Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Tributário Walter Matheus Bernardino Silva Técnico em Finanças Direito Tributário Walter Matheus Bernardino Silva Cuiabá-MT 2014 Presidência da República Federativa do Brasil Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Diretoria de Integração das Redes de Educação Profissional e Tecnológica Equipe de Revisão Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT Coordenação Institucional Carlos Rinaldi Coordenação de Produção de Material Didático Impresso Pedro Roberto Piloni Designer Educacional Marta Magnusson Solyszko Ilustração Tatiane Hirata Diagramação Tatiane Hirata Revisão de Língua Portuguesa Lívia de Souza Lima Pulcherio Revisão Final Marta Magnusson Solyszko Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia - IFRO Campus Porto Velho Zona Norte Direção-Geral Miguel Fabrício Zamberlan Direção de Administração e Planejamento Gilberto Laske Departamento de Produção de EaD Ariádne Joseane Felix Quintela Coordenação de Design Visual e Ambientes de Aprendizagem Rafael Nink de Carvalho Coordenação da Rede e-Tec Ruth Aparecida Viana da Silva Projeto Gráfico Rede e-Tec Brasil / UFMT Direito Tributário - Finanças Ficha Catalográfica Elaborada pela Bibliotecária Cleuza Diogo Antunes CRB 11/864 © Este caderno foi elaborado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia/RO para a Rede e-Tec Brasil, do Ministério da Educação em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso. S5869d Silva, Walter Matheus Bernardino. Direito tributário / Walter Matheus Bernardino Silva; org. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia; Universidade Federal do Mato Grosso - Cuiabá : UFMT; Porto Velho: IFRO, 2014. 141 p. ; -- cm. Curso Técnico em finanças. ISBN: 978-85-69951-04-9 1. Direito tributário – Espécies tributárias. 2. Direito tributário – Execução fiscal. 3. Crédito tribu tário. 4. Imunidades tributárias. I. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. II. Universida de Federal do Mato Grosso. III. Título. CDD 343.8104 CDU 346.6 3 Prezado(a) estudante, Bem-vindo(a) à Rede e-Tec Brasil! Você faz parte de uma rede nacional de ensino que, por sua vez, constitui uma das ações do Pronatec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. O Pronatec, instituído pela Lei nº 12.513/2011, tem como objetivo principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a população brasileira propiciando caminho de acesso mais rápido ao emprego. É neste âmbito que as ações da Rede e-Tec Brasil promovem a parceria entre a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) e as instâncias promotoras de ensino técnico, como os institutos federais, as secretarias de educação dos estados, as universidades, as es- colas e colégios tecnológicos e o Sistema S. A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande diversidade re- gional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao garantir acesso à educação de qualidade e ao promover o fortalecimento da formação de jovens moradores de regiões distantes, geográfica ou economicamente, dos grandes centros. A Rede e-Tec Brasil leva diversos cursos técnicos a todas as regiões do país, incentivando os estudantes a concluir o ensino médio e a realizar uma formação e atualização contínuas. Os cursos são ofertados pelas instituições de educação profissional e o atendimento ao estudan- te é realizado tanto nas sedes das instituições quanto em suas unidades remotas, os polos. Os parceiros da Rede e-Tec Brasil acreditam em uma educação profissional qualificada – in- tegradora do ensino médio e da educação técnica – capaz de promover o cidadão com ca- pacidades para produzir, mas também com autonomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social, familiar, esportiva, política e ética. Nós acreditamos em você! Desejamos sucesso na sua formação profissional! Ministério da Educação Abril de 2014 Nosso contato etecbrasil@mec.gov.br Apresentação Rede e-Tec Brasil Rede e-Tec Brasil3 Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. Atenção: indica pontos de maior relevância no texto. Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o assunto ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema estudado. Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão utilizada no texto. Mídias integradas: remete o tema para outras fontes: livros, filmes, músicas, sites, programas de TV. Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes níveis de aprendizagem para que o estudante possa realizá-las e conferir o seu domínio do tema estudado. Reflita: momento de uma pausa na leitura para refletir/escrever sobre pontos importantes e/ou questionamentos. Indicação de Ícones Rede e-Tec Brasil5 Palavra do Professor-autor Rede e-Tec Brasil7 Estimado(a) estudante, Seja bem-vindo(a) ao componente curricular Direito Tributário. É com grande satisfação que lhe apresentamos o conteúdo deste compo- nente curricular, com carga horária de 40 horas. Almejamos que o presente curso e o aprendizado dele decorrente tragam elementos suficientes para que você consiga alcançar espaço e bom desem- penho no mercado de trabalho. Durante o curso, você terá a oportunidade de interagir por meio da plata- forma Moodle e participar de chats, fóruns e realizar atividades individuais e em grupo, o que lhe proporcionará o crescimento e o aperfeiçoamento do aprendizado. Vamos aprender juntos, somos parceiros nesta etapa da sua formação, conte conosco, pois nós contamos com sua participação e sua dedicação. Neste caderno, nossos estudos terão como objeto o componente curricu- lar Direito Tributário, onde serão abordados temas como o sistema cons- titucional tributário e as limitações constitucionais ao poder de tributar; as imunidades tributárias; obrigação e crédito tributários; suspensão, exclusão e extinção do crédito tributário; competência tributária e instituição de im- postos e a lei de responsabilidade fiscal; espécies tributárias; impostos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, suas características e peculiaridades; e execução fiscal. Esses temas são extremamente relevantes para o direito tributário, que con- siste em um dos ramos do direito onde se estudam as normas que discipli- nam a instituição e a cobrança dos tributos no país. Assim, referidos assuntos possuem grande relevância para o futuro profissio- nal do(a) técnico(a) em finanças, já que sua atuação profissional está direta- mente ligada ao sistema tributário de um modo geral. É imprescindível que esse(a) profissional conheça os assuntos e institutos tratados neste caderno, a fim de pensar e colocar em prática os ensinamentos adquiridos no curso em questão, principalmente quando ingressar no mercado de trabalho. Sendo assim, bons estudos e sucesso em seu aprendizado. Apresentação da Disciplina Rede e-Tec Brasil9 Rede e-Tec Brasil 10 Aula 1. Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionaisao Poder de Tributar 13 1.1 Sistema constitucional tributário 13 1.2 Limitações constitucionais ao poder de tributar 18 Aula 2. Imunidades Tributárias 35 2.1 Imunidades tributárias 35 2.2 Imunidade recíproca das pessoas políticas 37 2.3 Imunidade do patrimônio, renda e serviços das autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo poder público 37 2.4 Imunidade do patrimônio, da renda e dos serviços dos templos de qual- quer culto 38 2.5 Imunidade dos partidos políticos, sindicatos dos empregados, institui- ções assistenciais e educacionais sem fins lucrativos 39 2.6 Imunidade do papel destinado exclusivamente à impressão de jornais, periódicos e livros 42 2.7 Imunidade dos fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros, bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replica- ção industrial de mídias ópticas de leitura a laser. 43 Aula 3. Obrigação e Crédito Tributários 47 3.1 Obrigação tributária 47 3.2 Crédito tributário 53 Aula 4. Suspensão, Extinção e Exclusão do Crédito Tributário 61 4.1 Suspensão do crédito tributário 61 4.2 Extinção do crédito tributário 63 4.3 Exclusão do crédito tributário 71 Aula 5. Competência Tributária e Instituição dos Impostos e a Lei de Responsabilidade fiscal – LRF 77 5.1 Competência tributária 77 Rede e-Tec Brasil11 Sumário 5.2 A instituição dos impostos e a Lei de Responsabilidade Fiscal 81 Aula 6. Espécies Tributárias 87 6.1 Conceito e espécies de tributos 87 6.2 Impostos 89 6.3 Taxas 89 6.4 Contribuição de melhoria 90 6.5 Empréstimo compulsório 91 6.6 Contribuições sociais 92 Aula 7. Impostos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- cípios, suas Características e Peculiaridades. 