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114 Exame de fundo de olho cap. 04Fundo de olho normal Fundo de olho normal O exame de fundo de olho é o exame da retina, a qual é uma camada localizada na parte posterior do olho, formando a porção que cobre interna- mente toda a parede de trás. A retina é limita- da anteriormente pelo vítreo, e posteriormente pela coróide. Na embriologia, a retina é uma ca- mada derivada do tubo neural e é uma extensão do sistema nervoso central. Nela, os estímulos luminosos são transformados em impulsos ner- vosos para serem transportados para o cérebro. A imagem forma-se invertida para somente no cérebro ser interpretada da maneira correta. Ao exame, observa-se o nervo óptico, estrutura arredondada, de coloração amarelo-esbranqui- çada, com aproximadamente 1500µm de diâ- metro. Ele é formado por extensões das fibras nervosas que levam os estímulos nervosos para o cérebro. Também pelo nervo passam a artéria central da retina e a veia central da retina. A ar- téria central da retina é derivada da artéria oftál- mica, ramo da artéria carótida interna. A nutrição das camadas mais internas da retina é feita por essa artéria. A drenagem venosa é feita pela veia central da retina. As artérias se ramificam a partir do nervo óptico, em ramos nasal e temporal, e depois em menores derivados: superior e infe- rior. Os ramos temporais superior e inferior de- limitam o pólo posterior (Figura 01). No centro do pólo posterior está a mácula, região sempre temporal ao nervo óptico e um pouco inferior a ele, com 5mm de diâmetro. No centro desta está a fóvea, estrutura com 1500µm de diâme- tro, desprovida de bastonetes, e que é mais fina do que o restante da retina devido à perda das camadas internas da retina. No centro da fóvea encontra-se a fovéola, estrutura com 250µm de diâmetro, responsável pela visão de detalhes e onde acontece a fixação do olhar. As veias vor- ticosas podem ser observadas por transparência na região do equador da retina. A extrema peri- feria retiniana é delimitada pela ora serrata, loca- lizada a aproximadamente 4mm do limbo. A ora serrata tem coloração acinzentada, é desprovida de fotorreceptores, e faz a transição entre retina e corpo ciliar. A coloração da retina ao exame é vermelha por causa da coróide localizada atrás dela, mas a retina é transparente. A fóvea normal tem coloração um pouco mais escura do que o restante da retina, pela presença de pigmentos como melanina. Idade e raça influem na colora- ção da retina. Ao examinar a retina, deve-se ob- servar alterações de coloração, áreas elevadas, áreas deprimidas ou atróficas, além de alterações na cavidade vítrea. A visibilidade da retina de- pende também da transparência dos meios, da córnea, do cristalino e da cavidade vítrea. 115Exame de fundo de olho cap. 04 Fundo de olho normal Figura 02: Esquema das camadas da retina Figura 01: fundo de olho normal 116 Exame de fundo de olho cap. 04Fundo de olho normal A retina é formada por 10 camadas histoló- gicas, da mais interna para a mais externa: membrana limitante interna, camada de fibras nervosas, camada de células ganglionares, camada plexiforme interna, camada nuclear interna, camada plexiforme externa, camada nuclear externa, membrana limitante externa, fotorreceptores, epitélio pigmentado da reti- na. É na camada de fotorreceptores que se en- contram os pigmentos fotossensíveis. Existem dois fotorreceptores: os cones, responsáveis pela visão de cores e de visão de detalhes, e os bastonetes que são os predominantes fora da fóvea e os responsáveis pela visão de formas, funcionando mesmo em condições de menor luminosidade. Os seus segmentos são cerca- dos por extensões das células do epitélio pig- mentado da retina, que são responsáveis pela fagocitose dos segmentos externos destes, assim como pela regeneração dos pigmentos. Diversas células fazem parte do transporte da informação visual. As células horizontais fa- zem sinapses com as células dos