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BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 1 O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas José Lucas Pedreira Bueno 1,2,3 1 Unis-MG - Centro Universitário do Sul de Minas - Brazil (www.unis.edu.br) 2 Vias - Instituto Virtual de Estudo Avançados - Brazil (www.vias.org.br) 3 Professor, Dr. Neste trabalho é apresentada uma visão geral sobre a realidade escolar, evidenciando que os métodos pedagógicos diretivo e não-diretivo beneficiam a conformação de uma educação alienada para formar sujeitos alienados, fragmentando a consciência humana em passado, presente e futuro dissociados de suas relações políticas, históricas e evolutivas. O método pedagógico relacional forma os sujeitos em cidadãos críticos de visão e ação transformadora do mundo que os abrigam. Assim, salienta-se a necessidade de se construir mecanismos para alertar a comunidade educacional sobre os desvios alienantes da pedagogia liberal e ressalvar os benefícios da pedagogia relacional para superar o estado de alienação. Palavras-chave: Filosofia da Educação; Marxismo; Liberalismo, Ensino-aprendizagem In this work a general vision on the pertaining to school reality is presented, evidencing that the pedagogical methods directive and not-directive benefit the conformation of a mentally ill education to form mentally ill citizens, breaking up the conscience human being in past, dissociados gift and future of its relations politics, historical and evolutionary. The relationary pedagogical method forms the citizens in critical citizens of vision and transforming action of the world that shelters it. , thus salient necessity of if constructing mechanisms to it to alert the educational community on alienator shunting lines of the liberal pedagogia and to except the benefits of the relationary pedagogia to surpass the alienation state. Keywords: Philosophy of the Education; Marxism; Liberalism, teach-learning 1 Considerações iniciais As ações empreendidas para o desenvolvimento humano, social e econômico organizam-se em duas filosofias hegemônicas: o liberalismo e o marxismo. Estas duas vertentes prevaleceram sobre as demais visões de mundo a partir de 1945, final da Segunda Guerra Mundial. Hoje, após “a queda do Muro de Berlim”, prevalece o liberalismo. Segundo Campos (2001) o liberalismo se fundamenta em cinco conjeturas: individualismo, liberdade, propriedade, igualdade e democracia. Para este autor, estes pressupostos são inerentes uns aos outros e são vistos como direitos individuais. O Estado deve garanti-los e nunca usurpá-los. O Estado deve ser estabelecido com a participação de todos os indivíduos, de forma representativa ou direta. Um direito individual termina onde começa outro direito individual. A BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 2 propriedade, a evolução ou ascensão social são vistos como frutos do trabalho e talento individual. Dessa forma, considera-se que quando cada indivíduo evoluir, a sociedade vai evoluir junto. A liberdade é a condição básica para cada indivíduo evolucionar e, conseqüentemente, sua sociedade. A igualdade só é considerada comum ao componente social, de forma que o liberalismo não assimila a igualdade ao componente econômico. No aspecto econômico, todos têm os mesmos direitos de buscar suas condições, não de tê-las. Com base no Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e Engels (1848) pode-se definir que é denominado marxismo a concepção que analisa a história como o resultado da luta entre as classes sociais. Percebendo que no capitalismo ocorre a oposição entre burgueses – proprietários dos meios de produção – e proletários, que vendem sua força de trabalho aos burgueses. Construindo assim uma dependência perversa entre proletários e proprietários, em que o proletário não tem outra opção para alcançar sua subsistência, senão pela alienação de suas capacidade físicas e mentais pelo proprietário. O marxismo instiga que o comunismo vai superar o capitalismo como síntese de uma contradição. O marxismo é entendido como a etapa final da organização político-econômica humana, sem a opressão do Estado e seu favorecimento às classes dominantes e o estabelecimento de uma sociedade coletiva, a partir de um estágio intermediário de organização da classe trabalhadora como força revolucionária para instaurar uma ditadura do proletariado. Para a educação, progressivamente vem-se adotando e praticando os conceitos da interpretação histórica (sem a valorização do herói), a libertação, a problematização, a crítica, a superação da alienação e a organização social, coletiva, solidária e igualitária. O Muro de Berlim caiu em 9 de novembro de 1989, pondo fim à Guerra Fria, quando houve os procedimentos oficiais para a reunificação