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www.princexml.com Prince - Personal Edition This document was created with Prince, a great way of getting web content onto paper. Nutrição aplicada ao esporte Estratégias nutricionais que favorecem o desempenho em diferentes modalidades Monise Viana Abranches 1ª Edição 2012 EXPEDIENTE Pesquisa de conteúdo Ceres Matos Della Lucia Produção editorial e Revisão final Adelson Marques Canudo Assistência editorial Adriana Lopes Peixoto CRN9 - 9521 Capa e Produção gráfica Peter Pereira Imagens antropométricas Mariana Braga Neves CRN9 - 2000100325 Edição ortográfica e textual Éverton Oliveira Coordenação de projeto para mídia digital Rafael da Silva Carrasco Coordenação geral Adelson Marques Canudo Luiz Eduardo Ferreira Fontes Todos os direitos reserva- dos. Nenhuma parte deste livro eletrônico poderá ser reproduzida total ou par- cialmente sem autorização prévia da A.S. Sistemas. Nutrição aplicada ao esporte ISBN nº: 978-85-65880-04-6 Nutricionista Monise Vi- ana Abranches CRN9 - 6925 A.S. Sistemas Rua Professor Carlos Schlottfeld, casa 10 – Clélia Bernardes – Viçosa – MG – CEP 36570-000 Tel: (31) 3892 7700 site: www.assistemas.com.br 4/172 Sumário Nutrição aplicada ao esporte Módulo I 1 Conceitos relacionados à nutrição Digestão e absorção Transporte Excreção 2 Conceitos relacionados à nutrição aplicada ao esporte Considerações importantes da nutrição esportiva Nutrição aplicada ao esporte Objetivos da nutrição esportiva 3 Praticantes de atividade física devem ingerir alimentos especiais? 4 Como a dieta pode influenciar a atividade física? Premissas da nutrição saudável voltada ao desempenho físico Desconfortos pré-competição e durante a competição Fatores que são associados ao desconforto 5 Objetivos da adequação calórica 6 Componentes do gasto energético Taxa metabólica basal Termogênese induzida pela dieta Efeito térmico da atividade física 7 Metabolismo e sistemas energéticos básicos Energia para a atividade celular Fontes energéticas Módulo 2 8 Ressíntese de ATP: esporte e produção de energia Tipos de exercício e utilização de nutrientes As fibras musculares e a ressíntese de ATP Influência dos nutrientes da dieta Influência do treinamento 9 Cálculo das necessidades energéticas no exercício A unidade Como se expressa o gasto energético do metabolismo de exercício Estimativa do gasto energético na atividade física 10 Nutrientes energéticos I: os carboidratos Funções dos carboidratos A importância dos carboidratos no exercício 11 Os carboidratos podem influenciar a atividade física? Você se lembra como calcular as calorias dos alimentos? Carboidratos vs. exercícios: existem estratégias a serem seguidas? Consumo de carboidrato antes do exercício Dieta de supercompensação do glicogênio muscular Esquema da dieta de supercompensação do glicogênio muscular Ação nutricional antes de começar a atividade em linhas gerais Ação nutricional 60 minutos antes de iniciar a atividade Ingestão de carboidratos durante o exercício Ingestão de carboidratos após o exercício 12 Índice glicêmico e exercício físico 13 Nutrientes energéticos II: lipídios e exercícios Papel dos lipídios no organismo Dinâmica das gorduras no exercício 14 Nutrientes energéticos III: proteínas e exercício Reservas de proteínas Proteínas/aminoácidos plasmáticos Proteína muscular Proteína visceral Ingestão de proteína Suplementação com proteína 6/172 Módulo 3 15 A importância dos minerais e da água na prática esportiva Sódio Potássio e cloreto Cálcio Fósforo, ferro e zinco Água 16 A importância das vitaminas na prática esportiva Alguns achados sobre a suplementação vitamínica Radicais livres e antioxidantes 17 Sudorese e reposição hídrica: o uso dos isotônicos Sudorese Condições que influenciam a temperatura corporal e levam à desidratação A hidratação pode limitar o desempenho? Cuidados especiais Recomendações de reposição de líquidos Os isotônicos 18 Suplementos alimentares para atletas Proteínas Aminoácidos Creatina Beta-hidroxi-beta-metilbutirato L-carnitina Ácido linoleico conjugado (CLA) 19 Atendimento nutricional do atleta 1ª Etapa - avaliação do consumo alimentar 2ª Etapa - avaliação da composição corporal 3ª Etapa - solicitação e análise de exames bioquímicos 4ª Etapa - elaboração do planejamento alimentar - etapas 20 Referências bibliográficas 21 Glossário 22 Apêndice 7/172 Estudo de caso 1 Estudo de caso 2 8/172 INTRODUÇÃO A performance dos atletas vem aumentando gradativamente. Exemplo disso pode ser observado durante as Olimpíadas; os sucess- ivos recordes alcançados por esportistas de todas as áreas mostram claramente o maior preparo físico. Adicionalmente, deparamo-nos com a crescente busca de uma melhor qualidade de vida e do “corpo perfeito” por grande parte das pessoas que praticam atividades físicas. Não há dúvidas de que o tipo, a quantidade, a composição e a frequên- cia de ingestão alimentar podem afetar drasticamente o desempenho físico, a recuperação após o exercício, o peso e a composição corporal e, por conseguinte, a saúde. Associadas ao sucesso de talentosos esportistas estão a ciência da nutrição e a ciência e tecnologia dos alimentos, as quais têm col- aborado para o alcance de resultados. Mas deve-se ressaltar que quando esses instrumentos são utilizados de forma inadequada podem levar a condições patológicas para as quais o exercício regular exerce importantes contribuições positivas. Diante disso, o objetivo desta obra é apresentar os princípios que norteiam a nutrição aplicada ao esporte e as estratégias nutricion- ais que favorecem o bom desempenho nas diversas modalidades, se- jam elas de competição ou não. Monise Viana Abranches Módulo 1 Nutrição, metabolismo e componentes do gasto energético 1 Conceitos relacionados à nutrição Iniciaremos o conteúdo relembrando alguns conceitos que muito contribuirão para o entendimento da nutrição na prática esportiva. A propósito, o que você entende por nutrição? Diversos conceitos são empregados para designar o termo “nutrição”. De forma sucinta, podemos dizer que nutrição é: • Ingestão + absorção + conversão dos nutrientes em suas formas utilizáveis pelo organismo (biodisponibilidade dos nutrientes); • Possibilitar o crescimento e a manutenção das funções bio- lógicas do organismo; • Promover a saúde. A maneira pela qual os nutrientes se tornam partes integ- rantes do corpo e contribuem para a sua função depende dos pro- cessos fisiológicos e bioquímicos que governam suas ações. Assim, prosseguimos o nosso estudo com uma visão geral dos processos de digestão, absorção, transporte e excreção, já que essas funções de- terminam o destino do alimento após sua entrada no organismo. Digestão e absorção A digestão começa na boca O processo de digestão inicia-se bem antes de a comida chegar ao estômago. Quando vemos, sentimos o cheiro ou mesmo imagin- amos um saboroso lanche, as nossas glândulas salivares, que estão loc- alizados sob a língua e perto do maxilar inferior, começam a produzir saliva. Esse fluxo de saliva começa em resposta ao estímulo que vem do cérebro, ou seja, é um reflexo desencadeado quando “sentimos” a comida ou pensamos em comer. Em resposta a essa estimulação sen- sorial, o cérebro envia impulsos através dos nervos que controlam as glândulas salivares, dizendo-lhes para se prepararem para a refeição. Os dentes têm a função de rasgar e cortar os alimentos, en- quanto a saliva umedece o que colocamos na boca para favorecer a de- glutição. Uma enzima digestiva chamadaamilase, encontrada na saliva, começa a quebrar alguns dos carboidratos (amidos) presentes no alimento, antes mesmo que ela saia da boca. A deglutição, que é realizada por movimentos musculares na língua e boca, move o alimento na garganta ou faringe. A faringe, uma passagem de alimentos e ar, possui cerca de 5 cm de comprimento. Um retalho de tecido flexível chamado epiglote reflexivamente se fecha sobre a traqueia quando engolimos, evitando, assim, a asfixia. Da garganta, o alimento percorre um tubo muscular chamado esôfago. Ondas de contrações musculares criam uma sequência de movimentos chamada peristaltismo, que força o alimento para baixo através do esôfago ao estômago. O estômago No final do esôfago, um anel muscular chamado esfíncter es- ofágico permite que o alimento entre no estômago e depois se contrai para evitar que o alimento ou líquido volte para o esôfago. Os movi- mentos musculares do estômago misturam os alimentos com secreções ácidas e enzimas, tornando o alimento mais fácil de ser di- gerido. Um ambiente ácido é necessário para que a digestão ocorra no 12/172 estômago. Além de enzimas e secreções ácidas, diversos hormônios participam do processo de digestão. Esses hormônios servem como sinais para início ou término dos eventos digestivos. Você sabia? As glândulas do estômago produzem cerca de três litros de sucos digestivos por dia. Quando os alimentos estão na consistência e na concentração apropriada (nesse ponto, o bolo alimentar é uma espécie de secreção espessa denominada quimo), o estômago é estimulado a liberar grad- ativamente seu conteúdo para o intestino delgado, por meio do esfínc- ter pilórico. O intestino No intestino, ocorre parte da digestão e da absorção de nutri- entes. O amido que já teve seu processo digestivo iniciado na boca é reduzido a açúcares simples por enzimas liberadas pelo pâncreas. As enzimas do pâncreas e da borda em escova no intestino delgado com- pletam a digestão das proteínas, convertendo-as em pequenos pep- tídeos e aminoácidos. As gorduras emulsificadas pelos sais biliares, produzidos no fígado e armazenados na vesícula biliar, são reduzidas a gotículas lipídicas, as quais se tornam alvo da ação das