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Universidade de São Paulo Instituto de Química de São Carlos SQF0326 - Laboratório de Química Orgânica I Prática 4: Extrações sólido-líquido e líquido-líquido Prof. Dr. Antonio Carlos Bender Burtoloso Cássio Luis Pires Lucato, 8599945 Leonardo Henrique Semensato, 9784206 São Carlos, 24 de Abril de 2018 Conteúdo 1 Introdução 4 1.1 Extração sólido-líquido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.2 Extração Líquido-Líquido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.2.1 Coeficiente de partição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.2.2 Extração quimicamente ativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.2.3 Salting out e emulsões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 1.3 Extração por arraste a vapor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2 Objetivos 10 3 Materiais e Métodos 10 3.1 Materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 3.2 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 3.2.1 Extração sólido-líquido: extração da trimiristina da noz moscada . . 11 3.2.2 Extração líquido-líquido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 4 Resultados e Discussões 14 4.1 Considerações gerais dos aparatos utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 4.1.1 Sistema de refluxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 4.1.2 rotaevaporador/ evaporador rotativo . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 4.2 Extração sólido-líquido: extração da trimiristina da noz moscada . . . . . . 15 4.2.1 Escolha do solvente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 4.2.2 Recristalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 4.2.3 Composição da noz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 4.3 Extração líquido-líquido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 4.3.1 Extração da acetanilida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 4.3.2 Separação de naftaleno e ácido benzoico . . . . . . . . . . . . . . . 19 5 Conclusões 22 Lista de Tabelas 1 Exemplos extração sólido-líquido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2 Massa de trimiristina obtida do processo de extração da noz moscada . . . 16 3 Temperatura de fusão trimiristina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 4 Massas obtidas do processo de extração da acetanilida . . . . . . . . . . . . 19 5 Massas obtidas do processo de extração do ácido benzoico . . . . . . . . . 21 6 Massas obtidas do processo de separação do naftaleno . . . . . . . . . . . . 21 3 1 Introdução A axioma de uma extração orgânica é a transferência de massas, isto é, a retirada de uma ou mais espécies químicas de uma fase do sistema para outra [1]. A classificação geral para extrações orgânicas é baseada no estado físico dos reagentes utilizados, podendo ser extração do tipo sólido-líquido, líquido-líquido ou por vapor. 1.1 Extração sólido-líquido Na extração sólido líquido os analitos de interesse são extraídos da matriz de um sólido através do emprego de um solvente adequado que solubilize os compostos de inte- resse. Na maioria dos casos os compostos de interesse estão na fase aquosa e o sólido residual é subproduto, faz-se então uma separação do solvente e sua purificação. Fatores que influenciam a taxa de extração são temperatura, dimensões/ área de interface sólido-líquido, agitação e solvente. • Temperatura: na maioria dos casos temperatura e solubilidade são grandezas pro- porcionais, portanto um aumento na temperatura resulta em uma maior quantidade de soluto extraída por unidade de tempo; • Dimensões: Nesse tipo de extração é necessário um contato íntimo entre a carga sólida e o solvente. Esse pode ser maximizado aumentando-se a interface entre solvente e sólido, seja através da formação de poros ou masseração do sólido em partículas; • Agitação: Através da agitação a decantação/ complexação das partículas de sólido é reduzida, além disso