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Prévia do material em texto

CANDIDO SILVA OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 DE CONDENADO A RECUPERANDO : 
 convergência entre LEP e método APAC 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIVINÓPOLIS 
FUNEDI/UEMG 
2008 
CANDIDO SILVA OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DE CONDENADO A RECUPERANDO : 
convergência entre LEP e Método APAC 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação da FUNEDI – Fundação Educacional de 
Divinópolis/UEMG – Universidade do Estado de 
Minas Gerais, como requisito para obtenção do título 
de mestre 
 
 Área de Concentração: Estudos Contemporâneos 
 
 Linha de Pesquisa: Espaço e Sociedade. 
 
 Professor Orientador: Prof. Dr. José R. B. Bechelaine 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIVINÓPOLIS 
FUNEDI/UEMG 
2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Oliveira, Candido Silva 
O48c De condenado a recuperando: a convergência entre a LEP e o 
 método APAC [manuscrito] / Candido Silva Oliveira. – 2007. 
 119 f., enc. 
 
 UEMG – UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
FUNEDI – FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS 
CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
 
 
 
 
 
 Oliveira, Candido Silva 
O48c De condenado a recuperando: a convergência entre LEP e 
 método APAC [manuscrito] / Candido Silva Oliveira. – 2008. 
 101 f., enc. 
 
 Orientador : José Raimundo Batista Bechelaine 
 
 Dissertação (mestrado) - Universidade do Estado de Minas Gerais, 
 Fundação Educacional de Divinópolis. 
 
 Bibliografia : f. 83-84 
 
 1. Condenados – Aspectos Sociais. 2. Associação de Proteção e Assistência 
 aos Condenados – APAC. 3. Lei de Execução Penal - LEP. l. Bechelaine, 
 José Raimundo Batista. ll. Universidade do Estado de Minas Gerais - 
 UEMG. Fundação Educacional de Divinópolis - FUNEDI. lll. Título. 
 
 
 CDD: 365.6 
 345.086 927 
 
Dissertação defendida e APROVADA pela Banca Examinadora constituída pelos 
Professores: 
 
 
 
 
 
Prof. Dr. José Raimundo Batista Bechelaine (Orientador) 
FUNEDI/UEMG 
 
 
 
 
Profª. Drª. Batistina Maria de Sousa Corgozinho – 
FUNEDI/UEMG 
 
 
 
 
Prof. Dr. Leandro Pena Catão 
FUNEDI/UEMG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais 
Fundação Educacional de Divinópolis 
Universidade do Estado de Minas Gerais 
 
Divinópolis, 06 de Março de 2008. 
Autorização para reprodução e divulgação científica da dissertação 
 
 
 
 
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou 
parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras e eletrônicos. Igualmente, autorizo 
sua exposição integral nas bibliotecas e no banco virtual de dissertações da FUNEDI/UEMG. 
 
 
 
 
Candido Silva Oliveira 
 
 
Divinópolis, 6 de Março de 2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ofereço esse trabalho aos meus pais que com 
sua compreensão e confiança tornaram 
possível a realização de mais uma conquista e 
a minha esposa Márcia que confiou na minha 
capacidade. 
Dedico aos funcionários, voluntários e 
recuperandos, protagonistas carcerários da 
APAC de Itaúna - MG, cuja convivência muito 
auxiliou no desenvolvimento da pesquisa. 
Dedico ainda ao tio Diacksy de La Viele (in 
memoriam), que me incentivou a ingressar no 
curso de mestrado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço a Deus, primeiramente e todos os 
meus familiares, por mais uma etapa vencida 
em minha jornada. São eles a razão de meu 
crescimento profissional e motivo de meu 
aperfeiçoamento maior. Agradeço também a 
todos os meus professores, colegas e amigos o 
carinho, a dedicação e o incentivo que me foi 
dado no decorrer do curso, tornando-o 
agradável e fecundo. Agradeço ainda mais aos 
meus heróicos amigos mestrandos, que 
palmilharam comigo neste caminho e deram 
forças para alcançar meus objetivos e concluir 
o curso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A prisão é o único lugar onde o poder pode se 
manifestar em estado puro em suas dimensões 
mais excessivas e se justificar como poder 
moral ” 
FOUCAULT, (2004, p.73) 
 
 
 
RESUMO 
 
Reflexão sobre o sistema carcerário brasileiro, mais especificamente sobre o Método APAC 
que preconiza a reeducação e ressocialização. Supõe um processo de comunicação entre a 
prisão e a sociedade e uma identificação entre os valores da comunidade livre com a prisão e 
vice-versa. Pesquisa de natureza qualitativa que tem como campo de investigação a 
APAC/Itaúna, unidade masculina. Levantou-se como hipótese que há uma convergência de 
princípios entre a LEP e o Método APAC no que se refere aos apenados e ao tratamento a eles 
dispensado. Para refletir sobre essa questão, escolheu-se como interlocutores teóricos como 
Foucault, Ferracuti, Varella, Ottoboni e outros teóricos que trazem para este estudo 
importantes contribuições. A pesquisa documental baseou-se na LEP (Lei de Execução 
Penal), no Código Penal e no regimento da APAC/Itaúna, com vistas a uma análise 
comparativa entre o que essas legislações determinam e o que a APAC concretiza. Discute-se 
ainda concepções como reeducação, recuperando e ressocialização, para, finalmente, tecer as 
considerações sobre o objeto em estudo. O estudo realizado permite concluir o quão 
importante e necessário é o trabalho voltado para o ser humano existente na condição de 
detento e sua dignidade e identificar quais direitos e princípios são considerados tanto pela 
LEP quanto pela APAC. É possível afirmar que, embora a APAC desenvolva um relevante 
trabalho e utilize no seu cotidiano os instrumentos de tratamento penal preconizados pela 
LEP, há muito a fazer pelos detentos, sobretudo pela sua ressocialização e reeducação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palavras-chave: Prisão; APAC; Preso; Sociedade; Reeducação; Ressocialização, LEP 
ABSTRACT 
 
 
 
OLIVEIRA, Candido Silva. “DE CONDENADO A RECUPERANDO : a convergência entre 
a LEP e o método APAC”, 2007. 101 pages. Dissertation (Master's degree in Education, 
Culture and Social Organizations) – Minas Gerais State University Master’s 
Program/FUNEDI – Educational Foundation of Divinópolis – Divinópolis, Minas Gerais. 
 
 
 
Reflection on the Brazilian jail system, more specifically on APAC Method which advocates 
the rehabilitation and resocialization. It implies a process of communication between prison 
and society and an identification between the values of free community with the values of 
prison and vice versa. Qualitative nature researchwhose field of investigation is 
APAC/Itaúna, male unit. It was surveyed as a hypothesis that there is a convergence of 
principles between LEP and APAC Method as it regards the condemned and the treatment 
given to them. To reflect on this issue, it was chosen as interlocutors theorists like Foucault, 
Ferracuti, Varella, Ottoboni and other theorists who bring important contributions to this 
study. The documentary research was based on LEP (Law of Criminal Enforcement), on the 
Penal Code and on the rules of APAC/Itaúna, aiming at a comparative analysis between what 
these laws determine and what APAC does. It also discusses concepts as rehabilitation, 
recovering and resocialization, to, finally, make the comments about the object under study. 
The study can conclude how important and necessary it is the work turned to the human being 
who is a prisoner and his dignity and identify which rights and principles are considered by 
both LEP as by APAC. It is possible to assert that, although APAC develops a relevant work 
and frequently uses the instruments of criminal treatment recommended by LEP, there is a lot 
to do for the detainees, especially by their resocialization and rehabilitation. 
 
 
 
 
 
 
 
Keywords: Prison; APAC; Prisoner; Society; rehabilitation; Resocialization, LEP 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Foto 1 – Jornada Da Libertação Com Cristo Na Apac Feminina De Itaúna 55 
Foto 2 – Na APAC de Itaúna o apenado tem as chaves da cela 56 
Foto 3 – O próprio apenado cuida da refeição 57 
Foto 4 – O próprio apenado cuida da limpeza das celas 58 
Foto 5 – É garantida ao apenado a formação acadêmica 59 
Foto 6 – Bruno Recuperando Bruno, pintando figura do Filho Pródigo 60 
Foto 7 - Artesanato produzido pelo recuperando 61 
Foto 8 – Regime semi-aberto o recuperando trabalha fora dos muros 62 
Foto 9– Libertação com Cristo na APAC masculina de Itaúna 63 
Foto 10 – Consultório Odontológico da APAC de Itaúna 64 
Foto 11 – Assistência jurídica ao apenado na APAC 65 
Foto 12- Aprendizado de uma profissão. Padaria da APAC de Itaúna 65 
Foto 13 – Visitas de familiares na APAC de Itaúna 66 
Foto 14 – Horta cuidada pelos recuperandos na APAC de Itaúna 67 
Foto 15 – APAC de Itaúna – MG 67 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SIGLAS 
 
LEP Lei de Execução Penal 
 
 
APAC Associação de Proteção e Assistência aos Condenados 
 
 
CRS Centro de Reintegração Social 
 
 
OEA Organização dos Estados Americanos 
 
 
ONU Organização das Nações Unidas 
 
 
EUA Estados Unidos da América 
 
 
PFI Prision Fellowslrip International 
 
 
FBAC Fraternidade Brasileira de Assistência 
 
 
CSS Conselho de Sinceridade e Solidariedade 
 
 
FBAC Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO 15 
CAPÍTULO 1 O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO 18 
1.1 Considerações gerais sobre sistema carcerário brasileiro 18 
1.2 A recuperação de seus detentos 23 
1.2.1 A superlotação 
1.2.2 A higiene e assistência médica 
1.2.3 Falta de acesso à educação profissionalizante 
1.2.4 Violência policial e direitos humanos nos presídios 
24 
25 
27 
28 
1.3 As “Leis dos presos” 
 
30 
CAPÍTULO 2 DUAS PROPOSTAS : LEP e APAC 32 
2.1 LEP Lei de execução penal 32 
2.1.1 Os instrumentos de tratamento penal na LEP 
 
2.1.2 Reeducação e ressocialização 
 
34 
37 
2.2 APAC – Associação de proteção e assistência aos condenados 
 
40 
2.2.1 Elementos fundamentais do método APAC 
 
41 
a) Participação da comunidade. 
 
