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MpMagEst Direito Civil Francisco Loureiro Data: 05/04/2013 Aula 05 MpMasEst – 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO 1. Invalidade do negócio jurídico. 2. Defeitos dos negócios jurídicos. 1. INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO 1.1. Hipótese de nulidade (art. 166 e 104) “Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.” “Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.” Observações: Capacidade como requisito indispensável para validade do negócio (art 3º e 4º cc.): “Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.” “Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. 2 de 6 Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.” É nulo do negócio celebrado por agente absolutamente incapaz. Nesse sentido, o STJ entende que ninguém se torna incapaz pela interdição, logo o negócio é desfeito mesmo antes a interdição, porém, antes da sentença daquele processo, quem alega essa incapacidade incumbe o dever de prová-la. Objeto ilícito ou impossível. A licitude do objeto é mais ampla do que o objeto ilegal. A impossibilidade do objeto deve ser concomitante ao nascimento do negócio jurídico, logo, o objeto que se torna ilícito após a celebração é uma impossibilidade superveniente e leva a resilição contratual – caso fortuito ou força maior. Forma prescrita ou não defesa em lei: como regra a validade da declaração de vontade não depende de forma especial, senão quando a lei exigir. Assim, conforme o art. 107 do cc. os negócios jurídicos via de regra são informais, consagrando o princípio da liberdade das formas ou consensualismo : “Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.” No entanto, em casos especiais a lei prevê a necessidade formalidades relacionadas com a declaração de vontade e nessas situações o negócio não admitirá a forma livre. Diferença entre formalidade e solenidade: solenidade significa a necessidade de ato público (escritura pública), enquanto formalidade qualquer exigência apontada pela lei (ex.: forma escrita, exigência de duas testemunhas etc) Nos negócios realizados a título ad solemnitatem, ainda que as partes cumprem o acordado, é nulo o negócio e pode ser declarado de ofício, uma vez que não foi observado as solenidades exigidas pela lei. Nos negócios ad probationem Ex. 401 do CPC. A forma não atinge a validade do negócio jurídico. “Art. 401. A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo em que foram celebrados.” No silencio da lei ou das vontades das partes o negócio é não solene. Determinados atos, além de solenes exigem uma forma especial (art. 108), qual seja, escritura pública. “Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.” Em relação ao conteúdo desse artigo, foi aprovado o enunciado 298 do CJF/STJ na IV jornada de direito civil que o valor de 30 salários mínimos “é aquele atribuído pelas partes contratantes e não qualquer outro valor arbitrado pela administração pública com finalidade tributária.” 3 de 6 Exceções a exigibilidade de escritura pública do art. 108: (i) SFH – sistema financeiro da habitação: é possível realizar compra e venda por instrumento particular (não exige escritura); (ii) Lei de loteamentos (6.766/79): art. 26, §6º - os compromissos de compra e venda valerão como título para registro se acompanhados de prova da quitação. (iii) Lei do sistema financeiro imobiliário (9.514/97): art. 38. Financiamento de imóvel com alienação fiduciária. Obs.: o negócio é nulo quando fraudar a lei ou quando for contrária a lei – contra lege. Na fraude não é violada a lei no sentido literal, mas sim no seu espirito. Nesse caso o negócio é aparentemente válido, mas seus efeitos práticos são os mesmos daqueles que violam a norma cogente – contra lege. Ex.: a impossibilidade para realizar um loteamento e os interessados fazem um condomínio, na prática é loteamento. 1.2. Simulação Simulação é a celebração de um negócio aparentemente legal, mas na verdade visa produzir efeitos diferentes daqueles que as partes declaram. É uma declaração enganosa de vontade. É o fenômeno da falsa aparência negocial que objetiva enganar terceiros. Cumpri destacar, que a simulação é matéria de divergência doutrinária no que diz respeito se constitui um vício social do negócio jurídico ou causa de nulidade absoluta. Os Autores filiados a primeira corrente (Maria Helena Diniz, Silvio de Salvo Venosa, Flávio Tartuce, dentre outros) entendem que a simulação continua sendo um vício social do negócio jurídico, mas que gera a sua nulidade. Os autores filiados a segunda corrente (Inácio de Carvalho Neto, Francisco Amaral) entendem que a simulação deixou de ser um vício social do negócio jurídico, por atingirem a causa negocial, sendo incompatível com o que as partes desejaram. Veja-se que com o código civil de 2002 a simulação passou de anulável para nulo, ou seja, era tratada pelo código de 1916 como anulável: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós- datados. § 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. A diferença entre a reticencia e a simulação. No primeiro caso uma das partes não realiza a declaração verdadeira, na simulação as duas partes realizam declarações falsas. No velho código civil havia uma regra que não mais existe. A simulação não viciava o negócio se fosse inocente, sem o objetivo de prejudicar terceiros. Atualmente a simulação é matéria de 4 de 6 ordem pública significando que o ordenamento não quer um negocio meramente aparente, mesmo que não prejudique terceiros. 