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INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO FÍSICA Ludmila Mourão Ayra Lovisi INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO FÍSICA Juiz de Fora Cead/UFJF 2014 Apoio: Universidade Aberta do Brasil/CAPES Reitor Henrique Duque de Miranda Chaves Filho Vice-Reitor José Luiz Rezende Pereira Pró-Reitor de Graduação Eduardo Magrone Centro de Ensino a Distância da UFJF (Cead) Flávio Iassuo Takakura Coordenador Geral Faculdade de Educação Física (Faefid) Maurício Gattas Bara Filho Diretor Curso de Licenciatura em Educação Física a Distância Eliana Lucia Ferreira Coordenadora Geral Faefid – Faculdade de Educação Física e Desportos Rua José Lourenço Kelmer, s/no – Campos Universitário da UFJF – Bairro São Pedro Juiz de Fora – MG – CEP 36036-900 Distribuição gratuita © 2014 by Ludmila Mourão e Ayra Lovisi. Direitos desta edição reservados ao CEAD/UFJF. Capa: Liliane da Rocha Faria Projeto gráfico, diagramação e editoração: Camilla Pinheiro Os textos são de responsabilidade total de seus autores. Dados internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) M929 Mourão, Ludmila. Introdução à Educação Física / Ludmila Mourão, Ayra Lovisi. ‒ Juiz de Fora : CEAD/UFJF, 2014. 57 p. : il. color. ; 30 cm. Bibliografia: p. 51-57. ISBN 978-85-67381-12-1 1. Educação Física. 2. Linguagem corporal. I. Lovisi, Ayra. II. Título. CDD 613.7 Fotografia 1 Kong Fou ......................................................................................... 13 Fotografia 2 Tsu-chu .......................................................................................... 14 Fotografia 3 Discóbolo ........................................................................................ 14 Fotografia 4 Jogo de Soule .................................................................................. 16 Fotografia 5 Aulas de Ginástica.......................................................................... 20 Fotografia 6 Campo escolar ............................................................................... 34 Fotografia 7 Campo esportivo ............................................................................ 34 Fotografia 8 Campo da saúde ............................................................................ 35 Fotografia 9 Campo do lazer .............................................................................. 35 Fotografia 10 Campos de atuação ....................................................................... 37 Fotografia 11 Áreas da Educação Física .............................................................. 42 Fotografia 12 Características dos exercícios ....................................................... 43 Fotografia 13 Biomecâmica de uma pessoa com deficiência ............................ 44 Fotografia 14 Aprendizagem motora ................................................................... 47 Fotografia 15 Pedagogia do esporte .................................................................... 48 Fotografia 16 Filosofia da Educação Física ......................................................... 49 Fotografia 17 História da Educação Física .......................................................... 49 Fotografia 18 Sociologia da Educação Física ...................................................... 50 LISTA DE FOTOGRAFIAS Desenho 1 Biomecâmica de uma pessoa com deficiência ............................... 45 Desenho 2 Biomecânica ..................................................................................... 45 Desenho 3 Crescimento e desenvolvimento ...................................................... 46 LISTA DE DESENHOS SUMÁRIO 1 O QUE É EDUCAÇÃO FÍSICA ................................................11 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DAS CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA ..........................................................12 1.1.1 Origem da Educação Física .............................................12 1.1.2 A Educação Física no Brasil .............................................18 1.2 CONCEITO DE ATIVIDADE FÍSICA, EXERCÍCIO FÍSICO E EDUCAÇÃO FÍSICA .................................................22 1.2.1 Atividade física ..................................................................23 1.2.2 Exercício físico ..................................................................23 1.2.3 Educação Física ................................................................24 1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................24 2 AS DEMANDAS SOCIOCULTURAIS DA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA .........................................................27 2.1 TIPOS DE ATIVIDADES DA CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO E OS OBJETIVOS DOS SEUS PRATICANTES .......28 2.2 CAMPOS DE ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSSICA: ALGUNS EXEMPLOS ................................................33 2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................36 3 OS CAMPOS DE CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ....37 3.1 O debate epistemológico da educação física ...................38 3.2 OS CAMPOS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO E DO CONHECIMENTO TÉCNICO QUE FUNDAMENTAM A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA ..........42 3.2.1 Biofísica ..............................................................................43 3.2.1.1 Fisiologia do exercício .......................................................43 3.2.1.2 Biomecânica .......................................................................44 3.2.1.3 Crescimento e desenvolvimento .......................................46 3.2.2 Comportamental ...............................................................46 3.2.2.1 Comportamento motor e aprendizagem motora ..............46 3.2.2.2 Psicologia do esporte .........................................................47 3.2.2.3 Pedagogia do esporte ........................................................48 3.2.3 Sociocultural .....................................................................48 3.2.3.1 Filosofia da Educação Física .............................................49 3.2.3.2 História da Educação Física ...............................................49 3.2.3.3 Sociologia da Educação Física ..........................................50 3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................50 REFERÊNCIAS ......................................................................51 11 1 O QUE É EDUCAÇÃO FÍSICA Ao final deste texto, espera-se que o aluno identifique as diferentes concepções da Educação Física, suas relações e especificidades com as dimensões do campo de prática sociocultural. Afinal, o que é Educação Física? Esporte? Promoção de saúde? Condicionamen- to físico? Prevenção de doenças? Estética? Recreação e lazer? Formação cultural? Durante anos, muitos estudiosos da Educação Física vêm discutindo esses assuntos. O termo “Educação Física” é composto por dois elementos: “educação”, que o vincula a um determinado conjunto de práticas sociais; “física”, que os circuns- creve ao domínio daquilo que se entende por físico. Aparentemente, vistodessa forma, o significado da Educação Física parece ser simples: a prática ou pro- cesso de educar o físico ou educar através do físico. Contudo, uma análise mais atenta mostra que essa forma de definir a educação física não é suficiente para esclarecer com profundidade o seu significado. Assim, quando se fala de Educa- ção Física, é necessário perguntar: de que Educação Física está se falando? O significado da expressão Educação Física depende dos pressupostos teóricos de quem o utiliza. Cabe explicitar que tal expressão pode referir-se também a diferentes práticas sociais. Segundo o contexto e a intenção com que é utilizada, a educação física pode significar: a) Um conjunto de práticas sistematizadas, voltadas para o desenvolvimen- to de propriedades motoras do organismo humano, práticas essas que podem ocorrer em diferentes contextos institucionais ou mesmo infor- malmente. b) Um componente curricular de processos educacionais formais, que têm lugar na instituição escolar. c) Uma área de conhecimento que estuda determinados fenômenos através da metodologia científica e sistematiza o conhecimento assim produzido, organizando-os em conjuntos de proposições correlacionadas, que po- dem constituir teorias. 12 Dessa forma, fica claro que há diferentes entendimentos do significado da edu- cação física, sendo tal diversidade de significados decorrente de pressupostos filosóficos variados e de referência a diferentes esferas de práticas sociais. Tendo como pressuposto que esses diferentes significados da educação física foram construídos ao longo da história e, entendendo a educação física como construção social em constante processo de transformação, tentaremos, nas próximas aulas, compreender como se constituíram esses significados. 