das duas Alemanhas, que compuseram a República Alemã e recompuseram os dois blocos divididos do mundo. Entretanto, o liberalismo e o marxismo ainda são as duas vertentes que se estruturam como alicerces das discussões e interpretações dos fenômenos históricos, sociais e econômicos, principalmente pela educação. As instituições sociais representam esta condição em suas instâncias e se evoluem desenvolvendo- se sob suas influências políticas e de poder. Por isso, neste artigo aborda-se a realidade escolar com seus pressupostos e pendores filosófico-políticos, procurando evidenciar suas interferências nas visões pedagógicas e conseqüentemente na formação dos alunos. A partir destas considerações, destaca-se que este trabalho desenvolve-se com a abordagem qualitativa para investigar e interpretar, por meio da análise crítica dos trabalhos de autores das áreas de ciências humanas e sociais aplicadas, buscando reconhecer o valor das idéias e dos fenômenos apresentados, de acordo com o grau de analogia desses com o foco do estudo, para elaborar um conhecimento global e significativo. Portanto, é um estudo de caráter bibliográfico que considera o conhecimento já elaborado de forma teórica e empírica e apresentado por pesquisadores em livros e artigos científicos como material de subsídio para o objeto buscado. BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 3 É importante destacar que as normatizações e parâmetros científicos seguidos nesta trabalho foram adotados com duas bases teóricas principais: Triviños (1987) e Silva e Menezes (2001) e quatro outras adjacentes: Severino (1985) e (1994), Eco (1989), Becker (1999) e Thiollent (1997). Assim, propõe-se uma reflexão teórica para alcançar resultados descritivos sobre a problemática exposta. 2 O liberalismo e o marxismo como alicerces de discussões e interpretações do mundo Durante o período da Guerra Fria (1945-1989), que iniciou após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) as aspirações políticas, econômicas e filosóficas compreendiam duas grandes visões de mundo, resultado da divisão simbolizada pelo Muro de Berlim, que separava os Países do Ocidente, liderados pelo Estados Unidos da América - EUA, de viés capitalista e democrático; dos Paises do Leste, liderados pela extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS, de viés comunista e antidemocrático. Esta divisão era a principal fonte das reflexões filosóficas da humanidade, pois eram duas visões de mundo antagônicas que se contrapunham e existiam filosoficamente equilibradas para estabelecer a constante superação de suas limitações, fragilidades e equívocos. Com o fim da Guerra Fria, esta fonte de reflexões começou a esmorecer. O mundo passou a se ver sem a necessária contradição para evoluir criticamente. A humanidade passou a se inclinar para um pensar preponderadopela identidade capitalista, valendo-se da individualidade e da imediatidade, com bases na descrença moral, ética e humana da construção histórica, para superar e suprir suas necessidades. Assim, estabeleceu-se um estágio aparentemente antidialético para a humanidade, que demanda julgamentos mais ponderados e críticos, para não estimar levianamente as questões de interesse universal. Com o desmonte da URSS, simbolizado pela "queda do Muro de Berlim" em 1989, constituiu-se a hegemonia norte americana que expandiu as fronteiras para suas ideologias, que preconizam basicamente um sistema econômico e social fundamentado na propriedade privada dos meios de produção, no livre funcionamento do sistema de preços e na organização da produção objetivando exclusivamente o lucro e conseqüentemente aplicando o trabalho assalariado, a automação e a mecanização das profissões. Tudo garantido, defendido e promovido pelo Estado. Durante os trinta anos em que o Muro de Berlim separou as duas Alemanhas, dividindo o mundo em dois blocos político-econômicos hegemônicos havia uma insegurança de que esta separação poderia terminar com uma guerra nuclear, mas também havia a certeza de que no dia seguinte tudo poderia ser diferente. Havia esperança de viver uma história evolutiva, com a expectativa que o dia de amanhã BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 4 não seria uma repetição subjetiva e material do dia de hoje. Havia, no entanto, um campo aberto para a esperança de que o amanhã poderia ser melhor para todos que eram excluídos das possibilidades de subsistência na sociedade atual. Havia a esperança de que um dia aqueles que eram privados de consumir produtos e serviços seriam incluídos ou que as mercadorias seriam de alguma forma acessíveis. Segundo a filosofia freireana, a esperança e a liberdade são questões ontológicas. Portanto, pertencentes à alma humana ou, pelo menos deveriam ser. Com a predominância do pensamento