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Lactose Estrutura, propriedades físicas e químicas, obtenção e problemas nutricionais Bibliografia Fox, P. F. & McSweeney, P.L.H.(2009). Advanced Dairy Chemistry, Vol. 3, Lactose, Water, Salts and Minor Constituents, 3rd edn., Springer Science+Business Media, LLC, New York. Brown-Esters et al. (2012). Dietary and biological factors influencing lactose intolerance. International Dairy Journal 22, p. 98-103. Gänzle et al (2008). Lactose: Crystallization, hydrolysis and value-added derivatives. International Dairy Journal 18, p. 685– 694 Conteúdo Biossíntese Ocorrência e propriedades Mutarrotação Solubilidade/cristalização e doçura Reação de Maillard/caramelização Significância da lactose em produtos lácteos Problemas nutricionais associados à lactose Produtos com baixo teor lactose ou lactose free Lactose e derivativos: produção e potencial aplicação Lactose Importância no leite e produtos lácteos Constituinte essencial na produção de produtos lácteos fermentados Queijos e leites fermentados Textura de produtos lácteos concentrados e congelados Alterações induzidas pelo calor Cor e sabor (Maillard) Características lactose Principal CH leite (quase) todos mamíferos Única fonte significativa lactose ↓Glu e oligossacarídeos (>ia nãodigeridos nem absorvidos) Leite humano - N-acetilglucosamina (Bifidus factor I) Dissacarídeo (Glu-Gal) Fonte primária de energia recém-nascido Concentração mais elevada (7%) no leite humano Principal componente leite vaca (4.5 - 5%; 53% SNG) Açucar redutor mais barato do mercado principal CH da maioria mamíferos Tabela 1. Concentração de lactose no leite.ppt [lactose] inversamente relacionada [lipídeos] e [caseína] leite Função lactose e lipídeos - fonte ENERGIA G ~2,2x mais densamente energética que lactose Mamíferos em ambiente frio (Rena=22,4%; Baleia=44%) Síntese lactose drena H2O para vesículas Golgi -> diluição caseína Dados baseados no leite de 23 espécies (Sloan and Jenness, 1970) Glu Glu-6-P (1) ATP ADP Lac UDP-Gal UDP-Glu + PP1 Glu-1-P (2) Glu UDP ATP ATP ADP (3) (4) (5) (1) hexoquinase (ou gluco quinase); (2) fosfoglucomutase; (3) UDP-glucose pirofosforilase; (4) UDP-glucose-4-epimerase; (5) lactose sintetase Lactose sintetizada células glândula mamária glicose (2) do sangue Glu(1) é isomerizada a Gal pela via de Leloir Síntese da Lactose No aparato de Golgi, a lactose sintetase transfere a galactose da UDP-galactose à glicose, liberando UDP. Lactose sintetase – 2 componentes A = -D-galactosil transferase (não específica) B = -lactoalbumina forma complexo com a enzima A , tornando A específica para glucose; reduz Km 1.000x) - La se dissocia da -D- galactosiltransferase depois da formação da lactose mas antes é descarregada no lúmen alveolar das células secretórias junto com as proteínas Síntese da Lactose Fonte energia cria (30% valor calórico leite) regulação volume de leite regulação osmótica responsável por 50% pressão osmótica do leite Isotônica com o sangue Praticamente constante Água drenada osmoticamente para diluir o açúcar, caseína ([ ]↓) e outros sólidos => reduz viscosidade e permite amamentação cria. Correlação positiva entre a concentração de lactose e -La no leite Ex: Leoa Marinha – não contém lactose nem -La Fonte: Jenness & Holt (1987). Regulação Osmótica Leite - isotônico com outros fluidos corporais Lactose responsável por 50% da pressão osmótica propriedades coligativas diminui ponto de congelamento aumenta ponto de ebulição síntese da lactose e sais intimamente ligados geralmente diminui [lactose] na mastite e final de lactação Tabela 2. Teor de lactose e de cloretos durante o período de lactação Vaca Período lactação, trimestre Lactose, % Cloretos, % 1 Primeiro 4,88 0,088 Segundo 4,76 0,103 Terceiro 4,58 0,106 2 Primeiro 5,05 0,048 Segundo 4,96 0,056 Terceiro 4,77 0,076 3 Primeiro 4,97 0,071 Segundo 4,98 0,071 Terceiro 3,77 0,120 [lactose] com estágio de lactação Espécie Teor lactose (%) Vaca 4,8 Búfala 4,8 Ovelha 4,6 Cabra 4,1 Égua 6,2 Zebra 7,4 Diminui 70% até o final da lactação Aumenta até o final da lactação Propriedades da Lactose