-
tido funcional. As palavras não se limitam a exprimir o pen-
samento: é por elas que este acede à existência [...]. O pensa-
mento e a palavra não são talhados no mesmo modelo: em 
certo sentido há mais diferenças do que semelhanças entre 
eles. A estrutura da linguagem não se limita a refletir como 
num espelho a estrutura do pensamento; é por isso que não 
se pode vestir o pensamento com palavras, como se de um 
ornamento se tratasse. O pensamento sofre muitas altera-
ções ao transformar-se em fala. Não se limita a encontrar 
expressão na fala; encontra nela a sua realidade e a sua forma 
(VYGOTSKY apud IANNI, 1999, p. 40).
No entanto, linguagem e língua aproximam-se e diferem de que modo? 
Muitas palavras, utilizadas para explicar o processo de comunicação, pare-
cem sinônimas, mas apresentam conceitos diferentes cuja compreensão é 
importante, tanto para o ensino, quanto para a aprendizagem de uma língua, 
são elas: linguagem, língua, fala, discurso, sistema, norma, palavra, vocábulo 
e léxico. Portanto, o conhecimento da importância da palavra para todo o 
processo de interação por meio da linguagem é fundamental. Isso porque 
cada palavra tem seu sentido reconhecido plenamente desde que se conheça 
o contexto no qual ela está inserida. O contexto é que definirá o real sentido 
de cada palavra. A compreensão do sentido da palavra, num determinado 
texto e contexto, é que possibilitará, também, a compreensão da mensagem.
Contexto
Texto
Palavra
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Homem e linguagem
Tal concepção fica evidente na música Palavras, do grupo Titãs, pois, 
a partir dela, é possível inferir que é o falante que dá vida às palavras, pelo 
contexto e pela compreensão de mundo do usuário. Vamos observar o trecho 
a seguir:
Palavras 
Palavras são iguais
Sendo diferentes
Palavras não são frias
Palavras não são boas
Os números pra os dias
E os nomes pra as pessoas[...]
Palavras. Marcelo Fromer e Sérgio Britto, Titãs, 
1989 © Warner Chappel Music.
A linguagem é uma característica humana universal, visto que utiliza 
todos os códigos, signos, sinais para que sejam expressados pensamentos, per-
cepções e sentimentos e para que a comunicação seja efetivada. Pode-se dizer 
que a linguagem vai se desenvolvendo por meio de um sistema de signos (algo 
que está no lugar de um objeto ou fenômeno, sob algum aspecto). 
Os signos estabelecem relações de sentido com o objeto que represen-
tam, das mais simples às mais complexas. É necessário passar por essas rela-
ções para se chegar ao domínio da linguagem. São elas:
� relação de semelhança – o signo é o objeto apresentado; ícone: 
exemplo – as imagens em geral;
� relação de causa e efeito – afeta a existência do objeto ou por ele 
é afetado; índice: exemplo – pegadas na lama – alguém passou por 
aqui;
� relação arbitrária – regida por convenção; símbolo: exemplo – as 
representações, continuamente usadas na linguagem e no entendi-
mento pessoal, tornam-se convenções, símbolos.
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Leitura e Escrita na Era Digital
Já a língua é uma linguagem de caráter regional, é um sistema organi-
zado de sons e sinais que a caracterizarão como o código de signos linguísticos 
de um determinado povo. Desse modo, todas as línguas (para a comunidade 
lusófona, a língua portuguesa) têm uma estrutura própria para combinar os 
signos linguísticos.
Sendo assim, a língua constitui-se por: um repertório/conjunto de sig-
nos que vão compô-la; as regras de combinação que incluem as de organiza-
ção dos sons e suas combinações; as regras que determinam a organização 
interna das palavras e as que especificam a forma como serão ordenadas as 
palavras e a diversidade de tipos de frase. Estamos nos referindo à fonologia, 
à morfologia, à sintaxe da língua e às regras de uso, as quais englobam as 
regras reguladoras do uso da linguagem em contextos sociais – no que diz 
respeito às funções e intenções comunicativas e à escolha de códigos a uti-
lizar – e que devem ser aceitas pela sociedade para que haja inteligibilidade 
entre os atos de comunicação. 
O terceiro conceito a ser compreendido no processo de comunicação é a 
fala, o uso individual da língua, o discurso que se realiza a partir da compre-
ensão da língua e do conhecimento de mundo de cada um. Por esses motivos, 
falantes de uma mesma língua, de uma mesma região e de uma mesma for-
mação terão falas, discursos diferentes. Por se tratar de oralidade, o falante 
pode desrespeitar as regras de combinação; se este desrespeito tornar-se 
padrão, poderá alterar e criar uma nova regra, promovida pelo uso.
Podemos afirmar que dominamos uma língua quando conhecemos seu 
repertório de signos, as regras de combinação e as regras de uso desses signos. 
Segundo Saussure (1977, p. 196), “nada entra na língua sem ter sido expe-
rimentado na fala, e todos os fenômenos evolutivos têm sua raiz na esfera 
do indivíduo”. De acordo com o linguista, o que diferencia a língua da fala é 
que a primeira é sistemática, tem certa regularidade, é potencial, coletiva; a 
segunda é assistemática, possui certa variedade, é concreta, real, individual. 
A língua, então, pode ser escrita e falada. São duas formas de uso que 
acabam tendo regras diferenciadas, uma vez que, ao falar, temos maior liber-
dade e despreocupação com a obediência às normas impostas pelo sistema 
linguístico. Porém, a escrita deve atender às normas, motivo pelo qual é con-
siderada pelos usuários uma modalidade mais difícil.
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Homem e linguagem
As diferenças entre a língua falada e a língua escrita são muitas, 
como podemos observar no quadro a seguir, adaptado de Mesquita 
(1995, p. 25).
Língua falada Língua escrita
 2 Palavra sonora. 2 Palavra gráfica.
 2 A mensagem é transmitida de 
forma imediata.
 2 A mensagem é transmitida de forma não 
imediata.
 2 O emissor e o receptor conhecem 
bem a situação e as circunstâncias 
que os rodeiam.
 2 O receptor não conhece de forma direta a situa­
ção do emissor e o contexto da mensagem.
 2 A mensagem é breve. 2 A mensagem é mais longa do que na língua falada.
 2 São permitidos os elementos pro­
sódicos, como entonação, pausa, 
ritmo e gestos, que enfatizam o 
significado.
 2 Não é possível a utilização de elementos 
prosódicos. O emprego dos sinais de pon­
tuação tenta reconstruir alguns desses ele­
mentos.
 2 É admitido o emprego de cons­
truções simples, com ênfase para 
orações coordenadas e presença de 
frases incompletas.
 2 Exigem­se construções mais complexas, 
mais elaboradas, com ênfase para orações 
subordinadas, e a ordenação da mensagem 
melhor planejada.
 2 É mais subjetiva e pode ser repro­
cessada a cada momento a partir 
das reações do interlocutor.
 2 É mais objetiva. É possível esquecer o inter­
locutor. O escritor pode processar o texto a 
partir das possíveis reações do leitor.
 2 O contexto extralinguístico tem 
grande influência. Criação coletiva.
 2 O contexto extralinguístico tem menos 
influência. Criação individual.
Estas são algumas características que diferenciam a possibilidade de uso 
da língua. Saber transitar pelas duas modalidades e ter controle de suas varie-
dades, usando-as no lugar e no momento certo, é fator decisivo na comuni-
cação interpessoal.
A respeito da importância do domínio da variedade oral da língua, em 
situação formal, recomendamos o filme O discurso do Rei, que tem esta ques-
tão como tema principal.
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Leitura e Escrita na Era Digital
 Dica de filme
O filme O discurso do Rei apresenta, de forma envol-
vente e com grandes detalhes, o trabalho realizado por 
um profissional que tem um método um tanto radical 
para os padrões da época, para liberar a fala do Rei 
George. O jovem herdeiro da coroa britânica sofria de 
gagueira e tinha pânico de falar em público. Para supe-
rar suas dificuldades, contará com o empenho de sua 
esposa e do professor nada convencional de oratória. 
O tema é atual, uma vez que a maioria dos profissionais 
precisa ter o domínio da fala com propriedade para 
desempenhar bem suas funções.
