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Ortopedia – Parte I INSTRUÇÕES 1. Os arquivos estão em extensão pdf; 2. Os filmes não estão lincados ao texto; possuem apenas chamada conforme o título; 3. Eles rodam no Windows Media Player; 4. Se os filmes não rodarem instale o CODECMPEG4 cujo arquivo está em anexo. 1.1- Estrutura óssea cortical: porção óssea compacta que envolve o osso e possui maior espessura na região diafisária média tornando-se mais delgada na metáfise e epífise; medular: a cavidade medular compõe a porção central especialmente dos ossos longos; esponjosa: porção menos densa que predomina nas áreas metafisãrias e epifisária. 1.2 - Zonas anatômicas epifisária: região que compreende as extremidades articulares, onde está a placa de crescimento (Figura 1.1 - a); metafisária: porção de transição entre a epífise e a diáfise (Figura 1.1 - b); diafisária: é a hste de um osso longo, ou seja, sua porção central (Figura 1.1 - c). Verificar na figura 1.1 que devido a conformação variável do canal medular, pinos muito rígidos podem não ser adequadamente acomodados e precisam ser exteriorizados pela região metafisária. Figura 1.1 – Estrutura óssea e zonas anatômicas em pequenos animais (modificado de Lewis, 2000) 1c 1a 1a 1b 1b Dr Alceu Gaspar Raiser 2 1.3 – Vascularização (Figura 1.2) 1.3.1 Sistema aferente: artérias que nutrem o osso por via periosteal nas inserções musculares e pela artéria nutrícia; 1.3.2 Sistema eferente: veias que drenam o sangue trazido ao osso, por via periosteal e pela atividade hematopoiética da cavidade medular; 1.3.3 Sistema intermediário: no osso compacto, formado pelos sistemas de Havers e Volkmann. No animal jovem a vascularização metafiseal e fiseal são independentes (Figura 1.2a) ao contrário do adulto (Figura 1.2b). Em pacientes com fratura epifisária, o comprometimento da vascularização no segmento distal pode levar a desvitalização ao contrário do que ocorre no adulto. Nos jovens, portanto, há que se tomar maior cuidado na redução e imobilização de fraturas que envolvam a placa epifisária, responsável pelo crescimento ósseo. 1.4 – Causas de fraturas 1.4.1 - Origem externa •Ação direta: a solução de continuidade ocorre no local do impacto. Figura 1.2 – Vascularização óssea no animal jovem e adulto. 1 – artéria nutricia 2 – vascularização periosteal 3 – vascularização metafisária 4 – vascularização epifisária (Archibald, 1974) a b c Ortopedia, traumatologia e reabilitação 3 •Ação indireta (fraturas por avulsão): a solução de continuidade ocorre na inserção de um ou mais tendões (fratura de tuberosidade tibial ou de trocanter maior). 1.4.2 - Patologia óssea •neoplasia •hiperparatireoidismo 1.4.3 - Fadiga •trauma repetido em uma mesma região do membro. 1.5 - Classificação das fraturas 1.5.1 - Relação com tecidos moles •fechada ou simples: sem exposição do osso (Figura 1.3a); •aberta ou composta: exposição da extremidade fraturada com perfuração (Figura 1.3b) de dentro para fora (grau I), de fora para dentro (grau II) ou fratura exposta com cominução e extensa lesão de tecidos moles (grau III). 1.5.2 - Extensão da lesão •incompleta: a solução de continuidade ocorre em apenas um lado da superfície periostal (Figura 1.4a) e é também denominada fratura em talo verde; •completa: ocorre efetiva separação em dois ou mais fragmentos (Figura 1.4b); •fissura: fendas que se estendem ao longo da cortical e que, principalmente em animais jovens mantém o periósteo intacto (Figura 1.4c). Figura 1.3 – Fratura simples ou fechada (A) e exposta ou aberta (B). Dr Alceu Gaspar Raiser 4 1.5.3 - Disposição da linha •oblíqua: a linha se apresenta em ângulo superior a 30 graus em relação ao eixo longitudinal do osso (Figura 1.5a); •espiral: a linha se apresenta obliquada