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Direito Penal O Instituto IOB nasce a partir da experiência de mais de 40 anos da IOB no desenvolvimento de conteúdos, serviços de consultoria e cursos de excelência. Por intermédio do Instituto IOB, é possível acesso a diversos cursos por meio de ambientes de aprendizado estruturados por diferentes tecnologias. As obras que compõem os cursos preparatórios do Instituto foram desenvolvidas com o objetivo de sintetizar os principais pontos destacados nas videoaulas. institutoiob.com.br Direito Penal - 2ª ed. / Obra organizada pelo Instituto IOB - São Paulo: Editora IOB, 2013. ISBN 978-85-63625-15-1 Informamos que é de inteira responsabilidade do autor a emissão dos conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Instituto IOB. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal. Sumário Capítulo 1 – Aplicação da Lei Penal, 7 1. O Princípio da Legalidade, 7 2. O Princípio da Aplicação da Lei Penal mais Favorável, 9 3. Leis Excepcionais e Temporárias, 10 4. O Tempo e o Lugar do Crime, 11 5. A Territorialidade – Art. 5º do Código Penal, 12 6. Extraterritorialidade – I, 13 7. Extraterritorialidade – II, 14 8. O Conflito Aparente de Leis Penais – Aspectos Iniciais, 16 9. O Conflito Aparente de Leis Penais – Princípio da Consunção e Crime Progressivo, 17 10. O Conflito Aparente de Leis Penais – Princípio da Alternatividade e Tipos Mistos, 18 Capítulo 2 – Teoria Geral do Crime, 19 1. Elementos do Crime – Introdução, 19 2. Elementos do Crime – Fato Típico, Ilicitude e Culpabilidade, 20 3. O Fato – A Conduta, o Resultado e o Nexo de Causalidade, 21 4. O Fato – O Resultado, 22 5. O Fato – Nexo de Causalidade – I, 23 6. O Fato – Nexo de Causalidade – II, 24 7. O Fato – Nexo de Causalidade dos Crimes Omissivos, 25 8. Crimes Omissivos Impróprios, 26 9. Tipicidade, 27 10. Tipicidade – Formas de Adequação, 28 11. Tipicidade Material, 29 12. Crimes Dolosos – I, 30 13. Crimes Dolosos – II, 30 14. Crimes Culposos, 31 15. Distinções: Dolo e Culpa, 32 16. Erro de Tipo (Art. 20, Caput), 33 17. Erro de Tipo – Descriminante Putativa – Parte I, 34 18. Erro de Tipo – Descriminante Putativa – Parte II, 34 19. Iter Criminis – Parte I, 36 20. Iter Criminis – Parte II, 37 21. Tentativa, 38 22. Crime Tentado – Classificação, 39 23. Crime Tentado – Hipóteses em que Não se Admite a Tentativa, 39 24. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz, 40 25. Arrependimento Posterior, 42 26. Crime Impossível, 43 27. Ilicitude do Crime, 44 28. Culpa Consciente e Crime Preterdoloso, 45 29. Estado de Necessidade, 46 30. Estado de Necessidade: Classificação, 46 31. Legítima Defesa, 47 32. Cumprimento de Dever Legal, 48 33. Imputabilidade (Excludentes): Art. 26, Caput do CP, 49 34. Imputabilidade (Excludentes): Art. 26, Caput do CP – Sistema Biopsicológico e Absolvição Imprópria, 50 35. Imputabilidade – Arts. 27 e 28, § 1º do CP, 51 36. Imputabilidade – Não Excludentes, 52 37. Potencial Consciência da Ilicitude: Erro de Proibição, 53 38. Potencial Consciência da Ilicitude: Erro de Proibição Indireto, 54 39. Exigibilidade de Conduta Diversa: Coação Moral Irresistível, 55 40. Exigibilidade de Conduta Diversa: Obediência Hierárquica, 56 Capítulo 3 – Concurso de Pessoas, 58 1. Concurso de Pessoas: Introdução e Conceito de Autor e Partícipe, 58 2. Teorias sobre o Concurso de Pessoas, 59 3. Requisitos do Concurso de Pessoas e Teorias sobre a Autoria, 60 4. Autoria e Participação, 61 5. Autoria e Concurso de Pessoas em Crime Culposo, 62 Capítulo 4 – Das Penas, 64 1. Das Penas – Aspectos Introdutórios, 64 2. Finalidade das Penas, 65 3. Aplicação da Pena Privativa de Liberdade – Sistema, 66 4. Circunstâncias Judiciais (Art. 59) – I, 68 5. Circunstâncias Judiciais (Art. 59) – II, 69 6. Circunstâncias Judiciais (Art. 59) – III, 70 7. Circunstâncias Agravantes (Art. 61) – I, 70 8. Circunstâncias Agravantes (Art. 61) – II, 71 9. Circunstâncias Agravantes (Art. 62), 73 10. Circunstâncias Agravantes – Reincidência, 74 11. Circunstâncias Atenuantes (Art. 65) – I, 75 12. Circunstâncias Atenuantes (Art. 65) – II, 76 13. Causas de Aumento e Diminuição, 77 14. Regime Inicial de Cumprimento de Pena, 78 15. Penas Restritivas de Direitos – Prestação Pecuniária e Perda de Bens e Valores, 79 16. Penas Restritivas de Direito – Prestação de Serviços à Comunidade, 81 17. Penas Restritivas de Direito – Interdição Temporária de Direitos e Limitação de Fim de Semana, 82 18. Penas Restritivas de Direitos – Requisitos, 83 19. Penas Restritivas de Direitos – Formas de Aplicação e Conversão, 84 20. Da Multa, 86 Capítulo 5 – Concurso de Crimes, 88 1. Concurso de Crimes – Sistema de Aplicação das Penas – Concurso Material, 88 2. Concurso Formal, 89 3. Crime Continuado, 90 4. Erro na Execução e Resultado Diverso do Pretendido, 91 5. Limites das Penas, 92 Capítulo 6 – Medidas de Segurança, 94 1. Medidas de Segurança – Espécies, 94 2. Medidas de Segurança – Prazos, 95 Capítulo 7 – Extinção da Punibilidade, 97 1. Causas de Extinção da Punibilidade (Art. 107) – I, 97 2. Causas de Extinção da Punibilidade (Art. 107) – II, 98 3. Prescrição – Introdução, 100 4. Prescrição da Pretensão Punitiva – Termo Inicial, 101 5. Prescrição da Pretensão Punitiva – Causas Interruptivas, 102 6. Prescrição da Pretensão Punitiva – Comunicabilidade das Causas Interruptivas e Causas Impeditivas, 103 7. Prescrição Retroativa e Superveniente, 105 8. Prescrição da Pretensão Executória – I, 105 9. Prescrição da Pretensão Executória – II, 106 10. Prescrição – Disposições Gerais, 107 Gabarito, 109 Capítulo 1 Aplicação da Lei Penal 1. O Princípio da Legalidade 1.1 Apresentação Nesta unidade, será estudado o princípio da legalidade. 1.2 Síntese O Princípio da Legalidade pode ser enunciado da seguinte maneira: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” Encontra previsão legal na Constituição Federal, no Pacto de São José da Costa Rica e também no art. 1º do Código Penal. Importante não confundir crime com infração penal. Infração penal é um gênero que possui duas espécies: crime (ou delito) e contravenção penal (in- frações com baixo potencial ofensivo). Assim, no enunciado do Princípio da Legalidade, onde consta “crime”, deve-se interpretar como “infração penal”. D ire ito P en al 8 A criação de uma contravenção penal pode ser realizada por outra norma que não seja lei? Não, pois é indispensável que haja lei para se criar crime, bem como para se criar contravenção penal. Na segunda parte do enunciado, em que diz “pena”, deve-se interpretar como “sanção penal”, ou seja, não há sanção penal sem prévia cominação legal. Isto porque a sanção penal é também um gênero com duas espécies: a pena e a medida de segurança. O Princípio da Legalidade também é chamado de Princípio da Reserva Legal. Para se criar um crime ou uma pena é necessário uma lei. Essa deve ser uma lei, ordinária ou complementar, criada pela União – Congresso Na- cional – de acordo com o que diz o art. 22 da Constituição Federal. Entre- tanto, o parágrafo único traz uma exceção ao dizer que lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre matéria penal – situação raríssima na prática. Medida provisória pode tratar de matéria de direito penal? E a lei delegada? É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria de direito penal (art. 62, § 1º da CF). Também não pode ser por lei delegada, pois o art. 68, § 1º da CF diz que não será objeto de delegação a legislação sobre direitos individuais, que abarca o direito penal. Segundo a doutrina, há diferença entre direito penal “incriminador” e di- reito penal “nãoincriminador”. Aquele cria a lei penal incriminadora, os cri- mes, as penas, e sobre ele não pode haver medida provisória. Já este, por sua natureza, pode ser regulado por medida provisória. Exemplo: medida provisó- ria cria causa de extinção da punibilidade. O enunciado do Princípio da Legalidade também alberga o Princípio da Anterioridade. Se no presente há a prática de um fato que não é punido como crime, não poderá, futuramente, haver punição por uma lei que considerou aquele fato como crime. A lei não pode retroagir. Exercícios 1. Analise a assertiva: Reza o Princípio da Reserva Legal que não há cri- me sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. 2. Analise a assertiva: Fere o Princípio da Legalidade, também conhe- cido por Princípio da Reserva Legal, a criação de crimes e penas por meio da medida provisória. 3. Analise a assertiva: O Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal constitui efetiva limitação ao poder punitivo estatal. D ire ito P en al 9 2. O Princípio da Aplicação da Lei Penal mais Favorável 2.1 Apresentação Nesta unidade, será abordado o princípio da lei penal mais favorável. 