O DISCURSO do Rei. Direção de Tom Hooper. Ingla-
terra: Paris Filmes, 2010. 1 filme (118 min), sonoro, legenda, 
color., 35 mm. 
A língua, além de oral e escrita, pode ser, pelo uso, classificada de dois 
modos: a modalidade culta ou língua-padrão e a modalidade popular, ou lín-
gua cotidiana. 
A modalidade culta é aquela associada à escrita, à tradição gramatical, 
é a registrada nos dicionários e, portanto, é a que traduz a tradição cultural e 
a identidade de uma nação.
A modalidade popular é uma variante informal, considerada de pouco 
prestígio quando comparada à linguagem padrão. Sua característica é afas-
tar-se da norma na construção sintática, usar um vocabulário comum, repe-
tições constantes, gírias.
Segundo Mattoso Câmara Jr. (1978, p. 177), “norma é um conjunto 
de hábitos linguísticos vigentes no lugar ou na classe social mais pres-
tigiosa no país”. Logo, com essa classificação, podemos entender que há 
várias classes que não adotam a norma e, portanto, há outras modalida-
des em uso. 
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Homem e linguagem
1.1.1 Variedades linguísticas
As variedades linguísticas são determinadas por vários fatores, entre os 
quais se destacam os geográficos, históricos, sociais e estilísticos.
A variação geográfica está relacionada com as diferenças de pronún-
cia, de vocabulário e de sintaxe, que ocorrem de região para região do Brasil. 
O texto a seguir ilustra bem esta variedade com ênfase na pronúncia.
Receita cazêra minêra demôi de repôi nu ái i ói
ingredientes
 2 5 denti di ái
 2 3 cuié de ói
 2 1 cabessa de repôi
 2 1 cuié di mastomati
 2 Sár agosto
Modi fazê
 2 Casca o ái, pica o ái i soca o ái cum sá;
 2 Quenta o ói na cassarola;
 2 Foga o ái socado no ói quenti;
 2 Pica o repôi beeemmm finimm...
 2 Foga o repôi no ói quenti junto cum ái fogado;
 2 Põi a mastomati i mexi cum a cuié prá fazê o môi;
 2 Sirva cum rôis e melete...
Pção: cumpanha filezim de pescadim beemmm fritim. 
RECEITA cazêra minera de môi de repôi nu ái i ói. Disponível em: 
<http://www.alapinha.com.br/Cardapio%20introducao.htm>. 
Acesso em: 22 out. 2012.
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Leitura e Escrita na Era Digital
A música Cuitelinho, do folclore nacional, apresenta a questão do uso 
dos plurais, tão comum em certas regiões brasileiras.
Cuitelinho
Cheguei na beira do porto 
Onde as onda se espaia 
as garça dá meia volta 
E senta na beira da praia 
E o cuitelinho não gosta 
Que o botão de rosa caia, ai, ai
Ai quando eu vim 
da minha terra 
Despedi da parentália 
Eu entrei no Mato Grosso 
Dei em terras paraguaia 
Lá tinha revolução 
Enfrentei fortes batáia, ai, ai
A tua saudade corta 
Como aço de naváia 
O coração fica aflito 
Bate uma, a outra faia 
E os óio se enche d´água 
Que até a vista se atrapáia, ai...
Autoria desconhecida.
A variação histórica ocorre pelo processo de evolução do homem que, 
com suas novas invenções, ou com o abandono de objetos, hábitos e costu-
mes, acaba interferindo na língua, que também é viva. O léxico que cai em 
desuso chama-se arcaísmo e as palavras novas que surgem são classificadas 
como neologismos. A seguir, citamos um exemplo de arcaísmo, o trecho 
está com a escrita da língua portuguesa do passado, do século XVIII, a qual 
transformou-se a ponto de pessoas não identificarem o sentido de algumas 
palavras pelas diferenças ortográficas. Leia as duas versões e compare-as.
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Homem e linguagem
“Este rrey Leyr nom ouue filho, mas ouue tres filhas muy fermosas 
e amauaa-as muito. E huum dia sas rrazõoess com ellas e disse-lhess que 
lhe dissessem verdade, qual d’ellas o amaua mais. Disse a mayor que nom 
auia cousa no mundo que tanto amasse como elle; e disse a outra que o 
amaua tanto com a ssy mesma; e disse a terçeira, que era a meor, que o 
amaua tanto como deue dámar filha a padre.” (VASCONCELOS apud 
FARACO, 1991, p. 11).
“Este Rei Lear não teve filhos, mas teve três filhas muito for-
mosas e amava-as muito. E um dia teve com elas uma discussão e 
 disse-lhes que lhe dissessem a verdade, qual delas o amava mais. Disse 
a maior que não havia coisa no mundo que amasse tanto como a ele; 
e disse a outra que o amava tanto como a si mesma; e disse a terceira 
que o amava tanto como deve uma filha amar um pai.” 
FARACO, C. A. Linguística histórica. São Paulo: Ática, 1991.
A variação social, como afirma Mattoso Câmara (1978), decorre não 
somente do poder aquisitivo, mas também do grau de educação, da idade 
e do sexo dos usuários da língua. Vejamos os usos diversos da conjugação 
verbal: nós vamos/nóis vai/nóis imo/nós vamo. A música Chopis centis, do 
grupo musical Mamonas Assassinas, brinca com a questão das variedades 
linguísticas, colocando o falar popular na linguagem escrita.
Chopis centis
Eu “di”um beijo nela
E chamei pra passear.
A gente fomos no shopping,
Prá “mode” a gente lanchar.
Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim
Até que tava gostoso, mas eu prefiro aipim. [...]
Chopis Centis. Dinho e Julio Rasec, Mamonas Assassinas, 
1995 © Edições Musicais Tapajós Ltda.
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Leitura e Escrita na Era Digital
A variação estilística é provocada pelo ato da fala e pela escrita. 
Dependendo da situação comunicativa, a pessoa pode usar uma modalidade 
ou outra. De acordo com os ouvintes, o falante definirá qual o vocabulário a 
ser utilizado, o grau de formalidade ou informalidade. Na escrita, o usuário 
poderá, pelo seu estilo, tornar-se um modelo ou um padrão.
O potencial estilístico de José Paulo Paes, por exemplo, é evidenciado 
no poema a seguir, quando o autor brinca com a possibilidade de trocar 
algumas letras, ou a escrita das palavras, e interferir no significado. Além 
disso, com um poema curtíssimo, consegue passar uma grande mensagem. 
Vejamos:
Prolixo?
Pro lixo.
Conciso?
Com siso.
PAES, J. P. Poesia completa. Sao Paulo: 
Companhia das Letras, 2008. p. 27.
Todas estas classificações acabaram por criar alguns preconceitos 
linguísticos com relação às variedades prestigiadas e às estigmatizadas. 
Quanto mais próxima está a variedade utilizada do que se denomina lín-
gua padrão, mais prestígio social o falante terá, quanto mais distante, mais 
estigmatizado será. Ao relacionar língua padrão com gramática, estabele-
ceu-se a noção de que, se a regra não for cumprida, ocorre um “erro”, o que 
torna o falante um sujeito desprestigiado socialmente. Marcos Bagno, em 
sua “novela” sociolinguística intitulada A língua de Eulália (1999), apre-
senta, de forma clara, envolvente e literária, o argumento de que falar 
diferente não é falar errado e justifica linguística, histórica, socioló-
gica e psicologicamente o uso das variedades linguísticas. É de sua obra 
 Preconceito linguístico – o que é, como se faz (BAGNO, 2006, p. 142-145) 
o texto a seguir, que apresenta uma síntese sobre como ensinar a língua 
sem criar tanto preconceito.
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Homem e linguagem
Dez cisões
Para um ensino de língua não (ou menos) preconceituoso
1. Conscientizar-se de que todo falante nativo de uma língua é um 
usuário competente dessa língua, por isso ele sabe essa língua. 
Entre os 3 e 4 anos de idade, uma criança já domina integralmente 
a gramática de sua língua.
2. Aceitar a ideia de que não existe erro de português. Existem dife-
renças de uso ou alternativa de uso em relação à regra única pro-
posta pela gramática normativa.
