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Projeto Político-pedagógico: Conceitos e Finalidades

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Aula 3: O Projeto Político-pedagógico: Construindo Caminhos na Escola 
Conceitos e finalidades do Projeto Político pedagógico
Tomando como referência o texto do professor Celso dos S. Vasconcellos, intitulado Projeto Político-pedagógico, conceito e metodologia de elaboração (2000), podemos afirmar que: 
O Projeto Político-pedagógico se constitui em uma referência importante para fundamentar e nortear a proposta global da escola, além de poder explicitar os significados e promover a articulação entre as suas atividades/ações e ainda de apontar as estratégias necessárias para viabilizar a sua realização, bem como o seu acompanhamento e avaliação.
E mais: quando elaborado de modo participativo, o Projeto político-pedagógico pode “resgatar o sentido humano, científico e libertador do planejamento” (VASCONCELLOS, 2000, p. 169).
É claro que precisamos ter sempre presente uma perspectiva crítica de que o planejamento e, consequentemente, o Projeto Político-pedagógico não vão dar conta de toda a problemática e da complexidade da escola – eles não fazem mágica ou milagre.
Contudo, é importante acreditar que eles podem sim contribuir para conceber, organizar e fazer acontecer uma prática educativa escolar mais consciente e consistente, na direção da construção de uma escola que possa ser qualitativamente melhor para formar cidadãos mais críticos, criativos e sujeitos da transformação necessária à construção de um mundo mais solidário, justo e digno para todos e todas.
Não temos mais dúvidas de que o cotidiano escolar nos faz enfrentar constantes desafios e que, muitas vezes, esses desafios são verdadeiros obstáculos que nos parecem impossíveis de serem superados.
Todavia, educadores comprometidos com um projeto maior de construção de “um outro mundo possível”, tendem a não desistir e seguir buscando caminhos e/ou alternativas para a reinvenção da escola.
E o espaço dedicado à concepção/elaboração do Projeto Político-pedagógico pode ser um momento de reflexão, debate, confronto de ideias e definição coletiva desses caminhos e/ou alternativas.
Como Gadotti (1994), reconhecemos que o Projeto Político-Pedagógico (de um modo geral elaborado para um período de três anos e anualmente atualizado) não nega nem a história, nem a experiência da escola.
Em outras palavras, não nega as escolhas já feitas e vividas pelos diferentes sujeitos/atores que integram a vida escolar. Ao contrário, pode a partir daí recriar e conceber novas e/ou diferentes alternativas, de modo a transformar a escola sempre em diálogo com as transformações da realidade/sociedade.
Reiteramos que a nossa proposta é pensar a escola em constante movimento e, consequentemente, o Projeto Político-Pedagógico também. Reiteramos ainda que a participação de todos é um princípio metodológico e uma estratégia a ser respeitada quando de sua construção.
Acreditamos que se todos os envolvidos na vida escolar não assumirem de modo crítico e criativo o seu papel e a corresponsabilidade na definição da proposta da escola e, portanto, dos princípios, das finalidades, dos objetivos e das características dos processos e/ou dos currículos e/ou das práticas/ações educativas ali desenvolvidos, corre-se o risco de se implementar um trabalho, sem um sentido claramente definido e reconhecido por todos e, consequentemente, marcado por uma visão fragmentada e distorcida da realidade e/ou do contexto intra e extraescolar.
E não custa lembrar: nesta aula estamos adotando como referência básica as reflexões do professor Celso dos S. Vasconcellos (2000) que, por sua vez, em várias oportunidades utilizou como fonte de inspiração as propostas de Danilo Gandin (1983).
Isto não significa dizer que não podemos ampliar nossas reflexões e nossos debates consultando e/ou dialogando com outros autores que discutem essa mesma temática, como, por exemplo, o professor José Carlos Libâneo (2001), que, a propósito, utiliza neste caso a expressão Projeto Pedagógico-Curricular, destacando que:
De certo modo, o projeto pedagógico-Curricular é tanto a expressão da cultura da escola (cultura organizacional), como a sua recriação e desenvolvimento. Expressa a cultura da escola porque está assentado nas crenças, valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que o elaboram. Ao mesmo tempo é um conjunto de princípios e práticas que reflete e recria essa cultura, projetando a cultura organizacional que se deseja, visando a intervenção e a transformação da realidade.  
