Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini d) o fornecimento a qualquer pessoa que o solicite, verbalmente ou por certidão, de informações sobre os feitos distribuídos; e) a baixa na distribuição dos feitos, quando isto lhe for determinado pelos Presidentes das Juntas, formando, com as fichas correspondentes, fichários à parte, cujos dados poderão ser consultados pelos interes- sados, mas não serão mencionados em certidões". 1.4. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO 1.4.1. Jurisdição e competência O Estado é detentor do monopólio da Justiça, somente a ele cabendo dizer o direito. A jurisdição, por consequência, consiste no poder/dever do Estado de prestar a tutela jurisdicional a todo aquele que tenha uma pretensão resis- tida por outrem, aplicando a regra jurídica à celeuma. O exercício da jurisdição pelo Estado restabelece a ordem jurídica, me- diante eliminação do conflito de interesses que ameaça a paz social. A jurisdição, portanto, é una e indivisível. Neste contexto, podemos conceituar competência como a medida da jurisdição, ou seja, a determinação da esfera de atribuições dos órgãos encarregados da função jurisdicional As regras fixadoras da competência se encontram dispostas na Carta Maior e nas leis infraconstitucionais. Diversos critérios para determinação da competência foram criados, levando-se em conta a matéria (ratione materiae), as pessoas (ratione per- sonae), a função (ou hierarquia) ou o território (ratione toei). O tema competência na seara trabalhista ganhou grande importância em função da alteração introduzida pela EC 45/2004, a qual, ao modificar a redação do art. 114 da CF/1988, elasteceu, consideravelmente, a competên- cia material da Justiça do Trabalho, razão pela qual procuraremos analisar, específica e exaustivamente, todas as regras e peculiaridades envolvendo o tema. 1.4.2. Competência em razão da matéria e da pessoa A competência em razão da matéria é definida em função da natureza da lide descrita na peça inaugural, ou seja, a competência é firmada em função da causa de pedir e dos pedidos contidos na petição inicial. Capítulo! • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA No âmbito da Justiça Laborai, a competência é definida em razão da matéria e tem como fundamento jurídico principal o art. 114 da Carta Maior, artigo este alterado pela EC 45/2004, a qual ampliou, significativamente, a competência material da Justiça do Trabalho. Atente-se para a nova redação do art. 114 da Carta Maior: "Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV - os mandados de segurança, habeas corpus e hobeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decor- rentes da relação de trabalho; VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1.° Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. § 2.° Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza económica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. § 3.° Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito." Em função da importância do tema, passemos a analisar, individualmente, as mudanças implementadas pela EC 45/2004 à competência material da Justiça do Trabalho estabelecida no art. 114 da Carta Maior. 36 PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini 1.4.2.1. Ações oriundas da relação de trabalho Seguramente, a mais importante inovação trazida peta EC 45/2004 foi a ampliação da competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações oriundas das relações de trabalho (art. 114, I, da CF/1988). Relação de trabalho corresponde a qualquer vínculo jurídico por meio do qual uma pessoa natural executa obra ou serviços para outrem, mediante o pagamento de uma contraprestação. Podemos afirmar, portanto, que a relação de trabalho é género da qual a relação de emprego é uma espécie. Em outras palavras, toda relação de emprego corresponde a uma relação de trabalho, mas nem toda relação de trabalho corresponde a uma relação de emprego. Quando se fala, portanto, em relação de trabalho, incluem-se a relação de emprego, a relação de trabalho autónomo, eventual, avulso, voluntário, estágio e a relação de trabalho institucional. Antes da EC 45/2004, a Justiça do Trabalho era competente para pro- cessar e julgar apenas as ações envolvendo as relações de emprego e as demandas resultantes dos contratos de empreitada, em que o empreiteiro fosse operário ou artífice, e as ações entre os trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão Gestor de Mão de Obra - QGMO. O art. 652, a, III, da CLT, já determinava que competia às Varas do Tra- balho conciliar e julgar os dissídios resultantes de contratos de empreitada em que o empreiteiro fosse operário ou artífice. Após a EC 45/2004, mesmo que a Consolidação das Leis do Trabalho não estabelecesse em seu bojo essa possibilidade, tem a Justiça do Trabalho competência para processar e julgar as demandas envolvendo o pequeno empreiteiro ou artífice, em função de expressa previsão no art. 114, I, da Carta Maior. O mesmo ocorre em relação aos litígios entre os trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão Gestor de Mão de Obra - OGMO. Portanto, após a EC 45/2004, passou a Justiça do Trabalho a ter com- petência para processar e julgar qualquer relação de trabalho e não só a relação de emprego. Nesta esteira, um pedreiro, um pintor, um marceneiro, ou qualquer outro profissional autónomo que não receber pelos serviços prestados, embora não seja empregado do tomador de serviços em função da ausência de subordi- nação, ajuizará eventual demanda perante a Justiça laborai. Capítulo! • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA 37 Logo, o Poder Judiciário Trabalhista passa a ter competência para análise de todos os conflitos decorrentes da relação de trabalho em sentido amplo. Nesse sentido, temos o posicionamento do STJ. No finai do ano de 2008, este Tribunal editou a Súmula 363 estabelecendo que: "Compete à justiça estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente". Predomina, portanto, o entendimento de que as ações entre o consumidor e o prestador dos serviços são de competência da Justiça Comum e não da Justiça do Trabalho. Em relação às ações acidentarias (previdenciárias) decorrentes de acidente de trabalho, embora envolvam situações decorrentes da relação de trabalho não se encontram na esfera de competência material da Justiça do Trabalho, sendo a Justiça Ordinária (Varas de Acidente de Trabalho) competente para processar e julgar ação acidentaria proposta pelo empregado (acidentado segurado)em face do INSS (seguradora), conforme previsto no art. 643, § 2.