fotorrecepto- res, transmitindo a informação horizontalmen- te entre as células fotorreceptoras e para as células bipolares, que transmitem o estímulo para a retina interna a partir da camada ple- xiforme interna. Células amácrinas fazem as conexões das células bipolares com as células ganglionares e lateralmente entre si mesmas. Finalmente, quando o estímulo chega às célu- las ganglionares pelas células amácrinas e bi- polares, é transportado pelos seus axônios ao cérebro. (Figura 02) O exame de fundo de olho pode ser feito com oftalmoscópio direto, com oftalmoscópio indire- to ou com biomicroscopia de fundo de olho, de acordo com a necessidade de cada caso. Para o exame adequado da retina, o paciente deve es- tar com as pupilas dilatadas. Na oftalmoscopia direta, observa-se principalmente o nervo ópti- co, para estudo de sua coloração, bordas e tama- nho. O aumento do tamanho da imagem é gran- de, impossibilitando o exame da periferia retinia- na com esse método. Na oftalmoscopia indireta usa-se o oftalmoscópio indireto ou Schepens e de lentes para observação do pólo posterior e da periferia da retina. A lente mais utilizada nesse exame é de 20 dioptrias. Quando o paciente olha diretamente para o examinador, este pode ver o nervo óptico, a mácula e as arcadas vasculares. Ao solicitar que o paciente olhe para cima, para baixo, para os lados e para posições diagonais, é possível examinar até o equador da retina. Para o exame da extrema periferia o examinador usa o depressor escleral. Na biomicroscopia de fundo de olho, usam-se lentes para aumentar o tama- nho da imagem e para estudo adequado de cada estrutura. Existem lentes para visão detalhada da mácula e do nervo como as de 78 ou 90D; exis- tem lentes para estudo da periferia como as len- tes de 3 espelhos que possibilitam até a observa- ção da ora serrata. O exame da periferia torna-se imprescindível em alguns casos como doenças que podem se manifestar primeiro na periferia ou na suspeita de buracos/roturas retinianas. A cavidade posterior do olho é preenchida pelo vítreo, que corresponde a 80% do volume do olho. É um gel composto de colágeno, ácido hia- lurônico e água. O vítreo é mais aderido no ner- vo óptico, na mácula, nos vasos retinianos e na ora serrata. Com a idade, acontece a liquefação do vítreo e o descolamento deste da retina. Em alguns casos, como nos paciente com miopia, a liquefação e o descolamento acontecem em pes- soas mais jovens. Quando esse processo ocorre, muitos pacientes referem o fenômeno de “mos- cas volantes”: o paciente percebe pontos pretos móveis no campo visual principalmente quando olha para um fundo branco. A maior preocupa- ção no descolamento de vítreo posterior é a for- mação de roturas retinianas nas regiões de maior 117Exame de fundo de olho cap. 04 Fundo de olho normal aderência vítrea quando acontece a separação entre vítreo e retina. Esses pacientes podem ter queixas de flashes luminosos. É importante fazer o diagnóstico nesses casos para o tratamento precoce da rotura, evitando assim, o descola- mento de retina. O exame de fundo de olho faz parte do exame do olho. Diversas doenças, desde degenerativas, metabólicas, genéticas, inflamatórias e infeccio- sas sistêmicas, podem atingir a retina. Na retina doente existem alterações mais características em algumas doenças. “Exsudatos duros” são le- sões amarelo-esbranquiçadas, intra-retinianas, resultado do extravasamento de lipídios; acumu- lam-se nas camadas mais profundas da retina. “Exsudatos algodonosos” são a conseqüência de isquemias, geralmente localizados nas camadas mais superficiais. “Hemorragias em chama da vela” são superficiais, e apresentam esse forma- to porque o sangue se acumula sobre a cama- da de fibras nervosas. “Hemorragias profundas” são pontos arredondados, situadosnas camadas mais profundas da retina (Figura 03). Figura 03: Retinopatia Diabética não proliferativa com edema macular clinicamente significativo. Presença de exsudatos duros e he- morragias. 