O projeto, portanto, orienta a prática de produzir uma realidade: conhece-se a realidade presente, reflete-se sobre ela e traçam-se as coordenadas para a construção de uma nova realidade, propondo-se as formas mais adequadas de atender às necessidades sociais [eu acrescentaria culturais] e individuais dos alunos.
As características gerais do Projeto Político-Pedagógico
No que se refere às características e/ou à formatação geral do Projeto Político-Pedagógico, longe de querer cristalizar um modelo, na perspectiva de um modelo/roteiro único ou do melhor modelo/roteiro para construí-lo, assumimos, como no texto Vasconcellos (2000), que tal plano é composto por três partes que se que articulam, a saber:
O marco referencial
Espaço dedicado a responder principalmente à questão: o que queremos alcançar? Ou onde queremos chegar?
Aqui, trata-se de explicitar o posicionamento político e filosófico da escola, ou seja, qual a sua visão de sociedade e de pessoa que, nesse caso, vai nortear a vida da escola. Trata-se ainda de explicitar os fins e também os princípios pedagógicos orientadores das ações educativas que serão implementadas, bem como as características e/ou propósitos mais gerais da própria instituição responsável por essa implementação. Em síntese, trata-se de expressar os ideais da escola.
O diagnóstico
Trata-se de identificar as necessidades da escola. É o momento de analisar a sua própria realidade, ou seja, de avaliar os pontos fracos e os pontos fortes da instituição e confrontá-los com o que se deseja/espera que ela seja. Em síntese, faz-se a comparação entre a realidade e os ideais da escola.
A programação 
Trata-se de definir a proposta de ação propriamente dita e que deve levar a escola aonde ela deseja chegar ou ao que ela deseja ser. Em síntese, é traçar o caminho para atingir os seus ideais.
Entendemos, como Vasconcellos (2000), que esta estrutura prevista para a elaboração/concretização do Projeto Político-pedagógico revela que a ação a ser desencadeada é fruto da tensão entre a realidade na qual a escola está imersa e as suas finalidades num processo dinâmico de interação.
E mais uma vez lembramos: a força de um plano está nas suas possibilidades de construção e execução coletivas. Caso contrário, ele está fadado ou, no mínimo, corre o risco de ir para no fundo da gaveta.
Uma nota: nas duas próximas aulas vamos detalhar as características mais específicas de cada uma dessas partes do Projeto Político-Pedagógico, sugerindo inclusive procedimentos metodológicos para sua elaboração.
Por isso, recomendamos que você tente, desde já, selecionar e analisar um Projeto Político-Pedagógico elaborado por uma escola. 
Desse modo, você vai poder comparar as aproximações e os distanciamentos entre as ideias veiculadas durante as nossas aulas e o que acontece no cotidiano de uma escola.
E, segundo a nossa compreensão, uma gestão da educação e da escola vivida nesses termos é uma gestão que atinge diferentes aspectos e dimensões, como por exemplo: a valorização dos educadores, criando inclusive condições dignas de sua formação, de salário e de trabalho; a universalização do acesso à escola, acompanhada da preocupação com a permanência dos alunos e a qualidade da sua educação; a viabilização de espaços educativos acolhedores e adequados ao desenvolvimento de projetos pedagógicos inovadores; a concepção de currículos e também práticas educativas mais “antenadas” com as exigências do mundo atual, a transformação do quadro de violênciaescolar, a construção de relações democráticas com a comunidade intra e extraescolar, entre outras dimensões de caráter político sociocultural, técnico-pedagógico, técnico-administrativo, financeiro e operacional.