°, da CLT. O Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu, em 20.02.2013, no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 586456, que cabe à Justiça Comum julgar processos decorrentes de contrato de previdência comple- mentar privada. Como a matéria teve repercussão geral reconhecida, o entendimento passa a valer para todos os processos semelhantes que tramitam nas diversas instâncias do Poder Judiciário - sobretudo na Justiça do Trabalho. No mesmo julgamento, o STF decidiu também modular os efeitos da decisão e definiu que continuam na Justiça do Trabalho todos os processos que já tiverem sentença de mérito proferida até 20.02.2013. Os demais processos em tramitação que ainda não tiveram sentença, a partir desta data, deverão ser remetidos à Justiça Comum. O STF entendeu que o art. 202, § 2.°, da CF determina que a previdên- cia complementar não integra o contrato de trabalho, tanto que é possível a portabilidade do direito acumulado pelo participante para outro plano, consoante autoriza o art. 14, II, da LC 109/2001. A competência da Justiça Comum para julgar processos decorrentes de contrato de previdência complementar privada abrange, naturalmente, a com- plementação de pensão requerida por viúva, de modo que a OJ 26 do TST, que estabelece que "a Justiça do Trabalho é competente para julgar pedidos de complementação de pensão postulada por viúva de ex-empregado, por se tratar de pedido que deriva do contrato de trabalho", dever ser cancelada. 38 PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini 1.4.2.2. Entes de direito público externo Os entes de direito público externo dividem-se em: estados estrangeiros e organismos internacionais (ONU, OIT, OTAN). Quanto à competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que em relação aos Estados Estrangeiros seus atos se classificam em: atos de gestão e de im- pério. No tocante aos atos de império, como, por exemplo, a concessão de visto para entrada no país, a imunidade é absoluta, logo são atos que não se sujeitam às decisões da Justiça do Trabalho brasileira. Já com referência aos atos de gestão, praticados por Estados Estrangeiros, como é o caso de contratação de trabalhadores, não há que se falar em "Imunidade de ju- risdição", possuindo a Justiça laborai competência para processar e julgar demanda envolvendo estes entes de direito público externo. Todavia, permanece o entendimento da Suprema Corte de que estes entes de direito público externo possuem "imunidade de execução", ou seja, embora tenha a Justiça laborai competência para processar e julgar demanda os envolvendo, ela não possui competência para executar seus julgados, devendo socorrer-se aos apelos diplomáticos, mediante a deno- minada carta rogatória. Em outras palavras, o STF (RE. 222.368-Agr/PE) firmou entendimento de que os Estados Estrangeiros mantêm como prerrogativa institucional a imunidade de execução, ressalvadas as hipóteses excepcionais de renúncia por parte do Estado Estrangeiro à prerrogativa da intangibilidade dos seus próprios bens ou da existência em território brasileiro de bens que, embora pertencentes ao ente externo, não tenham qualquer vinculação com as fina- lidades essenciais inerentes às de legações diplomáticas ou representações consulares mantidas no Brasil. Por sua vez, as organizações ou organismos internacionais gozam de imunidade absoluta de jurisdição quando amparados por norma internacio- nal incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, não se lhes aplicando a regra do Direito Consuetudinário relativa à natureza dos atos praticados. No mesmo contexto, confira a OJ 416 da SDI-I/TST: "OJ 416. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. ORGANIZAÇÃO OU ORGANISMO INTERNACIONAL. As organizações ou organismos internacionais gozam de imunidade absoluta de jurisdição quando amparados por norma in- ternacional incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, não se lhes Capítulo! • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA aplicando a regra do Direito Consuetudinário relativa à natureza dos atos praticados. Excepcionalmente, prevalecerá a jurisdição brasileira na hipótese de renúncia expressa à clausula de imunidade jurisdicional". 1.4.2.3. Servidores da administração pública A EC 45/2004, ao estabelecer a amplitude da competência material da Justiça do Trabalho, estendeu-a aos dissídios envolvendo os entes da admi- nistração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, sem estabelecer qualquer ressalva (art. 114, I, CF/1988). Em verdade, o texto original da PEC 29/2000 (que originou a EC 45/2004), aprovado pelo Senado Federal em 17.11.2004, continha a ressalva de que não seriam submetidas à Justiça do Trabalho as ações que envolvessem os servidores ocupantes de cargos criados por lei, de provimento efetivo ou em comissão, incluídas as autarquias e fundações públicas dos referidos entes da federação. Todavia, a redação final publicada não abrangeu a exceção votada e aprovada pelo Senado Federal, o que gerou inconformismo pelos órgãos de classe dos juizes federais, em especial a Ajufe - Associação dos Juizes Federais do Brasil -, a qual, em 25.01.2005, ajuizou ação direta de incons- titucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, Processo 3.395-6, em face da redação contida no inciso I do art. 114 da Carta Maior. O Min. Nelson Jobim concedeu liminar para interpretar o citado dispo- sitivo constitucional, suspendendo toda e qualquer interpretação dada ao inciso I do art. 114 da CF, na redação dada pela EC 45/2004, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a apreciação de causas que sejam instauradas entre seus servidores e o Poder Público, a este vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo. Vale mencionar que o posicionamento adotado pelo Ministro Nelson Jobim foi referendado pelo Plenário do STF no dia 05.04.2006, no julgamento da já mencionada Ação Direta de Inconstitucionalidade n.