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DIREITO CIVIL IV 1) POSSE: 1.1) Conceito: A definição de posse encontra ainda algumas controvérsias. Para melhor chegar a um conceito, necessário fazer um paralelo com a propriedade/domínio. Como afirma Antônio Joaquim Ribas: “A posse é, pois, o império natural ou material que os homens exercem sobre as coisas, abstração feita do direito que possam, ou não, ter para exercê-lo. O domínio é o império legal dos homens sobre as coisas”. Portanto a propriedade é por si um direito enquanto a posse é um estado de fato. O art. 1.196, CC, conceitua a posse da seguinte forma: Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. É possível dizer então que a posse é o exercício de fato de algum dos poderes inerentes ao direito de propriedade. Em regra, o possuidor só pode usar e fruir/gozar da coisa, já o poder de dispor (alienar, doar, gravar de ônus, consumir, reformar, destruir) é direito reservado unicamente ao proprietário. É possível que o possuidor consiga vender o bem, mas isto ocorrerá de forma “informal”, sem a possibilidade de que isto reste registrado juridicamente. Possuidor é todo aquele que ocupa a coisa em nome próprio e pratica condutas de dono, seja ou não o verdadeiro dono dela. A posse diferencia-se da detenção, visto que o detentor é alguém que ocupa a coisa e pratica atos de dono, mas em nome de terceiro e sob ordens deste. “Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único: Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume- se detentor, até que prove o contrário”. 1.2) Natureza Jurídica: Fato X Direito A doutrina moderna tem se posicionado no sentido de que a natureza jurídica da posse é sui gereris, dada suas peculiaridades que a impossibilitam de ser definidas como unicamente fato ou direito. 1.3) Teorias da Posse: • Teoria Subjetiva (Friedrich von Savigny): Para esta teoria, a posse caracteriza-se pela conjugação de dois elementos: o curpus (poder físico e permanente sobre a coisa/conduta de dono) e o animus (elemento subjetivo que se encontra na intenção de exercer poder sobre a coisa com o objetivo de tê-la como sua). Para esta teoria, se houver corpus, sem animus, ter-se-á mera detenção. • Teoria Objetiva (Rudolf von Ihering): Para Ihering basta que exista o corpus para que exista a posse. O animus é dispensável para a configuração da posse, o poder físico e a conduta de dono já é suficiente para comprová-la, sem necessariamente ter intenção de obter o seu domínio. Nesta teoria a posse é a exteriorização da propriedade. O Código Civil Brasileiro adota a teoria objetiva sobre a posse. 1.4) Modalidades de posse: • Posse direta e posse indireta: A posse direta ou imediata é aquela que é exercida de forma plena, ou seja é quando se exerce o poder de fato sobre uma coisa. Já a posse indireta ou mediata é aquela em que não se exerce o poder pleno sobre a coisa, neste caso ocorre um “desdobramento da posse” e o possuidor transfere a posse direta à terceiro. Cabe ressaltar que tanto a posse direta quanto indireta conferem legitimidade nas ações possessórias. • Posse exclusiva e composse: Posse exclusiva é aquela em que uma única pessoa exerce posse plena sobre uma coisa. A composse ocorre quando duas ou mais pessoas exercem simultaneamente poderes possessórios sobre a mesma coisa • Posse justa e posse injusta: A posse justa é toda aquela que não for violenta, clandestina ou precária (art. 1.200, CC), ou seja é a posse adquirida legitimamente, sem ter vícios jurídicos externos. Por conseguinte, a posse injusta é aquela que foi adquirida mediante algum vício, seja por violência, clandestinidade ou precariedade. Porém, ainda que viciada a posse injusta não deixa de ser posse, visto que ela somente será considerada injusta em face da pessoa que sofreu a injustiça, porém será justa em razão de terceiros. A posse injusta não é considerada como apta a gerar usucapião, a não ser que no caso concreto o “vicio” seja convalidado, passando a posse a ser considerada justa à partir de então. “Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.” III Jornada de Direito Civil – Conselho de Justiça Federal: “Enunciado nº 237 – Art. 1.203 do Código Civil: É cabível a modificação do título da posse – interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini.” • Posse de boa-fé e posse de má-fé: A posse de boa-fé é aquela em que o possuidor acredita que esta em uma situação legítima, ele não tem conhecimento da existência de qualquer vício na aquisição da posse, logo, acredita que está em uma situação regular. Já a posse de má-fé é quando o possuidor tem conhecimento da existência de vício na aquisição da posse. • Posse nova e posse velha: Posse nova é aquela que é exercida há menos de um ano e um dia, e a posse velha é a que é exercida à partir de um ano e um dia. Esta classificação tem por objetivo apurar quem detém a “melhor posse” em caso de conflitos de interesse entre mais de um possuidor. Ademais, este conceito é utilizado também para consolidar a purgação de vícios existentes na posse (violência ou clandestinidade), porém este não é um critério objetivo, mas meramente subjetivo.
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