liberal-capitalista, a esperança tende a ser atrofiada pelo comportamento dos políticos, empresários e trabalhadores, pela mídia e pelo processo educacional de tendência plenamente liberal. Pois, a repetição das coisas subjetivas e materiais para manter o status quo da ação capitalista sobre a vida e o pensamento humano são conseqüências da alienação ratificada pelo autoritarismo do capital. Nos últimos anos percebe-se a ascensão da preocupação pelo tema do pensamento político-filosófico inerentes ao processo de ensino-aprendizagem para a formação e promoção da cidadania dos estudantes. Não de forma muito diferente, o mesmo interesse é manifestado pelos governos, pelas escolas e universidades públicas e privadas, pelos meios de comunicação e por várias outras instituições sociais, no entanto, de forma frágil e aparente, pois o imperativo capitalista parece ser um elemento de contradição mais fácil de ser assimilado e mais difícil de se reagir contra, que o elemento crítico-histórico-social. O que se tem é muita preocupação individual e pouca ação social para reverter a questão. Este contexto é agravado com a internacionalização da economia e a globalização positivada conforme previu McLuhan (1972), que o mundo se tornaria em uma “aldeia global”. Esta metáfora descreve o fenômeno que faz dos tempos atuais uma era de mudanças e conexões aceleradas e imediatistas. Como conseqüência, reduz o consumo em suas dimensões simbólica e material em elementos definidores da modernidade e bem-estar. A vontade de “consumir por consumir”, equivocadamente, tornou-se e vem se fixando como uma questão ontológica, reduzindo a humanidade ao consumismo e ao imediatismo. A cultura universal estará comprometida se não se instalarem debates e ações concretas para mudar este movimento de esfera ético-cultural. As políticas nacionais e internacionais devem levar em conta que este processo interrompe a história humana e estabelece a história material. O homem nunca pertenceu tanto ao material como agora. Todos as abstrações parecem ser desinteressantes e inúteis. As teorias, inclusive, a Pedagogia da Libertação de Paulo Freire comprovam o descrito anteriormente e propõe um projeto para que a escola mude e, conseqüentemente, transforme a sociedade, pois segundo a sua visão, o trabalho educacional é em si um trabalho político, por isso não existe educação neutra. A educação pode ser deliberadamente marxista ou liberal, sendo esta última fruto e causadora de uma ingenuidade alienada e conseqüência da extrema polarização da sociedade no esquema capitalista. BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 5 Progredir até a superação das limitações individualistas, imediatistas, ratificantes e alienantes da desproteção econômico-social é um desígnio consciente e viável somente através da atividade educacional. Pois, na ocasião em que as pessoas estão sendo formadas, as sementes Humanas devem se cultivadas e as raízes Materialistas aparadas, para controlar sua demasia. A educação ainda pode transformar os estudantes passivos e alienados em cidadãos ativos com relação ao domínio capitalista, para agirem como protagonistas e críticos deste sistema, com vistas a melhorar sua qualidade de vida, cooperar para um desenvolvimento econômico estável e sustentável, com eqüidade social, proteção do meio ambiente e com fortalecimento das instituições democráticas. 3 O conteúdo informa e o método de ensino forma As conjeturas básicas da filosofia educacional liberal são as reproduções material e subjetiva e uma falsa autonomia com base na dependência/alienação alheia e os pressupostos básicos da filosofia educacional marxista são a transformação crítica, material e subjetiva e a autonomia com base na consciência para diminuir as desigualdades humanas e sociais. A escola como instituição social vai representar estas discussões suscitando interpretações e ações conforme a vertente mais bem plantada e disseminada entre seus membros, sendo o processo de ensino-aprendizagem o principal responsável pela construção dos valores políticos dentro da escola. Pois, os conteúdos informam e as formas de ensinar e aprender são o que formam os sujeitos. Conforme Campos (2001): A partir da década de 80, a educação brasileira, acompanhando o que já acontecia em grande parte dos países ocidentais, foi fortemente influenciada por duas ideologias, o Liberalismo e a Dialética de origem marxista. Tudo indica que versões atualizadas destas duas visões de mundo determinarão nossa educação no futuro. Ambas têm suas raízes no paradigma cartesiano-newtoniano, mais conhecido como modernismo. Portanto, embora se constituam em tendências para o início de um novo milênio, suas origens mais remotas estão no final do século XVI. É importante considerar que a escola é uma