2.2 Síntese O Princípio da Lei Penal mais Favorável é muito utilizado no chamado conflito de leis penais no tempo. Se um cidadão pratica um crime na vigência de determinada lei, a regra é tempus regit actum, ou seja, aplica-se a lei que estiver vigorando na data do fato. Se durante o processo surgir uma lei nova mais severa, o juiz estará diante de um conflito de leis penais no tempo. Conflito porque se aplicar a lei anterior estará aplicando uma lei revogada, se aplicar a lei nova, estará aplicando uma lei que não estava vigente na data do fato, apesar da vigência na data da que a sentença será aplicada. Nessa situação, aplica-se o art. 5º, XL da CF, que diz que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. A lei anterior, por ser mais benéfica, apresentará ultratividade. A lei penal só retroagirá se beneficiar o réu. Merece destaque o parágrafo único do art. 2º do Código Penal, que diz: “A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos ante- riores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.” Pode, inclusive, ocorrer a chamada abolitio criminis, na qual a nova lei penal pode chegar a ponto de não mais caracterizar o fato como crime. É a hipótese prevista pelo caput do art. 2º do Código Penal. Entretanto, o abolitio criminis não cessa os efeitos extrapenais, como a obri- gação de reparar o dano (arts. 91 e 92 do Código Penal). Exercícios 4. (FGV – Adaptada) Em matéria de princípios constitucionais de Di- reito Penal, é correto afirmar que a lei penal não retroagirá mesmo que seja para beneficiar o réu? 5. Analise a assertiva: De acordo com o princípio da irretroatividade, a lei penal não retroagirá, salvo disposição expressa em lei. D ire ito P en al 10 3. Leis Excepcionais e Temporárias 3.1 Apresentação Nesta unidade, serão abordados a existência e o conceito das leis excep- cionais e leis temporárias. 3.2 Síntese O art. 3º do Código Penal traz a conceituação da lei excepcional ou temporária. Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. A lei excepcional terá um período de vigência durante uma situação dife- renciada, por uma razão específica, e terminado esse motivo as leis perdem sua vigência – a doutrina denomina-as de leis autorrevogáveis. Já as leis temporárias, apesar de também terem um prazo de vigência de- terminado, é o próprio legislador que indica o período de vigência; a lei indica seu último dia de vigência. As leis excepcionais e temporárias possuem ultratividade, ou seja, continuam tendo aplicação após sua revogação para os fatos cometidos sob a sua vigência. É importante destacar que não ocorrerá o fenômeno do abolitio criminis. Exercícios 6. (FGV – Adaptada) Julgue a assertiva: A lei penal posterior que de qualquer forma favorecer o agente, não se aplica aos fatos praticados durante a vigência de uma lei temporária. 7. Julgue a assertiva: Terminado o prazo de vigência da lei temporária, ocorrerá abolitio criminis, libertando-se os que estiverem presos em razão da prática do crime previsto nessa lei. 8. Julgue a assertiva: Os crimes praticados na vigência das leis temporá- rias, quando criadas por estas, não se sujeitam à abolitio criminis em razão do término de sua vigência. 9. Analise a assertiva: Cessada a vigência da lei temporária, conside- ram-se prescritos os crimes praticados durante sua vigência. 10. Se o fato for praticado após a vigência da lei temporária/excepcional, aplica-se a lei temporária/excepcional? D ire ito P en al 11 4. O Tempo e o Lugar do Crime 4.1 Apresentação Nesta unidade, são explicados o tempo e o local do crime. 4.2 Síntese O art. 4º do Código Penal aborda o tempo do crime e o art. 6º, o lugar do crime. Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. A palavra-chave aqui é “momento”, pois é o momento da conduta (ação ou omissão) em que se pratica o crime, ainda que outro seja o momento do resultado. O momento da prática do crime – quando foi praticado – é diferente do momento da sua consumação. O Código Penal adotou a teoria da atividade, que considera como praticado o crime no momento da conduta, ou seja, o momento da ação ou omissão. Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Já no que diz respeito ao lugar do crime, o aspecto mais relevante é se foi praticado no Brasil ou não. O lugar do crime é onde se praticou a ação ou omis- são, bem como onde se produziu ou deveria produzir o resultado. Essa teoria, chamada de ubiquidade ou teoria mista, leva em consideração a conduta e também o resultado. Assim, em termos de lugar, um crime pode ser cometido em dois países, como na hipótese da conduta ocorrer num país e o resultado em outro. Exercícios 11. É correto afirmar que se considera praticado o crime no lugar que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu, ou deveria ter produzido o resultado? 12. Analise a assertiva: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. 13. Analise a assertiva: Considera-se praticado o crime no momento da produção do resultado. D ire ito P en al 12 14. Analise a assertiva: Quanto ao tempo do crime, o Código Penal ado- tou a teoria da ubiquidade, pela qual se considera praticado o crime no momento da ação ou do resultado. 5. A Territorialidade – Art. 5º do Código Penal 5.1 Apresentação Nesta unidade, é explicado o conceito da territorialidade no Código Penal. 5.2 Síntese O art. 5º do Código Penal traz o conceito da territorialidade que diz: Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. São exceções à regra da territorialidade, o quanto disposto em tratados, con- venções e regras de direito internacional. Um exemplo é a imunidade diplomá- tica, pois o diplomata se submete às leis do seu país. Daí surge o princípio da territorialidade mitigada, temperada ou relativa, pois a regra básica da territo- rialidade admite exceções. Território brasileiro é o solo, subsolo, águas interiores, espaço aéreo corres- pondente ao solo e às doze milhas marítimas. Aqui é importante mencionar que para efeitos penais o limite do território é o de doze milhas marítimas, enão o limite da zona de exploração econômica. Alto-mar não é território nacional, mas as aeronaves brasileiras de proprie- dade privada ou mercante, registradas no Brasil, que lá estejam, são conside- rados território brasileiro. Também o são embarcações e aeronaves do governo brasileiro no que diz respeito aos crimes ocorridos no seu interior. É importante destacar a extensão do território brasileiro previsto no § 1º do art. 5º do Código Penal. § 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território na- cional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. A lei brasileira também é aplicada a aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada em território nacional, de acordo com o § 2º do art. 5º do CP. D ire ito P en al 13 § 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de ae- ronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aque- las em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Exercício 15. (FGV) Assinale a alternativa que apresente local que não é conside- rado como extensão do território nacional para os efeitos penais: a) Aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de proprie- dade privada, quando em território estrangeiro, desde que o cri- me figure entre aqueles que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a cumprir; b) As aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de pro- priedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar; c) As embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública, onde quer que se encontrem; d) Aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar terri- torial do Brasil. 6. Extraterritorialidade – I 6.1 Apresentação Nesta unidade, é abordada a extraterritorialidade segundo o Código Penal. 6.2 Síntese O art. 7º do Código Penal trata dos casos de aplicação da lei brasileira para os crimes cometidos fora do território brasileiro. Faz-se necessário ressaltar que não se deve confundir o disposto no art. 7º com o art. 5º, que trata dos crimes cometidos dentro do território nacional – por extensão ou não. Dispõe o art. 7º do Código Penal: Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I – os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; D ire ito P en al 14 b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Es- tado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. As hipóteses trazidas nas alíneas “a”, “b”, “c” e “d” do inciso I do art. 7º são chamadas de hipóteses de extraterritorialidade incondicionada, pois independe do que ocorrer judicialmente fora do país – ocorrer processo ou não, condena- ção ou absolvição, conforme disposto no § 1º. Já o inciso II do art. 7º trata das hipóteses de extraterritorialidade condicio- nada, pois dependem das condições do § 2º. Estabelece o referido inciso: Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: (...) II – os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Prevê o § 2º do art. 7º do Código Penal pátrio: § 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concur- so das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 7. Extraterritorialidade – II 7.1 Apresentação Nesta unidade, é dada continuidade ao tema da extraterritorialidade se- gundo o Código Penal. 