41 
b) O recuperando ajudando o recuperando 42 
c) O trabalho 43 
d) A religião e a importância de se fazer experiência de Deus 44 
e) Assistência jurídica 45 
f) Assistência a saúde 46 
g) Valorização humana 46 
h) A família.. 
 
47 
i) O serviço voluntário... 
 
48 
j) CRS – Centro de Reintegração Social. 49 
k) O mérito 49 
l) Jornada de libertação com Cristo 
 
 
50 
2.3 A APAC EM ITAÚNA – MG 50 
2.3.1 Histórico da APAC de Itaúna – MG 50 
2.3.2 SOS Cidadania 52 
2.3.3 Entrega das chaves 53 
2.3.4 A APAC feminina 54 
2.3.5 A APAC hoje 55 
2.3.6 Reconhecimento internacional 
 
67 
CAPÍTULO 3 LEP x APAC : análise comparativa 69 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 79 
BIBLIOGRAFIA 83 
ANEXOS 85 
A - APAC EM SANTA LUZIA –MG 85 
B - PROJETO ARQUITETÔNICO APAC DE ITAÚNA 
 
94 
C - FOTOS ILUSTRATIVAS APAC/ITAÚNA 
 
98 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
 A prisão moderna é segundo Foucault (1997, p.71), uma empresa de modificar 
indivíduos, tendo, portanto, duas obviedades fundamentais na forma simples da privação de 
liberdade e, no papel, suposto ou exigido, de ser um aparelho de transformar indivíduos. 
 Nesse sentido, na modernidade, a prisão deve representar um aparelho disciplinar 
exaustivo, um reformatório integral, que prescreve princípios de isolamento em relação ao 
mundo exterior, as unidades penais, aos motivos, que levaram o condenado à infração, 
conduzindo-o, através dessa isolação, à reflexão, ao remorso e à submissão total, ao 
reconhecimento do preso sobre o poder que a ele se impõe segundo Foucault (1997, p.83). 
 O sistema penitenciário, de fato, funciona como um sistema repressor da 
autonomia dos indivíduos que cometeram algum ato ilícito, tipificado pelo Código Penal, 
tendo como finalidade, puni-los ou tratá-los. Segundo Arfinengo (1997, p. 56), esta atitude 
heterônoma visa a re-enquadrar o indivíduo infrator ao convívio social, segundo as normas 
legais. 
 Ao mesmo tempo, porém, a cadeia tem que exercer óbvias funções de controle 
social e também de punição, que pode ser entendida ou como retribuição (retaliação) ou como 
emenda (com qualquer de seus significados). 
 No sistema carcerário há uma grande dificuldade no que diz respeito à re-
educação, pois existe carência de recursos materiais e não há, de forma precisa, o incentivo do 
governo e da sociedade para que o cidadão preso adquira conhecimentos úteis à vida de forma 
a terem uma oportunidade, que muitas vezes, nunca tiveram: ficar longe do circuito do crime; 
de não voltar a cometer delitos. 
 A pesquisa sobre o Método APAC (Associação de Proteção e Assistência aos 
Condenados) e a LEP (Lei de Execução Penal / Lei no. 7.210/1984) justifica-se pelo interesse 
pessoal e profissional em compreender o cotidiano de uma unidade que adota o Método 
APAC, de cujo projeto arquitetônico sou autor e a crença de que o referido método é, como 
reconhecido mundialmente, uma revolução no sistema carcerário brasileiro. 
 O objetivo de pesquisa foi a reflexão e o estudo sobre o Método APAC, adotado 
em Itaúna (MG), numa unidade masculina, bem como sobre a relação entre a LEP e a APAC. 
Buscou-se compreender o cotidiano da vida prisional na unidade pesquisada, a relação entre a 
LEP - que regula os direitos e deveres dos detentos com o Estado e a sociedade - e a APAC, 
em relação ao preparo para a reintegração do detento na sociedade. Melhor dito: refletir sobre 
 16
a relação entre a LEP –, “Carta Magna dos detentos”, que regula os direitos e deveres dos 
detentos com o Estado e a sociedade, estabelecendo normas fundamentais a serem aplicadas 
durante o período de prisão - e a APAC, no que diz respeito aos direitos humanos e ao preparo 
para reintegração e reeducação. 
 Partiu-se da hipótese de que há uma convergência de princípios e objetivos entre a 
LEP e a APAC no que se refere aos direitos e à ressocialização e à reeducação dos detentos. 
 Levantaram-se para a investigação, duas questõesacerca do objeto: 
 Em que medida os direitos e princípios que constam da LEP são contemplados no 
trabalho da unidade prisional pesquisada? 
 Representa o Método APAC uma revolução no sistema carcerário brasileiro, no 
que diz respeito à ressocialização e à reeducação do detento? 
 Para melhor compreensão do trabalho da APAC, um método que parece lançar um 
novo olhar sobre o detento, ávido por transformações sócio-políticas e econômicas que 
favoreçam ao desenvolvimento de uma estrutura apropriada, paralela a um verdadeiro 
trabalho re-educativo e para dar conta dos objetivos propostos, dialogou-se com importantes 
teóricos como Foucault, Falconi, Varella e Ottoboni. Trata-se de autores que discutem 
algumas concepções sobre o objeto em estudo –e que, por isso mesmo, trazem importantes 
contribuições à pesquisa. 
 Através da leitura desses autores e também do estudo de documentos como a LEP, 
a Constituição Federal de 1988, o Código Penal de 1940 (atualizado pela Lei no. 7.209 de 
1984) e o regimento interno da APAC, foi possível estabelecer uma comparação entre as 
determinações da LEP e o trabalho da APAC e verificar a hipótese levantada: há uma 
convergência de princípios e objetivos entre LEP E APAC, podendo a última ser 
concebida como a realização da primeira. 
 O primeiro momento do estudo constituiu-se do levantamento bibliográfico e 
exploratório, cujo objetivo principal nesta etapa foi desenvolver, esclarecer, investigar e 
modificar conceitos e idéias com o intuito de preparar abordagens condizentes com o 
desenvolvimento do estudo. Além desse levantamento bibliográfico e exploratório, foram 80 
(oitenta horas) de observação do cotidiano da entidade pesquisada para coleta de dados e 
reflexão. 
 A pesquisa está organizada em três capítulos: o primeiro capítulo traz 
considerações gerais sobre sistema carcerário brasileiro, sua precariedade (superlotação, 
vitimização de presos, as lacunas e a inoperância do Estado no que concerne a recuperação de 
seus tutelados detentos), a questão dos direitos humanos, “as leis dos presos” que ameaça a 
 17
todos, inclusive os cidadãos livres; o segundo capitulo discute as determinações da LEP, da 
Constituição Federal e do Código Penal e os princípios do Método APAC e trata do objeto de 
estudo, apresentando a LEP, com os instrumentos de tratamento penal, as concepções 
importantes para a discussão do tema e ainda o histórico e trabalho da APAC de Itaúna, 
unidade masculina; o terceiro e último capítulo do trabalho retoma a discussão sobre a LEP e 
a APAC, mostrando uma análise comparativa entre ambas, na perspectiva dos autores que, em 
sua maioria, defendem o Método APAC e sua convergência com os princípios da LEP ; após , 
tem-se as considerações finais cuja função é expor as conclusões da pesquisa, tomando-se 
como referência o trabalho prático da APAC e o aporte teórico que sustentou a discussão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 18
CAPÍTULO 1 O SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO 
 
 
 
Minha hipótese é que a prisão esteve, desde sua origem, ligada a um projeto de 
transformação dos homens. 
 
 (Foucault, 2004, p. 131) 
 
 
 A literatura sobre a crise do sistema penitenciário e a falência da pena de prisão é 
bastante vasta havendo mesmo um consenso a respeito no meio social e da magistratura. O 
que se observa com o atual quadro do sistema prisional, nada mais é do que uma escola para a 
reprodução do crime, onde o que se faz, apenas segrega, temporariamente o condenado, pela 
ótica exclusiva da repressão e as metas punir, prevenir e regenerar, não alcançam os objetivos 
propostos. 
 A falência do sistema penitenciário brasileiro é notória; há tempos, tornou-se 
objeto de urgente e indispensável intervenção. 
 