Tendo presente essas considerações, entendemos que o planejamento participativo pode ter uma função gerencial importante, na medida em que pode se constituir em um espaço de reflexão e de tomada de decisões coletivas, apontando caminhos não só para responder às exigências do presente como também para projetar a escola para o futuro. Além de ser um instrumento que pode contribuir para e/ou facilitar a concepção, a organização, a coordenação, a orientação e a realização das atividades/ações escolares, bem como a mobilização e a articulação das condições humanas, materiais e financeiras para fazer a escola acontecer, o planejamento participativo pode ser uma oportunidade, um espaço para se pensar e conceber os caminhos para a construção de uma escola comprometida não só com a promoção de aprendizagens mais significativas para os seus alunos, como também com a formação de sujeitos mais autônomos, críticos e criativos, capazes de serem sujeitos de direitos e cidadãos construtores de uma nova sociedade.
Procure conversar com alguns professores da escola sobre a participação deles na construção do Projeto.
Acreditamos que você vai perceber que o processo de elaboração nem sempre foi uma tarefa muito simples e/ou realizada sem conflitos. Além disso, poderá constatar importância e/ou significado desse processo para o grupo.
E mais: procure se informar com esses mesmos professores sobre alguns aspectos que entendemos serem relevantes quando se trata de elaborar o Projeto Político-pedagógico, tais como:
Que metodologia e/ou estratégia foi utilizada para a sua construção? 
O que eles teriam a dizer sobre o grau de compromisso e participação dos sujeitos/atores da escola na sua formulação; qual a relação entre a existência do projeto e o grau de autonomia da escola?
O que eles teriam a dizer sobre a ética do projeto, por exemplo: é para valer ou apenas constar?
Como foi feita a mobilização do pessoal e a conscientização acerca da importância do processo de construção do Projeto? 
Essas e muitas outras questões podem ajudar a problematizar a temática dessa nossa aula e a construir conhecimento em torno do tema em pauta.
LDB
Só assim vamos compreender melhor o significado e a relevância desse procedimento legitimado até mesmo pela Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9.394 - que no seu artigo 12, Inciso I, propõe como uma das atribuições dos estabelecimentos de ensino elaborar e executar a sua proposta pedagógica.
Bibliografia Complementar Consultada e/ou de Referência
GANDIN, Danilo. Planejamento como Prática Educativa. São Paulo: Edições Loyola, 1983 (1ª edição), 2010 (18ª edição). 
GANDIN, Danilo. Prática do planejamento participativo: na educação e em outras instituições, grupos e movimentos dos campos cultural, social, político, religioso e governamental. Petrópolis: Vozes, 2000 (8ª edição).
LIBÂNEO, José Carlos. O Planejamento Escolar e o Projeto Pedagógico-curricular. In: Organização e Gestão da Escola. Teoria e Prática, Goiânia, Editora Alternativa, capítulo VIII, 2001 (4ª edição), p. 121 a 169.
SANTOS, Ana Lúcia C. e GRUMBACH, Gilda Maria. Didática. V. 2. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2005.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento. Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político-Pedagógico. São Paulo, Libertad, 2000 (7ª edição), 2006 (13ª edição).
Fazendo memória
De acordo com as nossas discussões realizadas na aula 5 e reiterando que, para nós, não existe um só modelo/roteiro único ou o melhor modelo/roteiro para construir um Projeto Político-Pedagógico na escola, lembramos que assumimos com Vasconcellos (2000) que tal plano inclui três partes: o marco referencial, o diagnóstico e a programação.
Para ajudar a fazer memória no que diz respeito ao significado de cada uma dessas três etapas, memória que certamente vai facilitar a continuação de nossa caminhada, consideramos oportuno retomar a descrição que apresentamos na aula anterior. Vejamos:
Marco referencial
Espaço dedicado para responder principalmente à questão:
O que queremos alcançar? ou onde queremos chegar?
Aqui, trata-se de explicitar o posicionamento político e filosófico da escola, ou seja, qual a sua visão de sociedade e de pessoa e que, nesse caso, vai nortear a vida da escola. Trata-se ainda de explicitar os fins e também os princípios pedagógicos orientadores das ações educativas que serão implementadas, bem como as características e/ou propósitos mais gerais da própria instituição responsável por essa implementação. Em síntese, trata-se de expressar os ideais da escola.
