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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Hotelaria Hospitalar Aula 1 Prof. João Luiz Coelho Ribas CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Olá! Seja bem-vindo à disciplina de Hotelaria e Hospedagem! Os hospitais têm se preocupado em, além de oferecer um atendimento de qualidade, proporcionar ao seu cliente serviços de qualidade, que o fidelize e o conforte em momentos críticos de sua estadia. Para o gerenciamento dessas estruturas de saúde e expectativas, tem surgido uma nova forma de gestão nas unidades hospitalares que muitos autores e gestores empregam para denominá- la de hotelaria hospitalar. Então, esta aula tem como objetivo definir o que é a hotelaria hospitalar e a importância no dia a dia do cliente e de sua saúde. Antes de iniciar seus estudos, acesse o material on-line e assista ao vídeo de introdução que está disponível para você! Contextualizando Falar em hotelaria hospitalar é falar basicamente, em última análise, de um processo de fidelização do cliente, seja este na figura do usuário do sistema, seja ele na figura de familiares ou mesmo amigos e colegas que vão visitar um determinado paciente internado. Por exemplo, vamos pensar em um grande hospital da região e que este está passando por sérios problemas de perdas de clientes por diversos motivos, tanto tecnológicos quanto de atendimento e de estrutura. Devido a isso, os diretores de cada setor se reuniram para rever o planejamento estratégico do hospital para tentar reverter a situação e melhorar a estrutura para captar mais clientes e os fidelizar, o que no momento não estava acontecendo. O que está acontecendo é que os clientes vêm até hospital, mas dificilmente voltam e acabam divulgando a decadência em sua estrutura. Muitos falam inclusive que o hospital era muito bom, mas de um tempo para cá ficou realmente complicado fazer qualquer procedimento lá. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Em uma reunião dos diretores a respeito do planejamento estratégico, ficou decidido que iriam investir em várias áreas, inclusive na reformulação da estrutura hospitalar. Na sua função de reestruturação, em especial pautado na hotelaria hospitalar, várias ideias podem surgir. Essas ideias podem ser simples, como uma pintura da recepção, ou mais complexas, como a reforma de uma ala do hospital, mas que com certeza poderiam alterar a imagem que o hospital está passando neste momento aos seus usuários. Veja o que o professor João Luiz tem a dizer sobre o assunto no vídeo que está disponível no material on-line! Um pouco de história A estrutura hospitalar é extremamente complexa para atender a demanda de seus clientes. Essa complexidade varia proporcionalmente de acordo com as especializações que atende dentro de sua abrangência. Entretanto, se olharmos um pouquinho da história desde a constituição dos hospitais, vemos que essas instituições eram de baixa relevância para a assistência à saúde, até mesmo porque na época não constituía um modelo de organização que satisfizesse seus clientes. Somente a partir do século XIX essas instituições começaram a receber influências de profissionais de outras áreas que não tinham participação direta no diagnóstico e tratamento das patologias, mas sim na prestação dos serviços e na satisfação de sua clientela, incorporando aos hospitais, nessa época, não apenas o cunho científico, mas também conceitos técnicos e sociológicos. Após essas mudanças e especialmente a partir do século XX, o hospital alcança o status de principal estabelecimento de prestação de atenção médica, além da assistência individual, em uma abordagem integral, desde o tratamento até a satisfação de seus clientes com o trabalho e requinte oferecidos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 O hospital moderno é, então, uma organização completa que conta com o avanço científico constante, com a tecnologia da saúde e, além disso, com instalações e equipamentos que isso representa. A hotelaria hospitalar pode ser definida, de acordo com Taraboulsi (2009), como “um serviço de