 
1.1 Considerações gerais sobre sistema carcerário brasileiro 
 
 As prisões e penitenciárias brasileiras mais parecem depósitos humanos. O excesso 
de lotação dos presídios, penitenciarias e até mesmo distritos policiais também contribuem 
para agravar a questão do sistema penitenciário. As drogas e as armas são outros fatores 
determinantes no problema do sistema penitenciário brasileiro. 
 Segundo Cross (1998, p.82), somando-se aos problemas decorrentes da 
superpopulação carcerária, causada pela inoperância do Estado e dos fenômenos da 
prisionalização e estigmatização do detento e do ex-detento, quando de seu retorno à 
sociedade, tem-se o sistema penitenciário, centrado na pena de prisão em regime fechado, 
uma das mais cruéis vitimizações praticadas com aval institucional. 
 O estigma da lei penal para os pobres detentos lhe dificulta cada vez mais a 
reinserção social, fazendo com que o ex-preso dificilmente fuja de comportamentos 
considerados ilícitos como estratégia de sobrevivência, engrossando o círculo perverso da 
reincidência criminal 
 19
 Ao se abordar alguns aspectos do processo de vitimização dos presos pelo sistema 
penitenciário, não se pretende desviar o enfoque para esconder a violência dos atos praticados 
pelos condenados, mas, enfatizar que a recuperação ou ressocialização do infrator só será de 
fato alcançada quando este se integrar no sistema social, e, então, como ser produtivo 
econômico e socialmente, ressarcir o dano causado à comunidade; segundo Cross (1998, 
p.96), essa prática, o ressarcimento, seria a melhor satisfação que os órgãos públicos poderiam 
prestar à sociedade com relação aos recursos financeiros investidos. 
 Há de se pensar, de acordo com Arfinengo (1997, p.38), que o conceito de 
ressocialização exclui a segregação de pessoas no confinamento para reintegrar; o ideal de 
ressocialização pressupõe que a ideologia do tratamento, deve se substituir pelo conceito de 
reintegração social onde há a suposição de um processo de comunicação entre a prisão e a 
sociedade, objetivando uma identificação entre os valores da comunidade livre com a prisão e 
vice-versa. Neste sentido e visando alcançar uma eficaz reintegração social daquele que foi 
condenado a uma sanção penal, é necessário uma maior aproximação e conseqüente 
envolvimento da comunidade na busca da solução de seus conflitos sociais. A participação da 
sociedade civil organizada, deve romper as grades das ilegalidades cometidas atrás dos muros 
da prisão, para que haja maior transparência e responsabilidade àqueles que detêm o poder de 
custodiar o próprio homem. 
 Segundo Coelho, cada preso custa por mês para os cofres da nação o total de 4,5 
salários mínimos, sendo que o gasto geral dos Governos Federal e Estadual é de 60 milhões 
num só mês. (2001, p.77). 
 O que se observa, é que, a prisão tem sido nos últimos séculos, a esperança das 
estruturas formais da sociedade em combater a criminalidade. A prisão constituía a espinha 
dorsal dos sistemas penais de feição clássica, sendo tão marcante a sua influência que passou 
a funcionar como centro de gravidade dos programas destinados a prevenir e a reprimir os 
atentados mais ou menos graves aos direitos da personalidade e aos interesses da sociedade e 
do Estado. (Falconi, 1998, p.103) 
 A sociedade atual é herdeira de um sistema que encontrou o seu apogeu no século 
das luzes quando o reconhecimento formal dos direitos naturais, inalienáveis e sagrados do 
Homem, impunha a abolição das penas cruéis. E a prisão não seria, portanto, uma pena cruel 
principalmente porque ela mantinha a vida que tão freqüentemente era o preço do resgate para 
o crime cometido. Reconhecendo a imprestabilidade da pena capital para atender aos 
objetivos de prevenção e avaliando o sentimento popular, o legislador brasileiro viu naprisão 
 20
uma forma de reação penal condizente com os estágios de desenvolvimento cultural e político 
do próprio sistema. 
 Nos presídios brasileiros, como pouquíssimas e honrosas exceções, o espetáculo 
apresentado não pode deixar de ser dantesco. Por maior que seja o desprezo de boa parte da 
sociedade brasileira para com as condições de vida e mesmo o destino do preso, ninguém 
pode se revelar indiferente diante do cenário oferecido pelas prisões: às mais precárias 
condições de habitabilidade e à falta de serviços de apoio, assistência e educação vêm se 
associar uma violência desmedida e incontrolável, grave obstáculo a qualquer proposta de 
reinserção social de quem quer que tenha algum dia, em momento qualquer, transgredido as 
normas jurídicas desta sociedade e, por conseguinte, sido punido pela Justiça pública. 
(Varella, 2001, p.85). 
 As cenas são demasiado fortes: o escuro das celas, a sujeira pelos cantos, a 
alimentação insossa, a falta de higiene, o perigo disseminado por todos os cantos e corredores, 
as doenças convivendo par a par com a saúde, os espancamentos e agressões gratuitas, as 
violações sexuais. Talvez, os sorteios de morte entre os prisioneiros, típicos das prisões 
brasileiras, porém trazidos ao público pelo descalabro em que se encontravam no início da 
década passada as prisões mineiras, sejam os exemplos de maior impacto e perplexidade que 
as páginas dessa história mal digerida nos legou ao presente 
 No domínio das prisões, segundo Varella (2001, p.91), esses fatos são indicativos 
de uma crise há tempos instalada no sistema de Justiça criminal. Todas as imagens de 
degradação e de desumanização, de debilitamento de uma vida cívica conduzida segundo 
princípios éticos reconhecidos e legítimos parecem se concentrar em torno dessas estufas de 
modificar pessoas e comportamentos. Nelas aparecem com todas as suas letras, cores e 
números as marcas do fracasso de sucessivos governos em conter a delinqüência dentro dos 
marcos da legalidade e sobretudo em formular políticas penais capazes de efetivamente 
oferecer segurança à população estancando a insegurança generalizada que hoje parece ter 
tomado conta do espírito sobressaltado do cidadão comum, sobretudo o habitante das grandes 
cidades. As prisões revelavam a face cruel de toda essa história: os limites que se colocam na 
sociedade brasileira à implementação de uma política de proteção dos direitos fundamentais 
da pessoa humana, nela incluído o respeito às regras mínimas estipuladas pela Organização 
das Nações Unidas (ONU) para o tratamento de presos. 
 O sistema está em regime de insolvência, sem poder quitar as obrigações sociais e 
os compromissos assumidos individualmente. E para este débito não remido contribuiu 
também o desinteresse em tratar com o necessário rigor cientifico as figuras do réu e da 
 21
vítima, os protagonistas, enfim, do fenômeno criminal em toda a sua inteireza. Antes, durante 
e depois da intervenção punitiva do Estado. 
 Atualmente, o que se observa, é que a população carcerária é composta por 
segmentos cada vez mais jovens, e parece viver um “caminho sem volta”. Sem minimizar 
outras tantas e diversificadas expressões de violências (físicas e simbólicas) presentes no 
cotidiano das grandes cidades brasileiras, a sociedade ainda é, freqüentemente, impactada por 
cenas de motins que eclodem no interior do chamado “sistema prisional”. 
 Nestes momentos, fica evidente o fracasso da gestão governamental e salta aos 
olhos o quanto falta para que os órgãos fiscalizadores do sistema penitenciário cumpram seu 
papel. De fato, de maneira geral, as prisões se tornaram espaços caracterizados pela ausência 
de bens materiais básicos como água, sabonete e papel higiênico; pela ausência de 
atendimento médico; pela marcante presença de tortura, tratos desumanos e humilhações. Por 
outro lado, também nestes momentos de crise evidenciam-se os complexos desafios que são 
colocados para os organismos dos Direitos Humanos e para outras tantas organizações da 
sociedade civil que buscam saídas e alternativas de ressocialização com o objetivo de reverter 
este processo. (Cross, 1998, p.79). 
 No que diz respeito à sociedade, o Estado brasileiro continua não dando condições 
e garantias de vida àqueles que se encontram sob sua tutela. Porém, nos últimos anos há ainda 
um agravamento da situação decorrente da corrupção policial, das disputas entre “comandos” 
do narcotráfico e, também, da ação de facções do tráfico no interior do próprio sistema 
penitenciário. 
 Esse quadro tem aumentado o sentimento de medo e insegurança, diante da 
expectativa, cada vez mais provável, de qualquer cidadão ser vítima de uma ofensa criminal. 
Não parece infundado esse sentimento. As estatísticas oficiais de criminalidade indicam a 
aceleração do crescimento de todas as modalidades delituosas. Dentre elas, crescem mais 
rapidamente os crimes que envolvem a prática de violência, como os homicídios, os roubos, 
os seqüestros, os estupros. Esse crescimento veio acompanhado de mudanças substantivas nos 
padrões convencionais de criminalidade individual bem como no perfil das pessoas 
envolvidas com a delinqüência. Assiste-se à generalização e internacionalização do crime 
organizado, constituído, sobretudo, às voltas do narcotráfico. 
 Assim, o sistema prisional brasileiro acaba em um caudatário de um acentuado 
desequilíbrio em suas funções de controle social. Por outro lado, a seu modo, contribui para 
que as leis penais não sejam aplicadas indistintamente para todos os cidadãos, de onde 
decorrem lacunas e omissões que comprometem a crença na universalidade das instituições de 
 22
promoção e proteção dos direitos que devem proteger a pessoas, seus bens e outros valores 
social e culturalmente prezado. Não é de se estranhar, portanto que as prisões brasileiras, em 
especial naquelas regiões e Estados onde os problemas de superpopulação carcerária são mais 
graves e tendem a se agravarem no tempo, sejam espaços de toda sorte de tensões e de 
sistemáticas violações de direitos humanos. (Coelho, 2001, p.106). 
 A despeito dos propósitos reformadores e ressocializadores embutidos na fala dos 
governantes e na convicção de homens aos quais está incumbida a tarefa de administrar 
massas carcerárias, a prisão não consegue dissimular seu avesso: o de ser aparelho 
exemplarmente punitivo. Nisto reside, ao que tudo indica, a incapacidade do sistema 
penitenciário brasileiro em assegurar o cumprimento das Regras Mínimas para Tratamento 
dos Presos e Recomendações Pertinentes, Resolução adotada em 30 de agosto de 1955, em 
Genebra, no I Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e Tratamento do 
Delinqüente, da qual este país é signatário e que, como se sabe, pretende disciplinar a 
aplicação da pena privativa de liberdade coibindo os abusos de poder dos quais os campos de 
concentração, durante a II Guerra Mundial, havia se tornando o exemplo mais deplorável a ser 
combatido. (Beccaria, 2000, p.97-99). 
 No Brasil, contudo, em face das condições de existência dominantes nas prisões, a 
perda da liberdade determinada pela sanção judiciária pode significar, como não raro 
significa, a perda do direito à vida e a submissão a regras arbitrárias de convivência coletiva, 
que não excluem maus tratos, espancamentos, torturas, humilhações, a par do ambiente físico 
e social degradado e degradante que constrange os tutelados pela justiça criminal a 
desumanização. 
 Não são poucos os indicadores que espelham a precariedade do sistema 
penitenciário brasileiro. Embora as condições de vida no interior dessas “empresas de reforma 
moral dos indivíduos” sejam bastante heterogêneas quando consideradas sua inserção nas 
diferentesregiões do país, traços comuns denotam a má qualidade de vida: superlotação; 
condições sanitárias rudimentares; alimentação deteriorada; precária assistência médica, 
judiciária, social, educacional e profissional; violência incontida permeando as relações entre 
os presos, entre estes e os agentes de controle institucional e entre os próprios agentes 
institucionais; arbítrio punitivo incomensurável. 
 