3. Não confundir erro de português (que, afinal, não existe) com sim-
ples erro de ortografia. A ortografia é artificial, ao contrário da lín-
gua, que é natural. A ortografia é uma decisão política, é imposta por 
decreto, por isso ela pode mudar, e muda de uma época para outra. 
Em 1899 as pessoas estudavam psychologia e história do Egypto; 
em 1999 elas estudavam psicologia e história do Egito. Línguas que 
não têm escrita nem por isso deixam de ter sua gramática.
4. Reconhecer que tudo o que a Gramática Tradicional chama de 
erro é na verdade um fenômeno que tem uma explicação cien-
tífica perfeitamente demonstrável. Se milhões de pessoas (cultas 
inclusive) estão optando por um uso que difere das regras pres-
critas nas gramáticas normativas é porque há alguma nova regra 
sobrepondo-se à antiga. Assim, o problema está com a regra tra-
dicional, e não com as pessoas, que são falantes nativos e perfeita-
mente competentes de sua língua. Nada é por acaso.
5. Conscientizar-se que toda língua muda e varia. O que hoje é visto 
como “certo” já foi “erro” no passado. O que hoje é considerado 
“erro” pode vir a ser perfeitamente considerado como “certo” no 
futuro da língua. Um exemplo: no português medieval existia um 
verbo leixar (que aparece até na carta de Pero Vaz de Caminha ao 
rei D. Manuel I). Com o tempo, esse verbo foi sendo pronunciado 
deixar porque [d] e [l] são consoantes aparentadas, o que permitiu 
a troca de uma pela outra. 
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Leitura e Escrita na Era Digital
 Hoje quem pronunciar leixar vai cometer um “erro” (vai ser acu-
sado de desleixo), muito embora essa forma seja maispróxima da 
origem latina, laxare (compare-se, por exemplo, o francês laisser 
e o italiano lasciare). Por isso é bom evitar classificar algum fenô-
meno gramatical de “erro”: ele pode ser, na verdade, um indício do 
que será a língua no futuro.
6. Dar-se conta de que a língua portuguesa não vai nem bem, nem 
mal. Ela simplesmente vai, isto é, segue seu rumo, prossegue em 
sua evolução, em sua transformação, que não pode ser detida (a 
não ser com a eliminação física de todos os seus falantes).
7. Respeitar a variedade linguística de toda e qualquer pessoa, pois 
isso equivale a respeitar a integridade física e espiritual dessa pes-
soa como ser humano.
8. A língua permeia tudo, ela nos constitui enquanto seres huma-
nos. Nós somos a língua que falamos. A língua que falamos molda 
nosso modo de ver o mundo e nosso modo de ver o mundo molda 
a língua que falamos. Para os falantes de português, por exemplo, 
a diferença entre ser e estar é fundamental: eu estou infeliz é radi-
calmente diferente, para nós, de eu sou infeliz. Ora línguas como o 
inglês, o francês e o alemão têm um único verbo para exprimir as 
duas coisas. Outras, como o russo, não têm verbo nenhum, dizendo 
algo assim como: Eu-infeliz (o russo, na escrita, usa mesmo um 
travessão onde nós inserimos um verbo de ligação).
9. Uma vez que a língua está em tudo e tudo está na língua, o pro-
fessor de português é professor de tudo. (Alguém já me disse que 
talvez por isso o professor de português devesse receber um salário 
igual à soma dos salários de todos os outros professores!).
10. Ensinar bem é ensinar para o bem. Ensinar para o bem significa res-
peitar o conhecimento intuitivo do aluno, valorizar o que ele já sabe 
do mundo, da vida, reconhecer na língua que ele fala a sua própria 
identidade como ser humano. Ensinar para o bem é acrescentar e 
não suprimir, é elevar e não rebaixar a autoestima do indivíduo. 
Somente assim, no início de cada ano letivo este indivíduo poderá 
comemorar a volta às aulas, em vez de lamentar a volta às jaulas! 
BAGNO, M. Preconceito linguistico: o que é, como se faz. 
47. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
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Homem e linguagem
 Dica de filme
Para compreender melhor a relação da língua com 
as diversas culturas, assista ao filme Língua, vidas em 
português. Este documentário premiado de Victor 
Lopes apresenta uma viagem pelo mundo com entradas 
em todos os países em que há falantes da língua portu-
guesa. Sua estrutura narrativa circular prende o interlo-
cutor. São histórias de vidas de pessoas com suas dife-
renças culturais, mas que têm em comum serem usuários 
da língua portuguesa. É importante ressaltar a presença 
de pessoas ilustres que participam com depoimentos, 
como José Saramago (escritor português), João Ubaldo 
Ribeiro (escritor brasileiro), Martinho da Vila (cantor e 
compositor), Teresa Salgueiro (do grupo Madredeus) e 
Mia Couto (escritor moçambicano contemporâneo que 
escreve o roteiro).
LÍNGUA, vidas em português. Direção de Victor Lopes. 
Brasil/Portugal: Paris Filmes, 2002. 1 filme (105 min), sonoro, 
legenda, color., 35 mm.
Como pode-se perceber, a própria compreensão de língua como um 
sistema regido por normas é constantemente questionada pelos efeitos que 
produz, uma vez que a comunicação confunde-se com a própria vida e a 
língua é viva.
1.1.2 Funções da linguagem
O processo de leitura e escrita constitui-se enquanto um ato comu-
nicativo. Para tal, ele precisa de um emissor, aquele que fala ou escreve, 
um receptor, aquele que lê ou escuta, um referente, que é constituído 
pelo contexto, situação ou objetos reais ao qual a mensagem remete, um 
código, que é o conjunto de signos e regras de combinação a ser usado, 
um canal de comunicação, que é a via de circulação da mensagem, e a 
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Leitura e Escrita na Era Digital
 mensagem, que é o conteúdo da comunicação. Roman Jakobson (2001), 
em seus estudos linguísticos, estabeleceu a cada uma das situações do ato 
comunicativo uma função da linguagem. Dependendo da ênfase que se 
dá a cada um dos processos comunicativos, a linguagem apresenta uma 
função com recursos linguísticos próprios. Temos, assim, a função expres-
siva, a função conativa, a função metalinguística, a função fática, a função 
poética e a função referencial. Sabe-se que não há na linguagem uma fun-
ção pura, várias podem aparecer ao mesmo tempo no processo comunica-
tivo, no entanto, conhecê-las ajudará a melhorar a elaboração da fala e da 
escrita ( JAKOBSON, 2001).
Receptor
Função 
conativa
Emissor
Função 
expressiva
Referente: função 
referencial
Canal de comunicação: 
função fática
Mensagem: função 
 poética
Código: função 
metalinguística
Fonte: Jakobson (2001, p. 17).
Na sequência, vamos identificar as características de cada função.
1.1.2.1 Função expressiva 
É centrada no emissor da mensagem, exprime a sua relação com o 
conteúdo transmitido, a sua opinião, emoções, avaliações. Pode-se sentir no 
texto a presença do emissor (que pode ser clara ou sutil). É uma comunicação 
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Homem e linguagem
 subjetiva, faz uso de frase exclamativa, de interjeições, superlativos, aumen-
tativos, diminutivos, hipérboles, entonação máxima.
Resenha sobre o filme O discurso do rei
[...] Pode-se dizer, porém, que a cena mais impactante do filme é 
o momento em que o rei deve realizar seu primeiro discurso. Não vou 
além, pois não quero estragar as surpresas que aguardam o público 
ao longo da história e, com certeza, no seu final. Ao contrário do que 
muitos podem imaginar o roteiro não é baseado no livro de mesmo 
título; a versão literária foi escrita pelo neto de Lionel, Mark Logue, 
com a ajuda do jornalista Peter Conradi.
Ele decidiu escrever esta obra a partir do momento em que foi 
procurado pela produção do filme para revelar detalhes sobre a bio-
grafia do australiano Lionel. Curioso em saber mais a respeito de seu 
avô, ele saiu à procura de outras informações, as quais deram origem 
ao livro. As passagens mais importantes, porém, estão certamente 
concentradas nas telas cinematográficas. 
Esta produção, que guarda em si um sabor delicioso de história 
à moda antiga, ganhou os Oscars de melhor roteiro original, ator – 
super merecido! –, direção e filme.