° 3.395-6. Portanto, em face da interpretação manifestada pelo Supremo Tribunal Federal, temos que a Justiça do Trabalho é incompetente para conciliar e julgar as ações envolvendo servidores públicos estatutários, sendo competente a Justiça Federal (no caso de ações que envolvam servidores públicos federais) ou a Justiça Estadual (na hipótese de ações que envolvam servidores públicos estaduais ou municipais). PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini Vale destacar que o STF vem decidindo, reiteradamente, que, em caso de contratação temporária realizada pela Administração Pública, mesmo que irregular, a competência para julgamento de eventual ação não será da Justiça do Trabalho, mas sim da Justiça Federal ou Estadual (conforme o ente público envolvido), conforme se observa pela transcrição do seguinte julgado: "CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL E O TRIBU- NAL SUPERIOR DO TRABALHO. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA. SERVIDOR PÚBLICO. REGIME ESPECIAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO. COMPETÊN- CIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. I - Compete à Justiça Estadual processar e julgar causas instauradas entre o Poder Público e seus servidores submetidos a regime especial disciplinado por lei local editada antes ou após a Constituição Republicana de 1988. II - Conflito conhecido para declarar competente a Justiça Estadual amazonense. (RECLAMAÇÃO STF 5.381/AM)" Contudo, se o servidor da administração pública direta, indireta, au- tárquica ou fundacional for regido pela Consolidação das Leis do Trabalho, será a Justiça laborai competente para conciliar e julgar os dissídios entre o denominado "empregado público" e a administração pública. A empresa pública e a sociedade de economia mista que, nos termos do art. 173, § 1.°,II, da CF/1988, explorem atividade económica, serão submetidas ao regime próprio das empresas privadas, constituindo-se em pessoas jurídicas de direito privado, com empregados regidos pela norma consolidada. A Súmula 97 do STJ dispõe que, se houver mudança de regime do servi- dor de celetista (contratual) para estatutário, permanece a competência da Justiça do Trabalho em relação aos direitos oriundos do contrato celetário. Por sua vez, a Súmula 137 do STJ menciona que compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação de servidor público municipal, pleiteando direitos relativos ao vínculo estatutário. Já a Súmula 218 do STJ fixa a competência da Justiça dos Estados para processar e julgar ação de servidor estadual decorrente de direitos e van- tagens estatutários no exercício de cargo em comissão. O TST, por meio da OJ n.° 138, da SDI-I/TST, com redação dada pela Rés. Adm. 129/2005, DJ 20.04.2005, quanto à competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar demandas envolvendo servidores públicos, assim estabeleceu: Capítulo 1 • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA "COMPETÊNCIA RESIDUAL. REGIME JURÍDICO ÚNICO. LIMITAÇÃO DA EXECUÇÃO. Compete à Justiça do Trabalho juigar pedidos de direitos e vantagens previstos na Legislação trabalhista referente a período an- terior à Lei 8.112/1990, mesmo que a ação tenha sido ajuizada após a edição da referida lei. A superveniência de regime estatutário em substituição ao celetista, mesmo após a sentença, limita a execução ao período celetista." Destacamos, ainda, a Súmula 430 do TST: "SÚMULA 430 DO TST. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA. CONTRATAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. NULIDADE. ULTERIOR PRIVATIZAÇÃO. CONVALIDAÇÃO. INSUBSISTÊNCIA DO VÍCIO. Convalidam-se os efeitos do contrato de trabalho que, considerado nulo por ausência de concurso público, quando celebrado originalmente com ente da Administração Pública Indireta, continua a existir após a sua privatização". 1.4.2.4. Ações que envolvam o exercício do direito de greve O inciso II do novo art. 114 da CF/1988 assegurou à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar as açoes que envolvam o exercício do direito de greve, havendo a possibilidade do manejo, nesta hipótese, de ações individuais e/ou coletivas. O exercício abusivo do direito de greve pode gerar o manejo de ações coletivas disciplinadas nos §§ 2.° e 3.