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GESTÃO DE PESSOAS E TALENTOS AULA 1 Profa. Mariana Patitucci Bacellar 2 CONVERSA INICIAL Olá, aluno! Quando falamos de realizar gestão de pessoas, o que te vem à mente? Nas organizações, é necessário lembrar que contamos com várias pessoas diferentes que pretendem alcançar um objetivo comum. Falar em gestão de pessoas, exige, portanto, a compreensão sobre a formação e a atuação dos indivíduos. As pessoas são formadas em realidades distintas, criando um modo próprio de pensar, agir e fazer. Esse modelo individual, nem sempre é compreensível para o outro, e o contrário também ocorre. Assim, se forma uma rede complexa de modelos individuais, propensa a existência de desacordos e conflitos. E essa rede é instalada dentro das equipes que passa a ser o principal desafio dos gestores. Com o passar dos anos, foram desenvolvidas ferramentas, técnicas e métodos que podem auxiliar na forma de lidar com essa trama. O foco dessa aula é introduzir esses modelos. CONTEXTUALIZANDO É fundamental lembrar a importância que as pessoas têm para as organizações. Veja o trecho do artigo Gestão de pessoas não é com o RH!, de José Luiz Bichuetti publicado na revista Harvard Business Review, em Maio de 2015. O motor das empresas A inteligência artificial evolui, robôs desempenham o papel de pessoas, fábricas se automatizam, mas nada substitui o verdadeiro motor que dá vida às empresas: gente! É necessário ter em cada posição, de liderança ou de chão de fábrica, indivíduos com o perfil adequado a cada uma delas; é preciso capacitá- los e motivá-los para exercer suas atividades com empenho e alto desempenho, individualmente ou em equipes. Funções diferentes requerem perfis específicos. Indivíduos de diferentes gerações podem necessitar de motivações igualmente diversas; integrar baby boomers, Xs e Ys é um dos desafios a serem vencidos pelos gestores. Gerir gente eficazmente é saber definir as necessidades de pessoal, saber atrair, contratar, reter, motivar, avaliar desempenho, desenvolver, remunerar, reconhecer empenho (diferente de desempenho) e, até, saber demitir. É reconhecer que gente é o propulsor que move as empresas. 3 Fonte: http://hbrbr.com.br/gestao-de-pessoas-nao-e-com-o-rh/ Vemos o desenvolvimento rápido da tecnologia que propõe novas formas de gestão e de relação entre os indivíduos. Com todo o suporte da tecnologia, o desafio de “gerir” parece ser mais simples. Mas, na prática, o fator humano nos traz uma infinidade de elementos que interferem na Gestão de Pessoas e fazem com que a complexidade se evidencie. Existe um conjunto de necessidades a serem atendidas (tanto das pessoas quanto das empresas) e essa aula pretende trabalhar com temas que auxiliem você na empreitada de gestão que traz, como principal foco, um equilíbrio na busca da satisfação dessas necessidades. E o que você pode fazer, então, para ser um gestor eficaz? O trecho desse artigo expressa, em poucas palavras, alguns dos tópicos que vamos trabalhar. É recomendável que você procure o artigo completo, que traz outras reflexões interessantes. TEMA 1: HISTÓRICO DE GESTÃO DE PESSOAS Você conhece o relato de uma suposta experiência com 5 macacos em uma jaula? Se não conhece, imagine que, nessa mesma jaula, além de 5 macacos, havia uma escada com um cacho de bananas sobre ela. Toda vez que um dos macacos subia para pegar as bananas, os que estavam no chão eram surpreendidos com um jato de água fria programado pelos cientistas. Depois de alguns dias repetindo essa ação, quando um macaco fazia menção de subir a escada, os demais macacos davam uma surra nele (para evitar que subisse e que levassem o jato d`água). Depois de um tempo, os macacos deixaram se subir as escadas, apesar das bananas expostas. Um dos macacos foi retirado da jaula e outro colocado em seu lugar. E quando o novo macaco foi pegar as bananas, apanhou dos macacos antigos. Depois de algumas tentativas, deixou de subir para não apanhar. Um segundo macaco foi substituído e o mesmo ocorreu. Inclusive o novo macaco, que não havia vivenciado os episódios de jatos d`água surrou o atual integrante do grupo quando esse subiu na escada. E gradativamente todos os macacados “antigos” foram substituídos, um a um. Não havia mais nenhum macaco do grupo inicial, isto é, nenhum deles tinha vivenciado o motivo original de “não subir as escadas”, mas, mesmo assim, os macacos repetiam o comportamento hostil para aquele que fosse subir a escada. 4 As relações no ambiente organizacional carregam as características individuais de cada integrante, mas o que prevalece são as características organizacionais. E, na história de cada organização, existem fatos que originam comportamentos de uma forma muito parecida com a história descrita. É interessante observar que algumas ações e reações não são explicadas por algo perceptível no momento atual da empresa, mas, com certeza, em algum momento foi originada por um fato real que moldou determinada conduta. É o conjunto de comportamentos de determinada organização que chamamos de Cultura Organizacional. As relações entre empresas e pessoas são regidas por um contrato de trabalho em que existe uma troca estabelecida. Os empregados assumem o compromisso de seguir as normas da organização e é comum que alguns comportamentos sejam repetidos, mesmo quando o fato originador do comportamento já foi extinto. Isto é, como o indivíduo se compromete em seguir as práticas organizacionais, ele se adequa ao modelo sem se questionar de onde vieram os métodos escolhidos. A história dos macacos é excelente para ilustrar essa dinâmica e pode ser vista de forma ilustrada no link https://www.youtube.com/watch?v=CAtRwDQKU8w Além da história da própria organização, as empresas também herdam o modelo de gestão de seus dirigentes. As influências trazidas demarcam os tipos de relações e a forma de trabalho. Você já assistiu ao filme O Diabo Veste Prada? É um exemplo interessante em que fica evidente o quanto a personalidade da dirigente (personagem “Miranda”) influencia o ambiente organizacional. Experimente assisti-lo observando a contínua preocupação de todos em atender o modo que a dirigente pensa, independente da sua presença. O segmento da empresa e a característica dos seus funcionários e dos seus clientes (faixa etária, gostos, gênero) também influenciam a conduta organizacional. De acordo com esses fatores a empresa pode ser mais ou menos tradicional, tecnológica, descolada e outros tantos fatores. Ao longo da evolução da relação entre pessoas e empresas, foram desenvolvidas diversas ferramentas que dão suporte para a sistematização do processo de gestão, contribuindo, dessa forma, para que os gestores apliquem práticas com base na conduta organizacional e não com base em sua conduta pessoal. 5 Apesar das empresas utilizarem ferramentas de gestão semelhantes, podemos observar que cada uma tem um jeito diferente de fazê-lo. O que reforça que as ferramentas de gestão são uma referência a ser seguida, mas que será preenchida com os elementos organizacionais que são particulares de cada Cultura Organizacional. E quais são os elementos que mais influenciam a forma como as ferramentas serão implantadas? Com base no que vimos até agora, podemos verificar 4 elementos que influenciam na forma: Os episódios que acontecem na história da organização que estabelecem alguns comportamentos; A personalidade dos dirigentes que influenciam o comportamento; As características da empresa (segmento, perfil funcionários e clientes); As características individuais de cada membro da equipe. Podemos afirmar que esses elementos tornam as organizações unidades complexas e únicas. Então, seria correto concluir que as ferramentas de gestão servem para dar um direcionamento, tornando o processo mais didático. Mas, mesmos que as organizações escolham as mesmas bases teóricas para aplicação dessas ferramentas, cada uma terá um modo próprio de agir. É o pressuposto da diversidade que exige que o gestor de pessoas seja um profissional preparado para lidar com a adversidade no seu dia a dia. Mesmo depois de parecer conhecer tudo, um ponto desconhecido ou não vivenciado emerge, sendo necessário que o gestor se adapte a essa nova situação. Nesse sentido, buscar o escopo das ferramentas de gestão é fundamental, pois dá um norte ao gestor, fazendo com que as algumas etapas sejam realizadas e, apesar dos obstáculos, que as ações sejam concluídas. O setor de Recursos Humanos das empresas costuma ser subdividido. A divisão é realizada pelo agrupamento de atividades semelhantes, encontrando na literatura variação nas nomenclaturas e reunião de atividades. O termo utilizado nessa divisão é subsistemas. Alguns deles veremos com mais detalhes nas próximas aulas, mas aqui já podemos verificar alguns deles: Recrutamento e Seleção Treinamento e Desenvolvimento Administração de Pessoal 6 Cargos e Salários Administração de Benefícios Segurança e Medicina do Trabalho Endomarketing Esse é um tema muito discutido e que está em constante atualização. É recomendável que você busque informações continuamente para melhorar sua crítica em relação à temática. A revista Harvard Business Review, em todas as suas edições, traz artigos e reportagens sobre o tema que vale a leitura. Algumas edições estão disponíveis