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Excelentíssima Senhora Doutora Juíza de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de Nova Friburgo – RJ
Processo nº …
Jerusa …, já devidamente qualificada nos autos em epígrafe, vem mui respeitosamente a este juízo por sua advogada in fine assinada, com endereço profissional à interpor 
Recurso Em Sentido Estrito
com fulcro no art. 581, VI do CPP, da decisão que a pronunciou como incursa no art. 121, c/c art. 18, I parte final, ambos do CP, objetivando a desclassificação com base nas razões anexas e, caso seja negativo o juízo de retratação, requer que sejam os autos enviados ao tribunal.
Nestes termos, pede deferimento.
Nova Friburgo, 09 de agosto de 2016.
Razões de Recurso Estrito
Recorrente: Jerusa ...
Recorrido: Ministério Público
Nº processo de origem: ...
Juízo de origem: 1ª Vara Criminal do Tribunal do Juri da Comarca de Nova Friburgo – RJ
Egrégio Tribunal, 
Colenda Câmara Criminal,
Em que pese o indiscutível saber jurídico do MM. juiz "a quo", impõe-se a reforma de respeitável sentença que pronunciou o Recorrente, pelas seguintes razões de fato e fundamentos a seguir expostas:
Dos Fatos e Direitos
A Recorrente foi denunciada, processada e pronunciada como incursa no art. 121 c/c Art. 18, I parte final, ambos do CP. 
A vítima vinha em sentido oposto e, como pode ser verificado nos autos, em velocidade acima da suportada pela via.
A recorrente ao ultrapassar em uma via de mão dupla, ainda que dentro dos padrões de velocidade, cometeu uma negligência, ou seja, dentro da descrição do art. 18, II do CP conduta culposa. 
Em um acidente automobilístico como o descrito não há que se falar em dolo e sim em culpa consciente. A condutora do veículo/recorrente teve a certeza de que não aconteceria o acidente, e que em uma remota hipótese acontecesse, poderia evitá-lo, o que infelizmente não aconteceu. 
Segundo Sílvio Maciel fica classificado assim: 
“De acordo com nosso Código Penal só há crime se houver dolo ou culpa na conduta do agente. Não havendo um desses elementos subjetivos o fato é atípico. E ainda de acordo com o Código mencionado, há dolo não só quando o agente quer o resultado (direciona sua conduta especificamente para um determinado resultado – dolo direto), mas também quando ele assume o risco de causar um resultado previsto (dolo eventual). É dizer, na letra expressa da lei, também há dolo (dolo eventual) quando o agente “assume o risco” de causar o resultado criminoso.
Mas essa formula empregada pela lei – “assumir o risco” – torna o dolo eventual muito próximo da denominada culpa consciente, o que faz gerar, consequentemente, inúmeros problemas práticos na aplicação de tais institutos. E a confusão se dá por duas razões:
1ª) em ambos os institutos o agente prevê o resultado e mesmo assim prossegue praticando a conduta, ou seja, em ambos os casos não há mera previsibilidade (possibilidade de previsão); há mais do que isso, há efetiva previsão do resultado;
2ª) a expressão “assumir o risco”, se tomada em seu sentido comum, leigo, permite considerar como dolosa qualquer conduta que a rigor é culposa, já que a culpa nada mais é do que uma conduta arriscada. Exemplificativamente, aquele que excede a velocidade do automóvel para chegar a tempo em um lugar praticou conduta arriscada. Aos olhos do leigo, “assumiu o risco” do acidente.
Essa segunda questão acima apontada, de ordem semântica, é muito problemática nos casos de homicídios no trânsito. Se o condutor está embriagado ou em situação de “racha” lhe é imputado o crime de homicídio doloso, ainda que nos autos não haja um elemento concreto sequer de que o agente de fato tenha atuado com dolo eventual. E como o julgamento do homicídio doloso é realizado por juízes leigos (jurados) torna-se muito fácil convencê-los de que o réu “assumiu o risco” e por isso agiu com dolo eventual.
Mas o STF, no dia 06 de setembro p. F., no julgamento do HC 107801, acertadamente, recolocou o dolo eventual e a culpa consciente nos seus devidos lugares, criando assim um precedente que poderá evitar a aplicação indevida de tais institutos, principalmente no procedimento do Júri. De acordo com o site oficial da Corte “A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, na tarde de hoje (6), Habeas Corpus (HC 107801) a L. M. A., motorista que, ao dirigir em estado de embriaguez, teria causado a morte de vítima em acidente de trânsito. A decisão da Turma desclassificou a conduta imputada ao acusado de homicídio doloso (com intenção de matar) para homicídio culposo (sem intenção de matar) na direção de veículo, por entender que a responsabilização a título “doloso” pressupõe que a pessoa tenha se embriagado com o intuito de praticar o crime. Ao expor seu voto-vista, o ministro Fux afirmou que “o homicídio na forma culposa na direção de veículo automotor prevalece se a capitulação atribuída ao fato como homicídio doloso decorre de mera presunção perante a embriaguez alcoólica eventual”. Conforme o entendimento do ministro, a embriaguez que conduz à responsabilização a título doloso refere-se àquela em que a pessoa tem como objetivo se encorajar e praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. O ministro Luiz Fux afirmou que, tanto na decisão de primeiro grau quanto no acórdão da Corte paulista, não ficou demonstrado que o acusado teria ingerido bebidas alcoólicas com o objetivo de produzir o resultado morte. O ministro frisou, ainda, que a análise do caso não se confunde com o revolvimento de conjunto fático-probatório, mas sim de dar aos fatos apresentados uma qualificação jurídica diferente. Desse modo, ele votou pela concessão da ordem para desclassificar a conduta imputada ao acusado para homicídio culposo na direção de veiculo automotor, previsto no artigo 302 da Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro)”.(www.stf.gov.br)” 
Nota-se que na exemplificação do STF caso agente tivesse se embriagado com o intuito de cometer o ato típico poderia ser considerado dolo. Porém, caso não tivesse se embriagado com esse intuito não poderia ser considerado dolo.