° do art. 114 da Carta Maior (dissídio coletivo de greve proposto pelo sindicato patronal, empresa ou Ministério Público). Por outro lado, o exercício irregular do direito de greve também pode gerar a propositura de ações individuais (de competência da Justiça do Tra- balho), como as ações de reparação propostas pela empresa ou por qualquer interessado em face de danos causados pelo sindicato profissional, ou mesmo pelos trabalhadores em função de uma greve abusiva; ações indenizatórias, de obrigação de fazer, para assegurar durante a greve a prestação de servi- ços individuais; e ainda ações possessórias. Ressalte-se que, nesses casos, a competência é das Varas do Trabalho. Portanto, nas ações individuais que envolvam o exercício do direito de greve poderemos ter como partes (autor e réu): empresas, sindicatos, 42 PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini empregados, dirigentes sindicais, usuário do serviço paralisado etc., sendo a Justiça laborai competente para dirimir o conflito. Entendemos que passou também a Justiça do Trabalho a ter competência para processar e julgar as ações possessórias de interditos proibitórios entre empregado e/ou sindicato profissional e empregador em face do exercício do direito de greve. Nesta linha, o STF editou a Súmula Vinculante 23, estabelecendo que a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada. Tal entendimento compatibiliza-se com o pronunciado do STF na ADI 3.395, segundo o qual, a Justiça do Trabalho não é competente para processar e julgar as causas entre o poder público e seus servidores estatutários, ou entre o poder público e os que possuam com este outros regimes jurídicos administrativos. É pacífico, porém, que compete à Justiça do Trabalho, à luz do art. 114, da CF, processar e julgar as ações que en- volvam exercício do direito de greve, em caso de trabalhadores submetidos a regime celetista, inclusive em caso de empregados de empresas públicas e sociedades de economia mista. Seguindo o mesmo raciocínio, aplica-se também o posicionamento do STF consubstanciado na ADI 3.684, razão pela qual se pode afirmar que a Justiça do Trabalho não é competente para julgar as ações penais decorrentes do exercício do direito de greve. 1.4.2.5. Ações sobre representação sindicai O inciso III do novo art. 114 da CF/1988 atribui competência à Justiça do Trabalho para processar e julgar ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores e entre sindicatos e empregadores. Inicialmente, tendo em vista que o diploma constitucional em comento somente se refere a "sindicatos", entendemos que deve ser conferida uma interpretação extensiva ao texto legal, para nele compreender também as federações e confederações. Com a inovação trazida pela EC 45, passaram as lides intersindicais en- volvendo disputa de base territorial a ser julgadas pela Justiça do Trabalho e não mais pela Justiça Estadual, como era anteriormente. Assim, quando dois ou mais sindicatos disputarem base territorial de representação de categoria, tal matéria estará afeta à seara trabalhista. Capítulol • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA 43 Outro aspecto ampliativo da competência laborai foi a possibilidade do manejo, na Justiça do Trabalho, de dissídios individuais sindicais, envol- vendo sindicatos, sindicatos e trabalhadores e sindicatos e empregadores. É bem verdade que a Lei 8.984/1995 já possibilitava a ação de cumpri- mento de cláusula de convenção coletiva ou acordo coletivo na Justiça do Trabalho, mesmo quando ocorressem entre sindicatos ou entre sindicatos de trabalhadores e empregador. Por outro lado, o art. 872, parágrafo único, da CLT também já previa a possibilidade de propositura de ação de cumprimento de sentença normativa pelo próprio sindicato profissional. No entanto, com a nova redação do art. 114, III, da Carta Maior, outras matérias conexas envolvendo direito sindical poderão ser objeto de ações propostas perante a Justiça do Trabalho, tais como: • Ações declaratórias de vínculo jurídico e sindical entre sindicato e federação; • Ações envolvendo o direito à filiação ou desfiliação; • Ações concernentes à eleição de dirigente sindical e ao respectivo processo eleitoral; • Ações dirigidas à proteção do sindicato contra atos atentatórios à liberdade sindical ou condutas antissindicais; • Ações envolvendo direitos trabalhistas propostas por dirigente sindical licenciado em face do seu próprio sindicato - utilizadas nos casos em que o contrato de trabalho do dirigente sindical permanece suspenso durante o exercício do mandato, em que o sindicato obreiro, muitas vezes, compromete-se a arcar com as verbas trabalhistas devidas ao trabalhador durante o seu licenciamento da empresa (férias, 13.° salário, salário etc.); • Ações envolvendo contribuição assistencial, confederativa etc., sejam propostas entre sindicato profissional e empregador, entre sindicato pro- fissional e associado, ou mesmo entre sindicato da categoria económica e membro da mesma categoria, mesmo que não previstos em instrumento normativo, mas apenas fixados em assembleia-geral da categoria; • Ações de cobrança executiva envolvendo a contribuição sindical promovidas pelas entidades sindicais em face do empregador; • Ações de consignação de pagamento de contribuição sindical inten- tadas pelo empregador,quando há disputa entre dois sindicatos por base territorial, havendo dúvida sobre a quem efetuar o recolhimento do tributo. PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini 1.4.2.6. Mandado de segurança, habeas corpus e habeas data O novo art. 114, IV, da CF/1988 estabeleceu como competência da Justiça do Trabalho processar e julgar os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. Uma das grandes novidades trazidas pela EC 45/2004 é a possibilidade de impetração de mandado de segurança perante a Vara do Trabalho (pri- meiro grau de jurisdição), evidentemente quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. Dessa forma, um mandado de segurança proposto em face de ato de auditor fiscal do trabalho (como na hipótese de interdição ou embargos de obras) será processado perante a Justiça do Trabalho (Vara do Trabalho) e não mais perante a Justiça Federal, como era anteriormente, tendo em vista que o ato questionado envolve matéria sujeita à jurisdição trabalhista (no caso, medicina e segurança do trabalho). Por outro lado, eventuais mandados de segurança envolvendo a atuação de membros do Ministério Público do Trabalho, como na hipótese de atos praticados na condução de procedimentos administrativos investigatórios, serão apreciados também