 
 
 23
1.2 A recuperação de seus detentos 
 
 A lei penal e as formas de sua aplicação devem atender às exigências da vida 
pessoal e social de cada condenado e mesmo daqueles detidos provisoriamente, portanto, há 
de se abolir o pensamento de exclusão social absoluta destes indivíduos. Não é, simplesmente, 
isolando estas pessoas que se garantirá a ordem social, pois um dia, grande parte deles se 
reintegrará novamente à comunidade. A questão é reformar os valores ético-morais, 
despertando sua consciência para o respeito à dignidade humana. 
 O sistema carcerário no Brasil está falido. Mudanças radicais neste sistema se 
fazem urgentes, pois as penitenciárias se transformaram em verdadeiras usinas de revolta 
humana, uma bomba-relógio que o judiciário brasileiro criou no passado a partir de uma 
legislação que hoje não pode mais ser vista como modelo primordial para a carceragem no 
país. 
 Há, segundo Coelho (2001, p.115), a necessidade de se focar metas e objetivos na 
reformulação do sistema prisional no país, oferecendo ao detento condições de cumprir sua 
pena e retornar à sociedade, e, essas condições se concentram: a) na modernização da 
arquitetura penitenciária; b) na descentralização com a construção de novas cadeias pelos 
municípios; c) na ampliação de assistência jurídica; d) na melhoria de assistência médica, 
psicológica e social; e) na ampliação dos projetos visando o trabalho do preso e a ocupação de 
sua mente/espírito; f) na separação entre presos primários e reincidentes e g) principalmente 
no acompanhamento de uma reintegração à vida social, com oferecimento de garantias de seu 
retorno ao mercado de trabalho quando de retorno à sociedade. 
 As condições de detenção e prisão no sistema carcerário brasileiro violam os 
direitos humanos, fomentando o excesso de violência nos presídios. A Constituição Federal 
prevê, em seu artigo 5°, inciso XLIX, a salvaguarda da integridade física e moral dos presos, 
dispositivo raramente respeitado pelo sistema carcerário vigente no país. Isto faz com que a 
reincidência criminal da população penal, seja alta, em torno de 85%, segundo o Censo 
Penitenciário Nacional (2004), o que demonstra que as penitenciárias não estão 
desempenhando a função de reabilitação dos detentos. 
 As causas de tanta desigualdade dentro das prisões brasileiras é muito simples: 
faltam recursos para oferecer dignidade aos detentos, seja por meio de melhores condições de 
saúde, higiene e espaço dentro das instalações. 
 
 
 24
1.2.1 Superlotação 
 
 Estima-se que a capacidade das penitenciárias brasileiras é de pouco mais de 
54.000 vagas. A população carcerária no país está em torno de 130 mil internos, verificando-
se que ainda faltam 76 mil vagas para comportar de forma mais humana todo este 
contingente. Como este excesso precisa ser relocado de qualquer forma, cada vaga está sendo 
ocupada, em média, por 2,15 presos. Neste sentido, o Brasil carece, hoje, de pelo menos 150 
novos presídios para aliviar a pressão das demais penitenciárias existentes. Entretanto, estes 
dados não são confiáveis, pois alguns setores extra-oficiais que trabalham de perto com o 
sistema carcerário, afirmam que algumas vagas vêm sendo ocupadas por cerca de cinco ou 
seis presos, o que configura as cadeias como depósitos de presos. (CENSO 
PENITENCIÁRIO NACIONAL, 2004). 
 A superpopulação gera os mais preocupantes efeitos, como promiscuidade, falta de 
higiene, comodidade etc. Em alguns Estados, devido à superlotação das delegacias de polícia 
ou pequenas cadeias públicas, muitas mulheres são colocadas em celas masculinas e terminam 
estupradas. 
 A habitabilidade das celas é, via de regra e com raras exceções, aquém de qualquer 
patamar mínimo reconhecido como adequado à conservação da saúde individual e coletiva 
dos presos. De fato, na maior parte das celas, em exíguo espaço convive um número não 
desprezível de pessoas. Esse é um quadro particularmente gritante nos grandes 
estabelecimentos prisionais e, notadamente, nas delegacias policiais. Nesses exíguos espaços, 
freqüentemente, institui-se sistema de rodízio, a fim de que todos os reclusos de uma mesma 
cela possam desfrutar do repouso, pois não há camas em número suficiente e sequer espaço 
para abrigá-las, o que obriga inclusive a que muitos se sujeitem a dormir no chão de cimento. 
(Varella, 2001, p.106). 
 Desnecessário salientar que, as prisões brasileiras que deveriam promover a 
ressocialização e re-educação do preso, encontram-se abarrotadas, sem as mínimas condições 
dignas de vida, contribuindo ainda mais para desenvolver o caráter violento do indivíduo e 
seu repúdio à sociedade que o colocou ali. 
 
 
 
 
 
 25
1.2.2 Higiene e assistência médica 
 
 
 As condições higiênicas em muitas cadeias são precárias e deficientes, além do 
que o acompanhamento médico inexiste em algumas delas. Quem mais sofre pela carência de 
assistência médica são as detentas, que necessitam de assistência ginecológica, segundo 
Varella (2001, p. 110). Os serviços penitenciários são geralmente pensados em relação aos 
homens, não havendo assistência específica para as mulheres grávidas, por exemplo. 
 Os sanitários são coletivos e precários, piorando as questões de higiene. A 
promiscuidade e a desinformação dos presos, sem acompanhamento psicossocial, levam à 
transmissão de AIDS entre os presos, muitos deles sem ao menos terem conhecimento de que 
estão contaminados. 
 Ademais, as instalações sanitárias são precárias; é muito comum a ausência de 
água corrente para banhos e para asseio pessoal. A existência de restos de alimentação, 
guardados ou acumulados contribui para a disseminação de insetos, sobretudo ratos e baratas 
pelos quais os presos se vêem assediados com picadas e mordeduras. A iluminação precária, a 
má ventilação, a circulação de odores fétidos, a concentração de águas insalubres originárias 
da mistura de poças de chuvas ou de encanamentos desgastados com lixo, o acúmulo de gazes 
ensangüentadas por cima do parco mobiliário traduzem um quadro crescente de deterioração 
das condições de vida. 
 Segundo Varella (2001, p.115), os padrões de alimentação também não primam 
pela qualidade. As refeições diárias consistem, pela manhã, de café e um pedaço de pão; ao 
almoço, de arroz e feijão, macarrão e, vez ou outra, um pedaço de carne. No jantar, 
consomem-se sobras do almoço. Não é incomum que a alimentação seja servida já 
deteriorada, o que ocasiona queixas freqüentes de problemas gastrointestinais. Isso se dá, 
sobretudo, nos estabelecimentos onde não há instalações próprias para a produção da 
alimentação que é, nesse caso, obtida, mediante convênio, junto a empresas do ramo, a bares e 
a lanchonetes das redondezas, o que configura muitas vezes fonte de corrupção que envolve 
os próprios presos, funcionários e mesmo administradores. Aqueles que dispõem de algum 
dinheiro complementam a minguada dieta recorrendo às lanchonetes locais, quando as há ou 
obtendo alimentos através de parentes por ocasião das visitas semanais. 
 Quanto ao vestuário, até há pouco tempo às prisões encarregavam-se de fornecê-
lo, uniformizando os presos para facilitar o controle sobre a massa carcerária. O que se tem 
verificado, nos anos recentes, é que a retração de recursos destinados aosistema penitenciário 
 26
vem restringindo drasticamente a oferta de vestuário, cujas necessidades são, via de regra, 
supridas pelos familiares. Nesse terreno, o quadro é paradoxal. Ao lado de detentos bem 
vestidos, agasalhados de modo adequado, inclusive para enfrentar as mais adversas 
temperaturas, alguns ambientes são extremamente úmidos enquanto outros quentes e pouco 
ventilados, há detentos que portam camisetas rasgadas e calças ou calções gastos e rotos. 
(Varella, 2001, p.121). 
 Segundo um relatório da Organização dos Estados /OEA (1997, p.29), sobre a 
situação dos direitos humanos no Brasil, muitos presos se queixam de doenças gástricas, 
urológicas, dermatites, pneumonias e ulcerações, mas não são atendidos adequadamente, 
afirmando que muitas vezes nem sequer havia remédios básicos para tratar delas. Constata, 
ainda, no referido relatório que, muitos presos não recebem qualquer assistência visando 
prover suas necessidades básicas de alimentação e vestuário, sofrendo com o frio, a chuva, 
contraindo doenças como gripes fortes e pneumonias. 
 Ao lado das epidemias disseminadas pelas más condições sanitárias da 
habitabilidade, há outras resultantes da aglomeração de pessoas em espaços exíguos. 
Conjunturalmente, enfrentam-se epidemias de tuberculose, além de várias doenças 
sexualmente transmissíveis. Trata-se de uma população de alto risco, vulnerável a toda sorte 
de doenças infecto-contagiosas, fato ainda mais agravado pela recente epidemia de AIDS. Os 
testes que vem sendo aplicados indicam, sobretudo nos estabelecimentos de elevada 
concentração populacional, sorologia positiva, cujas taxas são em geral mais elevadas do que 
no conjunto da população urbana. Para responder a graves problemas de saúde pública, 
contam os estabelecimentos penitenciários com parcos recursos médicos, sejam eles clínicos, 
ambulatoriais ou hospitalares. (Varella, 2001, p.129). 
 Para o autor (op cit.), os recursos ambulatoriais são igualmente precários. As 
instalações são deficientes, há insuficiência de médicos e de atendentes de enfermagem, a par 
de equipamentos obsoletos e de medicamentos insuficientes para debelar o quadro patológico 
dessa população. Poder-se-ia objetar que essas condições e esse atendimento precário não são 
peculiares à população carcerária, porém à população brasileira, constituída em sua maior 
parte de pobres, desprovidos dos requisitos mínimos indispensáveis à reprodução de sua 
existência cotidiana. 
 Se essa observação é verdadeira, não menos o é lembrar que esse quadro se agrava 
diante das características da massa carcerária brasileira e das condições a que se encontra 
submetida, ao que parece ainda mais subumanas que aquelas próprias à população pobre dos 
 27
campos e das cidades. Não sem motivos, ao lado das reclamações contra a carência de 
assistência jurídica, reclama-se igualmente contra a carência de assistência médica. 
 