O DISCURSO do Rei. Direção de Tom Hooper. Inglaterra: Paris filmes, 
2010. 1 filme (118 min), sonoro, legenda, color. 
Elenco: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush, Michael 
 Gambon. Drama. 
SANTANA, A. L. O discurso do rei. Disponível em: <http://www.
infoescola.com/cinema/o-discurso-do-rei/>. Acesso em: 30 jul. 2012.
Como podemos observar durante a leitura, o autor da resenha afirma: 
“Não vou além, pois não quero estragar as surpresas que aguardam o público 
ao longo da história”. Usando a primeira pessoa do singular, ele deixa clara 
a sua opinião sobre o filme. Mais adiante continua: “Esta produção, que 
guarda em si um sabor delicioso de história à moda antiga, ganhou os Oscars 
de melhor roteiro original, ator – super merecido!”. São evidentes as marcas 
linguísticas de expressão pessoal.
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Leitura e Escrita na Era Digital
1.1.2.2 Função conativa 
É centrada no receptor da mensagem, com a intenção de persuadi-lo, 
seduzi-lo. É uma comunicação imperativa, faz uso dos verbos no modo 
imperativo afirmativo ou negativo.
Observe a imagem a seguir, de uma propaganda persuasiva para com-
bate ao tabagismo.
H
A
A
P
 M
ed
ia
 L
td
/S
eb
as
ti
an
 F
is
so
re
E tEm gEntE quE diz quE isto não é droga!
Cigarro: faz mal até na propaganda.
Acetona:removedor 
de esmaltes
Formol: 
conservante 
de cadáver
Amônia: 
desinfetantes para pisos, 
azulejos e privadas
Naftalina: 
mata-baratas
Fósforo P4/P6: 
componente de 
veneno para ratosTerebintina: diluidor de tinta a óleo
Este é um exemplo muito forte da função conativa, uma vez que, após o 
autor dirigir-se ao receptor com a expressão “tem gente que diz [...]”, é apre-
sentada uma série de provas que mostram os perigos do tabaco. Ao terminar, 
afirma, imperativamente, “cigarro faz mal”.
1.1.2.3 Função referencial 
É centrada no referente da mensagem, valoriza o objeto da mensa-
gem. É uma comunicação objetiva, impessoal, com preferência pela frase 
declarativa.
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Homem e linguagem
A palavra “pinchar”, em castelhano tem os sentidos de “cutucar, 
espetar, ferir” (no lunfardo, também “morrer” e “fazer sexo”). Coromi-
nas imagina que “pinchar” do castelhano tenha vindo de uma mistura 
de punchar (variante de punzar) com picar e que, pela diferença de 
sentido, nada tenha a ver com o “pinchar” português. No castelhano, 
a palavra aparece desde o século 15, mas pode remontar ao latim vul-
gar, como vemos no italiano pinzare, [...] no francês pincer e no inglês 
to pinch (beliscar).
VIARO, M. E. Palavras jogadas fora. Revista Língua Portuguesa, 
n. 77, p. 52-55, mar., 2012. São Paulo.
Observou-se um exemplo de uma comunicacão centrada na mensa-
gem, ou seja, o emissor quer explicar o sentido da palavra. 
1.1.2.4 Função fática
É centrada no contato, demonstra o desejo de abertura para a comu-
nicação, que se dá com uso de frases breves, consagradas pelo uso. No texto 
escrito, costuma-se usar imagens, tamanho diferenciado das letras, cores 
para chamar atenção.
Macabéa e Olímpico
Ele — Pois é!
Ela — Pois é o quê?
Ele — Eu só disse, pois é!
Ela — Mas, pois é o quê?
Ele — Melhor mudarmos de assunto porque você não me entende.
Ela — Entende o quê?
Ele — Santa virgem Macabéa, vamos mudar de assunto e já! 
LISPECTOR, C. A hora da estrela. São Paulo: Rocco, 1998. p. 45.
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Leitura e Escrita na Era Digital
No diálogo do box de exemplo não há preocupação com a men-
sagem, apenas os falantes estão mantendo uma abertura do canal de 
 comunicação.
1.1.2.5 Função metalinguística 
É centrada no código, é tudo o que, em uma mensagem, serve para dar 
explicações ou tornar preciso o código utilizado pelo emissor no ato comuni-
cativo. É uma comunicação explicativa, faz uso de sinônimos, definições.
Exemplo: poemas que discutem como se faz poesia.
Poética
1
O que é poesia? 
Uma ilha 
Cercada 
De palavras 
Por todos 
Os lados.
2
O que é poeta?
Um homem
Que trabalha o poema
Com o suor do seu rosto.
Um homem
Que tem fome
Como qualquer outro
Homem.
RICARDO, C. Jeremias sem-chorar. Rio de Janeiro: 
José Olympio, 1968.
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Homem e linguagem
A metalinguística ocorre em todas as áreas, por exemplo, quando um 
pintor pinta a si mesmo num quadro, o roteirista de um filme cria protago-
nistas que querem produzir roteiros de filmes e assim por diante.
1.1.2.6 Função poética 
É centrada na elaboração da mensagem, usa formas inovadoras com 
combinações inusitadas, ofertadas pela própria língua. É uma comunicação 
artística com predomínio da conotação. Pode ser usada em todos os gêneros 
textuais, é a marca textual do gênero literário.
Epitáfio para um banqueiro 
n e g ó c i o
e g o
ó c i o
c i o
o
PAES, J. P. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2003.
A função poética está presente em qualquer texto no qual o autor 
preocupe-se com a elaboração estilística, como no caso do poema anterior. 
O poeta desmancha o negócio com a fragmentação da própria palavra que 
termina com o “o”, assemelhando-se, graficamente, a zero. É importante 
ressaltar que, na linguagem conativa presente no discurso publicitário, é 
intenso o uso da função poética para envolver ainda mais o receptor pela 
beleza textual.
Conclusivamente, pode-se afirmar que, ao se reconhecer a estrutura 
lexical, argumentativa, discursiva e estilística do texto, juntamente com a 
intenção do autor, a recepção do texto será muito maior e melhor.
Da teoria para a prática
Muitos textos que circulam nas esferas sociais podem auxiliar o leitor 
na compreensão das variedades linguísticas. Tal questão costuma causar 
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Leitura e Escrita na Era Digital
muita polêmica entre a sociedade e os meios de comunicação quando dis-
cutida em escolas ou mesmo abordada nos livros didáticos, o que acaba 
gerando muitos debates. A professora Ângela Paiva Dionísio escreve a esse 
respeito um artigo intitulado “Língua padrão e variedades linguísticas: 
calos na vida do professor de português”, no qual analisa a fala da mídia e 
dos textos dos livros didáticos no trato da variedade linguística. O texto 
é interessante não apenas para conhecimento e aprimoramento docente, 
mas, também, para a sociedade de uma forma geral.
Síntese
No primeiro capítulo, fizemos uma introdução aos conceitos de lin-
guagem, língua e fala. Foram verificadas as diferenças entre língua oral 
e escrita, as funções da linguagem e as variedades linguísticas. Estes são 
conhecimentos fundamentais para a compreensão dos estudos tex tuais, 
sua prática e produção. Portanto, as ideias aqui apresentadas, de uma 
forma ou de outra, permeiam não apenas o ensino da língua, mas também 
o seu uso. 
A linguagem classifica-se como um processo universal, considera-se 
tudo o que o homem faz para manter a comunicação ao longo de sua exis-
tência. Assim, ele preocupa-se em criar e recriar meios de comunicação 
que sirvam de condutores de conhecimento que, ao possibilitar a transmis-
são do pensamento, identifiquem a condição humana. 
A língua é um elemento cultural elaborado pelo homem, com um 
código específico a ser aprendido pelos membros da comunidade. A fala é a 
aplicação que cada sujeito faz com a língua para promover a comunicação. 
Daí nasce a marca de cada sujeito no seu meio: somos iguais, falamos a 
mesma língua, mas somos diferentes, pelo modo de empregá-la. 