na web. TEMA 2: SUBSISTEMAS Imagine que você ofereceu uma festa em sua casa e que compareceram 20 adultos e 8 crianças. A festa durou o dia todo, com direito a álbuns de família vistos pelos convidados, almoço servido, mesas e cadeiras foram pegas emprestadas, foi necessário mudar os móveis de lugar para acomodar a todos, a sobremesa foi servida em copos descartáveis e toda a sua louça foi usada. Alguns convidados eram fumantes, então, você tirou do armário cinzeiros que habitualmente não usa e travessas que costumam ficar em armários que são abertos somente em dia de festa. Suponha que, ao chegar ao fim da festa, você ficou responsável por organizar a casa! Quando temos um encargo como esse, temos que iniciar por algum lugar. Iniciamos então colocando as “coisas no lugar”. Devolver as mesas e cadeireiras para quem emprestou, jogar no lixo aquilo que é descartável e lavar o que está sujo são exemplos de ação que serão realizadas. Observe que, para que haja um início, existe uma definição já estabelecida: onde é o local que vou armazenar ou tratar cada um dos itens da “minha bagunça”. Por exemplo, a louça suja da festa geralmente é levada até a pia da cozinha, para que então possa receber o tratamento necessário (ser lavada), para depois ser guardada no seu local de destino. O procedimento e o local já estão previamente estabelecidos, então, o que é necessário fazer é executar o procedimento. Agora, imagine que, no meio da sua festa, uma das crianças se pendurou no armário em que as louças são armazenadas. Ele caiu em cima da pia e estourou o cano da torneira. Então, além de realizar o procedimento, é necessário desenvolver a ferramenta para lavá-la e definir novo local para 7 armazenamento. Nesse exemplo, vemos que a atividade principal deixa de ser o centro da sua atenção, pois você necessita focar sua energia em como fazer e onde armazenar e não na execução da organização propriamente dita. Você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com os subsistemas de Recursos Humanos. Assim como na nossa casa, as empresas precisam ser lugares para direcionar as coisas. Quando tratamos de gestão de pessoas, esses “lugares” são denominados de subsistemas. Cada subsistema fica sob responsabilidade de alguém, que assume a obrigação de criar procedimentos, processos e ferramentas para deixar esse “espaço” em pleno funcionamento. Se formos usar a nossa história, a responsabilidade do profissional do subsistema “cozinha” seria deixar o armário, a pia e a torneira funcionando, para você (o dono da casa) poder exercer sua atividade principal, que é a de organizar a casa. Ao longo do desenvolvimento das teorias de gestão de pessoas, foram se agrupando temáticas interligadas em blocos de semelhança, facilitando assim a organização sistemática da estrutura organizacional. Da mesma forma que no armário da cozinha se armazena panelas, louças, mantimentos e talheres (elementos distintos, mas interligados), no subsistema de “Rotinas” (ou Departamento Pessoal), se trata de benefícios, folha de pagamento, ponto, admissões e demissões (elementos distintos, mas interligados). O subsistema de “Cargos e Salários” engloba remuneração estratégica, cargos, salários, pesquisa salarial e carreira (elementos distintos, mas interligados). Outro exemplo é o subsistema de “Recrutamento e Seleção”, que absorve atração de talentos, recrutamento, seleção, procedimentos admissionais e entrevista de desligamento (elementos distintos, mas interligados). E assim por diante. Isto é, os subsistemas são setores responsáveis por uma série de temáticas interligadas. Seu principal papel é garantir que as obrigações da empresa com os funcionários sejam realizadas, bem como fazer a manutenção de procedimentos, métodos e ferramentas corporativas para que os gestores de pessoas possam fazer uso delas nas suas atuações enquanto gestores. Os subsistemas de Recursos Humanos e os profissionais que neles trabalham não devem assumir o papel de gestores de pessoas, mas sim instrumentalizar e dar suporte para os gestores da organização para que possam focar na sua atividade principal. Voltando para o exemplo da casa bagunçada, se eu precisar sair para comprar sacos de lixo antes de jogar as coisas no lixo, se eu precisar arrumar a 8 pia antes de lavar a louça, se eu precisar providenciar um armário antes de guardar as coisas, entre outros, a missão de arrumar a casa será muito mais demorada, onerosa e desgastante. É sabido que o gestor, além das suas atividades principais, muitas vezes assume a responsabilidade de desenvolver suas próprias ferramentas de Gestão de Pessoas, pelo fato de a empresa não as disponibilizar. As empresas evoluem de forma gradativa em sua estrutura e, em alguns casos, desenvolve maturidade lentamente. Assim, além de “lavar a louça, arrumar a pia”, é importante o gestor deixe claro para a empresa que a mudança de foco diminuirá sua capacidade de alcançar altas performances. Quando o gestor não alerta sobre esse ponto, pode ter avaliação de desempenho diminuída, pois não há percepção real de sua produção. Então, a escolha de mudança de foco do gestor para atividades que fujam do seu objetivo principal (por exemplo, o gestor comercial desenvolverá a ferramenta de avaliação de desempenho), deve ser uma escolha conjunta e consciente de que está havendo mudança de foco. Para entender de forma mais teórica as divisões dos subsistemas de Recursos Humanos, você pode ler o livro Gestão de Pessoas de Idalberto Chiavenatto, citado nas referências. TEMA 3: PAPEL DO GESTOR DE PESSOAS Comece o estudo desse tema respondendo a seguinte questão: na sua opinião, qual é o papel do gestor de pessoas? Em entrevista com Armando Levy, para a revista ABDT-PR, Mario Sérgio Cortella comenta sua percepçãoa respeito do novo gestor de pessoas. Veja no link https://www.youtube.com/watch?v=KezS2QxMajg. Sua breve fala traz uma visão macro da diversidade de responsabilidades que o gestor de pessoas é demandado. Seu comentário ajuda a dar início a um processo de reflexão de uma questão que, possivelmente, não tem uma resposta objetiva e direta. Mais do que isso, ajuda na percepção da magnitude desse tema e de seus desdobramentos. O gestor de pessoas assume, como responsabilidade central, o dever de mediar a relação entre pessoas e organização. É fundamental, portanto, que ele esteja alinhado com os objetivos organizacionais e, principalmente, com os 9 valores organizacionais. Para defender arduamente os interesses de uma empresa, o gestor precisa acreditar nessa instituição. E isso só ocorre quando existe combinação entre os valores propostos por essa empresa e os valores pessoais de seus gestores. Quando falamos em valores, você deve imaginar os princípios que estabelecem a conduta de determinado indivíduo. Quando existe desencontro dessas importâncias, a relação já inicia com uma divergência, pois dificilmente se conseguirá fazer um alinhamento eficaz do gestor com a organização, pois trata-se de fatores muito enraizados em que não se propõe apenas uma mudança de comportamento, mas sim uma mudança no modo de “pensar”. Podemos separar a divergência entre gestores e empresas em dois níveis. Um mais profundo, onde estão os princípios éticos e morais (os citados anteriormente), e outro mais superficial. em que encontramos procedimentos distintos sobre como fazer as coisas. Nesse segundo grupo, o alinhamento é necessário e possível de se estabelecer em um prazo mais curto. Por exemplo, um gestor era habituado na organização anterior a fazer feedbacks individuais semanalmente com sua equipe, que era de 4 funcionários. Chega para gerenciar, na nova organização, uma equipe de 35 pessoas e traz o modelo anterior. Porém, pelo volume da equipe, não consegue realizar suas outras atribuições, pois o feedback está lhe tomando todo o tempo. Sua gerência lhe sinaliza que isso precisa ser alinhado e, por mais que ele entenda que o melhor procedimento seja realizar conversas semanais, ele adequa seu comportamento ao novo cenário, realizando feedbacks semestrais e não mais toda semana. Nesse exemplo, temos uma mudança no processo que não invade o grupo de valores. Podemos considerar esses ajustes como calibragens necessárias e possíveis dentro da organização. É um alinhamento comum de comportamento, processo ao qual o gestor geralmente de submete para se adequar. Em um segundo exemplo, imagine que determinado gestor tem, na sua história de vida, repetidos exemplos familiares de honestidade. Por várias vezes, viu seus pais devolvendo trocos que receberam a mais, denunciando colegas que estavam realizando algo indevido e dando ênfase em seus discursos na importância de uma conduta ética e honesta. Chegando na organização, recebeu a seguinte orientação: “Costumamos realizar o pagamento de pessoal 10 no 10º dia útil. Embora a lei exija que seja até o 5º dia útil, geralmente os funcionários não se dão conta disso. Se questionarem, diga a eles que nosso sindicato permite o pagamento dessa forma. Apesar de ser mentira, ninguém vai atrás para saber mesmo”. Nesse modelo, temos uma orientação que evidentemente fere os princípios do gestor. Independente se o solicitado é certo ou errado, é provável que esse gestor não consiga representar os interesses da organização e, portanto, não cumprirá bem seu papel