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o processo do conhecimento/pesquisa no ensino de história Helen ice Cíampi* RESUMO oprocesso de conhecimento histórico esua adequação ao ensino-aprendizagem, sáo aqui tratados a partir das concepções que fundamentam uma proposta de trabalho que procura estabelecer odialogo de uma pedagogia da inclusão, que visa a prática da cidadania e o respeito às diferenças, com a realidade da exclusão, que aponta justamente para a distância entre a teoria e a prática. Estando atenta a esta contradição, o artigo objetiva refletir sobre conceitos e concepções que poderiam orientar a proposta de curso de cada professor de professor de história, tais como: a relação e diferenciação entre llistória e i\lemória (pois o tcmpo histórico é o das mudanças; oda memória coletiva, da pcrmanência); Cultura: Representação (cuja noção permite articular três modalidades de relação com o mundo social); Leitura; Competências (especialmente a relacional); e, aAprendizagem Significativa. Palavras-chave: conhecimento histórico; cultura; representação; competências; aprendizagem significativa; ensino de história. Introdução , t oartigo abordará oprocesso de estudo/pesquisa que tenho desenvolvido na disciplina metodologia do ensino de História. Às questões colocadas pela produção do conhecimento histórico foram articulados temas e conceitos recorrentes no processo ensino-aprendizagem. Minha trajetória profissional expressa uma ligação direta com a tessitura dos saberes históricos escolares, na relação entre a História e a Educação. Exprime o desafio de articular dois campos do conhecimento: o da história e o da educação, num processo contínuo de envolvimento com a prática docente , Professora de Metodologia do Ensino de História da PllC/SP. HISTÓRIA & ENSINO, Londrina, v. 9, p. 109-132, OUt. 2003 109 ... I e seus problemas teórico-metodológicos. Expressa, a permanente pesqui:;a (; estudo de obras que possam fundamentar minha eembasar "intuições". Questiono o discurso teórico "vazio", o verbalismo excessivo, distanciado da realidade educacionalíescolar que nos cerca, sobretudo quando ignora a exclusão sócio-pedagógica em que vive, hoje, oprofessor. Propõe-se, atualmente, uma pedagogia da inclusão, alicerçada nas propostas da Lei de Diretrizes e Bases (LDB/1996), das Diretrizes Curriculares para todos os níveis de ensino, e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN 1997e 1998). Sem dúvida, todos esses documentos constituem avanços nas discussões teórico-metodológicas, Mas, na prática. a educacional neutraliza avanços, pois não sinaliza no sentido de mudanças estruturais. tais COlHO salário adequado, formação consistente e condições de trabalho que viabilizar as orientações .'U,;~llU"." Esta significa uma colocação correta" ou o desab3Jo de um em contato "com <1:; , mas indignação com UlIla permanência histórica: a inclusão x realidade da exclusão de alunos eprofessores. Se por uma lado, a primeira aponta para uma de prática da cidadania edo às diferenças, por outro, a prática aumenta ofosso que separa tal proposta das e intolerâncias sociais, pois, por ironia, convive com uma acentuada que reforça assustadoramente a idéia de que o " inchaço retórico é com a pobreza das práticas" ,1 Aqueles profissionais, que procuram ou têm uma prática conseqüente, desiludidos, estão sendo expulsos escola, por falt,l de dignas de trabalho. violência cotidiano escolar, pela aumellto do número de alunos em sala de aula e papel social e Este panorama talvez neste período. Expressam, essencialmente, oexercício de refletir os que orientam uma prática coerente com os que a fundamentam; tentando viabili;;;ar os conceitos selecionados eaceitos teoricamente, Paralelamente, procuro acompanhar e orientar práticas efetivas, profissionais de história que criam saberes conjuntamente com seus alunos. Estas práticas precisam ser recuperadas na sua historicidade e, no limite, delinear o significado de tais práticas para todos os envolvidos. 1 Editorial do Jonlal- Bolando Aulas de História, maio de ZOOO. 110 HrSTóRIA & Londri n:<.. V. 9, p. 1()9-132. out. 2003 l ~ I Concepções que fundamentam minha proposta Meu processo de pesquisa teve inicio formal com o livro EnsÍIlO de História: revisão urgente, fruto de um trabalho coletivo de profissionais da história preocupados com aprática conseqüente no ensino da história. Lançava as bases de uma proposta metodológica aliando docência e pesquisa. Publicado pela editora Brasiliense nos anos oitenta, foi, atualmente, reeditado pela EDUC/INEP.2 Assinala as diretrizes de uma proposta que venho amadurecendo para ampliar a compreensão dos princípios básicos, articulando-os com os procedimentos teórico-metodológicos que embasam a prática do professor pesquisador. Há diferentes maneiras de conceber a natureza do conhecimento humano ede conceber eapreender oconhecimento histórico. Adiversidade de pressupostos e perspectivas nos permite confrontar diferentes posições na sua organização teórica e procedimentos metodológicos. Desta forma, o permanente questionamento teórico- metodológico existente na construção da teoria do conhecimento eda história deve ser pensado quando se indaga oque éensinar história hoje, 'não metodologia pela metodologia, mas uma reflexão necessária sobre a história que se faz e sohre a história a fazer' GOFF, 1968, p. 229), As diferentes contribuições precisam ser discutidas eanalisadas para possibilitar ilvançar nas questões de sua transmissão. As novas abordagens, objetos eproblemáticas colocadas pela historiografia constituem parâmetros para a constituição dos procedimentos metodológicos de