hotelaria adaptado ao meio hospitalar, que humaniza as condutas e os ambientes e procura inserir todos os envolvidos com os vínculos de respeito, atenção, presteza e sorriso”, ou seja, a hotelaria hospitalar nada mais é do que a introdução de técnicas, procedimentos e serviços que visem ao benefício, tanto de origem social e físico quanto emocional e psicológico, tanto do paciente quanto de familiares e funcionários. Assim sendo, no momento que há a implementação desses serviços de Hotelaria nos hospitais, o resultado não é apenas a padronização e melhoria dos serviços prestados por essa entidade, mas também a reestruturação e ampliação de todo um conceito de qualidade no atendimento de toda a rede hospitalar. Vale a pena lembrar que o hospital, apesar de se aproximar muito dos conceitos de hotelaria utilizados pelo ramo hoteleiro, recebe, diferentemente deste, seus clientes em épocas complicadas de sua vida, seja como doentes e necessitando de algum cuidado mais especializado, seja como acompanhantes, que muitas vezes sofrem tanto quanto o hospitalizado. Então, é necessário compreendermos que além do excelente atendimento, temos que proporcionar aos nossos “hóspedes” o conforto tanto em termos físicos quanto psíquicos, tendo a certeza que a satisfação nem sempre vai ser completa. Não pela qualidade dos serviços oferecidos, mas pelo desfecho da situação, que nem sempre é a desejada. Outra questão a ser analisada sob essa ótica é de que o hospital ainda é visto como sinônimo de imparcialidade, especialmente porque, em algumas instituições, ainda se promovem mecanismos que visualizam a saúde e não o paciente. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 De acordo Schulz (1976), que nos traz uma visão mais abrangente sobre esse assunto, o hospital tem como sua prima função a prestação de assistência ao paciente, trazendo à tona a discussão de que não apenas o seu caráter técnico-científico tem que ser observado, mas também tudo o que diz respeito à qualidade dos quesitos ambientais e sociais que o envolvem. O hospital, embora com suas características únicas e desagregáveis, deve-se valer de seus princípios e valores para se tornar uma instituição efetivamente social e integrativa capaz de diferenciá-la das demais, que infelizmente ainda são extremamente burocráticas, autoritárias e engessadas. No entanto, de todo o montante de hospitais que temos hoje no Brasil, infelizmente poucos são ainda os que iniciaram esse processo de modernização e adequação de seus serviços. Fato esse que se deve a vários motivos, tais como: a falta de recursos; falta de profissionais especializados que apresentam uma visão completa tanto de hotelaria quanto de procedimentos hospitalares, o que faz, ainda hoje, vários gestores não enxergarem a necessidade de implantação dos conceitos de hotelaria no ambiente hospitalar; a busca de novos parceiros comerciais; e, especialmente, a mudança da mentalidade de gestão hospitalar, na qual se coloca o hospital não apenas como um meio de saúde, mas como um setor de desenvolvimento para a venda de produtos e procedimentos voltados à qualidade, à saúde e à adequação física de suas estruturas. Na verdade, a hotelaria hospitalar é uma tendência que veio para modificar o hospital e tirar aquela “cara de hospital” dessas instituições de saúde. Assim, ela traz em sua proposta a essência de umaadaptação à nossa realidade de mercado e aos novos interesses e anseios de seus clientes. No entanto, é importante termos bem definido que hotelaria hospitalar não quer dizer em nenhum momento luxo, mas, sim, conforto e qualidade, através da incorporação, pelo hospital, de serviços oriundos do setor hoteleiro, sempre respeitando as regras, funções e especialidades do setor hospitalar. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Os hospitais, cuja vocação de serviços é voltada à saúde, percebem que ao inserir em sua gestão os conceitos de hotelaria, passam a criar um diferencial de segurança, conforto e qualidade, formando a opinião de seus clientes em relação ao que é saúde atrelada à excelência em prestação de serviços, podendo inclusive, como meta final, além de o fidelizar, aliviar a estranheza do cliente e de seus familiares ao ambiente hospitalar. Assim, como dito por Dias (2006), o cliente deseja, ao ser cuidado, ser considerado único, e o que lhe é oferecido deve permitir que os dias em que permanecer no ambiente hospitalar sejam vivenciados com o menor sofrimento possível, inserindo uma ruptura com o antigo, incluindo mudanças e transformações. Vale destacar que a hotelaria não impõe conceitos ao hospital e, sim, é esse que incorpora à sua realidade muitas contribuições do setor hoteleiro. Vamos aprofundar mais nossos conhecimentos? Então assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Contribuições do setor hoteleiro ao setor hospitalar: principais conceitos Como ressaltado anteriormente, a hotelaria não impõe conceitos ao hospital e, sim, é esse que incorpora à sua realidade muitas contribuições do setor hoteleiro. Mas quais são esses conceitos e como se dá essa contribuição? Esses conceitos são basicamente: ■ A humanização; ■ A arquitetura hospitalar; ■ A automação hoteleira; ■ A cor; ■ A hospitalidade; ■ O acolhimento; ■ Os meios de hospedagem; ■ Os serviços criativos; ■ A bioética; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 ■ A biossegurança. Veremos a seguir como se dá a relação desses conceitos com as contribuições no meio hospitalar. Na humanização (a abordagem humana), cada vez mais as instituições de saúde estão voltando-se para o cliente e a satisfação de suas necessidades, formulando um conjunto de ações em uma construção coletiva, criando um ambiente reestruturado para as necessidades diárias, alívio do desconforto físico e do estresse mental, não apenas com iniciativas isoladas, mas acompanhada de um atendimento personalizado e caloroso. Para maior aprofundamento, recomendo a leitura do artigo “A humanização e o ambiente físico hospitalar”, disponível em: http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Sa%FAde/artigos/a_humanizacao_e_o_am biente_fisico_hospitalar.pdf A arquitetura hospitalar é uma questão básica, na qual o objetivo é atender concomitantemente as necessidades médico-hospitalares e as necessidades dos clientes, contribuindo sempre para promover e manter o bem- estar dos indivíduos que trabalham, que frequentam ou que estão hospitalizados, ofertando a comunicação necessária e a privacidade obrigatória. A automação hoteleira versa basicamente na capacidade dessas unidades usufruírem da informática e ferramentas digitais, com a implantação da tecnologia da informação, para ter uma visão mais competitiva, além de, é claro, aumentar a produtividade e maximizar a evolução tecnológica frente à concorrência. A cor, também chamada no meio de cromoterapia, proporciona uma nova percepção. Com ela pode-se unificar ou até mesmo dividir um ambiente. O hospital tradicionalmente era pintado de branco (e muitos ainda o são). Mas vários estudiosos defendem que as cores podem influenciar não somente na percepção do ambiente, mas também no comportamento e sentimentos humanos. As cores ofertam sensações físicas não somente nos pacientes que podem ter suas angústias minimizadas, mas também aos profissionais que CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 trabalham nos hospitais, trazendo, além de tudo, conforto e bem-estar. Por exemplo, as pessoas com problemas respiratórios sentem-se melhores em ambientes onde o azul é predominante, pois essa cor dá a sensação de maior volume de ar, assim como o verde é mais apropriado para as vestimentas dos cirurgiões e campos operatórios, pois proporciona conforto visual aos cirurgiões pela complementaridade da cor do sangue, visualizada durante muito tempo. A hospitalidade sempre esteve direta ou indiretamente ligada à percepção do indivíduo. Ela é conceituada como a ação de acolher, seja por caridade ou cortesia, ou seja, agrega em seu conceito o bom acolhimento, a liberalidade, a amabilidade e afabilidade no modo de receber. Sendo assim, a hospitalidade constitui a estrutura e a rede de serviços que visa a atender todas as atividades do hospital, desde