Propriedades Físicas Propriedades básicas importantes lactose Baixo poder doçura Propriedades básicas importantes lactose Lactose é um açúcar redutor, i.e., tem um grupo carbonila livre, capaz de se oxidar na presença de agentes oxidantes em soluções alcalinas. Reação de Maillard Exemplos: Lactose: Redutor * C1 da glicose com OH Livre Sacarose: Não redutor * ligação glicosídica entre os carbonos anoméricos de cada açúcar (C1 e C2) Como o carbono anomérico não está envolvido na ligação, a glicose assume tanto a forma α quanto a ß e está livre para reagir com agentes oxidantes. Mutarrotação da Lactose 2 isômeros - e -lactose se interconvertem e entram em equilíbrio mudança na rotação ótica +35o + 89,4o a 20oC: 1,68 (62,7%) 1 (37,3%) • # poder rotatório α-lactose ----> +89o (Tamb, H2O) -lactose ----> +35º (Tamb, H2O mistura ----> +55,4 (24 h, eq.) • / •dependente da T •eq. alcançado a poucos min. a 70oC e algumas horas a 20oC Mutarrotação Significância da mutarrotação - e - diferem com relação a: solubilidade cristalização rotação específica doçura Propriedades físicas Propriedade -hidrato -anidrido Ponto de ebuliçãoa (oC) 202oC 252 oC Rotação específica []D 20 +89,4o +35o Solubilidade (g/100 ml) Água a 20 oC Água a 100 oC 8 70 55 95 Densidade (g/l) (20 oC) 1,54 1,59 Calor específico (J/kgK) 1251 1193 Calor de combustão (cal/g-1) 3761,6 3923,7 Propriedades físicas lactose Lactose, especialmente a - tem baixa solubilidade Solubilidade em água a 20°C -lactose =7 g/100 mL -lactose = 50 g/100 mL No equilíbrio : (37:63) – solubilidade total de 18,2 g/100 mL Solubilidade da -lactose mais dependente da T T<93,5°C cristalização Solubilidade Lactose baixa solubilidade facilidade em sol. ficar altamente super-saturada <1,6 x - necessário semeadura ou >>>> tempo para induzir cristalização (metaestável) >2,1 x - cristalização espontânea Área lábil – cristalização inevitável [int.] - fç composição, t, etc Figura 3. Curvas de solubilidade da lactose Fig. 5 –Solubilidade inicial da -lactose e -lactose, solubilidade final no equilíbrio (linha 1), e supersaturação fc 1,6 e 2,1 (Walstra & Jenness,1984) Nem nucleação nem crescimento de cristal Crescimento de cristal Nucleação só com semeadura Cristaliz. espontânea Cristalização da Lactose Abaixo 93,5oC -lactose menos solúvel que - \ -lactose cristaliza como monohidrato Acima 93,5oC - menos solúvel que - lactose \ -lactose cristaliza como anidrido Cristais de Lactose Tamanho cristal Apesar da lactose ter baixa solubilidade dificuldade de cristalizar dá cristais duros e insolúveis arenosidade cristais > 16 mm sedimento Lactose em produtos lácteos ProdutoLactose, % Leite 4,8 Condensado/Evaporado 11-12 Leite em pó integral 37 Leite em pó desnatado 53 Soro em pó 72 Concentrado protéico soro 30-50 Solução de Lactose ` <--> Cristalização Secagem T>93,5oC T < 93,5 oC Spray - Drier T > 93,5oC Tipos de Lactose monohidrato - lactose lactose amorfa - lactose Lactose amorfa ou vítrea Formada quando leite ou soro é secada rapidamente (spray-drier) aumento rápido viscosidade cristalização impossível xarope concentrado de lactose amorfa estável se protegida do ar muito higroscópica absorve água rapidamente => moléculas lactose adquirem mobilidade=> cristais orientados=> aglomeração partículas =>CAKING Transição vítrea Plasticização água fator importante nas características de desidratação e estocagem de pós lácteos estabilidade de pós lácteos ocorre acima de teor de umidade crítico e correspondente aw Aderência e aglutinação são fenômenos que podem ocorrer quando componentes em pó são plastificados termicamente como um resultado de aquecimento ou pela exposição à umidade elevada, resultando na absorção de água e plasticização. Plasticização da água transição vítrea U>6%, lactose cristaliza como -hydrato, resultando em aglomerados e massas entrelaçadas => higroscópico => caking Lactose Vítrea Secagem rápida Xarope conc. de lactose “Lactose vítrea” (não crisalina) Mobilidade molecular ~ 8% H2O H2O (ar) (higroscópico) Cristalização -hidrato Agregados de cristais (1. H2O) “Caking” do leite e soro em pó Se U>6% H2O Caking da lactose Acima Tg – escoamento – formação de pontes cristal Adsorção, dissolução da superfície e ponte Agregação Caking Cristalização lactose em soro, permeado UF, produtos lácteos Solução supersaturada Sistemas lácteos concentrados ou congelados (LCA, soro pó, sorvetes) Soro ou permeado UF – evaporação e resfriamento para produção de lactose Nucleação e crescimento cristal Impurezas (sais, aditivos) afetam cristalização gelatina, carragena inibem Velocidade < em sistemas com proteínas do que sol puras Lactose em leite condensado açucarado Composição típica 9% gordura 43% sacarose 21% SNG 10-12% lactose LCA - lactose altamente supersaturada formação cristais devido alto nível sacarose e [sais solúveis] no leite Diagrama do processamento de LCA Momento adição açúcar det qualidade final •Antes TT > termoresistência de bactérias e suas enzimas => > gelificação com o tempo •Antes evaporação Aumento viscosidade •IDEAL – final da evaporação Cristalização induzida por T supersaturação Resfriamento e cristalização 0 20 40 60 80 100 Temperatura (oC) 200 100 40 20 10 5 S o lu b ili d a d e ( g /1 0 0 g ) 1 (equilíbrio ) 1.6 (supersat.) 2,1 (supersat.) Fonte: Fox & Mc Sweeney Dairy Chemistry & Biochemistry (1998) <1,6 x - necessário semeadura ou >>>> tempo para induzir cristalização (metaestável); >2,1 x - cristalização espontânea e inevitável Resfriamento e cristalização Cristalização – inevitável Cristais grandes (> 15 mm) – arenosidade Desejável – cristais pequenos (< 10 mm) e em grande número (mín. 4 x 1011/m3) Controle da cristalização de lactose Leite ou Soro Concentrado Resfriamento Semeadura Agitação Cristalização da lactose (cristais < 10 mm) Leite condensado açucarado sem arenosidade Resfriamento e cristalização Resfriamento T = 30-35oC Adição de núcleos de cristalização (< 10 mm) Lactose 0,05% Leite em pó 0,5% Leite condensado 1% Resfriamento rápido até 10-15oC Agitação intensa Adição núcleos de cristalização Sem semeadura Doce de Leite Leite Doce de leite Leite integral em pasta condensado Água 87,6 26,6 26,3 Proteína 3,3 8,3 8,2 Gordura 3,4 8,3 8,6 Lactose 4,7 10,2 12,2 Sacarose 0,0 45,3 43,0 Sais 0,7 1,4 1,7 Doce de Leite Reações Químicas Importantes em Doce de Leite Reação de Maillard Favorecida por: T PM do açúcar pH [fosfato] e [bicarbonato] Açúcar redutor + aa melanoidinas (lactose) (lisina) (cor escura) -Solubilidade lactose “age gelation” Xarope milho Reações Químicas Importantes em Doce de Leite Caramelização Açúcares Caramelização Cor amarela Marrom , alta T + Degradação lactose pelo calor Açúcar redutor Reação Maillard => melanoidinas Caramelização Formação de lactulose Etapas da Reação de Maillard Significância da Reação de Maillard Escurecimento: desejável ou indesejável Sabor: desejável ou indesejável Perda de solubilidade Ex: leite em pó Diminuição do valor nutritivo lisina disponível Perda de Lisina em produtos lácteos Produto Perda de Lys (%) Leite pasteurizado 0-3 Leite UHT 0-3 Leite em pó (spray) 0-3 Leite condensado açucarado Leite esterilizado (lata) 10-15 Leite evaporado 15-20 Leite em pó (roller) 20-75 PROBLEMAS NUTRICIONAIS ASSOCIADOS A LACTOSE Intolerância à lactose e galactosemia Digestão lactose Mamíferos incapazes de absorver dissacarídeos hidrolisados no intestino delgado e absorvidos Deficiência enzima Lactose passa não digerida ao intestino grosso X -galactosidase Deficiência em -galactosidase 2 efeitos: Aumento osmolalidade de fluidos no intestino e entrada de água Fermentação da lactose não digerida por microrganismos => ácidos H2, CH4 e CO2 Sintomas – 30 min a 2h depois Diarréia, distensão abdominal, flatulência, naúseas e perda de apetite. Também pode dificultar a absorção de outros nutrientes NÃO CONFUNDIR intolerância com alergia Alergia à proteína – 2 a 5% crianças (1-3m) Geralmente resolvido até 1 ano idade Intolerância à lactose ~ 70% população mundial – deficiência lactase Grupo étnico Seleção genética de indivíduos com capacidade de digerir lactose População % deficiência européia (Norte) 2 hispânica 50-80 negra 60-80 Orientais e índios ~100 mutação cromossomo 2 Idade da apresentação: variável (1-2 anos entre a população