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DAS CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA Ao final deste texto, espera-se que você tenha aprendido a identificar a constru- ção histórica cultural da educação física e diferenciar suas concepções. 1.1.1 Origem da Educação Física Mostraremos agora, de forma sucinta, alguns fatos históricos da origem da Edu- cação Física, tendo como base a obra de Vitor Marinho de Oliveira: O que é Educação Física (2004), indicada como leitura desta disciplina (Disponível em: <http://geocities.yahoo.com.br/gagaufera2003/>. Acesso em: 4 jan. 2012). No período pré-histórico, todas as atividades humanas dependiam do movimen- to físico, do ato físico. Ao analisar a cultura primitiva em todas as suas dimen- sões: econômica, política ou social vemos a importância das atividades físicas para os homens das cavernas. A partir do momento em que o homem se sedentarizou, isto é, deixou de ser nô- made, a atividade física mais significativa para esse homem antigo era a dança. Utilizada como forma de exibir suas qualidades físicas e de expressar seus sen- timentos, era praticada por todos os povos desde o paleolítico superior (60.000 a.C.). Os jogos também eram uma manifestação cultural e cumpriam um papel social de grande relevância. 13 Na Antiguidade Oriental, já é possível uma análise mais apurada das atividades físicas, no berço desse novo mundo, agora civilizado, com seus feitos registrados através da escrita. Podemos arriscar uma classificação onde identificaríamos finalidades de ordem guerreira, terapêutica, esportiva e educacional, apare- cendo sempre a religião como pano de fundo, como em todas as realizações orientais. Os chineses parecem ter sido os primeiros a racionalizar o movimen- to humano, dando-lhe forte conteúdo médico. Criaram, provavelmente, o mais antigo sistema de ginástica terapêutica, o Kong-Fou. Fotografia 1 – Kong Fou Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. O aspecto guerreiro do Kong-Fou, motivado por elementos espirituais, serviam também para avaliar o nível de assimilação do treinamento físico dos jovens, marcando profundamente a Educação Física oriental antiga. No Oriente Próxi- mo, foi o Egito que atingiu o mais alto grau de aperfeiçoamento no terreno es- portivo. As imagens que nos deixaram registram corpos fortes e esculpidos. Suas práticas esportivas eram bastante diversificadas: lutas, natação, remo, atletis- mo etc., construindo um verdadeiro sistema de Educação Física. A China talvez seja a possuidora da mais antiga história do esporte e foi a que mais influenciou a Educação Física no Extremo Oriente. Os chineses foram há- beis caçadores, lutadores, nadadores, praticantes de esgrima, do hipismo e de um esporte que hoje chamaríamos de futebol (tsu-chu). Deste, há registros que remontam o III século a.C. 14 Fotografia 2 – Tsu-chu Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. A civilização grega marcou o início de um novo ciclo com o nascimento de um novo mundo civilizado, agora o ocidental. Houve deslocamento do valor huma- no, da individualidade e o início da história da Educação Física. A filosofia pe- dagógica adotada pela educação grega teve o grande mérito de não divorciar a Educação Física intelectual e espiritual, considerando que o homem é somen- te humano quando completo: uma concepção que comunga corpo e espírito. A origem dos famosos jogos gregos – entre eles os Olímpicos – está situada neste período e materializada nos “jogos fúnebres”. Estes jogos constavam de oito pro- vas: corrida de carros, pugilato, luta, corrida a pé, combate armado, arremesso de bola de ferro, arco e flecha e arremesso de lança, demonstrando o ecletismo a que estavam submetidos os atletas-heróis nesse período. Fotografia 3 – Discóbolo Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. Com o declínio da civilização grega, a prática das atividades físicas vai per- dendo todos os seus ideais humanistas, os atletas começaram a especializar-se prematuramente, contrariando os objetivos educativos, estéticos e de saúde que IMAGEM TROCADA 15 foram tão perseguidos durante séculos. Surge a profissionalização e, com ela, a corrupção dos atletas e juízes, numa evidente traição aos princípios que haviam forjado a grandeza da civilização helênica. Os romanos, sob a influência grega, também edificaram seus estádios, que for- mam o principal cenário dos Jogos Olímpicos e estavam destinados às compe- tições atléticas e às lutas. Cabe ainda uma referência especial às termas, lu- xuosíssimas casas de banho que não cumpriam mais as finalidades higiênicas, mas simbolizavam o relaxamento dos costumes e caracterizaram o declínio do império romano. A Idade Média tem início com a divisão do Império Romano (395). Nesses idos, ve- mos a igreja como a única instituição que resistiu e se fortificou após a invasão dos bárbaros. Afogado em crenças e dogmas religiosos, surge um homem que só era encorajado à conquista da vida celestial. O total descaso pelas coisas mate- riais estabelecia um absoluto divórcio entre o físico e o intelectual. Só convinha a saúde da alma, onde o “nada para o corpo” era um princípio que suprimia a Educação Física do horizonte cultural desse momento histórico. Só obteve im- portância na preparação dos cavaleiros, que deviam ser muito hábeis na equita- ção, caça, esgrima, lança e arco e flecha. Os torneios e as justas representavam a culminância dos exercícios físicos dos cavaleiros. Ainda que a pedagogia oficial não concedesse estímulos à prática esportiva, quando falamos sobre esporte não podemos deixar de fazer referência à Ingla- terra que, desde essa época, destacava-se como o núcleo de uma mentalidade verdadeiramente esportiva no mundo ocidental. Ao contrário dos gregos – que consagraram um lugar de honra ao atletismo – o esporte medieval preferiu as atividades coletivas. Aqui, os jogos com bola exercerammaior atração, dentre eles o soule (ancestral do futebol e do rugby). Encontramos ainda a existência de centenas de jogos infantis praticados nos feudos, denotando a irresistível vo- cação lúdica do ser humano. 16 Fotografia 4 – Jogo de Soule Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. No século XIV, com o Renascimento, movimento intelectual, estético e social que representou uma reação à decadente estrutura feudal, há o resurgimen- to do antropocentrismo, em oposição ao teocentrismo medieval. Inspirado nas obras da Antiguidade Clássica, esse humanismo renascente voltou a exultar o belo, resgatando a importância do corpo. A Educação Física torna a ser assunto dos intelectuais, numa tentativa de reintegração do físico e do estético às preo- cupações educacionais. A Educação Física reintroduz-se nesses currículos elitis- tas, onde os exercícios físicos – o salto, a corrida, a natação, a luta, a equitação, o jogo da pelota, a dança e a pesca – constituem-se em prioridades para o ideal de educação cortesã. Inúmeros pensadores renascentistas dedicaram-se à reflexões sobre a impor- tância dos exercícios físicos. Da Vinci escreveu Estudo dos movimentos dos mús- culos e articulações, um dos primeiros tratados de biomecânica que o mundo conheceu. Rebelais defendeu as práticas naturais para a educação e, para isso, os jogos e os esportes deviam ser explorados. Montaigne exaltava a importância da atividade esportiva quando defendia que não só a alma deve ser enriquecida, mas também o corpo. Francis Bacon defendia a execução de exercícios naturais, havendo estudado a manutenção orgânica e o desenvolvimento físico pelo as- pecto filosófico. Todos foram precursores de uma nova tendência e avalizaram a inclusão da ginástica, jogos e esportes nas escolas. Suas ideias fertilizaram o campo onde, na segunda metade do século XVIII, foram fundamentados os ali- cerces da Educação Física escolar. Não podemos deixar de destacar a publi- cação de De Arte Ginástica (1569), escrita pelo médico italiano Mercuriale. Sua obra resumiu a literatura antiga sobre o assunto, dedicando à matéria um trata- mento médico que a tem caracterizado tradicionalmente. 