uma nova pratica pedagógica.3 Partindo do pressuposto da articulação entre aprodução do CGIl hecimento histórico e sua adequação para as questões do ensino em história, procuro ressaltar o trabalho de construção do historiador. Apartir de um problema levantado sobre os dados colocados pelas vozes dos diferentes sujeitos, nas fontes investigadas, ohistoriador constrói sua interpretação. Assim, também, o CIA1\IPI, Belenice e outros. Ensino de história urgente. São Paulo, EDUC/INEP, 2000. , CIAMPI, Belenice. A Hislôlia Pensada e Ensinada: da geração das certezas à geração das incertezas. São Paulo: EDUC/FAí'ESP, 200(\ p. i5 HISTÓRIA & ENSINO, Londrina, Y. 9, p. 109-132, OUt. 2003 111 112 professor deve penS:l), um problema a ser trabalbado com os seus alunos. Ao pensar o que fazer em Lima série, é fundamental selecionar um tema e os assuntos que lhe permitam analisar/responder a problemática escolhida. Ressaltar os desdobramentos do ofício do historiador no trabalho do professor em sala de aula, bem como a preocupação com montagem do tema, a problematização, otrabalho de seleção, tratamento econfronto das fontes para compreensão e explicação do objeto de estudo. Ter o aluno e o professor como sujeitos históricos e do seu próprio conhecimento. Para Adam Schaff, é na prática social que osuieito conhece oobjeto, na e pela sua atividade. qual seja, o "homem é na sua realidade o conjunto de suas relações sociais". Oprocesso de conhecimento constitui uma relação particular entre sujeito eobjeto, pois oobjeto só é quando osujeito cognoscente participa do processo de produção do conhecimento, tornando-o uma "coisa para nós"." Oconhecimento é um processo e não um dado pronto, acabado, definitivo. Schaff questiona a concepção do conhecimento como reflexo fiel da realidade, livre de todo fator subjetivo. No conhecimento histórico, sujeito e objeto constituem uma totalidade; o conhecimento e o posicionamento do historiador estão sempre socialmente comprometidos. Questiona o caráter de verdade absoluta e homogeneizadora, pela qual opassado écristalizado numa só perspectiva, impedindo °resgate de outras possibilidades da história.Parte da tese de que oconhecimento, assim como averdade, éum processo; portanto, a história não encerra lima verdade absoluta, mas é constituída de verdades parciais e incompletas, sendo continuamente reescrita Conhecimento visto como diálogo entre conceitos e realidade social; como construçào de significados e relações entre pessoas, idéias e objetos. Implica em uma forma de comunicação, uma vez que osignificado construído expressa-se em práticas e representações, permitindo alterar a relação com o meio familiar e social. Oprocesso de conhecimento, inclusive no espaço escolar, implica um movimento de relações recíprocas entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido, num dado contexto sócio-cultural. As relações que envolvem alunos, professor e conhecimento, no espaço escolar, são complexas: articulam 4 SCHAFF, Adam. História e Verdade. São Paulo: :vlartins Fontes, 1986, p.8S. HISTÓRIA & ENSINO, Londrina, v. 9, p. )09-132, ou!. 2003 experiências, vivências, interesses, valores e expectativas diferenciadas. Nesse espaço, cruzam-se vozes e significados diversos, influindo no processo de construção do conhecimento. Daí a importância da interlocução, do diálogo dos alunos com o objeto/tema de estudo, orientado pelo professor. As concepções mais tradicionais das ciências da natureza, ,que ainda vigoram no meio acadêmico esão amplamente aceitas na cotidianidade devido aostensiva massificação do conhecimento, buscam as leis amplas eabrangentes que possam ser usadas para explicar amaior quantidade possível de fenômenos da mesma ordem. Por exemplo, a lei da gravidade se aplica em todo o globof terrestre, assim como aquaisquer corpos do universo. Ahistória está preocupada em estudar eexplicar as ações humanas no tempo. Busca oespecífico. Enosso , ~ princípio ter o conhecimento construído pelos historiadores como provisório (uma nova fonte e/ou interpretação pode alterá-lo), descontínuo (já que o historiador não deve ter a pretensão de estudar toda a história dos homens, em todos os aspectos, através dos tempos, pois corre o risco de abstrair as especificidades SOciais) e seletivo (uma vez que o historiador elege oseu tema! objeto, o seu problema e a forma de abordá-lo). As inúmeras mudanças ocorridas antes mesmo da passagem do século 20 para o 21, tais como a nova ordem mundial, a revolução tecnológica, o esfacelamento de instituições, práticas e paradigmas de análise, colocaram novas exigências para a educação. As questões de vida e morte, as histórias vividas, invadiram onosso cotidiano, e a escola nem sempre os enfrenta em seu trabalho pedagógico. Para superar estas dificuldades, precisamos pensar e agir pelo princípio da inter/transdisciplinaridade, ligado à idéia de uma interação, negociação ética epolítica entre as diferentes áreas de conhecimento, e não a uma mera justaposição de conteúdos disciplinares. Ampliar os horizontes disciplinares pode nos auxiliar a reencontrar o sujeito e a traduzir um novo momento da história, frente à necessidade indispensável de interligações entre as áreas do conhecimento.5 Odesafio do volume de informações, produzido em função de novas tecnologias, implica pensar uma formação docente capaz de desenvolver, com os alunos, não só conceitos disciplinares, mas, sobretudo, outra ordem de 5 MORIN, Edgar. Os sefe<i saberes neressários àeducação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: Unesco, 2000. HISTÓRIA & ENSINO, Londrina, v. 9, p. 109-132, oul. 2003 113 I 114 conteúdos, os