de mediador. O capítulo 2 do livro Gestão de Talentos de Erila Lotz e Lorena Gramms traz questões sobre conflitos nos relacionamentos com conceitos que ajudam a definir essa temática. Quando o gestor e a organização estão alinhados em seus princípios, ele inicia seu papel de mediador. Voltando para o que falamos no início, seu papel então é representar os interesses de uma pessoa jurídica que terá voz por meio de seus gestores. Portanto, sua missão central é atender os interesses dessa organização e conduzir os colaboradores ao encontro dos objetivos esperados. É essa atividade que pauta as atribuições e a rotina do gestor que vem recheada de atividades, responsabilidades e deveres, conforme vimos na entrevista de Cortella. Entramos aqui em uma segunda questão que merece mais detalhamento. Como conduzir pessoas, com origens, histórias e motivações distintas, para um objetivo comum? Como já vimos, pessoas trazem consigo uma complexidade na sua formação subjetiva que reflete em uma imensa diversidade de comportamentos. O papel do gestor de pessoas é administrar as questões que interferem no comportamento do indivíduo no ambiente de trabalho. Observe o quanto essa questão é ampla, obrigando ao gestor a escolher as formas de realizar essa tarefa dentre muitas opções e direções existentes. O gestor terá que eleger a forma de relacionamento que terá na organização, isto é, o seu próprio comportamento é uma escolha difícil de se fazer: ser mais cordial ou mais seco, ser mais rígido ou mais flexível, ser mais próximo ou mais distante, acolher as demandas pessoais da equipe ou não dar espaço para conversas desse tema são exemplos de escolhas que precisam ser feitas. 11 Assumir o papel de gestor de pessoas pode ser mais tenso no início, até que essas escolhas se tornem algo natural e até automático. É comum vermos profissionais que assumiram o papel de gestor não saberem como se comportar diante da equipe e de situações inusitadas. Para realizar essas escolhas, o primeiro passo importante é conhecer os membros da equipe. Determinados comportamentos de um gestor devem ser moldados de acordo com o seu time. Por exemplo, alguém que seja competitivo e focado em resultado, não será motivado com a frase “o importante é competir”. Para conhecer os membros de sua equipe, o gestor deve estar atento à comunicação e aos comportamentos de cada indivíduo. Deve observar suas relações, conhecimentos, habilidades, atitudes e, em suas intervenções, o que faz com que o indivíduo tenha reações positivas e negativas. Dessa forma, pode ajustar seu modelo de gestão de acordo com o que funciona. O gestor de pessoas pode expor o seu time a novas experiências com o propósito de desenvolver novos conhecimentos, descobrir as habilidades e incentivar atitudes. TEMA 4: EQUIPES E GRUPOS Um cargo é criado quando uma empresa tem um volume de atividades que, para serem realizadas, precisa de força de trabalho humano. Então, toda contratação deve só ocorrer somente quando a empresa de fato tem necessidade. Isso faz com que todos os integrantes de uma equipe sejam de igual importância. Se existe uma equipe constituída é porque, para alcançar os resultados almejados, é necessário um trabalho em grupo e não individual. Equipes comerciais serão estruturadas pela necessidade de ampliar ou manter o volume de vendas da organização. Isto é, a atividade fim desse setor é trazer receita para organização. O que faz com que a percepção sobre o prejuízo ou o lucro que esse profissional traz seja percebido rapidamente. É possível, nessas equipes, conhecer a produção financeira e realizar o cálculo para conhecer quanto cada profissional está contribuindo. Como é uma equipe da qual se espera produção e resultados visíveis, é comum que desligamentos ocorram antes mesmo de dar tempo de o profissional ter uma real interação com o produto ou serviço, com a empresa e com os processos. Isso faz com que o trabalho em equipe se torne mais difícil, pois não dá tempo de a equipe 12 amadurecer enquantogrupo, restando para essa empresa resultados individuais isolados. O esporte nos ensina muito sobre o trabalho em equipe. Podemos migrar muitos modelos para os cenários corporativos. Veja esse link que você encontra uma entrevista com Bernardinho, técnico da seleção brasileira de vôlei masculino, em que ele traz algumas reflexões sobre o trabalho em equipe: https://www.youtube.com/watch?v=OfXDXcsc_m0 Observe que ele fala sobre a importância de cada integrante da equipe, trazendo o conceito básico que falamos no início. Reforça que, em um time, não deve ter o mais ou o menos importante, pois todos são fundamentais para o pleno funcionamento da equipe. Ele fala também sobre confiança. Em equipes mais maduras e que alcançam resultados, é possível observar essa relação de confiança entre seus membros, que contribui com o outro ponto trazido por ele: a inspiração. Equipes com fortes vínculos entre seus membros tendem a ser mais capazes de sensibilizar inspiração uns nos outros. Existem vários filmes que ilustram o trabalho em equipe, um deles é a Fuga das Galinhas, que valoriza as habilidades de cada integrante do “time”, deixando claro que cada um pode trazer contribuições importantes que fazer a diferença. No trabalho em equipe, seja como gestor ou membro da equipe, há algumas posturas que podem ser testadas e tendem a ter um resultado positivo. Segue algumas delas: 1. Ouvir Uma das vantagens do trabalho em grupo é a diversidade de competências. Os inúmeros saberes de uma equipe podem agregar muito para seus integrantes. Para isso, é necessário estar aberto para ouvir. Essa é uma prática que pode ser treinada, mesmo que não seja um hábito do profissional. 2. Limpar os relacionamentos Cultivar mágoas no ambiente de trabalho ou deixar conflitos não resolvidos costumam prejudicar o resultado da equipe. A melhor forma de lidar 13 com essa situação é conversar. Os incômodos costumam ser direcionados para terceiros e essa atitude, além de não resolver o conflito, ainda pode trazer reflexos negativos caso se transformarem em fofocas. Então, é importante conversar com as pessoas da equipe no sentido de procurar eliminar as mágoas, apesar das diferenças. 3. Ter empatia A empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro. As relações de trabalho não exigem que você se torne amigo pessoal ou se solidarize com o outro a ponto de incorporar os problemas como se fossem seus. Mas realizar o acolhimento do outro, entendendo que esse tem histórias e realidades que justificam seus atos faz com que a relação de confiança, citada anteriormente, se fortaleça. 4. Respeito às diversidades O respeito pelas pessoas já não é mais uma escolha e sim uma obrigação. Cada vez mais se valoriza essa temática e se legaliza penalidades quando ele não está presente. Isto é, os indivíduos inseridos na sociedade brasileira têm o direito e o dever constitucional de respeitar os indivíduos com todas as suas escolhas e origens. Essa postura cria laços e contribui para que as pessoas estejam mais dispostas a fornecer sua capacidade produtiva para o alcance do objetivo do time. 5. Postura crítica adequada A visão crítica é algo admirável e pode ser benéfica desde que seja realizada de uma forma construtiva e afável. A crítica contínua, expositiva e hostil tende a criar um ambiente de menor produção e de mais conflitos. Em casos extremos, o indivíduo exposto durante um tempo prolongado a essa situação pode até manifestar doenças emocionais fruto de uma relação de trabalho destrutiva. Portanto assumir uma postura crítica adequada é fundamental para a contribuição dos resultados da equipe. Para complementar esse tema, leia o capítulo 1 do livro Gestão de Talentos de Erika Lotz e Lorena Gramms, indicado nas referências da aula, que trata a respeito das relações humanas. 14 TEMA 5: GESTÃO ESTRATÉGIA Para trabalhar com gestão estratégica de pessoas, é necessário que os setores sigam algumas etapas parecidas com o que propõe um planejamento estratégico de uma empresa. A primeira etapa é estabelecer qual é o objetivo central da equipe que integra o setor em questão. Esse objetivo precisa estar alinhado aos objetivos gerais da organização. Não é viável, por exemplo, a organização ter uma meta de ampliar 30% suas vendas no ano e o setor comercial ter como objetivo central melhorar todos os procedimentos, mesmo que a venda fique em segundo plano. São objetivos conflitantes. O objetivo do setor alinhado com o institucional contribuirá para diversas escolhas. Quais profissionais quero atrair? Quais quero reter? O que vou priorizar? O que quero desenvolver? Quando se tem um objetivo, as escolhas devem convergir com esse alvo. Suponha que o objetivo da organização seja ampliar as vendas em 30% e que o objetivo do setor comercial seja superar essa meta organizacional, aumentando 35% das vendas. Nesse cenário, imagine que precisa contratar um novo profissional para o time e há duas opções: 1. Mauro: um excelente profissional que, em seu histórico, tem episódios de conquistas e superação. Se caracteriza por ser um profissional focado, mas que nem sempre se dispõe a assumir atividades de outros setores. Gosta da área comercial e aloca muitos esforços para superar seus resultados. 