7.2 Síntese O art. 7º do Código Penal traz as hipóteses nas quais se aplica a lei brasileira fora do território nacional, tanto na forma condicionada, como na incondicionada. D ire ito P en al 15 Uma hipótese que merece destaque é aquela trazida pela alínea “d” do § 2º, art. 7º, a qual diz que se o autor do crime, cometido fora do país, é preso, pro- cessado e absolvido em outro país, não será processado no Brasil. Também não será processado no Brasil se o agente é condenado e cumpre a pena fora do país. Art. 7º, § 2º, “d”: não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; (...) Outra hipótese é a prevista na alínea e, § 2º do art. 7º do CP, que diz: Art. 7º, § 2º, “e”: não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. Ou seja, se o criminoso é perdoado no estrangeiro ou é extinta a punibili- dade, não poderá ser processado e julgado no Brasil. O § 3º traz outra hipótese de extraterritorialidade condicionada, nos crimes que preencham as condições do § 2º, no qual o agente estrangeiro não tenha sido extraditado e haja requisição do Ministro da Justiça para o processo. Art. 7º, § 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por es- trangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Em relação ao cumprimento de pena no estrangeiro, versa o art. 8º do CP no seguinte: Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Ou seja, por exemplo, uma pessoa comete o crime de furto no estrangeiro, é condenada à pena de cinco anos, cumpre três anos e obtém livramento con- dicional. Ao ingressar no Brasil, a pessoa poderá ser processada. Se também for condenado a uma pena de 5 anos no Brasil, será abatida da pena o tempo que já cumpriu no estrangeiro, ou seja, 3 anos, restando assim 2 anos de pena que ainda deverá ser cumprida no Brasil. No entanto, se a pena for diversa aqui no Brasil, ela deverá ser atenuada. Por exemplo, se no Brasil couber a pena de multa, o juiz atenuará a pena de multa, por ter havido o cumprimento de 3 anos. Exercícios 16. (FGV – Delegado – AP – 2010) Marque verdadeiro ou falso. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra a administração pública, por quem está a seu serviço. 17. Analise a assertiva: Ficam sujeitos à lei brasileira, os crime praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de proprie- dade privada, quando em território estrangeiro, ainda que julgados no estrangeiro. D ire ito P en al 16 18. Analise a assertiva: Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra o patrimônio da União, do Distrito Federal, de Estados, de Territórios ou de Municípios, quando não sejam julgados no estrangeiro. 19. Analise a assertiva: Uma brasileira em alto-mar provoca um aborto (fora das hipóteses legais) a bordo de umaembarcação de proprie- dade privada, registrada em um país em que o aborto não é punido. Nesse caso, nossa lei não será aplicada, já que o fato não é punível no país em que foi praticado. 20. Analise a assertiva: A pena cumprida no estrangeiro não atenua nem compensa a pena imposta no Brasil, pelo mesmo crime, dado caráter independente das justiças nacional e estrangeira. 8. O Conflito Aparente de Leis Penais – Aspectos Iniciais 8.1 Apresentação Nesta unidade, são abordados o chamado conflito aparente de leis penais e suas aplicações. 8.2 Síntese O conflito aparente de leis penais ocorre na hipótese de uma pessoa co- meter um fato que aparentemente se configura como mais de um tipo penal. Para resolver o impasse, é necessário se utilizar de alguns princípios, como: 1) princípio da especialidade; 2) princípio da subsidiariedade; 3) princípio da consunção; 4) princípio da alternatividade. O princípio da especialidade diz que no conflito, entre um tipo penal ge- nérico e um específico, prevalece este último. O tipo genérico apresenta o elemento 1 e o elemento 2. Já o tipo específico, apresenta, além destes dois elementos, outros, como o elemento 3, por exemplo. O tipo específico pode ser um crime mais grave ou um crime menos grave. O princípio da subsidiariedade se aplica no conflito entre um tipo penal principal e o tipo penal subsidiário. O subsidiário é o crime menos grave, e o principal, o mais grave. Existe a chamada subsidiariedade expressa, que é a hipótese da própria lei que prevê a sua aplicação no caso de o fato não constituir crime mais grave, como no art. 132 do Código Penal. D ire ito P en al 17 9. O Conflito Aparente de Leis Penais – Princípio da Consunção e Crime Progressivo 9.1 Apresentação Nesta unidade, é dada continuada à explanação sobre o chamado confli- to aparente de leis penais com enfoque no princípio da consunção. 9.2 Síntese Em continuação à aula anterior, também existe a chamada subsidiarieda- de tácita, que ocorre naquelas hipóteses em que dentre os elementos de um crime, há outro crime menor, como no art. 146 do Código Penal. O agente só responderá pelo crime mais grave, ou seja, quando um crime de menor gravi- dade for elemento de outro delito, a pessoa só responderá pelo tipo principal, o tipo mais grave. O princípio da consunção está relacionado com algumas hipóteses. A primeira traz a relação deste princípio com o crime progressivo, que se dá quando o agente comete um crime mais grave (exemplo: homicídio) e ne- cessariamente passa por crime de menor gravidade. Neste caso, o crime menos grave estará absorvido pelo crime mais grave. Já a progressão criminosa ocorre quando há alteração de dolo. Aqui, o agente comete um crime, e no mesmo contexto acaba cometendo outro cri- me mais grave (alterando-se o dolo). Neste caso, o agente responde pelo crime mais grave. Quanto ao crime-meio e o crime-fim, é possível perceber que, em algumas hipóteses, o agente praticou dois fatos distintos, porém, só comete o primeiro para conseguir atingir o segundo, a sua finalidade. Consoante a Súmula nº 17 do STJ, o crime-meio é absorvido pelo crime- -fim: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.” O fato posterior não punível ocorre quando, por exemplo, o agente come- te crime de furto e acaba destruindo o carro. Nota-se que cometeu crime de furto e, na sequência, de dano, o qual não será punido, já que o bem jurídico já foi lesado. D ire ito P en al 18 10. O Conflito Aparente de Leis Penais – Princípio da Alternatividade e Tipos Mistos 10.1 Apresentação Nesta unidade, é exposta a parte final da explicação sobre o conflito aparente de leis penais com destaque para o princípio da alternatividade. 10.2 Síntese Seguindo o andamento da aula anterior, o princípio da alternatividade se aplica aos chamados tipos mistos alternativos – ou crime de ação múltipla. São crimes nos quais há previsão de mais de uma conduta típica. Se em algum desses crimes o agente praticar mais de uma conduta típica, em um mesmo contexto fático, ele responderá por um único crime. Há também os tipos mistos cumulativos, nos quais se o agente pratica mais de uma conduta típica, estará praticando mais de um delito. Aqui não há a aplicação do Princípio da Subsidiariedade. A nova redação do crime de estupro – art. 213 do CP – trouxe uma con- trovérsia. Se o agente comete uma modalidade (estupro mediante conjunção carnal), seguida de outra (estupro mediante ato libidinoso), dependerá do entendimento doutrinário se se reconhecerá um ou dois delitos, conforme se entenda estar diante de um crime do tipo misto alternativo ou crime do tipo misto cumulativo. Exercícios 21. É corretor afirmar que, na hipótese do crime-meio ser absorvido pelo crime-fim, há a configuração do Princípio da Consunção? 22. Analise a assertiva: Quando o legislador utiliza no tipo penal a ex- pressão “só se aplica essa pena se o fato não constituir crime mais grave”, tem-se uma hipótese da aplicação do Princípio da Subsidia- riedade expressa. 23. Analise a assertiva: Seguindo o Princípio da Especialidade, aplica-se o tipo específico, que sempre terá uma pena mais grave que a do tipo genérico. 24. Analise a assertiva: O Princípio da Alternatividade aplica-se aos tipos mistos cumulativos. Capítulo 2 Teoria Geral do Crime 1. Elementos do Crime – Introdução 1.1 Apresentação Nesta unidade, é exposta a introdução à teoria geral do crime. 1.2 Síntese O crime possui vários elementos, e o primeiro deles é o fato típico, o segun- do é a ilicitude/antijuridicidade, e o terceiro e último é a culpabilidade. Para que ocorra um crime, é necessária a reunião dos três elementos. Parte minoritária da doutrina entende que o crime possui apelas dois ele- mentos: fato típico e a ilicitude. A culpabilidade seria apenas pressuposto de aplicação da pena. O fato pode se desdobrar em conduta, resultado e nexo causal. D ire ito P en al 20 A tipicidade possui dois aspectos: o formal (adequação de um fato a um tipo, a uma lei penal incriminadora) e o material (avaliação da lesão efetiva ao bem jurídico). Praticado um fato típico, há uma presunção, um indício, que ele seja ilícito. A ilicitude é a contrariedade desse fato com o ordenamento jurídico. En- tretanto, poderá ocorrer a incidência de outra norma, uma norma permissiva, como a legítima defesa. São excludentes da ilicitude: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito (art. 23 do Código Penal). São elementos da culpabilidade: a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. Exercícios 25. Julgue a assertiva: Parte da doutrina entende que o crime possui como elementos o fato típico e a imputabilidade. 