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Aula 04 - Lingüística e o Ensino de Língua Portuguesa

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Conteúdo, Metodologia e Prática do Ensino da Língua Portuguesa 
Aula 4 - Lingüística e o Ensino de Língua Portuguesa
Objetivos da aula: 1.  Entender o conceito de linguística e a sua importância no ensino da língua portuguesa. 2- Analisar as contribuições do estudo da linguística para o conceito de “erro” e “certo” em língua.
Nesta aula, vamos chamar a atenção para contribuições o conceito de linguística e suas variações no ensino de língua portuguesa. Vamos ressaltar a compreensão dos objetivos do ensino de língua portuguesa. Para que você entenda melhor os objetivos do ensino de língua portuguesa e a importância do estudo da linguística na formação do professor, iniciaremos a aula com a definição do termo linguística. Podemos dar duas definições para o termo, a primeira seria o estudo da linguagem. Ciência que se ocupa do estudo da linguagem humana manifestada pelas diferentes línguas. A segunda definição é o estudo da faculdade humana de linguagem e das línguas que existem ou existiram, historicamente. Sendo assim, precisamos ter um breve histórico do campo da linguística. Em seu ensaio “Erros de Escolares como Sintomas de Tendências do Português no Rio de Janeiro”, Mattoso afirmava que muitos dos erros e desvios na produção oral e escrita dos alunos, das escolas de ensino fundamental e médio, que eram observadas pelos professores não era nada mais do que mudanças e adaptações que a língua estava fazendo conforme as regiões e grupos distintos. Foi com Joaquim Mattoso Câmara Jr., linguista brasileiro, que os primeiros estudos sobre o ensino da língua ocorreram. Pensar então na ideia do erro ou incapacidade do aluno de usar a sua língua era um equívoco. Assim, Mattoso sugeria que os professores começassem a se interessar pela diversidade linguística da língua em nosso país em razão de suas dimensões geográficas e práticas sociais e culturais tão particulares. Ao rever seu conceito de língua, os professores começariam a compreender melhor os procedimentos de ensino da língua materna. Refazer a ideia de unidade da língua seria inicialmente confuso e complicado, pois ao longo de nossa história, a gramática sempre foi considerada um veículo norteador de nossa língua, ou seja, sempre foi caracterizada como padrão normativo de como as pessoas falantes do português deveriam se expressar corretamente. Compreender um pouco a contribuição da linguística no estudo da língua torna-se fundamental para que a aprendizagem tenha sentido para o aluno e que o professor compreenda os meios pelos quais ele deve iniciar o estímulo ao aprimoramento da competência e habilidade no uso da língua. Obviamente que toda língua necessita de normas que estabeleçam um padrão para que todos compreendam o que falamos ou escrevemos, pois sem um princípio norteador dessa produção todos não conseguiram se entender.
Gramática
Nesse sentido, poderíamos conceituar o termo como um conjunto de regras determinadas da língua de um mesmo povo a fim de estabelecer um único padrão oficial de produção oral e escrita dentro do conceito de “expressividade correta e elegante”. Se considerarmos este conceito de gramática como determinante da produção oral e escrita do falante, não saberíamos analisar as diferenças que ocorrem na língua em regiões diversas ou até mesmo entre os falantes num mesmo espaço. 
Falando um Pouco de História
Em 1957, um grupo de estudiosos da língua, após estudos sistematizados, aprovaram em caráter de recomendação a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), e muitos compêndios de gramática que utilizavam a nomenclatura recomendada foram publicados na esteira desse processo. Estudar com o conceito de língua padrão seria um procedimento preconceituoso e inadequado. Afinal, estudar apenas os textos antigos, de escritores famosos, textos de produções acadêmicas e livros como determinantes de um padrão da língua seria desconsiderar toda a diversidade de produção oral e escrita nos lugares mais distantes de nosso país. Percebe-se que os falantes de uma mesma língua gostam de compartilhar, de demonstrar sua riqueza e diversidade cultural. Os estudiosos perceberam que havia muito mais diversidade e variantes da língua do que a construção da ideia de uniformidade. Como não perceber e não estudar o dialeto caipira, o jeito mineiro de se expressar, o modo ‘paulistês’, o ‘gauchês’, o falar do sertanejo, as gírias e chiados do carioca assim como tantas outras variedades regionais em nosso país. Necessário perceber que, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que a língua é usada, há variações que esta apresenta ao qual os estudiosos acabaram de nomear como variedades linguísticas. Desse modo, estudar a língua por suas variedades deveria ser o modo mais comum e abrangente. Aliás, cabia ao aluno apenas decorar as regras e exceções da língua através de sua norma e que assim seria capaz de compreender, falar e escrever corretamente e adequadamente. Mas o que notamos é que a gramática normativa descrevia e avaliava uma língua distante do texto, longe das diversas produções concretas, reais do cotidiano. Estudar o texto deveria ser o mais importante, perceber as diferenças de sentido para uma mesma palavra em razão de sua variante regional também tornaria a aula mais produtiva, mais próxima de uma realidade, além de promover ao aluno a compreensão de que os “falares” distintos são parte de um mesmo país, de um mesmo povo.