uma agitação turbilhonar aumenta a taxa de contato de 4 moléculas do solvente com a matriz do sólido e consequentemente aumenta a taxa de extração; • Solvente: É necessária a escolha de um solvente adequado para difusão dos compos- tos de interesse, levando-se em conta fatores como permissividade dielétrica, tem- peratura de ebulição (importante para temperatura de extração e recuperação do solvente na purificação), viscosidade (determinante para agitação e sólidos porosos), custo e periculosidade. A extração sólido líquido pode ocorrer pela simples difusão do componente alvo da matriz do sólido ou requerer reações de digestão química da amostra, sendo esse último processo chamado mais frequentemente de lixiviação. Tabela 1 - Exemplos extração sólido-líquido Extração Solvente Sólido Soluto Difusiva Água Grãos de café "Café solúvel" Lixiviativa NaOH Bauxita Aluminato de sódio 1.2 Extração Líquido-Líquido Consiste numa técnica que utiliza dois ou mais solventes imiscíveis e inertes entre si para separar um ou mais solutos de uma fase líquida, logicamente que para isso é neces- sário que haja diferença apreciada de solubilidade do soluto para os diferentes solventes empregados. Após a agitação da mistura pode-se diferenciar as fases como extrato, solução rica no soluto, e refinado, solução contendo o soluto que ainda não foi extraído. 1.2.1 Coeficiente de partição Um conceito fundamental da extração líquido-líquido é o coeficiente de partição ou distribuição, matematicamente definido como: 5 K = Solubilidade em A Solubilidade em B = Concentração em A Concentração em B É frequentemente usado em química medicinal pois caracteriza fármacos quanto ao seu caráter lipofílico, sendo definido como "log de P", que corresponde ao coeficiente de partição da mistura Octan-1-ol/ água. Através do coeficiente de partição é possível verificar que uma extração múltipla possui maior rendimento que uma simples. Tomemos como exemplo 50 g de um composto w dissolvido em 100 mL de água, sa- bendo que seu K para uma mistura octan-1-ol/ água é 5, determina-se qual procedimento rende mais: uma extração simples com 75 mL do álcool ou 3 extrações com 25 mL do álcool, uma extração múltipla: Para a extração simples: 5 = x 75 50−x 100 −−→ x = 39, 47g Rendimeto = 39, 47 50 .100 = 78, 94% Para uma extração múltipla: Primeira extração 5 = x 25 50−x 100 → x = 27, 78g Segunda extração 5 = x 25 50−(27,78+x) 100 → x = 12, 34g 6 Terceira extração 5 = x 25 50−(27,78+12,34+x) 100 → x = 5, 49g Rendimento η = 27, 78 + 12, 34 + 5, 49 50 .100→ x = 91, 22% Conforme é observado nas demonstrações acima fica nítido que uma extração múl- tipla é mais eficiente no sentido de recuperar mais soluto que uma extração simples. 1.2.2 Extração quimicamente ativa Boa parte dos compostos orgânicos é mais solúvel em solventes pouco/ apolares, dessa forma quando deseja-se separar dois compostos orgânicos, dependendo dos grupos funcionais presentes em cada um, é possível mudar a identidade química de um deles através da desprotonação/ protonação para que sua solubilidade em água aumente e então ocorra a solubilização dos compostos de interesse em fases diferentes da mistura, isso para uma extração ácido-base. Uma extração quimicamente ativa é usada quando já se conhece a identidade química dos compostos alvo, pois a partir disso pode-se determinar se a molécula se comportará como um ácido/ base de Lewis e consequentemente se tem uma ideia de qual o pH da solução aquosa necessário para promover a alteração química. Exemplos de funções orgânicas que mudam estado de protonação com variação de pH: Ácido carboxílicos: RCOOH+OH− −−→←−− RCOO− +H2O Aminas : RNH2 +H3O+ −−→←−− RNH3+ +H2O Fenóis : PhOH +OH− −−→←−− PhO− +H2O 7 A recuperação do composto alvo da fase aquosa é feita alterando o pH no sentido inverso que promoveu a solubilização do composto, dessa forma ocorre a precipitação da molécula alvo. 1.2.3 Salting out e emulsões Salting out é a precipitação/ colapso