Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hipertensão arterial Paulo Carvalho de Paula paulofsnumanha@gmail.com Setembro, 2017 HIPERTENSÃO ARTERIAL Hipertensão arterial é condição clínica multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco, como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glucose e diabetes mellitus. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (Setembro de 2016) HIPERTENSÃO ARTERIAL A hipertensão arterial mantém associação independente com eventos como morte súbita, acidentes vascular encefálico, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, doença arterial periférica e doença renal crônica, fatal e não fatal Impacto médico e social da hipertensão arterial Dados norte-americanos de 2015 revelaram que HA estava presente em 69% dos pacientes com primeiro episódio de IAM, 77% de AVE, 75% com IC e 60% com DAP HA 45% das mortes cardíacas 51% das mortes por AVE HA e doença cardiovascular no Brasil No Brasil, a HA atinge 32,5% (36 bilhões) de indivíduos adultos, mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular (DCV) Complicações da HA, junto com DM: impacto elevado na perda da produtividade do trabalho e da renda familiar US$ 4,18 bilhões entre 2006 e 2015! HA e doença cardiovascular no Brasil Em 2013, ocorreram 1.138.670 óbitos, 339.672 dos quais (29,8%) decorrentes de DCV, a principal causa de morte no país. Distribuição das taxas de mortalidade no Brasil por DCV por causas no ano de 2013 DIC: doenças isquêmicas do coração DCbV: doença cerebrovascular DH: doenças hipertensivas ICC: insuficiência cardíaca congestiva HA e doença cardiovascular no Brasil As taxas de mortalidade têm apresentado redução ao longo dos anos, com exceção das doenças hipertensivas, que aumentou entre 2002 e 2009 e mostrou tendência a redução desde 2010. As DCV são ainda responsáveis por alta frequência de internações, com custos socioeconômicos elevados. Dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema único de Saúde apontam significativa redução da tendência de internação por HA entre 2000 e 2013. HA e doença cardiovascular no Brasil Evolução da taxa de mortalidade por DCV no Brasil de 2000 a 2013 HA e doença cardiovascular no Brasil Evolução da taxa de mortalidade por DCV no Brasil de 2000 a 2013 ↑ nas taxas de mortalidade para doenças hipertensivas entre 2000 e 2009 HA e doença cardiovascular no Brasil Evolução da taxa de mortalidade por DCV no Brasil de 2000 a 2013 Tendência a redução desde 2010 HA e doença cardiovascular no Brasil Evolução da taxa de internações (DCV) por 10.000 habitantes no Brasil entre 2010 e 2012 Prevalência de HA A prevalência de HA no Brasil varia de acordo com a população estudada e o método de avaliação Fatores de risco para hipertensão arterial 1) Idade Há uma associação direta e linear entre envelhecimento e prevalência de HA, relacionada: a) ao aumento da expectativa da população brasileira, atualmente 74,9 anos; b) ao aumento na população de idosos ≥ 60 anos na última década (2000 a 2010) Fatores de risco para hipertensão arterial 1) Idade A prevalência de hipertensão é alta entre pessoas idosas no Brasil: • De 1980 a 2010: 68% • Nos anos 2000: 68,9% Fatores de risco para hipertensão arterial 2) Sexo e etnia Revisão sistemática quantitativa de 2003 a 2008, de 44 estudos em 35 países, revelou uma prevalência global de 37,8% em homens e 32,1% em mulheres Prevalência de PA ≥ 140/90 mmHg, aferida, pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2014: • Homens: 25,3% • Mulheres: 19,5% Fatores de risco para hipertensão arterial 2) Sexo e etnia População indígena: 11,1% População amarela: 10,0% População parda/mulata: 26,3% População branca: 29,4% População negra: 34,8% Brancos: 30,3% Pardos: 38,2% Negros: 49,3% Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2006 Fatores de risco para hipertensão arterial 3) Excesso de peso e obesidade - O excesso de peso se associa com maior prevalência de HAS desde idades jovens. Na vida adulta, mesmo entre indivíduos fisicamente ativos, incremento de 2,4 kg/m2 no índice de massa corporal (IMC) acarreta maior risco de desenvolver hipertensão. A obesidade central também se associa com HAS. Fatores de risco para hipertensão arterial 4) Ingestão de sal Ingestão excessiva de sódio tem sido correlacionada com HA e associa-se a eventos cardiovasculares e renais. Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF – 55.970 domicílios): • Consumo em torno de 4,7 g de sódio/pessoa/dia!! • Consumo máximo recomendado: 2 g de sódio/dia Fatores de risco para hipertensão arterial 5) Ingestão de álcool Consumo crônico e elevado de bebidas alcoólicas aumenta a pressão arterial de forma consistente. Mulheres: risco de HA com consumo de 30-40 g de álcool/dia Homens: risco de HA com consumo a partir de 31 g de álcool/dia Fatores de risco para hipertensão arterial 6) Sedentarismo Atividade física reduz a incidência de HA, mesmo em indivíduos pré-hipertensos, bem como a mortalidade e o risco de DCV Fatores de risco para hipertensão arterial 7) Fatores socioeconômicos Adultos com menor nível de escolaridade (sem instrução ou fundamental incompleto) apresentaram a maior prevalência de HA autorreferida (31,1%). A proporção diminuiu naqueles que completam o ensino fundamental (16,7%); contrariando a tendência inversa entre nível de escolaridade e HA, o índice em pessoas com superior completo foi de 18,2%. Fatores de risco para hipertensão arterial 8) Genética Estudos brasileiros que avaliaram o impacto de polimorfismos genéticos na população de quilombolas não conseguiram identificar um padrão mais prevalente. Mostraram forte impacto da miscigenação, dificultando ainda mais a identificação de um padrão genético para a elevação dos níveis pressóricos. Os fatores de risco cardiovascular frequentemente se apresentam de forma agregada; a predisposição genética e os fatores ambientais tendem a contribuir para essa combinação em famílias com estilo de vida pouco saudável. Diagnóstico e classificação 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (Setembro, 2016) Diagnóstico e classificação 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (Setembro, 2016) MAPA: Medição ambulatorial da pressão arterial MRPA: Medição residencial da pressão arterial Diagnóstico e classificação Quando utilizadas as medidas de consultório, o diagnóstico deverá ser sempre validado por medições repetidas, em condições ideais, em duas ou mais ocasiões, e confirmado por medições fora do consultório (MAPA ou MRPA), excetuando-se aqueles pacientes que já apresentem lesão de órgãos-alvo detectada A HA não controlada é definida quando mesmo sob tratamento anti-hipertensivo, o paciente permanece com pressão arterial elevada tanto no consultório como fora dele (MAPA ou MRPA) Diagnóstico e classificação Normotensão: medidas de consultório ≤ 120/80 mmHg e as medidas fora dele (MAPA e MRPA) confirmam os valores considerados normais HA controlada ocorre quando, sob tratamento anti-hipertensivo, o paciente permanece com a PA controlada tanto no consultório comofora dele Diagnóstico e classificação Pré-hipertensos (sistólica entre 121 e 139 e diastólica entre 81 e 89 mmHg) têm maior probabilidade de se tornarem hipertensos e maiores riscos de desenvolvimento de complicações cardiovasculares quando comparados a indivíduos com pressão arterial normal, necessitando de acompanhamento periódico Diagnóstico e classificação Condições clínicas associadas à hipertensão • Doença cerebrovascular (AVE) • Doença cardíaca (infarto, angina, insuficiência cardíaca) • Retinopatia avançada (hemorragias) • Doença arterial periférica • Doença renal (déficit importante da função renal) Aspectos fisiopatológicos da HA A pressão arterial é determinada pelo produto do débito cardíaco (DC) e da resistência vascular periférica (RVP) Em muitos pacientes hipertensos a elevação da pressão arterial é decorrente do aumento da RVP enquanto em alguns, a elevação do DC é a responsável pela HA A principal característica dos pacientes com HA é a combinação do aumento do DC e da RVP Contratilidade e relaxamento do miocárdio Volume sanguíneo circulante Frequencia cardíaca Espessura da parede das artérias Mecanismos vasoconstritores e vasodilatadores (SNS, Sistema renina- angiotensina, modulação endotelial) Aspectos fisiopatológicos da HA Aspectos fisiopatológicos da HA O papel do sistema nervoso simpático O baroreflexo suprime a atividade simpática, no sentido de reduzir a PA O papel do sistema nervoso simpático O papel do sistema nervoso simpático Anti-hipertensivos β-bloqueadores: bloqueiam os receptores β-adrenérgicos, diminuindo o DC e a liberação de renina (propanolol, carvedilol, nerbivolol) - - O papel do sistema nervoso simpático Anti-hipertensivos α-bloqueadores: bloqueiam os