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AULA 5 GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO Prof. Ubirajara Morgado 02 CONVERSA INICIAL O sistema capitalista prevaleceu. Assim sendo, o progresso técnico foi considerado o motor para que isso ocorresse. Progresso técnico confunde-se com tecnologia, e esta tecnologia é responsável pelo crescimento e pela riqueza e dinâmica das nações. Os processos de globalização trazem inúmeros desafios relacionados diretamente a este tema. O esforço tecnológico tem várias dimensões críticas e, ao analisar a origem e a natureza das inovações, muitos autores (Dornellas, 2005; Coutinho, 1992) concluem que as inovações transformam não apenas a economia, mas afetam profundamente toda a sociedade. Teremos em uma aula na qual o expoente máximo da inovação terá participação de honra: Schumpeter. Veremos também o estudo de como a teoria econômica influencia o entendimento da inovação tecnológica e seus efeitos sobre a sociedade. Enfim, esta aula trabalhará a importância dos sistemas de inovação em nossa sociedade. A inovação como conceito fundamental para que o desenvolvimento da sociedade ocorra. CONTEXTUALIZANDO Em 1946, surgiu o primeiro computador digital: o Eniac (sigla em inglês para “computador e integrador numérico eletrônico”), que o exército americano desenvolveu para calcular a trajetória de mísseis. Foi considerada a maior maravilha tecnológica da época. Imaginem que ele pesava algo em torno de 30 toneladas e tinha 18 mil válvulas eletrônicas. Que calor devia ser gerado naquele ambiente com 18 mil válvulas. Às vezes, mariposas e outros bichinhos se enfiavam entre elas, o que fazia a máquina travar – o que deu origem à expressão bug (inseto, em inglês). Tem-se 1971 como um ano de mudança para esta área, visto que um colaborador da empresa Intel, chamado Ted Hoff, havia criado algo chamado de “microprocessador”. O que era aquilo? Algo que simplesmente substituía as 18 mil válvulas do Eniac, por meio de circuitos chamados transistores. Agora, em vez de amplas salas, poderíamos ter equipamentos com a mesma capacidade em pequenos espaços. Um exemplo é que 2.300 transistores poderiam caber em uma unha. 03 Cronologicamente, a quantidade de transistores dobrou a cada 18 meses e, consequentemente, sua potência também. O exemplo para esta potência se encontra em um produto icônico em nossos dias, o chamado iPhone, que tem um chip com uma rapidez superior 1.300 vezes ao da nave espacial Apollo 11, a nave que levou o primeiro homem para a Lua. Sim, mas isso é apenas o começo de uma revolução que ainda se avizinha: o chamado chip quântico, que terá uma capacidade de até 35 mil vezes mais rapidez que os atuais existentes. Quer mais? TEMA 1 – ECONOMIA E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA Segundo Dornellas (2005) Para os economistas, a produção da riqueza de uma sociedade depende de inúmeros de fatores. Ela é determinada, fundamentalmente, pela disponibilidade de recursos naturais, estoque de capital disponível (máquinas, equipamentos, instalações, etc.), volume e grau de qualificação de sua mão de obra. Afirma ainda o mesmo autor que para as teorias mais tradicionais da economia, a tecnologia estabelece como estes fatores poderão ser combinados para a produção de bens e serviços. De fato, para os modelos mais conhecidos de desenvolvimento econômico, como o famoso trabalho de Robert Solow, a tecnologia é um fator exógeno ao desenvolvimento, estando relacionado à simples e natural evolução dos mercados, que respondem ao crescimento da poupança e do investimento. Já para os autores schumpeterianos, aqueles que seguem processos específicos baseados na teoria de Schumpeter, essa visão neoclássica reduz a importância que a tecnologia efetivamente tem como motivadora do desenvolvimento, sendo considerada uma variável endógena na economia. De fato, para a escola de pensamento schumpeteriana, tecnologia é a principal arma dos empresários e do próprio governo para a promoção de competitividade e progresso social. (Coutinho, 1992) Segundo Dornellas, na década dos 40, considerava-se que as inovações seguiam um modelo linear conhecido como science push (em inglês impulso pela ciência). As atividades de pesquisa davam lugar a desenvolvimentos tecnológicos que por sua vez levavam à produção industrial e posterior comercialização dos produtos da inovação. É um modelo linear de inovação. 