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1 Literatura Brasileira Aula 5 Profa. MSc. Gisele Thiel Della Cruz Organização da Aula Compreender o que foi e a importância da Semana de Arte Moderna de 1922 Primeira fase modernista – autores, obras, manifestos e revistas Segunda fase modernista – a lírica e o romance de 30 Contextualização Contexto Nacional A crise das oligarquias A crise da República A virada do século e a I Guerra Mundial (1914-1918) As vanguardas europeias: • Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo Semana de Arte Moderna Os efeitos da Guerra A negação do passado e da tradição – marcados por antigas ideologias Fevereiro de 1922 O conceito de arte no século XX, portanto, está bastante condicionado à ideia de pesquisa formal, de arte como transformação, de alteração da linguagem para alterar a realidade 2 • Manuel Bandeira conhece o poeta surrealista francês Paul Éluard • Ronald de Carvalho participa da fundação da revista Orfeu (1915) em Portugal, • Oswald de Andrade – Europa – “Manifesto Futurista” (1909) • Anita Malfatti, 1910, estuda pintura expressionista na Alemanha. • Exposição realizada por Malfatti em São Paulo no ano de 1917 • Monteiro Lobato redigiu para O Estado de S. Paulo um artigo intitulado “A propósito da exposição Malfatti”, mais conhecido como “Paranoia ou mistificação?” A Semana de Arte Moderna (1922) é considerada o marco inicial do Modernismo brasileiro O evento contou com a apresentação de conferências, leitura de poemas, dança e música O Grupo dos Cinco, integrado pelas pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti e pelos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia Duas Mulheres, de Di Cavalcanti A boba, de Anita Malfatti 3 Conceitualização A Primeira Fase Modernista Revista Klaxon (1922) – digestão das influências europeias, combinada com o desejo revolucionário que levou à exposição no Municipal Em 1924, é lançado o principal manifesto dessa fase, o “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” A revista Klaxon: lançada para dar continuidade ao processo de divulgação das ideias modernistas Lançamento de quatro movimentos culturais: o Pau-brasil, o Verde-amarelismo, a Antropofagia e a Anta No caso do manifesto de Oswald, o que há é um reconhecimento da situação anterior de nosso sistema literário como importação do discurso europeu, que olha o Brasil a partir de uma ótica do exótico e do selvagem. O objetivo dessa nova literatura, portanto, seria o de “descolonizar” o Brasil A tendência seria reelaborada em 1928, no famoso “Manifesto Antropófago” Entretanto, seria posta em relevo uma ideia altamente simbólica: a de canibalismo com relação à cultura estrangeira A inspiração desse movimento é o quadro de Tarsila do Amaral – Raul Bopp o nomeou de Abaporu (O comedor de gente) O Abaporu, Tarsila do Amaral Antropofagia, Tarsila do Amaral 4 Na poesia, procurou-se fixar uma nova linguagem literária, inspirada na fala do povo, no linguajar cotidiano Simultaneamente, objetivou sintetizar a poesia, reduzir ao máximo o seu texto para atingir o essencial; por isso denominou-se parte dessa produção de poema-pílula ou poema-minuto Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro Vício na fala Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados A Segunda Fase Modernista – Lírica O que se convencionou chamar de segunda geração do modernismo não é a organização de um grupo sucessor do primeiro, seja no aspecto cronológico, seja no sentido de negar os pressupostos de seus antecessores Alguma Poesia (1930), de Drummond, é contemporâneo de Libertinagem, de Bandeira Escritores: • Carlos Drummond de Andrade Jorge de Lima, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Vinicius de Moraes A poesia vai assumindo uma produção anárquica – ainda sob influência da geração heroica Depois, o arrefecimento do poema-piada de Oswald de Andrade 5 O tempo exigiu seriedade poética de Drummond – modernismo crente na inspiração poética, na ironia alegre: • Alguma Poesia, A Rosa do Povo e Claro Enigma O quadro de autores desse período, conforme afirmara João Cabral, caracteriza-se por desenvolver projetos pessoais, diferente do grupo da primeira fase, cujos projetos eram coletivos Vinicius de Moraes – segundo o prefácio à sua Antologia poética (1954) – terá uma fase católica e uma fase de “aproximação do mundo material” Murilo Mendes unirá forças entre seu catolicismo e a influência sofrida por ele pelo surrealismo francês, que culminará na obsessão cada vez maior por metáforas apocalípticas Cecília Meireles trilhará o caminho do entendimento da morte por meio da filosofia oriental, processo que seria projetado sobre a compreensão da História em Romanceiro da Inconfidência (1953) Jorge de Lima, talvez o poeta de mais “fases” • Formas fixas • Primeiramente fase católica, posteriormente, Poemas Negros (1947) • Experiência extrema em Invenção de Orfeu (1952), poema épico sem par em nossa literatura modernista 6 A Segunda Fase Modernista – Prosa A Bagaceira, romance de José Américo de Almeida – início convencionado do romance de 1930 Publicado em 1928, mesmo ano de Macunaíma Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Érico Veríssimo Interpretações do