 
1.2.3 Falta de acesso à educação profissionalizante 
 
 O indivíduo privado de sua liberdade e que não encontra ocupação, entra num 
estado mental onde sua única perspectiva é fugir. O homem nasceu para ser livre, não faz 
parte de sua natureza permanecer encarcerado. Preso que não ocupa seu dia, principalmente 
sua mente, é um maquinador de idéias, a maioria delas, ruins. Grande parte desta angústia 
vivida pelo presidiário advém da falta de ocupação, de uma atividade que ocupe seu tempo, 
distraia sua atenção e que o motive a esperar um amanhã melhor. A idéia de todo presidiário é 
que sua vida acabou dentro das paredes da cadeia e que não lhe resta mais nada. Amparo 
psicológico é fundamental, pois nenhum ser humano vive sem motivação. 
 Por não ter um estudo ou ocupação, conseqüentemente, carecer de um senso moral 
que a vida pré-egressa não conseguiu lhe transmitir, a personalidade do preso passa a sofrer 
um desajuste ainda maior. 
 A grande maioria dos indivíduos presos não teve melhores oportunidades ao longo 
de suas vidas, principalmente a chance de estudar para garantir um futuro melhor. Nesse 
sentido, o tempo que despenderá atrás das grades pode e deve ser utilizado para lhe garantir 
estas oportunidades que nunca teve, por meio de estudo e, paralelamente, de trabalho 
profissionalizante. Além de ajeitar as celas, lavar corredores, limpar banheiros etc., os 
detentos precisam ter a chance de demonstrarem valores que, muitas vezes, encontram-se 
obscurecidos pelo estigma do crime, e, aproveitar seu tempo ali para adquirir mecanismos, 
como o aprendizado de uma profissão, que garanta sua sobrevivência quando de seu retorno à 
sociedade. (Oliveira, 1993, p.96). 
 Embora em não poucos estabelecimentos penitenciários haja convênios com 
entidades especializadas na oferta de escolarização básica, dispensando-se, nessas 
circunstâncias os serviços próprios, quase sempre desorganizados e ineficazes, essa 
escolarização padece dos mesmos obstáculos e problemas enfrentados pela escola pública 
oferecida à população em geral. Apesar da existência, em alguns estabelecimentos, de 
recursos até sofisticados como os audiovisuais, o aprendizado revela-se deficiente, o que se 
traduz nas elevadas taxas de evasão escolar, sintoma de uma população de baixa escolaridade, 
sem tradição de freqüência à escola e, face às suas características pessoais e sociais, 
 28
submetida a uma acentuada rotatividade entre estabelecimentos, o que impede a constituição 
de laços institucionais sólidos com a escola no presídio. 
 No mesmo sentido, a formação profissional revela-se quase que sempre, inútil. A 
maior parte da massa carcerária está alocada em serviços de manutenção, como limpeza, 
cozinha e reparos gerais. As oficinas de costura, de marcenaria, serralheria e outras que 
poderiam se constituir em verdadeiros espaços de formação profissional, atendem a um 
pequeno número de detentos, em geral selecionados criteriosamente. Na melhor das 
avaliações, cerca de 10% dos internos de um estabelecimento estão alocados nas oficinas 
profissionalizantes. Os demais, para ocupar o tempo ocioso sujeitam-se ao trabalho contratado 
de pequenas e médias empresas, que não lhes remunera segundo os preços de mercado e 
sequer lhes oferece seguro previdenciário, realizando outras atividades de baixa demanda no 
mercado formal de trabalho. Consistem, em geral, em "patronatos", sistema no qual alguns 
presos recrutam outros como mão-de-obra, ficando aqueles responsáveis pela produção e 
venda de produtos, bem como remuneração dos trabalhadores. Não é preciso sublinhar que 
esse sistema constitui fonte de corrupção, a par da exploração e da férrea disciplina a que se 
encontram submetidos. (THOMPSON, 2001, p.98). 
 Cabe observar ainda que o trabalho prisional funciona, não raro, como instrumento 
de opressão e punição. Em vários depoimentos de presos, fala-se do arbítrio dos mestres, da 
perseguição perpetrada por parte de guardas e diretores penais, da impossibilidade de se 
constituírem rotinas regulares de trabalho que assegurem autonomia na administração do 
tempo dedicado a tais atividades. 
 
 
1.2.4 Violência policial e Direitos Humanos nos Presídios 
 
 A violência policial tornou-se explícita e natural durante o Regime do Estado 
Novo (1937-1945) e no Regime Militar (1964-1985), onde o alvo desta violência era todos 
aqueles que não aceitavam a forma de poder ditatorial ou questionavam os atos de seus 
governantes. A negação dos direitos democráticos e conseqüentemente da dignidade humana 
faz com que seja “natural” uma polícia espelhe na prática violenta no cumprimento de seu 
dever de “proteger” a sociedade. Ocorre uma “pressão psicológica” sobre o indivíduo detentor 
do poder de polícia e que cumpre os mandos e desmandos de seus superioresem garantia de 
sua própria integridade. Trata-se, mais ou menos, de um estado de necessidade, porém, sob 
violência injustificada, visto que nenhuma forma de violência é justificável, a não ser para a 
 29
proteção da vida e da integridade humana. Some-se a isso o fato de que a polícia brasileira 
sempre foi indisciplinada e uma das características principais é o despreparo do corpo 
policial. (Thoreau, 2001, p.98). 
 Para o autor (op. cit), no regime democrático, a aparente “justificativa” para a 
prática de atos de violência policial em prol da própria integridade não existe. À polícia não 
existe mais o sentimento “intrínseco” de cumprir ordens que criem atos violentos pelo simples 
fato de se estar subordinado a um poder superior. Existe tão somente o “dever legal” de 
manter a ordem e a disciplina no meio social, sendo a violência argüida apenas em casos 
extremos de hostilidade, e não pelo fato do cidadão usufruir seu direito de liberdade de ir e 
vir, de expressão etc. 
 Um ponto essencial que deve ser evidenciado quanto à violência é o fato de que a 
maioria de suas vítimas são geralmente os membros das camadas mais pobres e menos 
abastadas da população. Estes segmentos da sociedade são considerados classes perigosas por 
acreditar-se serem uma ameaça às classes mais abastadas, ocorrendo um processo de 
“seleção” onde todo criminoso deve ter características como pobreza, desnutrição, 
inteligência limitada. Tal visão distorcida que impera no meio social, somada à indisciplina de 
uma polícia que sempre bateu, espancou e torturou, que repele a violência com mais 
violência, e que forma grupos de extermínio, demonstra a total ignorância dos princípios 
básicos dos direitos humanos. (Coelho, 2001, p.130). 
 Tanta violência policial que vem à tona revela um dado importante: antigos e 
pavorosos defeitos da polícia ainda existem, mesmo depois de sepultada a ditadura militar. 
Existe extorsão, tortura, assassinato, seqüestro, omissão, mentira, insubordinação e até 
envolvimento com tráfico de drogas e armas. É necessário, antes de tudo, civilizá-la, 
reeducando os policiais envolvidos em atos de violência e reformulando o treinamento dos 
policiais, da fiscalização de suas ações e no julgamento destes, para que dentro e fora dos 
presídios haja o respeito pela dignidade da pessoa humana. 
 Os direitos individuais fundamentais garantidos pela Constituição Federal visam 
resguardar um mínimo de dignidade do indivíduo. Depois da vida, o mais importante bem 
humano é a sua liberdade. A seguir, advém o direito à dignidade. Muitas prisões não têm mais 
a oferecer aos seus detentos do que condições subumanas, o que constitui a violação dos 
Direitos Humanos. Tanto a qualidade de vida desumana quanto a prática de medidas como a 
tortura, por exemplo, dentro dos presídios, são fatores que impedem o ser humano de cumprir 
o seu papel de sujeito de direitos e deveres. (Falconi, 1998, p.156). 
 30
 A realidade cercando a vida dos detentos não mudará da noite para o dia, pois, 
essas mudanças requerem vontade política, técnica e financeira, necessárias, visando objetivos 
a curto, médio e longo prazo, mas em caráter de absoluta urgência. Se o ser humano é a 
essência de todas as instituições, o aperfeiçoamento do aparelho penitenciário exige uma 
abordagem humanista, que, vise desenvolver e dignificar o presidiário. 
 