118 Exame de fundo de olho cap. 04Diabetes mellitus Diabetes Mellitus A retinopatia diabética é a principal causa de ce- gueira na população economicamente ativa nos países desenvolvidos. A prevalência e a severida- de da retinopatia estão relacionadas com a du- ração do diabetes. Após muitos anos de doença, praticamente todos os pacientes com diabetes tipo 1 e a maioria dos pacientes com o tipo 2, desenvolvem algum grau de retinopatia. O con- trole glicêmico rigoroso retarda o aparecimento de todas as doenças relacionadas ao diabetes, como retinopatia, nefropatia e neuropatia. Fisiopatologia A microangiopatia leva ao aumento da perme- abilidade vascular. Os capilares retinianos se obliteram, formando áreas de exclusão capilar e IRMAs (microangiopatia intra-retiniana, regiões com microaneurismas e vasos tortuosos) surgem ao redor. Classificação A retinopatia diabética é classificada em não proliferativa e proliferativa. Na retinopatia não proliferativa, há alterações intra-retinianas, formando microaneurismas, hemorragias, alterações venosas e alterações da permeabilidade vascular resultando em edema de mácula. Nessa fase, os pacientes são classifi- cados de acordo com a severidade da retinopatia não proliferativa; quanto mais severa a doença, maior a chance em se desenvolver a fase prolife- rativa. Exsudatos duros, exsudatos algodonosos ou edema macular podem estar presentes. Muito leve: apenas poucos microaneurismas. Leve: Microaneurismas e/ou hemorragias in- tra-retinianas leves em menos que 4 quadran- tes do olho. Moderada: Microaneurismas e/ou hemorra- gias intra-retinianas leves nos 4 quadrantes, ou severas em menos que 4 quadrantes. Severa: Usa-se a “regra do 4-2-1”: microaneu- rismas e/ou hemorragias intra-retinianas seve- ras nos quatro quadrantes, ensalsichamento venoso em 2 quadrantes ou IRMAs em 1 qua- drante. Muito severa: 2 ou mais características da reti- nopatia diabética não proliferativa severa. Nos pacientes em fase não proliferativa, a principal causa de baixa de acuidade visual é o edema de mácula (Figuras 04 e 05). Com o aumento da permeabilidade vascular, há extravasamento de fluido e de plasma para a retina (Figuras 06 e 07), causando o seu es- pessamento. O edema macular é considerado clinicamente significativo quando há: espes- samento da retina a 500µm do centro da má- cula, exsudatos duros a até 500µm do centro da mácula se associados a espessamento da retina ou com áreas de edema retiniano com 1 diâmetro de disco ou mais, e se qualquer par- te dele encontrar-se a 1 diâmetro de disco do centro macular. Na retinopatia proliferativa, neovasos crescem da retina ou do nervo óptico e na superfície reti- niana ou em direção à cavidade vítrea. A presença de 3 ou mais dos seguintes fato- res retinopatia diabetica de alto risco de per- da visual: presença de neovasos, localização dos neovasos sobre o nervo óptico ou a 1 di- 119Exame de fundo de olho cap. 04 Diabetes mellitus âmetro de disco do nervo, neovasos de disco (NVD) com extensão maior que 1/4 ou 1/3 na área do mesmo ou neovasos em outra localização (NVE, sigla em inglês para neovascularization elsewhere) com extensão maior ou igual à área de 1/2 do disco óptico e presença de hemorra- gia vítrea ou pré-retiniana. Os neovasos de retina são muito aderidos ao vítreo posterior, e a sua contração pode resul- tar em hemorragia vítrea e/ou pré-retiniana ou em descolamento de retina tracional. A grande maioria dos descolamentos de retina dessa natureza são fora da mácula, mas pode haver progressão; descolamento progressivo acontece com o passar do tempo. Prevenção Todos os pacientes com DM devem ser submeti- dos a exames de fundo de olho periodicamente. Diabéticos do tipo 1 devem ter o primeiro exa- me realizado 5 anos após o diagnóstico sistê- mico, enquanto aqueles com tipo 2 devem ser examinados logo ao diagnóstico. Pacientes com retinopatia muito leve podem ser examinados anualmente. Quando há retinopatia leve a mo- derada sem edema macular clinicamente