lípases do pân- creas, sendo convertidas em ácidos graxos e monoglicerídeos. Ao longo do comprimento do intestino delgado, macronutri- entes, minerais, vitaminas, oligoelementos e a maior parte da água re- manescente são absorvidos antes de atingirem o cólon. O intestino grosso, ou cólon e reto, absorve a maioria do líquido remanescente. O cólon absorve especialmente os eletrólitos e, em certa extensão, alguns produtos finais da digestão. A flora 13/172 intestinal desempenha papel essencial na fermentação da fibra in- gerida, carboidratos e aminoácidos remanescentes. A fermentação das fibras resulta na produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como o butirato, propionato, acetato e lactato, e gases. Os AGCC ajudam a manter a mucosa intestinal saudável e contribuem para a ab- sorção de sais remanescentes e água. O intestino grosso também serve como reservatório para o armazenamento temporário de produtos da excreção, que servem como meio para a síntese de algumas vitaminas. O reto e o ânus con- trolam a defecação. Relembrando alguns mecanismos responsáveis pela absorção A absorção é um processo complexo, já que combina o pro- cesso relativamente simples da difusão passiva, no qual os nutrientes passam das células da mucosa intestinal (enterócitos e colonócitos) para a corrente sanguínea, com o processo um pouco mais sofisticado com gasto de energia, denominado transporte ativo. A difusão envolve o movimento dos solutos através das pro- teínas presentes nas membranas das células. Algumas dessas pro- teínas atuam como canais (difusão passiva), enquanto outras fun- cionam como carreadoras (difusão facilitada), interagindo com os solutos que transportam. O transporte ativo necessita de energia para ocorrer, uma vez que se dá contra um gradiente de concentração. Al- guns nutrientes podem compartilhar o mesmo carreador, e, assim, competir pelo mesmo sítio de absorção. 14/172 Transporte Em nível celular, o transporte dos nutrientes ingeridos pode ocorrer com auxílio de proteínas transportadoras. Mas não podemos nos esquecer que, de forma geral, a maior parte dos nutrientes (por exemplo, carboidratos, sais minerais, aminoácidos) é liberada para a corrente sanguínea (capilares sanguíneos) e chega até o fígado, de onde é transportada para as células que compõem os demais órgãos e tecidos. Os ácidos graxos absorvidos são reagrupados em triglicerídeos e, juntamente com proteínas e colesterol, formam os quilomícrons, que são transportados pelos vasos linfáticos até as veias subclávia e jugular, onde são lançados na circulação central e conduzidos até o fígado. No fígado, parte dos lipídeos é degradada e destinada à ex- creção, mas a maior parcela é redistribuída ao corpo por meio das lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL). Excreção Os resíduos não absorvidos são excretados através das fezes. Considera-se que elas consistem em 75% de água e 25% de sólidos, embora essas proporções variem muito. Cerca de 1/3 da matéria sólida consiste de bactérias mortas. Os materiais inorgânicos e gorduras con- stituem 20% a 40% e, a proteína, aproximadamente 2% a 3 %. O rest- ante inclui fibra não digerida, células epiteliais descamadas e compon- entes dos sucos digestivos, como pigmentos biliares. A defecação, ou expulsão das fezes através do ânus, ocorre com frequência variável de três vezes ao dia a uma a cada três dias ou mais. O tempo de trânsito da boca ao ânus pode variar de 18 h a 72 h. 15/172 Uma dieta que abranja quantidades abundantes de frutas, vegetais e grãos integrais tipicamente resulta em tempo de trânsito mais curto, evacuações mais frequentes, fezes maiores e mais moles. Outra forma de excreção é via urina. O sangue é filtrado nos rins, sendo a maior parte dos nutrientes reabsorvida pelos túbulos renais. A urina, produto resultante desse filtrado, contém compostos hidrossolúveis tóxicos ou não utilizados pelo nosso organismo (por ex- emplo, vitamina C quando ingerida em excesso). Já podemos perceber que todos os processos mencionados en- volvem a transformação dos alimentos em partículas menores ou moléculas (nutrientes) que podem ser utilizadas com as seguintes finalidades: • Energética (carboidratos, lipídios e proteínas); • Construção e reparo de tecidos (proteínas, lipídios, minerais e vitaminas); • Construção e manutenção do sistema esquelético (cálcio, fósforo e proteínas); • Regulação da fisiologia corpórea (vitaminas, minerais, lipí- dios, proteínas e água). No próximo capítulo, iremos aprender um pouco mais sobre a função dos nutrientes e a sua relação com a prática esportiva. 16/172 2 Conceitos relacionados à nutrição aplicada ao esporte A relação nutrição e desempenho físico fascina as pessoas já há algum tempo. Os atletas, na Grécia Antiga, possuíam esquemas especiais de nutrição para se prepararem para os Jogos Olímpicos. Diferentes tipos de exercícios e diferentes esportes ap- resentam necessidades diferentes de energia e de nutrientes e, port- anto, a ingestão de alimentos precisa ser ajustada de acordo com tais necessidades. Determinadas estratégias nutricionais podem melhorar o desempenho, a recuperação após o exercício e resultar em ad- aptações mais significativas ao treinamento. Considerações importantes da nutrição esportiva A prática de atividades esportivas pode proporcionar inúmer- os benefícios à composição corporal, saúde e na qualidade de vida. No entanto, o esporte competitivo nem sempre é sinônimo de equilíbrio no organismo, podendo influenciar de maneira direta e significativa o estado nutricional dos atletas. Dessa forma, alterações fisiológicas e o desgaste físico e nutricionalocasionados pelo esforço excessivo podem levar o atleta até o limite entre a saúde e doença, sobretudo, se não houver um equilíbrio adequado entre esses eventos. Além disso, a pro- porção da resposta ao exercício físico parece estar diretamente asso- ciada à influência de diferentes variáveis, como a natureza do es- tímulo, duração, intensidade do esforço, grau de treinamento e estado nutricional. As necessidades de energia, macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídeos) e micronutrientes (vitaminas, minerais e elementos-traço) são modificados com a prática de exercícios físicos. Isso porque, além de gerar uma maior demanda calórica, a atividade pode ocasionar adaptações fisiológicas e bioquímicas que determinam maiores necessidades de nutrientes. Dessa forma, a alimentação é um dos fatores que pode limitar o desempenho do atleta, e para um planejamento alimentar adequado, devemos considerar diversos fatores como a adequação energética e de macro e micronutrientes da dieta, levando em consideração as ne- cessidades individuais dos atletas, como a frequência, a intensidade e a duração do treinamento. O organismo utiliza diferentes fontes de energia – glicose, ácidos graxos e aminoácidos. Nos exercícios mais intensos e rápidos, como corrida de velocidade ou levantamento de peso, o organismo usa basicamente a glicose como combustível para os músculos, proveni- ente do armazenamento de glicogênio. Nos esportes intermitentes e de menor intensidade, como basquete, futebol e corrida, o organismo também solicita a glicose como fonte de energia, mas a gordura é pre- dominantemente oxidada como fonte de energia. Assim, uma boa nutrição é um dos fatores que podem melhor- ar o desempenho atlético e, quando bem equilibrada, pode reduzir a fadiga, permitindo que o atleta treine por um maior número de horas ou que se recupere mais rapidamente entre as sessões de exercícios. A nutrição adequada pode otimizar os depósitos de energia para a com- petição ou repará-las mais rapidamente afetando a situação tanto competitiva quanto de treinamento. Por outro lado, deficiências nutri- cionais podem reduzir a capacidade para executar exercícios. Em resumo 18/172 A falta de atenção à alimentação pode interferir no rendi- mento durante uma competição e, o que é mais grave, causar prob- lemas de saúde decorrentes da prática esportiva. Treinos constantes e competições podem causar desgastes e estresse para os quais o corpo não está preparado. A alimentação está relacionada não somente ao tipo de es- porte, mas também à intensidade e duração da atividade, levando-se em consideração variáveis como a necessidade nutricional do indiví- duo, de acordo com composição corporal e com o gasto energético do esporte praticado. Atualmente, muitos alimentos destinados aos esportistas fo- ram desenvolvidos e estão sendo comercializados sob a alegação de melhorarem o desempenho, como é o caso de: bebidas especiais, bar- ras energéticas e suplementos nutricionais. Mas vale ressaltar que a ingestão deve estar sempre atrelada às necessidades e não aos modismos. Nutrição aplicada ao esporte Cada vez mais os atletas estão preocupados em melhorar seu desempenho e a sua qualidade de vida, tornando evidente a grandeza da contribuição do nutricionista para este fim. Nesse sentido, é funda- mental ressaltar a importância da avaliação nutricional, sobretudo para adequação alimentar ao gasto e a necessidade energética da atividade física, além de fornecer dados antropométricos e de com- posição corporal, fundamentais para o desempenho nas diferentes modalidades. Inicialmente, aquele que deseja se aprofundar um pouco mais nesse assunto, deve considerar as questões a seguir: 19/172 • Com que objetivo o cliente procurou a consulta nutricional? • Ele pratica esportes para competição ou como lazer/ma- nutenção da saúde? • Como prescrever? • O que e quanto prescrever? • Quando ingerir? A prescrição dietética deve se basear no cálculo do metabol- ismo. O total de energia gasto é influenciado por três fatores prin- cipais: taxa metabólica basal, termogênese induzida pelos alimentos e atividade física. Além disso, todos esses fatores ainda são direta ou indiretamente afetados pela idade, gênero, peso, estatura e clima. Assim, a dieta deve oferecer quantidades de calorias ideais para cada tipo de metabolismo utilizado no esforço e ainda possuir carboidratos e proteínas de forma a garantir a produção de energia e a recuperação muscular. Adicionalmente, nas práticas esportivas, o or- ganismo tem diferentes demandas por vitaminas e sais minerais que regulam o metabolismo. Dessa forma, deve-se considerar a função an- tioxidante de alguns alimentos e também outras substâncias capazes de melhorar o desempenho dos atletas – os recursos ergogênicos, pois, dependendo da atividade, o organismo vai exigir diferentes fontes de energia. 