97 7.1 Impostos da União 97 7.2 Impostos dos Estados e do Distrito Federal 107 7.3 Impostos dos Municípios 113 Aula 8. Execução Fiscal 121 8.1 Regramento legal e conceito 121 8.2 Dívida ativa 122 8.3 Partes 124 8.4 Procedimento 124 8.5 Defesa do executado 126 8.6 Privilégios 127 Palavras Finais 130 Guia de Soluções 131 Referências 136 Obras Consultadas 139 Bibliografia Básica 140 Currículo do Professor-autor 141 Rede e-Tec Brasil 12 Objetivos: • identificar o sistema constitucional tributário; e • localizar e caracterizar as limitações constitucionais ao poder de tributar. Estimado(a) estudante, Esta é a nossa primeira aula da disciplina Direito Tributário. Iniciaremos nos- sas reflexões com o estudo do sistema constitucional tributário e das limita- ções constitucionais ao Poder de Tributar. Juntos, buscaremos compreender a importância deste assunto para um(a) futuro(a) Técnico(a) em Finanças. Desejamos que você compreenda os fundamentos do direito tributário, es- tabelecidos na Constituição Federal, bem como se sinta sujeito integrante desta temática, sobretudo pela importância deste assunto no mundo con- temporâneo. 1.1. Sistema constitucional tributário O Estado (Governo) necessita de recursos para executar sua missão consis- tente em proporcionar à população os serviços essenciais de que ela precisa (saúde, educação, segurança, trabalho, lazer etc.), de modo que a cobrança de tributos se traduz na principal fonte de arrecadação de receitas públi- cas, através das quais o Estado consegue, ou pelo menos deveria conseguir, atender às necessidades básicas dos cidadãos. Nesse sentido, são os ensinamentos do professor Sabbag: A cobrança de tributos se mostra como a principal fonte das receitas públicas, voltadas ao atingimento dos objetivos fundamentais, insertos no art. 3º da Constituição Federal, tais como a construção de uma so- ciedade livre, justa e solidária, a garantia do desenvolvimento nacional, Rede e-Tec BrasilAula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... 13 Aula 1. Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar a erradicação da pobreza e da marginalização, tendente à redução das desigualdades sociais e regionais, bem como a promoção do bem-estar da coletividade. (2010, p. 35). Essa arrecadação de tributos é regulamentada por regras específicas, previs- tas em lei, principalmente na Constituição Federal de 1988. Assim sendo, o sistema constitucional tributário, na verdade, nada mais é do que o conjunto de normas de caráter tributário, previstas na Constitui- ção Federal de 1988, que, inclusive, dedica um capítulo inteiro ao sistema tributário (Título VI – Da Tributação e do Orçamento – artigos 145 a 169). Deste modo, as regras básicas do direito tributário estão estabelecidas na Constituição, que é a principal lei do Brasil. A propósito, interessantes são os ensinamentos de Jardim (2009, p. 178) “[...] podemos conceituar o Sistema Constitucional Tributário como o con- junto de normas organizadas harmonicamente no Texto Supremo, as quais versam matéria tributária[...]” Para Cassone (1989, p. 18), "Sistema Tributário Nacional é o conjunto de princípios constitucionais que rege o poder de tributar, as limitações deste poder e a repartição das correspondentes receitas". Dentre tais normas, destacam-se alguns princípios que norteiam a atividade tribuária e as imunidades, os quais figuram como limites (barreiras), pois estabelecem regras que devem ser observadas pelo Estado, no exercício do poder de tributar, como bem explica Harada: Esses princípios expressos, juntamente com os implícitos, que decor- rem dos primeiros, do regime federativo e dos direitos e garantias fun- damentais, constituem o escudo de proteção dos contribuintes, atuan- do como freios que limitam o poder de tributação do Estado. (2009, p. 338) Deste modo, nota-se que o Direito Tributário Brasileiro é um verdadeiro aglo- merado de normas constitucionais, pois suas diretrizes básicas estão esta- belecidas na Constituição Federal, segundo se extrai das lições de Ataliba (2002, p. 130),“Em matéria tributária tudo foi feito pelo constituinte, que afeiçoou integralmente o sistema, entregando-o pronto e acabado ao le- gislador ordinário, a quem cabe somente obedecê-lo, em nada podendo Direito TributárioRede e-Tec Brasil 14 contribuir para plasmá-lo”. Assim, dentre as normas que compõem o sistema constitucional tributário, pertinente analisar aquelas mais relevantes para o presente estudo, quais sejam, os artigos 145, 150, 151, 153, 154, 155, 156, 157, 158 e 159. O artigo 145 da Constituição Federal estabelece os principais tributos e suas características, que podem ser instituídos e cobrados pelos entes políticos (União, estados, Distrito Federal e os municípios): Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios po- derão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utiliza- ção, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, faculta- do à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. § 2º - As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos. Os artigos 150 e 151 da Constituição Federal definem as limitações ao poder de tributar, as quais serãoobjeto de estudo específico, mais adiante. Nos artigos 153 e 154, a Constituição especifica os impostos que podem ser criados pela União, ou seja, aqueles que, em regra, são arrecadados em favor do Governo Federal: Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionali- zados; III - renda e proventos de qualquer natureza; IV - produtos industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; Rede e-Tec Brasil15Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... VI - propriedade territorial rural; VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar. Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo ante- rior, desde que sejam não cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordiná- rios, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação. No artigo 155 da Constituição, constam os impostos de titularidade dos estados e do Distrito Federal: Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comuni- cação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; III - propriedade de veículos automotores. Já no artigo 156, a Constituição especifica os impostos municipais: Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana; II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. Os artigos 157, 158 e 159 da Constituição disciplina a forma de divisão dos valores arrecadados com a cobrança de impostos, entre a União, municípios, estados e Distrito Federal: Art. 157. Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal: I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e pro- ventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos Direito TributárioRede e-Tec Brasil 16 pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; II - vinte por cento do produto da arrecadação do imposto que a União instituir no exercício da competência que lhe é atribuída pelo art. 154, I. Art. 158. Pertencem aos Municípios: I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e pro- ventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; II - cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, cabendo a totalidade na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º, III; III - cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto do Es- tado sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seus territórios; IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação. Art. 159. A União entregará: I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados quarenta e oito por cento na seguinte forma: a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participa- ção dos Estados e do Distrito Federal; b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Partici- pação dos Municípios; c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos regionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semiárido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma que a lei estabelecer; d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano; II - do produto da arrecadação do imposto sobre produtos industrializa- Rede e-Tec Brasil17Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... dos, dez por cento aos Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industrializados. III - do produto da arrecadação da contribuição de intervenção no do- mínio econômico prevista no art. 177, § 4º, 29% (vinte e nove por cento) para os Estados e o Distrito Federal, distribuídos na forma da lei, observada a destinação a que se refere o inciso II, c, do referido parágrafo.