2. Jonas: um ótimo profissional com referências muito positivas. Caracteriza- se por ser multifuncional. Sempre que necessário, se dispõe a ajudar em outros setores, o que é positivo para que o setor comercial tenha uma boa relação com as demais áreas. Pode perder um pouco o foco de vendas em função dessa característica, mesmo assim, traz ganhos para o time. Qual profissional você entende ser mais adequado para compor a equipe, considerando o objetivo da empresa e do setor? Tendo os objetivos como base de referência, o primeiro profissional (Mauro) parece ser o mais indicado. O perfil profissional de ambos tem características positivas que agregam, mas, como o foco é a superação de 15 resultados e aumento das vendas, esse profissional parece ter mais condições de atender essas premissas. Outra questão importante para o processo de gestão estratégica de pessoas é trabalhar com indicadores reais que deem suporte em um planejamento. Por exemplo, uma equipe comercial tem como meta de venda o montante de R$ 300.000,00 e pretende ampliar para R$ 600.000,00. O diretor então determinou a contratação de mais três profissionais, repassando a seguinte justificativa: “Prezado Gerente comercial! Considerando que temos vendedores que chegam ao número de R$ 90.000,00 de venda ao mês, vamos aumentar três pessoas novas na equipe para duplicar nossa venda. Pela minha estimativa, alcançaremos isso em dois meses!” O gestor comercial, então, pegou seu relatório de vendas, conforme segue abaixo: Admissão jan/15 fev/15 mar/15 abr/15 mai/15 jun/15 Vendedor 1 jan/14 R$ 78.000,00 R$ 82.000,00 R$ 81.500,00 R$ 83.400,00 R$ 84.300,00 R$ 86.000,00 Vendedor 2 jun/14 R$ 66.000,00 R$ 66.600,00 R$ 68.700,00 R$ 67.800,00 R$ 69.800,00 R$ 71.000,00 Vendedor 3 dez/14 R$ 16.000,00 R$ 22.000,00 R$ 31.200,00 R$ 40.300,00 R$ 54.000,00 R$ 60.100,00 Vendedor 4 abr/15 xxx xxx xxx R$ 10.900,00 R$ 20.300,00 R$ 28.700,00 Vendedor 5 ago/15 xxx xxx xxx xxx xxx xxx Venda Total R$ 160.000,00 R$ 170.600,00 R$ 181.400,00 R$ 202.400,00 R$ 228.400,00 R$ 245.800,00 Admissão jul/15 ago/15 set/15 out/15 nov/15 dez/15 Vendedor 1 jan/14R$ 84.400,00 R$ 87.600,00 R$ 85.700,00 R$ 87.000,00 R$ 88.650,00 R$ 89.800,00 Vendedor 2 jun/14 R$ 71.100,00 R$ 70.500,00 R$ 72.300,00 R$ 71.500,00 R$ 72.000,00 R$ 72.100,00 Vendedor 3 dez/14 R$ 64.000,00 R$ 67.300,00 R$ 65.600,00 R$ 68.900,00 R$ 67.500,00 R$ 69.000,00 Vendedor 4 abr/15 R$ 35.000,00 R$ 42.300,00 R$ 49.000,00 R$ 50.250,00 R$ 56.000,00 R$ 58.750,00 Vendedor 5 ago/15 xxx R$ 13.200,00 R$ 20.650,00 R$ 28.900,00 R$ 41.000,00 R$ 47.000,00 Venda Total R$ 254.500,00 R$ 280.900,00 R$ 293.250,00 R$ 306.550,00 R$ 325.150,00 R$ 336.650,00 E respondeu para o diretor o seguinte: “Prezado Diretor, Pela minha análise, nosso vendedor aumenta de forma acelerada suas vendas nos 6 primeiros meses, período em que está focado na angariação de 16 novos clientes, pois ainda não tem uma carteira para administrar. Depois disso, tem crescimentos menos representativos, embora ele aconteça, mas tudo indica que, para chegar nos R$ 90.000,00 de vendas mensais, ele precisará de 18 meses. Com base nos indicadores de vendas dos nossos atuais vendedores, projetei a estimativa de venda em um suposto aumento de quadro. Creio que essas sejam nossas perspectivas reais de acréscimo de venda: Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6 Vendedor 1 R$ 12.000,00 R$ 20.000,00 R$ 30.000,00 R$ 40.000,00 R$ 50.000,00 R$ 60.000,00 Vendedor 2 R$ 12.000,00 R$ 20.000,00 R$ 30.000,00 R$ 40.000,00 R$ 50.000,00 R$ 60.000,00 Vendedor 3 R$ 12.000,00 R$ 20.000,00 R$ 30.000,00 R$ 40.000,00 R$ 50.000,00 R$ 60.000,00 Venda total R$ 36.000,00 R$ 60.000,00 R$ 90.000,00 R$ 120.000,00 R$ 150.000,00 R$ 180.000,00 Isto é, se não precisarmos fazer a substituição de nenhum dos profissionais, aumentaremos 60% as vendas no prazo de 6 meses e não 100% em 2 meses como é a sua expectativa”. Perceba que os indicadores permitem uma programação estratégica com base em dados reais. O planejamento da equipe, o modelo de treinamento, o perfil, as práticas de retenção de talentos podem ser feitas aleatoriamente, de acordo com o que o gestor “acha” ou de acordo com projeções numéricas que permitem uma programação mais certa do que ocorrerá no futuro. A gestão estratégica de pessoas pode ser composta por outros elementos além da definição do objetivo e acompanhamento de indicadores, mas esses dois são os que permitem que a gestão aconteça de forma mais ardilosa e planejada, com escolhas direcionadas aos objetivos organizacionais e não por pensamentos individuais dos representantes da organização. TROCANDO IDEIAS Veja a sinopse do filme Amor sem escalas: Ryan Bingham (George Clooney) tem por função demitir pessoas. Por estar acostumado com o desespero e a angústia alheios, ele mesmo se tornou uma pessoa fria. Além disto, Ryan adora seu trabalho. Ele sempre usa um terno e carrega uma maleta, viajando para diversos cantos do país. Até que seu chefe contrata a arrogante Natalie Keener (Anna Kendrick), que desenvolveu um sistema de videoconferência onde as pessoas poderão ser demitidas sem que seja necessário deixar o escritório. Este sistema, caso seja implementado, põe 17 em risco o emprego de Ryan. Ele passa então a tentar convencê-la do erro que é sua implementação, viajando com Anna para mostrar a realidade de seu trabalho. Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-138895/ Assista ao filme e apresente em fórum seu posicionamento quanto à questão do uso da tecnologia para intermediar as relações humanas, usando como base uma opinião crítica sobre a sugestão da nova ferramenta de demissão proposta pela personagem Natalie Keener. NA PRÁTICA José, gerente comercial de uma empresa de cosméticos, é responsável por uma equipe de 10 vendedores. Nos últimos dois meses, dois vendedores vêm apresentando faltas, atrasos e retorno hostil às solicitações da gerência. José chamou os dois para uma conversa individual e ambos relataram situações parecidas: a pressão por resultados está muito grande, as metas são inatingíveis, a comissão não é satisfatória e a equipe é muito competitiva. Com base na aula, quais ações você sugeriria para serem realizadas por José a fim de resgatar a motivação desses vendedores? Resolução: 1 – Leia com atenção os elementos que estão descritos explicitamente no texto e aqueles que podem ser interpretados. 2 – Relacione os pontos que podem ser percebidos como questões a serem observadas se cabe alguma intervenção. 3 – O capítulo 3 do livro Motivação e Satisfação no Trabalho, (WALGER, C.; VIPIANA, L.; BARBOZA, M.M. Motivação e Satisfação no Trabalho. 1ª ed. Curitiba: Intersaberes, 2014.) engloba diversas teorias que podem auxiliar na aplicação prática de ações motivacionais na organização. 4 – Em uma primeira fase, é importante relacionar todas as situações que podem ser observadas, independe de serem problemas organizacionais ou queixas pessoais ou isoladas. Relacionar os “problemas” facilitará que o plano de ação para a resolução seja elaborado de forma mais sistemática. Levantamento das supostas origens insatisfação: 18 a) Sinal de insatisfação pelo aumento de faltas e atrasos; b) Sinal de insatisfação pelas respostas hostis as solicitações da gerência; c) Queixa de elevada pressão por resultados; d) Queixa de metas inatingíveis; e) Queixa de baixa comissão; f) Queixa sobre ambiente competitivo. Perceba que, no breve relato, existem 6 pontos levantados. Uma das ações indicadas, é, a partir desse levantamento, aprofundar a investigação para compreender quais desses elementos são internos (o indivíduo está insatisfeito por uma situação de vida dele) ou externos (a organização está mobilizando nos empregados a insatisfação). O diagnóstico é importante, pois com ele você poderá realizar ações mais direcionadas. Mesmo sem a realização de um levantamento mais detalhado, algumas ações já podem ser realizadas, conforme vemos em cada um dos itens levantados: Sinal de insatisfação pelo aumento de faltas e atrasos: caso se observe que as faltas e atrasos são um hábito negativo, pode-se trabalhar nesse item com medidas específicas, como uma premiação por assiduidade e pontualidade e/ou desconto em caso das faltas e atrasos não apresentarem justificativa legal. Essas medidas costumam ser mais eficazes para grupos de cargos mais operacionais e administrativos. Outra medida fundamental é dar feedback aos empregados, sinalizando que as faltas e atrasos estão interferindo no desempenho. Sinal de insatisfação pelas respostas hostis às solicitações da gerência: o gestor precisa avaliar se essa postura está sendo direcionada para todos ou só para ele. Caso seja para todos, é fundamental um feedback para sinalizar o colaborador e abrir um canal de comunicação importante para alinhamentos mais contínuos. Quando a postura é só com o gestor, o feedback deve ser realizado para dar espaço para que o colaborador fale o que está incomodando, ao invés de demonstrar por meio de respostas hostis. Trabalhos de integração de equipe costumam ter efeitos positivos nessas situações. Queixa de elevada pressão por resultados: caso o modelo de pressão esteja parecendo algo abusivo, precisa ser revisto, mas profissionais da área comercial geralmente trabalham com metas e resultados. Algumas 19 pessoas não se adaptam com esse modelo e, neste caso, precisa sertrabalhado por meio