20/172 Objetivos da nutrição esportiva Podemos dizer que os principais objetivos da nutrição esport- iva são: • Promover a saúde; • Equilibrar as necessidades energéticas; • Oferecer os nutrientes básicos; • Permitir uma recuperação adequada e rápida; • Atuar como recurso ergogênico; • Diminuir a velocidade de perda de rendimento; • Reduzir a ação dos radicais livres. 21/172 3 Praticantes de atividade física devem ingerir alimentos especiais? Um dos primeiros pontos que devemos observar na nutrição esportiva é se o cliente que procura o seu atendimento realiza os exer- cícios apenas como forma de melhorar a saúde e a estética, ou se, a essa prática, ele também associa algum objetivo competitivo. Assim, há uma reflexão a se fazer. Ambos os grupos de pessoas podem receber o mesmo tipo de orientação nutricional? A resposta a esse questionamento é simples. Confira! Para os indivíduos que praticam exercícios físicos sem maiores preocupações com a performance O papel da atividade física no controle do peso corporal e da massa de gordura tem sido amplamente estudado. Pesquisas indicam que pessoas mais ativas apresentam valores mais baixos de peso cor- poral, índice de massa corporal, percentual de gordura e relação cintura-quadril que indivíduos sedentários pertencentes à mesma faixa etária. Recentemente, organizações científicas como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta (CDC) e o American College of Sports Medicine (ACSM) concluíram que sessões de pelo menos 30 minutos por dia, na maior parte dos dias da semana, desenvolvidas continuamente ou em períodos cumulativos de 10 a 15 minutos, em intensidade moderada, podem representar o limiar para a população adquirir os benefícios à saúde. Existem poucas evidências que garantam que modificar signi- ficativamente a composição corporal e o peso em indivíduos saudá- veis, enquanto estratégia de intervenção isolada, possa promover uma maior eficácia na realização do exercício. Provavelmente, esse fato deve-se ao aumento do consumo alimentar induzido pelo exercício, o que promove a estabilização do peso corporal. Por outro lado, a com- posição da dieta é outro fator que também pode afetar a adiposidade. Assim, para se obter mudanças substanciais na massa corporal, são necessárias mudanças na dieta. O consumo alimentar ou o valor calórico da dieta acima dos valores de recomendação, principalmente com elevado percentual de gordura, está associado ao acúmulo de gordura corporal. Sugere-se então, para aqueles que desejam apenas controlar o peso e prover a saúde, a associação entre a prática de exercícios físicos regulares e o consumo de uma dieta balanceada (a mesma indicada para a população saudável), que é suficiente para a obtenção de res- ultados eficazes. Praticantes de atividades físicas não competitivas: • Necessário - alimentação balanceada (semelhante à da pop- ulação saudável); • Sem necessidade- dieta especial. Para atletas Os estudos científicos vêm demonstrando que a performance e a saúde de atletas podem ser beneficiadas com a modificação ali- mentar. Em relação a esse tema, existem poucas controvérsias diante da documentação que comprova os efeitos benéficos para a saúde, mudanças favoráveis da composição corporal e aprimoramento do desempenho desportivo de atletas decorrentes do manejo dietético. Os estudos têm sido convergentes em conclusões que estabelecem que, de um modo geral, basta o manejo dietético para a obtenção dos efeitos acima explicitados. A suplementação alimentar deve, portanto, ficar restrita aos casos especiais, que serão apresentados nesta diretriz, nos 23/172 quais a eventual utilização deve sempre decorrer da prescrição dos profissionais qualificados para tal, que são os nutricionistas e os médi- cos especialistas. A indústria de alimentos e suplementos nutricionais tem desenvolvido alimentos modificados com a promessa de melhorar a performance. De uma forma geral, eles utilizam apenas nutrientes cu- jas fontes são os alimentos consumidos na alimentação normal. Pode- se afirmar que o atleta que deseja otimizar sua performance, antes de qualquer manipulação nutricional, precisa adotar um comportamento alimentar adequado ao seu esforço, em termos de quantidade e var- iedade, levando em consideração o que está estabelecido como ali- mentação saudável. As orientações que constam nesta seção destinam- se a atletas saudáveis, adultos e adolescentes em fase de maturação sexual final. Assim, esportistas profissionais devem seguir um plano ali- mentar minucioso, de modo a influenciar não somente a saúde e o bom desempenho do atleta, mas também em sua recuperação metabólica no decorrer da realização dos treinos. Vale ressaltar que muito cuidado deve ser tomado caso seja necessário suplementar. Desportistas profissionais e atletas de elite: • Necessário - alimentação especial é parte do programa de condicionamento físico; • Sem necessidade - alimentação balanceada (semelhante a da população saudável). A nutrição constitui o alicerce para o desempenho físico: pro- porciona o combustível para o trabalho biológico e as substâncias químicas para extrair e utilizar a energia potencial dos alimentos. 24/172 4 Como a dieta pode influenciar a atividade física? A oferta de nutrientes em quantidade suficiente à realização da prática esportiva é o ponto crítico da nutrição aplicada ao esporte. Vejamos o porquê! Como exemplo, consideraremos a energia, item absoluta- mente necessário à realização dos movimentos durante o exercício. Em condições de repouso, as células precisam de energia para fun- cionar: as bombas iônicas nas membranas precisam de energia para transportar íons através das membranas celulares, enquanto que as fibras musculares do coração necessitam de energia para contraírem. No decorrer da realização do exercício, o gasto energético pode aumentar consideravelmente, principalmente porque a muscu- latura esquelética precisa de energia para se contrair. Em alguns casos, o fornecimento de energia pode tornar-se crítico e a continu- ação do exercício depende da disponibilidade das reservas de energia. A maioria dessas reservas precisa ser obtida através da nutrição (via ingestão de carboidratos, lipídeos e, em última instância, proteínas). Nos atletas de resistência, por exemplo, a depleção de energia (ex- austão de carboidratos) é uma das causas mais comuns de fadiga. Assim, a ingestão de carboidratos é essencial para evitar fadiga pre- coce resultante da depleção de carboidratos. Então, podemos inferir que o fornecimento adequado de nu- trientes promove: • Prevenção de lesões; • Alcance dos resultados esperados; • Melhora do rendimento. É importante salientar que a oferta de energia não aumenta o rendimento do atleta, mas prolonga sua capacidade de realização, sendo que, quanto maior o tempo da atividade, maior o impacto posit- ivo dessa estratégia. Premissas da nutrição saudável voltada ao desempenho físico Para que o atleta tenha um bom desempenho físico é necessário: • Permitir que o estômago esteja relativamente vazio no início da competição. Isso porque estudos demonstram que exercí- cios moderados a intensos podem comprometer o esvazia- mento gástrico (Capítulo 1).Adicionalmente, fisiologistas concordam que exercícios com intensidade moderada a in- tensa reduzem o fluxo sanguíneo intestinal, o que, con- sequentemente, retarda a absorção dos nutrientes tão ne- cessários à prática esportiva; • Ajudar a evitar ou minimizar distúrbios gastrointestinais (diarreias, vômitos, gases, etc); • Ajudar a prevenir a hipoglicemia e seus sintomas, que po- dem prejudicar o desempenho; • Fornecer substrato suficiente, sobretudo de carboidrato, ao sangue e aos músculos; 26/172 • Fornecer quantidade adequada de água e eletrólitos ao corpo (hidratar). Desconfortos pré-competição e durante a competição O desconforto pré-competição e durante a competição geral- mente aparece como: • Problemas de estômago e gastrointestinais superiores (azia, vômito, inchaço, peso da comida e dores de estômago); • Problemas gastrointestinais inferiores (gases, câimbras in- testinais, urgência em defecar, bolos fecais soltos e diarreia). Fatores que são associados ao desconforto Tipo de esporte Ciclistas e nadadores têm menos desconforto do que atletas corredores que geram impacto direto sobre o intestino pelo movimento. Estado de treinamento Atletas que já se acostumaram com a rotina dos treinos e com- petições desenvolvem tolerância e percebem que gradativamente o desconforto diminui ou até desaparece. 