procedimentais, as competêncIas e, entre elas, apesquisa eseleçiio de informações para resolver um problema e entre as possívei, a(s) "Ê preciso em um de fiapos de informações e Uma ~,lVl;aJ"oa.uu, que se caracteriza em uma sociedade em que há tendência a viver apenas o de um eonsumisrno qu~' "ocia] por excelência, A mais do que nos informar sobre o maneira, para o consumislIlo por ela. Isto signifil3a, entrr outros aspectos, que mais mm a imagem e permanentemente reconstruído filtrado pelas fontes Com a massificação das mensagens e sensihilidade é fragilizada e a identidade pessoal, e social evapora-se. Por é fundamental trabalhar uma metodologia que resgate a memória e a identidade soc\allcultmal Múltiplas os interesses, econcepções de oaluno neste processo de j.Jercepçào do lugar social de destas Iniciar o aluno no processo de "leitura do mundo", seja por meio escrita, artefatos, imagens, num movilnento de "aprender ver", trabalhando com diferentes linguagens. Conceitos Estes princípios constituem os alicerces de uma construção pedagógica e se articulam com conceitos que viabilizam a de uma prática conseqüente. Fundamental, a explicitaç~c pelo menos, mais Ú Si\:lTOS, Jair. Opó'·modcmo. SIo Paulo, BrasilielJsc, 1987 HrST()RIA & E\iSINO, Londrina, v. 9, ]1. 109-132, OUt. 2003 recorrentes, tais como: Wstória/mem ória, cultura, represEntação, fonte, leitura, competências/habilidades, e aprendizagem significativa. pode Hist6ria entendida como prática constantemente reconstruída por sujeitos djferenciados, em várias dimensões do se criticamente no campo da memória/história, que põe em os significados do passado/presente/futuro, colocando em discussão a experiência e as referências históricas dos alunos em diálogo com as experiências e referenciais dos sujeitos históricos. Ovalor histórico passado lembrado em três pontos fortes: proporciona informação significativa e, por vezes, única do transmitir aconsciência individual ecoletiva que é integrante passado; e fornece uma perspectiva histórica que nos permite avaliar () significado, a longo prazo, da própria história. Paul Thompson, no seu livro A Voz do Passado, conclui qie a memória não é o resgate de um passado que se conserva intacto e que pelo exercício mnemônico nos alcança. É elaborada a de parârnetros que são resultados da relação entre o homem e A reconstmção passado depende essencialmente da integração do indivíduo a um gmpo sodal que compartilhe suas experiências e cuja existência dá sustentação à sua memória. Neste sentido, memória individual é, ao mesmo tempo, memória social. É uma ação coletiva embora o indivíduo o memorizador, amemória somente se sustenta no interim de um gmpo. narrativas transmitem a verdade e não os fatos do acontecimento descrito. Os estudos sobre memória, como os de Pierre Nora, sinalizam um mal estar de nosso tempo: o cidadão contemporâneo vai se dando conta de uma mptura definitiva com o passado e o sentimento tradicional de continuidade entre o passado e o vai se tornando vez mais residuaL Hoje, a memória coletiva encontra-se refugiada em poucos VISlvecS, nm,CD""'U1 por meio de rituais e em que alguns grupos amantém resguardada do assalto da história, ou em lugares mais imperceptíveis ainda, como em gestos, hábitos ou silêncios. Essa nova percepção de ruptura tem gerado novos suportes da memória, com os quais se possa preservar a continuidade do passado e do presente, em um tempo onde a mundialização, a massificação e ofenômeno da mídia rompem com oequilíhrio com os suportes coletivos da memória, tal como existiram nas sociedades pré-industriais. HISTÓRIA & Londrina, v. 9, p. 109-J 32, ou!. 2003 115 r I Á memória é a sempre guardada pelos grupos vivos é em ,eu nome, ela está em evolução pennanente, aberta àdialética da lembrança edo esquecimento, li:20nscien te súbitas por S;ío elas que, consciente ou inconscientemente, orientam nossas opções, diferentes sào por um Con; reiação ao professor, sào as suas concepções de Drientam relacion:l-Se de modos diferentes espaços socíais, com diferentes projetos, interesses e prioridades. As dimensões espacü:l àessas produções e Neste "1 DECCA, Lugar. "lvlemôrLl ;.; Cidadania' . ln. direito da Jie1l1uria:patrjmôJ~io lústól'ico e ciuad;miJ. DPH, S.P.,199?, p130 e 131. HISTiÍFi\ V. 9, p. !Ol)-132, ouL 2UO" tempo histórico e o espaço geográfico são social e culturalmente construídos, consolidando os diversos modos de conceituar e de estabelecer contatos com o meio circundante. Cultura, na concepção de E. P. Thompson, é todo modo de Ima e de organização social, expresso nas experiências cotidianas que se na forma de vivel~ pensar e agir. Cultura não como "coisa" que se usa, manipula, consome, mas como "algo que se cria". Cultura não como algo fechado, estático, mas dinâmica, multiforme.8 Na cultura, as diferentes dimensões são perpassadas pelo e pela contradição, vinculados, inclusive, à desigualdade social. No movimento da permanência/transformação cultural, vamos construindo nossa pessoal e social. Devemos pensar as práticas como cultura objetivada e subjetivada, conjunto de obras, realizações, instituições, inclusive usos e costumes, assim como suas representações, como o faz Roger Chartier.9 Ahistória trabalha com narrativas. Nossas convenções instituem o real e nós trabalhamos sobre esta construção. Nossas representações/i nterpretações traduzem nossas experiências. O que está em jogo é a linguageul como mediadora/passagem entre as ações e suas representações/interpretações. As ações simbólicas são configuradas como textos a serem lidos ou linguagens a serem decodificadas. Atensão fundamenta! da obra de Chartier é, por um uma permanente interrogaçã.o "sobre apossibilidade ir do discurso ao li que o leva a questionar a fonte enquanto testemunho de uma realidade de que esta seria mero instrumento de mediação". Daí a tendência para pensar a realidade através das suas representações e considerá-las de múltiplos sentidos. Oautor constata a existência de práticas sociais irredutíveis à representações, porque revestidas de uma lógica própria. "Resolver esta tensão implica tomar operatórias a noção de leitura e o conjunto de formas de apropriação, ;,$ quais permitem pensar simultaneamente a relação de conhecimento, em partícular os procedimentos com as fontes, e o conjunto dos actos de relação, comprometedorés de práticas e de representações". 