17 É no século XVIII que podemos encontrar os reais precursores de uma Educa- ção Física que iria se firmar no horizonte pedagógico do século seguinte. Base- dow fundou em 1774, na Alemanha, o primeiro estabelecimento escolar com um currículo onde a ginástica e as disciplinas intelectuais tinham o mesmo peso. Salzmann funda em 1784, também na Alemanha, outra escola que reconheceu valores pedagógicos nos exercícios físicos. Considerado o fundador da escola primária, também Pestalozzi interessou-se pela Educação Física, chegando a fazer incursões no campo da metodologia, orientou a ginástica por parâmetros médicos, objetivando correções de postura. O século que se seguiu às Revoluções Industrial e Francesa encontrou um mundo diferente. Vários fatores foram determinantes para o verdadeiro renascimento físico que ocorreu na Idade Contemporânea, principalmente no campo ginás- tico. O crescimento das cidades e a consequente diminuição dos espaços livres limitavam as possibilidades de cenários apropriados aos exercícios físicos. A es- pecialização profissional determinou a permanência dos trabalhadores numa mesma posição durante várias horas, contribuindo para o aumento dos proble- mas posturais. Tudo ocorreu para que um verdadeiro renascimento físico levasse muitos a dedicarem uma atenção maior à Educação Física. Dentre estes, desta- caremos quatro correntes para caracterizar a história desta ciência durante o século XIX. A corrente Alemã, que representou um notável impulso pedagógico aos exercí- cios físicos, reencarnando os ideais clássicos da educação helênica, foi de certo modo, sufocada na Alemanha, com o aparecimento de um novo modelo ginásti- co de conteúdo patriótico-social. Na nova ginástica alemã – a palavra gymnas- tik foi substituída por turnkunst (arte da ginástica) – que ia ao encontro das ne- cessidades do povo, o importante era formar o corpo forte. Foram criados apa- relhos como a barra fixa e as barras paralelas, sendo os alemães os precurssores do esporte que hoje se chama ginástica artística. Na Dinamarca foi criado, em 1804, um instituto militar de ginástica, o mais an- tigo estabelecimento especializado do mundo. Quatro anos após, inaugurou-se um instituto civil de ginástica, também para formação dos professores de Edu- cação Física. Como coroamento, implantou-se obrigatoriamente a ginástica nas escolas, fazendo com que a Dinamarca se adiantasse em relação a outros países europeus. Porém, quem conseguiu promover o reconhecimento internacional da ginástica foi a Suécia, que pretendia que a ginástica colaborasse para elevar a 18 moral do povo. Esperavam obter por meio de uma ginástica científica e racional, uma raça livre do crescente processo de alcoolismo e tuberculose que grassava no país. A ginástica francesa foi introduzida por militares, que dominaram o panora- ma da Educação Física francesa ao longo do século XIX, esta era caracterizada pelo espírito militar e uma preocupação básica com o desenvolvimento da força muscular. A corrente francesa foi a que deu os primeiros estímulos para a cons- tituição dos alicerces da Educação Física brasileira. Apesar do êxito da ginástica, esses países não se conformaram em tê-la como único instrumento para a prática dos exercícios físicos. Baseada nos jogos e nos esportes, a corrente inglesa é a única das quatro, nesse período, com uma orien- tação não ginástica. Concebida para desenvolver a prática esportiva numa at- mosfera pedagógico-social, a Escola Inglesa incorporou, no âmbito escolar, o esporte com uma conotação verdadeiramente educativa, haja vista a impor- tância que era dada ao fair-play. 1.1.2 A Educação Física no Brasil Grande parte da história do Brasil é perpassada pela sua colonização. A educa- ção talvez tenha sido o setor que mais sofreu os efeitos de um processo de trans- plantação cultural, e a educação Física não foi exceção. Em 1808, com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, se tem também o início da Educação Física em nosso país. Os primeiros livros sobre a matéria chegaram incluindo, em seu conteúdo, assuntos absolutamente diversos da Educação Física atual: euge- nia, puericultura, gravidez etc. O Ginásio Nacional (hoje Colégio Pedro II), criado em 1837 como instituição modelo, incluiu a ginástica em seu currículo. Em 1851, começa a legislação referente à matéria, obrigando a prática da ginástica nas escolas primárias do município da Corte (Rio de Janeiro). No final do império, foi recomendada a utilização da ginástica alemã nas escolas, que havia sido ado- tada nos meios militares. No período imperial, são duas as grandes áreas que influenciaram a Educação Física: a médica e a militar. A primeira, por intermédio de diversas teses da Fa- culdade de Medicina, onde o tema era a Educação Física. A segunda, a partir 19 de 1858, onde o exercício físico se tornou obrigatório nas Escolas Militares, o que acabou servindo como meio de divulgação das atividades físicas. No âmbito es- portivo, o remo era o mais importante esporte da época. No setor educacional, a intelectualidade brasileira já demonstrava preocupação com a Educação Físi- ca, a maior dessas manifestações aconteceu por intermédio de Rui Barbosa. Os seus pareceres, datados de 1882, sobre a Reforma de Ensino Leôncio de Carva- lho, constituíram-se num pequeno tratado sobre a Educação Física. Após a Abolição e a Proclamação da República, as expectativas de vida na so- ciedade brasileira estavam alteradas: a mudança dos jovens para os grandes centros, a iminência da sedentarização provocada pela revolução nos meios de transporte,e crescente imigraçãoforam impulsos decisivos em relação à preo- cupação mais sistemática com a Educação Física. O futebol, importado da Ingla- terra em 1894, inicialmente praticado pelas classes privilegiadas, rapidamente se popularizou. Além do futebol, vários esportes são introduzidos ainda no século passado: a natação (1896), o basquete (1898), o tênis (1898), entre outros. Interessante notar que, enquanto o esporte se popularizava entre os homens, as mulheres estavam participando apenas como expectadoras. A inserção das mulheres brasileiras no mundo do esporte é datada de meados do século XIX. No entanto, é a partir das primeiras décadas do século XX que a participação se amplia adquirindo, portanto, maior visibilidade e experimentação de novas possibilidades culturais. Nesses primeiros anos, os ventos da modernidade anun- ciam, nas cidades brasileiras, a urbanização intensificando a circulação públi- ca. A educação do corpo é reconhecida como essencial ao desenvolvimento econômico e ao fortalecimento da nação, desenhando outro estilo de vida: pú- blica, coletiva, eufórica, cujas ofertas de diversão abraçam homens e mulheres, redimensionando hábitos e práticas cotidianas, acrescidas de inúmeras outras possibilidades. Merece destaque especial na Educação Física escolar a presença do professor Arthur Higgins, defensor do método sueco de ginástica. Publicou seu livro em 1896 e, alguns anos depois, foi adotado oficialmente no então Distrito Federal. A introdução do Método Francês foi também um fato marcante, foi trazido por militares que serviram na Missão Militar Francesa. Adotada nas forças armadas, a sua obrigatoriedade foi estendida à esfera escolar. A década de trinta dispensa ao esporte, principalmente ao futebol, uma popularidade que já o coloca como fenômeno social. Também a ginástica começa a popularizar-se. Ao final dos 20 anos trinta, surge a Escola Nacional de Educação Física e Desportos, integrada à Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), e teve o seu corpo docente treinado por médicos e professores. Fotografia 5 – Aulas de Ginástica Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. Por ocasião da implantação do Estado Novo, a Educação Física passa a servir como instrumento ideológico. E, pela primeira vez, aparece explicitamente numa Carta Constitucional (1937). Institui-se a “juventude brasileira”, onde es- tavam inscritos compulsoriamente todos os estudantes. Os “centros cívicos es- colares” foram subprodutos daquela “juventude”. Nesses centros, a prática da Educação Física e a participação em comemorações e desfiles cívicos eram fun- damentais para a consolidação da ditadura instalada. Até a década de cinquenta, a Educação Física escolar continuou aprisionada ao Método Francês e, em seguida, com a vinda de professores estrangeiros, esse panorama começou a se alterar. Em relação ao esporte de alto nível, o Brasil projeta-se como potência em quase todas as modalidades no confronto sul e pan-americano. Como podemos perceber no exposto acima, a Educação Física no Brasil e no mundo sofreu influência de várias áreas: médica, pedagógica, militar, entre ou- tras; e algumas delas permanecem até os dias atuais. Veremos agora a opinião de alguns especialistas na tentativa de definir o que é a Educação Física. 