[...] § 3º - Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte e cinco por cento dos recursos que receberem nos termos do inciso II, observa- dos os critérios estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I e II. § 4º Do montante de recursos de que trata o inciso III que cabe a cada Estado, vinte e cinco por cento serão destinados aos seus Municípios, na forma da lei a que se refere o mencionado inciso. Portanto, de um modo geral, tendo em vista os objetivos da presente aula, as regras constitucionais acima citadas, são aquelas que integram o nosso Sistema Constitucional Tributário. 1.2. Limitações constitucionais ao poder de tributar Como exposto, o Estado tem o direito (poder) de criar e cobrar tributos. Contudo, este direito não é absoluto, pois a Constituição estabelece uma série de garantias aos cidadãos, as quais funcionam como limites ao poder estatal de tributar. Dentre essas garantias, destacam-se os princípios constitucionais tributários (legalidade, igualdade, anterioridade, irretroatividade, vedação ao confisco, liberdade de tráfego de pessoas ou bens, entre outros) e as imunidades. Sobre a questão, relevantes são as lições de Sabbag: A Constituição Federal impõe limites ao poder de tributar, ou seja, li- mites à invasão patrimonial tendente à percepção estatal do tributo. Essas limitações advêm, basicamente, dos princípios e das imunidades constitucionais tributárias e estão inseridas nos arts. 150, 151 e 152 da Carta Magna. (2010, p. 52) O Supremo Tribunal Federal, a mais alta Corte de nossa justiça, tem interes- santes precedentes que confirmam a importância do tema em estudo: Direito TributárioRede e-Tec Brasil 18 Os princípios constitucionais tributários, assim, sobre representarem importante conquista político-jurídica dos contribuintes, constituem expressão fundamental dos direitos individuais outorgados aos parti- culares pelo ordenamento estatal. Desde que existem para impor limi- tações ao poder de tributar do Estado, esses postulados têm por desti- natário exclusivo o poder estatal, que se submete à imperatividade de suas restrições.” (ADI 712 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tri- bunal Pleno, julgado em 07/10/1992, DJ 19-02-1993 PP-02032 EMENTVOL-01692-02 PP-00265 RTJ VOL-00144-02 PP-00435) Os princípios, na sua essência, correspondem a um conjunto de normas, tidas como essenciais, que servem de parâmetro para um determinado siste- ma jurídico. Assim, na verdade, os princípios servem de alicerce, de base de sustentação, para o ordenamento jurídico. Fonte: fonte: http://entendeudireito.blogspot.com.br/2013/01/principios-do-direito-tributario.html Rede e-Tec Brasil19Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... No direito tributário, especialmente no que se refere às limitações ao poder de tributar, os princípios tributários estabelecem a forma pela qual devem ser produzidas as leis tributárias. Já as imunidades, se refletem diretamente em fatos e situações jurídicas es- pecíficas, não passíveis de tributação. Sendo assim, para melhor compreender o tema em estudo, é oportuno ana- lisar cada princípio tributário separadamente, assim como as imunidades tri- butárias. 1.2.1 Princípio da legalidade O princípio da legalidade tributária está previsto no artigo 150, I, da Consti- tuição Federal, pelo qual: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuin- te, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni- cípios: I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Na verdade, o princípio em estudo decorre do artigo 5º, I, da Constituição Federal, que trata do princípio da legalidade de forma genérica: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natu- reza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa se- não em virtude de lei; Fonte: sxc.hu Direito TributárioRede e-Tec Brasil 20 O Código Tributário Nacional, em seus artigos 9º, I e 97, também prevê o princípio em questão: Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni- cípios: I - instituir ou majorar tributos sem que a lei o estabeleça, ressalvado, quanto à majoração, o disposto nos artigos 21, 26 e 65; Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I – a instituição de tributos, ou a sua extinção; II – a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III – a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, res- salvado o dispostono inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV – a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalva- do o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V – a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI – as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributá- rios, ou de dispensa ou redução de penalidades. Sobre o princípio da legalidade tributária, Zapatero (2009, p. 41), afirma: Portanto, o princípio da legalidade, na esfera tributária, não exige ape- nas que o Fisco atue nos limites impostos pela lei; mais que isso, deter- mina que cada ato concreto deste seja rigorosamente autorizado pela norma; é o que se pode chamar de reserva absoluta da lei ou de princí- pio da estrita legalidade. Assim, a conduta da Fazenda Pública, quando da cobrança do tributo, há de ser obrigatoriamente prevista em lei ordinária, que evidencie o modo e a hipótese em que deve ser imposta. Assim, pela análise da regra acima mencionada, verifica-se que o princípio da legalidade é o de maior importância, em se tratando de limitações cons- titucionais ao poder de tributar, uma vez que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios somente podem instituir, aumentar e cobrar tributos se existir uma lei que os autorizem a fazer isso. Nesse sentido se pronuncia Machado (2010, p. 39), “no Brasil, como, em geral, nos países que consagram a divisão dos Poderes do Estado, o princípio Rede e-Tec Brasil21Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... da legalidade constitui o mais importante limite aos governantes na ativida- de de tributação”. Embora o princípio da legalidade tributária seja uma das maiores garantias dos cidadãos, e, consequentemente, a principal limitação constitucional ao poder de tributar, ele não é absoluto, já que possui exceções, previstas, prin- cipalmente, no artigo 153, § 1º; 155, § 2º, IV, “c” e § 4º, XII “g” e “h”; e 177, § 4º, I, “b”; da Constituição Federal. Todavia, referido tema não será abordado especificamente, considerando os objetivos de nosso estudo, ads- trito a noções elementares do instituto em análise. 1.2.2 Princípio da isonomia ou da igualdade O princípio da igualdade ou da igualdade tributária está regulamentado no artrigo 150, II, da Constituição Federal, segundo o qual: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuin- te, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí- pios: [...] II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocu- pação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; Referida regra, na verdade, é um desdobramento do disposto no artigo 5º, I, da Constituição Federal, que trata do princípio da igualdade de um modo geral: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na- tureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Fonte: sxc.hu A origem do princípio da legalidade se deu na Inglaterra, mais precisamente com a Constituição de 1.215, do Rei João Sem Terra. Resultou de desentendimentos entre João, o Papa e os barões ingleses acerca das prerrogativas do rei. Segundo os termos da Constituição, João deveria renunciar a certos direitos e respeitar determinados procedimentos legais, bem como reconhecer que a vontade do rei estaria sujeita à lei. Considera-se a Magna Carta o primeiro capítulo de um longo processo histórico que levaria ao surgimento do constitucionalismo. Disponível em: <http://pt.wikipedia. org/wiki/Carta_Magna_de_ Jo%C3%A3o_Sem_Terra> Acesso em: 24 set. 2013. Contudo, se você tiver interesse em se aprofundar no estudo das execções ao princípio da legalidade tributária, recomendamos o livro do professor Hugo de Brito Machado, intitulado Curso de Direito Tributário, da Editora Malheiros, que trata, com bastante precisão, do tema. Direito TributárioRede e-Tec Brasil 22 País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segu- rança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; Pelo princípio da igualdade tributária, é proibido que o Poder Público institua tratamento diferenciado (desigual) entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente. Entretanto, isto não quer dizer que deva ser dado o mesmo tratamento a todas as pessoas, já que pode existir tratamento diferenciado para aqueles que se encontrem em situações direferentes, sem que isso viole a regra da isonomia tributária. A propósito, Carrazza (2012, p. 266) ensina que “as leis tributárias devem tratar todas as pessoas da mesma maneira, mas, tão somente, que precisam dispensar o mesmo tratamento jurídico às que se encontrem em situações idênticas.” Isto ocorre porque, às vezes, é necessário tratar determinadas pessoas (que se encontram em situação diferente)com desigualdade, a fim de que se dimunia a desigualdade existente entre elas. Por exemplo, no Imposto de Renda, quem possui renda mensal abaixo de um valor determinado pelo Go- verno não precisa pagar o referido tributo, que é exigido apenas das pessoas que recebem salários em valor superior àquele. Assim, neste caso, é possível tratar de forma diferente os contribuintes, já que eles não se encontram na mesma situação. Sobre essa questão, interessante é a célebre lição de Barbosa: A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadei- ra lei da igualdade. O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou da loucura. Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualda- de, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites hu- manos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo não dar a cada um na razão do que vale, mas atribuir o mesmo a todos, como se todos se equivalessem. (1944, p. 10-11). Rede e-Tec Brasil23Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... A principal finalidade do princípio da isonomia tributária, portanto, é pro- mover a justiça tributária, de modo que cada contribuinte contribua, com o Governo, de acordo com suas reais possibilidades. 1.2.3 Princípio da anterioridade O princípio da anterioridade tributária, também conhecido com princípio da não surpresa tributária, está previsto no artigo 150, III, “b” e “c”, da Cons- tituição Federal, segundo o qual: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuin- te, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - cobrar tributos: [...] b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; O Código Tributário Nacional, em seu artigo 9º, II, também contempla o princípio da anterioridade: Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni- cípios: [...] II - cobrar imposto sobre o patrimônio e a renda com base em lei pos- terior à data inicial do exercício financeiro a que corresponda; Desta forma, pelo princípio da anterioridade tributária, a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios estão proibidos de cobrar qualquer tributo Fonte: sxc.hu No Brasil, o exercício financeiro coincide com o ano civil, ou seja, 1º de janeiro a 31 de dezembro, nos termos do artigo 34 da Lei 4.320, de 17.03.1964. Direito TributárioRede e-Tec Brasil 24 no mesmo exercício financeiro (anterioridade anual) ou antes de noventa dias (anterioridade nonagesimal) da data de publicação da lei que os insti- tuiu ou aumentou. Para melhor compreender o tema em estudo, valiosos são os ensinamentos de Amaro (2010, p. 143): a constituição exige, como dizíamos, que a lei que crie ou aumente o tributo seja anterior ao exercício financeiro em que o tributo seja cobra- do e, ademais, que se observe a antecedência mínima de noventa dias entre a data de publicação da lei que o instituiu ou aumentou e a data em que passa a aplicar-se. Importante destacar que o princípio da anterioridade tributária não impede que haja criação ou aumento de tributos, apenas limita que sua cobrança ocorra no mesmo exercício financeiro. A razão de ser do princípio da anterioridade é que o cidadão não deve ser surpreendido com a cobrança de tributos, sendo necessário o prévio conhe- cimento da sua criação e um tempo necessário para que se possa programar para suportar tal gasto, com bem ensina Coelho: O princípio da anterioridade expressa a idéia de que a lei tributária seja conhecida com antecedência, de modo que os contribuintes, pessoas naturais ou jurídicas, saibam com certeza e segurança a que tipo de gravame estarão sujeitos no futuro imediato, podendo, dessa forma, organizar e planejar seus negócios e atividades.(2005, p. 2013). O princípio da anterioridade, todavia, não é absoluto, eis que possui exce- ções. Além disso, possui outras características peculiares. Contudo, tais as- suntos não serão abordados especificamente nesse estudo, tendo em vista nossos objetivos, que se limitam a noções básicas desta temática. 1.2.4 Princípio da irretroatividade Entretanto, se você tem interesse em se aprofundar no estudo do princípio da anterioridade tributária, recomendamos o livro do professor Eduardo Sabbag, intitulado Manual de Direito Tributário, da Editora Saraiva, que trata, de forma pormenorizada e didática, do assunto. Fonte: sxc.hu Rede e-Tec Brasil25Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... O princípio da irretroatividade da lei tributária está previsto no artigo 150, III, “a”, da Constituição Federal: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuin- te, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni- cípios: [...] III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; Referido princípio é decorrente da regra genérica da irretroatividade, ine- rente a todas as leis de nosso ordenamento jurídico, prevista no artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natu- reza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; Desta forma, pelo princípio da irretroatividade da lei tributária é proibida a cobrança de tributos em relação a fatos que ocorreram antes da entrada em vigor da lei que o instituiu. Isto se deve em razão da segurança jurídica que deve prevalecer em todo e qualquer estado democrático de direito, onde as pessoas não podem ser surpreendidas com regras posteriores à ocorrência de fatos determinados. Tanto é assim que Velloso (1997, p. 19) afirma que: Se o Estado de Direito alia-se de modo íntimo à legalidade em prol da segurança jurídica, não se pode menosprezar o fato de que tal lei deve ser sempre aplicada para o futuro, sob pena de sua aplicação retroativa fazer ‘ruir o Estado de Direito. O estado democrático de direito é uma situação jurídica, ou um sistema institucional, no qual cada um é submetido ao respeito do direito, do simples indivíduo até a potência pública. O estado de direito é assim ligado ao respeito da hierarquia das normas, da separação dos poderes e dos direitos fundamentais. Em outras palavras, o estado de direito é aquele no qual os mandatários políticos (na democracia: os eleitos) são submissos às leis promulgadas. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/ Estado_de_direito> Acesso em: 22 dez. 2013. Direito TributárioRede e-Tec Brasil 26 1.2.5 Princípio da vedação ao confisco O princípio da vedação do confisco está previsto no artigo 150, IV, da Cons- tituição Federal, pelo qual: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuin- te, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. [...] IV - utilizar tributo com efeito de confisco; Para melhor compreender o tema em estudo, é necessário entender em que, de fato, consiste o confiscotributário. Assim, de uma forma geral, o confisco tributário consiste na prática em que o Estado, em decorrência de uma obrigação fiscal (tributária), transfere para si a totalidade ou parte significativa da propriedade ou da renda do contri- buinte, sem que haja justificativa ou contraprestação proporcional a tal ato. Nesta linha, situam-se os ensinamentos de Dória (1986, p. 175.), ao afirmar que,“quando o Estado toma de um indivíduo ou de uma classe além do que lhes dá em troco, verifica-se o desvirtuamento do imposto em confisco [...].” Para o mesmo caminho seguem as lições de Machado: Tributo com efeito de confisco é tributo que, por ser excessivamente oneroso, seja sentido como penalidade. É que o tributo, sendo instru- mento pelo qual o Estado obtém os meios financeiros de que necessita para o desempenho de suas atividades, não pode ser utilizado para destruir a fonte desses recursos. Nesse sentido, o tributo não pode ser antieconômico, vale dizer, não Fonte: sxc.hu Rede e-Tec Brasil27Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... pode inviabilizar o desenvolvimento de atividades econômicas gerado- ras de riqueza, ou promotoras da circulação desta. (2010, p.298). Esta prática, aliás, é proibida pela Constituição (artigo 150, IV). Todavia, na prática, é difícil identificar um tributo com caráter confiscatório, já que, apesar de a Constituição proibi-lo, não há regra específica que deter- mine em que, de fato, consiste a atuação confiscatória, ou seja, não existe lei que estabeleça, por exemplo, qual o percentual de incidência do tributo apto a configurar o confisco. Discorrendo sobre essa questão, Amaro (2010) afirma que a Constituição não define qual seria o percentual a partir de que o tributo passa a ser confis- catório e afirma que esse princípio não é matemático, mas sim um critério in- formador ao legislador, dirigido ao intérprete e ao julgador, que, ao analisar fatos específicos, definirá se o tributo possui ou não caráter confiscatório. 