receptores α-adrenérgicos de arteríolas, reduzindo a RVP (doxazosina, terazosina, prazosina) - O papel do sistema nervoso simpático A inapropriada atividade do SNS é um fator crítico na patogênese e manutenção da hipertensão arterial crônica. A atividade simpática aumentada é perpetuada pela obesidade, pela resistência à insulina, e pela adaptação e/ou menor sensibilidade do controle reflexo cardiovascular (barorreflexo) Disfunção do baroreflexo O papel do sistema nervoso simpático O papel do sistema nervoso simpático Tem sido descrito que em indivíduos obesos, há aumento não somente nas concentrações plasmáticas de insulina, mas também de leptina Estudos mostram que tanto a hiperinsulinemia quanto a hiperleptinemia aumentam a atividade do sistema nervoso simpático, com consequente aumento no débito cardíaco e na resistência vascular periférica e da PA A resistência à insulina pode levar à HA por reduzir a produção e liberação do óxido nítrico e aumentar a responsividade a hormônios vasopressores Tem sido descrido que o aumento da atividade simpática nos hipertensos exacerbam a resistência à insulina. O papel do sistema nervoso simpático Resistência à insulina ↑ Pressão arterial ↑ SNS Tem sido descrido que o aumento da atividade simpática nos hipertensos exacerbam a resistência à insulina. ↑ SNS O papel do sistema nervoso simpático Resistência à insulina Resistência à insulina ↑ Pressão arterial ↑ SNS Manutenção da pressão arterial elevada O papel do sistema nervoso simpático Rigidez arterial: causa e consequencia da aterosclerose O papel do sistema renina-angiotensina-aldosterona O papel do sistema renina-angiotensina-aldosterona ECA e o sistema calicreína-cinina: a atividade de cininase II da ECA Angiotensina I Angiotensina II ECA Bradicinina Cininogênio Calicreína Peptídeos inativos ↑ NO ↑ vasodilatação ↓ pressão arterial Ação hipotensiva do CAPTOPRIL, ENALAPRIL Fármacos anti-hipertensivos: inibidores da ECA Inibidores da ECA ↑ bradicinina ↓ angiotensina II ↓ PA Receptores de angiotensina II ECA Receptores AT1: responsáveis pelos potentes efeitos pressores da AII Angiotensinogênio Receptores AT2: Efeitos opostos aos dos receptores AT1 Receptores de angiotensina II ECA Receptores AT1: responsáveis pelos potentes efeitos pressores da AII Angiotensinogênio Receptores AT2: Efeitos opostos aos dos receptores AT1 Losartana, candesartana e telmisartana são fármacos anti- hipertensivos da classe dos bloqueadores dos receptores AT1 Bloqueadores dos receptores AT1 (BRAs) Os BRAs, além de bloquear a ligação aos receptores AT1, aumentam a ligação da angiotensina II aos receptores AT2 Produção local de angiotensina II nos tecidos Angiotensina II também é sintetizada localmente em muitos tecidos, como o cérebro, hipófise, aorta, artérias, coração, rins, adipócitos etc. A angiotensina II nos tecidos pode ser formada pela atividade da renina ou por outras proteases, como a tonina, quimase e catepsinas Angiotensina I Angiotensina II Tonina Quimase Catepsina tPA Produção tecidual local ECA Produção endócrina Produção local de angiotensina II nos tecidos A angiotensina II, seja produzida pelo sistema renina-angiotensina ou localmente pelos tecido, quando atua por meio dos receptores AT1, pode desempenhar um papel na patogenia da aterosclerose através de uma ação celular direta na parede do vaso. O excesso de angiotensina II no tecido pode contribuir para aterosclerose, hipertrofia cardíaca e insuficiência renal Angiotensina II e o dano vascular Angiotensina II e o dano vascular aterosclerótico Angiotensina II e o dano vascular aterosclerótico Angiotensina II e o dano vascular Angiotensina II: mediador inflamatório Endotelinas: peptídeos vasoconstrictores representados pela endotelina-1 (ET-1), endotelina-2 (ET-2) e endotelina-3 (ET-3). O sistema endotelina A ET-1 é a única produzida pelo endotélio Receptores de endotelina: ETA e ETB Músculo liso vascular: ↑ ETA e ↓ ETB Céls endoteliais: ↑ETB O sistema endotelina A ET-1 possui 10 vezes mais afinidade pelos recetores ETA em comparação aos receptores ETB Vasopressina Hipotensão e hipovolemia são estímulos extremamente potentes para liberação de vasopressina → ↑ PA Receptores V1 Receptores V2 Vasopressina como um dos elementos pressóricos da via dependente de angiotensina II Hipertensão arterial Isquemia Hipertensão glomerular Lesão renal HA como causa de lesão renal
Compartilhar