26. É correto afirmar que parte da doutrina entende que o crime possui como elementos o fato típico, a ilicitude e a culpabilidade, porém, havendo quem entenda que somente o fato típico e a ilicitude são elementos do crime, figurando a culpabilidade como pressuposto de aplicação da pena? 2. Elementos do Crime – Fato Típico, Ilicitude e Culpabilidade 2.1 Apresentação Nesta unidade, é abordado o conceito do fato típico, da ilicitude e da culpabilidade. 2.2 Síntese Para se ter o fato típico, é preciso que se verifique se houve dolo ou culpa. Para haver dolo, o agente deve querer o resultado ou assumir o risco de produzi-lo. Para haver culpa, o agente tem que praticar a conduta deixando de observar o dever de cuidado, agindo com imprudência, negligência ou imperícia. Se o agente mata alguém, mas não agiu com dolo nem culpa, então este fato é atípico. D ire ito P en al 21 É preciso observar queo fato seria atípico, também, diante da aplicação do princípio da insignificância. A análise da culpabilidade passa pela verificação da existência da imputabili- dade, da potencial consciência da ilicitude e da exigibilidade de conduta diversa. É importante destacar as excludentes de ilicitude previstas no art. 23 do CP. Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: I – em estado de necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. O menor de dezoito anos pode praticar um fato típico ilícito, que é con- siderado um ato infracional, mas o sujeito não tem culpabilidade por ser inimputável, é isento de pena. Contudo, faz-se necessário observar que está sujeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Ainda, um sujeito maior de dezoito anos pode ter uma doença mental e praticar um fato típico ilícito, mas não possui capacidade para entender este fato. Neste caso, o inimputável é isento de pena, sendo aplicada uma medida de segurança. 3. O Fato – A Conduta, o Resultado e o Nexo de Causalidade 3.1 Apresentação Nesta unidade, é aprofundado o conceito do fato (a conduta, o resultado e o nexo de causalidade). 3.2 Síntese O primeiro elemento do fato é a conduta humana, que tem como elemen- tos a consciência e a vontade. Se não há conduta, não há o fato, e sem o fato típico, não existe crime. Assim, por exemplo, na presença da coação física irresistível, não há vontade, excluindo-se a conduta. Na hipótese de sonambulismo, não há a consciência, e também não há a conduta. Sem conduta, não há crime. Coação física irresistível exclui a conduta. Coação moral irresistível exclui a culpabilidade, pois não há reprovação da atitude. A conduta pode ser uma ação ou omissão. O tipo penal que prevê uma ação é o tipo comissivo. Já o tipo omissivo prevê uma omissão. D ire ito P en al 22 Exercícios 27. Julgue a assertiva. A ação e omissão são formas de conduta. 28. Julgue a assertiva. A coação física irresistível é uma hipótese de au- sência de conduta do coagido. 29. Julgue a assertiva. Toda conduta humana é um ato independente- mente de consciência e vontade. 30. Julgue a assertiva. Os tipos penais que descrevem uma ação proibida são classificados como tipo omissivo próprio. 4. O Fato – O Resultado 4.1 Apresentação Nesta unidade, é abordado o resultado como elemento do fato. 4.2 Síntese O art. 13 do Código Penal trata do resultado. Todo crime depende da exis- tência de um determinado resultado. Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Existem dois tipos de resultados: o naturalístico (modificação do mundo exterior. No crime do homicídio, é a morte da pessoa) e o normativo (lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. No crime de homicídio, seria a lesão ao bem jurídico vida). Segundo a doutrina, o art. 13 em seu caput se refere ao resultado naturalís- tico; porém, há crimes que não produzem resultado naturalístico. Assim, deve-se realizar a interpretação restritiva do dispositivo legal em co- mento, pois nem todo crime possui resultado naturalístico. Todo crime, sem exceção, possui o resultado normativo. Há uma classificação de crime relacionado ao resultado naturalístico: cri- mes materiais (o tipo penal descreve uma conduta e exige um resultado na- turalístico para ser consumado), crimes formais (o tipo penal descreve uma conduta e um resultado naturalístico, mas dispensa a produção de resultado para a consumação do crime) e crimes de mera conduta (o tipo penal somente descreve uma conduta, sequer descreve um resultado e basta a conduta para o crime ser consumado). D ire ito P en al 23 Exercícios 31. Julgue a assertiva: Nem todo crime possui resultado normativo. 32. Julgue a assertiva: Todo crime possui resultado naturalístico. 33. Julgue a assertiva: Todo crime possui resultado normativo. 34. Julgue a assertiva: Nem todo crime possui resultado naturalístico. 5. O Fato – Nexo de Causalidade – I 5.1 Apresentação Nesta unidade, é abordado o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado. 5.2 Síntese Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. O nexo causal é a relação da conduta com o resultado e este nexo de cau- salidade é naturalístico e não normativo. O art. 13 do Código Penal adotou a teoria da equivalência dos antecedentes causais, também conhecida como conditio sine qua non. Essa teoria diz que todos os atos que contribuíram para o resultado são causas. O critério hipotético de Thyrén define causa como tudo que, uma vez su- primido mentalmente, impediria a produção do resultado como ocorreu. Uma crítica a essa teoria é a sua permissão de regresso ao infinito. Assim, a doutrina limita o nexo causal, pois não basta o sujeito ter dado causa material ao resultado, mas o sujeito deve agir com dolo ou culpa. Logo, caso o sujeito não tenha agido com dolo ou culpa, não será responsabilizado, ainda que tenha dado causa. Exercícios 35. Julgue a assertiva: Nos termos do art. 13, caput do Código Penal, o resultado, de que depende a existência do crime, somente é impu- tado a quem lhe deu causa. D ire ito P en al 24 36. Julgue a assertiva: O art. 13, caput, adotou a teoria da equivalência dos antecedentes causais. 37. Julgue a assertiva: Segundo o denominado procedimento hipotético de eliminação de Thyrén, causa é todo antecedente que, suprimido mentalmente, impediria a produção do resultado como ocorreu. 6. O Fato – Nexo de Causalidade – II 6.1 Apresentação Nesta unidade, veremos a continuidade do nexo de causalidade entre a conduta e o resultado. 6.2 Síntese Conforme já visto anteriormente, o caput do art. 13 do Código Penal ado- tou a teoria da equivalência dos antecedentes causais. Causa é tudo aquilo que contribuiu para a produção do resultado. O art. 13, § 1º do Código Penal trata da causa superveniente que por si só produziu o resultado. Art. 13, § 1º A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entre- tanto, imputam-se a quem os praticou. Exemplo: um sujeito, querendo matar uma vítima, desfere facadas nesta. Pode existir também uma causa superveniente relativamente independente que contribui para o resultado, mas não é responsável por si só. Exemplo: Agente, desejando matar, deu uma facada na vítima. A vítima é levada para o hospital. Lá, a vítima sofre uma intervenção médica e contrai uma infecção hospitalar, que agrava os ferimentos, e ocorre a morte. Neste caso, por haver uma comunhão de causas para o resultado, o resulta- do morte pode ser imputado ao agente. Deve-se atender a algumas coisas: Se ao desferir uma facada, a vítima é transportada para um hospital e, no meio do caminho, a ambulância sofre um acidente e, em razão do acidente, a vítima sofre outros ferimentos e vem a mor- rer exclusivamente em decorrência destes ferimentos, o agente não responde pelo resultado morte. Se a vontade do agente era matar a vítima, mas ela morreu em decorrência de outros ferimentos, como no caso acima, por causa do acidente, o agente responderá por tentativa de homicídio. D ire ito P en al 25 Exercício 38. (FGV – 2008 – TJ/PA – Juiz) Caio dispara uma arma objetivando a morte de Tício, sendo certo que o tiro não atinge órgão vital. Duran- te o socorro, a ambulância que levava Tício para o hospital é atingida violentamente pelo caminhão dirigido por Mévio, que ultrapassara o sinal vermelho. Em razão da colisão,Tício falece. Responda quais os crimes imputáveis a Caio e Mévio, respectivamente. a) Tentativa de homicídio e homicídio doloso consumado. b) Lesão corporal seguida de morte e homicídio culposo. c) Homicídio culposo e homicídio culposo. d) Tentativa de homicídio e homicídio culposo. e) Tentativa de homicídio e lesão corporal seguida de morte. 7. O Fato – Nexo de Causalidade dos Crimes Omissivos 7.1 Apresentação Nesta unidade, veremos a continuidade do nexo de causalidade nos cri- mes omissivos. 