signifi- cativo, os exames são semestrais. Na retinopatia diabética severa, exames podem ser espaçados a cada 3 ou 4 meses quando são pacientes aderen- tes ao acompanhamento. Tratamento Pacientes com diabetes devem ser orientados sobre a necessidade de controle ótimo da glice- mia. Flutuações constantes da glicemia estão as- sociadas a maior severidade da retinopatia. Pacientes com edema macular clinicamente sig- nificativo devem ser submetidos a laser focal ou grid macular. No laser focal, os microaneurismas são trata- dos diretamente, com tamanho de mira entre 50 a 100µm e tempo de exposição de 0,1s. O grid macular, para edema macular difuso, é feito quando não há áreas evidentes de vaza- mento; são queimaduras com 50 a 200µm de diâmetro, com intensidade leve. Efeitos adver- sos do tratamento com laser incluem perda de campo visual, neovascularização de coróide e fibrose sub-retiniana. Pacientes com retinopatia diabética não proli- ferativa muito severa ou proliferativa devem ser submetidos a panfotocoagulação com laser. São feitos ao todo entre 1500 a 2000 marcas de laser, com espaço de uma marca entre cada disparo de laser. O tamanho da marca será de 500µm de acordo com a lente escolhida, com duração de 0,1s, e pode ser de 200mw (Figura 08). Os pacientes com diabetes tipo 2 têm ain- da mais benefício quando tratados. Pacientes monoculares, grávidas, ou que serão submetidos a cirurgia de catarata ou capsu- lotomia devem ser tratados com laser preco- cemente, pelo maior risco de progressão da doença. Há indicação de vitrectomia em casos de re- tinopatia diabética proliferativa com descola- mento de retina tracional da mácula. A cirurgia requer experiência; o tecido tem componentes fibrosos e vasculares, a retina é muito friável, e é imprescindível fazer a dissecção cuidadosa da tração vitreorretiniana. Outra indicação de vitrectomia é a hemorragia vítrea que não cla- reia espontaneamente após um ano. 120 Exame de fundo de olho cap. 04Diabetes mellitus Figura 04: Retinopatia Diabética não proliferativa com edema macular clinicamente significativo. Hemorragias profundas e superficiais, exsudatos duros. Figura 05: Retinopatia Diabética não proliferativa com edema macular clinicamente significativo, em red free. Nota-se exsudatos duros, hemorragias e alterações vasculares. 121Exame de fundo de olho cap. 04 Diabetes mellitus Figuras 06 e 07: Fases precoce (6) e tardia (7) de angiofluoresceinografia mostram extravasamento tardio do contraste na área de edema macular, além de bloqueio causado pelas hemorragias. 122 Exame de fundo de olho cap. 04Diabetes mellitus Figura 08: Foto de fundo de olho mostra marcas de panfofocoagulação 123Exame de fundo de olho cap. 04 Hipertensão arterial sistêmica Hipertensão Arterial Sistêmica A hipertensão sistêmica afeta principalmente cé- rebro, coração, rins e olhos. É fator de risco para o aparecimento de oclusões vasculares da retina, para macroaneurismas, além de piorar uma reti- nopatia diabética pré-existente. Na maioria dos casos, as alterações de fundo de olho acontecem de maneira lenta e progressiva, sem afetar brus- camente a acuidade visual. Há vasoconstricção arteriolar generalizada da retina, com estreita- mento difuso dos vasos, além de espessamento da parede vascular alterando o reflexo desses va- sos. Numa fase posterior, com a degeneração da camada muscular dos vasos, há dilatação destes, causando quebra da barreira hematorretinia- na interna e extravasamentode substâncias de dentro dos vasos para a retina. Nesse momento surgem hemorragias superficiais e profundas, além de exsudatos duros e exsudatos algodo- nosos que podem levar a edema macular e a estrelas maculares (Figura 09). Eventualmente, sem o controle pressórico adequado, os vasos adquirem aspecto de fio de cobre, e num estágio mais avançado, ficam com aspecto de fio de pra- ta, quando a coluna de sangue nos vasos não é visível. Cruzamentos arteriovenosos patológicos surgem, como depressão da veia (sinal de Gunn) e