21 Segundo Kolyniank Filho (1996), há diferentes entendimentos do significado da Educação Física, sendo tal diversidade de significados decorrente de pressupos- tos filosóficos variados e de referência a diferentes (embora correlacionadas) esferas de práticas sociais. Segundo o contexto e a intenção com que é utilizada, a Educação Física pode significar: um conjunto de práticas sistematizadas, voltadas para o desenvolvi- mento de propriedades motoras do organismo humano. Práticas essas que po- dem ocorrer em diferentes contextos institucionais ou mesmo informalmente; um componente curricular de processos educacionais formais, que têm lugar na instituição escolar; uma área de conhecimento, que estuda determinados fe- nômenos através da metodologia científica e sistematiza o conhecimento assim produzido, organizando-os em conjuntos de proposições correlacionadas, que podem constituir teorias. Os diferentes significados atribuídos à Educação Física constituíram-se de práti- cas sociais concretas que sempre foram atravessadas por ideologias específicas, reflexo da organização sociopolítica - econômica. Por isso, jamais foi neutra e vem sendo utilizada como elemento constitutivo da perpetuação das relações sociais, em diferentes épocas e sociedades. E também pode ser um elemento no processo de transformação da sociedade (KOLYNIAK FILHO, 1996). Contudo, Valter Bracht (2007) entende que o uso do termo Educação Física, fun- damentalmente, está relacionado a uma prática pedagógica que tematiza com a intenção pedagógica as manifestações da cultura corporal de movimento. Esse entendimento, segundo o autor, está longe de ser unânime, pois convive com vários outros que estendem o significado do termo para, por exemplo, todas as manifestações da cultura corporal de movimento, ou então, como é mais co- mum, para todos os campos de atuação do profissional de Educação Física. O campo acadêmico da Educação Física ou da EF/CE (Educação Física/Ciências do Esporte), como convencionou-se chamá-la no interior do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), é hoje cruzado e recortado por basicamente três diferentes perspectivas de caracterização ou de delimitação: 22 a) tentativa de delimitação de um campo acadêmico que teorize a prática pedagógica que tematiza manifestações da cultura corporal de movi- mento, ou seja, teorizar aí estaria voltado para a construção de uma teo- ria da Educação Física entendida enquanto prática pedagógica; b) tentativa de construir um campo interdisciplinar a partir das Ciências do Esporte, que, em alguns casos, reivindica uma Ciência do Esporte voltada para as necessidades da prática esportiva; c) a tentativa de construção de uma nova ciência, a Ciência da Motricidade Humana (BRACHT, 2007). Já para alguns autores como Nahas, Pires e Waltrick (1995) e Guedes e Guedes (1993), influenciados pelo movimento AFRS (Atividade Física Relacionada à Saú- de) caberia a Educação Física promover estilos ativos de vida por meio da trans- missão de conhecimentos, entre outras formas. A ideia central é contribuir para a melhoria da saúde da população, cabendo à Educação Física escolar criar nos alunos o hábito do exercício físico. Para tanto, as pessoas deveriam ser capazes de: selecionar as atividades que satisfariam suas necessidades e interesses; ava- liar e resolver seus próprios problemas de aptidão física, o que implicaria uma diversificação e ampliação dos conteúdos trabalhados na Educação Física. Como podemos perceber, os significados atribuídos à Educação Física são diver- sos dependendo da corrente filosófica que os embasam. Na próxima aula apre- sentaremos alguns conceitos de termos que são recorrentes em nossa área. 1.2 CONCEITO DE ATIVIDADE FÍSICA, EXERCÍCIO FÍSICO E EDUCAÇÃO FÍSICA Ao final deste texto, espera-se que você tenha aprendido a identificar os dife- rentes conceitos de atividade física, exercício físico e educação física. O conceito de atividade física é constantemente confundido com exercício físi- co. Enquanto o primeiro é considerado qualquer tipo de movimento corporal que 23 produz gasto energético acima dos níveis de repouso, o exercício físico caracte- riza-se por ser planejado, estruturado e repetitivo, com o objetivo de desenvol- ver aptidão física e habilidades motoras. A atividade física é, portanto, um conceito muito amplo e representa atividades simples que vão desde levantar da cama pela manhã, escovar os dentes e se vestir, até os exercíciosfísicos mais complexos, como é o caso dos esportes. Vejamos a conceituação de alguns estudiosos da área sobre os conceitos de: 1.2.1 Atividade física y São movimentos corporais voluntários, intencionalmente realizados e orientados para a consecução de um ou mais objetivos identificados (HOFFMAN, 2002). y Engloba todas as formas de movimentação corporal, com gasto energéti- co acima dos níveis de repouso (CASPERSEN; MATHEW, 1997). y Inclui exercícios físicos (entende-se ginástica) e esportes, deslocamen- tos, atividades laborais, afazeres domésticos e outras atividades físicas de lazer (NAHAS, 2003). 1.2.2 Exercício físico y Tipo de atividade física realizada para melhorar a saúde e/ou alterar a aparência corporal do indivíduo (HOFFMAN, 2002). y Representa uma das formas de atividade física, planejada, sistemática e repetitiva, que tem por objetivo a manutenção, desenvolvimento e re- cuperação de um ou mais componentes da aptidão física (NAHAS, 2003). 24 1.2.3 Educação Física y A Educação Física enquanto componente curricular da educação formal tem o objetivo de sistematizar e transmitir, numa perspectiva crítico-re- flexiva, a cultura do movimento humano tematizada nas ginásticas, nos esportes, nos jogos populares e nas danças (RESENDE, 1992). y A Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, te- matiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conheci- mento que podemos chamar de cultura corporal (SOARES et al., 1992). Podemos citar como exemplo de algumas atividades do movimento corporal humano: as danças, os esportes, as lutas, as ginásticas, os jogos populares, entre outros. E como alguns objetivos que motivam a prática dessas atividades físicas: a promoção da saúde, o lazer, a estética corporal, a educação formal, a preven- ção de doenças, o alto rendimento esportivo, a educação e a reeducação moto- ra, o condicionamento físico, o bem estar etc. 1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, você pode estudar como se constitui a Educação Física ao longo de sua história no Brasil e no mundo. Sendo esta uma disciplina que trata da cul- tura do movimento humano e tem como objeto de conhecimento a ginástica, o jogo, o esporte e a dança. Os sentidos atribuídos à prática das atividades físicas e esportivas pelos sujeitos podem estar relacionados à promoção da saúde, ao lazer, ao rendimento físico-esportivo, entre outros. A prática de atividade física no Brasil e no mundo tem sido muito pesquisada e cresce o interesse à medida que se confirma sua contribuição para a prevenção de diversas doenças e melhora da qualidade de vida. Diversos temas têm sido foco de estudos na área que muito tem proporcionado à Educação Física ampliar suas fronteiras e participar de estudos e intervenções em equipes multidiscipli- nares. Podemos citar alguns exemplos de questões que têm demandado estudos na área: Qual o ponto de vista da população sobre a atividade física? Qual a prevalência de atividade física entre diferentes grupos populacionais? Quais as 25 barreiras relacionadas à atividade física, identificando os fatores que impedem os indivíduos de iniciar ou manter a atividade física? Qual o conhecimento da população sobre os benefícios da atividade física? Estas questões relacionam-se às demandas culturais para a prática da atividade física, do exercício físico e da Educação Física pelas nossas crianças, jovens e adultos. 