 
1.3 As “Leis dos Presos” 
 
 As “leis dos presos” constituem a institucionalização de uma nova ordem dentro 
dos presídios, mas que vem a afetar também as pessoas livres, dado seu poder e alcance 
social. Segundo Rodrigues1, “a lei dos presos é mais rígida do que a daqui de fora. Tem que 
saber proceder. Se não a gente morre.” 
 A rede de narcotráfico instituiu, ao logo dos anos, um regime jurídico próprio, ou 
seu sistema para-jurídico. Controlado por líderes, que figuram no papel de ditadores e juízes, 
de dentro das prisões, com o uso de meios de comunicação modernos, como fax e celulares, 
comandam suas organizações, “administram o estado paralelo”. 
 Apesar de o Brasil adotar uma política de controle e combate ao narcotráfico e 
buscar a o estreitamento da cooperação com outros países no sentido de coibir o abuso e a 
demanda, não há resultados satisfatórios e as “leis dos presos” continua efetiva e atuante nos 
presídios. 
 Porém, vê-se que entre os presos existem também regras de conduta moral, sem 
função de promover a rede de traficância de drogas, mas promover a harmonia dentro do 
presídio, a convivência pacífica entre os detentos. Segundo Varella (2001): 
 
(...) quem nunca entrou no presídio imagina que os mais fortes tomem as mulheres 
dos mais fracos num corredor como esse, cheio de malandros encostados na parede. 
Ledo Engano: o ambiente é mais respeitador que um pensionato de freira. Quando 
um casal passa, todos abaixam a cabeça. Não basta desviar o olhar, é preciso curvar 
o pescoço. Ninguém ousa desobedecer a esta regra de procedimento, seja a mulher 
esposa, noiva ou prostituta”. (VARELLA, 2001, p.61). 
 
 
 A moral dos presídios decorre de anos de encarceramento, vivendo debaixo das 
mais adversas condições de vida, contribuem, por um lado, para instituir um processo 
psicossocial de gerenciamento repressivo do desejo. Rituais e normas institucionais - sujeição 
 
1 Humberto Rodrigues, ex-detento, autor de “Vidas do Carandiru”, em entrevista à imprensa. 
 31
a horários, a posturas, a normas violentas de convivência nas relações intersubjetivas - 
acentuam a incapacidade de lidar autonomamente com a própria vida, liberando, em 
contrapartida, desejos de dependência e de passividade, aliados a incontida agressividade, que 
tornam os tutelados pelas prisões seres inabilitados para a retomada de seus direitos civis em 
liberdade. 
 32
CAPÍTULO 2 DUAS PROPOSTAS: LEP e APAC 
 
 
2.1 LEP – Lei de Execução Penal 
 
 A LEP é a lei que regula os direitos e deveres dos detentos com o Estado e a 
sociedade, estabelecendo normas fundamentais a serem aplicadas durante o período de prisão. 
Por esta razão recebe a alcunha de Carta Magna dos detentos. É considerada, atualmente, 
como uma das leis mais avançadas, por estabelecer normas e direitos eficientes, 
principalmente, quanto a ressocialização do detento. 
 Em seu artigo 1º estabelece como um dos principais objetivos da pena a oferta de 
condições que propiciem harmônica integração social do condenado ou internado. Assim, se 
cumprida integralmente, grande parcela da população penitenciária atual alcançaria êxito em 
sua reeducação e ressocialização. 
 O termo ressocializar denota tornar o ser humano condenado novamente capaz de 
viver pacificamente no meio social, de forma que seu comportamento seja harmonioso com a 
conduta aceita socialmente. Assim, deve-se reverter os valores nocivos à sociedade, com a 
finalidade de torná-los benéficos. 
 O mesmo instituto, em seu art. 3º, assegura ao condenado todos os direitos não 
atingidos pela sentença. Mesmo privado de sua liberdade assegura-se ao preso, determinadas 
prerrogativas dispostas, inclusive, em cláusulas pétreas da Constituição Federal, art. 5º, 
incisos XLVIII e XLIX, determinando que o respeito à integridade física e moral é assegurada 
ao preso e que a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza 
do delito. Assim, dá-se por garantido ao preso o mínimo de existência, personalidade, 
liberdade, intimidade e honra, imprescindíveis ao bom resultado do processo de reintegração. 
Nesse contexto o Estado resguarda um mínimo de liberdade e personalidade do condenado 
para que este possua condição para assimilar o processo de ressocialização. 
 Ainda neste sentido, prescrevea LEP (1984), art. 10º: “(...) a assistência ao preso 
e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno a 
convivência em sociedade.” Na questão da assistência ao detento e de acordo como o que 
dispõe o referido artigo, a assistência estende-se ao egresso. 
 Segundo Falconi (1998, p.101), considera-se egresso, nos termos do art. 26 da 
LEP: I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento; 
II - o liberado condicional, durante o período de prova. 
 33
 A assistência ao egresso consiste em orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em 
liberdade e na concessão, se necessária, de alojamento e alimentação em estabelecimento 
adequado, por dois meses, prorrogável por uma única vez mediante comprovação idônea de 
esforço na obtenção de emprego. 
 Enumerando os muitos artigos da referida lei, observa-se que toda a legislação 
resguarda ao preso sua dignidade de pessoa humana. Assim é que o art. 11 do mesmo instituto 
especifica a assistência devida pelo Estado: a) material: a assistência material ao preso e ao 
internado consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas; b) à 
saúde: a assistência à saúde do preso e do internado, de caráter preventivo e curativo, 
compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico; c) jurídica: compreende a 
assistência determinada aos presos e aos internados sem recursos financeiros para constituir 
um advogado; d) educacional: a Lei de Execução Penal assegura ao preso o acesso à 
educação, dispondo seu artigo 17 que a assistência educacional compreenderá a instrução 
escolar e a formação profissional do preso e do interna; e) social: a assistência social tem por 
finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade, 
promovendo a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, 
de modo a facilitar o seu retorno à liberdade.; f) religiosa: a assistência religiosa, com 
liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, permitindo-se-lhes a participação 
nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução 
religiosa. (LEP, 1984). 
 De acordo com o art. .22 da LEP, “a assistência social tem por finalidade amparar 
o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade. A assistência aos condenados e 
aos internados é exigência básica para se conceber a pena e a medida de segurança como 
processo de diálogo entre os destinatários e a comunidade. 
 Atentando a tais considerações, evidenciam-se como os principais problemas do 
sistema carcerário a violência física, psicológica e sexual entre presos e agentes custodiadores 
e entre os próprios presos; a superlotação penitenciária obrigando detentos primários a 
conviverem com reincidentes e praticantes de crimes hediondos; a falta de assistência médica 
efetiva, principalmente aos portadores do vírus HIV. (Cross, 1998, p. 99) 
 Estes fatos denunciam claramente que devido a não observância das normas de 
proteção ao detento, restam prejudicadas as operações de recuperação do detento. Sabe-se que 
atualmente uma pequena parte deles retorna para sociedade recuperada. A grande maioria 
regressa ao cárcere em curto espaço de tempo, geralmente reincidentes e mais perigosos. 
 34
 Assim, se uma parcela maior de sentenciados obtivessem auxílio satisfatório no 
processo de reeducação durante a detenção, como preconiza a Lei de Execução Penal, a 
sociedade seria beneficiada com a diminuição dos índices criminológicos e, ainda, os próprios 
detentos, pois achariam, novamente, seu espaço dentro do meio social. 
 Mas o que se observa é que, não obstante o largo espaço de tempo transcorrido 
desde a promulgação da LEP (1984), o tratamento ressocializador previsto jamais foi 
realmente implantado e as incipientes ações desenvolvidas como sendo parte de um programa 
de tratamento não correspondem, na prática, a algo que possa ser considerado como um 
trabalho científico digno de ser chamado “tratamento penitenciário”. 
 Os presos envolvidos em algum projeto de trabalho ou educativo na prisão o 
devem muito mais a um sucesso próprio nas negociações internas com a administração 
prisional que ao fato de serem sujeitos e objetos desse mesmo processo. Na perspectiva de 
Beccaria, a imensa maioria passa o tempo nas prisões em um ócio improdutivo ou produtivo. 
(2000, p.139). 
 Sabe-se que na maioria dos presídios a capacidade para absorver todos os internos 
em um programa laboral e educacional é inversamente proporcional à clientela existente e isto 
gera uma segunda forma de exclusão. 
 A LEP determina, quanto à assistência educacional (art. 17), que seja 
implementada “a instrução escolar e a formação profissional do preso e internado”, sendo 
obrigatório o ensino de primeiro grau, enquanto que o ensino profissionalizante deverá ser 
com vistas não só a iniciar em uma profissão, como também e sobretudo, em permitir o seu 
aperfeiçoamento técnico (art. 19). A realidade prisional e o texto legal não demonstram 
compatibilidade sendo a normatização algo que se revela puramente simbólica. 
 