deflexão da veia (sinal de Salus). A hipertensão sistêmica também pode afetar a coróide e o nervo óptico. As artérias da coróide sofrem vasoconstricção com o aumento da pressão, causando necrose fibrinóide da coriocapilar e epitélio pigmenta- do da retina. Áreas de EPR sobre a coriocapilar isquêmica ficam amareladas e são denomina- das “manchas de Elschnig agudas”. Posterior- mente, o EPR torna-se hiperpigmentado com apenas um halo hipopigmentado. Com a dis- função do EPR, descolamentos neurossenso- riais podem acontecer. A hipertensão severa também pode causar edema de papila, com dilatação e tortuosidade dos pequenos vasos do nervo. A diminuição da acuidade visual é causada por complicações relacionadas à hipertensão crôni- ca, como oclusões vasculares. Figura 09: Retinopatia hipertensiva. Exsudatos algodonosos, hemorragias e estreitamento arteriolar. 124 Exame de fundo de olho cap. 04Hipertensão arterial sistêmica Oclusões Vasculares Oclusão da artéria central da retina e oclusão de ramo da artéria central da retina Em pacientes com queixa de perda da acuidade visual abrupta, às vezes com história de amau- rose fugaz (perda repentina da visão com retor- no ao normal após poucos minutos), a acuidade visual está muito baixa, geralmente entre “conta dedos” e percepção luminosa. Ao exame ocular, o paciente pode apresentar defeito pupilar afe- rente (a pupila não mantém miose mesmo esti- mulada à luz). A retina apresenta danos irrever- síveis 1h30 após o início da oclusão. O fundo de olho aparece branco-amarelado, com exceção da fóvea. A fóvea tem irrigação independente do restante da retina, pela artéria cilio-retiniana, e assim, pode ainda manter a sua irrigação mesmo com a oclusão da artéria central. Ocasionalmen- te, um êmbolo pode ser visualizado na artéria. Essa opacificação retiniana pode se resolver em 4 a 6 semanas, resultando em vasos retinianos estreitados, em nervo óptico pálido e em altera- ção do reflexo do fundo de olho. Em aproximadamente 1 mês, 20% dos pacien- tes podem desenvolver neovascularização de íris, além de menor porcentagem de pacientes que podem desenvolver neovascularização de nervo óptico. Trombos, êmbolos, vasculite, es- pasmo são as principais causas da oclusão. Quando o ramo da artéria central da retina está ocluído, observa-se branqueamento da região irrigada por esta. Na grande maioria das vezes, o ramo obstruído é o temporal. Apesar de haver um defeito de campo residual, freqüentemente os pacientes preservam visão central. Oclusão de veia central da retina e oclusão de ramo da veia central de retina A oclusão de veia central da retina atinge ge- ralmente pacientes com mais de 65 anos. É ca- racterizada por perda súbita da visão, indolor. A acuidade visual na apresentação é importante fator prognóstico. Pacientes que têm acuidade visual melhor do que 20/40 na apresentação mantêm boa visão. O fundo de olho apresenta hemorragias superficiais e profundas nos quatro quadrantes, além de tortuosidade vascular. Com a evolução, as hemorragias diminuem, mas per- siste o edema macular. Alguns pacientes, após aproximadamente 100 dias da oclusão, podem desenvolver glaucoma, que acarreta aumento da pressão intra-ocular de difícil controle, além de complicações relacionadas a retinopatia pro- liferativa. Olhos que desenvolvem neovasculari- zação de íris ou de retina são tratados com pan- fotocoagulação. A oclusão de ramo venoso acomete pacientes da mesma faixa etária que na oclusão central, após 60 anos, envolvendo ambos os sexos na mesma proporção. Geralmente a obstrução acontece nos cruzamentos entre veia e artéria. No fundo de olho observam-se hemorragias na área do ramo ocluído. No seguimento, aparecem áreas de isquemia, dilatação de capilares, microaneu- rismas e vasos colaterais formando alças vascula- res. As complicações da oclusão de ramo incluem neovascularização de retina e edema macular, que são tratados por fotocoagulação. Macroaneurismas Macroaneurismas são dilatações arredondadas