instituição construída por relações sociais, objetivos humanos e subordinada à conjuntura política, que por sua vez, é subordinada às condições econômicas de seu país e região. A escola agrega um conjunto de indivíduos que se relacionam entre si, buscando alcançar condições de obter e manter a autonomia e a consciência própria sobre seus direitos, deveres, desígnios e condições de subsistência na sociedade hodierna, ponderada neste trabalho como Sociedade Industrial. Por isso, a importância de se construir a consciência de forma dialética e crítica e não de forma distorcida e com pseudoconhecimentos que ratificam a alienação social. Campos (2001) entende que a “teoria crítica acredita que, se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a escola pode fazer”. BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 6 Dentre os objetivos da escola, estão universalmentedeclarados o de desenvolvimento humano e social, que são fundamentados em várias teorias e práticas educacionais, que por sua vez são também abalizadas em duas principais filosofias de educação: a liberal e a marxista. Ambas as filosofias de educação buscam o desenvolvimento humano e social, a diferença está nas primazias e associações que cada uma apresenta para suas propostas. A liberal tem duas concepções pedagógicas: a não-diretiva, que dá primazia ao aluno em detrimento do conhecimento (e da participação do professor) e a diretiva que dá primazia ao conhecimento (e à participação do professor) em detrimento do aluno. A filosofia marxista tem uma concepção pedagógica, a relacional, que considera indissociáveis o sujeito e o conhecimento, sendo desnecessário e redundante declarar sua não primazia a nenhum dos agentes determinados. No entanto, é importante especificar que esta concepção é construída pela relação de significados entre os dois agentes determinantes (aluno e professor), por um processo que constrói, problematiza e reconstrói conotações entre os conhecimentos. A visão relacional considera teoria e prática indissociáveis e de igual importância para o processo de ensino-aprendizagem. Os resultados dos processos educacionais são o desenvolvimento de seres humanos dependentes e alienados, quando formados por práticas educacionais de viéis liberais, e seres humanos autônomos, quando formados por práticas educacionais de viéis marxistas, conforme figura 1. BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 7 Figura1: Concepções e resultados dos processos educacionais Fonte: (o autor) FILOSOFIA LIBERAL MARXISTA P S IC O L O G IA APRIORISTA COMPORTAMENTALISTA INTERACIONISTA P E D A G O G IA NÃO-DIRETIVA DIRETIVA RELACIONAL F O R M A Ç Ã O ALIENADA ALIENADA CONSCIENTE C O N V E R G Ê N C IA A PARA O SUJEITO PARA O OBJETO PARA AMBOS INDISSOADOS BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 8 Historicamente a luta de contrários entre as idéias e ações liberais e marxistas vem evoluindo e transpassando por todas as esferas sociais culturalmente e dinamicamente, mormente nas relações educacionais e de trabalho, até mesmo na meta-condição da educação ser também uma forma de trabalho. Conforme Rocha (2004, p.160): No estágio da subsunção material, do mercado mundial realizado, a vida, o trabalho e a formação/educação se confundem. A escola disciplinar e que confina dá lugar à escola aberta, mudando a forma escolar e o sentido da formação – que era condicionada por um conjunto de atos pedagógicos, didáticos, disciplinares etc., que dariam forma cognitiva e moral ao discente, demandando um longo processo de formação e/ou instrução/adestramento. individualizar pela escola significava prepara para uma atividade que, dependendo da divisão do trabalho e das hierarquias socioeconômicas vigentes, determinaria a posição de cada sujeito no corpo social. Segundo Pessanha, Daniel e Menegazzo (2004, p.58): Embora cultura escolar não seja um conceito simples de delimitar, considera-se que na escola foram sendo historicamente construídas normas e práticas definidoras dos conhecimentos que seriam ensinados e dos valores e comportamentos que seriam inculcados, gerando o que se pode chamar de cultura escolar. Conhecimentos, valores e comportamentos que, embora tenham assumido uma expressão peculiar na escola, e, principalmente, em cada disciplina escolar, são produtos e processos relacionados com as lutas e os embates da sociedade que os produziu e foi também produzida nessa e por essa escola. Segundo Bueno (2005), é importante salientar que foi Heráclito, por volta de 500 a.C., que concebeu a compreensão da realidade do mundo como algo dinâmico, em contínua transformação. “Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionada pela luta de forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e a destruição, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a