 
2.1.1 Os instrumentos de tratamento penal na LEP 
 
 Os principais direitos previstos na LEP são: a) o direito à alimentação, vestuário e 
alojamento (art. 12, 13, 41, I e 29, da LEP); b) o direito a cuidados e tratamento médico-
sanitário em geral, conforme a necessidade (art. 14, § 2º, da LEP); c) o direito ao trabalho 
remunerado (art. 28 a 37 e 41, II, da LEP); d) o direito à visita do cônjuge, da companheira, 
de parentes e amigos em dias determinados (art. 41, X, da LEP); e) o direito de se comunicar 
reservadamente com seu advogado (art. 41, IX, da LEP); f) o direito à audiência especial com 
 35
o diretor do estabelecimento (art. 41, XIII, da LEP); g) direito à igualdade de tratamento salvo 
quanto à individuação da pena (art. 41, XII, da LEP) 
 Importante salientar que a LEP é a lei básica de todo o sentenciado. Nela, constam 
como será a progressão dos regimes, as funções dos conselhos penitenciários, deveres dos 
presos, forma de execução das penas, medidas de segurança etc. 
 Dessa forma a educação, esta lei tem por objetivo formar a pessoa humana do 
recluso, segundo sua própria vocação, para inseri-lo na comunidade humana, tornando-o 
capaz de dar sua contribuição na realização do bem comum. 
 O tratamento reeducativo é uma educação tardia do recluso, que não a obteve na 
época oportuna. Esse direito é assegurado pelo art. 17º da LEP complementando o art. 10º da 
LEP, que tem por objetivo a reinserção social do preso e prevenção da reincidência, pois, a 
LEP tem por instrumentos do tratamento penal os seguintes itens básicos: a) assistência; b) 
educação; c) trabalho; d) disciplina. 
 Preso, segundo Falconi (1998, p.59), é aquele que se encontra recolhido em 
estabelecimento prisional, cautelarmente ou em razão de sentença penal condenatória com 
trânsito em julgado. Portanto, preso provisório ou definitivo. A Lei não restringe a assistência 
apenas e tão-somente aos condenados. 
 Por outro lado, internado é o que se encontra submetido a medida de segurança 
consistente em internação em hospital de tratamento e custódia, em razão de decisão 
jurisdicional. Ainda que se encontre recolhido em estabelecimento prisional aguardando vaga 
para transferência ao hospital de tratamento e custódia, por razões óbvias também tem 
assegurado os mesmos direitos. Aliás, seria o extremo do absurdo suprimir direitos daquele 
que em razão da inércia e do descaso do Estado, que não disponibiliza hospitais e vagas 
suficientes para o atendimento da demanda, já sofre os efeitos decorrentes de tal omissão, 
com o inegáveldesvio na execução de sua conta. Seria puni-lo duas vezes. (Falconi, 1998, p. 
98). 
 O tratamento reeducativo é o termo técnico usado no Direito Penitenciário, na 
Criminologia Clínica e na Legislação Positiva da ONU. Segundo a concepção científica, o 
condenado é à base do tratamento reeducativo. Com efeito, o tratamento compreende um 
conjunto de medidas sociológicas, penais, educativas, psicológicas, e métodos científicos que 
são utilizados numa ação compreendida junto ao delinqüente, com o objetivo de tentar 
modelar a sua personalidade para preparar a sua reinserção social e prevenir a reincidência. 
 A LEP é embasada na lei dos direitos humanos, aprovada pela Assembléia Geral 
das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos 
 36
Humanos e que dita a adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, 
onde o preso deve ser tratado como pessoa humana 
 E para reforçar ainda mais a Declaração dos Direitos Humanos, a Lei n. 7.210, de 
11 de julho de 1984, a Lei de Execução Penal em seu Art. 1º diz que: “(...) a execução penal 
tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar 
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”. (LEP – LEI DE 
EXECUÇÃO PENAL, ART 1º, 1984) 
 Um indivíduo que cometeu um crime deve ser julgado segundo o devido processo 
legal e, se condenado, sujeito a um sistema que objetive sua ressocialização. Quem conhece a 
realidade das prisões brasileiras há de concluir que o que está acontecendo se deve à 
corrupção e à violência, que, ali fazem morada. 
 A pena deve ser usada como profilaxia social, não só para intimidar o cidadão, 
mas também para recuperar o delinqüente. 
 Na questão laboral, a LEP (1984) em seu art. 28º diz que o trabalho do condenado, 
como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva, 
garantindo ainda ao condenado em seu art. 126º, a remissão pelo trabalho, de parte do tempo 
de execução da pena. Esse dispositivo legal é para o condenado que cumpre a pena em regime 
fechado ou semi-aberto. O tempo remido será computado para a concessão de livramento 
condicional e induto. 
 Segundo Ramalho (2002, p.96), laborterapia, trata-se de ocupar o tempo fazendo 
uma atividade profissional. Poderão os detentos desenvolver atividades que varia da 
manutenção do presídio, panificação, cozinha e faxina, até atividades como a confecção de 
bolas, caixões e outras tantas atividades mais que possam ser desenvolvidas dentro dos 
presídios. 
 As prisões devem ser reformuladas com a criação de oficinas de trabalho, para que 
a laborterapia possa ser aplicada de fato, dando oportunidade para que o condenado possa 
efetivamente ser recuperado para a vida em sociedade. 
 Já na questão disciplinar, observa-se que a pena, nos moldes que estão sendo 
aplicadas, no atual sistema prisional brasileiro, está longe de ser ressocializadora. Dentre os 
graves problemas que isso acarreta, gera um falso entendimento que com penas mais severas 
pode-se coibir os delinqüentes. Não é usurpando os direitos dos presos que se atingirão os 
objetivos previstos nas sanções aplicadas aos mesmos pois o preso conserva todos os direitos 
não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua 
integridade física e moral, conforme preconiza a LEP. 
 37
 A LEP (art. 53 a 58) declara que as recompensas – o elogio, a concessão de 
regalias - representam um reconhecimento em favor do condenado, de sua disponibilidade de 
colaborar com a disciplina e de sua dedicação ao trabalho, o que pode ser tão significativo 
quanto a aplicação de sanções disciplinares – advertência verbal, repreensão e suspensão ou 
restrição de direitos, isolamento e inclusão no regimento disciplinar diferenciado – nos casos 
em que seja necessário. 
 