das arteríolas retinianas temporais (mais co- 125Exame de fundo de olho cap. 04 Hipertensão arterial sistêmica muns), mais freqüentes em mulheres e em hi- pertensos. Podem evoluir com hemorragias pré- retinianas, intra-retinianas, ou sub-retinianas, além de exsudação que pode envolver a mácula. O tratamento com laser é realizado naqueles ca- sos em que há comprometimento da mácula e conseqüentemente da visão. Buraco de mácula Causado por trauma ou idiopático, o buraco de mácula idiopático acomete mais o sexo feminino, a partir da 6ª década de vida. Observa-se buraco no centro da mácula, envolvendo assim a fóvea. A acuidade visual está diminuída, geralmente menor que 20/100. O tratamento é cirúrgico. Anemia Falciforme Na anemia falciforme, os pacientes sofrem de eventos vaso-oclusivos em todos os órgãos, principalmente em pulmão, rins, ossos, fígado e pele. A doença acomete mais freqüentemen- te a população pigmentada (principalmente a raça negra). Na retina, desenvolvem-se altera- ções periféricas típicas na fase não proliferativa como hemorragia em salmon patch (hemorragia pré-retiniana de coloração rosa), black sunburst (grânulos negros causados por hiperplasia de epitélio pigmentado), tortuosidade venosa, sinal da depressão macular (atrofia macular causada por oclusão vascular). Alguns pacientes desen- volvem oclusão de artéria central ou de ramo. Devido às complicações isquêmicas da anemia falciforme, os pacientes podem desenvolver áreas isquêmicas na retina e neovascularizações periféricas denominadas “seafan” (recebem esse nome devido à sua semelhança física com es- ponjas do mar). Coriorretinopatia Central Serosa Doença de causa indeterminada, atinge princi- palmente indivíduos do sexo masculino, com idade entre 30 a 50 anos. São pessoas com per- sonalidade do tipo A ou com história de uso de corticosteróide. A acuidade visual está diminuí- da e a visão é distorcida. Há um descolamento de retina seroso. É uma doença com resolução espontânea e bom prognóstico na maioria dos casos. Edema Cistóide de Mácula O edema cistóide de mácula pode estar asso- ciado a outras doenças já descritas como a re- tinopatia diabética e a degeneração macular relacionada a idade. Pode ser complicação de cirurgia de catarata, aparecendo 4 a 16 semanas depois do procedimento, mesmo em cirurgias sem complicações. A mácula tem um edema de aspecto petalóide. O tratamento é com anti-in- flamatórios não-hormonais tópicos e esteróides intra-vítreos. Descolamento de retina regmatogênico O paciente tem queixa de perda de campo, de escurecimento de um quadrante da visão (sen- sação de “cortina”) ou de perda da acuidade vi- sual. O descolamento pode estar relacionado com trauma, com alta miopia ou com doenças associadas a formação de roturas periféricas ou a alterações do vítreo, e a maior parte do casos ocorre espontaneamente. O tratamento pode ser: injeção de gás, introflexão escleral ou vitrec- tomia. 126 Exame de fundo de olho cap. 04Auto-avaliação Auto-avaliação 1. Assinale a alternativa incorreta: a. A retina é responsável por transformar os estí- mulos luminosos em impulsos elétricos para se- rem transportados para o cérebro. b.Na retina a imagem é formada invertida para somente no cérebro ser interpretada da maneira correta. c. A nutrição da retina e da coróide é feita pela artéria central da retina. d. A mácula está localizada temporalmente ao nervo óptico. e. Os ramos inferior e superior da artéria tempo- ral da retina delimitam o pólo posterior. 2. Assinale a alternativa incorreta: a. A retinopatia diabética é a principal causa de cegueira na população economicamente ativa. b. A principal causa de diminuição de visão na retinopatia diabética não proliferativa são as he- morragias. c. Hipertensão sistêmica arterial é fator de ris- co para oclusões vasculares, macroaneurismas, além de piorar retinopatia diabética pré-existen- te. d. Descolamentos de retina normalmente aco- metem olhos sem doença ocular prévia. e. Corrioretinopatia central serosa atinge princi- palmente o sexo masculino. 