10 S l'I111MPSO.E.P. il FO[lJwç:l0 da Classe Operária Jnglesil. R. j: Paz e Terra,1987. " CIIARTIER, Roger. il Jlistâáa Cultural: entre prátiC:L' e representações. Lisboa, DifeI. j 990 !, J , HISTÓRIA & ENSINO, Londrina, v. 9, p. 109-132, ou!. 2003 l I Para " dev dois diclnúria {: ;:' 'leriais c gra(;as as grupo, cL:sse ou da coisa não Hl Clli\lrl'1Cz., 30gcr. .fi Cultnm]: tlJi,.':,; p'fific{]s e !"jlJL:.c.';':",Uts. LiS;;()~l\ II CIlAlmER, ()iJra citada. p.20 e lI. 118 HISTÓR 9, p. i oui. Aproblemática do "mundo como representação", moldado através das séries que o apreendem e o estruturam, segundo o autor, nos leva a UHla reflexão sobre como uma figuração desse tipo pode ser apropriada leitores dos ou das imagens que a ver e a pensar real. Daí o interesse manifestado, lJor Cil artier, sobre oprocesso pelo qual é produzido um sentido ediferentemente construída uma significação. "Como é que uma configmação narrativa corresponder a uma re-figuração da própria experiência". As modalidades agir edo penS3X devem ser articuladas à "interdependência que regulam as entre os indivíduos que são moldados, de diferentes maneiras em situações, pelas do poder. Pensar asSir:1 ?, individualidade Das suas variações históricas eqüiYale não só a romper com o conceito de sujeito universal, mas tarnbém a inscrever num processo a longo prazo - caracterizado pela transformação do e das relações entre os homens - as mutações das estruturas da personalidade."12 Éimportante amaneira corno n;L'I práticas, nas mn,'ncon' ou lU:; produções, se cruzam e se imbricam formas Apreocupação com a abrangência atividade humana a interdisciplinaridade. Acrise do paradigma tradicional da escrita da história apresenta, para o novo paradigma, problemas de conceituação. Apreocupação com o cotidiano, "com o mundo da experiência comum (mais do que a "U~i',AJ.,"U<> por si só ) como seu ponto de de encarar a vida cotidiana como par" os problemas e métodos. Aevidência oral, a as imagens em geral, estão quase atingindo a sofisticação da crítica do documento escrito. Oimportante é ressaltar o especificidades e limitações das fontes, cabendo ao historiador/professor de história, mediante o seu tema e sua problemática, selecioná-Ias e interpretá-las adequadamente, Elas se completam e, dependendo da certas fontes ser mais "preciosas" do que outras. Oproblema está em como trabalhá-las, independentemente de serem escritas, orais ou visuais. Oestudo da memória nos ensina que todas as fontes históricas estão impregnadas de subjetividade, Precisamos questionar nossas interpretações I' CIL\RTIER, Roger. Obra citada, p..23-25, 11 BURYll, Peter (org,)- ,ll'scril:l da História. São Paulo: Editora Unesp, 1992, p.23. HISTÓR1!\ & E:-JSINÜ, Londrina, v. 9, p, 109-132, out. 2003 remete-nos, entre outros, l I 119 120 confrontando-as com oulTas fontes. Por outro est"J atentos a uma observação de Paul Thompson: as tradições orais documentos do presente, porque são narradas no presente. Contudo, trazem também em si, ao mesmo tempo, uma mensagem passado. Não se pode negar que haja nelas quer opresente, quer opassado. Ignorar uma dessas dimensões, é mutilar a tradição e constitui uma posição reducionista. Para explicitar o significado da ieitura, confrontarei duas antagônicas e seus desdobramentos na prática pedagógica. Uma é a leitura entendida como decodificação mecânÍca signos, por meio de aprendizado estabeiecido a partir do condicionamento Oconhecimento da língua seria para a leitura se efetivar. Eastaria superar oestágio da alfabetização para termos um leitor. Outra é a leitura entendida como processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve sensoriais, emocionais, intelectuaIs, culturais, econômicos e Oconhecimento da língua nào seria suficiente para a leitura se um sistema de interpessoais e entre as várias áreas da expressão humana e d~L~ suas circunstâncias. Estas conceituações trazem implicações sobre o significado de texto. Para a da decodificação - texto é só o escrito, entendido como um conjunto de signos..Para o do processo de compreensão, texto é toda mensagem, em qualquer tipo de linguagem escrita, sonora, imagética, gestual. Para a decodificação, o significado do texto é algo que se dá de imediato à leitura do texto, pois éuma simples decifração do código lingüistico. Para a compreensão, osentido de um texto é algo que antecede ao cont9.to ele com o texto. Isto significa dizer que o leitor preexiste à descoberta palavras escritas. Oleitor foi se configurando no decorrer as mais elementares mundo pessoal e cultural. Osignificado texto, em todo desde individuais até às decorrentes do HJ.C\.lC,<!.lUjlV descoberta a do seu contexto pessoal e cultural. Precisamos estar atentos ao selecionar um texto ou documento para o trabalho em sala de aula, porque entre outras razões há vários níveis de que interferem no aprendizado. Podemos identificar três níveis de a leitura sensorial, emocional