e circula ao redor do osso (Figura 1.5b); •múltipla ou segmentária: presença de duas ou mais linhas independentes (Figura 1.5.c); •transversa: a linha é perpendicular ou em ângulo inferior a 90 graus em relação ao eixo ósseo (Figura 1.5d). •cominutiva: possui linhas convergentes ou em comum entre os segmentos fraturados (Figura 1.8); •epifisária, diafisária, metafisária: a linha está localizada respectivamente na porção mediana do eixo ósseo, na transição da diáfise e epífise e na região epifisária; •condílea, intercondílea: a linha envolve a separação de um côndilo ou localiza-se entre ambos. a b c d Figura 1.5 – Fraturas conforme a disposição da linha: a – obliqua; b – espiral; c – múltipla; d – transversa. (Modificado de Figura 1.4 – Classificação das fraturas conforme a extensão da lesão: fissura (a), fratura em talo verde (b), fratura completa (c). (Modificado de Piermatei & Flo, 1999) a b c Ortopedia, traumatologia e reabilitação 5 Classificação de Salter-Harris para fraturas epifisárias (Figura 1.6): tipo I = separação na linha epifisária da porção distal; tipo II = separação de um segmento epifisário; tipo III = separa na linha epifisária mantendo um segmento metafisário; tipo IV = separação de um segmento metafisário-epifisário; tipo V = lesão na placa epifisária por compressão. 1.5.4 - Deslocamento ósseo •impactada •por compressão •por avulsão (calcâneo, tuberosidade tibial) •afundamento (ossos planos -crânio) 1.5.5 – Estabilidade •estável (transversa) •instável (obliqua) •estabilidade intermediária No diagnóstico de uma fratura deve-se utilizar ao menos 3 a 4 itens de classificação (Figuras 1.7 e 1.8). Por exemplo: fratura simples, completa, oblíqua da diáfise femural. Figura 1.6 – Classificação das fraturas epifisárias. Figura 1.7 - Fratura fechada, completa, obliqua, instável de diáfise tibial em cão. Dr Alceu Gaspar Raiser 6 1.6.1 - Exame ortopédico • histórico • raça, idade, sexo • proprietário (finanças) • causa (traumática ou espontânea) • postura (decúbito, claudicação) • evolução cronológica • Exame físico • à distância (apresentação) • em marcha (claudicação, defeito de apoio) • palpação (sensibilidade - anestesia) • estação • decúbito 1.6.2- Sinais primários •dor •mobilidade anormal •deformidade •crepitação •comprometimento da função •Ingurgitação e edema variável a partir de 12h diferenciar de hematoma 1.6.3 - Avaliar tecidos moles •músculos: freqüentemente há laceração ou contusão; •tendões e ligamentos: podem sofrer ruptura; •vasos e nervos: a ruptura de grande vaso Não é comum, mas já houve ruptura da artéria femural; em cães é comum a neuropraxia ou neurotmese do radial superficial (Figura 1.9) •pele e anexos: feridas laceradas ou punctórias; •vísceras: ruptura de uretra em fratura de pelve; •articulações: fraturas intrarticulares (condílea, maleolar). Figura 1.8 - Fratura fechada, completa, cominutiva, de diáfise e metáfise do úmero de cão. Ortopedia, traumatologia e reabilitação 7 Fraturas no 1/3 distal do úmero podem causar lesão do nervo radial superficial e comprometer a propriocepção. Fraturas subtrocantéricas do fêmur podem lesionar o nervo radial e comprometer o apoio no membro posterior, que também perde a propriocepção. 1.6.4 - Avaliação radiográfica (Figura 1.10) •sedação ou anestesia: para adequado posicionamento; •terapia emergencial: estabilizar previamente pacientes com problemas respiratório ou cardiovascular;•exame prévio: definir por exame clínico prévio o local em que vai se obter a imagem; •dupla exposição: fundamental para identificar esquírolas e fissuras. O diagnóstico por imagem nunca é urgência. O paciente deve ser estabilizado, se necessário, antes de ser encaminhado para este tipo de exame, sob risco de sofrer óbito durante manipulação para obter a imagem. . Figura 1.9 – Esquema representativo do trajeto do nervo radial (a) e cão com neuropatia do radial (b) Dr Alceu Gaspar Raiser 8 Na obtenção da imagem de uma fratura deve-se incluir na película radiográfica as articulações adjacentes e obter duas ou mais exposição - ao menos lateral e antero-posterior. 