As variedades linguísticas auxiliam na compreensão do que é erro e 
do que é diferença, possibilitando a aceitação social dessas diferenças cul-
turais. As funções da linguagem orientam o reconhecimento de suas carac-
terísticas, a intenção do emissor sobre o receptor da mensagem. Depen-
dendo do que eu quero do meu interlocutor farei as escolhas sintáticas, 
morfológicas, lexicais e estilísticas da minha fala ou do meu texto.
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2
Leitura e escrita
Neste capítulo, vamos identificar as relações que os atos 
de ler e escrever possuem. A leitura da qual trataremos é a aquela 
que tem como meta adquirir novos conhecimentos nas diversas 
áreas nas quais se busca aprimoramento. Podemos afirmar que 
é uma leitura diferente da leitura fruitiva de um poema, de um 
romance ou da leitura informativa de um periódico, para se saber 
os acontecimentos do dia ou da semana.
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Leitura e Escrita na Era Digital
Vamos abordar algumas estruturas textuais de grande utilização no 
meio acadêmico: o resumo, o esquema, a resenha e o fichamento. De modo 
geral, todos eles podem ser classificados como resumos, mas o objetivo de 
cada um pode torná-los diferentes.
Enquanto o resumo procura destacar as ideias essenciais do texto, o 
esquema trabalha somente com as palavras-chave e a resenha é usada para 
apresentar e avaliar um determinado texto. Já o fichamento é um texto decontrole pessoal das leituras realizadas para futuras pesquisas a respeito dos 
conceitos encontrados e produção de novos conhecimentos. 
2.1 Como ler e escrever
O processo de leitura é um dos mais importantes a ser desenvolvido 
com as pessoas e o seu ensino, bem como aprendizagem, exige um grande 
cuidado daqueles que trabalham com ele.
Há vários tipos de leitura. Geraldi (1984) apresenta quatro tipos de 
motivação para esta competência, que são a busca de informações, o estudo 
de um determinado texto, um pretexto para fazer uma atividade indireta 
(ou seja, exercícios de acentuação, análise literária, resumo ou fichamento) e 
a leitura por fruição. Cada um dos tipos exige do leitor posturas diversas na 
condução da própria leitura. Tais posturas devem ser muito bem compre-
endidas para que, ao final, o objetivo da leitura seja alcançado. Para isso, é 
necessário ter à disposição um acervo diverso de textos que contemplem as 
diferentes motivações. 
O desenvolvimento do leitor depende de cinco capacidades cognitivas 
que, segundo Bloom (apud FAULSTICH, 1987), independe da faixa etária 
de quem lê.
1. Compreensão: é a primeira leitura, quando se identifica o tema, a 
tese, busca-se o significado no dicionário para a palavra desconhe-
cida, ou seja, é a decodificação do texto.
2. análise: é quando se busca compreender as ideias contidas em 
cada segmento do texto, percebendo que o todo é composto de 
partes que se relacionam entre si: os parágrafos nos textos, os capí-
tulos nos livros.
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Leitura e escrita
3. Síntese: é quando somos capazes de reconstituir o todo decom-
posto anteriormente atendo-nos às ideias essenciais, do ponto de 
vista do original, nem nos importando com a sequência oferecida 
pelo autor do texto.
4. avaliação: é a capacidade de emitir um juízo de valor a respeito do 
que o autor veicula no texto.
5. Aplicação: é o momento mais importante do ato de ler, pois, se 
há compreensão, há assimilação e, portanto, as ideias, os concei-
tos poderão ser aplicados em situações semelhantes, ou para criar 
novas ideias.
Estas capacidades fazem com que o leitor, ao ler, examine cuidadosa-
mente o real significado de cada palavra naquele contexto, encontre cada uma 
das partes constitutivas do texto, observe as diversas escolhas lexicais, estrutu-
rais, argumentativas e estilísticas feitas pelo autor que tramou a teia do texto.
Com essa caminhada, ao ler, já se está fazendo o esboço do que será 
escrito a respeito do texto. Pode-se dizer que, no momento da síntese, da iden-
tificação das ideias essenciais do autor, constrói-se o resumo, no momento da 
avaliação do que se leu, constrói-se a resenha e no momento da aplicação, 
quando se vai utilizar as ideias assimiladas por meio da leitura constrói-se o 
ensaio, o artigo, a palestra, etc. Deste modo, dependendo do objetivo que a 
leitura tem para o leitor, ele pode projetar a construção de um determinado 
gênero textual.
Há, portanto, uma relação estreita entre leitura e produção, desde que 
se conheça a estrutura de cada um dos textos que se irá escrever. 
2.2 Produção de texto como 
resultado de leitura
2.2.1 Resumo
O resumo é um tipo de texto que consiste na redução fiel de outro texto, 
mantendo suas ideias principais sem repetir os comentários, julgamentos e 
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Leitura e Escrita na Era Digital
exemplos. A característica principal do resumo é não permitir o acréscimo 
de novas ideias e avaliações a respeito do tema que está sendo lido. Logo, ao 
condensar um texto, o leitor deve se ater às questões essenciais, apresentá-las 
na mesma progressão em que aparecem no original e manter a correlação 
entre cada uma das partes.
Segundo o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa (BECHARA, 2008), 
há muitos sinônimos para a palavra “resumo”, tais como: compêndio, epí-
tome, resenha, esquema, sinopse, sumário, síntese. Apesar da semelhança no 
quesito de condensamento, a estrutura de cada um é diferente.
Os mais utilizados no meio acadêmico são o resumo, o esquema, a 
resenha e o fichamento, com intuito de assimilar informações e dominar 
um instrumental teórico-metodológico para realizar as práticas de trabalho 
intelectual, com o objetivo da produção de conhecimentos. Todos os qua-
tro tipos de textos procuram sintetizar, para registrar de uma forma concisa, 
coerente e objetiva, o conhecimento adquirido pela leitura.
Como, então, fazer um resumo? 
Inicia-se com a leitura atenta do texto, podendo-se usar como ajuda 
a técnica de sublinhar as ideias essenciais e a técnica de esquematizar as 
palavras-chave. Autores como Salomon (1999), Lakatos e Marconi (1991), 
entre outros, sugerem alguns procedimentos para a atividade de sublinhar.
A técnica de sublinhar consiste em: 
� primeiramente, ler todo o texto; 
� a seguir, é necessário esclarecer dúvidas de vocabulário; 
� na sequência, reler o texto identificando as ideias principais e 
sublinhando-as; 
� por fim, ler o que foi sublinhado, verificando se há sentido e, 
então, reconstruir o texto, que se transformará no resumo, como 
veremos no box a seguir. Porém, antes disso, é importante ressal-
tar que, utilizando essa técnica, iremos construir um novo texto, 
e não efetuar a cópia de pedaços do texto original. O resumo é 
um texto com começo, meio e fim que transmite as ideias prin-
cipais do texto lido. 
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Leitura e escrita
Observe o exemplo de como sublinhar.
Quatro funções básicas têm sido convencionalmente atri-
buídas aos meios de comunicação de massa: informar, divertir, 
persuadir e ensinar. A primeira diz respeito à difusão de notí-
cias, relatos, comentários etc. sobre a realidade, acompanhada, ou 
não de interpretações ou explicações. A segunda função atende 
à procura da distração, de evasão, de divertimento, por parte do 
público. Uma terceira função é persuadir o indivíduo – conven-
cê-lo a adquirir certo produto, a votar em certo candidato, a se 
comportar de acordo com os desejos do anunciante. A quarta 
função – ensinar – é realizada de modo direto ou indireto, inten-
cional ou não, por meio de material que contribui para a forma-
ção do indivíduo ou para ampliar seu acervo de conhecimentos, 
planos, destrezas, etc.
ANDRADE, M. M. de. Introdução à metodologia do trabalho científico: 
elaboração de trabalho na graduação. São Paulo: Atlas, 1997. p. 38.
Após sublinhar, pode-se produzir o esquema que, além de resumir 
o texto com palavras-chave, possibilita conduzir uma palestra ou uma 
aula. É a espinha dorsal do texto. Se você é leitor, desconstrói o texto para 
encontrar esta espinha dorsal; se você é o autor, ela é o ponto de partida 
para produzi-lo.
Quatro funções básicas dos meios de comunicação de massa: 
1. Informar – transmite a realidade. 
2. divertir – diverte o público. 