1.2.6 Princípio da liberdade de tráfego O princípio da liberdade de tráfego de pessoas ou bens está inserido no ar- tigo 150, V, da Constituição Federal: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuin- te, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí- pios: [...] V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público; Fonte: ilustradora Direito TributárioRede e-Tec Brasil 28 O Código Tributário, em seu artigo 9º, III, também trata do princípio da li- berdade de tráfego: Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí- pios: [...] III - estabelecer limitações ao tráfego, no território nacional, de pessoas ou mercadorias, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais; O princípio em estudo decorre da regra prevista no artigo, 5° XV, da própria Constituição Federal, que assegura a liberdade de locomoção no território nacional. Incide diretamente sobre o legislador, que não pode criar tributos com a in- tenção de limitar o trânsito de pessoas ou bens entre os municípios ou entre os estados. A regra em análise proíbe que o fato gerador do tributo seja a simples passagem de pessoas ou bens de um estado para o outro ou de um município para o outro, preservando o direito de ir e vir. Sabbag (2010, p. 250) é bastante preciso ao tratar sobre o princípio da liber- dade de tráfego e afirma que: Segundo o princípio da não limitação (liberdade ou ilimitabilidade) ao tráfego de pessoas e bens, previsto no inciso V do art. 150 da CF, a intermunicipalidade e a interestadualidade não poderão ser fatos ge- radores de quaisquer tributos, seja federais, estaduais ou municipais. Por outro lado, é necessário ponderar duas questões relevantes ao presente estudo, quais sejam o imposto sobre a circulação de mercadorias e servi- ços (ICMS) interestadual e o pedágio,. mesmo porque referidos institutos se mostram, em tese, como exceções a esta vedação constitucional. Desta forma, apesar da vedação constitucional em estudo, o ICMS estadual é admitido, sem que isso configure violação ao princípio da liberdade de tráfego, pois a proibição se destina à circulação territorial e não à circulação negocial, de modo que a norma constitucional veda a criação de tributo com a finalidade única e exclusiva de impedir o tráfego de pessoas ou bens, mas, quando este tráfego se reveste de finalidade econômica, é admitida a tributação. Rede e-Tec Brasil29Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... Observe os ensinamentos de um estudioso desse tema, para melhor enten- der essa questão: É importante esclarecer que essa regra não impede a cobrança de impostos sobre a circulação econômica em operações interestaduais ou intermunicipais. O que ela proíbe é a instituição de tributo em cuja hipótese de incidência seja elemento essencial a TRANSPOSIÇÃO (TRÁFEGO) DE FRONTEIRA interestadual ou intermunicipal. Pre- serva-se assim a LIBERDADE DE IR-E-VIR, aquela liberdade des- vinculada de qualquer ato negocial. Imuniza a circulação territo- rial e não a circulação econômica (NOGUEIRA, 2004, p. 1)[grifo do autor] Com relação ao pedágio, esta exceção está expressamente prevista no pró- prio artigo 150, V, que ressalva da vedação “a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público”. Desta forma, para a con- servação de vias públicas, é admitida a cobrança de pedágio, ainda que em limites interestaduais ou intermunicipais. 1.2.7 Princípio da uniformidade tributária O princípio da uniformidade tributária se dirige expressamente à União (Governo Federal), e está inserido no artigo 151, da Constituição Federal, subdvidindo-se, basicamente, em quatro segmentos, a saber: a uniformida- de geográfica; a uniformidade na tributação das rendas das obrigações da dívida pública; a uniformidade na tributação da remuneração e proventos dos agentes públicos; e a vedação de isenções heterônomas. O princípio da uniformidade geográfica está previsto no artigo 151, I, da Constituição Federal, pelo qual é proibida a instituição de: Fonte: ilustradora Direito TributárioRede e-Tec Brasil 30 tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que im- plique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de in- centivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País. Esse princípio prestigia o pacto federativo e o próprio princípio da igualdade. Como bem destaca Oliveira (2010), o princípio da uniformidade na tributa- ção das rendas das obrigações da dívida pública está expresso no art. 151, II, primeira parte, da Constituição, o qual veda a tributação da renda das obri- gações da dívida pública dos estados, do Distrito Federal e dos municípios em níveis superiores aos fixados para as suas obrigações. Assim, quando o particular torna-se credor da União, do Estado, do Distrito Federal ou Mu- nicípio, ao adquirir títulos da dívida pública, recebe juros. Porém, se estes juros forem tributados pela União, em relação às rendas (juros) dos estados e municípios, de forma mais gravosa do que os seus, qualquer particular vai preferir adquirir os títulos da União. Portanto, este princípio prevê o trata- mento igualitário das rendas das obrigações da dívida pública, fazendo com que não haja este privilégio dos títulos da União em relação aos dos estados, DistritoFederal e dos municípios Disponível em: <http://www.ambito-juri- dico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7866> Acesso em :10 set. 2013. O princípio da uniformidade da remuneração dos proventos dos agentes públicos encontra previsão no art. 151, II, segunda parte, da Constituição, que veda a tributação, pela União, da remuneração e dos proventos dos agentes públicos dos estados, Distrito Federal e municípios, em níveis su- periores aos que fixar para seus agentes. Sua finalidade é evitar tratamento diferente entre servidores da União e servidores dos estados, Distrito Federal e municípios. O princípio da vedação de isenções heterônomas esta inserido no artigo 151, III, da Constituição, pelo qual, em regra, é proibido “instituir isenções de tri- butos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.” Esta proibição também decorre do pacto federativo, já que a isenção está ligada ao Poder de Tributar, de forma que aquele que detém a competência tributária para instituir determinado tributo, também o tem para isentar. Por exemplo, a possibilidade de dispor acerca da isenção de IPTU é do Município e somente dele. Rede e-Tec Brasil31Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... 1.2.8 Princípio da capacidade contributiva O princípio da capacidade contributiva, na verdade, é um reflexo do prin- cípio da igualdade. O artigo 145, § 1° da Constituição Federal dispõe que “sempre que possível os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte”. Sendo assim, na prática, referido princípio pode ser traduzido num conhe- cido clichê: “quem pode mais paga mais, quem pode menos paga menos”. Exemplo típico deste princípio é a progressividade das alíquotas do Imposto de Renda, de acordo com a capacidade econômica do contribuinte, com as seguintes faixas: isenção, 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%. Resumo Nesta aula, você teve oportunidade de estudar o sistema constitucional tri- butário e os princípios constitucionais que se traduzem nas limitações cons- titucional ao poder de tributar, figurando como defesa dos cidadãos contra a ânsia do Estado em cobrar tributos. Atividades de Aprendizagem 1. A partir do conteúdo desta aula, aponte a importância do sistema consti- tucional tributário para o Direito Tributário. 2. Tendo em vista os conhecimentos adquiridos na presente aula, indique qual o principal princípio constitucional tributário. Justifique sua resposta. Direito TributárioRede e-Tec Brasil 32 3. Segundo o princípio da anterioridade tributária, é correto afirmar: a) A lei que crie ou aumente um tributo só pode incidir sobre fatos ocorridos no exercício financeiro subsequente ao de sua entrada em vigor. b) A lei que aumente um tributo só pode incidir sobre os fatos ocorridos no ano anterior ao de sua entrada em vigor. c) A lei que aumente um tributo só pode incidir sobre os fatos ocorridos 366 dias após sua entrada em vigor. d) A lei que crie um tributo deve ser sempre anterior aos fatos sobre os quais incidirá. 