1.6.5 - Apoio diagnóstico • artroscopia • mielografia • ultra-sonografia diagnóstica • tomografia computadorizada • imagem por ressonância magnética 1.6.6 – Artrocentese e artrotomia exploratória • artrocentese: está indicada como apoio diagnóstico nas patologias articulares em que se colhe sinóvia para avaliação de sua característica (Figura 1.11); • artrotomia exploratória: a exploração cirúrgica estará indicada sempre que os demais métodos de avaliação não tenham sido eficientes ou que se requeira exploração adicional. Figura 1.10 – As imagens devem ter definição, e ser obtidas em ao menos duas exposições para permitir adequada avaliação e diagnóstico. Nas imagens da pelve é fundamental esvaziar a ampola retal para visibilizar especialmente o púbis e coluna. Ortopedia, traumatologia e reabilitação 9 1.7 – Cicatrização da fraturas De um modo geral os eventos têm a seguinte seqüência: 1.7.1 - Formação do calo •Hematoma •Morte celular na linha de fratura •Precipitação de fibrina •Migração de fibroblastos 1.7.2 - Vascularização do calo •Invasão neocapilar •Tecido de granulação •Hiperemia - osteólise •Interstício rico em sais •Meio com pH ácido 1.7.3 - Ossificação do calo •Multiplicação e diferenciação osteoblasto – O2 + tensão = fibrose (não–união) osteoblasto - O2 + compactação = cartilagem (pseudoartrose) osteoblasto + O2 + compactação = osso •Síntese de substância básica •Entrelaçamento de trabéculas •União por tecido esponjoso 1.7.4 - Remodelação do calo •Inicia após mineralização •Reduz tamanho do calo Figura 1.11 – Pontos referenciais de artrocentese no cão (Piermattei & Flo, 1999). Dr Alceu Gaspar Raiser 10 •Formação de osso maduro •Orientação estrutural •Remodelação canais de Havers •Reabsorção osteoclástica - 100mg/dia •Proliferação osteóide - 1mg/dia •Reconstrução cortical •Formação óssea •pH alcalino e carga negativa. Para uma adequada cicatrização do osso é fundamental a redução da fratura, manter o alinhamento ósseo e obter imobilização por tempo suficiente (30 dias em animais jovens e 45 a 60 dias em adultos. Com placas de compressão podem ser necessários vários meses). Os eventos descritos acima ocorrem com maior ou menor exuberância se a cicatrização ocorrer por união óssea indireta (formação de calo cicatricial) ou por união óssea direta (sem formação de calo). Na união óssea indireta a estabilidade dos fragmentos não é absoluta, pois há micromovimentos e resulta da imobilização por métodos externos (tala, calha, muleta, gesso), fixadores externos (Kirschner, Ehmer-Kirschner), placas de apoio ou pino intramedular. Na união óssea indireta não há reabsorção óssea e ocorre remodelamento interno dos sistemas de Havers. Nesse caso, o calo é microscópico ou ausente e ocorre quando a fratura for imobilizada com placas de compressão. Histologicamente, a cicatrização óssea pode ocorrer por ossificação endocondral a partir de pequenos fragmentos de cartilagem que aí se formam e por ossificação intramembranosa que tem lugar no interior de membranas conjuntivas em que fibroblastos se diferenciam em osteoblastos. A cicatrização óssea, a semelhança dos tecidos moles, requer adequado nível de proteínas para síntese de novo osso. Assim, uma alimentação balanceada com nível protéico apropriado é suficiente, na fase de cicatrização. A suplementação mineral, ou o uso de complexos vitamínicos estão indicados apenas nos pacientes com problemas de mineralização óssea. 