3. Persuadir – convence o receptor a se comportar conforme os 
desejos do locutor. 
4. Ensinar – forma o indivíduo.
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Leitura e Escrita na Era Digital
Após sublinhar e produzir o esquema, é possível resumir o texto em 
formato discursivo, mantendo as ideias principais do autor, como vemos no 
modelo a seguir. 
As funções básicas dos meios de comunicação de massa são qua-
tro. Informar, que fala sobre a propagação de notícias. Divertir, que 
diz respeito à diversão das pessoas. Persuadir, que comenta sobre o 
convencimento do interlocutor. Ensinar, que contribui para a forma-
ção do indivíduo e amplia conhecimentos.
De modo geral, costuma-se afirmar que um resumo deve se aproximar 
de um terço do texto original. 
2.2.2 Resenha crítica
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT,1990), a resenha crítica é o mesmo que o resumo crítico. Andrade (1997) 
define a resenha como 
[...] um tipo de resumo crítico mais abrangente, que permite 
comentários e opiniões; um tipo de trabalho mais completo 
que exige conhecimento do assunto, para estabelecer com-
paração com outras obras na mesma área e maturidade 
intelectual para fazer avaliação e emitir juízos de valor 
(ANDRADE, 1997, p. 61-67).
A resenha é um texto no qual leitor e autor têm objetivos que se aproxi-
mam: um busca e o outro fornece uma opinião crítica sobre um livro, filme, 
peça teatral, enfim, todas as produções humanas.
Portanto, o resenhista apresenta, descreve e avalia uma obra a partir 
de um ponto de vista que possui a respeito do assunto analisado, devendo 
ser amplo e consistente. Na apresentação, identifica a obra em seus aspec-
tos de referência bibliográfica e sintetiza o assunto. Na descrição, faz o 
resumo das ideais essenciais da obra. Por fim, na avaliação, o resenhista 
destaca a contribuição do autor e da obra para produção de novos conhe-
cimentos na área em questão, caso seja de cunho científico, e a qualidade 
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Leitura e escrita
da escrita no que diz respeito à clareza na apresentação das ideias (ou a 
riqueza estilística, caso seja literária. Além disso, o resenhista pode con-
frontar a obra resenhada com outras obras do mesmo tema para estabele-
cer comparações.
A estrutura da resenha, conforme sugerem Lakatos e Marconi (1991, 
p. 245-246), apresenta-se assim:
� referências – autor(es); título da obra; edição; local; editora e data 
de publicação; número de páginas; preço;
� credenciais do autor – informações gerais sobre o autor e sua qua-
lificação acadêmica, profissional ou especialização; títulos e cargos 
exercidos; obras publicadas;
� resumo da obra – resumo das ideias principais, descrição breve do 
conteúdo dos capítulos ou partes da obra. Pensar: de que trata a 
obra? O que diz? Qual sua característica principal? O autor apre-
senta ou não conclusão? 
� crítica do resenhista – como se situa o autor da obra em relação 
às escolas ou correntes científicas ou filosóficas e em relação ao 
contexto social, econômico, político, histórico, etc.? Quanto ao 
mérito da obra: qual a contribuição dada? As ideias são origi-
nais, criativas? As abordagens do conhecimento são inovadoras? 
Quanto ao estilo: é conciso, objetivo, claro, coerente, preciso? 
A linguagem é correta? Quanto à forma: é lógica, sistemati-
zada? Utiliza recursos explicativos para elucidar o conteúdo? 
Quanto a quem se destina a obra: grande público, especialistas, 
 estudantes?
Evidentemente que, na avaliação de alguma obra, talvez não seja possí-
vel responder a todas essas questões. Elas servem como um roteiro para você 
construir o seu parágrafo de avaliação da resenha.
Costuma-se dar um título à resenha, caso seja exigido. Também no pró-
prio título pode vir uma expressão que já denote a avaliação e que tenha 
uma estreita relação com algum atributo mais destacado da obra, segundo 
o resenhista.
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Leitura e Escrita na Era Digital
Observemos os exemplos a seguir.
Modelo de Resenha 1
[...] este é um conto que aborda um tema oculto da alma de todo 
ser humano: a crueldade. Machado de Assis cria um cenário onde 
o recém-formado médico Garcia conhece o espirituoso Fortunato, 
dono de uma misteriosa compaixão pelos doentes e feridos, apesar de 
ser muito frio, até mesmo com sua própria esposa.
Através de uma linguagem bastante acessível, que não encon-
tramos em muitas obras de Assis (*1), o texto mescla momentos de 
narração – que é feita em terceira pessoa – com momentos de diálo-
gos diretos, que dão maior realidade à história.
Uma característica marcante é a tensão permanente que 
ambienta cada episódio (*2). Desde as primeiras vezes em que 
Garcia vê Fortunato – na Santa Casa, no teatro e quando o segue na 
volta para casa, no mesmo dia – percebemos o ar de mistério que o 
envolve. 
Da mesma forma, quando ambos se conhecem devido ao caso 
do ferido que Fortunato ajuda, a simpatia que Garcia adquire é exa-
tamente por causa de seu estranho comportamento, velando por dias 
um pobre coitado que sequer conhece. 
A história transcorre com Garcia e Fortunato tornando-se ami-
gos, a apresentação de Maria Luiza, esposa de Fortunato e ainda com 
a abertura de uma casa de saúde em sociedade.
O clímax então acontece quando Maria Luiza e Garcia flagram 
Fortunato torturando um pequeno rato, cortando-lhe pata por pata 
com uma tesoura e levando-lhe ao fogo, sem deixar que morresse. É 
assim que se percebe a causa secreta dos atos daquele homem: o sofri-
mento alheio lhe é prazeroso. Isso ocorre ainda quando sua esposa 
morre por uma doença aguda e quando vê Garcia beijando o cadáver 
daquela que amava secretamente. Fortunato aprecia até mesmo seu 
próprio sofrimento.
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Leitura e escrita
É possível afirmar que este conto é um expoente máximo da téc-
nica de Machado de Assis, deixando o leitor impressionado com um 
desfecho inesperado, mas que demonstra – de forma exponencial, é 
verdade – a natureza cruel do ser humano. É uma obra excelente para 
os que gostam dos textos de Assis, mas acham cansativa a linguagem 
rebuscada usada em alguns deles (*3). [...]
GAZOLA, A. A. Resenha. Disponível em: <http://www.lendo.org/ 
wp-content/uploads/2007/06/a-causa-secreta-resenha.pdf>. 
Acesso em: 22 nov. 2012.
No exemplo, o autor da resenha colocou críticas em três momentos 
de sua análise (*1,*2 e *3, identificados em negrito). Ele não se estende na 
apresentação de Machado de Assis, com base na suposição de que o autor é 
conhecido por todos os leitores da resenha.
Modelo de Resenha 2
Resenha de Maria Auxiliadora Versiani Cunha, 
citada por Eduardo Kenedy.
*1 (Apresentação) 
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.
Psicanalista, fundador da Escola Ortogência de Chicago, 
onde há mais de trinta anos lida com crianças perturbadas men-
talmente, Bruno Bettelheim revela em “A psicanálise dos contos 
de fadas” os significados profundos das tramas e personagens das 
histórias infantis. Mostra como esses significados vão agir direta-
mente sobre o inconsciente e pré-consciente da criança normal, 
levando-a pouco a pouco a resolver seus conflitos.
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Leitura e Escrita na Era Digital
*2 (Resumo da obra)
Tais conflitos são universais, constituídos pelos dilemas eternos 
que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional: a 
conquista da independência em relação aos pais, a rivalidade fraterna, 
a construção da identidade e da afirmação e a relação heterossexual 
adulta. A dicotomização dos personagens em bons e maus, em boni-
tos e feios, facilita à criança a apreensão desses traços. Ela é levada a se 
identificar com o herói bom; não por sua bondade, mas por ser ele a 
própria personificação de sua problemática infantil.