e a racionaL Aleitura sensorial envolve, como o próprio nome diz, os órgãos do sentido: visão, olfato, audição. É uma resposta imediata às exigências e ofertas que o mundo apresenta, não HISTÓRIA & ENSINO, Londrina, v. 9, p. !09l:;2. ou!. 2003 r r J I portanto, elaborada. Começa na infância e nos acompanha por toda a vida. Para as crianças e os analfabetos é essa leitura que conta. As características sensíveis do texto como impressão, diagramação, tamanho da letra, quantidade de páginas, dificultam ou facilitam aleitura. Aleitura emocional fica no terrenodas emoções, no qual as coisas ficam, por vezes, ininteligíveis, escapando ao controle do leitor. Este se vê envolvido pelas armadilhas do inconsciente e, nesta leitura, podem surgir entraves que marcam definitivamente o terceiro nível de leitura. Aleitura racional, por sua vez, lida com oelemento racional. Acrescenta à leitura sensorial e emocional, pelo fato de estabelecer urna ponte entre o leitor, o texto e o contexto. Propicia uma articulação entre ü conhecimento do leitor, e a reordellação/re-significado do mundo objetivo. Implica em um mergulho na tessitura do texto. Nenhum destes três níveis existe em "estado puro", mas em termos de possível predominância. Como a leitura é dinâmica e circunstanciada, esses três níveis são interligados ou mesmo simultâneos, sendo, um ou outro, privilegiado, segundo as experiências, expectativas, necessidades ou interesses do leitor e das condições do contexto no qual ocorre a leitura. Ohomem lê como em geral vive, num processo permanente de interação entre sensações, emoções e pensamentos.14 Roger Chartier, no seu livro Àbeira da Falésia, questiona a concepção segundo a qual o sentido de um texto estaria nele escondido. Afirma, apoiado em Michel de Certeau, que a significação "é produto de uma leitura, de uma construção de seu leitor". Este inventa nos textos algo diferente ela intenção do autor. Combina seus fragmentos e organiza uma "pluralidade indefinida de significações". Os textos "não podem então ser apreendidos llem como objetos, cuja distribuição bastaria determinar, nem como entidades, cuja significação seria universal. Devem ser relacionados àrede contraditória das utilizações que os constituíram historicamente. Oque levanta, evidentemente, duas questões: o que significa ler? Como resgatar as leituras antigas ?"15 Com as transformações tecnológicas, sociais e culturais, uma questão prática, relacional, se impõe com grande evidência. Temos muitos problemas 14 MARTINS, Maria Helena. Oque é a Leitura. S.P., Brasiliense, 1984, 4'edição, p.36-69. 15 CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a histrJil8 entre incertezas e inquietude. Porto Alegre: Edilma Universidade/UFRGS, 2002, p.54. HISTÓRIA & ENSINO, Londrina. v. 9, p. 109-132, oul. 2003 121 122 a resolver, muitas decisões a tomar, muitos procedimentos a aprender. Isso não significa, obviamente, que dominar conceitos deixou de ser importante. Vai-se à escola para adquirir conhecimentos ou para desenvolver competências? Conhecimentos e competências são complementares, mas pode haver entre eles um conflito de prioridade, dado o pouco tempo do trabalho em sala de aula. Penso que, como afirma Perrenoud16 ,o que está em jogo é o debate entre duas visões de currículo: uma postura que defende uma ampla acumulação de informações, conceitos, sem preocupar-se com sua mobilização em determinada situação, confiando que as competências ocorrerão "naturalmente" na vida profissional. Ou uma posição que entende que deve haver a seleção e/ou limitação dos conteúdos conceituais a serem trabalhados, para que se possa "exercitar no âmbito escolar a mobilização de conhecimento em situação complexa, ou seja, provocar sua integração operacional em uma competência". Odesafio, hoje, é coordenar o ensino de conceitos e gestão de sala de aula, com aprendizagens e desenvolvimento de procedimentos, valores e atitudes. Ou sej a, trabalhar com competências "não significa dar as costas aos conteúdos conceituais" mas, simultaneamente, trabalha,r os conteúdos procedimentais (competências e habilidades) e os conteúdos atitudinais. Segundo Perrenoud, conhecimento são representações da realidade, que construímos e armazenamos ao sabor de nossa experiência e de nossa formação. Competência é "uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles". Isto porque as competências "utilizam, integram ou mobilizam os conhecimentos", num momento preciso para asolução de um dado problema. As competências são, pois, "complexas operações mentais cuja orquestração só pode construir-se ao vivo, em função tanto de seu saber ede sua perícia quanto de sua visão da situação" ,17 Perrenoud questiona apostura que considera a competência como uma faculdade genérica, uma potencialidade de qualquer mente humana. 16 PERRENOUD, P. Construir competências desde a escola. Porto Alegre, Artes Médicas, 1999, p 10. 17 PERRENOUD, P. Obra citada, p.7 e 8. HISTÓRIA & ENSINO, Londrina, v. 9, p. 109-132, ou!. 2003 As potencialidades do sujeito só se transfonnam em competências efetivas por meio de aprendizados que não intervêm espontaneamente, por exemplo, junto com amaturação do sistema nervoso, eque também não se realizam da mesma maneira em cada indivíduo. Cada um d~ve aprender a falar, mesmo sendo geneticamente capaz disso. As competências, (...) são aquisições, aprendizados construídos, enão virtualidades da espécie. 