1.8.1 – Emergencial (Filme1.1) 1.8.1.1 - Medidas gerais • ventilação adequada: verificar a condição respiratória, fazendo higienização e desobstrução das vias aéreas superiores. Animais hipoxêmicos ou inconscientes, intubar e ventilar com oxigênio; Ortopedia, traumatologia e reabilitação 11 • controle de hemorragia: fraturas de fêmur e úmero podem lesionar grandes vasos e formar hematomas importantes. Verificar lesões internas como hemotórax ou hemoperitônio que podem ocorrer em animais atropelados ou mordidos. Nas hemorragias externas, a maioria delas é controlada por compressão de 5 a 7 minutos; • terapia ao choque: expandir a volemia e reidratar: iniciar fulidoterapia com solução de Ringer lactato na dose de 90ml/kg para o cão e 60ml/kg para o gato. Se houver hemodiluição, associar sangue (20ml/kg para o cão, 10ml/kg para o gato) ou um expansor de alto peso molecular como o hidroxietilamido (cão: 10- 20ml/kg; gato: 5ml/kg); • prevenir infecção: higienizar as feridas cutâneas mediante tricotomia, desbridamento e uso de anti-sépticos locais. Esses ferimentos são submetidos a procedimentos de enfermagem inicialmente e podem ter a correção cirúrgica antes ou no momento da reparação da fratura. 1.8.1.2 - Imobilização temporária (Figura 1.12) A imobilização temporária de uma fratura visa a evitar que ela se torne exposta ou que ocorra lesão de tecidos moles, especialmente vasos, nervos e tendões. Estão indicadas: Muleta de Thomas modificada •tíbia •rádio-ulna •Canaleta ou tala •carpo e metacarpo •tarso e metatarso•Robert Jones •todas incluindo fêmur e úmero Dr Alceu Gaspar Raiser 12 1.8.1.3 – Prevenir ou tratar o edema A prevenção ou tratamento do edema favorece a redução e imobilização das fraturas, seja por osteossíntese, seja por imobilização externa. • AntiinflamatórioRobert Jones Este tipo de bandagem é feita com, pelo menos 500g de algodão ortopédico que pode ser sobreposto em diferentes camadas presas por atadura elástica (crepom ou Vetrap®). (Filme1.2) 1.8.1.4 - Analgesia Nos pacientes de traumatismo é essencial que se use fármaco opióide ou derivado para que se obtenha adequada analgesia. Nos pacientes com problema respiratório deve-se ficar atento, pois esses fármacos podem causar depressão respiratória. • Protocolo 1 Acepromazina Acepran (0,05mg/kg) Sulfato de morfina Dimorf (0,5 – 1,0mg/kg) Associar Atropina e evitar em animais que tenham instabilidade cardiovascular devido ao efeito vasodilatador dos fenotiazínicos. • Protocolo 2 Midazolan Dormire (0,1mg/kg) Butorfanol Turbogesic (0,4mg/kg) IM na mesma seringa • Protocolo 3 Tramal Tramadol (1-2mg/kg, IM, SC) Figura 1.12 – a) tala plástica ; b) tala de alumínio; c) Muleta de Thomas modificada. a c b Ortopedia, traumatologia e reabilitação 13 1.8.2 – Redução Requisitos •Obter imobilização precisa e estável •Manipulação efetiva para conseguir a redução •Preservar suprimento sangüíneo Tipos • Fechada É o método ideal o Indicações •fraturas recentes e estáveis •animais de pequeno porte o Métodos •manipulação •angulação •tração e contração (Figura 1.13) extensor de Gordon manual tração esquelética • Aberta Quando se estabilizar a fratura com osteossíntese ou não se consigaa redução pelo método fechado. o Indicações •fratura com espasmo muscular •fratura intracapsular •união retardada e não-união •corrigir mau alinhamento •remover seqüestro ou implante •para osteosíntese o Princípios gerais •Técnica atraumática assepsia rigorosa hemostasia cuidadosa divulsão nas separações anatômicas Figura 1.13 – Tração para redução de fraturas. À direita extensor de Gordon (Piermatei & Flo, 1999). Dr Alceu Gaspar Raiser 14 miotomia (se necessária) na origem ou inserção preferir aspiração ao uso de compressas preservar vasos e nervos proporcionar drenagem adequada da