4. No Direito Tributário, a obrigação de pagar tributos deve estar expres- samente prevista em lei, caso contrário o tributo não pode ser exigido do contribuinte. O texto acima está-se referindo ao princípio explícito da: a) Irretroatividade; b) Legalidade; c) Anterioridade; d) Igualdade. Caro(a) etudante, Chegamos ao fim da primeira aula sobre o sistema constitucional tributário e sobre as limitações constitucionais ao poder de tributar. Nela, buscamos de- monstrar em que consiste o sistema constitucional tributário e as limitações constitucionais ao poder de tributar, bem como sua importância para o di- reito tributário. Na próxima aula, estudaremos as imunidades tributárias, que também fazem partes das limitações constitucionais ao poder de tributar. Continue atento(a) e não deixe de realizar as atividades de aprendizagem. Rede e-Tec Brasil33Aula 1 - Sistema Constitucional Tributário e Limitações Constitucionais ao Poder de... Direito TributárioRede e-Tec Brasil 34 Objetivos: • reconhecer as imunidades constitucionais tributárias; e • identificar a importância e o alcance das imunidades tributárias no Direito Tributário. Aula 2. Imunidades Tributárias Prezado(a) estudante, Em nossa primeira aula, avançamos bastante no estudo do sistema cons- titucional tributário e das limitações constitucionais ao poder de tributar. Em nosso segundo encontro, daremos sequência ao conteúdo da disciplina, abordando, desta vez, as imunidades constitucionais tributárias, que também fazem parte das limitações constitucionais ao poder de tributar do Estado. Continue disciplinado(a) em seu estudos, pois há ainda muito para aprender. 2.1 Imunidades tributárias As imunidades tributárias estão previstas, em sua maioria, no artigo 150, V, “a” a “e”, da Constituição: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuin- Fonte: ilustradora Rede e-Tec BrasilAula 2 - Imunidades Tributárias 35 te, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí- pios: [...] VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão; e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil con- tendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 75, de 15.10.2013) O Código Tributário Nacional, em seu artigo 9º, IV, “a” a “d”, também dis- ciplina as imunidades tributárias: Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni- cípios: [...] IV - cobrar imposto sobre: a) o patrimônio, a renda ou os serviços uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das institui- ções de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, observa- dos os requisitos fixados na Seção II deste Capítulo; d) papel destinado exclusivamente à impressão de jornais, periódicos e livros. O conceito de imunidade tributária é bem definido pela clássica lição de Baleeiro (2007, p. 113): "são vedações absolutas ao poder de tributar certas pessoas (subjetiva) ou certos bens (objetiva) e, às vezes uns e outros". Oliveira (2010, p. 1) é bastante didático ao explicar em que consistem as isenções tributárias: Direito TributárioRede e-Tec Brasil 36 Em termos simples quando falamos que uma determinada pessoa está imune àquela doença, estamos dizendo que ela está protegida contra esta moléstia, não corre o risco de vir a contraí-la. Fazendo um paralelo com a imunidade tributária, quando falamos que determinada situação está imune, estamos a dizer que está protegida contra o poder de tri- butar do Estado, não corre o risco de ser tributada. Portanto, a imunidade tributária consiste no impedimento estabelecido pela Constituição para a incidência da norma tributária. As imunidades previstas no artigo 150, VI, da Constituição Federal alcançam apenas os impostos, porém existem outras imunidadesreferentes às taxas e contribuições especiais. Contudo, considerando os objetivos de nosso estu- do, consideramos importante analisar as imunidades constitucionais tributá- rias genéricas, previstas no mencionado dispositivo legal. Trataremos a seguir destas imunidades. 2.2. Imunidade recíproca das pessoas políticas Esta imunidade tributária está prevista no artigo 150, VI, “a”, da Constitui- ção Federal. Por ela, as pessoas políticas (União, estados, Distrito Federal e municípios) não podem tributar-se reciprocamente por meio de impostos. Por exemplo, se a União for proprietária de imóvel urbano, não pode o mu- nicípio onde o imóvel está situado cobrar o respectivo IPTU, em razão da imunidade recíproca. Da mesma forma não pode o Governo do Estado co- brar IPVA sobre a propriedade de veículos automotores pertencentes aos municípios e à União. 2.3. Imunidade do patrimônio, renda e serviços das autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo poder público A imunidade em estudo, prevista no § 2º, do artigo 150, da Constituição Fe- deral, decorre da imunidade recíproca, já que possui a mesma razão de ser, ou seja, a impossibilidade de incidência de impostos entre os entes políticos (União, estados, Distrito Federal e municípios), pertencentes à administração pública direta. Rede e-Tec BrasilAula 2 - Imunidades Tributárias 37 Entretanto, na espécie, a vedação constitucional se estende à administração pública indireta, ou seja, às autarquias e fundações, de modo que as pessoas políticas não podem instituir impostos sobre aquelas, desde que mantidas pelo poder público e suas atividades estejam ligadas às suas atividades es- senciais ou dela decorrentes. 2.4 Imunidade do patrimônio, da renda e dos serviços dos templos de qualquer culto Esta imunidade está especificada no artigo 150, VI, “b”, da Constituição Fe- deral. Por ela, é vedada a cobrança de impostos sobre templos de qualquer culto no que se refere ao patrimônio, renda e serviços, vinculados a suas finalidades essenciais. Todavia, para se compreender o significado e a extensão da imunidade em questão, é imprescindível saber em que consiste a expressão “templo de qualquer culto”. Segundo Carvalho (2009, p. 208), a locução culto religioso se refere a “todas as formas racionalmente possíveis de manifestação organizada de religiosi- dade, por mais estrambóticas, extravagantes ou exóticas que sejam”. Para Carrazza (2012, p. 828), culto deve ser compreendido no sentido de confissão religiosa, e passa a definir o que seria a confissão religiosa: Confissão religiosa nada mais é que uma entidade dotada de estrutura orgânica hierarquizada, instituída com o objetivo fundamental de agru- par, de modo permanente, pessoas que partilham das mesmas crenças transcendentais, vale dizer, que nutrem a mesma fé numa dada divin- dade. Nesse sentido, são confissões religiosas não só a Igreja Católica e as nascidas da Reforma Protestante, como as que adotam fórmulas mais elementares e variadas de organização (sinodal, congrecionista etc.). Também merecem esta qualificação as comunidades judaicas e muçulmanas, que, embora se caracterizem pela dispersão e multipli- cidade e se relacionem mais por vínculos religiosos que jurídicos, têm uma fé comum. Desta forma, apoiado nos dizeres de Cordeiro (2013, p. 1), “temos que culto é a reunião de pessoas, com objetivos afins, quais sejam, de disseminar Direito TributárioRede e-Tec Brasil 38 a religião e a fé, sendo que esta reunião deverá ser constante e periódica”, sendo esta a atividade contemplada pela imunidade religiosa. O objetivo da imunidade tributária concedida às entidades religiosas é asse- gurar a liberdade de culto religioso, estampada no artigo 5º, VI, da Consti- tuição Federal. Nesse sentido, Costa esclarece que, “Como imunidade política e incondi- cionada, visa a garantir a eficácia da diretriz constitucional contemplada no art. 5º, VI, que assegura a liberdade de crença e o livre exercício de cultos religiosos, densificando-os” (2006, p.156). Por fim, interessante ponderar que, a imunidade religiosa não se refere ape- nas ao templo religioso em si, mas também aos imóveis e rendas que, de forma direta ou indireta, estão relacionados com a atividade religiosa res- pectiva. 2.5 Imunidade dos partidos políticos, sindicatos dos empregados, instituições assistenciais e educacionais sem fins lucrativos Esta imunidade está prevista no artigo 150, VI, “c”, da Constituição Federal. Ela exige o cumprimento de requisitos dispostos em lei. Em razão disso, é necessário analisar o Código Tributário Nacional, especialmente os artigos 9º e 14: Art. 9º. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Muni- cípios: [...] IV - cobrar imposto sobre: [...] c) o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das institui- ções de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, observa- dos os requisitos fixados na Seção II deste Capítulo; Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas: Rede e-Tec BrasilAula 2 - Imunidades Tributárias 39 I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros reves- tidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. § 1º Na falta de cumprimento do disposto neste artigo, ou no § 1º do artigo 9º, a autoridade competente pode suspender a aplicação do benefício. § 2º Os serviços a que se refere a alínea c do inciso IV do artigo 9º são exclusivamente, os diretamente relacionados com os objetivos institu- cionais das entidades de que trata este artigo, previstos nos respectivos estatutos ou atos constitutivos. Assim sendo, nota-se que o requisito necessário para a validade da imuni- dade em estudo se resume à ausência de obtenção de lucro na atividade da entidade respectiva. Deste modo, compreendidos os requisitos a serem observados para a valida- de da imunidade ora examinada, podemos analisar suas espécies. Neste passo, os partidos políticos são imunes à cobrança de impostos, ou seja, não podem ser compelidos, pelos entes políticos, a pagar impostos. Isto se deve ao fato de que os partidos políticos representam o pleno exercício da democracia, refletindo a vontade popular. Além disso, no Brasil, prevalece o sistema do pluripartidarismo, devendo, portanto, haver incentivos para que todos os partidos, inclusive os menores, possam permanecer ativos, pois, do contrário, apenas os partidos maiores, dotados de receitas financeiras mais expressivas sobreviveriam. Já as entidades sindicais dos trabalhadores são, igualmente, imunes aos impostos em razão de suas finalidades específicas, ou seja, em face do conteúdo dos direitos sociais e econômicos que elas representam, pois os sindicatos se traduzem em ferramenta de proteção dos trabalhadores, que servem, também, em razão de seu caráter associativo, para defender o in- teresse coletivo. Como bem afirma Torres (2008), havendo o Estado que se abster de intervir na ordem econômica, que dá preferência aos setores privados, não há como deixar de oferecer certa proteção aos trabalhadores. Entende-se que a tribu- Direito TributárioRede e-Tec Brasil 40 tação sobre entidades sindicais seria uma forma de coibir a manifestação de atividade sindical, direito também abarcado pela Constituição.As instituições de educação sem fins lucrativos têm como fundamento para sua imunidade a necessidade de promoção da educação no país, de modo que, ao conferir imunidade tributária a tais instituições, o Governo estimula a educação, beneficiando, sobretudo, aqueles que não possuem condições de pagar pelos serviços prestados pelas típicas instituições priva- das com fins de lucro. As instituições de assistência social sem fins lucrativos são imunes à tributa- ção, em razão de sua própria essência, tal seja, a promoção e a integração so- cial, na intenção de se reduzirem as desigualdades sociais existentes no país. Além dos requisitos constantes no Código Tributário Nacional, acima men- cionados, a Lei n. 9.532/1997, mais precisamente em seus artigos 12 e 13, estabeleceu novos requisitos, no que se refere às imunidade das entidades de educação e entidades de assistência social. Art. 12. Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alínea "c", da Constituição, considera-se imune a instituição de educação ou de assis- tência social que preste os serviços para os quais houver sido instituída e os coloque à disposição da população em geral, em caráter com- plementar às atividades do Estado, sem fins lucrativos. § 1º Não estão abrangidos pela imunidade os rendimentos e ganhos de capital auferidos em aplicações financeiras de renda fixa ou de renda variável. § 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a que se refere este rti- go, estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos: a) não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados; b) aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvi- mento dos seus objetivos sociais; c) manter escrituração completa de suas receitas e despesas em livros revestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatidão; d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data da emissão, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e a efetivação de suas despesas, bem assim a realização de quaisquer outros atos ou operações que venham a modificar sua situ- ação patrimonial; Rede e-Tec BrasilAula 2 - Imunidades Tributárias 41 e) apresentar, anualmente, Declaração de Rendimentos, em confor- midade com o disposto em ato da Secretaria da Receita Federal; f) recolher os tributos retidos sobre os rendimentos por elas pagos ou creditados e a contribuição para a seguridade social relativa aos empre- gados, bem assim cumprir as obrigações acessórias daí decorrentes; g) assegurar a destinação de seu patrimônio a outra instituição que atenda às condições para gozo da imunidade, no caso de incorpora- ção, fusão, cisão ou de encerramento de suas atividades, ou a órgão público. h) outros requisitos, estabelecidos em lei específica, relacionados com o funcionamento das entidades a que se refere este artigo. § 3° Considera-se entidade sem fins lucrativos a que não apresente su- perávit em suas contas ou, caso o apresente em determinado exercício, destine referido resultado, integralmente, à manutenção e ao desen- volvimento dos seus objetivos sociais. Art. 13. Sem prejuízo das demais penalidades previstas na lei, a Secreta- ria da Receita Federal suspenderá o gozo da imunidade a que se refere o artigo anterior, relativamente aos anos-calendários em que a pessoa jurídica houver praticado ou, por qualquer forma, houver contribuído para a prática de ato que constitua infração a dispositivo da legislação tributária, especialmente no caso de informar ou declarar falsamente, omitir ou simular o recebimento de doações em bens ou em dinhei- ro, ou de qualquer forma cooperar para que terceiro sonegue tributos ou pratique ilícitos fiscais. Parágrafo único. Considera-se, também, infração a dispositivo da legis- lação tributária o pagamento, pela instituição imune, em favor de seus associados ou dirigentes, ou, ainda, em favor de sócios, acionistas ou dirigentes de pessoa jurídica a ela associada por qualquer forma, de des- pesas consideradas indedutíveis na determinação da base de cálculo do imposto sobre a renda ou da contribuição social sobre o lucro líquido. 2.6 Imunidade do papel destinado exclusivamente à impressão de jornais, periódicos e livros A imunidade na cobrança de impostos sobre o papel destinado à impres- são de jornais, periódicos e livros está prevista no artigo 150, VI, “d”, da Constituição Federal e, em razão dela, ficam as pessoas políticas proibidas Direito TributárioRede e-Tec Brasil 42 de instituírem impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. Referida imunidade se destina a proteção e promoção da liberdade de im- prensa, de expressão, à difusão da cultura no país, entre outros. Nesse contexto, vale a pena destacar que o livro, para fins de imunidade, não possui um conteúdo fechado ou restrito, de modo que todos os obje- tos compreendidos como veículos de informação e cultura, que não seriam, necessariamente, entendidos como livros, são contemplados pela imunidade tributária, por exemplo, as listas telefônicas, apostilas, encadernações acadê- micas, álbuns de figurinhas, os papéis e filmes fotográficos etc. 2.7 Imunidade dos fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros, bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser. Referida regra é bastante recente, pois é decorrente da Emenda Constitucio- nal n. 75, de 15 de outubro de 2013. Seu fundamento é semelhante ao da imunidade do papel destinado à impressão de jornais, periódicos e livros, já que visa promover a cultura no país, desta vez, por meio de não incidência de impostos sobre CDs e DVDs produzidos no Brasil, de obras musicais ou literomusicais, que serão contempladas pela imunidade. Da mesma forma, não pagarão impostos as obras, em geral, interpretadas por artistas brasileiros e as mídias ou os arquivos digitais que as contenham. Isso faz com que, igualmente, sejam imunes as músicas comercializadas pela rede mundial de computadores, além dos downloads de ringtones de tele- fones celulares. Resumo Nesta aula, apresentamos o conceito, espécies, consequências e utilidade prática das imunidades constitucionais tributárias, para o sistema tributário nacional. Rede e-Tec BrasilAula 2 - Imunidades Tributárias 43 Atividades de Aprendizagem 1. Escreva sobre a finalidade da imunidade tributária dos templos de qual- quer culto. 