de feedback se o profissional está na carreira correta. Queixa de metas são inatingíveis: se a maioria da equipe está atingindo a meta, é porque ela possivelmente esteja adequada. Neste caso, é necessário desenvolver os aspectos técnicos e comportamentais do profissional para que também seja capaz de alcançar os resultados esperados. Caso a maioria não esteja alcançando os resultados, deve-se rever as metas e traçá-las com base em histórico de indicadores. Queixa de baixa comissão: se esta é uma queixa coletiva, o sistema de remuneração variável pode ser revisto. Porém, antes de rever, é importante verificar se o combinado iniciado está sendo cumprido. Se a empresa se compromete com uma comissão “X” e possibilita o pagamento de apenas 50% disso, a insatisfação pode ser originada pela sensação de enganação. Outro ponto importante é verificar se existe problema na comissão ou se é uma queixa secundária em função de uma queixa principal. Lembre-se que, antes de implantar uma mudança na política de remuneração, é necessário avaliar se a empresa pode absorver o novo compromisso financeiro. Queixa sobre ambiente competitivo: ambientes competitivos não são ruins necessariamente, o que precisa ser avaliado é o quanto ele está munido de assedio ou hostilidade abusiva. Neste caso, são necessárias atitudes mais urgentes. De qualquer forma, um trabalho de integração da equipe pode ajudar. Para todos os itens, as premissas básicas das teorias de motivação devem ser aplicadas como temas centrais, contribuindo para que as ações sejam assertivas, mesmo sem um diagnóstico mais aprofundado. FINALIZANDO Essa aula foi uma introdução geral dos conceitos de gestão de pessoas para que possamos aprofundar os conteúdos específicos nas próximas aulas. Lembre que lidar com pessoas é algo dinâmico e inconstante. Então, muitas vezes, exige capacidade de aplicar os conteúdos sem uma ordem lógica. A situação-problema, por exemplo, demanda um olhar ampliado e ações conjugadas para reverter a conjuntura apresentada. Lembre-se de que não 20 existe "manual de instrução" para as questões que envolve pessoas, pois sempre podemos ter uma mudança surpresa de cenário! REFERÊNCIAS LOTZ, E.G.; GRAMMS, L.C. Gestão de Talentos. 1ª ed. Curitiba: Intersaberes, 2012. CHIAVENATTO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005. WALGER, C.; VIPIANA, L.; BARBOZA, M.M. Motivação e Satisfação no Trabalho. 1ª ed. Curitiba: Intersaberes, 2014. Link: http://hbrbr.com.br/gestao-de-pessoas-nao-e-com-o-rh/ GESTÃO DE PESSOAS E TALENTOS AULA 2 Profa. Mariana Patitucci Bacellar 2 CONVERSA INICIAL Olá! Você já precisou escolher pessoas para compor uma equipe comercial? O que você fez? Como escolheu quem deveria ingressar? Quais técnicas usou? É comum que muitos gestores recebam essa demanda, mas que não saibam ao certo o que fazer. Nessa aula, vamos abordar as técnicas de recrutamento e seleção. Nosso objetivo principal é trazer algumas dicas bem práticas para que seja possível utilizá-las imediatamente. O termo “recrutamento e seleção” já expressa os dois desafios centrais dessa atividade. O primeiro é como encontrar os profissionais (recrutamento), pois só com eles disponíveis é que podemos entrar na segunda fase, que é o desafio de selecionar aquele que melhor atende à necessidade (seleção). CONTEXTUALIZANDO Temos falado repetidas vezes sobre a diversidade das pessoas. Ao dar início a um processo seletivo, não sabemos o perfil das pessoas que vão se candidatar e novamente a diversidade se faz presente. Existem algumas etapas indispensáveis para que os candidatos cheguem até a empresa para que se possa iniciar uma seleção. Sem pessoas, não há seleção. As diversas possibilidades de perfis fazem dessa atividade um processo dinâmico. Antes de iniciar esse conteúdo, assista a esse quadro feito por Roberto Justos em que ele registra um processo seletivo para estagiários em uma de suas empresas: https://www.youtube.com/watch?v=IcyZC34q_qU. Nesse vídeo, podemos observar que, muitas vezes, uma entrevista caminha de acordo com o que o candidato fala ou demonstra no momento. Mas existem algumas reflexões que devem ser feitas: como os candidatos chegam até a empresa? O que posso perguntar para eles? Como analiso as respostas dadas por eles? Os temas dessa aula vão responder algumas dessas reflexões e devem te auxiliar em processos seletivos, dando a base de como atrair os profissionais e o que fazer com eles quando chegam até você. TEMA 1: RECRUTAMENTO DE TALENTOS A primeira etapa do processo de recrutamento e seleção é a abertura de uma vaga. Nesta fase, é fundamental definir o escopo do que se está buscando. 3 Descrever a vaga ajuda nessas definições, e é importante constar os seguintes elementos: Nome do cargo Escolaridade mínima Descrição sumária das atividades desempenhadas Requisitos mínimos para as atividades desempenhadas Perfil comportamental necessário para cumprir com êxito as atividades desempenhadas Experiência anterior desejável Outras questões de acordo com a descrição da vaga (por exemplo: se for um cargo que precise viajar, tem que ter disponibilidade para viagens; se for uma vaga cujo horário é em uma escala noturna, é necessário ver se há transporte para retornar do trabalho). É fundamental também ter um breve descritivo do objetivo da empresa e do setor (quando existente). Conforme falamos na aula passada, esses fatores ajudam na tomada de decisão entre candidatos. Com o perfil definido, entramos na fase de recrutamento de talentos, fase que toma mais tempo em um processo seletivo. Muitas vezes, damos ênfase maior nas técnicas de seleção, procurando saber como avaliar os profissionais, mas, antes disso, precisamos ter bons profissionais candidatos a uma vaga. Todo processo seletivo deve iniciar com a divulgação da vaga (detalharemos melhor esse item no próximo tópico). São as divulgações que nos possibilitarão ter inscrições voluntárias para a vaga. Com base nisso, podemos falar que a empresa tem quatro fontes gerais de recrutamento, conforme detalharemos a seguir: 1) Recrutamento interno: são os profissionais que já atuam na organização, porém têm interesse de se inscrever para a vaga. Isto é, a expectativa do profissional é mudar de cargo (seja por promoção ou mudança de carreira); 2) Inscrições voluntárias para as vagas: são os profissionais que buscam a empresa contratante no período em que o processo seletivo está aberto como reflexo de divulgações realizadas; 4 3) Banco interno: são os profissionais que demonstraram seu interesse em trabalhar na organização em algum momento ou que foram indicados para tal. Geralmente a manifestação de interesse é realizada pelo envio de um Curriculum Vitae que contém a apresentação do histórico profissional do candidato. Para ter essa fonte, a empresa precisa sistematizar o arquivo dos currículos recebidos, possibilitando o resgate; 4) Busca ativa: são profissionais que são convidados a participar do processo seletivo, pois foram localizados em locais neutros de cadastramento profissional, tais como portais de emprego, agências de emprego, entre outros. Algumas empresas optam por terceirizar o recrutamento e seleção. O principal ganho em trabalhar com consultorias é que a fase de recrutamento é realizada por uma empresa terceira, ficando a encargo da empresaapenas a seleção, geralmente, de profissionais já pré-selecionados. Essa fase demanda bastante, em especial, se o acesso a cadastros de profissionais é restrito ou se a divulgação for feita de forma muito limitada. O fechamento eficaz de uma vaga depende da combinação de muitos fatores entre a empresa e o profissional, tais como: Horário de trabalho do cargo X Disponibilidade de horário do candidato Salário do cargo X Pretensão salarial do candidato Escolaridade mínima exigida X Escolaridade do candidato Experiência exigida para o cargo X Histórico Profissional do Candidato Requisitos básicos do cargo X Atendimento aos requisitos básicos Esses fatores são mais objetivos e podem ser detectados já no currículo ou em um primeiro contato por telefone. Realizar esse filtro é fundamental para otimizar o processo. Quando iniciamos um processo seletivo, dentre os currículos que aparentemente atendem o perfil, podemos considerar que apenas 50% se disponibilizará para a realização de uma entrevista. Parte deles encontrará incompatibilidade em um dos critérios relacionados acima e outra parte possivelmente não estará disponível por já estar trabalhando ou por ter outras questões particulares que impeçam o retorno imediato ao trabalho. Temos critérios subjetivos que podem ser percebidos e avaliados apenas no contato mais próximo com os profissionais, tais como: 5 Valores organizacionais x Valores pessoais Padrões de comportamento Motivação para a realização das atividades propostas Comunicação não verbal do candidato Sobre esses pontos, falaremos no decorrer da aula. O recrutamento, então, é uma espécie de filtro inicial para definir quem avança ou não para as próximas etapas do processo seletivo. O objetivo é fazer ingressar no processo somente aqueles que apresentarem maior compatibilidade. É importante alertar que questões discriminatórias e preconceituosas não podem servir como justifica para eliminação de candidatos em processos seletivos. A justificativa de eliminação de