Inspirada pelo herói, a criança vai ser conduzida a resolver sua 
própria situação, sobrepondo-se ao medo que a inibe e enfrentando 
os perigos e ameaças até alcançar o equilíbrio adulto. Assim, o efeito 
terapêutico dos contos de fadas está em provocar a mobilização das 
ansiedades básicas da criança, tais como o medo de abandono, o de 
crescer, o de se lançar sozinha no mundo etc., para depois conduzi-la 
à resolução dessas mesmas ansiedades. Bettelheim faz cuidadosa sele-
ção de contos clássicos, tratando-os na ordem aproximada do apare-
cimento na criança dos conflitos neles implícitos.
Dessa maneira, a luta do princípio de realidade contra o princípio 
de prazer é vista em “Ostrês porquinhos”. O problema da rivalidade 
entre irmãos, em “Cinderela”. O medo de ser abandonado, em “João e 
Maria”. A resolução do complexo de Édipo, em “Branca de Neve”, em 
“a Bela e a Fera” e em “João e o pé de feijão”. 
Tais conflitos, afirma o autor, concernem unicamente o mundo 
interno (ou psicológico) da criança. Não obstante, é apresentado ao 
leitor como, ao ajudar uma criança a resolver esses problemas, os con-
tos reforçam sua personalidade, proporcionando maior capacidade de 
adaptação ao mundo exterior.
Enquanto as histórias da moderna literatura infantil procu-
ram pintar a vida, ou “cor-de-rosa”, ou exageradamente “tecnológica”, 
 Bettelheim demonstra como a mensagem dos contos de fadas é radi-
calmente outra, ensinando que, na vida real, é inevitável estar sempre 
preparado para enfrentar dificuldades graves. Portanto, a criança é 
levada a encontrar no conto a coragem e o otimismo necessários a 
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Leitura e escrita
atravessar e a vencer as numerosas crises de crescimento. A criança 
chega à compreensão de que as histórias, embora irreais, não são falsas: 
ocorrem não no plano do real, mas no plano das experiências inter-
nas de desenvolvimento pessoal. O autor ressalta que a finalidade dos 
contos é de não deixar dúvidas quanto à necessidade de se suportar a 
dor e de se correr riscos para se adquirir a própria identidade.
Os contos sugerem que, apesar de todas as ansiedades que acom-
panham tal processo, a criança pode ficar esperançosa quanto a um 
final feliz.
*3 (Avaliação)
O grande interesse, a maior importância e a profunda origina-
lidade do tema são enriquecidos pela análise detalhada e sistemática 
que Bettelheim faz do material dos contos, revelando segura compre-
ensão psicanalítica e clareza didática de suas conclusões. A psicanálise 
dos contos de fadas é um excelente trabalho sobre a mente humana e 
as intrincações de seu desenvolvimento.
Nos Estados Unidos, Bruno Bettelheim é lido por leigos e por espe-
cialistas e sua obra conta com ampla divulgação entre os estudiosos do 
comportamento humano. No Brasil, não só os profissionais, como tam-
bém pais e educadores podem ficar satisfeitos por terem acesso a este 
trabalho que virá, sem dúvida, constituir um marco no acervo de obras 
que esclarecem a todos os que têm a difícil tarefa de orientar a infância.
Atualmente, quando tanto se fala em reformulação e renova-
ção da literatura infantojuvenil, o livro de Bruno Bettelheim se faz 
indispensável no estabelecimento de um critério de avaliação do que 
seja realmente literatura infantojuvenil, não mero e malsão aprovei-
tamento de uma “onda”.
*4 (Credenciais do autor da resenha)
Maria Auxiliadora Versiani Cunha. Psicóloga clínica no Rio de Janeiro.
Autora do livro Didática fundamentada na teoria de Piaget (Rio de 
Janeiro, Forense-Universitária, 1976).
KENEDY, E. Resumo e resenha. Disponível em: <http://xa.yimg.com/
kq/groups/24179228/1848767481/name/Resumo+e+resenha.pdf>. 
Acesso em: 31 jul. 2012.
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Leitura e Escrita na Era Digital
Nessa resenha, a autora, no item 1, apresentou o autor e a obra. 
No item 2, a descreveu resumidamente; no item 3, a avaliou e, no item 4, 
forneceu as credenciais.
2.2.3 Fichamento
O fichamento é o ato de registrar os estudos de um livro e/ou um texto. 
O trabalho de fichamento possibilita ao estudante, além da facilidade na exe-
cução dos trabalhos acadêmicos, a assimilação do conhecimento. De acordo 
com diversos autores, o fichamento deve apresentar a seguinte estrutura: 
cabeçalho indicando o assunto, a referência completa da obra, isto é, a auto-
ria, o título, o local de publicação, a editora e o ano da publicação. Existem 
três tipos básicos de fichamento: o fichamento bibliográfico, o fichamento 
temático e o fichamento textual. 
O fichamento bibliográfico, como o próprio nome esclarece, caracte-
riza-se como o resumo, resenha ou comentário no qual o autor registra a 
ideia tratada no livro. É fundamental a referência completa da obra. Usa-se, 
também, para coletânea de artigos ou capítulos de livros, preferencialmente 
agrupando-se por área.
ANDRADE, M. M. de.; MEDEIROS, J. B. Comunicação em língua 
portuguesa: para os cursos de jornalismo, propaganda e letras. 2. ed. 
São Paulo: Atlas, 2000. 
Esta obra tem como preocupação geral apresentar a estrutura 
da língua portuguesa e oferecer noções de produção textual, especial-
mente voltados para os cursos superiores de jornalismo, publicidade 
e propaganda e letras.
O fichamento temático tem como meta transcrever trechos literais 
da obra lida, podendo acrescentar algumas considerações do leitor. Prefe-
rencialmente, deve-se colocar o título e subtítulos conforme a obra origi-
nal. As citações literais devem vir entre aspas e o número da página entre 
parênteses.
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Leitura e escrita
Educação da mulher: a perpetuação da injustiça (p. 30-132). 
 Segundo capítulo. 
TELES, M. A. de A. Breve história do feminismo no Brasil. São 
Paulo: Brasiliense, 1993.
1. “uma das primeiras feministas do Brasil, Nísia Floresta Augusta 
defendeu a abolição da escravatura, ao lado de propostas como a 
educação e a emancipação da mulher e a instauração da Repú-
blica.” (p. 30). 
2. “na justiça brasileira, é comum os assassinos de mulheres serem 
absolvidos sob a defesa de honra.” (p. 132). 
3. “a mulher buscou com todas as forças sua conquista no mundo 
totalmente masculino.” (p. 43). 
O fichamento textual capta a estrutura do texto, percorrendo a sequên-
cia do pensamento do autor e destacando: ideias principais e secundárias; 
argumentos, justificações, exemplos, fatos, etc., ligados às ideias principais. 
Traz, de forma racionalmente visualizável – em itens e, de preferência, 
incluindo esquemas, diagramas ou quadro sinóptico –, uma espécie de “radio-
grafia” do texto. A seguir, apresentamos uma ficha de leitura que trabalha os 
conceitos de signo e imagem, para exemplificação, retirada da obra Como se 
faz uma tese, de Umberto Eco (2002), na qual você encontrará exemplos dos 
tipos de fichamento que estamos verificando.
Ficha de leitura
T. Simb
MARITAIN, Jacques. 
Revue Thomiste, abril 1938, p. 299. 
Na expectativa de uma pesquisa profunda sobre o tema 
(da Idade Média até hoje), propõe-se chegar a uma teoria filosófica do 
signo e a reflexões sobre o signo mágico.
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Leitura e Escrita na Era Digital
[insuportável como sempre: modernizar sem fazer filologia; não 
se refere, por exemplo, a São Tomás, mas a João de São Tomás!].
Desenvolve a teoria deste último (ver minha ficha): “Signum est 
id quod repraesentat aliud a se potentiae cognoscenti”. (Lóg II, p. 21, I).
Mas o signo não é sempre imagem e vice-versa (o filho é a ima-
gem e não signo do Pai, o grito é o signo e não imagem da dor). 
Diz então Maritain que o símbolo é um signo-imagem: “quelque 
chose de sensible signifiant un objet em raison d`une rélation 
 presupposée d´analogie” (303). 
Isto me deu a ideia de consultar ST. De ver. VIII, 5.
ECO, U. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 2002. 
Grifos do autor.