 
2.1.2 Reeducação e ressocialização 
 
 No mundo moderno há a necessidade de se rever conceitos quanto à vida dentro 
dos presídios, pois, a recuperação, ressocialização, readaptação, reinserção ou reeducação 
social, penetrou formalmente em sistemas normativos, códigos penais e leis penitenciarias 
sem que a execução prática das medidas corresponda aos anseios de recuperação que não 
raramente se fixam tão somente nas páginas dos textos que as contém. 
 Ocorre então, nos dias presentes o questionamento com bastante insistência sobre 
o problema da pena-emenda. Tem o Estado do direito de oprimir a liberdade ética do preso, 
impondo-lhe autoritariamente uma concepção de vida e um estilo de comportamento através 
de um programa de reeducação que não seja condizente com a sua formação e convicções? 
 Uma das demonstrações evidentes de que o encarceramento, na forma como está 
sendo posto em prática, não tem condições de melhorar a situação pessoal do condenado, se 
deduz do próprio espírito que orientou a Reforma penal e penitenciária decorrente da lei Nº 
6.416 de 24 de maio de 1977. A exposição de motivos da mensagem revelou a preocupação 
de resolver o problema da superlotação das prisões. (Ramalho, 2002, p.105). 
 Mas, a sobrecarga das populações carcerárias, como antagonismo diuturno aos 
ideais de classificação dos presidiários e individualização executiva da sanção, é uma 
denuncia freqüente no direito penal, nas comissões de inquérito parlamentar e nos relatórios 
oficiais. 
 Para Tompson (2001, p.156), a prisionalização é terapia de choque permanente, 
pois, agride o ser humano naquilo que ele tem de mais essencial que é a liberdade. O cárcere 
suga a seiva vital do indivíduo, enfraquece-lhe a alma, amesquinha-o, aterroriza-o. 
 A degradação do sistema penitenciário a níveis intoleráveis vem sendo 
freqüentemente retratada com a opinião de que os presídios brasileiros são verdadeiros 
depósitos de pessoas e permanentes fatores criminológicos. E essa decadência da instituição 
 38
carcerária é somente a ponta do iceberg a mostrar a superfície da crise geral do sistema, para o 
qual convergem muitos outros fatores. 
 Essa decadência atinge um contingente populacional considerável, pois, passa não 
somente pelos profissionais que trabalham nos presídios, pelas famílias dos detentos, pela 
sociedade como um todo, pois essa irá receber o ex-detento quando o mesmo houver 
cumprido sua pena. 
 O Brasil é um exemplo de país onde a pena possui fins de ressocialização desde 
1957 e que até a presente data não implantou em suas prisões algo que responsavelmente 
possa ser considerado como processo de ressocialização, de reeducação ou tratamento 
penitenciário com vistas à reinserir na sociedade aquele que delinqüiu. 
 Segundo Falconi (1998, p.132), no Brasil o ideal de readaptar o apenado ao meio 
social integra o fim da pena privativa de liberdade desde a promulgação da Lei 3.274 de 
02.10.1957; somos, assim, um dos países precursores desse ideal. A referida Lei no seu artigo 
22 previa que toda a educação do sentenciado deveria ser orientada na escolha de uma 
profissão útil, objetivando sua readaptação ao meio social; esta orientação, além do aspecto 
profissional envolvia ainda a educação intelectual, artística, profissional e física. 
 A Lei 3.274/57 traçava normas gerais para o regime penitenciário e veio pôr fim a 
uma lacuna existente quanto à regulamentação ao mesmo, lacuna esta que somente foi suprida 
em 11.07.1984 com a promulgação da Lei 7.210 - Lei de Execução Penal - vigente até a 
presente data. 
 Readaptar o sentenciado ao meio social proporcionando-lhe condições para a sua 
harmônica integração social, significa em última análise ressocialização, reeducação, 
reinserção social de quem cumprindo pena ou medida privativa de liberdade no cárcere, 
recebeu,ou deveria haver recebido do Estado, oportunidades de aprendizado para viver em 
sociedade com respeito às normas vigorantes. Por óbvio, que o alcance dos objetivos 
pressupõe a existência de um programa cientificamente elaborado e aceito livremente pelo 
reeducando. 
 A LEP prescreve os princípios e regras que possibilitariam a ressocialização do 
preso. Este processo envolve uma série de elementos, sendo, pois, muito complexo: 
ressocializar significa tornar o ser humano capaz de viver em sociedade novamente, consoante 
ao que a maioria dos homens já fazem. 
 A palavra ressocializar poderia a princípio referir-se apenas à conduta do preso, 
aos elementos externos que se pode resumir da seguinte forma: ressocializar é modificar a 
 39
conduta do preso, para que seja harmônica com a conduta socialmente aceita e não nociva à 
sociedade. 
 Na visão de Falconi (1998, p.119) ressocializar não significa apenas dar um 
emprego ao preso na prisão ou quando ele sai desta, ou não ter preconceitos contra os ex-
presidiários. Estas são atitudes positivas é evidente, todavia, o processo da ressocialização é 
muito mais complexo e inicia por uma reversão dos valores nocivos do condenado, para 
valores benéficos para a sociedade. 
 Dentro do processo de ressocialização do preso condenado é fundamental uma 
práxis que resgate, enquanto ainda o mesmo está encarcerado os seus valores de pessoa, de ser 
humano, os valores em comum com a sociedade livre. Isto só pode ser conseguido através de 
um ambiente de experiências favorável à assimilação destes valores. Este ambiente de 
experiências favorável deve ser o mais amplo possível e em crucial implicação o efetivo 
cumprimento da Lei de Execução Penal, a qual tem o status de uma espécie de uma Carta 
Magna do preso. 
 Para o autor (op cit, p.132) para o preso-condenado, a Lei de Execução Penal é 
praticamente o único elo com a sociedade livre em termos de obrigação e dever, de 
compromisso. O condenado preso, embora possa não ter consciência analítica da 
complexidade do fenômeno da ressocialização já exposto, tem consciência clara de que foi 
condenado porque a sociedade assim determinou, porque ele descumpriu uma regra e aqueles 
que descumprem uma regra estabelecida pela sociedade são punidos. Assim, ele sabe que a 
norma é para ser cumprida, que aqueles que a descumprem são punidos e que ele foi punido 
por descumprir a norma. É essa experiência que o preso-condenado adquire gradativamente 
ao longo do processo. A relevância do respeito ao compromisso com a sociedade. 
 Dessa forma, para ressocializar o condenado pressupõe-se que este condenado 
possua um mínimo de capacidade de condições de assimilar o processo de ressocialização, é 
necessário então que o condenado, embora, preso e sob custódia do Estado, exerça uma 
parcela ainda que mínima, mas fundamental de sua liberdade, de sua personalidade, pois são 
estes caracteres que distinguem o Homem dos demais animais, ou seja, é necessário que o 
cercear a liberdade do preso, não se lhe retire a sua qualidade humana. Se o condenado 
mantém ainda sua qualidade humana, ele é ainda detentor de poder e, conseqüentemente, 
fonte de direitos a serem respeitados, portanto ele ainda pode exercer direitos e em 
contrapartida tem uma série de deveres a obedecer. Entretanto, como já demonstrado, os 
direitos do condenado, mesmo os fundamentais, não são os mesmos e ou na mesma extensão 
daqueles dos chamados homens livres. 
 40
 
2.2 APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados 
 
 A APAC é uma entidade civil, com vida própria, nos termos das leis brasileiras, 
fundada em 18 de novembro de 1972 em São José dos Campos/SP. Ganhou personalidade 
jurídica em 15 de junho de 1974. É órgão auxiliar da justiça e da segurança, na execução da 
pena, conforme consta de seu estatuto social. 
 Em 1972, um grupo de quinze pessoas lideradas pelo advogado Dr. Mário 
Ottoboni, preocupados com o grave problema das prisões na cidade de São José dos Campos 
(SP), passou a pesquisar a situação em nível nacional. Freqüentava o presídio de Humaitá 
para evangelizar e dar apoio moral aos presos. Em 1974, o juiz da Vara de Execuções 
Criminais da comarca, Dr. Sílvio Marques Neto, considerando a necessidade de ofertar novas 
vagas para o crescente número de detentos, tomou a decisão ousada de transferir a gerência do 
presídio de Humaitá para aquela equipe, a qual instituiu a APAC, entidade jurídica, sem fins 
lucrativos, com o objetivo de recuperar o preso através de um método de valorização humana, 
protegendo a sociedade e promovendo a justiça. (Arfinengo, 1997, p.36). 
 A APAC aceitou a tarefa de reformar a prisão de Humaitá e dirigi-la, com o apoio 
da comunidade, sem praticamente nenhum ônus para o Estado (incumbido apenas da 
alimentação e do pagamento da luz e da água), dispensando a figura do policial e do 
carcereiro. 
 São quatro as categorias ou grupos de APAC’s existentes em cerca de 140 
localidades brasileiras e em países como Argentina, Equador e Estados Unidos. Cada um 
desses grupos representa um nível diferente de engajamento e aplicação do método dentro dos 
presídios. (Arfinengo, 1997), 
 No Grupo 1, mais completo, estão os presídios de São José dos Campos/SP e de 
Itaúna/MG, onde a polícia foi dispensada e os voluntários da APAC, com alguma verba 
oficial e muito esforço para arrancar ajuda onde possível, assumiram todo o trabalho. 
 As ações da APAC destinam-se, exclusivamente , a assistir o condenado em 
relação á família, á educação, á saúde, ao bem estar , á profissionalização, á reintegração da 
sociedade, á recreação e á assistência espiritual. Isto se consegue com a participação 
voluntária da sociedade. 
 Participar da APAC é um apostolado. Requer uma entrega total. Sacrifício das 
horas de lazer (passeios, viagens, novelas, etc.), exigência de freqüentar curso de preparação. 
Na APAC não há espaço para improvisação, pois o método requer total observância de seus 
 41
princípios. Todo trabalho é voluntário: ninguém recebe pagamento e a APAC sobrevive da 
contribuição mensal de seus sócios e de doações de simpatizantes. 
O Método APAC se inspira no princípio da dignidade da pessoa humana e na convicção de 
que ninguém é irrecuperável, pois todo homem é maior que a culpa: recuperar os presos e 
proteger a sociedade; “matar” o criminoso e salvar o homem. 
 Segundo Arfinengo (1997, p.53), o método orienta os responsáveis pela segurança 
e demais funções e os voluntários por uma escala de emenda, dividida nos três estágios, 
fechado, semi-aberto e aberto, e que dá oportunidade ao recuperando, de, a cada estágio, ter 
um acesso maior á sociedade lá fora, até alcançar o último nível no qual o recuperando é 
obrigado apenas a uma apresentação diária à prisão. Isso se baseia em um dos princípios do 
método: individualizar o tratamento tal como recomenda a lei. 
 O processo metodológico da APAC vem sendo aperfeiçoado e hoje tem alcançado 
grande repercussão no Brasil e no exterior. Apresentando índices de reincidência inferiores a 
5% (no sistema comum a média de reincidência é de 86%). São aproximadamente 100 
unidades em todo o território nacional, e várias já foram implantadas em outros países, como 
as APAC’s de Quito e Guaiaquil no Equador, Córdoba e Concórdia na Argentina, Arequipa 
no Peru, Texas, Wiora e Kansas nos EUA, e muitas outras estão em fase de implantação como 
África do Sul, Nova Zelândia, Escócia, etc. Em 1986, a APAC filiou-se a PFI – Prision 
Fellowslrip International, órgão consultivo da ONU para assuntos penitenciários. Desde então 
o Método passou a ser divulgado e aplicado com sucesso em todo o mundo. (Arfinengo, 1997, 
p.71). 
 
 
2.2.1 Elementos fundamentais

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