Diagnóstico
Espaço dedicado para responder à pergunta:
O que nos falta para ser o que desejamos? ou o que temos e o que nos falta para alcançar os nossos ideais?
Trata-se de identificar as necessidades da escola. É o momento de analisar a sua própria realidade, ou seja, de avaliar os pontos fracos e os pontos fortes da instituição e confrontá-los com o que se deseja/espera que ela seja. Em síntese, trata-se de fazer a comparação entre a realidade e os ideais da escola.
Todavia, ao reproduzir essas descrições não estamos dizendo que só existe essa forma de conceituar cada uma dessas etapas, mas apenas desejando retomá-las como nosso ponto de partida para poder seguir em frente.
Reiteramos que esse é um modelo/roteiro possível para ajudar a compor o Projeto Político-Pedagógico da escola, mas que ele só funciona se a equipe que vai utilizá-lo se sentir bem diante dessa proposta, se perceber, de verdade, a sua funcionalidade. Quer dizer, se estiver convicta de que esse plano global, elaborado segundo esse modelo/roteiro, pode mesmo apontar os rumos e criar as condições para a sua efetiva realização/execução.
Uma observação:
mesmo tendo presente esse modelo/roteiro, os participantes envolvidos na sua construção, além de sugerir ajustes no que tange a essas etapas, podem modificar e/ou ampliar as perguntas previstas em cada uma delas - variações e/ou adaptações são legítimas, principalmente se forem produto de construções coletivas e em consonância com as necessidades e características do contexto.
Todavia, entendemos, como Gandin (2010, p.21), que em um processo de planejamento, três perguntas são básicas:
O que queremos alcançar?
A que distância estamos daquilo que queremos alcançar?
E o que faremos concretamente e dentro de um prazo determinado para diminuir essa distância?
Perguntas que, com frequência, devem ser retomadas e reavaliadas, lembrando que “o esforço em responder continuamente a estas três questões (na ação-reflexão) não apenas dá eficiência ao trabalho, como é o processo educativo humano mais fundamental”.
Sobre o Marco Referencial
Acreditamos que é possível dizer que este é um espaço destinado, principalmente, à expressão da utopia do grupo. É o momento de “sonhar alto”, “pensar grande”, “afinar concepções”. Ao procurar responder o que queremos alcançar, vamos precisar nos remeter aos nossos posicionamentos:
Político
Ou seja, a nossa visão do ideal de sociedade e de homem.
Pedagógico
Ou seja, a nossa concepção de educação ou o entendimento que temos sobre o significado da ação educativa e sobre as características que devem ter a instituição, no caso, escolar, objeto do nosso planejamento.
Sobre o Marco Referencial
Em outras palavras, acreditamos que a construção do marco referencial está relacionada à construção e/ou explicitação da identidade da própria instituição e do próprio grupo que dela participa e/ou que a constitui.
Autores como Vasconcellos (2000) e Gandin (2010), apontam três momentos, ou dimensões, que compõem o marco referencial, a saber:
marco situacional - marco doutrinal - marco operativo
Marco Situacional
É o momento de pensar no cenário que nos envolve, ouseja, no cenário no qual o grupo que planeja está mergulhado; é a hora de lançar o olhar, descrever e analisar a realidade de um modo mais geral e amplo, procurando avaliar os seus aspectos políticos, sociais, econômicos, culturais, educacionais, dentre outros de natureza macro.
É o momento de perceber como as questões mais amplas e estruturais que configuram a realidade estão afetando ou poderão afetar a construção do Projeto Político-Pedagógico da escola.
Além disso, é a oportunidade para o grupo expressar a sua compreensão a respeito do mundo atual – suas crises, suas contradições, seus limites, mas também seus avanços, suas possibilidades – aspectos que certamente vão alimentar o grupo, apontando caminhos a seguir quando da definição/detalhamento de suas propostas de ação e/ou de trabalho.
Entendemos que compreender o cenário é fundamental para alimentar os próximos passos, tendo presente a perspectiva de transformar esse cenário na direção da construção de um mundo sempre melhor.