Por estas razões, a prática do ensino gramatical nas escolas começou a ser questionada em razão de que este ensino estava centrado em normas e padrões de prestígio determinados por um grupo socialmente distante da realidade regional e cultural do país. O modo como o estudo da gramática se baseava nas salas de aula estava dicotomizado, ou seja, dividido em frases, expressões isoladas de uma realidade, de um contexto e que não traziam nada de relevante e significativo ao aluno. Um exemplo muito simples dessa nossa diversidade regional é o caso do famoso pãozinho francês e como este é conhecido em diferentes lugares: 
Rio Grande do Sul: Cacetinho.
 Rio de Janeiro: Pão de Sal.
Ceará: Carioquinha.
Interior do Nordeste: Pão aguado.
Região Norte: Carequinha. 
Há na linguística duas correntes importantes que definiram o rumo do ensino de língua portuguesa em nosso país: A primeira é conhecida como a linguística estruturalista que tinha como defensores o suíço Ferdinand de Saussure e o russo-americano Roman Jakobson que pensaram a língua como um sistema e o modo como o indivíduo realizava a aquisição da linguagem. A segunda é conhecida como a gramática gerativa de Noam Chomsky que perdura até hoje. 
As diferenças entre as línguas são grandes: A linguística estruturalista alinhava seus conceitos sobre linguagem em bases behavioristas, sugerindo que a língua é assimilada por um processo indutivo, no qual a exposição constante a uma grande quantidade de dados era fundamental, ou seja, a língua era concebida como um objeto matemático, quanto mais interação, quanto mais envolvimento, mais assimilação e aprendizado efetivo. Chomsky afirma que mesmo todo indivíduo, já possuindo essa capacidade inata de aprendizagem da língua, a aquisição da linguagem se dá dentro de um período e prazo determinado pelas condições do ambiente e, mais precisamente, na primeira infância. Chomsky afirma que o aprendizado da linguagem deve ser baseado não apenas no aspecto social, mas principalmente na esfera do psicológico e do biológico. A produção da linguagem ocorre em razão de uma capacidade inata que é a mesma para todos os indivíduos da espécie humana. Logo, todos são capazes de aprender uma língua e se adaptar com as suas diferenças em razão dessa aptidão inata. Por esta razão, podemos perceber que a uma criança com pouco mais de 3 anos já domina cerca de 5000 palavras do vocabulário da sua língua e produz frases com sentido (não estamos falando aqui de situações complexase de expressões e palavras pouco comum no dia a dia). É importante compreender que na infância os estímulos ao uso da língua permitem que a criança assimile rapidamente ou que até mesmo aprenda outro idioma com uma facilidade que não será mais a mesma na fase adulta. Primeiro, a língua não é algo a ser ensinada no seu sentido normativo gramatical, mas, sim, deve-se dimensionar ao aprendizado da língua a partir de uma exposição constante de dados significativos da fala e da escrita em suas mais diversas situações e especificidades, demonstrando ao aluno que as práticas sociais da língua perpassam pela noção do uso funcional e de certas particularidades da cada grupo ou comunidade falante de uma mesma língua. Não se trata aqui de afirmar o abandono do ensino da gramática, mas fazer uso dela como instrumento norteador para uma melhor adequação das práticas orais e escritas da língua em situações mais formais como, por exemplo, a linguagem técnica e a científica. Nesse sentido, o professor de língua portuguesa, ao compreender que as crianças já são falantes de sua língua quando chegam à escola, deve redirecionar a especificidade do seu papel no ensino da língua materna. Outra questão a ser estudada no campo da linguística é o do funcionalismo. A denominação “funcionalismo” se dá em razão de seu objetivo ser explicar as características formais da língua através das funções que exerce. “Os estudos linguísticos também precisam ser considerados na linha da Sociolinguística e do Funcionalismo." A Sociolinguística  considera a língua  em seu aspecto social, assinalando as variações. 
Funcionalismo 
Promover um estudo abrangente da língua com relação aos significados e competência para interagir em diversos aspectos da interlocução é um princípio do funcionalismo. Essa concepção remota à chamada “Escola Linguística de Praga”, particularmente a seus representantes anteriores à Segunda Guerra Mundial e retomada na segunda metade do século XX. O linguista inglês Halliday  demonstrou que qualquer sentença cumpre simultaneamente três funções, que ele chamou de: Ideacional - Fornecer representações do mundo. Interpessoal - Monitorar o fluxo de informação nova num contexto dado. Textual - Instaurar diferentes formas de interlocução como perguntar, afirmar, ordenar, assumir graus diferentes de comprometimento em relação àquilo que se diz. 