candidatos deve estar vinculada a uma das características objetivas do cargo, não em função de antipatias pessoais. TEMA 2: MEIOS DE DIVULGAÇÃO A divulgação de vagas não conta somente sobre as vagas em questão, mas expõe a imagem da empresa para o mercado, portanto é fundamental ter alguns cuidados prévios no processo de divulgação de vaga. Vamos começar falando sobre esses pontos. O que incluir no anúncio As informações do anúncio devem ser claras e objetivas, principalmente se as vagas divulgadas tiverem requisitos específicos. De qualquer forma, é bem provável que alguns candidatos que não atendam aos requisitos e se inscrevam para o processo, mas isso faz parte do processo seletivo. Quando se restringe demais um anúncio, pode ter um volume muito baixo de candidaturas. Então, se os requisitos são desejáveis e não obrigatórios, indica-se não incluir para aumentar o volume de candidatos inscritos. Texto do anúncio O texto do anúncio deve ser feito com atenção para que não haja erros. Como o anuncio representará a empresa, o tom do anúncio (mais ou menos formal) deve ser compatível com a política e a forma que a empresa habitualmente se comunica. O tamanho do anúncio dependerá de onde a 6 divulgação será realizada. Em jornais de alta circulação, por exemplo, o espaço tende a ser menor para que o custo não seja tão elado. Em alguns portais de emprego, a quantidade de caracteres também é limitada. Local do anúncio Os locais selecionados para que anúncios sejam feitos devem alcançar o público alvo. É importante escolher bem para ter retorno. Se você divulgar uma vaga de assistente comercial em um site especializado em vagas de TI, é possível que a divulgação traga pouco resultado. E por onde você começaria a divulgação de suas vagas? Abaixo seguem algumas sugestões com comentários sobre as vantagens e desvantagens: Jornais impressos: os jornais impressos de alta circulação já foram um dos principais canais de comunicação e traziam ótimo retorno de volume de candidatos. Continua sendo uma boa opção atualmente, mas o acesso amplo a internet traz outras opções com custo mais acessível e com retorno mais eficaz. Uma das desvantagens dessa divulgação é que existe uma procura muito grande de candidatos de outros setores e áreas que buscam a empresa mediante o anúncio. Assim, o recrutamento de candidatos torna-se mais trabalhoso, já que o volume de candidatos avaliados é grande para poucos efetivamente dentro do perfil. Rádio: algumas emissoras têm em sua programação um espaço reservado para a comunidade com a possibilidade de divulgação de vagas de emprego. Esses espaços são disponibilizados gratuitamente. Essa divulgação costuma ser mais eficaz para vagas mais operacionais. Geralmente, tem um volume grande de contatos, mas pouco aproveitamento. Portais de emprego: os portais de emprego permitem a divulgação de vagas e geralmente as inscrições já são direcionadas, porém exigem que os candidatos tenham acesso à internet. Geralmente, os portais têm opções gratuitas e pagas. Quem tem um plano pago desfruta de um volume maior de opções de acesso. Redes sociais: as redes sociais têm sido muito usadas para esse fim. Há a possibilidade de divulgação em grupos específicos de vagas de emprego, na própria página da empresa ou por meio de anúncios patrocinados para ampliação do alcance da divulgação. Exceto na opção de impulsionar os 7 anúncios, é uma possibilidade sem custo e com alto retorno. A escolha da rede social a ser utilizada segue o mesmo critério que falamos no início desse tema: verificar qual é o público alvo e escolher a rede que melhor atende o público procurado. Instituições de ensino: as instituições de ensino (tanto de ensino médio como superior) geralmente têm canais de divulgação de vagas para seus alunos e ex- alunos. Se o anúncio coincidir com férias dos alunos, costuma não ter bom retorno. Terminais de ônibus: algumas viações de transporte público disponibilizam espaço para divulgar vagas dentro dos ônibus ou terminais. Costuma ter um bom retorno essa divulgação, focado para profissionais que habitualmente usam transporte público. A vantagem é que não tem custo. Locais de alta circulação: qualquer local que tenha agrupamento de pessoas é uma opção para divulgação de vagas. Desde que haja abertura para tal, é possível realizar a divulgação. Exemplos: conselhos de classe, sindicatos, panificadoras de bairro, estabelecimentos religiosos e em quaisquer outros lugares que perceba que pode dar retorno. Um ponto importante a considerar é que as divulgações levam um tempo para acontecer, portanto nem todas têm retorno imediato. Quando for planejar um processo seletivo, considere um período no cronograma para que as divulgações comecem a dar resultado. Em função disso, depois do escopo da vaga definida, é necessário prontamente dar início às divulgações. Essa tarefa exige criatividade e alguns excelentes canais de comunicação são descobertos por selecionadores ou gestores, mas não são encontrados nas literaturas. Para finalizar, vale lembrar que algumas divulgações são realizadas e precisam ser retiradas quando a vaga é fechada. Essa é uma atenção importante. Quando a vaga fica divulgada por um tempo muito prolongado, aqueles que têm acesso a ela deixam de dar credibilidade. Isso acontece com muita frequência nos canais de comunicação digitais. Veja mais sobre o processo de recrutamento no livro Gestão de Pessoas de Idalberto Chiavenatto, citado nas referências desta aula. 8 TEMA 3: SELEÇÃO –CONCEITO E IMPORTÂNCIA A seleção é a etapa do processo seletivo em que os candidatos são de fato avaliados e pode ser considerada como o filtro que determina quem ingressa ou não na organização. É nessa fase que os responsáveis pelo processo vão avaliar a compatibilidade do candidato com o que a empresa espera e o cargo exige. Você sabe dizer no que a seleção reflete para a organização? Em primeiro lugar, imagine que a seleção – bem ou mal realizada – terá reflexos financeiros diretos para a organização. Após a seleção, a empresa realizará uma série de processos com o novo profissional: procedimentos admissionais, treinamento, disponibilização de materiais, instrumentos e locais de trabalho, entre outros. Geralmente leva um tempo para o novo profissional efetivamente produzir e transformar esse empenho em resultados. O sucesso dessa contratação faz com que o gasto nessas etapas seja acolhido como investimento. Havendo insucesso nessa contratação, isto é, tendo necessidade de substituição do profissional contratado antes mesmo que consiga reverter sua contratação em produção efetiva, os valores investidos são percebidos como custos, pois não haverá colheita de retorno desse investimento. Além do desembolso, uma contratação malsucedida pode gerar uma série de desgastes para a organização. Desgaste para os profissionais que fazem interface com o cargo preenchido de forma inadequada, pois pode gerar retrabalho, excesso de trabalho ou trabalhos mal realizados. Desgaste para a imagem da organização mediante novas contratações. Exposição excessiva dos processos da organização para profissionais que não permanecerão na empresa. Isto é, a seleção ou a falta de técnicas eficazes de seleção podem contribuir com ambientes de trabalho mais densos e propícios à desmotivação e até ao adoecimento. Em entrevista concedida ao telejornal Bom dia Santa Catarina da RBS TV, o psicólogo Adroaldo Faraco fala sobre recrutamento e seleção de pessoal, veja no link: https://www.youtube.com/watch?v=lsms0dPEQVo Observe que ele reforça o conceito de recrutamento e seleção e ainda ressalta os reflexos que a seleção traz para dentro de uma organização. 9 Durante um processo seletivo, assim como a empresa avalia o candidato, o oposto também acontece. A seleção é o primeiro contato efetivo do candidato com a empresa. Então, todo detalhe deve ser visto como importante. A postura no contato para convite de participação em um processo seletivo deve ser sempre cordial. O responsável pelo processo deve estar aberto a responder possíveis dúvidas. Quanto mais exposição o candidato tiver da empresa e da vaga, melhor é a análise que ele pode fazer quanto à oportunidade. É melhor que um profissional desista na fase do processo seletivo do que depois de 30 dias trabalhando. Então, ele deve ter todas as suas dúvidas sanadas. Outras questões, como atender o candidato no horário marcado, evitar desmarcar entrevistas ou outras etapas do processo, avisar com antecedência a respeito de agendamentos, informar o tempo que candidato ficará na empresa para determinada etapa do processo seletivo, passam uma imagem positiva, transmitindo segurança para os profissionais participantes do processo. É na seleção que iniciam os primeiros estabelecimentos de combinados e o primeiro “contrato psicológico” (compromisso moral assumido pelas partes). Por isso, é importante que o profissional que conduz o processo esteja preparado para uma recepção adequada dos candidatos, com disposição para esclarecer todas as dúvidas e acolher as hesitações dos profissionais participantes de um processo seletivo. Para selecionar pessoas é necessário ter um alto índice de resiliência (capacidade de lidar com frustrações). Como a escolha de aceitar ou não uma proposta de emprego traz consideráveis reflexos para a pessoa