7.2 Síntese O art. 13, § 2º do Código Penal trata do nexo de causalidade nos crimes omissivos. Art. 13, § 2º A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem? A lei diz que aquele que podia (possibilidade física) e devia (dever jurídico específico) agir para evitar o resultado, se não evitá-lo, responderá pelo resulta- do, mesmo não tendo praticado uma ação. O próprio § 2º do art. 13 do CP define quem tem o dever de agir. Tem o dever de agir quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (Exemplo: um policial em relação a um crime que presencia); b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (Exemplo: uma babá que tinha o dever de cuidar de uma criança); D ire ito P en al 26 c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resulta- do (Exemplo: quem joga uma pessoa na piscina, e esta se afoga). A lei traz resultados jurídicos específicos para aquele que tinha o dever jurídico específico de evitar o resultado, e aquele que tinha o dever genérico. 8. Crimes Omissivos Impróprios 8.1 Apresentação Nesta unidade, será explicado o conceito de crime omissivo impróprio. 8.2 Síntese O art. 13, § 2º diz que se a pessoa podia e devia agir e não agiu, responde pelo resultado. Os crimes omissivos impróprios também são chamados de comissivos por omissão, que são os elencados do art. 13, § 2º. Para que ocorra a tipicidade de um crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão, há que se buscar um crime comissivo. Importante relembrar: crime comissivo (o tipo penal descreve uma ação), crime omissivo puro (tipo penal descreve uma omissão) e crime omissivo im- próprio, também chamado de comissivo por omissão (tipo penal descreve uma ação, mas o agente responde por ter se omitido). As hipóteses do art. 13, § 2º são chamadas dever jurídico específico. As pessoas que ali se encaixam têm um dever legal. Quem não se amolda nessas mesmas hipóteses, não respondem pelo crime em si, mas apenas por omissão de socorro. Exercícios 39. (FGV) José da Silva é guarda-vidas da piscina do clube do Bom Su- cesso, muito frequentado por crianças. Todos os dias a piscina do clube é aberta às 9 h pelo servente João Souza, e José da Silva é sempre o primeiro a entrar na área da piscina e assumir seu posto no alto da cadeira de guarda-vidas. Contudo, no dia 1º de novembro de 2008, José da Silva não chegou no horário, mesmo sabendo do horário de abertura da piscina, apenas às 10 h assumiu o seu posto, e nesse momento se deparou com duas crianças mortas, afogadas na piscina. A partir do fragmento acima, assinale correta: D ire ito P en al 27 a) José da Silva não praticou crime algum; b) José da Silva praticou o crime de omissão de Socorro (art. 135 do CP); c) José da Silva praticou o crime de homicídio culposo (art. 121, §3º do CP); d) José da Silva praticou o crime de homicídio doloso na modali- dade comissiva (art. 121 caput do CP). 40. Julgue a assertiva: A omissão é penalmente relevante quando o omi- tente devia e podia agir para evitar o resultado, sendo o dever de agir descrito no Código Penal. 9. Tipicidade 9.1 Apresentação Nesta unidade, será abordada a tipicidade dos fatos dentro do Direito Penal. 9.2 Síntese Tipicidade é a adequação de um fato a um tipo penal. A tipicidade for- mal é a adequação do fato ao tipo, à lei penal incriminadora. A tipicidade material é o desvalor da conduta e do resultado. Ambas são necessárias para a caracterização da tipicidade. O tipo penal contém elementos objetivos (podem ser descritivos e norma- tivos) e subjetivos (podem ser dolo ou o chamado elemento subjetivo especial do tipo). A regra é que o tipo penal seja doloso. O crime culposo tem que ter previsão expressa. Todos os tipos penais possuem os elementos objetivos descritivos – são dados relacionados ao fato no aspecto material. Todo verbo típico é um ele- mento descritivo. Dispensam qualquer juízo de valor para compreensão de seu significado. Os elementos objetivos normativos são dados que compõem o tipo penal e precisam de juízo de valor para a compreensão do seu significado (exemplo: mulher honesta, ato obsceno). Nem todo tipo penal possui elemento normativo, mas em todo tipo penal há elemento descritivo. Já com relação aos elementos subjetivos, o dolo é definido o art. 18, I do Código Penal, e se realiza nos elementos objetivos do tipo (vontade ou assumir D ire ito P en al 28 o risco de produzir os elementos objetivos). O elemento subjetivo especial é relacionado à motivação, à finalidade específica de agir, mas é distinto do dolo. Nem todo crime doloso possui elemento subjetivo especial. Se existisse o tipo penal “matar alguém com o fim de vingança”, essa parte final “com o fim de vingança” seria o elemento subjetivo especial do tipo. 10. Tipicidade – Formas de Adequação 10.1 Apresentação Nesta unidade, continuaremos a estudar a tipicidade. 10.2 Síntese Existem doutrinadores que classificam os elementos do tipo em: 1) ele- mentos objetivos; 2) elementos normativos; e 3) elementos subjetivos especiais. Entretanto, para melhor compreensão divide-se em elementos objetivos (des- critivos e normativos) e subjetivos (dolo ou elemento subjetivo especial do tipo). Com relação à tipicidade formal, existem duas formas de adequação do fato ao tipo: adequação direta (imediata) e indireta (mediata). Exemplo: Marcelo matou Vitor. Este fato se amolda diretamente a um tipo penal, ao art. 121 do Código Penal, portanto, é um caso de adequação típica direta. Não há necessi- dade de nenhuma outra norma de extensão para que o fato seja típico. No entanto, numa hipótese em que o crime se inicia, mas não se consuma por razões alheias à vontade do agente, será necessária uma norma de extensão, no caso o art. 14, II do Código Penal. A tipicidade do crime tentado é: homi- cídio (tipo penal) combinado com a norma de extensão (art. 14, II). Assim, a tentativa é uma modalidade de adequação típica indireta (mediata), por preci- sar da norma de extensão. Outro exemplo de uma norma de extensão é o concurso de pessoas (art. 29 do CP). O tipo penal contém as chamadas circunstâncias, que não alteram o crime, e sim a pena. Exercícios 41. Julgue a assertiva: O tipo penal é composto por elementares e por circunstâncias, sendo os elementares dados essenciais ao tipo, ao pas- so que as circunstâncias são dados acidentais que afetam a pena. D ire ito P en al 29 42. Julgue a assertiva: O princípio da insignificância afasta a tipicidade em seu aspecto material. 43. Julgue a assertiva: A tentativa é uma forma de adequação direta. 11. Tipicidade Material 11.1 Apresentação Nesta unidade, analisaremos a tipicidade material. 11.2 Síntese Acabamos de ver a tipicidade formal que é a adequação do fato a um tipo penal. Para que ocorra a tipicidade não basta a tipicidade no aspecto formal, é necessária a ocorrência da tipicidade também no seu aspecto material, que é o desvalor da conduta e do resultado. Não se deve confundir lei penal com norma penal. Esta possui um aspecto valorativo (bem jurídico tutelado, por exemplo, a vida que o legislador quer proteger) e um aspecto imperativo(norma de proibição ou a norma manda- mental nos crimes omissivos). A norma penal está implícita na lei. A norma de proibição é não matarás, ou seja, é proibido matar. Se um agente furta uma caneta, é preenchida a tipicidade formal do cri- me de furto. O fato está adequado a um tipo penal. Porém, não ocorre a tipicidade material, pois pelo valor irrisório da caneta, não há o desvalor da conduta e do resultado – não houve ofensa relevante ao bem penal tutelado, ao patrimônio (princípio da insignificância). Assim, não ficou configurada a tipicidade do fato. O crime de furto existe para proteger o patrimônio; no entanto, devemos lembrar que a função do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos contra ataques graves e relevantes, o que não ocorreu no exemplo anterior. Aconteceu um fato, mas não é típico mediante a ausência da tipicidade material (presente apenas a tipicidade formal). Segundo o STF, para se aplicar o princípio da insignificância é necessário se observar quatro requisitos: 1) mínima ofensividade da conduta; 2) ausência de periculosidade social da conduta; 3) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; 4) inexpressividade da lesão jurídica provocada. Se o fato for típico, teremos o primeiro elemento do crime. D ire ito P en al 30 12. Crimes Dolosos – I 12.1 Apresentação Nesta unidade, serão expostos o conceito do dolo e sua importância para a tipicidade. 