27/172 Idade Atletas jovens encontram maiores dificuldades, provavel- mente porque ainda não conhecem bem as questões relacionadas à ali- mentação. Já os veteranos que experimentaram diversas receitas aprendem a conhecer o metabolismo e mantêm uma relação harmôn- ica com ele. Gênero Normalmente, as mulheres têm maior tendência a terem com- plicações por causa das constantes alterações hormonais e também devido ao período menstrual. Tensão emocional e mental Pessoas tensas ou nervosas têm esvaziamento gástrico mais lento e com isso ficam com a sensação de estômago cheio ou com peso. Intensidade do exercício Treinos leves não comprometem a digestão, mas, durante ex- ercícios que exigem mais esforço, a mudança do fluxo sanguíneo da parte central para os músculos em funcionamento pode causar algum desconforto. Tipo de alimento utilizado pré-competição A ingestão de alimentos muito ricos em proteínas e gorduras algumas horas antes da prova podem comprometer o resultado. Já ali- mentos que fazem parte do dia a dia do atleta e que são utilizados dur- ante os treinamentos seriam a melhor escolha para garantir um mel- hor rendimento. Ingestão de comida durante as atividades A maioria dos atletas suporta pequenas quantidades de ali- mento em seu estômago, de forma a não comprometer a função 28/172 digestiva. Se a atividade tiver um tempo de duração maior que 45 minutos e a intensidade não for alta, pode ser necessário algum aporte energético. Entretanto, se a intensidade for alta, o alimento pode so- frer refluxo, o que oferece risco ao desempenho. Cafeína Estimula o sistema nervoso, pode causar diarreia e um desem- penho inferior ao esperado. Soluções concentradas em açúcar Geram desconforto gástrico. As bebidas repositoras de fluidos possuem, em média, 200 kcal por 225 mL e contam com baixa con- centração de carboidratos, sendo consideradas boas alternativas. Nível de hidratação A desidratação aumenta o risco dos problemas intestinais. Deve-se manter a ingestão hídrica bebendo-se fluidos diferentes, em horários regulares, para aprender como o corpo reage à água, aos su- cos, ou a qualquer fluido que possa vir a ser utilizado. Algunsitens da dieta sofrem alteração dependendo do clima onde acontecerá uma competição. O clima é outro fator a ser considerado. Exemplo disso é que uma prova ou torneio em locais de clima quente exige maior atenção na hidratação, já que o consumo adequado de água impede a desidratação e a redução do desempenho. As exigências energéticas para trabalho no calor podem chegar a 0,5% para cada aumento de 0,02°C, à medida em que a temperatura ambiente cresça de 30°C para 40°C. Mudanças hormonais que acontecem durante o exercício O processo digestivo está sob controle hormonal e o exercício estimula mudanças nesses hormônios. Exemplo disso são os 29/172 hormônios gastrointestinais, que dobram ou aumentam sua quan- tidade em até cinco vezes do que os níveis encontrados no repouso. 30/172 5 Objetivos da adequação calórica Atualmente, os técnicos e os atletas têm consciência da im- portância da obtenção e da manutenção do peso corporal ideal para o desempenho máximo nos esportes. A constituição, a composição e o tamanho corporal adequados são fundamentais para o sucesso em quase todas as empreitadas atléticas. Assim, os objetivos da adequação calórica são: Manutenção do peso corporal: quando o peso corporal já se encontra dentro dos parâmetros de normalidade, a adequação do fornecimento energético tende a mantê-lo constante. Adequação da composição corporal: dois indivíduos que ten- ham o mesmo peso e a mesma altura não têm necessariamente a mesma composição corporal, ou seja, as mesmas proporções de massa muscular e de tecido adiposo no organismo. Muitas vezes, deparamo- nos com indivíduos que, aparentemente, apresentam peso adequado para sua altura e idade, mas possuem um alto percentual de gordura corporal, que poderá ser corrigido com a prática de atividade física e com uma alimentação equilibrada. Maximizar os resultados do treinamento: o peso corporal ideal é fundamental para que o atleta tenha bons resultados na sua modal- idade esportiva. Manter a saúde: um estilo de vida sedentário tem sido associado a um maior risco de dois distúrbios metabólicos import- antes: a obesidade e o diabetes. Embora nenhuma dessas doenças rep- resente uma causa importante de morte, ambas são fortemente asso- ciadas a outras doenças que apresentam taxas de mortalidade eleva- das, como a hipertensão, doenças cardiovasculares e o câncer. Atual- mente, milhões de pessoas ao redor do mundo são obesas, diabéticas ou ambas. A consequência dessas doenças são debilitantes e os custos de seus tratamentos são elevados. 32/172 6 Componentes do gasto energético A quantidade total de energia despendida diariamente pode ser expressa como a soma de três componentes: • Taxa metabólica basal (TMB) (60%); • Termogênese induzida pela dieta (TID) (10%); • Efeito térmico da atividade física (30%). Vamos falar agora sobre cada um deles. Taxa metabólica basal A taxa metabólica basal representa a energia necessária para as funções vitais do organismo no estado de vigília. Durante o sono, como há uma diminuição da atividade corporal, essa taxa é reduzida. Um termo equivalente, que é utilizado para calcular quantas calorias gastamos por dia, é denominado de taxa metabólica em repouso, que representa aproximadamente 60% a 75% da energia gasta diariamente. Fatores que afetam a taxa metabólica basal Cerca de 80% da taxa metabólica é determinada genetica- mente, enquanto os 20% restantes dependem de outros fatores que serão listados a seguir. Tecido muscular - quanto mais músculos o indivíduo tem, maior e mais veloz é o gasto calórico, independente do seu nível de atividade, da sua idade, etc. Os músculos são tecidos altamente ativos e consomem muita energia ao longo do dia. O tecido muscular é bastante ativo e contribui para o aumento da taxa metabólica basal. Sexo - o metabolismo masculino é mais acelerado que o fem- inino, pois os homens apresentam proporção maior de massa muscu- lar e menor proporção de gordura que as mulheres. Homens e mul- heres de mesmo peso e mesma estatura apresentam o metabolismo bem diferente, uma vez que sua composição corporal também é diferente. Idade - a partir dos 30 anos de idade, o metabolismo começa a ficar mais lento. Mas vale ressaltar que pesquisas indicam que isso ocorre pelo fato de as pessoas tornarem-se mais sedentárias depois dessa idade, o que acarreta uma perda gradual de massa muscular. Por isso, é importante que haja um controle alimentar e prática regular de atividade física. A redução da taxa metabólica basal que ocorre com o avanço da idade relaciona-se, principalmente, com a perda de massa muscular. Clima - os fatores ambientais também influenciam a taxa metabólica em repouso. O metabolismo de repouso de pessoas que residem em climas tropicais em geral é 5% a 20% mais alto que o de quem vive em climas temperados. Da mesma forma, exercícios feito no calor aumentam o consumo de oxigênio em 5% comparado a um clima neutro, devido à energia adicional exigida pela atividade das glândulas sudoríparas e pela circulação alterada durante a atividade. Os climas frios alteram também o metabolismo tanto em repouso quanto no exercício, dependendo da gordura corporal e quantidade e qualidade da roupa usada. A TMB pode até duplicar ou triplicar com os calafrios, pois o organismo tenta manter a temperatura central 34/172 estável. Tanto climas quentes como frios alteram o metabolismo em repouso e durante o exercício. Gestação - os estudos sugerem que a dinâmica cardiovascu- lar materna adota padrões normais de resposta durante o exercício moderado e que a gestação não impõe estresse fisiológico à mãe além do imposto pelo aumento adicional de peso e pela sobrecarga dos te- cidos fetais. Vale ressaltar que por meio de pesquisas se constatou que a frequência cardíaca e o consumo de oxigênio das mães são os mes- mos observados antes e após o nascimento de seus filhos. Por outro lado, à medida que a gestação progride, o aumento de peso da mãe representa uma sobrecarga significativa do peso, como caminhar, trotar e subir escadas. O crescimento do feto e o aumento dos tecidos aumentam a taxa metabólica basal em mulheres grávidas. Fatores patológicos – as febres aumentam a taxa metabólica em torno de 13% para cada grau acima de 37°C. Estados febris também aumentam a taxa metabólica basal. Hormônios – a tiroxina, produzida pela tireoide, e a adren- alina, produzida pelas adrenais, aumentam a TMB. A tiroxina é o hormônio responsável por aumentar o metabolismo. Estresse – ele aumenta a atividade do sistema nervoso sim- pático, que aumenta a TMB. Pessoas estressadas apresentam maior taxa metabólica basal devido ao maior estímulo ao sistema nervoso simpático. Termogênese induzida pela dieta Seria possível comer e perder calorias? Pode parecer um tanto controverso, mas é sabido que o consumo de alimentos, de uma forma 35/172 geral, induz a uma elevação de nosso metabolismo energético, o que confere a denominação termogênese induzida pela dieta (TID), que pode ser dividida em duas fases: • Fase ou termogênese obrigatória: caracterizada pelo gasto energético proveniente da própria absorção e digestão dos alimentos; • Fase ou termogênese facultativa: relaciona-se com a capa- cidade de aumentar a liberação de calor sob determinada circunstância ou demanda, que pode ser, também, de ori- gem alimentar. Acredita-se que a primeira experiência acerca desse tema foi realizada por Max Rubner, em 1891. Em seu experimento, Rubner utilizou como referência o dispêndio energético de um cão que se en- contrava em jejum por um período de 24 horas. Após essa fase de je- jum, o cão foi alimentado com 2 kg de carne, que possuíam o equival- ente a 1926 kcal. Os números obtidos por Rubner indicavam que o gasto energético do cão em jejum era de 742 kcal, já que, com a in- trodução da carne em sua dieta, essenúmero passou para 1046 kcal, isto é, houve um aumento significativo no dispêndio energético diário do cão (41%), justificado pela própria intensificação do metabolismo em digerir e absorver os macronutrientes advindos da carne. A contribuição da TID chega ao valor de 5% a 15% do gasto en- ergético total (GET), indicando assim uma grande importância na ma- nutenção do peso corporal e do próprio balanço energético. Por outro lado, ao se analisar os macronutrientes de maneira isolada, consider- ando o gasto energético que o mesmo possui dentro do organismo, chega-se à conclusão de que a proteína possui propriedades mais ter- mogênicas (20% a 30%), seguida pelo carboidrato (5% a 10%) e, por último, os lipídeos (0% a 3%), sendo essas faixas de variação percentu- al referentes ao valor total de calorias ingeridas. 