hidrofóbico que ocorre devido ao aumento da concentração de eletrólitos em solução aquosa. Como as interações íon-dipolo são mais intensas que dipolo-dipolo ou interações de hidrogênio, o aumento da concentração de eletrólitos diminui a disponibilidade de moléculas de água para formação de redes de solvatação em outras moléculas, que passam então a colapsar podendo precipitar ou formar um sobrenadante ou simplesmente aumento o K, uma vez que a solubilidade em fase aquosa diminuirá significativamente. Emulsões são pequenas dispersões de uma fase em outra, que podem minimizar a pureza do extrato, uma forma de diminuir a formação de emulsões é pelo salting out, que induz o colapso hidrofóbico outro é através do emprego de agentes dessecantes na fase orgânica depois de essa ser separada. Os agentes dessecantes são empregados em formato particulado para aumentar a eficiência do processo, exemplos são Na2SO4, CaCl2, MgSO4 e CaSO4, que reagem com moléculas de água formando "águas de hidratação": Na2SO4(s) + 5H2O(aq) −−→ Na2SO4 · 5H2O(s) CaCl2(s) + 5H2O(aq) −−→ CaCl2 · 5H2O(s) MgSO4(s) + 7H2O(aq) −−→ MgSO4 · 7H2O(s) 2CaSO4(s) + 6H2O(aq) −−→ (CaSO4)2 ·H2O(s) Depois de utilizados a separação pode ser feita por uma simples filtração, uma vez 8 que os hidratos permanecem insolúveis. 1.3 Extração por arraste a vapor Um dos métodos mais utilizados para extração de óleos essenciais é a extração a vapor; Um dos aparatos mais simples utilizados para extração por arraste é mostrado na Figura 1. Figura 1 - Aparato usado em extração por arraste a vapor Nessa configuração a água é aquecida em um primeiro recipiente, sendo o vapor conduzido até um balão de fundo redondo que contém a fonte do composto alvo masserada ou particulada, o vapor de água aumenta a temperatura do sistema e carrega consigo para o condensador as substância mais voláteis, entrando em contato com as paredes do condensador o vapor composto condensa e é recolhido em um recipiente que pode ser um enlemeyer. Para óleos essenciais o produto de extração é pouco miscível, deixando o produto em repouso uma mistura heterogênea é formada: uma fase aquosa e outra fase orgânica que corresponde ao extrato. 9 2 Objetivos Realizar os métodos de extração sólido-líquido, para extrair a trimiristina da noz moscada, e líquido-líquido, para extrair a acetanilida e separar uma mistura de ácido benzoico/naftaleno, calculando o rendimento dos processos. Utilizar conceitos teóricos de solubilidade e reações ácido-base de compostos orgânicos para explanar a efetividade das extrações. 3 Materiais e Métodos 3.1 Materiais 1. Reagentes (a) Noz moscada (em pó); (b) Clorofórmio; (c) Etanol; (d) Acetanilida; (e) Ácido benzoico; (f) Naftaleno; (g) Diclorometano; (h) HCl concentrado; (i) NaOH (10 %). 2. Vidrarias e acessórios (a) Manta aquecedora; (b) Béqueres; (c) Bomba de vácuo; (d) Erlenmeyer; (e) Funil de Buchner; (f) Funil de vidro; (g) Funil de separação; (h) Balão de fundo redondo; (i) Kitassato; (j) Papel de filtro; (k) Bomba de aquário; (l) Tecnopon - Medidor Ponto de Fusão – PFM-II; (m) Condensador de Allihn. 10 3.2 Metodologia 3.2.1 Extração sólido-líquido: extração da trimiristina da noz moscada Em um balão de 250 mL, adicionou-se 14,449 ± 0,001 g de noz moscada em pó e 100 mL de clorofórmio (CHCl3). Em seguida, montou-se um sistema de refluxo, utilizando uma manta aquecedora, o balão contendo os reagentes, e um condensador de Allihn (con- densador de bolas). O sistema foi refrigerado utilizando água com gelo, que circulava ao redor do condensador com o auxílio uma bomba de aquário. A água gelada era intro- duzida pela parte inferior, e saía pela parte superior, voltando ao reservatório com gelo, fazendo com que o resfriamento fosse efetivo, além de não ocorrer nenhum desperdício de água. A Figura 2 abaixo ilustra o aparato utilizado: Figura 2 - Ilustração do aparato de refluxo utilizado (na prática, foi utilizado um conden- sador de bolas). O sistema foi deixado em refluxo durante 1h. Após este período, filtrou-se o conteúdo do balão em um funil de vidro e papel de filtro, com o intuito de eliminar os resíduos sólidos da noz moscada. O filtrado foi então levado à um evaporador rotativo (Figura 3). 