pela Justiça do Trabalho (Vara do Trabalho). O habeas corpus, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à jurisdição trabalhista, passa a ser julgado pela Justiça laborai. O habeas corpus pode ser manejado contra o ato de autoridade judici- ária trabalhista, (em razão do descumprimento de uma ordem judicial ou do depositário infiel) e contra ato de particular que esteja, ilegalmente ou em abuso de poder, restringindo a liberdade de outrem, como ocorre quando o empregador mantém o empregado no local de trabalho durante o movimento grevista. No que atine à prisão do depositário infiel, o STF editou a Súmula Vin- cuiante 25 estabelecendo que é ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. Logo, o Magistrado trabalhista não mais poderá decretar a prisão de depositário infiel, como era comum ocorrer em execuções trabalhistas, quando os depositários dos bens excu- tidos desapareciam com os mesmos. Todavia, caso o Magistrado descumpra o inteiro teor da Súmula Vinculante 25 do STF, entendemos que o remédio heróico Habeas Corpus poderá ser utilizado na Justiça do Trabalho, sendo, na hipótese, competente para o julgamento o TRT a que estiver subordinado o Magistrado coator. Capítulo! • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA Apesar de a Justiça do Trabalho ser competente para julgar o habeas cor- pus, o STF, na ADI 3.684, concedeu liminar com efeito ex tunc para declarar a incompetência da Justiça do Trabalho para processar e julgar ações penais. Em relação ao habeas dota, a Carta Maior, doravante, permite o manejo desse remédio na seara trabalhista, para possibilitar ao trabalhador o acesso a dados pessoais constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de carãter público. O banco de dados deve ser público. Pode ser manejado, por exemplo, pelo empregador para ter acesso à lista de "maus empregadores" do Ministério do Trabalho (MARTINS, Sérgio Pinto. Competência da Justiça do Trabalho para analisar mandados de segurança, habeas corpus e habeas data. Revista Legislação do Trabalho, São Paulo, LTr, ano 69, v. 7, 2005, p. 180) ou por um servidor celetista para que tenha acesso ao seu prontuário no Estado (Manual de direito processual do trabalho. 6.a ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 1.350). Objetiva o habeas data, portanto, salvaguardar os direitos da personalidade, por meio da autodeterminação informativa, protegendo-se o direito à intimidade e à vida privada. 1.4.2.7. Conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista A nova redação do art. 114, V, da CF confere alçada para a Justiça do Trabalho examinar os conflitos de competência apenas entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvando o disposto no art. 102, I, o, da Carta Maior, que impõe ao Supremo Tribunal Federal o julgamento dos conflitos entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre tribunais superiores ou entre estes e qualquer outro tribunal. O conflito de competência ocorre quando: • dois ou mais juizes se declaram competentes (conflito positivo de competência); • dois ou mais juizes se declaram incompetentes (conflito negativo de competência); • entre dois ou mais juizes surge controvérsia sobre a reunião ou separação de processos (arts. 66 do CPC e 804 da CLT). Observe o disposto no art. 66 do CPC, aplicável ao Processo do Trabalho: "Art. 66. Há conflito de competência quando: I - 2 (dois) ou mais juizes se declaram competentes; 46 PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini II - 2 (dois) ou mais juizes se consideram incompetentes, atribuindo um ao outro a competência. III - entre 2 (dois) ou mais juizes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. Parágrafo único. O juiz que não acolher a competência declinada deverá suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo". No âmbito laborai, o conflito de competência pode ser suscitado pelos juizes e tribunais do trabalho, pelo Ministério Público do Trabalho ou pela parte interessada. No que concerne à parte interessada, o art. 806 da CLT dispõe que, se ela já houver oposto na causa exceção de incompetência, estará proibida de suscitar o conflito, Os conflitos de competência serão resolvidos: • Pelos TRTs, quando suscitado entre Varas do Trabalho da mesma região, entre juizes de direito investidos na jurisdição trabalhista da mesma região, ou entre Varas do Trabalho e juizes de direito investidos na jurisdição trabalhista (na mesma região) - art. 808 da CLT; • Pelo TST, quando suscitado entre TRTs, entre Varas do Trabalho e juizes de direito investidos na jurisdição trabalhista, sujeitos à jurisdição de Tribunais Regionais diferentes - art. 808 da CLT; • Pelo Superior Tribunal de Justiça, quando suscitado entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, o, bem como entre tribunal e juizes a ele não vinculados e entre juizes vinculados a tribunais diversos. Destaca-se a competência do STJ para julgar os conflitos entre Vara do Trabalho e juiz de direito não investido na jurisdição trabalhista - art. 105, I, á, CF/1988; • Pelo Supremo Tribunal Federal, quando suscitado entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal. Ressalte-se a competência do STF para julgar o conflito de competência entre o TST e órgãos de outros ramos do Judiciário - art. 102, I, o, CF/1988. Vale mencionar que, em virtude da hierarquia, não se configura conflito de competência entre TRT e Vara do Trabalho a ele vinculada (Súmula 420 do TST), e, da mesma forma, não há conflito de competência entre juiz do trabalho e o TRT a que está vinculado. Capítulo! • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA 47 1.4.2.8. Ações de indenização por dano morai ou patrimonial A Carta Maior estipulou no inciso VI do art. 114 a competência material da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho. Portanto, o novo art. 114, VI, da