e sua família, é comum que haja desencontro de expectativas no decorrer do processo. E, inúmeras vezes, uma seleção que parecia estar na reta final, começa novamente. Um dos pontos importantes para cultivar uma imagem positiva da empresa é o retorno aos candidatos participantes do processo seletivo. Independentemente de ser positivo ou negativo, é fundamental que todo candidato receba uma devolutiva sobre sua aprovação ou não. Note que, quando alguém participa de um processo, uma elevada carga emocional é dedicada para a espera do retorno. Lembre-se de amigos ou familiares seus que já participaram de processos. Você já deve ter ouvido pessoas próximas falarem: “puxa, ainda não me deram retorno do processo” ou “estou esperando, falaram que ligam até 10 quinta-feira”. Ao conduzir um processo seletivo, portanto, preocupe-se em realizar essa etapa. Embora as ferramentas de seleção foquem em análise de comportamento (portanto, são subjetivas), é necessário transformar o processo em números. A sugestão é que você tenha um controle de participantes do processo e ocorrências para que possa extrair as informações. É indicado ter algumas informações ao término de cada processo, tais como: Quantidade de candidatos contatados Quantidade de candidatos agendados para entrevista Quantidade de candidatos presentes na entrevista (excluir as faltas) Quantidade de candidatos aprovados para contratação Quantidade de candidatos efetivamente contratados Essas informações vão contribuir para que os próximos processos sejam planejados de forma mais assertiva. Elas também vão trazer informações sobre o mercado interno (condições que a empresa está propondo) e mercado externo (compatibilidade com que as outras empresas estão praticando). Se o índice de conversão de cada etapa for baixo, isso indica que as práticas propostas pela empresa estão menos competitivas. Com base no que vimos, podemos afirmar que a seleção representa a porta de entrada de uma empresa. Por isso, sua importância não está somente relacionada com os resultados diretos de seu processo, mas também com a imagem cultivada em cada contato e ação. No próximo tema, veremos com mais detalhes as técnicas de seleção. TEMA 4: TÉCNICAS DE SELEÇÃO As técnicas de seleção devem criar situações nas quais os candidatos fiquem expostos para relatar sobre si ou demonstrar seus comportamentos. Processos seletivos com mais etapas tem a intenção de ampliar o nível de exposição do candidato, permitindo, dessa forma uma análise mais aprofundada de seus padrões de comportamento. 11 A principal ferramenta de seleção, sem dúvida, é a entrevista. Ela pode ser aplicada individualmente ou coletivamente. A entrevista é a ferramenta em que o candidato se submete a responder uma série de perguntas sobre si, enquanto o entrevistador procura conhecer mais sobre ele. Vamos separar, inicialmente, a entrevista em três tipos, que são caracterizados por seus objetivos distintos: Coleta das informações objetivas Coleta de opinião (conduta e valores) Coleta de padrões de comportamento (competências) A coleta de informações objetivas é aquela que não exige análise mais aprofundada. Geralmente, essa etapa é composta por perguntas diretas com objetivos concretos. Dependendo da resposta, cabe mais algumas perguntas complementares para melhor compreensão do avaliador. Havendo desconfiança do entrevistador de omissão ou mentira nas respostas do entrevistado, as informações objetivas geralmente são possíveis de confirmação. Nesse momento, não entraremos na análise de conduta em função de mentiras e omissões, pois esse é um ponto que será explorado no segundo tipo de entrevista. A estrutura básica de uma entrevista de seleção que objetiva acoleta de dados, geralmente inclui os seguintes itens: Dados pessoais Onde mora? Com quem mora? O que as pessoas que moram junto fazem? Qual a idade? Tem filhos? Se tiver filho pequeno, com quem fica para trabalhar? Qual é a cidade de origem? Se ouve deslocamento para outra cidade, relatar os motivos. Dados profissionais e conhecimentos específicos Confirmação e explanação do histórico profissional (datas, cargos e salários). Escolaridade e histórico escolar. Conhecimentos específicos (cursos, certificações, idiomas, etc). 12 Confirmação da disponibilidade para requisitos básicos (CNH, disponibilidade para viagens, etc) Na entrevista objetiva, já começamos a ter indícios das características comportamentais. Geralmente, a entrevista objetiva é mais estruturada e já é aplicada com o intuito de coleta e análise ao mesmo tempo. A diferença é que no primeiro tipo, você precisa de uma resposta concreta, enquanto no segundo, você vai explorar algumas respostas para entender a forma de pensar do candidato. Você poderá avaliar se o discurso do candidato é alinhado com a organização. Abaixo, você poderá observar formas de complementar as perguntas objetivas a fim de obter esclarecimentos adicionais. O terceiro foco da entrevista é entender os padrões de comportamento do candidato no passado para presumir as atitudes do profissional no futuro. Neste caso, é indicado então solicitar que o candidato relate acontecimentos do passado com detalhes. É necessário que os fatos narrados sejam verídicos. Abaixo, veja o quadro que demonstra algumas alternativas de perguntas complementares às perguntas objetivas, separados nos três tipos de objetivo das perguntas: Perguntas Objetiva Coleta de opinião (análise de conduta e valores) Pergunta por competências (padrões de comportamento) Onde mora? - E é fácil para você chegar no local de trabalho? - Você levará em torno de 1h20 todo dia para chegar. Como você vê isso? - Você está me contando que prefere trabalhar aqui porque é perto e se você precisar se mudar? - Relate uma situação em que você teve dificuldade no trabalho em função da desistência. - Detalhe como foram suas atitudes nessa situação. O que as pessoas que moram com você fazem? - Considerando que você é a principal renda da casa, como você considera o salário que estamos ofertando? - Considerando que sua renda é menos representativa que a dos demais da sua família, você pretende um emprego temporário ou pretende fazer uma carreira? - Relate um acontecimento em que você precisou escolher entre uma questão pessoal e profissional. - Comente sobre sua escolha e os motivos que te levou a escolher. Você tem filhos? - Considerando que você tem filho pequeno e fica o dia todo na escola, qual sua opinião sobre essa distância no acompanhamento do crescimento do seu filho? - Comente uma situação em que você precisou dar uma atenção para seu filho ou família no horário de trabalho. - Detalhe como você se sentiu por não estar trabalhando nesse momento ou de não poder ficar com a sua família. - O que você acha que poderia ter 13 feito diferente do que você fez. - Comente sobre sua escolha e os motivos que te levaram a escolher. Explane seu histórico profissional. - Qual o motivo do seu desligamento nas empresas em que trabalhou? - Como era sua relação com seus superiores hierárquicos? - Você atingia suas metas? - Relate uma situação em que teve um desconforto com seu chefe ou equipe de trabalho. - Descreva como a situação foi resolvida. - Conte quais foram suas contribuições para a resolução. Relate seu histórico escolar. -Você pretende fazer outros cursos ou especializações? - Porque você não procurou se especializar? - Você acredita que o estudo é importante para a formação profissional? - Relate um fato em que você teve oportunidade de estudar. - Você aproveitou a oportunidade? Detalhe os motivos da sua escolha. - Entende que fez a escolha certa? A entrevista é a ferramenta mais comum, porque não exige qualificação técnica específica e, apesar da prática auxiliar no manejo da técnica, é possível realizá-la sem tanta experiência. Existem, porém, outras ferramentas e técnicas que podem ser utilizadas. Algumas opções mais comuns são listadas a seguir: Avaliação Psicológica: instrumento de uso privativo dos psicólogos. Objetiva uma avaliação mais aprofundada das características comportamentais dos participantes do processo por meio de aplicação de testes psicológicos. Geralmente o psicólogo emite um laudo com as características mais evidentes de personalidade. Dinâmica de grupo: instrumento de aplicação coletiva que tem dois objetivos: avaliar padrões de comportamento e observar o comportamento do profissional em grupo. Dinâmica situacional: aplicação de simulação que seja contextualizada nos mesmos moldes da atividade que o profissional vai exercer. Permite a observação do candidato em cenário semelhante ao qual ele irá atuar. Para compreender o perfil comportamental, muitas vezes precisamos interpretar o candidato, pois as informações são apresentadas entre linhas e não explicitamente. O avaliador, então, precisa estar atento aos sinais do avaliado para fazer uma leitura correta do que está sendo colocado. 