36/172 Efeito térmico da atividade física A terceira forma pela qual gastamos energia é através da prát- ica do exercício físico, conhecido como efeito térmico da atividade física (ETAF). Nos indivíduos sedentários, o ETAF contribui com uma taxa que varia de 10% a 15% da energia gasta durante o dia, primeira- mente através de atividades leves como caminhar, subir escadas ou carregar objetos. Mas, durante exercícios moderados e pesados, pode- se chegar a 20% a 30% da energia gasta durante o dia, o que repres- enta excelente contribuição para os programas de perda de peso. 37/172 7 Metabolismo e sistemas energéticos básicos Muitos dicionários definem o termo energia como a capacid- ade de realizar trabalho. Infelizmente, isso não diz nada a respeito das muitas funções biológicas que dependem da produção e da liberação de energia. A energia nunca é perdida ou criada. Em vez disso, ela sofre uma degradação constante de uma forma a outra e, finalmente, transforma-se em calor. Tipicamente, cerca de 60% a 70% da energia total consumida pelo corpo humano é degradada em calor, enquanto a energia remanescente é utilizada para a atividade muscular e os pro- cessos celulares. Como o nosso corpo utiliza a energia antes de atingir o estágio final? Energia para a atividade celular Toda energia é originária do sol sob a forma de energia lu- minosa. Reações químicas nas plantas (fotossíntese) convertem a luz em energia química armazenada. De nossa parte, obtemos a energia consumindo plantas ou animais que as ingeriram. A energia é armazenada nos alimentos sob a forma de carboidratos, gorduras e proteínas. Esses componentes alimentares básicos podem ser clivados no interior de nossas células para liberar a energia armazenada. Como toda energia finalmente degradada sob a forma de cal- or, a quantidade de energia liberada numa reação biológica é calculada a partir da quantidade de calor produzido. Nos sistemas biológicos, a energia é mensurada em quilocalorias (kcal). Por definição, 1 kcal é igual à quantidade de energia térmica necessária para elevar a temperatura de 1 kg de água em 1°C a partir de uma temperatura de 15°C. A queima de um fósforo, por exemplo, libera aproximadamente 0,5 kcal, enquanto a combustão completa de 1 g de carboidrato gera, aproximadamente, 4 kcal. Fontes energéticas Os alimentos são compostos principalmente por carbono, hidrogênio, oxigênio e – no caso das proteínas – nitrogênio. As lig- ações moleculares dos alimentos são relativamente fracas e produzem pouca energia quando rompidas. Consequentemente, os alimentos não são utilizados diretamente nos processos celulares. Em vez disso, a en- ergia das ligações moleculares dos alimentos é liberada quimicamente no interior de nossas células e, em seguida, ela é armazenada sob a forma de um composto altamente energético denominado adenosina trifosfato (ATP). Em repouso, a energia que seu corpo necessita deriva tanto da degradação dos carboidratos quanto da degradação das gorduras. As proteínas são os tijolos do seu corpo, usualmente fornecendo pouca energia para a função celular. Durante o esforço muscular leve a in- tenso, uma quantidade maior de carboidratos é utilizada, com menor dependência das gorduras. No exercício máximo de curta duração, o ATP é gerado quase que exclusivamente a partir dos carboidratos. Mais informações sobre os nutrientes energéticos serão fornecidas no Módulo 2. 39/172 Módulo 2 Necessidades nutricionais 8 Ressíntese de ATP: esporte e produção de energia A energia que precisamos para a realização das atividades nas células, ou seja, o combustível necessitado, de maneira global, para a execução dos exercícios, provém de nutrientes que estão em nossa ali- mentação. Entretanto, essa energia não é diretamente repassada dos nutrientes para as células. Tipos de exercício e utilização de nutrientes Em situação de repouso ou de exercício, a ressíntese de ATP acontece através da produção de energia, a partir de diferentes sub- stratos energéticos. A ressíntese de ATP precisa ser feita logo que ini- ciamos algum exercício físico. O aumento no consumo de energia produz aumento do consumo de oxigênio. Portanto, sempre que o or- ganismo tem um consumo maior de ATP, precisamos de um tempo para organizar a disponibilidade de oxigênio, porque se faz necessária a queima de substratos energéticos. Porém, somos capazes de ressin- tetizar o ATP, sem a presença de oxigênio, em condições em que o or- ganismo não pode esperar pela disponibilidade dessa substância. Durante o exercício extenuante, neuroendócrinos fazem aumentar a produção de adrenalina, noradrenalina e glucagon e re- duzem a produção de insulina. Essas respostas hormonais ativam a glicogênio-fosforilase, que facilita a glicogenólise no fígado e nos mús- culos ativos. Como o glicogênio muscular proporciona energia, sem precisar de oxigênio, ele acaba contribuindo com a maior parte da en- ergia nos minutos iniciais do exercício, quando a utilização de oxigênio não consegue atender às demandas. As fibras musculares e a ressíntese de ATP A capacidade do nosso organismo de ressintetizar ATP pode ser exercida em condições aeróbias e anaeróbias (presença ou não de oxigênio), o que varia conforme a necessidade de nossos músculos. Te- mos diferentes fibras musculares capacitadas a gerar energia em cada condição. • Fibras do tipo I (contração lenta - ressíntese oxidativa) - são também chamadas de fibras vermelhas, fazem a ressíntese oxidativa de ATP e são recrutadas para esforços prolongados e de intensidade leve à moderada; • Fibras do tipo II a (ressíntese oxidativa) - são relacionadas à esforços de alta intensidade; • Fibras do tipo II b - são também chamadas de fibras bran- cas. Elas têm baixa capacidade de ressíntese oxidativa e alta capacidade de ressíntese glicolítica (capacidade de extrair energia da glicose sem utilização de O2). Elas são recrutadas, especialmente, em esforços de alta intensidade e curta duração. Na maioria dos tipos de atividade desenvolvida por nossos músculos, as fibras do tipo I (lentas) são solicitadas antes das fibras rápidas. A exceção são os movimentos de força máxima. Alguns fatores podem interferir na ressíntese de ATP e são eles os nutrientes da dieta e o treinamento. 42/172 Influência dos nutrientes da dieta Carboidrato: fornece energia para o trabalho celular. É re- crutado para liberação de energia rápida (anaeróbios). Em caso de lib- eração de energia rápida, a glicose sanguínea e o glicogênio (acumu- lado) irão fornecer a maior parte de energia para a ressíntese de ATP. Gordura: a gordura é transformada em energia quando é re- movida do tecido adiposo e é transferida para o músculo (especial- mente para as fibras de contração lenta). Proteína: a proteína não é capaz de fornecer mais do que 15% da energia solicitada pelo exercício. Você sabia? Quando a gordura é solicitada para a ressínte de ATP? Qual é a sua relação com o emagrecimento? Uma forma de fornecimento de energia através de reações aer- óbiasé a oxidação dos ácidos graxos, derivados de gordura estocados no organismo humano. Esse processo é denominado betaoxidação e produz quantidades grandes de energia, porém de forma mais demorada. Ambas oxidações dos substratos - glicose e ácido graxo - lib- eram a energia utilizada para a ressíntese de ATP. Como mostra o gráfico abaixo, após os primeiros momentos do exercício, os lipídios aportam a maior quantidade de energia requerida pelos músculos. É importante perceber que o ponto mais alto do gráfico abaixo se dá no momento em que a intensidade do exercício se encontra entre 65% e 85% da frequência cardíaca (Fc) máxima. Isso indica uma intensidade moderada - alta, considerada, a partir dos princípios da prescrição do 43/172 treinamento, uma frequência cardíaca alvo ou ideal para a redução da gordura corporal e emagrecimento. Como exemplo, a Fc geralmente atingida pelo tenista durante uma partida fica em torno de 155 bpm e 163 bpm, o que salienta, de maneira considerável, a utilização da gordura como um importante substrato para o fornecimento energético ao longo do jogo. Influência do treinamento O treinamento aeróbio favorece a utilização do ácido graxo e incrementa a capacidade de mobilização das reservas de gordura den- tro do músculo. Isso faz com que a energia esteja disponível para ser utilizada em maiores quantidades e mais rapidamente, visto que o processo de metabolismo de ácido graxo, que, em geral, é lento, pode ser encurtado. Esse fato pode ser explicado, pelo fato de que a gordura é armazenada no organismo em forma de triglicerídeos (três moléculas de ácido graxo ligadas a uma molécula de glicerol) no tecido adiposo e nos músculos. Para serem liberados e utilizados, é necessário haver a quebra dessa ligação. Tal reação é catalisada pela enzima lipase, que é estimulada pelas catecolaminas e hormônio do crescimento. No tecido adiposo, após ser efetuada a quebra dessa ligação, o glicerol dirige-se ao fígado e então é transformado em glicose. Já os três ácidos