12.2 Síntese Dolo e culpa fazem parte de qual elemento do crime? Do fato típico (e não da ilicitude ou da culpabilidade). Dolo e culpa são aspectos da conduta. Fazem parte da análise da tipicidade. No caso de crime culposo, é necessária a previsão em lei; em regra, os tipos penais são dolosos. Art. 18. Diz-se o crime: I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi- -lo; (...) Temos o dolo direto (a conduta e o resultado foram previstos e desejados) e o dolo eventual (não quis o resultado, mas assumiu risco de produzi-lo, a conduta foi consciente e teve vontade de realizá-la, e o resultado foi previsto e aceito). Em relação ao dolo direto, o legislador adotou a teoria da vontade. Já em relação ao dolo eventual, adotou a teoria do consentimento. Exercício 44. No dolo eventual, o resultado: a) é previsível. b) é previsível e desejado. O agente quer a sua produção. c) não é previsto muito embora fosse previsível. d) é previsto e aceito. O agente assume o risco de produzir o resul- tado. 13. Crimes Dolosos – II 13.1 Apresentação Nesta unidade, será aprofundado o conceito do dolo e suas variações. D ire ito P en al 31 13.2 Síntese Em regra, os crimes são dolosos. Se não houver dolo ou culpa, a conduta será atípica. No dolo direto de 1º grau, o agente pratica uma conduta perseguindo um determinado resultado, sem nenhum efeito colateral. Exemplo de dolo direito de 1º grau: querer matar alguém e conseguir ma- tar esse alguém. Já no dolo direto de 2º grau o agente pratica uma conduta perseguindo um resultado, mas obtém um efeito colateral, um resultado não perseguido. Exemplo: O agente quer matar uma pessoa e coloca uma bomba no avião em que esta estará, mesmo sabendo que ela estará com outras pessoas a bordo e que a bomba matará a todos. No dolo direto de 2º grau, existe um resultado que não é perseguido, mas presente como efeito colateral necessário. No dolo eventual, o efeito colateral é possível. 14. Crimes Culposos 14.1 Apresentação Nesta unidade, será apresentado o conceito do crime culposo. 14.2 Síntese O crime culposo está definido no art. 18, II do Código Penal. Art. 18. Diz-se o crime: II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. A definição legal é muito sucinta, cabendo à doutrina e à jurisprudência complementar seu conceito. Em síntese, o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produ- zi-lo, mas deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. A imprudência está relacionada a uma ação sem observar o dever de cuidado. A negligência está relacionada a uma omissão quando deveria observar o dever de cuidado. A imperícia está relacionada a uma ausência de aptidão técnica para uma determinada ação. D ire ito P en al 32 Na chamada culpa consciente, o agente tem consciência e vontade de pra- ticar a conduta, mas não quis o resultado, nem assumiu o seu risco, apesar de ter previsto o resultado. Na culpa consciente, o agente não observou o dever de cuidado. Exemplo: reforma de um apartamento no 10º andar e o agente arremessa o entulho na caçamba que está lá embaixo. Quando o agente arremessou o entulho achou que acertaria a caçamba, mas acertou a cabeça do porteiro. 15. Distinções: Dolo e Culpa 15.1 Apresentação Nesta unidade, serão feitas distinções entre dolo e culpa. 15.2 Síntese Conforme já estudado, no crime culposo, o agente pratica uma conduta visando determinado resultado, mas este resultado não está relacionado ao re- sultado perseguido. Em relação à situação em que o sujeito dirige embriagado, é preciso obser- var que basta que o sujeito dirija em estado de embriaguez para que o delito seja cometido, já que se trata de crime de perigo. Se o sujeito, dirigindo embriagado, dá causa à morte de alguém é possível que se fale em dolo eventual. No entanto, é preciso que sejam analisadas as demais circunstâncias. Faz-se necessário observar a diferença entre dolo eventual e culpa conscien- te. No dolo eventual, o resultado é previsto e aceito e, na culpa consciente, o resultado é previsto, todavia, o agente não aceita sua produção. Outro ponto a ser observado é que não há compensação de culpas, o que pode ocorrer é uma concorrência de crimes culposos. Exercício 45. João da Silva acabara de roubar um banco. Ao sair da agência bancá- ria, furta um veículo que estava estacionado e sai em alta velocidade. Durante a fuga, começa a ser perseguido por dois carros de polícia. João da Silva é um excelente motorista e está em vias de despistar os policiais quando surge no meio da rua, logo à frente, um carro de po- D ire ito P en al 33 lícia bloqueando a pista e um policial a pé determinando a parada do carro para uma fiscalização de rotina (blitz). Ao invés de reduzir, João aumenta a velocidade pretendendo passar ao lado do policial sem atropelá-lo. Como é bom motorista, acredita que conseguirá passar, mas pensa consigo mesmo: “Se o policial for atropelado, azar o dele.” Se João atropelar o policial, sua conduta deverá ser classificada como: a) Culpa inconsciente. b) Culpa consciente. c) Dolo eventual. d) Dolo direto. e) Estado de necessidade. 16. Erro de Tipo (Art. 20, Caput) 16.1 Apresentação Nesta unidade, serão feitas considerações acerca do erro de tipo. 16.2 Síntese O erro de tipo está previsto no art. 20 do Código Penal, havendo exclusão do dolo: “Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.” Neste sentido, se o agente pratica determinado fato sem ter consciência do que está fazendo, não ocorre dolo e, não havendo dolo, o máximo que pode acontecer é o agente responder pelo crime culposo. Exemplo: um caçador mira em uma moita acreditando que lá se encontra um animal. Efetua o disparo, mas acerta um ser humano. O caçador não tinha consciência de estar matando alguém, não tinha também vontade. Se o erro de tipo for inevitável, também chamado de escusável ou invencí- vel, excluir-se-ão o dolo e a culpa. Por outro lado, se o erro de tipo for evitável ou inescusável, excluir-se-á o dolo, mas não a culpa. Exercícios 46. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo se previstoem lei. D ire ito P en al 34 47. O erro de tipo incide sobre os elementos que integram o tipo penal, abrangendo qualificadoras, causas de aumento e agravantes. 48. O erro de tipo exclui o dolo, mas o comportamento pode ser punido a título culposo se o erro for escusável. 17. Erro de Tipo – Descriminante Putativa – Parte I 17.1 Apresentação Nesta unidade, serão feitas outras considerações acerca do erro de tipo, sendo abordada a descriminante putativa prevista no art. 20, § 1º, do Código Penal. 17.2 Síntese Conforme já estudado, o crime possui elementos. São eles: fato típico, ili- citude e culpabilidade. A ilicitude possui excludentes, também denominadas descriminantes, jus- tificantes ou ainda normas permissivas. É possível entender que se está se falando de descriminante, está se se re- ferindo à excludente de ilicitude. No entanto, a descriminante putativa é uma exclusão de ilicitude imaginária. A descriminante putativa por erro de tipo, prevista no art. 20, § 1º, do Có- digo Penal, traz erro sobre a situação fática. Dispõe o § 1º do art. 20 do Código Penal: “§ 1º É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas cir- cunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.” 18. Erro de Tipo – Descriminante Putativa – Parte II 18.1 Apresentação Nesta unidade, serão feitas outras considerações acerca do erro de tipo, sendo ainda abordada a descriminante putativa por erro de tipo. D ire ito P en al 35 18.2 Síntese Há duas hipóteses de consequência diante de um erro de tipo sobre uma situação fática. A primeira hipótese diz respeito ao erro inevitável, sendo isento de pena o agente. Segundo a doutrina, excluem-se o dolo e a culpa. A segunda hipótese diz respeito ao erro evitável, não havendo isenção de pena e, assim, o agente responde pelo crime culposo. A doutrina entende que se exclui o dolo, mas não a culpa. O § 2º do art. 20 do Código Penal estabelece: “§ 2º Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.” Aqui há a figura de um terceiro que determinou o erro e a situação do agen- te que agiu por erro. Este terceiro que determina o erro responde pelo delito. Exemplo: médico (terceiro) quer matar a vítima e coloca veneno na seringa, pedindo que a enfermeira aplique a injeção. A enfermeira pode responder a título de culpa, caso tenha o dever de observar algum cuidado e não observou. Por fim, o § 3º dispõe: “§ 3º O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.” Exemplo: sujeito quer matar seu pai, dispara contra um terceiro acreditan- do que se tratava de seu pai. Neste caso, o sujeito responderá como se tivesse matado seu pai. Exercícios 49. O erro quanto aos pressupostos fáticos de uma causa de exclusão de ilicitude é considerado uma das hipóteses de descriminantes putativas. 50. A legítima defesa putativa pode se dar por erro sobre os pressupostos fáticos, que será uma hipótese de descriminante putativa, prevista no art. 20, § 1º. 51. Segundo o CP, não é isento de pena quem, por erro plenamente jus- tificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. 52. O art. 20, § 1º, parte final, trata da chamada culpa imprópria. 53. Arlete, em estado puerperal, manifesta a intenção de matar o pró- prio filho recém-nascido. Após receber a criança no seu quarto para amamentá-la, a criança é levada para o berçário. Durante a noite, Arlete vai até o berçário, e, após conferir a identificação da criança, a asfixia, causando a sua morte. Na manhã seguinte, é constatada a morte por asfixia de um recém-nascido, que não era o filho de Arlete. D ire ito P en al 36 Diante do caso concreto, assinale a alternativa que indique a respon- sabilidade penal da mãe. a) Crime de homicídio, pois o erro acidental não a isenta de res- ponsabilidade. b) Crime de homicídio, pois, uma vez que o art. 123 do CP trata de matar o próprio filho sob influência do estado puerperal, não houve preenchimento dos elementos do tipo. c) Crime de infanticídio, pois houve erro quanto à pessoa. d) Crime de infanticídio, pois houve erro essencial. 