CF/1988 consagra definitivamente o entendimento de que qualquer ação de dano moral ou patrimonial proposta pelo empregado em face do empregador ou vice-versa, quando decorrente da relação de trabalho, será de competência material da Justiça do Trabalho, posicionamento este que já era adotado pelo Supremo Tribunal Federal, mesmo antes da EC 45. O TST, em relação ao dano moral, também adotou semelhante posicio- namento, consubstanciado na Súmula392, in verbis: "SÚMULA 392 do TST - DANO MORAL E MATERIAL. RELAÇÃO DE TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Nos termos do art. 114, inc. VI, da Constituição da República, a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ações de indenização por dano moral e material, decorrentes da relação de trabalho, inclusive as oriundas de acidente de trabalho e doenças a ele equiparadas". Convém ressaltar que em relação às ações acidentarias, ou seja, Lides previdenciárias derivadas de acidente de trabalho promovidas pelo trabalhador segurado em face da seguradora INSS, a competência será da Justiça Comum (Varas de Acidente de Trabalho) e não da Justiça do Trabalho. Por outro lado, o art. 120 da Lei 8.213/1991 determina que, em caso de acidente de trabalho causado por negligência do responsável pelo cumprimen- to das normas de segurança e saúde no trabalho indicadas para a proteção individual e coletiva dos segurados (empregador), ajuizará a Previdência Social ação regressiva em face de tal empregador perante a Justiça Federal (art. 109 da CF/1988). Nesta hipótese, o empregador não se exime de sua responsabilidade pelo fato de a Previdência Social ter honrado prestações decorrentes da incapacidade gerada pelo acidente de trabalho. Quanto às ações indenizatórias por danos morais e patrimoniais, foi pacificada a discussão: o STF editou a Súmula Vinculante 22, estabelecendo que a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini que ainda não possuíam sentença de mérito de primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional 45/2004. Portanto, aqueles feitos já com sentença prosseguem regidos pela an- tiga competência da Justiça Comum Estadual, inclusive recursal. O STF e o STJ firmaram entendimento de que, quanto às ações que se tornaram de competência da Justiça do Trabalho com a EC 45/2004, a alteração super- veniente de competência, mesmo que determinada por regra constitucional, não atinge a validade da sentença anteriormente proferida. Nesse sentido temos a Súmula 367 do STJ: SÚMULA 376 DO STJ. "A competência estabelecida peia EC n. 45/2004 não alcança os processos já sentenciados". O STJ, no final do ano de 2008, editou a Súmula 366 (DJE 26.11.2008), que estabelecia a competência da Justiça estadual para processar e julgar ação indenizatória proposta por viúva e filhos de empregado falecido em acidente de trabalho. Tal posicionamento divergia do entendimento do STF, materializado no acórdão abaixo transcrito: "AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO - CONSTITUCIONAL - COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS, DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO - AÇÃO AJUIZADA OU ASSUMIDA PELOS DEPENDENTES DO TRABALHADOR FALECIDO - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESPECIAL. Compete à Justiça do Trabalho apreciar e julgar pedido de indenização por danos morais e patrimoniais, decorrentes de acidente de trabalho, nos termos da redação originária do artigo 114 c/c inciso I do artigo 109 da Lei Maior. Precedente: CC 7.204. Competência que remanesce ainda quando a ação é ajuizada ou assumida pelos dependentes do trabalhador falecido, pois a causa do pedido de indenização continua sendo o acidente sofrido pelo trabalhador" (Agravo Regimental desprovido - AG Reg. no Rec. Ext. 503.278-7-RJ - STF - Min. Rei. Carlos Ayres Britto - DJU 03.08.2007). Contudo, a referida Súmula 366 do STJ foi revogada, em 21.09.2009, de modo que atualmente a Justiça do Trabalho é a única competente para julgar ação indenizatória de acidente do trabalho, ainda que o empregado seja falecido. Por último, vale destacar a recente Súmula 439 editada pelo TST, se- gundo a qual, os juros incidem a partir da data do ajuizamento da ação Capítulo! • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA (art. 883 da CLT) e a correção monetária a partir da decisão que arbitrou ou alterou o valor da condenação ao pagamento de indenização por danos morais. In verbis: "SÚMULA 439 DO TST. DANOS MORAIS. JUROS DE MORA E ATUALIZA- ÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL - Rés. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012. Nas condenações por dano moral, a atualização monetária é devida a partir da data da decisão de arbitramento ou de alteração do valor. Os juros incidem desde o ajuizamento da ação, nos termos do art. 883 da CLT". 1.4.2.9. Ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho Outra inovação trazida pela EC 45 repousa no art. 114, VII, da Carta Maior, atribuindo competência material à Justiça do Trabalho para proces- sar e julgar as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho, cuja competência anterior era da Justiça Federal. Com efeito, a competência em destaque refere-se a qualquer ação, seja a lide intentada pelo empregador objetivando invalidar sanção administrativa imposta pelas Delegacias Regionais do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (atualmente Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego - SRT) (autos de infração), como também as execuções dos títulos extrajudiciais oriundos dos autos de infração Lavrados pelos auditores fiscais do trabalho, proposta pela Fazenda Pública Federal em face do infrator. A atinente competência, como já visto, também abrange mandado de segurança impetrado em face de ato de autoridade administrativa do Minis- tério do Trabalho, de competência originária das Varas do Trabalho. 