1.2.1. Requisitos da simulação: (i) Negocio jurídico bilateral; (ii) Desconformidade: é a distorção entre aquilo que as partes declaram ou desejam;1.2.2. Simulação absoluta: só existe a aparecia, não há realização do negócio. Ex.: venda de imóvel para fraudar os credores. É nula e não se produz resultado nenhum. 1.2.3. Simulação relativa (ou dissimulação): aparência de um negócio que encobre outro negócio simulado Ex.: compra e venda de imóvel para concubina, na verdade houve doação. 1.2.3.1. Objetiva: a simulação pode recair sobre o objeto (caso do exemplo anterior); 1.2.3.2. Subjetiva: a simulação pode recair sobre a pessoa (ex.: doar bem ao amigo que por sua vez para a concubina). 1.2.3.3. Condição: a simulação pode recair sobre as clausulas contratuais (ex.: compra e venda de imóveis por preço menor do que foi realizado, ou com data retroativa) 1.2.4. Simulação total: abrange todo o negócio jurídico. Simulação parcial contamina somente algumas cláusulas do negócio e só essas são nulas. 1.2.5. Efeitos jurídicos da simulação: (i) Se for relativa, o que se declara nulo é o negócio aparente e portanto subsiste o negocio dissimulado que só produzirá efeitos se satisfazer requisitos de validade. (ii) Se for absoluta a simulação não produzirá nenhum efeito. (iii) Os participes do ato simulado podem alegar a sua torpeza, o que é inverso do ato anulável. (iv) Os terceiros no ato simulado: os terceiros de boa-fé não podem ser prejudicados pelo ato simulado. (v) O ato nulo não produz o efeito principal que ele visa, mas pode produzir determinados efeitos que a lei estabelecer ex.: terceiros de boa-fé. Logo é falsa a afirmação de que o ato nulo não produz nenhum efeito. Ex.: casamento putativo, pagamento realizado a credor absolutamente incapaz. 1.3. Anulabilidade “Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.” Existem outras hipótese de anulabilidade do código civil. Ex.: Falta de outorga uxória ou marital – o cônjuge que não anuiu pode pedir a anulação do negocio jurídico 2. DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 5 de 6 São vícios que maculam o ato celebrado e atinge a vontade ou gera uma repercussão social tornando o negócio passível de ação anulatória ou declaratória de nulidade a ser proposta pelo prejudicado. Pode decorrer da distorção da vontade (o que se declara não é a verdadeira intenção) Vícios de consentimento: falsa percepção da realidade, ou fragilidade negocial. (i) Erro (ii) Dolo (iii) Coação (iv) estado de perigo (introduzido pelo CC de 2002) (v) lesão (introduzido pelo CC de 2002) Vício social: são institutos jurídicos condenados pela repercussão social contrários a boa-fé. (i) Fraude contra credores (ii) Simulação Obs.: Prazo para a ajuizamento da ação para anulação é de 4 anos a partir da data do negócio, e na fraude contra credores é após a data do registro (jurisprudência). Na coação, conta-se da data da coação. É prazo decadência – não se interrompe e não suspende. Obs.: os outros casos do código civil é de 2 anos. Obs.: no caso da outorga uxória conta-se do divórcio e não do contrato. 2.1. Erro (Art. 138 a 144) É a falsa noção da realidade, que leva o agente a declarar sua vontade de forma diversa do que declararia se conhecesse a realidade. O erro pode recair sobre a pessoa, o objeto ou a um direito que envolve a situação negocial. “Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.” Distinção de erro e ignorância: o erro é a falsa noção de realidade, a ignorância sequer tem conhecimento da realidade. Para que o erro leve a anulação é necessário alguns requisitos: (i) Erro substancial (aspectos relevantes do negócio jurídico); (ii) Erro deve ser real (deve causar prejuízo concreto ao agente); (iii) Reconhecibilidade ou cognoscibilidade do erro: (possibilidade de reconhecer o erro pelo destinatário da declaração de vontade). Não é justo que terceiros de boa-fé respondam pelo erro perceptível; (iv) Escusabilidade do erro: é dividido pela doutrina – se o erro é grosseiro não permite a anulação. 2.1.1. Erro substancial 6 de 6 O erro que não é substancial é acidental que não anula o negócio jurídico e gera somente indenização. “Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.”
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