a chegada do cliente e solicitação do atendimento até sua saída. Ou seja, ela é aplicada, ou pelo menos deveria ser, a todos os setores do hospital, pois envolve o receber, o cuidar, o assistir e outras ações de suma importância quando estamos em frente aos anseios de quem está hospitalizado. Para maior vivência desse tema vale a pena a leitura do artigo “Os cinco sentidos da hospitalidade”, disponível em: https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome- instant&ion=1&espv=2&ie=UTF- 8#q=cinco%20sentidos%20da%20hospitalidade O acolhimento é parte integrante e essencial quando falamos em promover saúde pelo desenvolvimento e fortalecimento de vínculo, podendo hoje ser considerado como uma ferramenta de encontro. O acolhimento e o desenvolvimento de vínculo são capazes de amenizar algumas situações e até mesmo potencializar os processos de produção de saúde. O acolhimento, em especial, é um grande recurso da hotelaria que deve ser, sim, sem dúvida, empregado nos serviços de saúde, se, claro, inserido de forma correta nessa atividade. Em relação aos meios de hospedagem, mesmo que muitos não os aceitem no meio hospitalar, são, sem dúvida, um conceito e um serviço inerentes CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 ao hospital. Seus meios derivam basicamente do setor hoteleiro e sua adequação à qualidade. Para Godoi (2008), os meios de hospedagem são o principal fator para o sucesso de um hotel e, para o hospital, versa sobretudo através da assistência de seus profissionais, resgatando qualidade de vida e tratando doenças e problemas relativos à saúde. Os serviços criativos têm a ver com as premissas da hotelaria, que ultrapassam o atendimento e as necessidades particulares dos clientes. Esses serviços têm íntima relação com o encantamento do cliente, que é surpreendido com atividades, serviços e atitudes que se antecipam às suas necessidades, demonstrando a preocupação para com ele e, claro, fazendo com que o cliente se sinta único, importante, especial. Esse conceito ainda é visto como desnecessário na área hospitalar, especialmente no que tange a estrutura hospitalar brasileira ainda ser extremamente tradicional. No entanto, quando é possível a aplicabilidade desse conceito de serviço criativo, até mesmo representado apenas por uma recreação, faz com que o paciente se sinta cada vez melhor. Exemplos dessa atividade podem ser jogos, música, apresentação de corais, enfim, atitudes simples que poderiam tornar a estadia muito mais acolhedora e, como dito anteriormente, fazer com que nosso cliente se sinta único e especial, com todos os cuidados físicos e mentais necessários à sua recuperação. Esses princípiosque citamos até aqui são inerentes à atividade hoteleira. No entanto, existem outros conceitos-chave que são inerentes à atividade hospitalar, que não podem de forma alguma deixar de existir ou até mesmo ganhar menor importância quando falamos de hotelaria hospitalar. São eles, especialmente, a bioética e a biossegurança. A bioética está relacionada, no que tange o meio hospitalar, especialmente com o decidir conscientemente sobre a própria vida e a dos demais, sendo uma responsabilidade inerente ao ser humano. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Como tal, ela se distingue da mera ética teórica e está muito mais envolvida e inserida na realidade hospitalar, pois embora não possa abrir mão das questões propriamente formais, ela está inserida para resolver conflitos éticos concretos e que no âmbito hospitalar, somos desafiados no dia a dia. Pessini e Barchifontaine (2000) citam que algumas prescrições da bioética são: ■ Evitar a omissão; ■ Priorizar a beneficência; ■ Justiça; ■ Distribuição universal e equitativa dos benefícios; ■ Autonomia; ■ Respeito à santidade da vida; ■ Alteridade (perceber o indivíduo como único e tratá-lo dessa forma). Esse conceito importante é inerente à toda atividade relacionada à saúde. Tanto para hospitais que já a empregam e a utilizam em seus princípios, quanto àqueles que ainda engatinham em tal conceito. Por fim, a biossegurança é responsável por reunir um conjunto de ações voltadas especialmente para a segurança dos trabalhadores da saúde, frente a suas atividades diárias, podendo ser representada por técnicas ou manuais de normas que tentam prevenir e impedir a contaminação em condições de riscos, contendo em suas normas especialmente regulamentações quanto: ■ À assepsia; ■ À higienização; ■ À esterilização; ■ Ao cuidado pessoal; ■ À segurança; ■ À manutenção; ■ Às tendências; ■ Ao treinamento; ■ Às técnicas limpas. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 O risco biológico será sempre resultante de fatores diversos na área hospitalar e seu controle deriva de ações nos vários setores do hospital, priorizando-se o desenvolvimento e divulgação de informações, além de adoção de certos procedimentos necessários e que correspondem às boas práticas de segurança, tanto para profissionais, quando para o paciente e o meio ambiente. Para aprofundar mais seus conhecimentos sobre este tema, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Bioética na hotelaria hospitalar Desde o surgimento e definições de Bioética fez-se necessário o estabelecimento de um caminho mais concreto para se poder analisar os casos e problemas éticos relacionados à assistência à saúde sob o prisma da bioética. Para tal intuito, em 1979 os norte-americanos Tom L. Beauchamp e James F. Childress publicaram um livro denominado “Princípios da ética biomédica”. Esse livro expressa e fundamenta os principais pilares da bioética, norteando os profissionais da área da saúde, a forma e ação frente às discussões especialmente que envolvem a saúde e bem-estar de seus pacientes. A esses pilares da bioética, Tom L. Beauchamp e James F. Childress deram o nome de princípios básicos da bioética que são: 1. Beneficência; 2. Não maleficência; 3. Respeito à autonomia; 4. Justiça. Siqueira (2008) nos chama a atenção de que: todos os dilemas bioéticos, sob o prisma dos quatro princípios, passaram a ser exercício rotineiro em tomadas de decisões ao pé do leito. Além do que, antes de qualquer tomada de decisão devemos considerar indispensável a realização de uma ampla reflexão sobre os valores e condutas a serem adotados, após ampla deliberação entre profissional de saúde e paciente, para que as mesmas assegurem ser as mais prudentes possíveis. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 O princípio da beneficência De acordo com o princípio da bioética, especialmente quando estamos falando da área da saúde, temos a obrigação moral de agir sempre em benefício do outro. Esse princípio nos orienta de forma clara e precisa, de que devemos sempre fazer o melhor ao nosso paciente, independentemente de sua condição física, social e cultural, sempre focando a minimização de riscos e a maximização dos benefícios, independente do tratamento ofertado. O princípio de não maleficência Este princípio de não causar qualquer tipo de dano ao paciente é mais do que uma exigência bioética, é uma exigência moral de todo profissional de saúde. Vale a pena ressaltarmos que muito mais do que não causar o mal, a falta desse princípio pode ser vista como uma situação de prática negligente e, quanto maior o risco de causar qualquer dano, maior e mais justificado deve ser o objetivo do procedimento para que este possa ser considerado, sem relutância alguma, um ato bioeticamente correto. O princípio de respeito à autonomia O respeito à autonomia é um dos pilares mais importantes da bioética. Sob esse prisma, a pessoa tem o direito de decidir fazer ou buscar o que julga melhor para si, sem a interferência de quem quer que seja. Cabe ao profissional de saúde, neste caso, por exemplo, auxiliar o paciente a superar seus medos e sentimentos, fornecendo subsídios para que ele possa classificar suas preferências e valores e discutir suas opções, riscos e benefícios. Mas, ao final, somente a pessoa deve decidir, pois somente ela sabe o que de fato é melhor para si, naquele determinado momento. E, se a escolha, por exemplo, for por não aceitar um tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico, essa decisão deve ser respeitada. Para essa situação