27 2 AS DEMANDAS SOCIOCULTURAIS DA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Ao final desta parte, espera-se que o aluno seja capaz de analisar as diferentes manifestações e expressões identificadoras da prática da Educação Física e a motivação de seus praticantes. A prática regular de atividades físicas vem ganhando cada vez mais importância entre pesquisadores e estudantes de Educação Física. Observa-se um aumento no número de estudos relacionados ao tema ao longo dos últimos anos em diver- sas localidades do Mundo, abordando populações de diferentes faixas etárias. Assim, a preocupação com os altos níveis de inatividade física das populações parece ser um movimento mundial comum tanto em países desenvolvidos quan- to nos em desenvolvimento. A maioria desses estudos (BORRACCINO et al., 2009; KALUSKI et al., 2009; LEE et al., 2009) cita a importância da atividade física para a melhora na saúde das pessoas. Seja como forma de prevenção a doenças muito comuns na modernidade, seja como forma de tratamento das mesmas, ou para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. A regularidade na prática de ati- vidades físicas é frequentemente apresentada como um tratamento eficaz para estas doenças (CARDON et al., 2005; DUNCAN; DUNCAN; STRYCKER, 2005; HALLAL et al., 2006; SEABRA et al., 2008; TENÓRIO, 2007). Contudo, devem-se entender as atividades físicas como integrantes da cultura corporal de movimento, consequentemente o acesso a essas práticas deveria ser garantido a todos os cidadãos (SOARES et al., 1992). Desta forma, os programas de promoção de atividades físicas são uma questão, antes de tudo, de cidadania. No entanto, observa-se que, na maioria dos casos, a responsabilidade pela práti- ca de atividades físicas é repassada quase que integralmente para os indivíduos. Consequentemente, o cidadão se torna o único responsável pelos seus próprios hábitos, como se nenhum outro fator colaborasse para facilitar ou dificultar a 28 prática de atividades físicas no dia-a-dia. Nesse sentido, indaga-se: que fatores impedem os indivíduos de iniciar ou manter uma atividade física? Quais as bar- reiras estariam relacionadas à prática da atividade física? A atividade física está sendo incluída, cada vez mais, na vida diária de milhares de pessoas em todo o mundo e esse sucesso ocorre, em parte, devido aos resulta- dos adquiridos pelos seus praticantes. Nos últimos tempos, observa-se um gran- de número de adeptos das atividades físicas com objetivos bastante distintos: terapia, reabilitação, performance, lazer, estética, manutenção da saúde, entre outros. A procura pela prática de atividades e/ou exercícios físicos vem confir- mando a popularidade e a importância desta para a saúde e qualidade de vida das populações. Entretanto, algumas questões nos inquietam neste cenário: será que o acesso à prática da atividade física tem sido para todos em nossa sociedade? Qual a re- presentação sobre a atividade física da nossa população? Qual a prevalência de atividade física entre diferentes grupos populacionais? Qual o conhecimento da população sobre os benefícios da atividade física? 2.1 TIPOS DE ATIVIDADES DA CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO E OS OBJETIVOS DOS SEUS PRATICANTES Estudos vêm demonstrando que a atividade física regular reduz o risco de algu- mas doenças cardiovasculares, ajuda no controle da pressão arterial, mantém a autonomia e a independência do idoso, auxilia no controle de peso corporal, promove o bem-estar psicológico, contribui para a melhoria da qualidade de vida e para os níveis de sociabilidade de seus praticantes, dentre outros bene- fícios (ARAÚJO, 2002; NAHAS, 2003). Apesar destas evidências, a prevalência de sedentarismo ainda é muito alta tanto em países ricos, quanto naqueles de ren- da média ou baixa. Ainda mais preocupantes são as evidências de que a aptidão física de adolescentes vem apresentando tendências de declínio em algumas populações. No Brasil, há poucos estudos de base populacional ou escolar so- bre atividade física em adolescentes e estes, embora apresentem tendência ao sedentarismo, relatam prevalências muito variadas em seus resultados (HALLAL et al., 2006). Outras investigações também constatam que os níveis de sedenta- 29 rismo da população brasileira são altos, entretanto o sedentarismo é um fator de risco modificável, tantopor meio da educação e informação da necessidade da atividade física para a população, quanto da disponibilização de áreas para estas práticas, através da disseminação de políticas públicas, interferindo posi- tivamente na vida das crianças, dos jovens e dos adultos do Brasil. Já se tem al- gumas evidências de que pais ativos aumentam as chances de o jovem praticar esportes. No entanto, estas ainda são pouco conclusivas porque faltam estudos de países em desenvolvimento, como o Brasil. Diversas são as razões que levam as pessoas a praticarem atividades físicas e es- portivas na nossa sociedade Como vocês podem observar em seu cotidiano, uma das modalidades mais pro- curadas atualmente pelos interessados em praticar a atividade física regular tem sido a musculação. É possível que você seja um praticante desta modalida- de de atividade física, que se caracteriza por um tipo de exercício físico que se utiliza de máquinas ou aparelhos com carga, permitindo a execução de movi- mentos mais concentrados em grupos musculares específicos. Observamos que a prática da musculação é procurada muitas vezes pelos seus praticantes com diferentes finalidades, entre elas podemos destacar: a) a estética (harmonia corporal); b) o aspecto recreativo (quebra das tensões); c) a dimensão profilática (prevenção de doenças); d) a terapêutica (recuperação ou correção de alguma desarmonia, redução do estado atual de ansiedade); e) a competição (culturismo); f) a preparação física (condicionamento físico). Isso tudo faz desta atividade uma das preferidas nas academias. Neste exemplo, foi possível evidenciar que a busca pelas práticas de atividade física hoje podem 30 ocorrer a partir de diferentes motivações. Desta forma, pode-se afirmar que a prática de atividade física regular através do tempo melhora o aspecto físico, emocional e social, atraindo significativamente o interesse das pessoas, sobre- tudo se considerarmos que, no mundo contemporâneo, é comum o acumulo de tensão e cobranças, acarretando inúmeras vezes um estresse físico e/ou mental, podendo prejudicar o desempenho e, consequentemente, a saúde dos indiví- duos. Neste contexto, as práticas de atividades físicas e esportivas ao longo dos anos vêm se tornando uma atividade importante para a manutenção da saúde. Desta forma, estimular os sujeitos a sua prática, para que possam ampliar suas capacidades físicas, mental e social tem sido uma das preocupações e intenções dos educadores físicos. Contudo, alguns pesquisadores, embora não diminuam a importância da prática de atividades físicas para a prevenção de doenças e para a melhoria da apti- dão física, destacam a relevância na relação existente entre práticas físicas e sentimento de gosto, prazer e felicidade. As atividades físicas são reconhecidas como um forte elemento cultural e fenômeno social, sendo considerada um di- reito constitucional para toda a população (CASTRO; MALO, 2006). Nesse sentido, Farinatti (1994) afirma que programas que visem ao aumento de envolvimento com práticas de atividades corporais não tratam apenas de saúde pública, mas também de cidadania. Talvez, exatamente o caráter moralista como a atividade física vem sendo tratada por muitos profissionais da área e o relativo abandono da perspectiva de gosto pela prática sejam responsáveis pelos baixos níveis de participação em atividades físicas de adolescentes (LOVISOLO, 1997). Outros fatores também apontados como colaboradores para os baixos níveis de atividades físicas parece ser o desenvolvimento tecnológico e urbano, que mu- dam constantemente as formas de trabalho, de lazer e de deslocamento. Tal desenvolvimento diminuiu os espaços de lazer, além de aumentar o conforto e fazer surgir, ou valorizar, novos meios de diversão durante o tempo livre (CES- CHINI et al., 2008). Outro fenômeno ocasionado pelo crescimento urbano, rela- tivamente novo nos grandes centros, é a violência. Ela colabora para afugen- tar a população da prática de atividades físicas em espaços abertos, como ruas e quadras públicas, além de limitar o horário de prática em outros ambientes. Conforme citado por Ceschini, Florindo e Benício (2007), talvez sejam os jovens e adolescentes os mais prejudicados, sendo obrigados por seus pais a permanece- rem dentro de casa, rendendo-se a atividades de lazer com menos dispêndio de energia, como assistir TV, jogar vídeo game ou utilizar o computador. 