11 Figura 3 - Aparelho rotaevaporador. Após a evaporação do solvente, adicionou-se 60 mL de etanol (95 %) ao balão, transferindo esta solução para um béquer. Resfriou-se a mistura em banho de gelo, com o intuito de recristalizar a trimiristina. Depois de cerca de 25 minutos de resfriamento, filtrou-se o produto recristalizado à vácuo, lavando com etanol previamente resfriado. Pesou-se a massa final do produto obtido e mediu-se seu ponto de fusão. 3.2.2 Extração líquido-líquido Extração da acetanilida Em um béquer, pesou-se 0,199 ± 0,001 g de acetanilida. Adicionou-se em seguida 75 mL de água, e com o auxílio de um bastão de vidro, solubilizou-se a acetanilida. Transferiu-se este volume para um funil de separação, adicionando também 25 mL de di- clorometano (CH2Cl2) seguida de agitação, para que a extração ocorresse de forma efetiva. Recolheu-se a fase do diclorometano, e a fase aquosa foi mantida no funil. Repetiu-se o 12 processo de extração mais duas vezes, adicionando novamente 25 mL de diclorometano, seguido da agitação e recolhimento da fase orgânica. Na fase orgânica, adicionou-se sulfato de sódio anidro (Na2SO4), com o intuito de retirar pequenas quantidades de água presentes na solução. Com o auxílio de um algodão e um funil de vidro, filtrou-se a solução, retendo o sulfato de sódio. Após a filtração, evaporou-se o diclorometano utilizando um rotaevaporador (Figura 3). Separação de naftaleno e ácido benzoico Pesou 1,998 ± 0,001 g de uma mistura de naftaleno e ácido benzoico, dissolvendo-a em 60 mL de diclorometano. Após a dissolução, transferiu-se a solução para um funil de separação, adicionando 25 mL de uma solução de NaOH 10 %. Após o recolhimento da fase aquosa, repetiu-se o processo, utilizando novamente 25 mL de NaOH 10 %. A fase orgânica (contendo o naftaleno) foi seca utilizando Na2SO4 (forma análoga ao processo de extração da acetanilida). Após a filtragem para retenção do Na2SO4, transferiu-se a solução para um balão de 250 mL, e evaporou-se o diclorometano utilizando um rotaevaporador. Pesou-se então o balão contendo o produto. A fase aquosa (contendo a base conjugada do ácido benzoico) foi acidificada até pH ≈ 1 utilizando HCl concentrado. Após a acidificação, resfriou-se a solução em um banho de gelo por cerca de 20 minutos. Filtrou-se o produto recristalizado à vácuo, e após secagem, pesou-se a massa final. 13 4 Resultados e Discussões 4.1 Considerações gerais dos aparatos utilizados 4.1.1 Sistema de refluxo Um sistema de refluxo, como o da Figura 2 é usado principalmente quando o solvente sob aquecimento possui uma baixa temperatura de ebulição - como no caso do clorofórmio (61 ◦C) -, através desse sistema os vapores do solvente ao ascender pelo canal interno do condensador entram em contato com a parede de separação do canal externo, que possui um fluído de arrefecimento passando em seu interior, dessa forma o solvente condensa e volta para o balão de fundo redondo, minimizando assim a perda de solvente. Existem diversos tipos de condensadores, que podem variar de acordo com o fluídode arrefecimento (ar comprimido ou algum líquido resfriado) ou quanto ao formato do tubo de circulação do fluído (serpentina, de bolas ou o mais simples), sendo nesse último a variável a área da superfície de contato entre a parede de separação do fluído de arrefecimento e solvente, quanto maior a área de contato mais eficiente a condensação. Nos condensadores o fluído é injetado na porção superior e escoado do sistema pela porção inferior, isso diminui o aquecimento do fluído porque a troca de calor começa por regiões da coluna em que os vapores são menos quentes. 