Um importante aspecto a considerar é o princípio de escolha. Para o funcionalismo, cada pessoa pode utilizar a língua de seu grupo social de uma maneira particular que, em alguns casos, pode se configurar a um estilo pessoal, personalizado, ou seja, o falante constrói seus enunciados, escolhendo simultaneamente em vários conjuntos de alternativas proporcionados pelo sistema lingüístico, por exemplo, você, ao falar ou escrever, dá preferência a determinadas palavras, expressões ou construções que se incorporam ao seu modo de usar a língua, seja em decorrência de sua comunidade mais próxima (família, grupo de amigos, ambiente de trabalho, escola etc.) ou por uma opção consciente, decorrente de suas leituras ou experiências linguísticas (ao produzir qualquer frase, escolhemos não apenas as palavras, mas também a construção gramatical, a entonação etc.).
O papel do falante e as particularidades da mensagem produzida por ele são fundamentais não apenas para se entender os motivos de certas escolhas, mas também para o estudo dos diversos gêneros textuais e do estilo. Nota-se assim que a linguística é uma ciência teórica e descritiva, e a sua função não é apenas compreender o que é a língua, mas, sim, compreender as variantes que a linguagem produz na diversidade social, regional e histórica. Compreender isso é permitir ao aluno não apenas conhecer estas diferenças, mas também respeitar e valorizar a diversidade regional e cultural de um país. O ensino da língua portuguesa em nossas escolas não pode se caracterizar como opressor e repressor dessas diferenças. Não deve impor uma língua “livresca”, uma língua apenas produzida pela gramática.
Em uma obra de grande importância para o nosso estudo, Língua e Liberdade, de Celso Luft (2004), este afirma: “O que me preocupa profundamente é a maneira de se ensinar a língua materna, as noções falcas de língua e gramática, a obsessão gramaticulista, distorcida visão que se ensinar uma língua seja ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a p´ratica da língua, e, mais que tudo: A postura opressora e repressiva, alienada e alienante desse ensino, como em geral de todo o nosso ensino de qualquer nível de disciplina “ (p.12)
	Infelizmente, ainda há uma forte corrente de professores que pensam que o ensino de língua portuguesa deve ser estruturado através do aprendizado de um compêndio de regras que definem o funcionamento de determinada norma, além da exposição constante de exercícios de classificação e identificação de termos da língua. É inegável que repensar o conceito de ensino da língua é fator primordial para que possamos dar sentido, relevância às produções orais e escritas advindas inicialmente dos alunos e, ao mesmo tempo, apresentar uma diversidade de gêneros textuais que circulam no dia a dia nos mais diferentes níveis de interlocução, sejam estes formais ou informais. Olhar para a língua como construção de competência e habilidade aos saberes linguísticos no campo social, regional, cultural e histórico é permitir olhar para o aprendizado sob o ângulo do possível, do aceitável, do permitido, do diverso, da simples e criteriosa imposição da correção e do que é gramaticalmente correto. Alguns professores já perceberam que o ensino de língua portuguesa é muito mais do que ensinar gramática, mas, sim, ensinar as diversas possibilidades que a língua permite fazer uso e mostrar que o domínio da língua é promover a inserção e participação social efetiva do indivíduo em diferentes situações de exposição.
	Apesar de todos os estudos da linguística, com o objetivo de demonstrar a realidade da diversidade da língua em nosso país e da percepção de alguns professores de sua importância no ensino da língua portuguesa, ainda notamos resistência de professores mais arraigados a questão da gramática normativa, assim como, de grupos socialmente de prestígio. Além da mídia, falada ou escrita, que corrobora com a ideia de uniformidade linguística em detrimento de características e particularidades de cada região, estigmatizando as formas populares, tornando a língua um fator mais de exclusão social do que um instrumento de inserção e participação social efetiva na produção do conhecimento e ao exercício da cidadania. 
Síntese da aula:
- Aprendeu também que o conceito de erro e certo pressupõe o estudo das variedades linguísticas.
- Assimilou também que aprender gramática não se faz apenas como um conjunto de regras e nomenclaturas fixas a partir de 
  frases e períodos desconexos com a realidade.
- Percebeu que cabe ao professor compreender os conceitos linguísticos para que efetivamente o ensino de língua portuguesa 
  possa ocorrer de modo claro, objetivo e valorativo da diversidade linguística do aluno.

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