graxos são liberados e transportados no sangue com auxílio das albuminas (proteínas carreadoras). Assim, seguem para o músculo e, no interior da fibra, entram na mitocôndria. Depois disso, é realiz- ada a betaoxidação, que dá origem a 35 ATPs e oito Acetil-Coa, primeiros substratos do Ciclo de Krebs, que dá origem a mais 96 ATPs. Após esses processos, ocorre a cadeia respiratória, dando origem a 44/172 moléculas de dióxido de carbono e água. Os triglicerídeos intramuscu- lares, quando são degradados, liberam o glicerol, que, da mesma maneira, dirige-se ao fígado para ser transformado em glicose. Os ácidos graxos, como já se encontram no interior da célula muscular, são utilizados diretamente, fazendo com que o processo seja mais simples e rápido. Então, a partir do músculo, o caminho é o mesmo: mitocôndria - betaoxidação (acetil-Coa) - ciclo de krebs - cadeia res- piratória - produção de CO2 e H2O. Dessa forma, pode-se constatar que a oxidação dos ácidos graxos proporciona o aporte de altas quantidades de energia em tempo mais prolongado. Assim, quando o tenista é submetido a parti- das que ocupam um longo período, esse sistema torna-se essencial para que haja o fornecimento de energia suficiente para contração dos músculos e recuperação. Os nutrientes armazenados em nosso organismo promovem a ressíntese de ATP e, assim, obtemos energia continuamente. Os sub- stratos energéticos serão degradados de acordo com a reposição de ATP que o organismo precisa, o que poderá ocorrer via metabolismo aeróbio ou anaeróbio (Tabela 1). Sistema Necessidade de O2 Fonte de energia Quantidade de ATP Velocidade de síntese de ATP ATP-PC ou fosfagênio Não Fosfocreatina Muito limitada Muito alta Anaeróbico lático Não Glicogênio Limitada Alta Aeróbico Sim Glicogênio - gordura proteína Ilimitada Baixa - lenta 45/172 Tabela 1 - Relação com a velocidade de sintese de ATP de acordo com o tipo de metabolismo 46/172 9 Cálculo das necessidades energéticas no exercício O equilíbrio de energia pode ser definido como a resultante zero entre a ingestão de alimentos, bebidas e suplementos, e seu con- sumo, pelo metabolismo basal, efeito térmico do alimento e a ativid- ade física voluntária. Ingestão insuficiente de macro e micronutri- entes, resultando em balanço calórico negativo, pode ocasionar perda de massa muscular e maior incidência de lesão, disfunções hormonais, osteopenia/osteoporose e maior freqüência de doenças infecciosas, ou seja, algumas das principais características da síndrome do overtrain- ing, comprometendo o treinamento pela queda do desempenho e rendimento esportivo. Quando há desprendimento de energia nas últimas etapas dos processos metabólicos, também ocorre desprendimento de água e calor. Medindo-se o calor produzido, obtém-se então a energia desprendida. Historicamente, a definição de calorias era a quantidade de energia necessária para elevar em 1 grau celsius a temperatura de 1g de água (o calor específico da água é, por definição, igual a 1). Todavia, com a evolução das técnicas de medida, verificou-se que o calor específico não era constante com a temperatura. Por isso buscou-se padronizá-lo para uma faixa estreita, e a caloria foi então redefinida como sendo o calor trocado quando a massa de um grama de água passa de 14,5 °C para 15,5 °C. A unidade A unidade padrão desta medida é a caloria. 1 caloria = 4,1868J Quando usamos caloria para nos referirmos ao valor ener- gético dos alimentos, na verdade queremos dizer a quantidade de en- ergia necessária para elevar a temperatura de 1 quilograma (equival- ente a 1 litro) de água de 14,5 °C para 15,5 °C. O correto neste caso ser- ia utilizar kcal (quilocaloria), porém o uso constante em nutrição fez com que se modificasse a medida. Assim, quando se diz que uma pessoa precisa de 2.500 calori- as por dia, na verdade são 2.500.000 calorias (2.500 quilocalorias) por dia. Hoje também é comum expressar quilocalorias escrevendo-se a abreviatura de caloria "Cal" com a letra C em maiúsculo. 1 Cal =1000 cal = 1 kcal Não podemos nos esquecer que os objetivos da adequação calórica são: • Manutenção do peso corporal; • Adequação da composição corporal; • Maximizar os resultados do treinamento; • Manter a saúde. Os fatores que influenciam no gasto energético são: • Doença; 48/172 • Idade; • Gênero; • Peso Corporal; • Período de crescimento. Atividade Física (condicionamento físico e fase de treina- mento, levando em consideração sua frequência, intensidade e dur- ação e modalidade). Como se expressa o gasto energético do metabolismo de exercício O gasto energético pode ser expresso de diferentes formas: • Em kcal ou kJ, onde 1 kcal ≈ 4 kJ; • Em volume de O2 consumidos, onde 1 L O2 = 5 kcal; • Em METS (Múltiplos da Taxa Metabólica de Repouso), onde 1 MET (consumo de O2 em repouso) = 3,5 mL O2/kg peso corporal/min Como expressar o gasto energético: Exemplo 1 Gasto do exercício: 20 kJ/min 49/172 Para obter o gasto calórico, divida kJ pelo valor equivalente de 1 kcal. Gasto calórico = 20 kJ/min = 5 kcal/min 4 kJ Exemplo 2 Gasto do exercício: 3 L O2/min Para obter o gasto calórico, multiplique litros de O2 gasto no exercício pelo correspondente a quantidade de kcal gastas por 1 L de O2. Gasto calórico = 3 L O2/min x 5 kcal = 15 kcal/min Exemplo 3 Gasto do exercício: 12 METS (como exemplo, vamos consider- ar um homem de 70 kg). Multiplique o total de METS pelo volume de O2 equivalente a 1 MET. 12 METS x 3,5 mL O2 x 70 kg/min = 2.940 mL O2/min Converta mL em L: 2.940 mL O2/min = 2,94 L O2/min Multiplique litros de O2 pelas kcal por litro de O2 Gasto calórico = 2,94 L O2/min x 5 kcal = 14,70 kcal/min Na tabela seguinte (Tabela 2), acompanhe alguns exemplos do gasto energético de diferentes atividadesesportivas. 50/172 Atividade Kcal / min VO2 mL (kg.min)-1 Basquete 8,5 – 15,0 24,5 – 42,0 Futebol 6,0 – 15,0 17,5 – 42,0 Musculação 10,0 28,0 Tênis 5,0 14,0 – 31,5 Voleibol 3,7 – 7,5 10,5 – 21,0 Tabela 2 - Exemplo do gasto energético de várias atividades Estimativa do gasto energético na atividade física Kcal = METS treino x Peso Corporal (kg) x Tempo da ativid- ade física (min.) 60 min. Exemplo 1: VO2 treino = 37,5 mL O2 (kg.min) -1 = 10,71 MET 3,5 mL O2 (kg.min) -1 Peso corporal = 70 kg Tempo de duração da atividade: 30 min. kcal = 10,71 MET x 70 kg x 30 (min) = 374,85 51/172 60 Então: o gasto energético na atividade física é de 374,85 kcal 52/172 10 Nutrientes energéticos I: os carboidratos Entre os nutrientes energéticos, os carboidratos são as fontes primárias de energia. Carboidratos também conhecidos como hidratos de carbono, glicídios ou açúcares são as biomoléculas mais abundantes na natureza, constituídas principalmente por carbono, hidrogênio e ox- igênio, podendo apresentar nitrogênio, fósforo ou enxofre em sua composição. Fórmula geral [C(H2O)]n, sendo n ≥ 3 Funções dos carboidratos Energética: constituem a principal substância a ser convertida em energia nas células, sob a forma de ATP, particularmente durante o exercício de alta intensidade. Nos animais, são armazenados no fígado e nos músculos como glicogênio. Estrutural: determinados carboidratos proporcionam rigidez, consistência e elasticidade a algumas células. A pectina, a hemicelu- lose e a celulose compõem a parede celular dos vegetais. A quitina forma o exoesqueleto dos artrópodes. Os ácidos nucleicos apresentam carboidratos, como a ribose e a desoxirribose, em sua estrutura. Além dessas funções, os carboidratos têm papel um pouco mais complexo na fisiologia do exercício e na nutrição esportiva: • Evitam a degradação das proteínas para a produção de energia; • Combustível indispensável ao sistema nervoso central; • Atuam como ativadores do metabolismo de gorduras, uma vez que é necessário haver a glicólise e o Ciclo de Krebs para que os acetil-CoA provenientes da lipólise continuem sendo metabolizados e das reações subsequentes ocorra a liberação de energia. Fontes primárias = pães, biscoitos, massas, tubérculos, entre outros. A importância dos carboidratos no exercício Antes – aumentar o conteúdo do glicogênio muscular/hep- ático e aumentar a disponibilidade de glicose no sangue. Durante – manter os níveis sanguíneos de glicose, aumentar a performance e tempo total de exercício e diminuir os níveis plas- máticos de ácidos graxos. Depois – recuperar os estoques de glicogênio muscular. 