Brasil – diálogo com a sociologia • Cena regional ou realidades à margem do urbano • Mudanças políticas no Brasil • Sistema de base agrária • Quebra da Bolsa de Nova Iorque – 1929 • Oligarquia cafeeira em crise • Movimento operário As principais características dos romances desse momento seriam: • o fato de se tratar de produções de cunho realista-naturalista (ou seja, que demonstram desapego à fantasia e se orientam para a realidade como esta normalmente parece) • construídas normalmente de forma linear (cronológica) • filtradas pelo “código culto urbano”, ou seja, pela linguagem dos centros culturais, em oposição à fala dos grupos sociais que são representados • com relação à questão temática, haveria uma exacerbação do papel das estruturas histórico-sociais • a questão rural está em voga nas raízes dos protagonistas 7 José Lins do Rego, prolífico escritor paraibano, escreveu uma série de cinco romances do chamado ciclo da cana-de-açúcar • Fogo Morto – caráter mais abertamente político, engajado em uma interpretação sociológica dos acontecimentos O romance é dividido em três partes que focalizam três personagens cujos destinos se entrecruzam e tematiza a tensão, tanto psicológica quanto social, dos grupos reunidos em torno da economia primitiva de produção de cana: • o artesão José Amaro (envolvido, a partir de sua revolta quanto à condição de agregado, com o cangaço) • “seu” Lula (senhor de engenho incapaz de sustentar uma ordem social obsoleta) • Vitorino Carneiro da Cunha (figura quixotesca, em parte cômica, em parte trágica, que sustenta ideais liberais) Aplicação Prática Mario de Andrade – Macunaíma “No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índiatapanhumas pariu uma criança feia. (...) (...) Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Se o incitavam a falar exclamava: — Ai! que preguiça!...” 8 Graciliano Ramos Sua obra é composta de títulos que cobrem faces bem diversas presentes na realidade brasileira: o romance urbano de força existencialista em Angústia (1936), (...) (...) o ensaísmo autobiográfico sobre a experiência da prisão em Memórias do Cárcere (1953) e a interdição linguística do sertanejo retirante em Vidas Secas (1938). Mas foi com São Bernardo (1934) que conquistou o título de autor da “súmula do romance de 30” (Dacanal, 1986, p. 19) Carlos Drummond Seu primeiro livro, Alguma Poesia, explora o humor do modernismo de primeira hora A angústia diante da atividade de composição do poema, compreendendo a ineficiência da linguagem diante do mundo, é a maior inquietação da atividade poética de Drummond Candido (1970, p. 68) sinaliza essa transformação a partir de dois livros, Sentimento do Mundo (1940) e José (1942), cujos títulos apontam para as duas esferas em torno das quais se organiza a tensão de sua obra: o mundo (os problemas sociais) e o ser (os problemas individuais) A Rosa do Povo (1945) – a disputa entre o poeta e as palavras se constituirá como um questionamento da validade da poesia diante dos acontecimentos Claro enigma – arrefece o tom revolucionário, e entra em cena uma profunda desilusão com a transformação da realidade. Poema de Sete Faces – Alguma Poesia Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. 9 O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode, Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. (Andrade, 2009, p. 9-10) Consideração do Poema – A Rosa do Povo […] As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem, no céu livre por vezes um desenho, são puras, largas, autênticas, indevassáveis. […] Já agora te sigo a toda parte, e te desejo e te perco, estou completo, me destino, me faço tão sublime, tão natural e cheio de segredos, tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina, o povo, meu poema, te atravessa. (Andrade, 2009, p. 139-141) São Bernardo • Foco narrativo 1a pessoa Presença do monólogo interior (Narrador-personagem) • Tempo A ação do romance se desenrola no final da década de 20 e início da década de 30 • Espaço Predominantemente rural: fazenda S. Bernardo, localizada no município de Viçosa, Alagoas. • Temas: 1. transformação do homem em objeto, em coisa 2. o ciúme e a ambição 3. o egoísmo e a solidão existencial 4. a luta pela sobrevivência; 5. opressão x submissão do homem 6. o sentimento de propriedade, 7. de "posse" 10 "No começo das nossas desavenças todas as noites aqui me sentava, arengando com Madalena. Tínhamos desperdiçado tantas palavras! — Para que serve a gente discutir, explicar-se? Para quê? Para que, realmente? O que eu dizia era simples, direto e procurava debalde em minha mulher concisão e clareza. (...) Usar aquele vocabulário, vasto, cheio de ciladas, não me seria possível. E se ela tentava a minha linguagem resumida, matuta, as expressões mais inofensivas e concretas eram para mim semelhantes a cobras: faziam voltas, picavam e tinham significação venenosa." Síntese Pontos-chave: • as mudanças históricas do final da República Velha. • a Revolução de 30 • a II Guerra Mundial • A Semana de Arte Moderna – marco do Modernismo • A fase heroica – a construção crítica da identidade nacional e o rompimento com antigos estilos • A lírica e a prosa dos anos 30
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