1.4.2.10. Execução de oficio das contribuições sociais A redação anterior do art. 114, § 3.°, da CF/1988, fruto da EC 20/1998, já havia ampliado a competência material da Justiça do Trabalho para também executar, de ofício, as contribuições previdenciárias devidas em decorrência das decisões proferidas pelos juizes e tribunais do trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo. 50 PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini Destaque-se que, posteriormente à EC 20/1998, a Lei 10.035/2000 acres- centou diversos artigos à Consolidação das Leis do Trabalho sobre a matéria. Portanto, o novo art. 114, VIII, em nada acrescentou à competência material da Justiça laboraL. A Lei 11.457, de 16 de março de 2007 (que criou a Secretaria da Re- ceita Federal do Brasil), alterou a redação de alguns artigos da CLT, quais sejam os artigos 832, 876, 879, 880 e 889-A, que tratam da execução das contribuições sociais devidas atualmente à União. Nessa linha, o novo parágrafo único do artigo 876, com redação dada pela Lei 11,457/2007, passou a estabelecer que serão executadas de ofício as contribuições sociais devidas em decorrência de decisão proferida pelos Juizes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo, inclusive sobre os solários pagos durante o período contratual reconhecido. Todavia, o STF proferiu acórdão em sentido contrário, estabelecendo que a competência do Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da Constituição Federal alcança apenas a execução das contribuições previdenciárías relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir. Perceba: "RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. ALCANCE DO ART. 114, VIII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da Constituição Federal alcança apenas a execução das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da con- denação constante das sentenças que proferir. 2. Recurso extraordinário conhecido e desprovido. (STF - RE 569056/PA-PARÁ - Rei. Min. Menezes Direito. Julg. 11.09.2008 - Tribunal Pleno)". Acompanhandoo entendimento do STF, o TST editou a Súmula 368,1, do TST, segundo a qual a competência da Justiça do Trabalho, quanto à execu- ção das contribuições previdenciárias, Limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição. No tocante aos acordos celebrados na Justiça do Trabalho após o trân- sito em julgado, cumpre ressaltar que o art. 43, § 5.°, da Lei 8.212/1991, institui que as contribuições previdenciárias devem incidir sobre o valor do acordo, e não sobre a condenação, como fixava o art. 832, § 6.°, da CLT, revogado tacitamente pelo artigo referido. Capítulo! • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA Ainda a OJ 376 da SDI-I, do TST determina que é devida a contribuição previdenciária sobre o valor do acordo celebrado e homologado após o trânsito em julgado de decisão judicial, respeitada a proporcionalidade de valores entre as parcelas de natureza salarial e indenizatória deferidas na decisão condenatória e as parcelas objeto do acordo. Nos acordos homologados em juízo em que não haja o reconhecimen- to de vínculo empregatício, é devido o recolhimento da contribuição previdenciária, mediante a alíquota de 20% a cargo do tomador de serviços e de 11% por parte do prestador de serviços, na qualidade de contribuinte individual, sobre o valor total do acordo, respeitado o teto de contribuição. Inteligência do § 4.° do art. 30 e do inciso III do art. 22, todos da Lei 8.212, de 24.07.1991, consoante preceitua a OJ 398 da SDI-1 do TST. Por fim, inclui-se na competência da Justiça do Trabalho a execução, de ofício, da contribuição referente ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), uma vez que esta tem natureza de contribuição para a seguridade social, pois se destina ao financiamento de benefícios relativos à incapacidade do empregado decorrente de infortúnio no trabalho. No mesmo sentido é a Súmula 454 do TST. Verifique: "SÚMULA 454 DO TST. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. EXECUÇÃO DE OFÍCIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL REFERENTE AO SEGURO DE ACIDENTE DE TRABALHO (SAT). ARTS. 114, VIII, E 195, I, "A", DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA (conversão da Orientação Jurisprudencial n.° 414 da SBDI-1) - Rés. 194/2014, DEJT divulgado em 21, 22 e 23.05.2014. Compete à Justiça do Trabalho a execução, de ofício, da contribuição referente ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), que tem natureza de contribuição para a seguridade social (arts. 114, VIII, e 195, I, "a", da CF), pois se destina ao financiamento de benefícios relativos à incapacidade do empregado decorrente de infortúnio no trabalho (arts. 11 e 22 da Lei 8.212/1991)". 1.4.2.11. Outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho O inciso IX do art. 114 da CF estabelece a competência material da Justiça do Trabalho para processar e julgar outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho. São exemplos: PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Monfredini O TST, por meio da Súmula 300, determinou que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ações ajuizadas por empregados em face de empregadores relativas ao cadastramento no Programa de Integração Social (PIS). Também é competente a Justiça do Trabalho para apreciar reclamação de empregado que tenha por objeto direito fundado em quadro de carreira (Súmula 19 do TST). 7.4.2.12. Poder normativo Em relação às alterações introduzidas pela EC 45 quanto ao Poder Nor- mativo da Justiça do Trabalho, especialmente as mudanças descritas nos §§ 2.° e 3.° do novo art. 114 da CF, remetemos o leitor ao capítulo atinente ao dissídio coletivo, em que o tema será tratado especificamente. 