No caso em tela, a recorrente sequer fez uso de álcool, ou seja, acreditou que nenhum acidente aconteceria e que se por alguma remotíssima hipótese ameaçasse acontecer, diante a sua sobriedade, sua velocidade compatível com a via teria perfeitas condições físicas e psicológicas de evitar qualquer situação atípica.
Culpa consciente ou dolo eventual trata-se de conceitos subjetivos por que não temos como saber de fato o que se passou na hora/momento da tomada de decisão, ainda segundo o mesmo autor seria necessário “vidência” para sabermos objetivamente o que de fato ocorreu. 
No caso de culpa o agente acredita piamente de que será capaz de se desvencilhar de qualquer situação e que ninguém sairá prejudicado de forma alguma com a atitude praticada. Já na segunda hipótese o agente não tem essa certeza e assume o risco, ou seja, sabe da possibilidade e não acredita que será capaz de se desvencilhar da situação sem prejuízo de outras pessoas, ainda assim não tem a intenção de ferir ou prejudicar ninguém. 
O dolo eventual somente caracteriza-se quando a conduta do agente ultrapassar os limites da normalidade, neste caso fica muito mais fácil visualizar na situação da vítima que além de fazer uma ultrapassagem em uma via de mão dupla imprimia velocidade maior que a suportada pela via, ou seja, ele não se preocupou com o possível resultado. 
Gulherme Didomênico define assim: 
“A linha se separação entre o dolo eventual e a culpa consciente é muito sutil, e por vezes ela se rompe, confundindo os conceitos e dificultando uma correta aplicação. Importante observação é feita pelo professor da Universidade Federal de Minas Gerais, José Barcelos de Souza[9]: “O que costuma ocorrer, efetivamente, em delitos de trânsito, não é um imaginado dolo eventual, mas uma culpa consciente, grau mais elevado de culpa, muito próxima do dolo, que, entretanto, não chega a configurar-se”.”
Não setem a certeza da intenção do condutor durante a ação e um dos grandes e melhores institutos do direito penal quando surge a dúvida é o “in dubio pro reo”.
Têm-se por conceito de negligência quando o agente deixa de tomar uma atitude ou apresentar conduta que era esperada para a situação. Age com descuido, indiferença ou desatenção, não tomando as devidas precauções. 
A negligência não está definida no Código Penal como fato típico, mas aquele que gera a conduta culposa conforme artigo 18, II do CP. Ora se a classificação que melhor se encaixa ao fato é diversa daquela feita pelo juízo a quo só resta pedir que seja feita a devida classificação para que a JUSTIÇA SEJA FEITA.
Na definição de Santos Fiori Netto a solução para Dolo Eventual ou Culpa Consciente fica assim: 
“Culpa vem do latim culpa que significa “erro cometido por inadvertência ou por imprudência”, e homicídio do latim homicidium que significa morte violenta, mas “é geralmente entendido como toda ação que possa causar a morte de um homem”. (SILVA, 1999, p. 233 e p. 398).
O homicídio culposo no trânsito está tipificado no Código de Trânsito Brasileiro em seu artigo 302.
CTB – Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
No Código Penal também existe o crime de homicídio culposo, mas não para aquelas condutas praticadas no trânsito.”
Fica mais perfeita a aplicação no caso em tela a culpa recíproca uma vez que ambos tiveram condutas parecidas.
Em julgado o TJ RS entendeu por culpa recíproca situação idêntica.
“Ementa: ACIDENTE DE TRÂNSITO. CULPA RECÍPROCA. CONDUTORES QUE TRAFEGAM NA MESMA VIA, PORÉM EM SENTIDO CONTRÁRIO, TENDO O DEMANDANDO MANOBRADO À ESQUERDA SEM A DEVIDA SINALIZAÇÃO E CAUTELA, VINDO A SER ABALROADO PELO AUTOR QUE TRAFEGAVA EM VELOCIDADE INCOMPATÍVEL COM A VIA. DANO MATERIAL CONFIGURADO. LEGITIMIDADE ATIVA. ORÇAMENTOS DA MOTOCICLETA QUE ESTÃO EM NOME DO CONDUTOR, PRESUMINDO SER ELE O RESPONSÁVEL PELO PAGAMENTO DAS AVARIAS. LUCROS CESSANTES NÃO COMPROVADOS. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. RECURSO DO RÉU PROVIDO. RECURSO DO AUTOR PROVIDO EM PARTE. (Recurso Cível Nº 71004392940, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Marta Borges Ortiz, Julgado em 26/11/2013)”
Do Pedido
Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, Desclassificando o fato de dolo eventual para culpa consciente. 
Em caso, remotíssima hipótese, de não provimento ao recurso requer a manifestação expressa no acórdão das razões de não aplicação do artigo 18, II do CP e do artigo 81, parágrafo único do CPP, para fins de eventual interposição Recursal.
Nestes termos, 
pede deferimento.
Nova Friburgo, 13 de agosto de 2016.
Advogada
OAB/UF

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