ferida de abordagem o Vantagens •redução mais acurada •rígida fixação •previne lesão de nervo ou vaso •menor envolvimento com paciente o Desvantagens •risco de infecção •interfere com a cicatrização •descola inserções e periósteo o Métodos •alavanca •força direta em um fragmento em ambos os fragmentos (Figura 1.14) •combinada 1.8.3 - Imobilização externa 1.8.3.1 - Princípios •definir o objetivo •selecionar o agente imobilizador •considerar idade, raça, atividade •avaliar temperamento cão proprietário •manter no período necessário Figura 1.14 – Redução de fratura mediante angulação dos segmentos proximal e distal. Ortopedia, traumatologia e reabilitação 15 controle radiográfico avaliar complicações 1.8.3.2 - sinais clínicos de consolidação •ausência de dor ou movimento •restauração da função •palpação de calo externo 1.8.3.3 - sinais radiográficos de consolidação (Figura 1.15) •ausência de linha de fratura •canal medular indistinguível •calo opaco e densidade homogênea •calo externo envolvendo a fratura 1.8.3.4 - monitoração periódica – detectar: •afrouxamento •irritação ou ferida •edema (Figura 1.16) •dermatite •rigidez articular Figura 1.15 – Imagem radiográfica logo depois da redução da fratura, aos 45 e 60 dias após. Dr Alceu Gaspar Raiser 16 1.8.3.5 - adaptação apropriada o conforme o tipo de fratura • distal ao joelho e cotovelo • transversa e oblíqua curta • um de ossos pares • em talo verdeanestesiar o imobilizar articulações adjacentes o evitar compressão excessiva • acolchoamento • higienização • tosa 1.8.3.6 - Métodos 1.8.3.6.1 - Muleta de Thomas (Figura 1.17) Indicações •imobilização temporária/definitiva •método auxiliar •cirurgia articular •lesão tendínea •exceto fêmur, úmero proximal e falanges Material •fio de alumínio (1/8”, 3/16”, 3/8”) •algodão ortopédico •fita adesiva •alicate •torno Cuidados •manter aparelho limpo e seco Figura 1.16 – Bandagem mal adaptada em que a atadura elástica esta causando compressão com edema distal. Ortopedia, traumatologia e reabilitação 17 •polvilhar diariamente o anel proximal •detectar edema ou dor •Revisar a cada 7-10 dias •Detectar complicações (Figuras 1.18 e 1.19) Muletas devem ser confeccionadas sob medida e de forma que acompanhem a anatomia de um membro sadio e devem manter a fratura reduzida sem estressar o membro e/ou o animal. Das muletas adquiridas prontas, nem todas permitem adequada antagonização das forças de distração ou sobreposição. Complicações • Mal-união (Figura 1.18) • Mau alinhamento (Figura 1.19) • Não união • Ulceração ou dermatite • Afrouxamento. Figura 1.17 – Seqüência da confecção de uma Muleta de Thomas modificada para cão. Dr Alceu Gaspar Raiser 18 1.8.3.6.2 – Talas e canaletas Indicações •fratura exposta •fratura simples de osso longo •fratura cominutiva grave •fixação auxiliar Tipos •alumínio, metal, acrílico (Figura 1.20) •madeira, pvc Figura 1.19 – A muleta mantém o alinhamento mediano, mas falha no alinhamento do desvio caudal. Seta indica o ponto de tração cranial necessário. Figura 1.15a - Método inadequado para imobilizar fratura distal de fêmur. A fratura não foi reduzida e o anel proximal interfere com a posição do segmento proximal em relação ao distal. O resultado é uma má união Ortopedia, traumatologia e reabilitação 19 Cuidados (Filme1.3) (Figura 1.21) •tricotomia para pelo longo •lavar e desengordurar o membro •imobilizar articulações adjacentes •pressão homogênea •mantê-las limpas e secas •observar pele adjacente •revisar semanalmente Sinais de complicação •dor, tumefação, edema •irritação local, dormência •depressão, perda de apetite •hipertermia •mastigação do molde 1.8.3.6.3 - Gesso sintético Indicações •fraturas estáveis abaixo do cotovelo (Figura 1.22) Figura 1.20 – Tipos de canaletas de acrílico. Figura 