tristeza etc”. Heráclito afirmava que “a luta é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas” e que é esta luta ou guerra entre forças opostas que faz as coisas e as pessoas se modificarem e evoluírem. No entanto, o resultado da evolução histórica da humanidade revela que as condições sociais privilegiadas da classe liberal são reforçadas sobre a alienação da classe trabalhadora, imprimindo a ratificação do trabalhador pelas raras condições de superação de sua alienação, seja pela educação ou pelo trabalho conscientes. Como ocorre com qualquer outra instituição com as características da escola, a alienação, imperativa sobre a sociedade industrial, é um fenômeno a ser superado todos os dias, exercendo a capacidade de refletir sobre a dialética dos pensamentos, políticas e coisas que interferem e reforçam a conjuntura, em detrimento da sustentabilidade social. No entanto, reconhecidamente, a sociedade industrial contemporânea prestigia o ser humano que exercita sua faculdade de se gerir por si mesmo, com base em seu caráter crítico, que lhe garante liberdade de ação e independência moral e BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 9 intelectual, além de condição para poder escolher as leis que regem sua conduta. De acordo com este raciocínio, a sociedade contemporânea privilegia o cidadão autônomo e crítico. Nesta circunstância, estabelece-se o paradoxo sócio-educacional, que identifica um conceito que é ou parece contrário ao comum, por semelhar-se a uma contradição, pelo menos na aparência, devido ao contra-senso das práticas pedagógicas baseadas em concepções liberais e marxistas de educação apresentarem resultados invertidos aos de seus pressupostos. Portanto, a assertiva básica que se constrói é a de que a educação de pressupostos marxistas forma cidadãos autônomos e a educação de pressupostos liberais forma alienados/dependentes. Pela própria natureza desta afirmativa, os pressupostos que a impuseram, estabelece o paradoxo. Segundo IPF (2005), a alienação é definida: Quando uma pessoa fica privada da razão e perde o domínio de algo que lhe pertence. Processo mediante o qual o povo, em grupo, um indivíduo se vê estrangeiro (cego, estranho, perdido) a si mesmo. Isto pode suceder em nível econômico, político, cultural etc., ou seja, que a pessoa não sabe o que está havendo com ela mesma e como não reflete sobre o que acontece, atua como um estrangeiro que chega a um lugar que não conhece e se sente perdido. A televisão, o rádio, alguns partidos políticos, algumas religiões etc., alienam as pessoas, para fazer pensar de acordo com suas intenções (interesses). A alienação consiste na visão que se dá a visões 'focalistas' dos problemas não colocando em relevo as dimensões da 'totalidade'. É, em outras palavras, a focalização de aspectos parciais da realidade em vez da visão de conjunto dessa mesma realidade. Tal modo de ação, pela alienação, torna difícil a percepção crítica da realidade e, automaticamente, vai isolando os oprimidos da problemática. Destarte, neste trabalho, segundo a compreensão e análise da realidade escolar, evidenciar-se-á que os métodos pedagógicos diretivo e não-diretivo beneficiam a conformação de uma educação alienada para formar sujeitos alienados, fragmentandoa consciência humana em passado, presente e futuro dissociados de suas relações políticas, históricas e evolutivas; e que o método pedagógico relacional forma os sujeitos em cidadãos críticos de visão e ação transformadora do mundo que o abriga. Assim, salienta-se a necessidade de se construir mecanismos para alertar a comunidade educacional sobre os desvios alienantes das pedagogias liberais e ressalvar os benefícios da pedagogia relacional para superar o estado de alienação. Bordenave (1998, p.68) expõe claramente que: "A opção metodológica feita pelo professor pode ter efeitos decisivos sobre a formação do aluno, de sua cosmovisão, de seu sistema de valores e, finalmente, de seu modo de viver. Alguém disse uma vez que enquanto os conteúdos informam os métodos de ensino formam. Efetivamente dos conteúdos de ensino o aluno aprende datas, fórmulas, estruturas, classificações, nomenclaturas, causas, efeitos etc. Dos métodos ele aprende a ser livre ou submisso; seguro ou inseguro; indisciplinado ou organizado; competitivo ou cooperativo. Dependendo de sua metodologia o professor BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 10 pode contribuir para gerar uma consciência crítica ou uma memória fiel, uma visão universalista ou uma visão estreita e unilateral”. Nessa perspectiva, salienta-se a importância da consciência sobre a "complexidade da sociedade urbanizada industrial ou pós-industrial" (CAMPOS, 2001) para superar o estado de alienação dos organismos de construção do tecido social, como a escola e o trabalho, como maneira de formar cidadãos plenos, em vez de indivíduos, alienados, néscios e reprodutores condicionados. 