54/172 11 Os carboidratos podem influenciar a atividade física? O exercício prolongado reduz acentuadamente os níveis de glicogênio muscular, obrigando a constante preocupação com sua cor- reta reposição, fundamental para manter seu efeito ergogênico. Tal equilíbrio na reposição de carboidratos é absolutamente necessário em todas as atividades esportivas, em quaisquer níveis, mas principal- mente nos de alta intensidade e longa duração. No entanto, observa-se uma baixa preocupação dos atletas, de diferentes modalidades, para o consumo da quantidade correta. De maneira geral, a demanda diária recomendada de carboidratos é: • Entre 55–65% da energia total necessária para suprir o gasto energético, mas, em casos especiais, como em dias de treino intenso, pode chegar a 75% das necessidades. Outra forma de expressar as necessidades de carboidratos: • 5–8 g/kg de peso corporal (300 g–600 g de carboidratos), podendo chegar a 12 g/kg de peso corporal. Você se lembra como calcular as calorias dos alimentos? • Os carboidratos e as proteínas fornecem cerca de 4 kcal/g de energia; • Os lipídios fornecem 9 kcal/g; • O álcool fornece 7 kcal/g. Para fazer o cálculo de quilocalorias (kcal) em alimentos, basta multiplicar o peso/g de carboidratos e proteínas por 4, e o peso/g dos lipídios por 9. Exemplo: considerando que os valores de um alimento são: Carboidratos = 13,23 g; Proteínas = 2,3 g e Lipídios = 2,35g Então o cálculo do valor calórico é: kcal totais = 13,23 x 4 +2,3 x 4 + 2,35 x 9 Total= 83,27 kcal Carboidratos vs. exercícios: existem estratégias a serem seguidas? A escolha dos alimentos fontes de carboidrato, assim como a preparação da refeição que antecede o evento esportivo (treino ou prova), deve respeitar as características gastrointestinais individuais dos atletas. A recomendação do fracionamento da dieta em três a cinco re- feições diárias deve considerar o tempo de digestão necessária para a refeição pré-treino ou prova. Atentar a isso é importante porque o tamanho da refeição e sua composição em quantidades de proteínas e fibras podem exigir mais de três horas para o esvaziamento gástrico. Na impossibilidade de esperar por esse tempo para a digestão, pode-se 56/172 evitar o desconforto gástrico com refeições pobres em fibras e ricas em carboidratos. Sugere-se escolher uma preparação com consistência leve ou líquida, com adequação na quantidade de carboidratos. Assim, a refeição que antecede os treinos deve ser suficiente na quantidade de líquidos para manter hidratação, pobre em gorduras e fibras para facilitar o esvaziamento gástrico, rica em carboidratos para manter a glicemia e maximizar os estoques de glicogênio, além de ser moderada na quantidade de proteína e fazer parte do hábito ali- mentar do atleta. Os cuidados com a ingestão de carboidratos devem ser espe- cialmente ressaltados em algumas situações. Confira os exemplos: • Exercícios de longa duração (90 a 120 minutos ou mais) em níveis de intensidade moderados a altos; • Exercícios que exigem explosões intermitentes por um per- íodo prolongado (ex: futebol). A prescrição desse nutriente exige alguns cuidados especiais, a saber: 1) Seleção dos alimentos que o contém • Tipo - os alimentos em questão são fontes do nutriente desejado? • Quantidade - a quantidade dos alimentos é suficiente para atender às necessidades energéticas proporcionais do nutriente? • Qualidade - os carboidratos dos alimentos selecionados são em sua maioria complexos ou simples? 57/172 2) Estratégia • Evitar hiperglicemia • Evitar hipoglicemia • Plenitude gástrica Para a prescrição das refeições antes dos treinos, devemos considerar o tempo de digestão necessária para a refeição. • Quatro horas antes do exercício: 4 a 5 g de carboidratos/kg de peso. Devem ser oferecidos ao atleta sucos, polímeros de glicose, frutas ou amidos; • Uma hora antes do exercício: 1 a 2 g de carboidratos/kg de peso. Devem ser oferecidos ao atleta polímeros de glicose e alimentos de baixo índice glicêmico. Consumo de carboidrato antes do exercício Uma das grandes preocupações no campo da nutrição ap- licada ao esporte está em garantir que o atleta venha a competir ou treinar tendo seu estoque de glicogênio muscular e hepático completa- mente refeito do estresse físico anterior, além de propiciar níveis de glicemia sanguínea dentro da faixa de normalidade, visando a evitar uma condição de hipoglicemia já no início da atividade. A ação de carboidratos antes do exercício poderá ser avaliada sob três aspectos diferentes: 58/172 • O primeiro, está relacionado a uma ação mais prolongada e um planejamento semanal específico, visando a aumentar ao máximo a capacidade de armazenamento de glicogênio muscular. Essa ação é conhecida como dieta de supercom- pensação, a qual abordaremos adiante; • A segunda ação nutricional está associada ao dia do exercí- cio. As recomendações de consumo de carboidratos variam conforme a hora em que é realizada a atividade física; • Por último, uma recomendação específica para a última hora que antecede a atividade física. Dieta de supercompensação do glicogênio muscularPara que o glicogênio muscular seja recuperado nos dias que antecedem a competição e os estoques sejam máximos, são necessári- os alguns cuidados que se iniciam uma semana antes da competição. Os critérios abaixo englobam todas as provas que exigem grande parti- cipação do componente aeróbico. Assim, haverá uma ação combinada: Exercício ‹― Ação combinada ―› Dieta Essa é uma estratégia interessante, indicada principalmente para atletas de elite, e deve ser programada para começar exatamente sete dias antes da competição. Em linhas gerais, deve-se realizar uma ação combinada entre a dieta e o exercício, de modo a, inicialmente, promover um desgaste e depleção das reservas de glicogênio muscu- lar, por meio de treinos intensos e longos e, posteriormente, aumentar a captação de glicogênio pelo músculo, que estará com seus estoques extremamente reduzidos e estará mais apto a realizar essa captação. 59/172 Essa estratégia é indicada para aquelas provas em que haja uma grande participação do componente aeróbio. Esquema de treino • 7º dia antes da prova: treino, em geral, deve ser longo (mais de duas horas de duração), levando ao desgaste e depleção das reservas de glicogênio do músculo; • 6º e 5º dias antes da prova: deve haver uma redução da carga de treino, mas ainda com volumes importantes; • A partir do 4º dia: aplicar treinos mais tranquilos, em uma fase de anabolismo. Esquema da dieta de supercompensação do glicogênio muscular 7º dia: 20% carboidratos, 50% lipídeos, 30% proteínas. 6º dia: 20% carboidratos, 55% lipídeos, 25% proteínas. 5º dia: 25% carboidratos, 50% lipídeos, 25% proteínas. 4º dia: 70% carboidratos, 20% lipídeos, 10% proteínas. 3º dia: 70% carboidratos, 20% lipídeos, 10% proteínas. 2º dia: 75% carboidratos, 15% lipídeos, 10% proteínas. 1º dia: 60% carboidratos, 25% lipídeos, 15% proteínas. Vantagens: 60/172 • Aumento dos estoques de glicogênio muscular; • Aumento do limiar de fadiga; • Facilidade de recuperação; • Maior tempo de duração do exercício; • Maior intensidade do exercício. Desvantagens: • Mioglobinúria; • Desconforto gástrico; • Dores torácicas; • Aumento do peso corporal; • Baixa palatabilidade. Ação nutricional antes de começar a atividade em linhas gerais Pela manhã, entre 6 h e 8 h - É indicado o jejum? Sem maiores problemas, em alguns casos. Em atletas treinados, é possível a realização de provas em jejum, pois: 61/172 • Os estoques de glicogênio muscular e hepático são maiores; • Há maior participação do metabolismo de gorduras. Caso o atleta relate fome, o mais indicado é prescrever alimen- tos leves, como pães integrais, frutas, sucos, entre outros. No meio da manhã, entre 9 h e 11 h - (processo digestivo é mais lento nesse intervalo) - evitar excesso de leite e derivados. Na hora do almoço, entre 12 h e 14h - não almoçar antes. Se for comer, fazer pequeno lanche pelo menos 1 h antes do treino. Os alimentos proteicos (carnes, ovo, leite, iogurtes, queijos) não devem ter seu consumo muito próximo ao início da atividade por terem uma digestão mais demorada. Da mesma forma que os proteicos, alimentos ricos em gordura não devem ter seu consumo muito próximo ao início dos treinos. No meio da tarde, entre 15 h e 17 h (o almoço deve ter- minar até às 12h) - diminuir o volume da refeição. Preferir alimen- tos de fácil digestibilidade. No fim da tarde, entre 18 h e 19 h - caso não ocorram maiores problemas, observar se a ingestão durante o dia foi regular e fracionada. Se for comer, fazer pequeno lanche pelo menos 1 h antes do treino. Os alimentos proteicos (carnes, ovo, leite, iogurtes, queijos) não devem ter seu consumo muito próximo ao início da atividade por terem uma digestão mais demorada. Da mesma forma que os protéi- cos, alimentos ricos em gordura não devem ter seu consumo próximo ao início dos treinos. Horário noturno, entre 20 h e 22 h – caso não ocorram maiores problemas, a recomendação segue o mesmo protocolo aplic- ado no fim da tarde. 62/172 Ação nutricional 60 minutos antes de iniciar a atividade O objetivo principal de uma intervenção nutricional na hora que antecede o exercício é o de procurar manter um estado de eugli- cemia (60-110 mg/dL), evitando o aparecimento de um quadro de hipoglicemia (menor que 60 mg/dL) durante esse período ou no de- correr do exercício físico. O aparecimento de um quadro de hipogli- cemia durante a atividade promove a redução do desempenho, assim como outros reflexos indesejáveis, como tonturas, náuseas, falta de concentração, irritabilidade, redução coordenativa e, em casos mais agudos, desmaio e coma. Quadros de hipoglicemia podem surgir por dois erros aliment- ares que normalmente prejudicam o desempenho atlético. Acompanhe: • o atleta não se alimentar por um período longo de tempo an- terior à prova (mais de quatro horas), iniciando, assim, o ex- ercício com níveis baixos de glicemia, podendo induzir uma hipoglicemia no meio da atividade; • ingerir grandes quantidades de carboidratos entre 30 e 60 minutos antes do treino ou competição. Esse procedimento eleva a taxa de glicemia, disparando, assim, o mecanismo de controle por meio da liberação da insulina, provocando, dessa forma, o aparecimento da “hipoglicemia de rebote” no meio da atividade, prejudicando o rendimento atlético. Visando a evitar o aparecimento de um estado de hipoglicemia indesejável, recomenda-se o consumo de uma “ração de manutenção” entre os 60 e 20 minutos que antecedem o exercício, com o ofereci- mento de carboidratos de baixo índice glicêmico (conforme discutire- mos mais adiante neste módulo), para evitar um rápido aumento da glicemia. Alimentos com alto teor de frutose podem ser uma 63/172 alternativa interessante para essa fase. Alguns exemplos de alimentos que podem constituir essa “ração de manutenção” são: • Uma porção de fruta a cada 40 minutos (as frutas são ricas em frutose, que não necessita de insulina para entrar na célula); • Sucos diversos; • Alimentos ricos em carboidratos, em pequenos volumes, principalmente quando a atividade ocorrer no horário entre 18h e 19h (ex: barra de cereais). Entretanto, visando a maximizar os estoques de carboidratos sem o risco de uma “hipoglicemia de rebote”, é possível estabelecer nos últimos 20 minutos uma oferta de carboidratos, preferencial- mente sob a forma líquida, totalizando 50-60 g do nutriente. Essa en- ergia poderá ser disponibilizada oferecendo-se líquidos em dois mo- mentos prévios, 20 minutos antes e imediatamente antes do início da atividade. É importante considerar que esse fornecimento de energia exógena não aumenta o rendimento do atleta, mas prolonga sua capa- cidade de realização, sendo que, quanto maior o tempo de atividade, maior o impacto positivo dessa estratégia. Uma estratégia alternativa seria o oferecimento de carboidratos 20 minutos e imediatamente antes do início da atividade. Podem ser oferecidos, por exemplo, 250 mL de bebida carboidratada ao atleta. Para uma prescrição mais individualizada, recomenda-se a ingestão dessa bebida na proporção de 3 mL/kg de peso corporal para homens e 2 mL/kg de peso corporal para mulheres. Atenção! 