31 Desse modo, a mudança no estilo de vida e nos hábitos sociais adotados mais claramente pelas crianças e adolescentes a partir da segunda metade do século XX, com a entrada na era tecnológica, traça o perfil do jovem que se encontra hoje em dia, ou seja, aquele que destina o seu tempo aos estudos, lazer e amigos, geralmente em atividades passivas fisicamente ou com pouco gasto energético (SOUZA, 2003). Assim, a prática de atividades físicas não pode ser tratada unica- mente como um meio de promoção de saúde e nem ser considerada um ato de responsabilidade do próprio sujeito. O acesso a essas práticas deve ser garantido a todos, assim como uma visão crítica sobre esse acesso, para que o indivíduo possa decidir se deseja ou não participar dessas atividades. Dessa forma, verificamos que as intenções motivadoras das práticas de ativida- des físicas podem estar relacionadas ao: y Lazer/gosto. y Estética corporal. y Educação formal. y Promoção da Saúde. y Alto rendimento esportivo. y Educação e reeducação motora. y Condicionamento físico e bem estar. Os esportes, as ginásticas, os jogos, as danças e as lutas enquanto conteúdos da Educação Física na perspectiva da Cultura Corporal do Movimento, entendida como um sistema de movimentos intencionalmente ritualizados (BETTI, 1994) e culturalmente codificados podem ser praticados com diferentes objetivos e in- tenções e em diferentes espaços: nas escolas, nos clubes, nas academias, nos postos de saúde, nos hospitais, nos condomínios, nos projetos socioesportivos e de lazer, entre outros. A Educação Física como um campo de prática sociocultural e de prática profis- sional que se fundamenta em diferentes disciplinas científicas articula seus co- 32 nhecimentos com áreas como a biológica, sociológica, antropológica, histórica, psicológica, filosófica, pedagógica, entre outras. Para analisarmos o homem e a mulher (criança, jovem adulto e idoso) em mo- vimento, precisamos compreender suas diferentes expressões, manifestações, contextualizadas na cultura. De acordo com Taborda (1999), os estudos em bio- mecânica, em aprendizagem motora, em biologia do exercício e em outras áreas devem servir de suporte científico para o desenvolvimento das práticas corpo- rais, tanto quanto os estudos filosóficos, sociológicos, antropológicos, históricos, uma vez que estes também são manifestações expressas da cultura. O autor aponta que as práticas corporais e de atividades físicas não podem con- tinuar sendo entendidas apenas como manifestação sinestésica (habilidade de usar o corpo para expressar uma emoção – dança e linguagem corporal – ou praticar um esporte), uma vez que trazem em si a conformação dos signos so- ciais, sua representação e transmissão. E o profissional de Educação Física pre- cisa compreender-se como aquele intelectual responsável pela organização e sistematização competente e pela crítica das práticas corporais. A intenciona- lidade e a significação do movimento humano no plano da cultura o diferen- ciam fundamentalmente do movimento dos demais seres. Entendemos cultura de acordo com Geertz (1973, p. 15): o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. Somente o homem écapaz de produzir cultura e a Educação Física só existe como construção humana e não como um a priori natural. Todos os conteúdos da Educação Física têm sua conformação no jogo cultural. As novas práticas emergentes são respostas da própria cultura à saturação dos modelos ou práticas passadas, o que implica claramente a necessidade de compreensão da dinâmi- ca histórica e cultural das práticas corporais (KOLYNIAK FILHO, 1996). A Educa- ção Física muito em breve “deverá ser” a disciplina escolar capaz de aglutinar em torno dela a totalidade e a complexidade das manifestações corporais dos sujeitos no plano da cultura. 33 2.2 CAMPOS DE ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSSICA: ALGUNS EXEMPLOS Para pensarmos os campos de atuação do professor de Educação Física, deve- mos deixar claro inicialmente que a ação pedagógica, ou seja, o ato de ensinar, não se dá somente nas escolas. Ao organizar e transmitir o conhecimento pen- sando na melhor forma de aprendizagem do aluno seja no clube, na academia, no projeto socioesportivo etc., estamos também educando os alunos para a cul- tura corporal de movimento. Tomemos também como referência o pensamento de Bourdieu (1983), que de- monstra que diferentes campos apresentam diferenças ou similitudes funcio- nais, de onde se destacam as especificidades, bem como o grau de autonomia de cada um em relação a outros. Assim sendo, nos campos de atuação do pro- fessor de Educação Física existem similitudes profissionais advindas da base de conhecimento comum da profissão (anatomia, fisiologia, aprendizagem moto- ra, cinesiologia, didática, sociologia, psicologia etc.) e diferenças específicas de cada campo (as técnicas de aprendizagem do nado peito, elaboração da ficha de musculação, sistema tático do futebol) de acordo com o campo de atuação do professor. Existem trabalhos que identificam mais de trinta possíveis campos de atuação do professor de Educação Física, sendo que, em todos os setores é este profissional quem define o tipo de atividade física mais indicada para cada pessoa, orienta quanto à postura, intensidade e frequência de cada exercício, sempre norteados pelos objetivos dos beneficiários (OLIVEIRA, 2011). Isto é, ensinam e orientam os alunos em atividades relacionadas à cultura corporal de movimento. Para ilustrar esses possíveis campos de atuação do professor de Educação Física mostraremos alguns exemplos: y Campo escolar: atuam nas escolas da Educação Infantil ao Ensino Médio, tendo como conteúdo a ser ministrado a cultura corporal de movimento humano (os jogos, as danças, as lutas, os esportes, as artes circenses etc.) 34 Fotografia 6 – Campo escolar Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. y Campo esportivo: atuam da iniciação ao treinamento de alto nível nos diferentes esportes, do esporte competitivo ao recreativo. Essa atuação pode-se dar em escolas, clubes recreativos ou esportivos, associações, no desporto comunitário etc. Fotografia 7 – Campo esportivo Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. y Campo da saúde: atuam na melhora da capacidade física, assim como na reabilitação e prevenção de doenças. A atuação pode se dar em hos- pitais, academias, clínicas, parques, praias, residências, empresas, fábri- cas etc. 35 Fotografia 8 – Campo da saúde Fonte – Disponível em: <http://blogdamimis.com.br/wp-content/uploads/2012/12/muscula- cao-2-blogda-mimis.jpg>. y Campo do lazer: atuam na promoção de programas de recreação e lazer em colônias de férias, praças, parques, clubes, spa’s, esportes de aventu- ra, acampamentos, hotéis. Fotografia 9 – Campo do lazer Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. y Campo administrativo: atuam na organização, gestão e supervisão de eventos e programas esportivos, de lazer e de promoção de saúde, na parte de recursos humanos, financeiros, material; em consultorias. Po- dendo atuar em clubes, secretarias, hotéis etc. Portanto, depreende-se que o professor de Educação Física atua em atividades físicas, nas suas diversas manifestações – das ginásticas, dos exercícios físicos, dos desportos, jogos, lutas, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáti- cas, da reabilitação e a ergonomia, do relaxamento corporal, yoga, exercícios 36 compensatórios à atividade laboral, perpassando por outras práticas corporais, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis ade- quados de desempenho e condicionamento físico-corporal dos seus beneficiá- rios. Visando também à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda para o fomento da autonomia, da autoestima, da coopera- ção, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a pre- servação do meio ambiente (OLIVEIRA, 2011), assim como no ensino da cultura corporal de movimento. Destaca-se que, no contexto histórico atual, a formação profissional passa por profundas modificações oriundas das transformações nas práticas econômicas, sociais, políticas, culturais, entre outras, exigindo, portanto, uma reestrutura- ção da sociedade nos seus mais diferentes setores. Para atender às demandas do mercado de trabalho, surgem novos campos de trabalho e de atuação dos profissionais nas mais diversas áreas assim como na Educação Física. Além dis- so, o avanço da ciência e da tecnologia também provoca mudanças e requer dos profissionais novos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores. Assim, os campos de atuação estão em constante transformação. 2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta parte, conhecemos os diferentes campos de ação pedagógica do professor de Educação Física, tendo em mente que o ato de ensinar não se dá somente no ambiente escolar. Percebemos também que a cultura corporal possui diferen- tes manifestações culturais, exigindo características diversas do professores que atuam nas diferentes áreas. Os fatores que levam as pessoas a praticarem alguma atividade física são diver- sos: estética, saúde, lazer etc., mas o número de praticantes destas atividades ainda é pequeno frente aos benefícios da mesma. Assim temos que pensar o que nós, professores de Educação Física, podemos realizar em nossas aulas para re- verter esse quadro. Como motivar e tornar as atividades físicas cada vez mais prazerosas para nossos alunos? 37 3 OS CAMPOS DE CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Ao final desta seção, espera-se que o aluno identifique os diferentes campos de conhecimento da Educação Física, suas relações e especificidades, com suas dimensões epistemológicas. Fotografia 10 – Campos de atuação Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. Mas afinal, o que é Educação Física? A pergunta parece simples, mas tem sido feita e refeita diversas vezes pelos estudiosos da área, em diferentes momentos da sua história. Na seção 1, já apresentamos, na perspectiva histórica da Edu- cação Física, uma parte deste debate quando analisamos o livro O que é Educa- ção Física, de Vitor Marinho de Oliveira, suscitando inúmeros debates no campo acadêmico. Na seção 3, voltamos ao tema, tendo como referência os campos do conhecimento. 