tailandesa para 10-20 anos entre os finlandeses) Hipolactasia Atividade de lactase é elevada durante a infância, quando o leite é o nutriente principal Começa a declinar após a desmame; diminui com o envelhecimento 6 anos – 5 a 10% atividade lactase População lactose intolerante Evitar lactose na dieta Usar produtos lactose hidrolisados lactase = β-galactosidase Intolerância à lactose Sintomas experimentados qdo a dose de lactose excede a capacidade digestiva digestiva da lactase intestinal (má digestão da lactose. Sintomas da intolerância dependem dose de lactose, Tempo de trânsito(influenciado pela composição da refeição), e Adaptação flora cólon. Doses modestas de lactose consumidas com a refeição, são frequentemente muito bem toleradas. Intolerância à lactose Deficiência lactase não é intolerância à lactase Variação indivíduo, forma de ingestão, quantidade lactose consumida 1copo leite mas não 2 Is the subjective perception of lactose intolerance influenced by the psychological profile? Alimentary Pharmacology & Therapeutics Vol 36, Issue 7, 2012 Conclusions:The symptoms of lactose intolerance during hydrogen breath testing at a low physiological lactose load, are unrelated to lactose malabsorption, but may reveal a tendency towards somatisation that could impair the quality of life. Deficiência de cálcio Leite pode ser adequadamente modificado para lactose-intolerantes: •Ultrafiltração, que tb remove minerais e vit (não recomendado) •Fermentação a Iogurte ou outros produtos fermentados •↓ 25-50% lactose •retarda o esvaziamento gástrico (textura) e trânsito intestinal mais lento tb da lactose para o intestino •Str. e Lb (atividade de β-galactosidase no intestino delgado) •Probióticos? Bactérias iogurte melhor que probióticos L. bulgaricus melhor que L. acidophilus (estrutura da membrana da parede celular menos resistente que a do L. acidophilus) Cepas de Streptococcus thermophilus contém mais lactase as de lactobacilli ou bifidobacteria. •Queijo (essencialmente livre lactose •Leite lactose-hidrolisado (industrial/doméstico) Galactocemia Incapacidade de quebra total lactose Via Leloir 4 enzimas Conversão galactose para Glu-1P Ausência 2 primeiras enzimas => galactosemia 2 formas: Clássica Deficiência em Gal-1P-uridiltransferase Provocada por deficiência de galactoquinase lactose Β-galactosidase glicose galactose galactoquinase Galactose 1-P Gicose 6-P Glicose 1-P fosfoglicomutase Gal-1P-uridiltransferase Via de Leloir (Clássica) Galactosemia clássica Erro genético raro do metabolismo (cromossomo 9) Detectado durante a triagem neonatal Incidência 1:1,000,000 in japoneses, 1:40,000 em descendentes de europeus, 1:480 em ciganos (Murphy et al. 1999) Porque precisamos de galactose Galactose necessária para formação normal da mielina→ anormalidades na substância branca Cérebro Bainha de mielina nos nervos Excesso galactose Tóxica à mielina Galactocemia Clássica Acúmulo de Gal e Gal-1P nos tecidos Gal-1P interfere metabolismo Glu e síntese de glicoproteínas Reduz nível ATP células Bebês parecem normais ao nascimento mas após ingestão leite Mau funcionamento fígado Catarata Retardo mental Dificuldade crescimento Galactosemia Clássica Tratamento (Não há cura) Introdução dieta livre Gal Restaura crescimento fígado Catarata (às vezes) Retardo mental irreversível a não ser dieta introduzida 2-3 m Suplementação Ca e vit. D3 Manifestações longo prazo da doença falência ovariana em mulheres desenvolvimento atrasado da fala Ataxia/dismetria - falta coordenação muscular/movimentos Baixa densidade óssea Catarata Galactocemia por deficiência de galactoquinase Galactocemia por deficiência de galactoquinase doença autossômica recessiva gene defeituoso localizado no cromossomo 17 Sintomas relativamente amenos em relação à galactosemia clássica Dieta: eliminação de fontes de lactose e Gal Galactocemia por deficiência de galactoquinase Sintomas Catarata Causas Deficiência galactoquinase Conseqüências Gal acumula e é convertida a galactitol por via alternativa nas lentes dos olhos, onde se acumula. Ocorrência 10-20 anos Incidência 1:250.000; predominância maior em ciganos