04 Segundo o mesmo autor, “na década dos anos 60, foi proposto o modelo demand pull (em inglês, demanda de mercado). Neste, o processo de inovação iniciava-se da percepção de uma necessidade ou demanda do mercado”. Infelizmente, ao analisarmos as duas abordagens citadas, e segundo a doutrina, ambas apresentam sérios problemas. Para a primeira, a direção é distorcida para o processo de geração de conhecimento. O que acontece com isso? O distanciamento da inovação. Não existiria uma garantia de que o conhecimento adquirido culminasse no processo de inovação e, muito menos ainda, de que tudo isso estaria correlacionado com os dados ou sinalizações do mercado. Incertezas permeiam o processo de conhecimento, e este conhecimento é plural e multidisciplinar, pressupondo a existência de uma estrutura ainda mais complexa entre o ambiente econômico e a mudança tecnológica. A observação que podemos fazer para a segunda abordagem, a chamada demand pull também conflita com outras críticas, pois estes mesmos críticos afirmam que as mudanças tecnológicas seriam meramente passivas e, diante das mudanças do mercado, teriam uma reação puramente mecânica. Pronto: assim sendo, teríamos pela frente um novo problema, com a negligência ocorrida com o conhecimento adquirido no decorrer do tempo e que ocorreu cumulativamente O processo depurativo levou a um novo modelo, este chamado de chain- linked. O modelo mais aceito atualmente é o chamado chain-linked (do inglês, modelo em cadeia), que traz a representação da inovação por meio da atividade do design ou do projeto. Para esse enfoque, derivado da literatura neoschumpeteriana, uma inovação científica e tecnológica consiste, basicamente, na transformação de uma ideia em produto novo ou aperfeiçoado, introduzido com sucesso no mercado. O processo de inovação tecnológica é complexo e requer a interação de um conjunto de instituições e de competências. TEMA 2 – A ABORDAGEM DE SCHUMPETER Uma representação da contribuição da tecnologia interferindo na estrutura dos mercados pode ser visualizada por meio do Fluxo Circular da Renda, o qual 05 pode demonstrar um equilíbrio entre o fluxo de recursos, o consumo, os gastos do governo, tecnologia e outros. O equilibro citado refere-se a um fluxo não dinâmico entre a produção e a distribuição de renda. Schumpeter gostava de denominar este fluxo como norma, e o advento da inovação tecnológica seria o motivo para a quebra desta norma pelo simples fato de que ela interfere na dinâmica de geração de renda das empresas. Se interfere na renda, interfere também no processo produtivo, na rentabilidade e, no final de tudo, na aceitação do produto pelo mercado. Importante frisar que a quebra desta norma se dá pela importância que a inovação tecnológica tem na cabeça do empresário como caminho para obtenção de maiores lucros para o seu negócio. As inovações geram fenômenos dinâmicos na economia, tanto nos seus aspectos macro quanto microeconômicos. No plano macroeconômico, as inovações para serem efetivadas demandam a aplicação de recursos para investimentos produtivos (Dornellas, 2005). Quando uma empresa decide mudar seu processo produtivo, terá que arcar com o aporte de recursospara tal mudança. Isso também ocorre com a inovação, em que uma ordem de investimentos se fará necessária para a aplicação de novas tecnologias. Quando tocamos no importante assunto chamado de estratégia, definimos que existe autonomia empresarial para sua definição, mas também que os cenários, e aqui em particular o cenário externo, reduz drasticamente as alternativas competitivas viáveis. Todas as organizações buscam se diferenciar da concorrência. Isso por si só justifica que elas busquem, freneticamente, a inovação, seja para se tornar mais produtiva (menores custos, maior produtividade, melhor qualidade) ou mesmo sendo a detentora de patentes inovadoras. Isso traz o resultado esperado: o lucro e, possivelmente, o monopólio. O lucro não é