1.21 – Adapta de tala de alumínio em fratura de rdio-ulna com imobiliza das articula adjacentes. O esparadrapo ou a atadura elstica não devem ultrapassar a margem de acolchoamento com algodo ortopdico. Dr Alceu Gaspar Raiser 20 abaixo do joelho Vantagens •fácil de aplicar •fácil de estocar •molde em flexão ou extensão •facilita movimentação •rígido e leve Desvantagens •requer anestesia •restrição para fêmur e úmero •complicação vascular •impede tratamento de ferimentos •impede drenagem de exsudatos Cuidados (Filme1.4) •tosar pelo longo •higienizar a área •acolchoar adequadamente •revisar a cada 10 dias 1.8.3.6.4 - Bandagem de Ehmer Indicações •imobilização coxo-femoral (Figura 1.23) •evitar sobrecarga articular •evitar apoio do membro posterior 1.8.3.6.5 - Bandagem de Velpeau Indicações •imobilização da escápula •evitar sobrecarga articular •evitar apoio do membro anterior (Figura 1.24) Figura 1.22 – Gesso sintético em fratura de rádio-ulna em cão. Figura 1.23 – Bandagem de Ehmer em Pastor alemão com redução de luxação coxofemoral. Ortopedia, traumatologia e reabilitação 21 1.9 - Fratura exposta 1.9.1 Classificação •Grau I = perfuração de dentro para fora (Figura 1.25) •Grau II = perfuração de fora para dentro (Figura 1.26) Figura 1.24 – Collie com bandagem de Velpeau para imobilizar o cotovelo. Figura 1.25 – Fratura completa, diafisária, exposta de tíbia, em um cão atropelado por automóvel. Dr Alceu Gaspar Raiser 22 •Grau III = fratura cominutiva e lesão de tecidos moles (Figura 1.27) 1.9.2 Conduta 1.9.2.1 Fratura contaminada (6-8h de evolução) � Pré-requisito •redução e imobilização •proteger osso com tecidos moles � Objetivo •transformar ferida suja em limpa (Figura 1.28) � Desbridamento •tricotomia – proteger ferida Figura 1.26 – Fratura completa diafisária, exposta, de úmero em ferimento por arma de fogo em um cão Collie. Figura 1.27 – Fratura completa, metafisária, com exposição e extensa laceração de tecidos moles. Ortopedia, traumatologia e reabilitação 23 •membro em tração•higienizar a ferida •anestesia geral •remover tecidos desvitalizados •irrigação exaustiva � Redução e imobilização •definir o método osteossíntese Ehmer-Kirschner muleta de Thomas •antibiótico profilático •fechar a ferida e espaço morto� Contra-indicações para fechamento •evolução > 8-10h •edema severo •extensa necrose de pele •impossibilidade de desbridamento 1.9.2.2 Fratura infectada (> 8h de evolução) • infecção local osteomielite (Figura 1.29) septicemia • retardamento na cicatrização • proliferação fibrosa Figura 1.28 – Fratura exposta contaminada de tíbia (evolução de 5h) em que foi efetuada higienização, abordagem, desbridamento, redução e estabilização pelo método Ehmer-Kirschner. Dr Alceu Gaspar Raiser 24 • Fontes (Figura 1.30) � externa (1) � hematoma (2) � trato da fratura (3) � pelo implante (4) � cortical face interna (5) face externa (6) • Estruturas envolvidas � canais de Havers � canais de Volkmann � cavidade medular � periósteo • Rotas � direta fratura exposta cirurgia contaminada ferida punctória � hematógena � extensão de foco adjacente Figura 1.29 – Fratura exposta com duas semanas de evolução, considerada infectada. Figura 1.30 – Principais rotas de infecção para ossos longos. Ortopedia, traumatologia e reabilitação 25 • Sinais clínicos � dor � edema não compressivo � febre discreta e persistente � elevação no leucograma � Forma aguda evolução curta infiltração leucocítica local fagocitose de agentes infectantes liberação de enzimas proteolíticas dor, calor, edema desuso do membro sinais sistêmicos (eventuais) � Forma crônica (Figura 1.32) necrose óssea isquêmica seqüestro, forma invólucro forma sinus fibrose e infiltração leucocítica discreta. • Sinais radiográficos � Forma aguda (Figura 