1.4.2.13. Ações que versam sobre descumprímento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento, consubstanciado na Súmula 736, de 09.12.2003, de que compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores. 1.4.3. Competência territorial das Varas do Trabalho A competência territorial das Varas do Trabalho (competência em razão do Lugar) está disciplinada no art. 651 da CLT. Vejamos: "Art. 651. A competência das Varas do Trabaiho é determinada pela Localidade onde o empregado, redamante ou reclamado, prestar servi- ços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro Local ou no estrangeiro. § 1.° Quando for parte no dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Vara da localidade em que a empresa tenha agên- cia ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, será competente a Vara da Localização em que o empregado tenha domicilio ou a localidade mais próxima. Capítulo! • ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO, COMPETÊNCIA 53 § 2.° A competência das Varas do Trabalho, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção interna- cional dispondo em contrário. § 3.° Em se tratando de empregador que promova realização de ativida- des fora do lugar do contrato de trabalho, é assegurado ao empregado apresentar reclamação no foro da celebração do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços". Portanto, em regra, a demanda trabalhista deve ser proposta na loca- lidade em que o empregado efetivamente tenha prestado seus serviços, independentemente do local da contratação. Neste contexto, contratado o trabalhador no Paraná para laborar na Bahia, terá competência territorial para processar e julgar eventual reclamação trabalhista uma das Varas do Trabalho do local da prestação de serviços, qual seja Bahia. Quanto ao agente ou viajante comercial, o § 1.° do art. 651 contempla uma exceção à regra geral, devendo o obreiro viajante propor sua ação trabalhista: • na Vara da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o trabalhador esteja subordinado; • não existindo agência ou filial, na Vara localizada onde o empregado tenha domicílio ou na localidade mais próxima. Outra exceção à regra geral da competência territorial estabelecida no diploma consolidado é o § 2.° do art. 651 da CLT, o qual atribui competência às Varas do Trabalho para processar e julgar lides ocorridas em agência ou filial situada no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional em contrário. Outrossim, em relação aos dissídios ocorridos no exterior, a regra de di- reito processual a ser aplicado é a brasileira, tendo em vista que a demanda será submetida à Justiça do Trabalho brasileira. No entanto, quanto ao direito material, aplica-se o princípio da terri- torialidade, segundo o qual a regra a ser aplicada será a do país onde o empregado efetivamente prestou os seus serviços, ou seja, os direitos a que o trabalhador fará jus serão os previstos na Legislação estrangeira. A Lei 7.064/1982, com a redação dada pela Lei 11.962/2009, entretanto, elenca exceções ao princípio da territorialidade. Prevê que, "independen- temente da observância da legislação do local da execução dos serviços", PROCESSO DO TRABALHO - Renato Saraiva e Aryanna Manfredini serão garantidos ao trabalhador transferido para trabathar no estrangeiro (art. 2.° da Lei 7.064/1982)1 os direitos previstos na lei e a aplicação da legislação brasileira de proteção ao trabalho quando for mais favorável do que a do local de prestação dos serviços (art. 3.°). Caso o trabalhador te- nha sido contratado no Brasil para trabalhar no estrangeiro, prevê o art. 14 da Lei 7.064/1982 que, além dos direitos a que faz jus o trabalhador pela Legislação do local da prestação dos serviços, também lhe serão garantidos os direitos previstos no Capítulo III da Lei, onde está inserido este art. 14, entre eles o de que a empresa pague as despesasde viagem do trabalhador ao exterior, com seus dependentes; de que anualmente possa gozar férias no Brasil, caso o seu contrato seja ajustado por período superior a três anos; de ter assegurado o seu retorno definitivo ao Brasil ao fim do contrato de trabalho ou se tal for recomendado por meio de laudo médico. A novidade Legislativa trazida pela Lei 11.962/2009, que tornou a Lei 7.064/1982 aplicável a trabalhadores contratados no Brasil e transferidos por seus empregadores para prestar serviço no exterior, contemplou exceção ao princípio da territorialidade, previsto na Súmula 207 do TST, levando o TST a cancelá-la, em sessão do Tribunal Pleno realizada em 16.04.2012. O art. 651, § 3.°, da CLT, ademais, menciona que em relação às em- presas que promovam atividades fora do lugar da celebração do contrato (exemplos: atividades circenses, feiras agropecuárias, motoristas de ônibus de linhas intermunicipais etc.), será assegurado ao obreiro apresentar re- clamação trabalhista no foro da celebração do contrato ou no da prestação dos respectivos serviços. Por último, vale destacar a OJ de n.° 149 da SDI-II /TST (dezembro de 2008), 7/7 verbis: "OJ n° 149 - SDMI/TST - CONFLITO DE COMPETÊNCIA. INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL. HIPÓTESE DO ART. 651, § 3°, DA CLT. IMPOSSIBILIDADE DE DECLARAÇÃO DE OFÍCIO DE INCOMPETÊNCIA RELATIVA. Não cabe declaração de ofício de incompetência territorial no caso do uso, pelo trabalhador, da faculdade prevista no art. 651, § 3°, da CLT. Nessa hipótese, resolve-se o conflito pelo reconhecimento da competência do juízo do local onde a ação foi proposta." Art. 2." Para os efeitos desta Lei, considera-se transferido: I - o empregado removido para o exterior, cujo contrato estava sendo executado no território brasileiro; II - o empregado cedido ã empresa sediada no estrangeiro, para trabalhar no exterior, desde que mantido o vínculo trabalhista com o empregador brasileiro; III - o empregado contratado por empresa sediada no Brasil para trabalhar a seu serviço no exterior.
Compartilhar