18 Os termos valorizados pelo autor para caracterizar as competências são: tomada de decisão, mobilização de recursos e utilização de esquemas. Tomada de decisão no sentido de que a competência refere-se ao julgamento ou interpretação, a partir de um conjunto de indicadores ou fatores presentes em uma determinada situação e que implicam uma decisão. Para isso, a competência irá mobilizar uma série de recursos disponíveis, afetivos, sensoriais, cognitivos, entre os quais o conhecimento, para essa de decisão. "Em sua concepção piagetiana, o esquema, como estrutura inral'iante de uma operação ou de uUJa não condena a uma repetição idêntica. Ao contrário, permite, por meio de acomodações menores, enfrentar uma variedade de situações de estrutura igual. (...) o r esquema é uma ferramenta flexível" .19 Segundo Perrenoud, nascemos com algum esquemas hereditários e construímos outros ao longo da vida. Os esquemas nos permitem mobilizar conhecimentos, informações para enfrentar uma situação. Entretanto, para o autor, uma competência não é um simples esquema, "mas orquestra um r conjunto de esquemas. Um esquema éuma totalidade constituída, que sustenta uma ação ou operação única, enquanto uma competência com uma certa complexidade envolve diversos esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação, que suportam inferências, antecipações, transposições analógicas, generalizações, apreciação de probabilidades, estabelecimento de um diagnóstico apartir de um conjunto de índice, busca das informações pertinentes formação de uma decisão, etc "20 As orientações do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) propõem IK PElWI':NOUD, P. Obra citada..1'.21. 19 PETmENOUD, P. Obra citada. 1'.23. 10 PERRENOUD, P. Obra êitada, p.2!1 HISTÓRIA & ENSlt\O. Londrina, v. 9, p. 109-132, OUt. 2003 123 que a competência seja entendida em três modalidades: como condição prévia do suieito, como condição do objeto, independente do sujeito que o l1tiliza, e como competência relacionaI.Zl Competência como condição prévia do sujeito, herdada ou adquirida. É comum definir competência como capacidade de um organismo. Saber respirat; falar, por exemplo, são capacidades herdadas. Nascemos com competência comunicativa, isto é, herdamos nossa aptidão para a linguagem. Ao mesmo tempo, temos de adquirir competência em uma ou mais línguas, pois essas não sào herdadas, mas aprendidas e se constituern em patrimônio de nossa cultura e de nossa possibilidade de comunicação. ~;esse caso, competência e desempenho são dimensões diferentes. Ter capacidade de caminhar não é caminhar. Competência, nesse primeiro sentido, significa, muitas vezes, o que se chama de talento, dom ou extrema facilidade para alguma atividade. Essa primeira forma de competência não significa apenas formas de mas também pode se a uma perda - permanente ou transitória - de competência. Porpodemos ou diminuir nossa capacidade respiratória ou condição para realizar uma certa tarefa. Em caso de acidente, podemos perder nossa possibilidade de locomoção, Da mesma forma, um professor por diversos fatores, perder sua competência didática. Competência come condição do independente do suielto que o utiliza. Refere-se :t competência da ou do objeto. Por exemplo, a competência ou de um motorista não tem relação com a potência de seu automóvel. Omesmo acontece com relação aos computadores e seus usuários. Uma coisa é nossa condição de operar um certo programa. Outra é a potência do computador, sua velocidade de processar informações, memória. Na escola, essa forma de competência está presente, por exemplo, quando julgamos um professor pela "competência" do livro que da escola em que leciona. Competência relacional. Essa terceiraforma de competênciaéinterdependente, ou seja, não basta ser bom conhecedor de uma matéria, não basta possuir objetos el ou material, livros adequados, pois oimportante aqui é"como esses fatores interagem". Acompetência relaciona] expressa esse jogo de interações. 21 MACEDO, Lino, Eixos 'nyiâcos que estruturam oENEH.! Sernin~riu do Exame Nlli:ional de Ensino1!édio. \!EC/INEP. Brasília, outubro dp 1999, p,9-l2, 124 HISTÓRIA & ENSINO, Londrina. v, 9, p, 109-132, OUt. 2003 Numa partida de futebol, para fazer um gol, não basta que o jogador saiba chutar para o gol, fazer embaixada, correr com a bola no pé; é necessário que saiba coordenar tudo isso no momento da partida e fazer o gol . Numa conferência, a qualidade do texto não é condição suficiente para que o conferencista atinja os objetivos, énecessário fazer uma boa leitura, considerando o ritmo, as pausas e, sobretudo, as expectativas e reações da platéia etc. Asituação de jogo é um bom exemplo de competência relacional, pois essa forma sempre se expressa em um contexto de interdependência. 'Não se ganha () jogo na vésp~ra'. como se diz usualmente. Na véspera, há muitas ações que se podem realizar (treinar, estudar outras partidas, mas são as leituras ou i.nterpretações. no momento do jogo propriamente dito, as tomadas de decisão, cl" coordenações ~l1tre ataque edefesa que definirão as possibilidades de ganhar ou perder. ( .. ) A sala de aula é um bom exemplo disso. J\luito se pode e deve fazer previamente: estudar, preparar eselecionar materiais, escrever o texto ou definir oesquema aser seguido. Mas há outros fatores que só podem edevem ser definidos no momento da aula, em função de outros que não se podem antecipar, t, justamente porque são construídos no jogo das interações entre o professor, seus alunos e os materiais de ensin022 . F > A~ múltiplas tarefas de que um professor deve cuidar, de preferência ao mesmo tempo, implica em mobilizar e coordenar os múltiplos aspectos que concorrem simultaneamente. Daí, a imagem da competência relacional como , a de um jogo que nào Se g:mha na véspera mas durante opróprjo ato de jogar, dependente de fatores que não podem ser criados antes ou depois do jogo. Malícia, domínio de si mesmo, poder interpretar e tomar no contexto da situação-problema, coordenar os múltiplos aspectos que concorrem simultaneamente, sào fatores importantes para o que se analisa como competência relacionaL A competência relaciona! supõe uma abertura para a diversidade. Diversidade de pontos de vista, múltiplas formas de se expressar, variabilidade de contextos. Pode-se argumentar de diferentes modos, há abertura para soluções divergentes, há espaço para diferenças. 