Marco doutrinal, também denominado marco filosófico
É aqui que o grupo expressa seus ideais, utopias e valores, mas com os pés fincados na realidade.
É nesse momento que o grupo deve deixar claro quais são os princípios básicos e/ou gerais que vão nortear a ação e/ou o trabalho que pretende desenvolver, explicitando que tipo de sociedade desejam construir, qual tipo de pessoa desejam colaborar na formação, quais os fins e/ou finalidades da educação que desejam promover, que papel, funções e/ou características têm (para o grupo) a escola no contexto da realidade na qual estão inseridos.
Acreditamos que a elaboração do marco doutrinal gera muito debate, em função da pluralidade de visões e/ou concepções que certamente têm os integrantes do grupo envolvidos nessa elaboração.
Todavia, isso nos parece muito mais uma vantagem do que um problema; mais uma riqueza do que um limite.
O importante é que o grupo consiga chegar a consensos – mesmo que mínimos e provisórios – que o ajudem a definir uma direção para um determinado período - uma direção que deve ser constantemente reavaliada, tendo em vista não só as mudanças no cenário, como o próprio processo vivido e, consequentemente, os seus resultados.
No sentido de tornar mais claro ainda o que estamos entendendo por marco doutrinal, norteador da ação e/ou do trabalho pedagógico escolar, apresentamos, a seguir, um exemplo de definições (marcos/princípios) referentes à nossa visão de escola para o Brasil de hoje.
Vale destacar que tais definições (marcos/princípios) foram formuladas, tendo presente, inclusive, o estudo de autores tais como Gimeno Sacristán (1995), Candau (2000, p. 15) e Koff (2009), uma vez que, para nós, a concepção do marco doutrinal precisa se “alimentar” tanto das experiências vividas pelos diversos integrantes do grupo, como também considerar as reflexões realizadas por diferentes autores que vêm se debruçando sobre as questões em pauta.
Reiterando, esses são alguns exemplos de definições (marcos/princípios) que, dentre outras relacionadas às nossas concepções de sociedade, educação, escolas, sujeitos etc.. podem compor um marco doutrinal no contexto da elaboração do Projeto Político-Pedagógico.
Podemos dizer ainda que esses marcos/princípios, como sugere Gandin (2010), são de natureza qualitativa, e que, portanto, poderiam ser complementados com propostas de natureza quantitativa.
“nossa escola pretende, em um período de três anos, ampliar suas matrículas em 100% em relação ao seu atendimento atual, na faixa de 7 a 14 anos, de modo a atender a população menos favorecida presente no bairro onde está inserida”.
Por sua vez, é o próprio Gandin que destaca que não basta apontar genericamente os marcos/princípios. Para ele, e nós concordamos, é muito importante que fique claro, para o próprio grupo, o significado desses marcos/princípios.
E nós ainda acrescentaríamos: é necessário ficar claro também quais são as intenções e quais são as justificativas do grupo para assumir, como fundamento de suas ações/trabalhos, o marco doutrinal estabelecido.
Marco operativo
Diz respeito aos grandes princípios de organização da instituição escolar (mas, atenção: ainda não é a programação) e precisa estar amplamente articulado com o marco situacional e o marco doutrinal.
É o momento de refletir, identificar e registrar os aspectos e/ou as dimensões básicas que são significativas para a vida da escola, ou melhor, “daquela” escola especificamente para a qual está sendo elaborado o Projeto Político-Pedagógico.
Nesse momento, o grupo deve discutir e responder a questões do tipo:
como desejam ou como esperam que sejam:
- os currículos;
- as práticas didáticas;
- os processos de avaliação;
- as relações entre professores e alunos;
- a natureza das diversas relações entre a escola, as famílias e a comunidade.
E ainda, deve apontar como desejam ou esperam que sejam a estrutura organizacional e a gestão da escola, os processos de formação continuada da equipe, bem como as diferentes condições de trabalho, além da indicação de estratégias possíveis para garantir a viabilidade e/ou o funcionamento da escola e a realização de suas metas e objetivos.