4.1.2 rotaevaporador/ evaporador rotativo O aparato utilizado correspondente ao rotaevaporador é o da Figura 3. É um sistema utilizado para concentração de soluções, destilação rápida e recupe- ração de solventes; no caso da prática foi utilizado para recuperação de solvente. O rotaevaporador funciona através diminuição da pressão no interior do balão de 14 fundo redondo, consequentemente há diminuição na temperatura de ebulição do conteúdo do balão, já que pressão e temperatura são grandezas inversamente proporcionais; dessa forma o solvente, que era o componente mais volátil é vaporizado e levado até o conden- sador, onde é condensado e recuperado em um frasco coletor Durante todo o procedimento o balão de fundo redondo contendo a solução é rotaci- onado em um recipiente com água em aquecimento de temperatura controlada, a rotação garante um aquecimento homogêneo da solução. 4.2 Extração sólido-líquido: extração da trimiristina da noz mos- cada 4.2.1 Escolha do solvente Figura 4 - Estrutura molecular trimiristina A trimiristina consiste em um triéster, em que 3 moléculas de ácido mirístico estão condensadas a uma molécula de glicerol, dessa forma suas interações in- termoleculares decorrem essencialmente de interações do tipo dipolo induzido para posições da cadeia dis- tantes dos oxigênios e dipolo permanente para regiões mais próximas aos oxigênios; dessa forma um solvente considerado apolar dentro das definições, mas com um pequeno momento dipolar é um bom candidato de sol- vente para extração da trimiristina da matriz da noz moscada. O clorofórmio (CHCl3) foi escolhido por possuir tais características, possuindo um momento de dipolo µ = 1,04 D; contudo devido ao seu baixo ponto de ebulição (61 ◦C) faz-se necessário o uso de um sistema de refluxo. 15 4.2.2 Recristalização Feita a extração orgânica obteve-se uma solução amarelada, essa coloração decorre da presença de óleos essenciais como borneol e outros, que compõe cerca de 12,5% da noz moscada. Através da recristalização é possível separar os óleos essenciais dos óleos fixos, nome que faz referência a volatilidade dos essenciais em relação aos fixos. Os óleos essenciais são solúveis em solventes polares com pequenas cadeias carbônicas, como o etanol; enquanto a trimiristina só é solúvel em etanol quente. Dessa forma o etanol torna-se uma boa opção de solvente para recristalização, além do fato de ter um ponto de ebulição não muito elevado. Através de uma análise qualitativa é possível inferir se o composto recristalizado estava contaminado ou não com óleos essenciais: por meio de uma analise sensorial, olfato, a ausência do odor característico da noz moscada foi ausente, que indica a ausência de boa parte dos óleos essenciais, que são os que conferem o odor característico à noz. Além disso o produto branco, sem manchas amareladas indica também, qualita- tivamente, a ausência de óleos essenciais, uma vez que sua coloração é amarelada, em tonalidade similar à da solução da extração orgânica. 4.2.3 Composição da noz Tabela 2 - Massa de trimiristina obtida do processo de extração da noz moscada m (±0, 001 g) Massa inicial 14,449 Massa vidro relógio + papel filtro 61,911 Conjunto final 62,390 Massa trimiristina 0,479 ±0, 002 16 %Trimiristina em massa = massa recristalizada massa noz .100% = 0, 479 14, 449 .100% = 3, 32% Comparando o percentual de trimiristina obtido para produto comercial (3,32 %) com o que consta na literatura (aproximadamente 40%) [2], observa-se uma diferença de 36,7%. Atribui-se essa diferença ao fato de ser um produto comercialmente processado, podendo ter sido oxidado ou mesmo adulterado quimicamente. Além disso para aferir a pureza do sólido recristalizado foi tomado o seu ponto de fusão, cujos dados estão organizados na Tabela 3. Tabela 3 - Temperatura de fusão trimiristina Temperatura (± 0,5 ◦C) Pura 54 - 55 Experimental 50 - 58 Através dos dados da Tabela 3 observa-se que a temperatura mínima para fusão da trimiristina recristalizada é menor que da pura, além da própria faixa de temperatura ser ampla; tais dados indicam a presença de impurezas no sólido recristalizado. Pode-se inferir que essas impurezas são as outras frações de "óleos fixos"da nóz moscada, que não foram separados totalmente pela recristalização. 