14 TEMA 5: PROCESSO DE ADMISSÃO Depois de concluída a seleção, dá-se início ao processo de admissão do novo colaborador. Nessa fase, é necessário garantir que os procedimentos legais de contratação sejam realizados (exame médico admissional, anotações na carteira de trabalho, emissão de contrato de trabalho, coleta de documentos, etc). Também é o momento em que ocorre a comprovação de algumas informações repassadas por meio da apresentação de documentos, por exemplo, comprovante de escolaridade, apresentação de certificado, cópia de documentos específicos (carteira nacional de habilitação, por exemplo). Feitos os procedimentos burocráticos, o novo profissional precisa ser integrado às políticas e práticas da organização e necessita receber as orientações gerais sobre suas atribuições. Todo novo funcionário leva um tempo para iniciar de fato sua produção, mas o modelo proposto para o processo de socialização dele com o novo ambiente irá refletir nessa velocidade. Geralmente, a socialização é realizada por meio de um programa de treinamento denominado de treinamento de integração de novos colaboradores. Esses treinamentos são organizados em três grupos de conteúdo: 1. Procedimentos internos Espaço dedicado para apresentar aos novos colaboradores informações acerca dos procedimentos habituais da organização, como dia de pagamento, políticas de refeição no ambiente de trabalho, uso das ferramentas de trabalho, modelo de atendimento, uso de salas de reunião, descontos legais, plano de saúde, entre outras informações. Algumas empresas optam, inclusive, por apresentar uma relação de direitos e deveres legais para que não restem dúvidas sobre esses temas. Ainda neste bloco, costuma-se coletar a assinatura no contrato de trabalho e demais termos, devolver a carteira de trabalho, realizar entrega de crachás e cartões de benefícios e esclarecer informações sobre uso do plano de saúde e seguros. Também é nessa parte que o profissional recebe orientações de segurança no trabalho, uso de EPIs e mobilidade em locais restritos da organização (por exemplo, na fábrica). Perceba que o objetivo central é que o colaborador tenha as informações do funcionamento básico da organização, sem a necessidade de questionar sobre tudo para poder permearem seu novo local de trabalho. 15 2. Política, valores e código de conduta No processo de integração de novos colaboradores, a empresa também deve repassar informações sobre os padrões de conduta esperados. Esse tempo é reservado para a apresentação de questões relacionadas à forma da empresa se relacionar com o mercado, parceiros, colaboradores e clientes. Quando a empresa tem suas políticas descritas, é aqui que geralmente é apresentada a missão (para que a empresa existe), visão (para onde a empresa pretende ir), política de relacionamento, objetivos organizacionais, valores e pilares estratégicos. Ainda nesse eixo, questões mais objetivas devem ser incluídas, tais como padrão de apresentação, padrão de vestimenta, modelos de relacionamentos permitidos (em algumas empresas, funcionários que casam devem ser alocados para setores distintos, por exemplo), entre outras questões. Integração setorial Esse grupo de informações deve estar relacionado com as atividades desempenhadas pelo profissional. Essa fase pode contemplar um treinamento formal, sobre como desempenhar suas atividades, ou o treinamento pode ser realizado no próprio local de trabalho (isto é, o profissional faz e apreende ao mesmo tempo). Apenas depois dessa etapa é que a produção pode ser percebida. Porém, sem as etapas anteriores, comumente as escolhas do profissional serão com base nos seus valores e referências pessoais, não tendo um alinhamento com a cultura organizacional. Em função disso, o volume de feedbacks para realinhamento pode usar mais tempo do que se levaria repassando as informações em forma de treinamento. As relações de trabalho são regidas por um contrato de trabalho que estabelece um conjunto de direitos e deveres entre as partes. O processo admissional formaliza essa relação e, depois disso, revertê-la é trabalhoso. Conforme já colocado em temas anteriores, um contrato bem estabelecido contribui para que desacordos futuros sejam minimizados. O processo admissional sela alguns combinados e evita discussões. O último ponto sobre essa questão que precisa ser reforçado é a atenção às questões legais e ao cumprimento dos acordos (formais e informais). Uma relação de confiança é 16 construída pela segurança que uma parte tem na outra com base no real compromisso assumido. A empresa que estabelece combinados e os segue à risca tende a manter uma imagem positiva e a atrair mais talentos. No link http://www.ibccoaching.com.br/portal/rh-gestao- pessoas/preparando-treinamento-integracao-novos-funcionarios/ você encontra algumas dicas de como elaborar um treinamento de integração de novos colaboradores, confira. TROCANDO IDEIAS No link http://carreira.forumeiros.com/t14-recrutamento-e-selecao-quick- case-e-estudo-de-caso encontramos o seguinte caso hipotético para discussão: Pedro Casso, gestor de pessoa, reúne o seu pessoal em nível de chefia para preparar o anúncio de recrutamento para o cargo de recepcionista que deverá ser preenchido por um dos sexos dentro de 30 dias. Logo no início da reunião, Pedro coloca as linhas gerais para o recrutamento. São elas: para o sexo feminino, as restrições são referentes a piercings visíveis, roupas extravagantes e maquiagem excessiva. Já para o sexo masculino, as restrições são quanto aos cabelos longos, piercings e tatuagens visíveis e aparência gay. O espanto dos demais presentes foi inevitável. Por conta disso, José Nazareth reage fortemente dizendo que tais restrições eram puro preconceito contra pessoas e contra novas conquistas da sociedade. Ademais “parecer nada quer dizer” e, no caso específico, ele não via razão para as restrições, porque em nada se relacionavam com os requisitos para o cargo. Pedro, irritado, diz que ele deveria entender que o cargo tem como objetivo maior o contato com o público e ele não queira afetar a boa imagem da empresa. Nazareth retruca, dizento: “Pedro, na nossa clientela nós temos gente com piercing, cabelos longos, meninas maquiadas e pessoas tatuadas. Quanto à aparência gay, eu nem me manifesto, por entender que é se ir longe demais nos preconceitos”. Nessa situação, qual seria a sua atitude como gestor de pessoas?”. Com base no que vimos nessa aula, emita sua opinião em um fórum e discuta com os demais colegas. No link, você encontra algumas reflexões do autor que podem te ajudar, mas, antes de coletar referências, emita sua própria opinião. 17 NA PRÁTICA Maria Rita é gestora de uma equipe de 8 vendedores externos. Ela percebeu que os vendedores realizam contato inúmeras vezes durante o dia, solicitando confirmação de endereço de clientes, confirmação do andamento de pedidos, envio de formulários para clientes, contato para confirmação de reuniões. Em função desses pedidos, Maria Rita (que é a única que fica em período integral no escritório), não consegue fazer outra coisa que não seja dar suporte aos vendedores. Em função disso, conversou com o seu gestor e conseguiu a aprovação para a abertura de uma vaga de assistente comercial, que terá como objetivo central dar suporte aos vendedores externos. Com base nessas informações, defina em relação a essa vaga: 1) Detalhamento das atribuições do cargo; 2) Requisitos mínimos; 3) Perfil comportamental desejado. Para responder o detalhamento das atribuições, você pode iniciar pelo próprio enunciado da questão. Ali você já encontra uma descrição prévia de algumas das atividades. Você também pode complementar o detalhamento com aquilo que imagina que um assistente comercial deve desenvolver. Para realizar essa atividade, você pode imaginar a rotina desse profissional e relacionar as atividades centrais dessa rotina. Em relação aos requisitos mínimos, você pode responder as seguintes questões: Qual a escolaridade mínima que esse(a) profissional precisa ter para exercer as atividades relacionadas? O profissional precisa ter algum curso específico? Se sim, deve ser considerado como obrigatório ou diferencial (isto é, caso não tenha o curso não será eliminado do processo)? Qual é a remuneração proposta? E qual carga horária e horário de trabalho que esse profissional precisa estar disponível na empresa? Qual é o local de trabalho e quais são os locais da cidade que têm fácil acesso a esse local? 18 Esse profissional precisa ter experiência anterior? Se sim, em que função? Com base no descritivo de funções, é possível mapear o perfil comportamental do cargo. Para tal, imagine as atividades a desempenhar e verifique como o profissional deve ser para realizar as atribuições. Abaixo, algumas ideias: Foco: precisa ser mais focado ou mais disperso? Conformidade: é necessário que tenha o desejo de mudar de função ou é positivo que goste de realizar as mesmas coisas durante um longo período? Comunicação: precisa ser mais ou menos comunicativo (a)? Apresentação pessoal: precisa ser mais formal ou mais despojado? Multifuncionalidade: necessita que tenha perfil multifuncional se dispondo a interagir com diferentes atividades ou deve ser mais centrado na realização de suas atividades? Além desses exemplos propostos, avalie outras características comportamentais que julgue pertinentes também. 19 FINALIZANDO REFERÊNCIAS LOTZ, E.G.; GRAMMS, L.C. Gestão de Talentos. 1ª ed. Curitiba: Intersaberes, 2012. CHIAVENATTO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005. WALGER, C.; VIPIANA, L.; BARBOZA, M.M. Motivação e Satisfação no Trabalho. 1ª ed. Curitiba: Intersaberes, 2014.
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