proibido. Aliás, é ele que propicia maiores investimentos, tanto na estrutura quanto no seu pessoal. Por isso estas mesmas empresas buscam ser diferentes dos seus concorrentes. Aqui entra Schumpeter com seu postulado de que a empresa inovadora é a que se apropria deste lucro (ganho) extraordinário. Sendo diferente, uma organização aumenta seu potencial de lucro. Agindo assim, ela defende vorazmente as leis que versam sobre patentes 06 relacionadas aos produtos inovadores e aos seus segredos industriais. São caminhos para prolongar a duração do lucro obtido por meio da inovação. Quem possui maior fôlego financeiro, neste caso oriundo das inovações, poderá investir mais e pesadamente em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Poderá se valer de estratégias diferenciadas (ousadas e ofensivas) para o desenvolvimento tecnológico. Quem não puder ser o criador, terá que ser o copiador. Essa é a teoria do benchmarking, ou seja, copiar do inovador. Seguir o novo. Não podem e não devem ficar muito defasadas dos líderes inovadores, não buscando somente o aprendizado da estratégia usada pelo líder, mas também acompanhar sua trajetória, promovendo a mudança em seus produtos e processos. O efeito, após um período de tempo, é que a difusão da inovação tende a anular os lucros extraordinários obtidos pelos inovadores e pressupõe que estas mesmas empresas inovadoras nunca parem de inovar, pois a posição de liderança de hoje não será a posição de amanhã. A liderança não é duradoura. A busca pela inovação deve ser uma obsessão. Deve ser permanente. Todas as empresas que se encontram no mercado estão em busca da diferenciação, do novo. Esta inovação traz o “pote de ouro no final do arco-íris”, o tão almejado lucro e diferenciação técnica e no processo produtivo. Mas o processo inovativo não implica somente em criar tecnologias, mas colocar esta nova tecnologia atrelada ao processo econômico. Às vezes, esta inovação ou ideia pode não ser um invento genuíno, ou seja, uma invenção não se transformar em inovação. Existem muitas formas de inovar. Quando falamos especificamente em inovação de produto, devemos ter claramente em mente que os consumidores destes produtos deverão ser reeducados para o consumo efetivo destes produtos inovadores. E, conforme os ensinamentos de Schumpeter, as consequências das inovações tecnológicas, sejam elas incrementais ou radicais, seriam melhorar o modo como um produto pode ser obtido em uma economia. Já para as inovações relativas a processos, estas afetam a forma como os agentes combinam os fatores de produção. As novas combinações realizadas devem o desenvolvimento econômico para o processo, para o novo uso e emprego que se faz. Da mesma forma, a abertura de novos mercados e a criação de novas formas de comercialização de produtos também pode ser resultado do progresso técnico. 07 Atenção para uma informação importante: nem toda a inovação tem o poder de transformar a realidade econômica e social. Uma inovação isolada nada afeta o social e o econômico. No mundo contemporâneo, podemos citar as mudanças na informática e na microeletrônica como exemplos de inovações revolucionárias que modificam a realidade, tanto da economia quanto do social. Segundo Dornellas (2005), O surgimento de inovações nas duas últimas décadas, sobretudo as ligadas ao surgimento e introdução dos semicondutores e circuitos integrados, revolucionou de maneira radical todos os setores da economia. Este exemplo fidedigno de inovação tecnológica encontra-se associada à emergência do advento de um novo e extremamente poderoso paradigma baseado no que se convencionou chamar de 'tecnologia da informação'. Paradigma este que se define exatamente pelo poder de penetrar, por capilaridade, em todos os segmentos produtivos e de consumo das sociedades modernas, particularmente após o advento da internet e dos novos meios de telecomunicações. As formas mais antigas de produção são dominadas pelas inovações tecnológicas, podendo também que esta inovação tecnológica tenha convivência com outras inovações. TEMA 3 – DETERMINANTES DA INOVAÇÃO Com base nos escritos de Dornellas (2005), o processo de busca permanente por inovações, as empresas trabalham com determinações externas e internas à própria empresa. Entre as determinações externas mais importantes destacam-se: o ambiente econômico, o paradigma tecnológico e o setor de atividade industrial ao qual a empresa pertence. Entre as determinações internas encontram- se na trajetória da empresa e sua estratégia. Cada um desses elementos será brevemente analisado a seguir. 