Podemos dizer que o marco operativo refere-se, portanto, às condições, pressupostos e/ou aos posicionamentos do grupo de natureza pedagógica, comunitária e administrativa (Vasconcellos, 2000) que vão aproximar, isto é, fazer a ponte entre a realidade ou o cenário apontado no marco situacional e os ideais e valores da escola fixados no marco doutrinal.
Como podemos observar, a construção do Marco Referencial envolve muitas perguntas desafiadoras, cuja intenção é mesmo provocar o desequilíbrio e fazer o grupo avançar na busca das respostas.
Cabe chamar atenção, contudo, para o fato de que não apresentamos aqui todas as perguntas possíveis de serem formuladas nesta etapa. Acreditamos que o próprio grupo pode ser mobilizado no sentido de elaborar as perguntas que podem e devem ser feitas.  
Lembramos que é o momento de discutir as contradições, enfrentar os conflitos de posições e ir fazendo aproximações sucessivas para que o Marco Referencial seja, de fato, o “pano de fundo” das ações/do trabalho, tecido coletivamente no contexto de um processo intensamente participativo, crítico e criativo.
Sobre o Diagnóstico
Trata-se de analisar a realidade intraescolar, isto é, verificar de modo crítico quais são as suas necessidades em função de parâmetros considerados adequados para se atingir os pontos de chegada estabelecidos no marco referencial, principalmente aqueles apontados nos marcos doutrinal e operativo.
Trata-se, portanto, de descrever a realidade da instituição, seus pontos fracos e fortes, seus limites e possibilidades, seus problemas e suas respectivas causas e, desse modo, poder verificar o que existe e o que falta para que a escola possa caminhar no sentido de alcançar seus ideais.
Em consonância com Gandin (2010), concordamos que essa etapa do diagnóstico só se realiza plenamente quando existem critérios e/ou parâmetros (definidos em função do que o grupo estabeleceu no marco referencial como o “dever ser” da escola), porque só assim será possível avançar para além da descrição da realidade (embora ela seja fundamental), para então poder analisá-la e julgá-la (avaliá-la), de modo a compreender como ela se configura e o que será preciso fazer para minimizar e/ou eliminar a distância entre o que existe e onde a escola deseja chegar e/ou o que ela deseja ser.
Nesse ponto, uma pergunta se impõe:
Como fazer o diagnóstico?
Mas, antes mesmo de apresentar sugestões ou chegar a formular uma proposta metodológica para a realização do diagnóstico, é importante reiterar que o grupo responsável por tal realização precisa ter presente e de forma bem objetiva todas as propostas e/ou as definições indicadas na etapa anterior, ou seja, indicadas no marco doutrinal e, de modo mais especifico, no marco operativo, pois vale lembrar que são essasmesmas propostas e/ou definições que vão “alimentar”, isto é, servir de “munição” para a concepção e concretização desse diagnóstico.
Diagnóstico que pode ser realizado de diferentes formas, mas que segundo Vasconcellos (2000) e Gandin (2010) - autores que, como já dissemos, estamos adotando como nossas referências básicas - pode ser implementado, tendo em vista os seguintes passos:
1º Passo: concepção da pesquisa 
Momento no qual o grupo define que áreas – temas e assuntos – vão ser pesquisados, define seus objetivos e estabelece os indicadores, bem como as estratégias e instrumentos que vão ser utilizados. Veja o exemplo a seguir.
Exemplo 1: área – pedagógica
tema - incentivo ao uso de diferentes linguagens; 
objetivo - verificar quais são as condições - didáticas, físicas e materiais- que a escola oferece para o uso, inclusive, das novas tecnologias;
indicadores – existem produções dos alunos utilizando linguagens diferentes como a linguagem artística, a audiovisual, a tecnológica e várias outras, existem laboratórios de informática, com números adequados de computadores, existe biblioteca em condições adequadas para consultas sistemáticas.
estratégias/instrumentos – aplicação de um questionário junto aos professores, organizados em pequenos grupos e ainda realização de entrevistas, envolvendo a direção e a equipe técnico-pedagógica.