22 MAc'EDO, Lino. Obra citada, p.ll e 12. HIST6HIA & E~SI~II, Londrina, v. 9, p. 109-132, ou!. 2003 125 126 Na perspectiva da competência relacional, mais importante é oprocesso de jogar, éaqualidade do modo como se joga. Ora, essa dimensão do jogo écooperativa, não não é competitiva. Emarcada pela interdependência. No jogo, cada da outra. Se um jogador não movimenta sua peça, o outro, na vez poderá fazer sua jogada. 'Iodos estão submetidos às mesmas regras, ao mesmo tabuleiro. Portanto, o jogo, como processo, é um exercício de interdependência, de cooperação, não de competição, mesmo em jogos competitivos. Acompetência relacional émuito importante em uma visão construtlvista do pl'Ocesso de aprendizagem escolar. Para essa a interação caracteriza-se por trocas que podem gerar, em sua própria realização, uma tensão. Na visão construtivista, como em termos de competência relacional, oque interessa não é o que marca as diferenças, mas o que as coordena. Odesafio, do ponto de vista relacional, é como comunicar, em um desses tempos, algo que seja pertinente e interessante sobre o élSsLmto. Esse é o desafio em uma perspectiva Há diferenças que separam, há diferenças que Na competêncla social, são as diferenças de serem integradas, coordenadas, que interessar:;. As três formas de competência, na prática, não se anulam, necessariamente, pois referem-se à dimensões diferentes e complementares de uma mesma realidade. Oelemento surpresa que caracteriza um dos aspectos da competência não deve ser com ou impossibilidade de "n',o,·"',,,~,, Adiferença entre competência e habilidade, em uma aproximação, depende do recorte. Resolver problemas é uma competência que supõe o domínio de várias habilidades. Saber ler, como habilidade, não é o mesmo que saber ler como competência relacional. Em muitas situações, quando temos de ler em público, por exemplo, temos dificuldades para isso. Como coordenar as perspectivas do texto, dos ouvintes e do leitor? 'fodos conhecemos escritores brilhantes que não sào bons conferencistas, Para se comunicar bem em uma palestra, a habilidade de ler é uma condição insuficiente, pois há uma conjunção de fatores que são de outra ordem, oque eqüivale a uma compe~ncia. "Para dizer de um outro modo, a competência é uma habilidade de ordem geral, enquanto a habilidade é uma competência de ordem (...) O que nào quer dizer que seja apenas un, HISTÓRiA & ENSINO, Londrina, v. 9, jl 109-132, OUt. 2003 de habilidades: é mais do que isso, pois supõe algo que se reduz à soma das partes, "" Acompetência éomodo como fazemos convergir nossas necessidades e articulamos nossas habilidades em favor de um objetivo ou solução de um problema, que se expressa num desafio. .. As habilidades são, pois, conjuntos de possibilidâdes, repertórios que expressam nossas múltiplas edesej adas conquistas. As habilidades são operações ou processos mentais, ações, comportamentos associados ao pensamento, tais como observação, classificação, comparação, interpretação, levantamento de hipóteses, entre outras. São processos mentais que se superpõem, entrelaçam se, sem seqüência hierárquica, pois os limites entre os processos mentais são imprecisos e é difícil estabelecer um esquema de classificação. Mas cada habilidade tem um objeto específico. É preciso tê-lo em mente para elaborart atividades que o desenvolvam. Por exemplo, o significado da observação é ,r distinguir a percepção dos sentidos e a percepção do pensamento, É identificar r dados ou fatos. Seu objetivo último é desenvolver a percepção das partes para melhor entendimento do todo. Implica perceber a diferença entre opinião, dado ou fato. Observar não é apenas "ver" ou "ouvir". Observar implica a idéia de notar, perceber, discernir e agrupar dados, fatos ou idéias. É uma forma de descobrir informações.24 Éa consciência que atribui significado aos objetos que nos rodeiam. No âmago da consciência encontra-se a intencionalidade, que é a ponte entre sujeito eobjeto. Aintencionalidade é a estrutura que dá significado àexperiência. É a estrutLlfa de sentido que nos possibilita, sujeitos que somos, a ver e compreellder o mundo, Cognição é o processo através do qual o Inundo de significados tem origem e a psicologiacognitiva volta-se para o estudo do dinamismo da consciência, ou seja, para o processo pelo qual o homem desenvolve sua "compreensão" do mundo e passa a agir segundo essa compreensão.. " Esses significados são pontos de partida para a atribuição de outros significados. Constitui-se então a estrutura cognitiva, ponto básico de ancoragem, do qual derivam outros significados. MACEDO, Lino. Obra citada, p.l3. 2', RAT1IS, Louis e outros. Ensinar apensar. São Paulo, EPL Editora Pedagógica e Universitária, 1977, p.II-50. 25 ~JOREIRA, Marco e MASINI, Elcie. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel SE :Moraes, 1982, p.l-3. HISTÓRiA & EKSil\C, Londrina, v. 9, p. 109"132, out. 2003 127 128 ;lOva e A aprendizagem significativa é, segundo Ausubel, um processo pelo qual uma nova informação se relaciona com um significativo do conhecimento do indivíduo. Essa ocorre informação ancor;tse em conceitos preexistentes na cognitiva de quem aprende. Cada disciplina tem uma estrutura organizada de conceitos que constitui seu sistema de "informações". Podemos, portanto, const111il' um mapa conceitual de uma disciplina, programa de curso ou mesmo de uma série, partindo dos conceitos mais gerais, significativos, inclusivos, chamado , articulal1do-cs aos conceitos selecionados para o trabalho pedagógico. conheclmento e como todos esses conceitos estarão organizados, portanto, mn estrutural e hierarquicamente. Mapas conceituais são, pois, diagramas indicando entre conceitos ou entre palavras que usamos para representar conceitos. Aconstrução mapa conceitual é uma vcz expressa a e relacionamento dos conceitos seleciomdn:i O111;lpa conceitual o professor aorganizar sua programação, assim CorilO diagnosticar seu trabalho. Portanto, constitui um facilitado r do trabalho pedagógico, podendo ou não ser desenvolvido com os alunos após () estudo de um tema para refletir sobre os conceitos trabalhados. Omapa conceitual anexo expressa os conceitos básicos no ensino fundamental Escola Nossa Senhoca Graças, onde assessora de História. Éum trabalho desenvolvido pelas professoras Andréa MomeHalo e Conceição Cabrini. As cores representam as séries do ensino fundamental: preto, indicando os conceitos desenvolvidos na 5a série; vermelho, os desenvolvidos na 6" série; verde, na 7" série; representação, cultura e tempo e espaço são ao longe elas séries. Aaquisição de para flU,·"W'.l. aspectos denotativos (atributos criteriais distintivos evocados pelo nome de um conceito) econotativos (reações atitudinais ou afetivas pelo conceito) o Aformação de conceitos é uma característica da criança em idade pré-escolar, quando ocorre a aquisição espontânea de genéricas por meio ~() Conceito subsunçor: idéia fÜlcor8, COllceitos ou proposiçfto 111:l,is a1-J11)la (Iue funcionacomu ! 111l slJll(Jrdimtdor de outros conceitos na estrutura cogilitiva e como ancc:radolim processo de assimilação. :+111. p). HISTÓRIA & ENSiNO, Londrina, v. 9, p. 109-132, OUt. 2003 , r r ~ t , , I •I experiência empírico-concreta. Consiste de um processo de abstração dos aspectos comuns e essenciais de uma classe de objetos ou eventos que varia contextualmente. A assimilação de novos cOllceitos ocorre pela percepção de seus atributos criteriais e pelo relacionamento desses atributos com as idéias relevantes já estabelecidas em sua estrutura cognitiva. Aprender um novo conceito depende da propriedade existente na estrutura cognitiva, do nível de desenvolvimento do aprendiz, de sua habilidade intelectual, da natureza conceitual do conceito, do modo como é apresentado. Na formação de conceitos, a análise disc]'iminativ~! de diferentes de estimulo é mais longa e requer mais exemplos e situações variadas. Na assimilação de conceitos, o indivíduo detém-se pouco nesse primeiro já que existem conceitos que servem de ancoradouro. Alinguagem ocupa um papel facilitador na aquisição de conceitos, sem a qual seria inconcebível, porque a força representacional do símbolos verbais reflete o nível do funcionamento cognitivo no processo conceitualização. Alinguagem assegura a uniformidade cultural, o conteúdo, e facilita a comunic2c<,;ão cognitiva interpessoaL São estes, portanto, os conceitos básicos que auxiliam a tecer os procedimentos que permitem concretizar os princípios teóricos a que aludi no início deste texto. Estas reflexões expressam o amadurecimento de meu processo de pesquisa, constituindo o "avesso do avesso" de uma prática pedagógica que considero conseqüente. São fruto de intuições reforçadas por pesquisadores de aspectos diferenciados do processo do conhecimento, especialmente do conhecimento histórico. Bibliografia BURKE, Peter (org.).A escrita da !Jistóría. São Paulo: Editora Unesp, 1992. CHARTIER, Roger. AHistória Cultural: entre práticas e representações. Trad. Maria M. Galhardo. Lisboa, Difel, 1990 CHARTIER, Roger. AbejJ'il da falésia: a históría entre certezas e inquietude. Trad. Patrícia C. Ramos. Porto Ed. Universidade/llFRGS, 2002. HISTÓRIA & ENSINO, Londrina, v. 9, p. 109-132, OUt. 2003 129 130 geração /FAPESP, 2000, l\dg~.r. 'Memória e Udad:mia", da Memória: paTrimônio histórico e cidadallia, np H. SP, 1992, P Lino, Eixos oENEM,I° Seminário do Exame Naciomü de MOl<IN, Edgar, Os Setes :-'abcres necessários à Educaçso do Futuro,S, P:Cortez;Brasíli a,DF: UNE~;CO ,2000, MOREiRA. Mal'cr: Elcie, Aprendizagem de Davidf' AlIsubd :;;':0 p,ndu : 1982, j\!ari:: () que a Leitura, São Paulo, 1984, PERRENG['D, :OF!5truÍr competênôas desde Artes RKI1IS, Louis, Ensinar a PensaI: São Pavlc. EPU- Pedagógica e Universitária, 1977. SANTOS, Jair, Opós-modemo, São 1987. Adam, História e Verdade, São Paulo, Martins Fontes, 1986, THOMPSON, E.P. AFormação da Cffl:>Se Inglesa, Tradução de Denise Botlman, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 Fim! voz do Passado, Rio de Janeiro. Paz HiSTÓRIA & ENSINO, Londrina, v. (), p. 109-132, ou!. 2003 _ .. .. .. _ - _ .. ~ - _ - . . . . . . . . . . . . . . . . . . ~ ~ . . . , . . . . . , . .. .. .. ,. .. .. ". ". .. .. -~ . . . . . . . . " " " " . . . . . ~ " ' li "' " .. .. .. .. .. .. .. ,~ .. ., . " " " ' f . . . . . . . . . , - " . 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Memory (as the historicaí lime is lhe times of changes atld lhe time ofcollective memory 15 th~ (llle of permance); Representation notion allows the articulalion of thl'ee different ways of relation with lhe social world); Reading; one) and the SigniJ:icative Leaming, HrSTóR11I & E:mNo, Londrina, v, 9, p, 109-132, out 2003
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