4 Pressupostos da Educação O processo de ensino-aprendizagem é elaborado basicamente com pressupostos filosóficos, psicológicos e pedagógicos. As influências de cada uma destas grandes áreas perpassam uma pelas outras fundamentalmente e definem a capacidade de autonomia, criticidade e consciência do sujeito formado. Os pressupostos filosóficos dão orientação política à metodologia de ensino e à abordagem histórico-social dos conteúdos. Os pressupostos psicológicos dão a orientação referente ao desenvolvimento dos psiquismos, enquanto conjunto dos fenômenos ou processos mentais conscientes ou inconscientes de indivíduos ou grupo em suas relações e interações sociais, como também dão a orientação referente à transformação da criança em adulto, enquanto observação sobre os progressos e estágios por que ela passa, procurando compreender o significado funcional desses progressos e estágios. Os pressupostos pedagógicos dão a orientação referente aos métodos educacionais empregados no processo de ensino- aprendizagem, que determinam as relações de significados e as técnicas de interação, transmissão, orientação ou construção do conhecimento. Segundo Bueno (2001), a psicologia educacional originou-se do estudo de várias teorias do conhecimento. As teorias de conhecimento que orientam a educação podem ser categorizadas como tradicionais/empiristas, aquelas de proposta diretiva; como aprioristas, aquelas de propostas não-diretivas e interacionistas, aquelas de propostas construtivistas ou relacionais. Como a psicologia advém da filosofia e, essencialmente, é influenciada por suas principais formas de compreender o mundo, entende-se que as teorias do conhecimento surgiram para o mundo ocidental com duas bases filosóficas antagônicas que definem as concepções políticas inerentes à educação. Estas visões orientam os conteúdos e os métodos de ensino em prática na maioria das escolas brasileiras. O mundo ocidental tem o liberalismo e o marxismo como duas principais orientações políticas e filosóficas para a educação. Por sua vez, a pedagogia advém da psicologia que delineia as teorias do conhecimento que, conforme Bock (1999), o desenvolvimento humano pode ser descrito por várias teorias do conhecimento, que foram elaboradas por pesquisadores de várias partes do mundo, com base em resultados de observações, pesquisas com grupos distintos de indivíduos e de idades e culturas diferentes, estudos de casos clínicos, inclusive estudos que acompanharam indivíduos do nascimento à idade adulta. As várias teorias do conhecimento garantem cientificidade, critério e método ao processo de ensino-aprendizagem. BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 11 Segundo Bueno (2001), a aprendizagem é definida pela psicologia educacional como um objeto de estudo e não um processo objetivo e acabado. A aprendizagem é considerada como um processo a ser pesquisado com o objetivo de interpretar suas possibilidades de efetivação associadas aos pressupostos filosóficos, aos conceitos de aprendizagem, ao crescimento físico, às descobertas, ao ensino, às tentativas e aos erros etc. Desta forma, seria uma teoria infundada se fossem englobadas numa única teoria e processos apresentados anteriormente num único conceito, por isso a Psicologia Educacional origina-se de várias "Teorias de Conhecimento". Essas teorias podem ser genericamente reunidas em três categorias: as teorias Empiristas, Inatistas e Interacionistas. O domínio das concepções destas teorias são imprescindíveis para a prática docente, e o embasamento teórico das atividades educacionais nesses modelos pedagógicos garante um processo de ensino-aprendizagem consciente e científico. Assim, vistas simultaneamente, como se propõe neste trabalho, a delimitação das teorias; as suas implicações no processo de ensino-aprendizagem e as suas origens históricas e filosóficas, espera-se que as três teorias tornem-se acessíveis e sirvam de fundamentação para a compreensão para a prática docente. A seguir, a Figura 2 apresenta um resumo arranjado para auxiliar esta compreensão. BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 12 Teorias Psicológicas de Aprendizagem Filosofias: Empirista e Objetivista Psicologia Comportamentalista (ou behaviorista) Pedagogia Diretiva Empirismo: experiência como fonte de conhecimento. Positivismo: objetividade e neutralidade no conhecimento da realidade humana. Ser humano não pensa, reage a estímulos. Processo de ensino-aprendizagem centrado no objeto (conhecimento). Objeto é o conhecimento que só o professor tem. Aprendizagem se dá ao incorporar ou armazenar informações, repassadas diretamente do professor