64/172 As recomendações aqui comentadas são guias gerais. É necessário treinar o sis- tema digestivo do atleta para adaptar-se à quantidade de líquidos e energia ofere- cida, a fim de se evitar problemas gastrointestinais. Fatores psicológicos, como o estresse competitivo, também po- dem alterar a resposta digestiva, assim como adaptações hormonais individuais podem impor diferentes recomendações. Ingestão de carboidratos durante o exercício O ritmo de utilização da glicose a partir do glicogênio armazenado no corpo pode ser reduzido pelo suprimento de carboidrato oral. Exemplo: quando o carboidrato contido em um ali- mento é ingerido, digerido e absorvido, ele penetrará,após a digestão, na circulação na forma dos monossacarídeos componentes, principal- mente glicose e frutose. Consequentemente, a glicose sanguínea aumenta após a ingestão oral de carboidratos. Essa elevação reduz a necessidade de fracionar o glicogênio hepático para a manutenção de um nível sanguíneo apropriado de glicose. A partir disso, o suprimento de glicose pura e a captação de glicose pelo músculo serão elevados. Em verdade, uma grande evidência científica mostra que a ingestão oral de carboidrato reduz a produção de glicose pelo fígado, mas eleva a glicose sanguínea em um ritmo semelhante. A glicose sanguínea aumentada após a ingestão de carboidrato estimula a liberação de in- sulina e, com ela, a captação de glicose pelo músculo, assim como a oxidação subsequente do carboidrato. Teoricamente, esses eventos 65/172 reduzem o ritmo de degradação do glicogênio e da proteína dos mús- culos para a produção de energia, e retardam o início da fadiga, além de aprimorarem o desempenho. Para o exercício que dura mais de 45 minutos, recomenda-se que sejam consumidos pelo menos 20g de carboidratos, não ultrapas- sando o limite de 60g, com uma quantidade de líquido suficiente, dur- ante cada hora subsequente de exercício. Essas quantidades não retar- dam o esvaziamento gástrico num grau fisiologicamente importante e estimulam a absorção de água no intestino. Esse aspecto é de particu- lar importância nos eventos de endurance em um clima quente, quando a disponibilidade tanto de carboidratos quanto de líquidos pode ser um fator capaz de limitar o desempenho. As fontes de carboidratos usadas devem ser rapidamente digeríveis e absorvíveis. São mais eficientes as fontes de carboidratos que podem ser ingeridas com um líquido (solúveis). O ritmo de esvaziamento gástrico deve ser relativamente rápido e a forma física do carboidrato deve permitir a digestão/hidrólise enzimática rápida. Isso não ocorre com todas as formas de carboidratos. Por exemplo, as fibras alimentares nas quais estão “acondicionadas” algumas fontes de carboidratos podem formar uma barreira física para as enzimas digestivas e reduzir, dessa forma, o ritmo de esvaziamento gástrico. As refeições diárias normais devem conter principalmente alimentos ricos em carboidratos lentamente di- geríveis e fibras que resultem em um baixo índice glicêmico. Exemplos desses alimentos são os produtos com grãos integrais. No entanto, os alimentos ingeridos pouco antes e durante o exercício devem ser pobres em fibras alimentares e possuir um alto índice glicêmico, para proporcionar um esvaziamento gástrico e uma digestão/absorção rápidos. A razão para esse aparente paradoxo consiste no fato de que as fibras alimentares podem reduzir o esvaziamento gástrico e diminuir o grau com que as enzimas conseguem alcançar o amido para a hidról- ise. Por outro lado, as fibras aumentam o volume do conteúdo 66/172 gastrointestinal por causa da captação de água e tumefação. As fibras insolúveis aceleram o trânsito no intestino, enquanto as solúveis po- dem estar sujeitas à fermentação bacteriana, acarretando a produção de gases. O amolecimento do conteúdo intestinal pelas fibras e o con- sequente trânsito intestinal acelerado são desejáveis nos indivíduos sedentários, mas podem criar um problema durante o exercício in- tensivo. Esses fatores podem explicar porque os atletas que ingerem alimentos com grãos integrais de digestão lenta, antes e depois do ex- ercício, experimentam mais problemas gastrointestinais que os atletas que ingerem produtos pobres em fibras. As fontes ótimas de carboidratos para os eventos de endur- ance de alta intensidade são aqueles carboidratos processados (pré-di- geridos) que são pobres em fibras alimentares, como: • Monossacarídeos (glicose); • Dissacarídeos (sacarose, maltose); • Polímeros de glicose (maltodextrina); • Amidos. Esses tipos de carboidratos proporcionam um benefício adi- cional por serem dissolvidos facilmente nos líquidos, o que constitui um aspecto importante, pois as demandas de carboidratos e de líquid- os são determinadas pela intensidade e duração do exercício. Os tipos de carboidratos listados anteriormente se revelaram igualmente efet- ivos no sentido de aumentar os níveis sanguíneos de glicose e os rit- mos de oxidação durante o exercício, assim como em aprimorar o desempenho. Os efeitos sobre os níveis sanguíneos de insulina durante o exercício também não parecem ser diferentes. 67/172 Alguns dos primeiros estudos mostraram que a ingestão de 50-70 g de carboidratos rapidamente absorvíveis antes do exercício in- duz uma elevação rápida na glicose e insulina sanguíneas e uma “hipoglicemia de rebote”, assim como um desempenho reduzido dur- ante o exercício subsequente. Entretanto, esses estudos foram realiza- dos após um jejum noturno e o carboidrato foi ingerido no estado de repouso, 45-60 minutos antes do exercício. Essas condições não são comparáveis àquelas do atleta de endurance, que deve fazer um desjejum pré-atividade e realizar um aquecimento antes do início da competição. Em linhas gerais, podemos estabelecer que as diretrizes prát- icas em relação à ingestão de água e carboidratos durante o exercício físico devem levar em consideração o volume, a composição e a tem- peratura da solução carboidratada a ser ingerida, a frequência de in- gestão e os horários. Um esquema simples de administração de água e solução carboidratada (SC) pode ser conferido no quadro a seguir (Quadro 1): 15’ 30’ 45’ 60’ 75’ 90’ 105’ 120’ H2O H2O H2O SC H2O H2O SC H2O Quadro 1 – Esquema simples de administração de água e solução carboidratada Recomenda-se que 20 minutos antes da atividade e imediata- mente após a conclusão do exercício seja consumida a solução carboidratada. A quantidade a ser administrada, a cada 15 minutos, conforme já discutido anteriormente, pode ser individualizada para at- letas do sexo masculino e feminino. Assim, a recomendação é que ho- mens ingiram 3 mL de água ou solução carboidratada/kg de peso cor- poral e que mulheres ingiram 2 mL/kg de peso corporal. 68/172 Atenção! É indicado que sejam escolhidas soluções carboidratadas que possuam de 5 a 7% de carboidratos quando o clima estiver quente e de 7 a 9% quando o clima estiver mais frio. Ingestão de carboidratos após o exercício Após o exercício, o reservatório de carboidratos endógenos de- ve ser reabastecido. Dependendo do tempo disponível para a recuper- ação total, isto é, o tempo transcorrido entre o término do exercício e a próxima atividade desportiva, pode ou não ser necessário acelerar a recuperação. A síntese de glicogênio é mais rápida durante as primeir- as horas após o exercício. Daí em diante, o ritmo de ressíntese declin- ará gradualmente. A própria síntese de glicogênio só será possível se forem fornecidas as substâncias estruturais necessárias, isto é, as moléculas de glicose. O ritmo de síntese de glicogênio, portanto, de- pende da velocidade de regulação dessa síntese e do oferecimento de glicose. Este depende em grande parte do tipo de alimento ingerido, isto é, da velocidade de digestão e absorção. A própria fonte de carboidrato também pode ser importante. A glicose favorece a recu- peração do glicogênio muscular, enquanto a frutose é captada princip- almente pelo fígado, favorecendo, assim, a recuperação do glicogênio hepático. Quando for realizada a próxima atividade após um ou dois dias, o atleta poderá recuperar-se convenientemente ingerindo re- feições normais com um alto conteúdo de carboidratos, isto é, 55-65% do valor energético total (VET). Essas refeições devem ser compostas 69/172 preferencialmente por alimentos com um baixo índice glicêmico, como grãos integrais, cereais, hortaliças e algumas frutas. Nessa condição, é favorável uma digestão e uma absorção relativamente lentas. Desse modo, 400-600 g de carboidrato por dia devem
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