existe, sim, algumas exceções, por exemplo: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 ■ A incapacidade, especialmente quando falamos em crianças e adolescentes, devendo os pais ou responsáveis exercerem esse princípio para tais indivíduos; ■ A incapacidade por perda de consciência nas patologias neurológicas e psiquiátricas graves; ■ Em situações de urgência, devido ao fato de necessitar-se agir rápido; ■ A obrigação legal de notificação de doenças, cuja notificação é compulsória; ■ Quando existe um grande risco para a saúde de outra pessoa, cuja identidade é conhecida; ■ Quando o indivíduo se recusa, sem maiores explicações, a ser informado e participar das decisões e evolução de seu caso. Assim sendo, para que o indivíduo possa exercer essa autodeterminação são necessárias sempre duas condições fundamentais: a capacidade de agir intencionalmente, o que pressupõe o decidir coerentemente com a sua vontade entre alternativas que lhe são apresentadas, e liberdade, no sentido de que sua decisão deve ser livre de qualquer influência, especialmente por parte do pesquisador e do profissional de saúde, por mais que este pense ser o melhor caminho a ser escolhido por esse indivíduo. O princípio da justiça Esse princípio está associado basicamente com as relações entre grupos. Na área de saúde, agimos de acordo com esse princípio, quando possibilitamos, por exemplo, a igualdade de oportunidade de acesso integralmente aos benefícios que emergem da necessidade de uma ampla e irrestrita distribuição justa da assistência à saúde individual e coletiva. Para maior visualização com maiores detalhes dos princípios da bioética, recomendo a leitura dos artigos “Princípios da Bioética” e “Bioética: princípios ou referenciais?”, disponíveis a seguir: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 https://pt.scribd.com/doc/300484969/Www-nhu-Ufms-br-Bioetica-Textos- Principios-Aula-02-Principios-Da-Bioeticahttp://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/41/20_bioetica_principio.pdf Para uma revisão dos principais conceitos da bioética, assista ao documentário a segui: http://www.youtube.com/watch?v=2WxU80MLcDY E para tirar as dúvidas, acompanhe as explicações do professor João Luiz no vídeo que está disponível no material on-line! Hotelaria hospitalar x qualidade A hotelaria hospitalar é uma tendência que agrega e muito ao ambiente hospitalar. Agrega a tecnologia, a ciência, o conforto e a segurança, tendo como objetivo final oferecer a qualidade tão esperada por parte do cliente, mas também dos profissionais que trabalham em suas dependências, contribuindo assim para o aprimoramento do sistema hospitalar, que deve ser o resultado da soma da matéria, do trabalho e dos valores embutidos em cada instituição. Com o advento da qualidade e sua inserção no ambiente hospitalar tanto de forma teórica quanto de forma prática, associado aos serviços de hotelaria, tem-se uma responsabilidade a mais de contribuir além do aprimoramento hospitalar, no bem-estar do paciente e de seus contatos. Gradualmente a medida que esse contexto vai se formando, os hospitais vão se transformando em instituições mais eficientes em termos de ambiente e terapêutica, adotando procedimentos hoteleiros associados ao controle de qualidade fabril, focando na humanização e nos serviços prestados pelos profissionais a fim de oferecer um ambiente propício a melhora do paciente contribuindo para que ao mesmo tempo que ele está sob cuidados mais intensos ele ainda assim se sinta em casa ou mesmo em um hotel, com todo o conforto e assistência que este pode lhe oferecer. Todas as ações nesse patamar visam o bem-estar na unidade hospitalar, deixando para o lado características marcantes do hospital (como o tal do “cheiro CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 de hospital”) e melhorando literalmente a qualidade de vida nos ambientes onde ficam e circulam os pacientes. E para certificar a qualidade e a excelência hospitalar surgem as certificações nacionais e internacionais, cada vez mais almejadas nesse meio. Essa busca muda a cara do hospital e a