38 A respeito da “crise de identidade”1 da Educação Física, são levantadas questões como: y Educação Física é uma ciência ou uma disciplina científica? y Quais são as bases de conhecimento da Educação Física: as ciências na- turais ou as ciênciashumanas? y Qual o campo de atuação da Educação Física? Estas entre outras perguntas ainda estão presentes no debate da disciplina e não encontram um consenso entre os estudiosos da área. Na Seção 3, vamos apresentar um panorama desse debate, a sua construção histórica e as diferentes vertentes filosóficas. Assim como os campos do conhe- cimento científico e do conhecimento técnico que fundamentam a intervenção profissional de Educação Física. 3.1 O DEBATE EPISTEMOLÓGICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Vários profissionais, ao longo das últimas décadas, procuram estabelecer as ba- ses epistemológicas da Educação Física, o que resulta em um trabalho de gran- des proporções e de intensa pesquisa acadêmica. Provavelmente por ser a Edu- cação Física um campo interdisciplinar, a missão de estabelecer os critérios epistêmicos torna-se quase impossível. A epistemologia no campo da Educação Física se refere a: os pressupostos teóri- co-filosóficos presentes nos diferentes projetos de delimitação da Educação Fí- sica como um possível campo acadêmico-científico [...] os fundamentos teórico balizadores dos distintos discursos da Educação Física [...] como interrogação constante dos saberes constituídos (SÁNCHEZ GAMBOA, 2010). E a compreensão da epistemologia geral se refere ao estudo da natureza do conhecimento, a sua justificação e seus limites 1 Poderíamos definir como “crise de identidade” da Educação Física a busca de definição dos estudiosos da área sobre ‘o que é Educação Física e qual a sua função’. 39 Tendo em vista que o pensamento epistemológico da Educação Física brasileira que pretendemos apresentar, comporta uma multiplicidade de formulações e posições, optamos por desmembrá-los em dois blocos ou duas vertentes: a ver- tente científica e a vertente pedagógica (LIMA, 2000). Na vertente científica temos as proposições: a Ciência da Motricidade Humana (SÉRGIO, 1991, 1994), a Ciência do Movimento Humano (CANFIELD, 1993), a Cine- siologia (TANI, 1996), e a(s) Ciência(s) do Esporte (GAYA, 1994). A vertente pedagógica, por sua vez, temos as seguintes proposições: a cultura corporal de movimento: a prática pedagógica da Educação Física como eixo integrador (BRACHT, 1992, 1993, 1996, 1997); a Educação Física como ciência da prática: do “colonialismo epistemológico” a articulação de um campo interdis- ciplinar (SANCHEZ GAMBOA, 1994); a Educação Física como arte da mediação (LOVISOLO, 1995, 1996); e a Teoria da Educação Física como um campo dinâmico de pesquisa e reflexão (BETTI, 1996). Vejamos um pouco mais detalhadamente as proposições de cada vertente. Na ver- tente científica tanto Manuel Sérgio, como Canfield e Go Tani compartilham da ideia da necessidade de se construir uma área do conhecimento que tenha o mo- vimento humano ou a motricidade humana como objeto de estudo, bem como do fato de a denominação “Educação Física” ser restritiva e inadequada para expres- sar toda a abrangência dessa área. Todavia Canfield e Tani têm o mesmo enten- dimento de que os conhecimentos produzidos, seja nos termos da Cinesiologia ou da Ciência do Movimento Humano, poderiam ser utilizados em outras áreas além da Educação Física: Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Enfermagem, Medicina etc. No que concerne à problemática da crise de identidade da Educação Física as proposições feitas pelos autores de uma nova ciência, seja com a denominação de Ciência da Motricidade Humana, Ciência do Movimento Humano ou ainda Ci- nesiologia, convergem para o mesmo ponto, conferir cientificidade a Educação Física, considerando essa busca imprescindível para a sustentabilidade (legiti- midade) da Educação Física no campo acadêmico-universitário e social. Ainda dentro da vertente científica encontramos também a proposta de Gaya (1994) das Ciência(s) do Esporte, que apesar de possuir um caráter pedagógico, essa proposta tem como base as ciências do movimento humano: cinesiologia, fisiologia, aprendizagem motora etc. 40 Se para os representantes da vertente científica a questão primeira é a consti- tuição de uma nova ciência, independente dos contornos que esta irá se revestir (Ciência da Motricidade Humana, Ciência do Movimento Humano, Cinesiologia, Ciência(s) do Esporte), recebendo a Educação Física um tratamento secundário, para os representantes da vertente pedagógica, a Educação Física (como prá- tica pedagógico/social) está no centro de suas preocupações (LIMA, 2000). De fato, existem entre os autores algumas divergências, mas todos parecem con- vergir no ponto em que a Educação Física é o ponto de partida e de chegada de suas reflexões, comprometendo-se com ela, inclusive na nomeação de Educa- ção Física. Dentro da vertente pedagógica temos Bracht (1992, 1993) e Sanchez Gamboa (1994, 1996) fundamentando-se em Schmied-Kowarzik (1983) visualizando a possibilidade de a Educação Física vir a se constituir, a exemplo da Pedagogia, como a “Ciência da Prática”, ou seja, uma ciência da e para a ação educativa. Enquanto Bracht vê a necessidade da construção de uma disciplina síntese ou articuladora que possa fornecer o saber necessário para orientar a prática dos educadores, Gamboa, na mesma linha, propõe a articulação de um campo in- terdisciplinar que teria como eixo “a natureza e a especificidade da Educação Física” (motricidade humana, movimento humano, a corporeidade, a conduta motora etc.). Assim, conforme Gamboa, a pesquisa em Educação Física se de- senvolveria evitando segmentação dos saberes através da interdisciplinaridade. Embora em escritos posteriores Bracht reformule e incorpore novos elementos a sua posição inicial, sua preocupação central continua sendo a mesma: en- contrar uma “problemática teórica compartilhada” ou “um elemento integra- dor” que possa conferir uma unidade (seja disciplinar ou interdisciplinar) para o campo acadêmico da Educação Física. O autor defende a tese de que essa “pro- blemática compartilhada” seja a “prática pedagógica da Educação Física”, isto é, seria necessário organizar o campo objetivando a construção de uma teoria da Educação Física, entendida como uma prática pedagógica. Assim, o olhar que orientará a reflexão (na busca de orientações e compreensões) sobre o mo- vimentar-se humano e suas objetivações culturais (cultura corporal de movi- mento), seria o pedagógico. Na década de 1960, Betti (1996) diagnostica, que a EF se “despedagogiza” e ga- nha um discurso cientificista fundamentado a partir das ciências-mães, onde os profissionais da área passam a se especializar em sub-disciplinas como a fi- 41 siologia do esforço e a biomecânica, e não em Educação Física, e a reivindicar o status de ciência. Na mesma linha de Bracht cuja preocupação central é a construção de uma teoria para a Educação Física, o autor propõe uma “Teoria científica da Educação Física” compreendida como um campo dinâmico de pes- quisa e reflexão, que emergiria, fundamentalmente, a partir das questões que a prática dos profissionais coloca. Para o autor, o interesse social pelas atividades corporais de movimento teria aberto um espaço socialmente legitimado para a pretensão da constituição da Educação Física como espaço de conhecimento. Já Lovisolo (1995, 1996) compreende a Educação Física como a “Arte da Media- ção”. Por não acreditar nas pretensões de cientificidade ou tentativas de cons- trução de uma nova ciência ou área disciplinar que substitua a multidiscipli- naridade dos enfoques disciplinares presentes no campo das ciências que estu- dam os esportes, a atividade corporal e a Educação Física (proposições como a da Ciência da Motricidade Humana, Ciência do Movimento Humano, Cinesiolo- gia, Ciência(s) do Esporte), acredita na mediação entre as disciplinas, conheci- mentos científicos, técnicas, artes e saberes; mediação entre valores e objetivos sociais intencionando a construção de propostas ou programas de intervenção(programas de atividades corporais). Lovisolo (1997) explica que o problema da hegemonia deriva da vontade, por incidências da cultura universitária e da va- lorização da ciência, de querer converter uma área originalmente de interven- ção profissional em uma área de pesquisa disciplinar. Enquanto Betti considera de fundamental importância a busca da legitimida- de acadêmica da Educação Física enquanto “área de conhecimento”, Lovisolo postula que devemos abandonar tal busca pois acredita que o campo de inter- venção profissional do educador físico é muito amplo, possui vários objetivos, demandando naturalmente a contribuição de diferentes pontos de vistas dis- ciplinares, o que exige um “mosaico” de conhecimentos para serem atingidos. Acredita também que a legitimidade da Educação Física, a exemplo de outras profissões (Medicina, Engenharia) deverá ser alcançada pelo reconhecimento de sua contribuição social, e não pela via da definição/comprovação da sua cientificidade. Como podemos perceber no panorama exposta acima, existem diversas e dis- tintas vertentes sobre a epistemologia da Educação Física.Acreditamos que um bom ponto de partida para sairmos da “crise de identidade” é reivindicarmos, ao invés do status de uma Ciência/Teoria, a qualidade de nossa intervenção social, 42 reflexo da qualidade de nossa formação profissional. Devemos somar esforços na perspectiva de melhorarmos a qualidade de nossa intervenção profissional, para que possamos alcançar a tão desejada legitimidade social e reconhecer ser a EF um campo de intervenção socialmente significativo, que permite os mais diferentes olhares com objetivos de se encontrar as mais diferentes respostas para os seus diversos e complexos problemas. 