4.3 Extração líquido-líquido 4.3.1 Extração da acetanilida Abaixo encontra-se a fórmula estrutural da acetanilida: 17 Figura 5 - Estrutura da acetanilida Como pode-se observar, a acetanilida possui uma porção polar, devido ao grupo funcional amida (O––C–N), e uma porção apolar (consideravelmente maior que a porção polar), devido ao anel aromático e do grupo –CH3. Pôde-se prever que a acetanilida possui uma menor solubilidade em solventes polares (como a água), e uma maior solubilidade em solventes pouco polares (como o diclorometano), por conta das interações intermoleculares do tipo dipolo induzido. Deste modo, a extração com CH2Cl2 foi possível. Durante a extração, após a agitação, notou-se as duas fases criadas por diclorome- tano e água, que são imiscíveis entre si, possibilitando a extração. Com os valores de densidade do CH2Cl2 (1,33 g/cm3 [3]) e da da água (1,00 g/cm3), concluiu-se que a fase inferior era diclorometano, que possuía a acetanilida extraída, enquanto que a fase supe- rior era a aquosa, contendo ainda certa quantidade de acetanilida, visto que esta possui certa solubilidade em água (0,56 g em 100 mL de H2O [3]). A reação que permite a remoção de água por um dessecante (sulfato de sódio) é a reação de hidratação abaixo, na qual o Na2SO4 torna-se penta-hidratado: Na2SO4(s) + 5H2O(aq) −−→ Na2SO4 · 5H2O(s) O processo de evaporação do solvente com o aparelho rotaevaporador, utilizado também na extração sólido-líquido da trimiristina está explanado na Seção 4.1.2. A Tabela 4 abaixo contém as massas obtidas para a extração: 18 Tabela 4 - Massas obtidas do processo de extração da acetanilida m (±0, 001 g) Massa inicial 0,199 Massa balão 58,301 Balão + acetanilida 58,472 Massa final 0,171 ±0, 002 g Foi calculado então o rendimento do processo: Ractnl = 0, 179 0, 199 × 100% = 85, 9% O rendimento obtido mostrou-se um pouco abaixo do esperado. Para melhorar este aspecto, seria necessário repetir o procedimento de extração mais uma ou duas vezes, transferindo assim mais acetanilida da água para o diclorometano. Vale ressaltar também que o rendimento nunca seria 100 %, visto que, como já explanado, a acetanilida possui uma certa solubilidade em água, além de ocorrer perda do material durante os processos de transferências e filtração do líquido. 4.3.2 Separação de naftaleno e ácido benzoico Figura 6 - Estruturas do ácido benzoico e do naftaleno 19 Observando a fórmula estrutural do naftaleno e do ácido benzoico, nota-se que ambos os compostos possuem porções apolares, fazendo com que ambos possuam interações intermoleculares do tipo diplo induzido com compostos (solventes) de baixa polaridade, como o diclorometano. Por conta desta interação, ambos são consideravelmente solúveis em CH2Cl2. A extração do ácido benzoico através de umasolução básica é possível pois o ácido benzoico é desprotonado, conforme a reação ácido-base abaixo: Figura 7 - Desprotonação do ácido benzoico A base conjugada do ácido benzoico é consideravelmente estável, devido ao efeito de ressonância (deslocalização de elétrons pi), ajudando na diluição de cargas: Figura 8 - Estruturas de ressonância do íon benzoato Já o naftaleno não possui nenhum hidrogênio ácido, o que o deixa na fase orgânica, devido às interações naftaleno-diclorometano, do tipo dipolo induzido. Após a separação, a acidificação da parte aquosa serviu para precipitação do ácido benzoico: como o pKa deste ácido é de 4,204 [3], é possível prever que em valores de pH < pKa, o ácido benzoico estará protonado (vide reação abaixo); já em faixas de pH > pKa, o ácido benzoico estará forma de base conjugada (reação ácido-base da Figura 20 7). Figura 9 - Protonação do ácido benzoico As interações água-ácido benzoico são pouco intensas (devido ao caráter apolar