Exemplo 2: área – comunitária
tema – valorização da relação escola-família;
objetivo – verificar quais são os limites e as possibilidades para a vivência sistemática dessa relação; 
indicadores – existem estratégias e/ou mecanismos específicos voltados para implementar e/ou intensificar a relação entre a escola e a família;
estratégias/instrumentos – entrevistas com a direção, com a equipe técnico-pedagógica e também com a associação de representantes dos pais.
2º Passo: elaboração do(s) instrumento(s) de pesquisa 
Instrumento(s) que, nesse caso, têm a função de permitir o levantamento de dados propriamente dito, visando à descrição da realidade nas suas diferentes áreas. No caso do nosso exemplo, seria necessário a elaboração de três instrumentos: (1) um questionário para os professores, (2) um roteiro para entrevistar a direção e a equipe técnico-pedagógica, além de (3) um roteiro para entrevistar os representantes dos pais. O desafio aqui é saber elaborar as perguntas. Elas precisam ser claras para a compreensão de todos e formuladas segundo os objetivos do próprio diagnóstico.
3º Passo: aplicação dos questionários e realização das entrevistas 
Nesse caso, é importante criar condições adequadas, no sentido de que tal aplicação e realização ocorram em um ambiente de reflexão crítica, de respeito à pluralidade de opiniões e dentro de um ritmo - espaço e tempo - compatível com a vida da escola e de seus integrantes.
4º Passo: tabulação dos dados, análise e sistematização das informações 
Os aspectos qualitativos e quantitativos – extraídos dos questionários e das entrevistas são então organizados, categorizados, analisados e sistematizados de modo a permitir a descrição dos fatos e/ou das situações que configuram a realidade escolar.
5º Passo: realização da plenária para a avaliação da realidade escolar
Refere-se à concretização do diagnóstico propriamente dito, quando então o grupo, diante das sínteses elaboradas no passo anterior e coletivamente, vai poder finalmente responder às perguntas: qual a distância entre o que temos e o que queremos ter ou entre o que somos e o que queremos ser? E como essa distância se caracteriza? E, ainda como podemos reduzi-la e/ou superá-la? Trata-se, portanto, de juntos avaliarem os problemas e suas causas, as lacunas que terão que ser preenchidas e com que a escola conta para poder então atingir seus objetivos e ideais.
Uma observação importante
Já sabemos que a elaboração/concepção do Projeto Político-Pedagógico tem como um dos seus princípios fundamentais a participação da comunidade escolar como um todo.
Todavia, acreditamos que, no caso específico do diagnóstico, um grupo menor poderá ficar responsável pela sua concepção e desenvolvimento, desde que sejam criados espaços tanto para “ouvir” os diversos segmentos representativos da comunidade escolar sobre o próprio processo de realização do diagnóstico e sobre como percebem o contexto escolar, como também para debater e refletir, em grandes plenárias sobre os achados, isto é, resultados das pesquisas e, consequentemente, poderem, em conjunto, julgá-los, avaliá-los.
Isso nos parece fundamental, pois nesse espaço de participação coletiva poderão estabelecer, inclusive, as suas prioridades e as estratégias necessárias para concretizá-las.
Conclusão
Como vimos ao longo dessa nossa reflexão, a elaboração do marco referencial e do diagnóstico são duas etapas constitutivas do processo de construção do Projeto Político-Pedagógico e cuja relevância, inclusive, está no fato de que as definições e as considerações feitas nesses espaços vão nortear e/ou subsidiar a terceira etapa relacionada à montagem da programação geral da escola.
Caso contrário, um planejamento que se restringe simplesmente a elencar o que vai ser e como vai ser realizado ou, em outras palavras, um planejamento que se limita a listar propostas de atividades ou ações e como elas serão realizadas, tende a ser um planejamento que não considera nem os seus fundamentos e/ou os porquês dessas atividades ou ações, nem o contexto em que serão realizadas, o que, de acordo com o nosso entendimento, reforçaria a perspectiva meramente instrumental do ato de planejar.

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