para o aluno. Professor tem o papel de transmitir conhecimentos e comportamentos para a manipulação e controle e Metodologia de ensino de aulas expositiva: "dar e tomar a lição", objetivando um comportamento que se consegue através do esforço repetitivo do estímulo- resposta. Filosofia: Idealista Psicologia Gestáltica (ou humanista, fenomenalista, racionalista, inatista, apriorista e nativista) Pedagogia Não-Diretiva Idealismo Filosófico: modo de pensar especulativo, não científico. Capacidades básicas do ser humano prontas ao nascimento. Processo de ensino-aprendizagem centrado no sujeito (aluno). Aprendizagem se dá por experiência pessoal e objetiva: construída de forma pessoal e única – insight. Professor tem o papel de facilitar a aprendizagem, na busca progressiva da autonomia do aluno. Metodologia de ensino que possibilita liberdade para aprendizagem. Filosofia: Materialismo Dialético ou Marxismo Teorias Interacionistas Pedagogia Relacional (ou construtivista, interacionista) Processo de ensino-aprendizagem se dá na interação entre o indivíduoe o meio. No processo de ensino-aprendizagem, aluno e conhecimento são considerados indissociados. Indivíduo e meio têm ação recíproca. A construção do conhecimento se dá através da construção contínua do ser humano em sua relação com o meio. Teorias Interacionistas Interacionista Vygotskiana Processo de ensino-aprendizagem focaliza a cultura, através da linguagem. Aprendizagem se dá através da relação indivíduo- indivíduo-meio, explorando a consciência de historicidade no contexto. Professor tem o papel de criar condições de reflexão crítica sobre a ação cultural. Metodologia de ensino que explora a crítica, a ação, a reflexão de temas do contexto social do aluno. Processo de construção parte do social para o individual (interpessoal para intrapessoal). Interacionista Piagetiana Processo de ensino-aprendizagem constitui-se nas relações de processo construtivista no ensaio e no erro. Aprendizagem é resultado de interpretações ativas entre o sujeito e o objeto. Professor tem o papel de promover a autonomia intelectual num processo de socialização. Metodologia de ensino que explora a atividade do sujeito como centro do processo de ensino- aprendizagem. Processo de construção parte do individual para o social (intrapessoal para interpessoal). Figura 2 - Teorias Psicológicas de Aprendizagem Fonte: Adaptado de Vieira (2001) 5 Considerações finais Por uma visão consciente da nossa sociedade é possível constatar que o desenvolvimento humano e social do mundo contemporâneo está subjacente às BUENO, J.L.P. O paradoxo da filosofia da educação: Pressupostos liberais e pressupostos marxistas 13 modificações na estrutura produtiva do país ou região, como a industrialização, que resulta num processo de crescimento econômico. Por isso, a educação deve, como condição sine qua non, promover a compreensão e crítica do complexo sociedade- consumo-industrialização para sobrepujar o estágio de ratificação generalizada da sociedade. Neste estudo, foram expostas de forma paralela e sintética as tendências pedagógicas, segundo cada pressuposto filosófico, para representar a prática e as conseqüências dos métodos de ensino na formação dos estudantes de nossa sociedade. Procurou-se manter um padrão didático para o estudo situando alguns pontos históricos e evolutivos, como também as influências político-econômico- sociais para situar cada visão pedagógica. Contudo, o mais importante nos tempos atuais, do pensar pedagógico no contexto da sociedade industrial, é promover uma pedagogia que liberte e instrumentalize o aluno para se relacionar e se construir socialmente, conhecendo sua realidade e a trajetória histórica de sua sociedade. Neste sentido, ainda pode-se destacar a importância da educação problematizadora e crítica para superar a alienação imposta pela sociedade industrial, alcançando a consciência e a autonomia para a própria cidadania e subsistência. Referências Bibliográficas BOCK, Ana et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 13. ed., 1999. BORDENAVE, J. D., PEREIRA, A. M. Estratégias de Ensino-aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1998. BUENO, J.L.P. O Empreendedorismo como superação do estado de alienação do trabalhador. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção), Programa de Pós- graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, 2005. BUENO, J.L.P. Tecnologias da educação a distância aplicadas à educação presencial. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção), Programa de Pós- graduação em Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis, 2001. CAMPOS, Judas Tadeu de. Tendências da educação para o século XXI. Revista Ciências Humanas, no.1, Vol.7. 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