1.31) não há evidência radiográfica de alteração óssea. buscar imagem indicativa da presença de gás (área radioluscente) nos tecidos moles. � Forma crônica (Figura 1.32) proliferação periosteal lise focal e esclerose seqüestro e invólucro união retardada ou não união Figura 1.31 – Fratura completa diafisária, fechada de fêmur com infecção via hematógena. Observar áreas de radioluscencia indicativas da presença de gás. Dr Alceu Gaspar Raiser 26 alterações hipertróficas • Apoio laboratorial � hemograma leucocitose neutrofilia desvio a esquerda � bacteriológico � antibiograma ◊ agentes infectantes Staphylococcus ββββ-lactamase (50%) Staphylococcus spp Streptococcus spp Escherichia coli Pseudomonas aeruginosa Klebsiella spp Pasteurella spp Proteus spp Nocardia spp Bacterioides* Fusobacterium* Actinomyces* Clostridium* Peptostreptococcus spp* * anaeróbios. • Profilaxia � cirurgia asséptica maior índice de infecção é por contaminação nosocomial � antibiótico profilático cefalotina ou cefalexina (intravenosa) repetir a cada 90 minutos Figura 1.32 – Osteomielite crônica em cão com fratura diafisária de tíbia ocorrida há 25 dias com imobilização inadequada. Observar áreas de oosteólise (radioluscentes) e neoproliferação (especialmente periosteal). Ortopedia, traumatologia e reabilitação 27 • Terapia � forma aguda ◊ sem supuração ♦ antibiótico sistêmico antibiograma ou fármaco de amplo espectro cefalexina ceftriaxona metronidazole (anaeróbios) ♦ imobilização rígida da fratura ◊ com supuração ♦ antibioticoterapia sistêmica drenar e imobilizar (Figura 1.33) � Forma crônica ◊ Desbridamento limpeza e curetagem irrigação abundante 4-6 litros – 1o dia 2-3 litros – nos demais imobilização temporária (método externo) curetar osso necrótico excisar sinus e tratos remover seqüestros remover implante frouxo (Filme1.5) enxerto de osso esponjoso (após controle da infecção) manter dreno (Figura 1.34) antibioticoterapia cefalosporinas na infecção óssea Figura 1.33 – Drenagem da infecção mostrada na figura 4.5 em cão da raça Collie, atropelado há 3 dias e com fratura completa diafisária, fechada de fêmur. Devido a dificuldade de imobilização externa nessa área, o cão foi mantido confinado até o controle da infecção com posterior osteossíntese. Dr Alceu Gaspar Raiser 28 Figura 1.34 – Drenagem de osteomielite crônica. As áreas radioluscentes correspondem a pontos de curetagem e de remoção de osso necrótico. Observar a presença de drenos tubulares que passam pelo canal medular. Cefalexina: 30mg/kg, bid Cefalotina: 35mg/kg, tid Ceftriaxona: 30mg/kg, dia imobilização definitiva sem sinais de infecçãopreferir placa a pino proteger suprimento vascular evitar sutura sob tensão cobrir tendão, nervo e vaso. Referências adicionais PIERMATTEI, D.L., FLO, G.L. Manual de ortopedia e tratamento das fraturas dos pequenos animais. 3.ed. São Paulo: Manole, 1999. 694p. KEALY, J.K.; MCALLISTER, H. Radiologia e ultra-sonografia do cão e do gato. São paulo: Manole, 2005. 436p. NEWTON, C.D., NUNAMAKER, D.M. Textbook of small animal orthopaedics. Philadelphia: Lippincott, 1985. 1140 p. Disponível na Internet: http://www.ivis.org/special_books/ortho/toc.asp PIERMATTEI, D.L., JOHNSON, K.A.. An atlas of surgical approaches to the bonés and joints of the dog and cat. 4.ed. Philadelphia:Saunders, 2004. 400 p. RABELO, R.C.; CROWE Jr, D.T. Fundamentos de terapia intensiva veterinária em pequenos animais. Condutas no paciente crítico. Rio de janeiro: L.F. Livros, 2005. 772p. SLATTER, D.H. Textbook of small animal surgery. 3. ed. Philadelphia: Saunders, 2003. 2 v. ZASLOW, I.M. Veterinary Trauma and critical care. Philadelphia: Lea & febiger, 1984. 584 p. Ortopedia, traumatologia e reabilitação 29
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