hotelaria contribui de forma decisiva nessa mudança. Logo, a assistência ao usuário não tem mais o objetivo apenas de cura ou melhora: pautada em indicadores, levantamento e tabulação de dados, a representação de um hospital pauta sua qualidade além de tudo no atendimento e no bem-estar desse usuário. Sendo assim, quando o paciente ou seus familiares escolhem uma instituição hospitalar, não a escolhem mais porque o médico atende ali, mas pautam-se em exigência maiores e mais complexas, desde o atendimento até os serviços esperados e proporcionados pelo hospital. Assim, o sistema hospitalar ganhou uma nova perspectiva e, em especial, o desenvolvimento de uma gestão aplicada e voltada à qualidade e satisfação do usuário, que pode garantir a sobrevivência ou não desse hospital no mercado que tem a concorrência e a disponibilização de internação cada vez mais acirrada em um mercado extremamente competitivo. Para aprofundamento do tema, indico a leitura do artigo “A hotelaria hospitalar como um diferencial no setor de saúde” e “Gestão da Qualidade nas Instituições Hospitalares”, disponíveis a seguir: http://www.ipog.edu.br/download-arquivo-site.sp?arquivo=a-hotelaria- hospitalar-como-um-diferencial-no-setor-de-saude-21013103.pdf http://www.politicaemsaude.com.br/anais/trabalhos/publicacoes/152.pdf Para finalizar os estudos deste tema, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Trocando ideias Hotelaria hospitalar x lucro x qualidade x bioética. É possível toda essa associação, sem deixar o paciente de lado? Discuta com seus colegas de turma no fórum da disciplina. Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem! Na prática Leia o texto “Avaliação de conforto e qualidade de ambientes hospitalares”, disponível a seguir, e discuta o que pode ser feito no hospital da sua região para implementar essas mudanças de forma a levar a um maior conforto e qualidade, tanto para o cliente internado quanto para seus familiares. http://www.iau.usp.br/gestaodeprojetos/index.php/gestaodeprojetos/article/view File/107/189 Síntese Enfim, existe a necessidade de compreendermos a adaptação do hospital aos serviços de hotelaria e o quanto a sua adequação pode interferir no dia a dia dos profissionais que trabalham nesse ambiente e especialmente no cliente, que muitas vezes está aí em uma condição desprivilegiada e contra a sua vontade real. Além do que, verifica-se a necessidade da qualidade permeando a hotelaria para que tenhamos um diferencial no mercado, onde a competição é cada vez mais acirrada, não havendo muitas vezes a segunda chance para causar uma excelente primeira impressão. Assim sendo, hospitais desestruturados, desorganizados e sem uma qualidade de encantamento e satisfação tende a não existir mais pelo simples fato de não fidelização e atração de novos clientes que exigem muito mais hoje do que equipamentos de última geração e pessoal técnico capacitado. Para as considerações finais do professor João Luiz assista ao vídeo que está disponível no material on-line! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Referências BELTRAM, G. S.; CAMELO, A. C. O. Hotelaria hospitalar e alguns aspectos da gestão hospitalar necessários para melhorar a qualidade no atendimento. FCV Empresarial, v. 1, p. 53-72, 2007. BOERGER, M. A. Gestão em hotelaria hospitalar. São Paulo: Atlas, 2005. CHON, K.; SPARROWE, R. Hospitalidade: conceitos e aplicações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. GODOI, A. F. Hotelaria hospitalar e humanização no atendimento em hospitais. 2 ed. São Paulo: Ícone, 2008. GONÇALVES, E. L. O hospital e a visão administrativa contemporânea. São Paulo: Pioneira, 1983. MARCONDES, R. C. A. A dinâmica do ambiente interno do hospital. Revista de administração, São Paulo, v. 15, n. 2, 1980. SCHULZ, R.; JOHNSON, A. C. Administração de hospitais. São Paulo: Pioneira, 1976. TARABOULSI, F. A. Administração de hotelaria hospitalar. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2009. VENDEMIATTI, M. et al. Conflito na gestão hospitalar: o papel da liderança. Ciência & Saúde Coletiva, 15(Supl. 1):1301-1314, 2010.