2. Dentre as alternativas abaixo, aponte a alternativa correta acerca das imu- nidades tributárias: a) A imunidade recíproca veda a instituição de impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. b) A imunidade recíproca veda a instituição do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU sobre imóvel de propriedade da União. c) A imunidade recíproca veda os municípios de instituírem impostos sobre as igrejas. d) A imunidade dos partidos políticos proíbe a cobrança de impostos na época da eleição. 3. Considerando as afirmativas abaixo, assinale a alternativa correta. I- É vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios cobrar imposto sobre o patrimônio, a renda ou os serviços uns dos outros. Isto consiste na imunidade recíproca entre os entes políticos. II- Os livros são imunes aos impostos, porém outros impressos, que não os livros, tais como as listas telefônicas, apostilas, encadernaçõesacadêmicas, álbuns de figurinhas, ainda que sirvam para difundir a cultura e a informação, não podem ser contemplados pela imunidade tributária. III- As instituições de ensino com fins lucrativos não podem ser tributa- das, em razão da imunidade constitucional. Direito TributárioRede e-Tec Brasil 44 a) Todas as afirmativas estão corretas. b) Apenas a afirmativa III está correta. c) Apenas a afirmativa II está correta. d) As afirmativas II e III estão incorretas. Querido(a) estudante, Alcançamos, assim, o fim de nossa segunda aula, na qual abordamos o tema referente às imunidades tributárias. Na próxima aula, estudaremos a obri- gação e o crédito tributários. Prossiga com atenção e procure destinar uma parte do seu tempo para se dedicar ao estudo do texto e para a realização das atividades de aprendizagerm. Rede e-Tec BrasilAula 2 - Imunidades Tributárias 45 Direito TributárioRede e-Tec Brasil 46 Caríssimo(a) estudante(a), Nesta aula, analisaremos a obrigação e o crédito tributários. Com o estudo do conteúdo desta aula, você avançará muito em seu processo de aprendi- zagem. Continue atento(a), pois estamos certos de que o tema tratado contribuirá de forma relevante para sua qualificação profissional. 3.1. Obrigação tributária A seguir, estudaremos a obrigação tributária, seu conceito, classificação e elementos constitutivos. 3.1.1 Conceito e classificação A Constituição Federal concede autorização para que um determinado ente Fonte: sxc.hu Rede e-Tec BrasilAula 3 - Obrigação e Crédito Tributários 47 Aula 3. Obrigação e Crédito Tributários Objetivos: • identificar a obrigação e o crédito tributários; e • reconhecer as peculiaridades e as características dos temas ob- jeto do presente estudo. político institua determinado tributo. Todavia, somente a permissão conce- dida pela Constituição não é suficiente para que o Estado institua e arrecade o tributo. Para tanto, é necessária a elaboração de uma lei (princípio da lega- lidade, artigo 150, I da CF), que instituirá o tributo e especificará a hipótese de incidência tributária, a qual, uma vez concretizada, ensejará a ocorrência do fato gerador e o surgimento da respectiva obrigação tributária. Desse modo, no momento em que o sujeito passivo realiza o fato gerador do tributo, o qual corresponde à realização da situação hipotética prevista em lei como necessária para a incidência do tributo (hipótese de incidência) faz surgir para si a obrigação de pagar o tributo oriundo do ato ou fato por ele praticado, momento este em que nasce a obrigação tributária. Por exemplo, o ITBI tem como hipótese de incidência a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis, contudo, o fato gerador so- mente ocorrerá quando, de fato, uma determinada pessoa (sujeito passivo) efetua a transferência da propriedade do imóvel (venda) para outra, sendo que, a partir de então, surge a obrigação tributária. Assim, como bem esclarece Silva (1996, p. 181), “Com a ocorrência do fato gerador, surge para quem lhe deu nascimento o dever jurídico de pagar o tributo. Em decorrência do surgimento do dever de pagar a alguém, surge o direito desse alguém em receber o crédito respectivo.” Feitos esses esclarecimentos preliminares, torna-se possível estabelecer um conceito de obrigação tributária. Pode-se conceituar a obrigação tributária como sendo o vínculo jurídico oriundo da realização de ato ou fato previsto em lei como ensejador da inci- dência de tributo, em virtude do qual surge para o sujeito passivo o dever de realizar uma prestação (dar, fazer, não fazer ou tolerar que se faça) em favor do Estado nas condições definidas em lei. Em outras palavras, obrigação tributária é: [...] a relação jurídica em virtude da qual o particular (sujeito passivo) tem o dever de prestar dinheiro ao Estado (sujeito ativo), ou de fazer, não fazer ou tolerar algo no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos, e o Estado tem o direito de constituir contra o particular um crédito.(MACHADO, 2010, p.129). Direito TributárioRede e-Tec Brasil 48 Ao analisar o conceito de obrigação tributária, nota-se que ela se subdivide em duas espécies, quais sejam, obrigação principal e acessória. Essas espé- cies de obrigação tributária encontram-se previstas no artigo 113 do Código Tibutário Nacional: Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interes- se da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. § 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecu- niária. Assim, por obrigação principal, podemos entender aquela obrigação insti- tuída por lei, que, tendo origem com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento do tributo ou de penalidade pecuniária. A obrigação principal consiste, portanto, numa obrigação de dar, isto é, pagar o tributo ou penalidade pecuniária. A natureza de seu objeto é eminentemente patri- monial, pois tem como conteúdo uma prestação em dinheiro. Já a obrigação acessória consiste naquela obrigação, que tem por objeto prestações positivas ou negativas por parte do sujeito passivo. Na obrigação acessória, o sujeito passivo deve fazer, não fazer ou tolerar que se faça algo no interesse da arrecadação ou fiscalização dos tributos. Seu objeto, ao con- trário da obrigação principal, não possui caráter patrimonial, uma vez que, Fonte: http://sapodavez.blogspot.com.br/2012/10/dica-de-direito-tributario-sobre_7470.html (adaptado pela ilustradora) Rede e-Tec BrasilAula 3 - Obrigação e Crédito Tributários 49 aqui, o sujeito passivo não tem que dar uma quantia em dinheiro ao Fisco, mas sim realizar determinado comportamento, abster-se de fazê-lo ou tole- rar que o Fisco o faça. 3.1.2 Elementos constitutivos A obrigação tributária compõe-se de alguns elementos cuja presença se faz necessária para que ela se aperfeiçoe. São eles: hipótese de incidência, o fato gerador, os sujeitos ativo e passivo e o seu objeto. 3.1.2.1 Hipótese de incidência Para que a obrigação tributária tenha origem, é necessária, conforme já mencionado, a existência de uma lei tributária instituidora do tributo. Aludi- da lei descreverá a situação hipotética que, uma vez realizada, dará ensejo ao nascimento da obrigação tributária. A hipótese de incidência da obrigação tributária consiste justamente nessa situação hipotética descrita pela lei instituidora do tributo como necessária para o surgimento da obrigação tributária. Assim, a hipótese de incidência, como bem afirma Cassone (1989, p. 143), “significa a descrição que a lei faz de um fato tributário que, quando ocor- rer, fará nascer a obrigação tributária (obrigação de o sujeito passivo ter de pagar ao sujeito ativo o tributo correspondente”. 3.1.2.2 Fato gerador Por fato gerador deve se entender a ocorrência real da situação hipotética Fonte: http://sapodavez.blogspot.com.br/2012/10/dica-de-direito-tributario-sobre_7470.html (adaptado pela ilustradora) Direito TributárioRede e-Tec Brasil 50 prevista na lei tributária como suficiente para o nascimento da obrigação tributária. É, de fato, a ocorrência concreta da hipótese de incidência. Nesse sentido se manifesta Nogueira (1999, p. 142) ao se referir ao fato gerador como “o conjunto dos pressupostos abstratos descritos na norma de direito material,
Compartilhar