19. Iter Criminis – Parte I 19.1 Apresentação Nesta unidade, serão feitas considerações sobre as etapas de realização do crime. 19.2 Síntese Iter criminis são as etapas de realização do delito. O crime passa por quatro fases: cogitação, preparação, execução e consumação. Ainda, após a consuma- ção, pode se falar em exaurimento do crime, mas esta não é considerada uma fase do crime. A fase de cogitação abrange a idealização do delito, o planejamento, sendo escolhido o meio de execução. Esta fase não é punida, já que quem pensa em cometer um crime não pode ser punido. A segunda fase é a fase de preparação, em que o agente já começa a praticar atos materiais, que antecedem a execução. Em regra, esta fase também não é punida, mas há punição quando os atos preparatórios, por si só, já constituírem crime autônomo. A terceira fase é a execução do delito. Indaga-se em que momento se inicia a execução de um crime e há dois critérios que devem ser utilizados. O primeiro é o critério objetivo formal, que determina que se inicia a exe- cução com o início da realização do verbo típico. O segundo critério, mais amplo, é o critério subjetivo individual, que esta- belece que a execução se inicia no momento imediatamente anterior à reali- zação do verbo típico. É preciso observar que o critério predominante na doutrina é o critério objetivo-formal. D ire ito P en al 37 20. Iter Criminis – Parte II 20.1 Apresentação Nesta unidade, ainda serão feitas considerações sobre as etapas de reali- zação do crime. 20.2 Síntese A consumação do crime está prevista no art. 14, I, do Código Penal: “Art. 14. Diz-se o crime: I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua defini- ção legal;” (...) O homicídio, por exemplo, se consuma com a morte, pois neste momento se reuniram todos seus elementos. O crime de extorsão mediante sequestro se consuma com o sequestro da vítima, independentemente de o agente receber a vantagem. Se o sequestrador receber a vantagem, diz-se que o crime está exaurido. No crime material, o tipo penal descreve uma conduta e também um resultado. A consumação aqui se dá no momento da produção do resultado naturalístico. No crime formal, o tipo penal descreve uma conduta e um resultado. Exemplo: extorsão mediante sequestro. Para sua consumação, não é necessária a produção do resultado naturalístico. No crime de mera conduta, o tipo penal descreve somente a conduta, mas não o resultado. Assim, basta a prática da conduta para que haja consumação. Exemplo: violação de domicílio. Exercícios 54. Diz-se o crime consumado quando nele se reúnem todos os elemen- tos de sua definição legal. 55. O crime somente se consuma com a produção do resultado descrito no tipo. 56. Os crimes formais se consumam com a prática da conduta, indepen- dentemente da produção do resultado naturalístico. 57. Reunidos todos os elementos da definição legal do crime, pode-se dizer que o crime estará consumado. 58. O crime consumado é o crime exaurido. D ire ito P en al 38 21. Tentativa 21.1 Apresentação Nesta unidade, será abordada a tentativa. 21.2 Síntese Primeiramente, para que se fale em tentativa, nos termos do art. 14, II, do Código Penal, é preciso que tenha havido início da execução. Neste sentido, iniciada a execução, não ocorre a consumação por circuns- tâncias alheiasà vontade do agente. É possível observar aqui que, no crime tentado, como a consumação não ocorreu, não há reunião de todos os elementos. Os elementos do crime tentado são: início da execução, dolo do crime con- sumado e a não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente. Quando há um crime tentado, ocorre a tipicidade indireta, pois o fato não se amolda diretamente ao tipo penal. Desta forma, o art. 14, II, é uma norma de extensão. Dispõe o parágrafo único do art. 14: “Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.” É preciso entender que o dispositivo comporta exceções. Exemplo: evadir- -se o preso ou tentar evadir-se o preso – a pena é a mesma. Nota-se que basta que a pessoa tente fugir para que o crime esteja consumado. Exercícios 59. (FGV – Adaptada) Salvo disposição em contrário, pune-se a tentati- va com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. 60. Nos crimes tentados, aplica-se a pena do crime consumado reduzin- do-a de 1/3 a 2/3, ao passo que no arrependimento eficaz se aplica a pena do crime consumado reduzindo-a de 1/6 a 1/3. 61. O art. 14, II, do CP é uma norma de extensão. 62. A tentativa é uma forma de adequação típica direta ou imediata. 63. Diz-se o crime tentado quando, iniciada a execução, não se realizam todos os elementos de sua definição legal por ato voluntário do agente. D ire ito P en al 39 22. Crime Tentado – Classificação 22.1 Apresentação Nesta unidade, será abordada classificação referente ao crime tentado. 22.2 Síntese Pode ocorrer a tentativa imperfeita ou perfeita, a depender da fase da execução. A tentativa imperfeita ou inacabada ocorre quando, iniciada a execução, esta é interrompida (não se esgota). Já a tentativa perfeita ou acabada (crime falho) ocorre quando, esgotada a fase de execução, não ocorre a consumação por circunstâncias alheias à von- tade do agente. Outra classificação de tentativa é a tentativa branca ou incruenta, que ocor- re quando a vítima não é atingida, o objeto não é atingido. Já a tentativa cruen- ta ocorre quando o objeto é atingido. Exercícios 64. O ato em que o sujeito esgota, segundo seu entendimento, todos os meios, a seu alcance, de consumar a infração penal, que somente dei- xa de ocorrer por circunstâncias alheias à sua vontade, é denominado: a) Tentativa imperfeita. b) Crime consumado. c) Crime falho. d) Tentativa branca. 65, O crime de homicídio não admite tentativa branca. 66. Considera-se perfeita ou acabada a tentativa quando o agente atinge a vítima, vindo a lesioná-la. 67. A tentativa determina a redução da pena, obrigatoriamente, em dois terços. 23. Crime Tentado – Hipóteses em que Não se Admite a Tentativa 23.1 Apresentação Nesta unidade, será abordado o crime tentado, sendo estudadas as hipó- teses em que não se admite a tentativa. D ire ito P en al 40 23.2 Síntese É preciso entender as hipóteses em que não se admite a tentativa. A primeira hipótese é a de crime culposo. Isso porque, em se tratando de crime culposo, o agente não quer produzir o resultado. Observa-se que na cha- mada culpa imprópria, admite-se a tentativa. A segunda hipótese é o crime preterdoloso, pois se trata de uma modalidade de crime qualificado pelo resultado. Neste sentido, há dolo no antecedente e culpa no consequente. A terceira hipótese é a contravenção penal, já que há vedação legal. A quarta hipótese traz os crimes unissubsistentes, uma vez que não admite fracionamento na fase de execução. É preciso lembrar que tal crime se consu- ma com um só ato. Exemplo: injúria verbal. A quinta hipótese traz os crimes omissivos próprios, também chamados de puros. Isso porque, tais crimes são unissubsistentes. Exemplo: omissão de so- corro. Observa-se que os crimes omissivos impróprios, também chamados de comissivos por omissão, admitem tentativa. A sexta hipótese traz os crimes habituais, pois para que se consumam, é necessária uma reiteração de atos. Exemplo: curandeirismo. Por fim, os crimes de atentado não admitem tentativa. São aqueles crimes em que o próprio tipo penal já prevê a modalidade tentada. Exercício 68. Não se admite a tentativa nos: a) Crimes comissivos. b) Crimes dolosos. c) Crimes culposos. d) Crimes próprios. 24. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz 24.1 Apresentação Nesta unidade, serão feitas considerações sobre a desistência voluntária e o arrependimento eficaz. D ire ito P en al 41 24.2 Síntese A desistência voluntária e o arrependimento eficaz vêm previstos no art. 15 do Código Penal, que dispõe: “Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.” É preciso observar que a desistência voluntária tem certa relação com a tentativa imperfeita e o arrependimento eficaz tem certa relação com a tenta- tiva perfeita. Quando se trata de desistência voluntária, observa-se que o agente desiste voluntariamente de prosseguir na execução. No arrependimento eficaz, o agente esgota a fase de execução e, esgotada esta fase, impede voluntariamente que ocorra a consumação. Exercícios 69. Em relação à responsabilidade do agente que, voluntariamente, de- siste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produ- za, é correto afirmar que: a) Não há nenhuma responsabilidade criminal possível. b) O agente responde apenas pelos atos praticados. c) O agente será punido com a pena do crime consumado, reduzi- da de 1/3 a 2/3. d) Não obstante a desistência ou o impedimento da produção do resultado, o agente responderá pelo crime tal como se ele tivesse sido consumado. e) Trata-se de hipótese de erro de tipo, que exclui a responsabilida- de penal, salvo se inescusável. 