3.1 Fatores externos (segundo Dornellas, 2005) O ambiente econômico é o grande cenário no qual a empresa se encontra e se movimenta. Porém, esse ambiente também encontra-se em permanente movimento, ele não é estático, e isso exige que a empresa tenha uma percepção desse ambiente e que promova a adequação de seu posicionamento segundo as mudanças do ambiente econômico, externo à empresa. Num plano mais geral, está o ambiente macroeconômico, o qual é extremamente relevante, pois a inovação envolve decisões de investimento de longo prazo. Assim, um ambiente macroeconômico que gera incertezas nos agentes econômicos, tende a reprimir as decisões relativas ao desenvolvimento tecnológico que sejam mais ambiciosas, que envolvam volumes mais elevados de recursos. 08 Um país com uma economia superaquecida e, consequentemente, com aumento considerável no plano salarial pode ter uma indução no desenvolvimento tecnológico poupador de mão de obra, impulsionando a direção dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Assim, os novos paradigmas, também por serem um padrão tecnológico, apresentam maiores perspectivas de desenvolvimento no futuro e apresentam as melhores alternativas de sucesso. Toda a empresa tem o poder de decisão quanto à convivência dos paradigmas, ou seja, se um velho convive com um novo. Entretanto, o novo tenderá a prevalecer sobre o antigo pelas condições de evolução ao longo do tempo. Assim, as empresas que buscam manter e reproduzir as condições de liderança de mercado sempre procuram incorporar novas tecnologias que se encontram atualizadas em relação aos paradigmas vigentes. Então, os paradigmas tecnológicos reduzem o número de alternativas tecnológicas relevantes para a empresa. Os setores de atividade industrial também impõem alguns determinantes externos para o comportamento das empresas. Pavitt, por meio de um estudo empírico, identificou quatro padrões setoriais de inovação: 1. O primeiro deles pode ser denominado de setores receptores de progresso técnico, pois são setores industriais nos quais as principais inovações foram geradas fora desses mesmos setores, sobretudo na indústria de máquinas e equipamentos e de insumos. Um exemplo, é a indústria têxtil em que os teares eas fibras, grosso modo, definem o padrão tecnológico da indústria. Estando a tecnologia incorporada em outras mercadorias é mais livre o acesso às tecnologias. 2. Um segundo tipo de padrão de inovação é constituído por setores intensivos em escala, nos quais é necessário o domínio de um conjunto de conhecimentos relativamente amplo, abrangendo a tecnologia de processo e a tecnologia de produtos. As inovações são tanto de processos, objetivando a redução de custos de produção, quanto de produtos, principalmente nos segmentos em que a diferenciação e a produção de produtos especiais são aspectos relevantes na concorrência. Nestes setores as inovações são geradas tanto internamente às empresas como em cooperação com fornecedores, principalmente de bens de capital. Estes mercados são mais concentrados tanto pela escala de plantas e de empresas quanto pelas economias de escala derivadas do aprendizado tecnológico. 3. Um terceiro grupo de setores é constituído pelas indústrias produtoras de máquinas e equipamentos e de instrumentação, consideradas como ofertantes especializados. Neste segmento deter tecnologia de produto é estratégico, pois o principal fator de concorrência nesses mercados é a performance dos produtos. Por serem ofertantes especializados não exigem escalas tão elevadas quanto em bens de consumo, admitindo a participação de empresas de pequeno e médio porte, porém muito capacitadas tecnologicamente nos seus segmentos de mercado. As inovações são geradas 09 internamente às empresas e em cooperação com seus grandes clientes. 