Portanto, a leitura consciente seletiva e informativa é fundamental para 
a pesquisa e produção textual. Como o universo acadêmico trabalha com o 
registro, é preciso aliar a leitura e a escrita. É importante ressaltar que a con-
dição de produzir resumos deve ocorrer desde muito cedo na vida do estu-
dante, tal o seu papel de destaque para incorporar os conceitos estudados.
Da teoria para a prática 
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), os alunos 
devem ler autonomamente diferentes textos dos diversos gêneros,desde os 
anos iniciais, sabendo identificar aqueles que respondem às suas necessida-
des imediatas, e selecionar estratégias adequadas para abordá-los (BRASIL, 
1997). É importante, ainda, compreender o sentido nas mensagens orais e 
escritas de que é destinatário direto ou indireto, desenvolvendo sensibilidade 
para reconhecer a intencionalidade implícita, especialmente nas mensagens 
veiculadas pelos meios de comunicação. 
Esses objetivos atingidos resultarão no desenvolvimento das capacida-
des leitoras dos alunos, que são avaliadas nos diferentes sistemas de avaliação 
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Leitura e escrita
do ensino fundamental, como Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 
Prova Brasil, Provinha Brasil e, também, no ensino superior, com o Exame 
Nacional de Educação Superior (Enade). A seguir, são apresentadas algumas 
questões destes exames para que se possa entender melhor o novo formato 
de avaliação pela leitura e compreensão dos gêneros.
1. Prova Enade de Administração – 2009
Questão 4
Leia o trecho: 
O movimento antiglobalização apresenta-se, na virada deste 
novo milênio, como uma das principais novidades na arena política e 
no cenário da sociedade civil, dada a sua forma de articulação/atua-
ção em redes com extensão global. Ele tem elaborado uma nova gra-
mática no repertório das demandas e dos conflitos sociais, trazendo 
novamente as lutas sociais para o palco da cena pública, e a política 
para a dimensão, tanto na forma de operar, nas ruas, como no con-
 teúdo do debate que trouxe à tona: o modo de vida capitalista oci-
dental moderno e seus efeitos destrutivos sobre a natureza (humana, 
animal e vegetal) (GOHN, 2003). 
É incorreto afirmar que o movimento antiglobalização referido 
nesse trecho 
a) cria uma rede de resistência, expressa em atos de desobe-
diência civil e propostas alternativas à forma atual da glo-
balização, considerada como o principal fator da exclusão 
social existente. 
b) defende um outro tipo de globalização, baseado na solida-
riedade e no respeito às culturas, voltado para um novo tipo 
de modelo civilizatório, com desenvolvimento econômico, 
mas também com justiça e igualdade social. 
c) é composto por atores sociais tradicionais, veteranos nas 
lutas políticas, acostumados com o repertório de protes-
tos políticos, envolvendo, especialmente, os trabalhado-
res sindicalizados e suas respectivas centrais sindicais.
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Leitura e Escrita na Era Digital
d) recusa as imposições de um mercado global, uno, voraz, 
além de contestar os valores impulsionadores da sociedade 
capitalista, alicerçada no lucro e no consumo de mercado-
rias supérfluas. 
e) utiliza-se de mídias, tradicionais e novas, de modo relevante 
para suas ações com o propósito de dar visibilidade e legi-
timidade mundiais ao divulgar a variedade de movimentos 
de sua agenda.
ENADE 2009 – prova de Administração. Disponível em: <http:// 
public.inep.gov.br/enade2009/ADMINISTRACAO.pdf>. 
Acesso em: 24 out. 2012.
2. Prova Enade de Letras – 2011
Questão 3 – formação geral
A cibercultura pode ser vista como herdeira legítima embora dis-
tante do projeto progressista dos filósofos do século XVII. De fato, ela 
valoriza a participação das em comunidades de debate e argumenta-
ção. Na linha reta das morais da igualdade, ela incentiva uma forma 
de reciprocidade essencial nas relações humanas. Desenvolveu-se a 
partir de uma prática assídua de trocas de informações e conhecimen-
tos, coisa que os filósofos do Iluminismo viam como principal motor 
do progresso. (...) A cibercultura não seria pós-moderna, mas estaria 
inserida perfeitamente na continuidade dos ideais revolucionários 
e republicanos de liberdade, igualdade e fraternidade. A diferença é 
apenas que, na cibercultura, esses “valores” se encarnam em disposi-
tivos técnicos concretos. Na era das mídias eletrônicas, a igualdade 
se concretiza na possibilidade de cada um transmitir a todos; a liber-
dade toma forma nos softwares de codificação e no acesso a múltiplas
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Leitura e escrita
comunidades virtuais, atravessando fronteiras, enquanto a fraterni-
dade finalmente, se traduzem interconexão mundial.
LEVY, P. Revolução virtual. Folha de S. Paulo. Caderno Mais, 
16 ago. 1998, p. 3 (adaptado).
O desenvolvimento de redes de relacionamento por meio de 
computadores e a expansão da Internet abriram novas perspectivas 
para a cultura, a comunicação e a educação.
De acordo com as ideias do texto acima, a cibercultura:
a) representa uma modalidade de cultura pós-moderna de 
liberdade de comunicação e ação.
b) constituiu negação dos valores progressistas defendidos 
pelos filósofos do Iluminismo.
c) banalizou a ciência ao disseminar o conhecimento nas redes 
sociais.
d) valorizou o isolamento dos indivíduos pela produção de 
 softwares de codificação.
e) incorpora valores do Iluminismo ao favorecer o compar-
tilhamento de informações e conhecimentos. 
ENADE 2011 – prova de Letras. Disponível em: <http://download.uol.
com.br/educacao/Enade2011/ENADE_2011_PROVA1_LETRAS.pdf>. 
Acesso em: 24 out. 2012.
Questão 20 – específica
De ordinário, quando se diz que certo termo deve concordar 
com outro, tem-se em vista a forma gramatical do termo de refe-
rência. Dúzia, povo, embora exprimam pluralidade e multidão de 
seres, consideram-se, por causa da forma, como nomes no singular. 
Há, contudo, condições em que se despreza o critério da forma e,
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Leitura e Escrita na Era Digital
atendendo apenas à ideia representada pela palavra, se faz a concor-
dância com aquilo que se tem em mente.
Consiste a sínese em fazer a concordância de uma palavra não 
diretamente com outra palavra, mas com a ideia que esta última 
sugere.
SAID ALI, M. Gramática histórica da língua portuguesa. 7. ed. 
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1971 (com adaptações).
A definição extraída de Said Ali, reproduzida acima, apresenta 
uma figura de sintaxe, a sínese, identificada, na maioria das vezes, em 
variantes mais populares da língua.
Assinale a opção que apresenta um exemplo desse tipo de fenô-
meno sintático.
a) A maioria dos porcos ainda estava sendo recolhidos naquela 
hora.
b) Ao pobre homem mesquinho, basta-lhe um burrico e uma 
cangalha.
c) Chegaram o pai, a irmã e o cunhado com uma pressa que 
assustava.
d) Pretendia implantar um monopólio de café e tabaco na 
região.
e) No fundo, a multidão se consolava. Para isso, pensavam 
em nós mesmos.
3. Prova Enade de Pedagogia – 2011
Questão 2 – Formação geral
Exclusão digital é um conceito que diz respeito às extensas 
camadas sociais que ficaram à margem do fenômeno da sociedade da 
informação e da extensão das redes digitais. O problema da exclusão 
digital se apresenta como um dos maiores desafios dos dias de hoje, 
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Leitura e escrita
com implicações diretas e indiretas sobre os mais variados aspectos 
da sociedade contemporânea.
Nessa nova sociedade, o conhecimento é essencial para aumen-
tar a produtividade e a competição global. É fundamental para a 
invenção, para a inovação e para a geração de riqueza. As tecnologias 
de informação e comunicação (TICs) proveem uma fundação para a 
construção e aplicação do conhecimento nos setores públicos e priva-
dos. É nesse contexto que se aplica o termo exclusão digital, referente 
à falta de acesso às vantagens e aos benefícios trazidos por essas novas 
tecnologias, por motivos sociais, econômicos, políticos ou culturais.
Considerando as ideias do texto, avalie as afirmações a seguir:

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