3.2 OS CAMPOS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO E DO CONHECIMENTO TÉCNICO QUE FUNDAMENTAM A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA Na aula anterior, podemos perceber que os conhecimentos científicos e técnicos que fundamentam a formação e a intervenção do profissional em Educação Físi- ca são múltiplos e de diferentes campos do conhecimento. Para melhor compre- ensão, optamos por dividi-los em três grandes áreas: biofísica, comportamen- tal e sociocultural, que se subdividem em outras três áreas: biofísica – fisiologia do exercício, biomecânica e crescimento e desenvolvimento; comportamental: comportamento motor ou aprendizagem motora, psicologia do esporte e peda- gogia do esporte; sociocultural: filosofia da Educação Física, história da Educa- ção Física e sociologia da Educação Física. Como mostra a Fotografia a seguir: Fotografia 11 – Áreas da Educação Física Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: < http://www.google.com.br/imgres> 43 Mostraremos agora as definições e principais características de cada área com suas subáreas. 3.2.1 Biofísica A biofísica é uma ciência interdisciplinar que aplica as teorias e os métodos da física para resolver questões de biologia. A biofísica busca enxergar o ser vivo como um corpo, que ocupando lugar no espaço, e transformando energia, existe num meio ambiente o qual interage com esse ser. BIOFÍSICA = BIOLOGIA + FÍSICA 3.2.1.1 Fisiologia do exercício A fisiologia do exercício é o estudo da adaptação aguda e crônica da ampla gama de condições que aperfeiçoam o exercício físico. É uma área do conhe- cimento científico que estuda como o organismo se adapta fisiologicamente ao estresse agudo do exercício, isto é, à atividade física e também ao estresse crô- nico do treinamento físico (WILMORE; COSTILL, 2001). Podemos observar os diferentes exercícios mostrados abaixo, com suas diferen- tes características: Fotografia 12 – Características dos exercícios Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. 44 O que se deseja na fisiologia é saber o que ocorre no organismo durante e após a realização dos diferentes exercícios físicos. 3.2.1.2 Biomecânica Numa análise morfológica da palavra Biomecânica, pode-se decompor o termo em duas partes. No prefixo “bio”, de biológico, ou seja, relativo aos seres vivos e, mecânica. Logo, a partir da análise morfológica da palavra, a Biomecânica será a aplicação dos princípios da Mecânica aos seres vivos. A biomecânica é o estudo da mecânica dos organismos vivos. De acordo com Hatze apud Susan Hall (1991), é "O estudo da estrutura e da função dos sistemas biológicos utilizando métodos da mecânica". A Biomecânica externa estuda as forças físicas que agem sobre os corpos enquanto a biomecânica interna estuda a mecânica e os aspectos físicos e biofísicos das articulações, dos ossos e dos te- cidos histológicos do corpo. Fotografia 13 – Biomecâmica de uma pessoa com deficiência Fonte – Disponível em: <http://img.terra.com.br/i/2008/08/27/852770-3701-it2.jpg>. 45 Desenho 1 – Biomecâmica de uma pessoa com deficiência Fonte – As autoras (2013). Desenho 2 – Biomecânica Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. 46 3.2.1.3 Crescimento e desenvolvimento Estudo de como as habilidades motoras (movimentos básicos fundamentais e movimentos especializados) são aprendidas ao longo da vida. Desenho 3 – Crescimento e desenvolvimento Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. 3.2.2 Comportamental Os estudos comportamentais se relacionam ao conjunto de reações de um in- dividuo em face do meio social. Referem-se também as ações de um indivíduo quanto aos sentimentos, pensamentos e falas. 3.2.2.1 Comportamento motor e aprendizagem motora Aprendizagem Motora consiste em uma alteração na capacidade do indivíduo em desempenhar uma habilidade motora, que pode ser inferida por uma melho- ria relativamente permanente no desempenho, devido à prática ou à experiência (MAGILL, 1998). Para Schmidt e Lee (1999), a Aprendizagem Motora consiste no 47 conjunto de processos associados com a prática ou a experiência, conduzindo a mudanças relativamente permanentes na capacidade de executar a performan- ce habilidosa. Contudo, o fenômeno aprendizagem motora consiste na mudança interna relativamente permanente resultante da prática e feedback. Assim, po- demos determinar que aprendizagem motora refere-se ao processo no qual uma dada habilidade motora é adquirida com auxílio de instrução, feedback e prática sistemática. Fotografia 14 – Aprendizagem motora Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. 3.2.2.2 Psicologia do esporte A psicologia do esporte é o estudo dos fatores comportamentais que influen- ciam e são influenciados pela participação e desempenho no esporte, exercício e atividade física e a aplicação do conhecimento adquirido através deste estudo para a situação cotidiana. A Psicologia do Esporte tem por finalidade investigar e intervir em todas as variáveis que estejam ligadas ao ser humano que prati- ca uma determinada modalidade esportiva e, em seu desempenho (BECKER JU- NIOR; SAMULKI, 1999). 48 3.2.2.3 Pedagogia do esporte A pedagogia do esporte tem o compromisso de "analisar, interpretar e compre- ender as diferentes formas esportivas à luz de perspectivas pedagógicas. Obri- ga-se, de certa forma, a refletir sobre o sentido do esporte como prática de for- mação e educação, de realização da humanidade e da condição humana no homem" (BENTO, 2006, p. 26). Fotografia 15 – Pedagogia do esporte Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. 3.2.3 Sociocultural São os estudos relacionados à classe ou grupo social, bem como a cultura que os caracteriza. 49 3.2.3.1 Filosofiada Educação Física Fotografia 16 – Filosofia da Educação Física Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. 3.2.3.2 História da Educação Física Fotografia 17 – História da Educação Física Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres>. Estudo dos valores morais, sociais, éticos e estéticos que se manifestam nas repre- sentações sociais e nas práticas das atividades físicas, esportivas e recreativas. 50 3.2.3.3 Sociologia da Educação Física Fotografia 18 – Sociologia da Educação Física Fonte – Utilização irrestrita retirada do Banco de Imagens. Disponívem em: <http://www.google.com.br/imgres>. Estuda as dinâmicas e as contradições sociais manifestadas na prática de ati- vidades físicas, esportivas e recreativas. Possibilita entender a totalidade social como um fenômeno contraditório e a dinâmica da sociedade como o resultado de relações sociais que, ao mesmo tempo, são complementares e também anta- gônicas. 3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final desta unidade podemos perceber que a Educação Física é composta por diversos e diferentes campos de conhecimento, assim nossa formação profissio- nal é composta por esses campos, tentando abranger as diversas áreas e compe- tências necessárias para a atuação do professor de Educação Física. 51 REFERÊNCIAS ARAÚJO, C. G. S. Manual do ACSM para teste de esforço e prescrição de exercício. 5. ed. Tradução Paula Chermont P. Estima. Rio de Janeiro: Revinter, 2002. BECKER JUNIOR, B.; SAMULSKI, D. Manual do treinamento psicológico para o esporte. Nova Hamburgo: Feevale, 1999. BENTO, J. O. Da pedagogia do desporto. In: TANI, G.O.; BENTO, Jorge Olímpio. Pedagogia do desporto. São Paulo: Guanabara Koogan, 2001. ______.Da pedagogia do desporto. 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