4. Por fim estão os setores baseados em ciência, cujo desenvolvimento tecnológico é de fronteira, utilizando-se também os conhecimentos científicos que se encontram na fronteira das ciências básicas. São exemplos os complexos químico e eletroeletrônico. As inovações relevantes buscam o lançamento de novos produtos e novos processos de produção que reduzem os custos. Geralmente são grandes empresas, com escala de faturamento, que investem elevados volumes de recursos em pesquisa e desenvolvimento. Algumas dessas empresas se envolvem com programas de pesquisa científica orientada que exigem longo prazo de maturação. Para amortizar esses investimentos elevados, é necessário que as empresas estejam presentes em mercados globais. (Pavitt, 1984) Para Dornellas (2005), Essa tipologia permite algumas conclusões importantes para serem consideradas na definição de estratégias empresariais e mesmo de desenvolvimento nacional: mostra que os setores de atuação das empresas impõem determinados comportamentos empresariais; mostra que os setores também guardam assimetrias entre si, revelando a importância da dimensão setorial para uma consideração analítica; indica que não apenas os setores industriais são diferentes como existe uma certa hierarquia entre eles na medida em que alguns setores geram e transmitem conhecimentos técnicos e outros são receptores de progresso técnico. 3.2 Fatores internos Ao longo da história, uma empresa/organização adquire determinadas competências de determinam sua trajetória. Com base nessa afirmação, o progresso técnico passa a ser um processo cumulativo nesta história, decorrentes de decisões anteriormente tomadas e que definirão seu presente e suas possibilidades de futuro. Conforme Dornellas (2005), Desta forma, a empresa vive um processo evolutivo que resulta de suas decisões próprias, correspondendo ao que se poderia chamar de evolução natural e de estímulos ou pressões geradas no ambiente externo à empresa. O paralelo com a biologia é muito claro, e este pensamento constitui o cerne da teoria evolucionista da firma que tem em Nelson & Winter. Esta teoria evolucionista é o marco teórico mais importante ao afirmar que a empresa mesmo que deseje alcançar patamares tecnológicos superiores e que pretenda desenvolver tecnologias que estejam no centro do novo paradigma pode não ter condições para fazê-lo na medida em que sua trajetória passada limita e condiciona suas opções no presente. A capacitação tecnológica obtida pela empresa ao longo de sua trajetória lhe concede uma característica específica, que a diferencia de todas as outras empresas. As opções da empresa em relação a seus objetivos e suas metas constituem sua estratégia tecnológica. Freeman (1975), estudando o tema das estratégias empresariais, encontrou tipos diferentes: 010 1. O mais inovador é o tipo de empresa que sempre objetiva manter a liderança técnica e econômica no seu mercado; portanto, investe pesadamente em pesquisa e desenvolvimento e a tecnologia é um de seus principais fatores de concorrência. 2. Outra estratégia é a defensiva que também é muito inovadora, porém busca aprender com a estratégia da empresa ofensiva e busca diferenciar a sua tecnologia em relação à ofensiva. Empresas com esses dois tipos de estratégia compõem aquelas que são verdadeiramente inovadoras. As estratégias vistas nos dois tópicos acima implicam numa boa capacidade de produzir, isto é, as empresas devem possuir capacitação em engenharia de produção, porém ou licenciam ou copiam ou ainda dependem de desenhos e projetos desenvolvidos pelas empresas que demandam seus produtos. Este conjunto de empresas normalmente fica defasado em relação às duas primeiras estratégias, contudo as vantagens competitivas destas empresas estão em produzir com vantagens de custos, e não com tecnologia avançada. As vantagens de custos podem estar nos baixos salários, na disponibilidade de matérias-primas e insumos com baixos custos, ou na proteção de mercado que permite a convivência de custos mais elevados com baixo investimento em desenvolvimento tecnológico (Baptista, 1997). Segundo Coutinho (1997), Existem outros dois tipos de estratégias, as que não privilegiam