do composto orgânico), fazendo com que este ácido (em sua forma protonada) seja pouco solúvel em soluções aquosas de baixos valores de pH. A solubilidade em água é ainda menor em baixas temperaturas: 0,18 g/100 mL a 4oC [4]. Desta forma, foi possível recristalizar este ácido por um processo de acidificação e resfriamento. A Tabela 6 abaixo contém os dados obtidos para a extração do ácido benzoico: Tabela 5 - Massas obtidas do processo de extração do ácido benzoico m (±0, 001 g) Massa amostra 1,998 Massa conjunto 35,973 Massa conjunto + ácido benzoico 36,548 Massa final 0,575 ±0, 002 g Já para o naftaleno: Tabela 6 - Massas obtidas do processo de separação do naftaleno m (±0, 001 g) Massa amostra 1,998 Massa balão 61,261 Massa balão + naftaleno 62,551 Massa final 1,290 ±0, 002 g 21 Portanto, desconsiderando as perdas durante o processo, a massa total final é de 1,865 ± 0,004 g. A proporção massa/massa do ácido benzoico e do naftaleno foram calculadas: nbenz = 0, 575 1, 865 × 100% = 30, 8% nnaf = 1, 290 1, 865 × 100% = 69, 17% Portanto a mistura era composta por cerca de 70 % de naftaleno e 30 % de ácido benzoico (ambas as proporções em massa). 5 Conclusões Por meio da extração sólido-líquido percebeu-se que é possível a transferência de massas entre fases de uma mistura heterogênea através da solubilização de componentes alvo que estavam na matriz do sólido. Para noz moscada comercial triturada em material particulado fez-se a extração de sua fração lipofílica e posterior recristalização para obten- ção da trimiristina pura. Conforme os dados da Tabela 3 e discussões realizadas, pode-se concluir que a recristalização da trimiristina com intuito de obter o composto isolado não foi completamente efetiva, seriam necessárias outras recristalizações para aumentar o grau de pureza do produto. Observou-se ainda que a proporção de trimiristina na massa da noz moscada co- mercial (3,32%) divergiu significativamente dos valores da literatura (aproximadamente 40%); fatores que indicam uma adulteração do produto comercial, manuseio incorreto dos procedimentos laboratoriais (erros grosseiros) ou deterioração da trimiristina por questões de armazenamento. As extrações líquido-líquido mostraram-se um método simples e prático para extra- ção de uma certa substância para um "novo"solvente. Neste sentido, é importante escolher um solvente adequado, no qual o produto desejado seja consideravelmente solúvel, além 22 de que ambos os solventes não podem ser miscíveis entre si. O valor do rendimento da extração da acetanilida (85,9 %) poderia ser maior caso fossem feitas mais extrações; já a separação do ácido benzoico e do naftaleno mostrou que na mistura havia cerca de 30 % de do primeiro composto, e cerca de 70 % do segundo (proporções em m/m). Referências [1] G.A. [et al.] DIAS. Guia Prático de Química Orgânica, volume 1. Editoria Interciência, 2004. [2] Description of components of nutmeg. http://www.fao.org/docrep/v4084e/ v4084e04.htm. Acessado: 2/10/2017. [3] W. M. HAYNES. CRC Handbook of Chemistry and Physics. CRC, 96a edition, 2015. [4] Chemister. Data de acesso: 29 sep. 2017. URL: http://chemister.ru/Database/properties-en.php?dbid=1id=679. [5] T.W. Graham Solomons. Química Orgânica, volume 1. LTC, 10a edition, 2012. 23 Introdução Extração sólido-líquido Extração Líquido-Líquido Coeficiente de partição Extração quimicamente ativa Salting out e emulsões Extração por arraste a vapor Objetivos Materiais e Métodos Materiais Metodologia Extração sólido-líquido: extração da trimiristina da noz moscada Extração líquido-líquido Resultados e Discussões Considerações gerais dos aparatos utilizados Sistema de refluxo rotaevaporador/ evaporador rotativo Extração sólido-líquido: extração da trimiristina da noz moscada Escolha do solvente Recristalização Composição da noz Extração líquido-líquido Extração da acetanilida Separação de naftaleno e ácido benzoico Conclusões
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