70. Maria da Silva, esposa do Promotor de Justiça Substituto José da Sil- va, mantém um caso extraconjugal com o serventuário do Tribunal de Justiça Manoel de Souza. Passado algum tempo, Maria decide se separar de José da Silva, contando a ele o motivo da separação. In- conformado com a decisão de sua esposa, José da Silva decide matá- -la, razão pela qual dispara três vezes contra sua cabeça. Todavia, logo depois dos disparos, José da Silva coloca Maria da Silva em seu carro e conduz o veículo até o hospital municipal. No trajeto, José da Silva imprime ao veículo velocidade bem acima da permitida e “fura” uma barreira policial, tudo para chegar rapidamente ao hospi- tal. Graças ao pouco tempo decorrido entre os disparos e a chegada ao hospital, os médicos puderam salvar a vida de Maria da Silva. D ire ito P en al 42 Maria sofreu perigo de vida, atestado por médicos e pelos peritos do Instituto Médico Legal, mas se recuperou perfeitamente vinte e nove dias após os fatos. Qual crime praticou José da Silva? a) Tentativa de homicídio. b) Nenhum crime, pois agiu em legítima defesa. c) Lesão corporal grave. d) Lesão corporal leve. e) Lesão corporal seguida de morte. 25. Arrependimento Posterior 25.1 Apresentação Nesta unidade, serão feitas considerações sobre o arrependimento posterior. 25.2 Síntese O arrependimento posterior está previsto no art. 16 do Código Penal, que dispõe: “Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.” No arrependimento posterior, já houve o crime, mas o agente decide re- parar o dano ou, ainda, dependendo do crime, a restituição da coisa. Trata-se de um ato voluntário do agente até o recebimento da denúncia ou da queixa. Ainda, o crime deve ter ocorridosem violência ou grave ameaça à pessoa. Desta forma, tendo sido preenchidos os requisitos, haverá uma causa de diminuição de pena. Há algumas hipóteses específicas em que não se aplica o art. 16. A primeira é o art. 312, § 3º, que trata da reparação do dano no crime de peculato culposo. Não se aplica o art. 16, pois existe uma regra própria, já que se ocorrer a reparação do dano antes da sentença penal transitada em julgado ocorrerá hipótese de extinção da punibilidade. A segunda hipótese está na Súmula nº 554 do STF, que dispõe acerca do pagamento do cheque emitido sem provisão de fundos antes do recebimento da denúncia. Neste caso, também há extinção da punibilidade. D ire ito P en al 43 Se a reparação do dano for depois do recebimento da denúncia ou da quei- xa, a consequência é a não aplicabilidade do art. 16, mas pode ocorrer a inci- dência de uma circunstância atenuante prevista no art. 65 do CP. Caso o crime tenha sido cometido com violência ou grave ameaça, não se aplica o art. 16, mas também pode ocorrer a incidência de uma circunstância atenuante prevista no art. 65 do CP. Exercícios 71. Sempre que o agente, por ato voluntário, reparar o dano ou restituir a coisa antes do recebimento da denúncia ou da queixa, a pena será reduzida de um a dois terços. 72. Considera-se desistência voluntária ou arrependimento posterior à conduta do agente que, depois de consumado o crime, repara o dano causado, respondendo o agente somente pelos fatos praticados. 73. O arrependimento posterior, previsto no art. 16 do CP, é uma cir- cunstância atenuante, a ser considerada na segunda fase de aplica- ção da pena. 74. O arrependimento posterior, previsto no art. 16 do CP, é uma causa de diminuição de pena, a ser considerada na terceira fase de aplica- ção da pena. 26. Crime Impossível 26.1 Apresentação Nesta unidade, serão feitas considerações sobre o crime impossível. 26.2 Síntese O crime impossível está previsto no art. 17 do Código Penal, que esta- belece: “Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.” Há duas modalidades de crime impossível. A primeira é a ineficácia absolu- ta do meio e a segunda é a absoluta impropriedade do objeto. Ocorrendo uma das modalidades, é possível se falar em crime impossível e, portanto, o agente não será punido, já que não haverá tipicidade. D ire ito P en al 44 Quando se fala em ineficácia absoluta do meio, trata-se do meio de exe- cução. Assim, o meio de execução utilizado não tem aptidão para lesar o bem jurídico tutelado. É preciso observar que se a ineficácia for relativa, haverá tentativa do crime. Quanto à segunda hipótese de crime impossível, por absoluta improprieda- de do objeto, é preciso esclarecer que objeto é o objeto material do crime, ou seja, a pessoa ou a coisa sobre a qual recai a conduta do agente. Exercícios 75. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 76. Considera-se impossível o crime quando o meio utilizado pelo agen- te é relativamente incapaz de alcançar o resultado. 77. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia relativa do meio ou por relativa impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 78. Considera-se impossível o crime quando o agente inicia a execução, mas não consegue a consumação por circunstâncias alheias a sua vontade. 27. Ilicitude do Crime 27.1 Apresentação Nesta unidade, serão feitas considerações sobre a ilicitude do crime. 27.2 Síntese Conforme visto anteriormente, o crime possui elementos. São eles: fato típico, conduta, resultado, nexo e tipicidade. Tendo sido praticado um fato típico, há indícios de ilicitude, mas pode ser que haja uma norma permissiva e, portanto, uma excludente de ilicitude. Nes- te sentido, não havendo ilicitude, não há que se falar em crime. Dispõe o art. 23 do Código Penal: “Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: I – em estado de necessidade; II – em legítima defesa; D ire ito P en al 45 III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.” É preciso que não se confunda as excludentes da ilicitude com as excluden- tes da culpabilidade. Exercício 79. São consideradas causas legais de exclusão da ilicitude: a) Estado de necessidade, legítima defesa e embriaguez voluntária. b) Estado de necessidade, legítima defesa, coação moral resistível e obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal. c) Estado de necessidade, legítima defesa, coação moral irresistível e obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal. d) Coação física irresistível, obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal, estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular do direito, estrito cumprimento do dever legal e embriaguez voluntária. e) Estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular do di- reito e estrito cumprimento do dever legal. 28. Culpa Consciente e Crime Preterdoloso 28.1 Apresentação Nesta unidade, estudaremos a culpa consciente e o crime preterdoloso. 28.2 Síntese Na culpa inconsciente, o agente tem consciência e vontade de realizar a conduta, mas não tem consciência do resultado, que não era previsto, mas sim previsível. O agente não observou o dever de cuidado. Assim, se o agente previu o resultado, mas não esperava produzi-lo, estamos diante da culpa consciente. Se o agente não previu o resultado, mas este era previsível, estamos diante da culpa inconsciente. Para existir a responsabilidade por crime culposo, o resultado tem que ser previsível. Se não houver previsibilidade, não haverá culpa. Pode ocorrer de o agente pretender um resultado típico, ainda com dolo em relação a ele, mas acaba atingindo também outro resultado típico, só que este por culpa. Este último é chamado de crime preterdoloso (dolo e culpa na mesma conduta) – hipótese prevista no art. 129, § 3º, do CP. D ire ito P en al 46 29. Estado de Necessidade 29.1 Apresentação Nesta unidade, será explicado o conceito do estado de necessidade. 29.2 Síntese O estado de necessidade é a primeira das excludentes da ilicitude e está prevista no art. 24 do Código Penal. No estado de necessidade, o agente está diante de uma situação de perigo e aca- ba praticando a conduta lesiva para guardar bem jurídico próprio ou de terceiro. São necessários para configurar a situação de perigo albergada pelo Direito Penal: perigo atual (importante mencionar que a lei só fala de perigo atual, não fala de perigo iminente, e a doutrina fala que ser iminente é uma caracte- rística inerente ao perigo), ameaça a direito (próprio ou de terceiro), situação de perigo não causada pela vontade do agente, e inexistência do dever legal de enfrentar o perigo para o agente (o que é diferente de exigir atitude heroica, que beire o suicídio). Para configurar a conduta lesiva também defendida pelo Direito Penal, são necessários: que a conduta seja inevitável (não havia outra postura a ser ado- tada, não podia agir de outro modo), e a sua razoabilidade (há de haver uma relação aceitável entre os bens jurídicos em jogo). Exercício 80. Julgue as assertivas. I. Menciona expressamente como requisito que o perigo deve ser atual e iminente. II. Exige de forma expressa, que a situação de perigo não tenha sido causada dolosamente pelo sujeito. III. Exige que a agressão seja injusta, para que o agente possa agir amparado por tal excludente. Quais assertivas estão corretas? 30. Estado de Necessidade: Classificação 30.1 Apresentação Nesta unidade, continuaremos a explicação sobre o estado de necessidade e suas classificações.
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