a tecnologia no conjunto da estratégia empresarial, e as oportunistas que sobrevivem em função da exploração de um nicho de mercado, mesmo que sem privilegiar a variável tecnológica. Nota-se que as duas primeiras estratégias implicam em grande capacidade de inovação. As duas seguintes (que licenciam tecnologia ou que dependem de projetos de outras empresas) exigem boa capacidade de manufatura, de produção. E as duas finais não concedem importância para a tecnologia, sendo o tipo de empresa que enfrenta dificuldade de sobrevivência, são aquelas empresas que surgem e desaparecem com muita facilidade. Capacitação é a chave e condição para que as empresas inovem e sobrevivam. Mas certifique-se que, além disso, elas estejam utilizando estratégias tanto ofensivas quanto defensivas na busca da liderança. Se isso não estiver sendo praticado, só resta a defasagem. Dornellas afirma ainda que a probabilidade de sobrevivência e liderança das empresas depende do grau de maturidade do progresso técnico nos respectivos setores industriais. Aqueles setores que apresentam paradigmas tecnológicos maduros demonstram maior tolerância com as empresas menos inovadoras, porém com capacitação produtiva. Os setores que convivem com novos paradigmas, nos quais é acelerado o ritmo de incorporação de novos produtos e novos processos, exigem que as 011 empresas adotem estratégias mais ousadas, mais intensivas em P&D para que sejam competitivas em seus mercados. Resumindo, são destacados os seguintes pontos, relevantes para a análise posterior e para a discussão sobre a inovação tecnológica: 1. As grandes inovações, que redefinem o paradigma tecnológico, são responsáveis por uma onda de investimentos que caracterizam um período de prosperidade da economia; 2. Esse período transforma toda a realidade econômica e social, aumenta o nível de renda e gera acumulação de riqueza; 3. As inovaçõessão responsáveis pela obtenção de lucros extraordinários para as empresas, as quais aumentam seu potencial de crescimento ao longo do tempo; 4. A difusão, sem novas grandes inovações, tende a reduzir os lucros extraordinários, reduzindo o dinamismo econômico; 5. As empresas estão permanentemente buscando inovações, caracterizando o processo de concorrência como um processo de disputa em torno de inovações; 6. Nesse processo as empresas dependem do ambiente econômico, do caminho do paradigma vigente e do setor de atividade industrial. As empresas se defrontam com restrições e condicionantes externos ao longo do processo de busca permanente de inovações; 7. As empresas também se defrontam com determinantes internos, como a sua trajetória tecnológica e a estratégia da empresa; 8. A trajetória da empresa define um conjunto de capacitações que tipificam cada empresa, determinando as possibilidades quanto ao futuro; 9. As estratégias empresariais podem tentar alterar a trajetória da empresa, assim como o ambiente externo pode induzir e estimular a busca por inovações. FINALIZANDO Neste módulo fomos mais a fundo na doutrina do que chamamos de inovação, resgatando um teórico que, durante muito tempo, ficou esquecido: Schumpeter. Hoje temos este teórico como foco do estudo em inovação na chamada teoria schupeteriana. 012 Concluímos que as inovações trazem muitos benefícios à sociedade, tais como uma profusão de investimentos e consequente período de prosperidade, com possibilidade de aumento na renda e acumulação de riqueza. Leitura obrigatória MCCRAW, T. K. O profeta da inovação. Tradução de Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2012. 013 REFERÊNCIAS BAPTISTA, M. A. C. A abordagem neoschumpeteriana: desdobramentos normativos e implicações para a política industrial. 145 f. Tese (Doutorado em Economia) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1997. BASTOS, E. M. C. Ciência, tecnologia e indústria no Brasil dos anos oitenta – o colapso das políticas estruturantes. 262 f. Tese (Doutorado em Economia) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1994. COUTINHO, L. G. A terceira revolução industrial e tecnológica. In: Revista Economia e Sociedade, n. 1, Campinas, 1992. DOSI, G. 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