3. Assinale a alternativa com as afirmações cor- retas: I. No fundo de olho a imagem forma-se invertida. II. No fundo de olho, o nervo óptico encontra-se temporal a mácula. III. Há dois tipos de fotorreceptores, cones e bas- tonetes, que formam a camada mais anterior da retina. IV. Os bastonetes são os fotorreceptores presen- tes na fóvea. a. Todas as alternativas são corretas. b. Somente as alternativas II e III são corretas. c. Somente a alternativa II é correta. d. Somente a alternativa I é correta. e. Somente as alternativas II e IV são corretas. 4. Assinale a alternativa incorreta: a. Diabéticos do tipo 1 e 2 desenvolvem retino- patia depois de muitos anos de doença. b. A principal causa de diminuição da visão nos pacientes com retinopatia diabética não prolife- rativa é o edema de mácula. c. O único tratamento disponível para retinopa- tia diabética proliferativa é a cirurgia. d. Pacientes com diabetes tipo 1 devem realizar o primeiro exame de fundo de olho no máximo 5 anos após o diagnóstico da doença. e. Pacientes monoculares, grávidas, ou que serão submentidos a cirurgia de catarata ou capsulo- tomia devem ser tratados da retinopatia preco- cemente. 5. A hipertensão arterial sistêmica (HAS): a. Afeta principalmente cérebro, coração, rins e olhos. b. Causa alterações de fundo do olho precoce- mente, levando a queda abrupta de visão. c. Quando afeta o olho, causa lesão apenas da retina. d. Causa o aparecimento de fios de cobre e de prata no fundo do olho, nas fases iniciais da do- ença. e. Pode causar vasodilatação no exame de fundo de olho já no início da doença. 127Exame de fundo de olho cap. 04 Auto-avaliação 6. Assinale a alternativa correta: a. Na oclusão da artéria central da retina a acui- dade visual é ausência de percepção luminosa. b. Oclusão de artéria central de retina acomete mais o sexo masculino. c. Após a oclusão da artéria central, a retina intei- ra fica pálida. d. Alguns pacientes desenvolvem glaucoma neo- vascular 30 dias depois da oclusão da veia cen- tral da retina. e. A neovascularização de retina é tratada com panfotocoagulação. 7. Assinale a alternativa incorreta: a. Edema cistóide de mácula pode ser complica- ção de cirurgia de catarata. b. Coriorretinopatia central serosa é uma doença de causa indeterminada, que atinge mais comu- mente pessoas do sexo masculino, entre 30 e 50 anos. c. No descolamento de retina, os sintomas sur- gem somente depois que a retina descolou total- mente, causando diminuição da acuidade visual. d. Na anemia falciforme, os pacientes podem so- frer eventos vaso-oclusivos em diversos órgãos, entre eles pulmão, rins, ossos, fígado, olhos e pele. e. A acuidade visual nos pacientes acometidos por buraco de mácula está diminuida e o trata- mento é cirurgico. 8. São achados da retinopatia diabética não pro- liferativa: a. Microaneurismas, arteríolas em fio de prata, neovasos de disco. b. Hemorragias intrarretinianas, microaneuris- mas, neovasos de disco. c. Exsudatos duros, exsudatos algodonosos, he- morragias intrarretinianas. d. Microaneurismas, exsudatos algodonosos, neovasos de disco. 9. São considerados fatores de risco para retino- patia diabética, exceto: a. Raça amarela. b. Uso de insulina. c. Tempo de evolução do diabetes. d. Controle metabólico irregular. 10. São achados fundoscópicos que sugerem au- mento agudo da pressão arterial, exceto: a. Borramento da papila. b. Descolamento de retina exsudativo. c. Cruzamentos arterio-venosos patológicos. d. Exsudatos algodonosos. 11. É correto afirmar que: a. As principais alterações oculares da hiperten- são arterial sistêmica ocorrem na parte anterior do olho. b. O cruzamento arterio-venoso patológico na retina caracteriza a fase maligna da hipertensão arterial sistêmica. c. A hipertensão arterial sistêmica está associa- do a um risco aumentado de oclusão de ramo da veia central da retina. d. O edema de papila ocorre exclusivamente em doenças neurológicas.