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Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 1 CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA PRÓ-REITORIA DE ENSINO DISCIPLINA LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS AULA 5 O TEXTO ESCRITO: PARAGRAFAÇÃO E PARÁGRAFO PADRÃO O TEXTO LITERÁRIO E O NÃO LITERÁRIO COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS CÓDIGO GINS1007 CRÉDITOS 04 TOTAL DE AULAS NO SEMESTRE 80h/a OBJETIVOS Estudar a estrutura do parágrafo e suas formas de composição, bem como o parágrafo considerado padrão. Conhecer as características do texto literário e saber distingui-lo do não literário. Trabalhar a coesão e a coerência textuais, visando à clareza do texto. CONTEÚDO O parágrafo como unidade de expressão e sua estrutura; Parágrafo padrão; Tópico frasal; modos de elaboração do tópico frasal. Texto literário e não literário: definição e características. Coesão textual: definição e recursos; Coerência textual: definição e correção de textos incorentes. ESTRATÉGIA Explicitação dos conteúdos pelo professor e proposição de vários exercícios aos alunos. BIBLIOGRAFIA ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. São Paulo: Ática, 2005. RIBEIRO, Manoel. Gramática aplicada da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 2005. Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 2 ESTRUTURA DO PARÁGRAFO O parágrafo é um conjunto de enunciados (frases, orações, períodos) que se unem em torno de um mesmo sentido. De modo geral, cada parágrafo apresenta: a) uma ideia central; b) ideias secundárias, que desenvolvem e/ou complementam o tema abordado na ideia central; todas, porém, devem estar inter-relacionadas pelo sentido. Veja o exemplo que se segue: “Por fim, o trem de ferro. O trem não parava em Rio Acima naquela época. Mas ainda assim sua existência era um deslumbramento para a molecada. Todos sabiam exatamente a hora que ele passava, e iam postar-se na estrada, no alto dos barrancos, junto à cerca de arame farpado, a esperá-lo, grandioso espetáculo diariamente repetido. Apostavam para saber quem é que iria vê-lo primeiro, colavam o ouvido no trilho para ouvir o ruído das rodas. Assim que alguém dava o alarme, todos se colocavam em posição e dentro em pouco uma fumacinha apontava longe, rolava no ar um ruído em crescendo e finalmente a locomotiva surgia lá em baixo, na curva da estrada.” (Fernando Sabino, in: O Menino no Espelho) Ideia central: ver o trem passar Ideias secundárias: o trem não parava na cidade; as crianças ficavam maravilhadas só em vê-lo; elas iam vê-lo passar todo dia; faziam apostas e procuravam bons lugares para avistá-lo. Esta estrutura básica do parágrafo pode se sustentar ainda sobre três partes principais: 1. Introdução: frase(s) inicial(is) que propõe(m) a ideia central. É também chamada de tópico frasal. No exemplo acima, é a frase “Por fim, o trem de ferro”. 2. Desenvolvimento: frases que explanam a ideia central do parágrafo; no exemplo, o desenvolvimento corresponde ao trecho que vai de “O trem não parava...” até “...no ar um ruído em crescendo”. 3. Conclusão: frase(s) que dá(ão) fecho à ideia proposta, retomando o tópico frasal; no exemplo, é o trecho “...finalmente a locomotiva surgia lá em baixo, na curva da estrada”. Ao se elaborar um texto composto por vários parágrafos, não se deve esgotar o tema no primeiro parágrafo. Este deve apenas apontar a questão que vai ser desenvolvida. O parágrafo seguinte é sempre uma retomada de algo que ficou inexplorado no parágrafo anterior ou anteriores. Pode ser uma palavra ou uma ideia que mereça ser desenvolvida. Um texto é constituído por parágrafos interdependentes, sempre em torno de uma mesma ideia. Reconheça mentalmente o que você sabe sobre o tema. É possível fazer um plano, mas talvez seja mais prático você listar as palavras-chave com que vai trabalhar. Preocupe-se com a sequenciação do texto, utilizando os recursos de coesão de frase para frase e de parágrafo para parágrafo, sem perder de vista a coerência. Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 3 O parágrafo final deve retomar todo o texto para concluí-lo. Por isso, antes de escrevê-lo, releia tudo o que escreveu. A fim de fechar bem o texto, o parágrafo conclusivo deve retomar o que foi exposto no primeiro. Sequenciação, continuidade e progressão das ideias no texto dissertativo: Como você sabe, um texto não é uma reunião de frases soltas. Como unidade de sentido que é, ele precisa apresentar textualidade, ou seja, deve apresentar qualidades como clareza, coesão, coerência e correção, para ser bem compreendido. A continuidade e a progressão textual são dois dos elementos essenciais da textualidade. Dá-se o nome de sequenciação ao modo como um texto se desenvolve, mantendo sua textualidade. Esta sequenciação depende de um duplo movimento: por um lado, a retomada de palavras e ideias já expressas, tanto no interior de um parágrafo quanto entre um parágrafo e outro, procedimento chamado continuidade; por outro, a introdução de novas ideias, procedimento chamado progressão, responsável pelo andamento do texto. Um texto sem continuidade fica com suas ideias “soltas”, seu desenvolvimento fragmentado. Um texto sem progressão se torna repetitivo, redundante, apresentando sempre as mesmas ideias. Um texto bem redigido implica um equilíbrio entre esses dois movimentos. Observe o texto abaixo: EFEITOS DO TABACO É difícil encontrar no mundo, hoje, alguém que ignore que o hábito de fumar faz mal à saúde. Os prejuízos são mais evidentes para os sistemas respiratório e cardiovascular, embora o uso de tabaco já tenha sido relacionado a vários tipos de câncer, não apenas o de pulmão. A novidade é que cientistas demonstraram que o fumo também está relacionado ao declínio cerebral. O estudo, publicado na revista “Neurology”, foi feito com 9.209 pessoas na Dinamarca, na França, na Holanda e no Reino Unido, pelo grupo de pesquisa Eurodem (Ação Conjunta da Comunidade Européia para a Epidemiologia da Demência). Os pesquisadores aplicaram questionários para avaliar o estado mental de homens e mulheres com mais de 65 anos e concluíram que, entre os que nunca fumaram, o declínio das atividades cognitivas se dava a uma taxa 0,03 ponto percentual por ano. Já entre os fumantes, o índice foi de 0,16 e, entre ex-fumantes, de 0,06. Uma possível explicação para o fenômeno está no fato de que o uso crônico do tabaco provoca aterosclerose e eleva a pressão arterial, aumentando assim o risco de acidentes vasculares (derrames) e de lesões a pequenas áreas do tecido cerebral. O interessante desse estudo é que ele contradiz pesquisas anteriores sugestivas de que a nicotina teria um efeito protetor para o cérebro, particularmente contra o mal de Alzeimer. Mas, como observou Amanda Sandford, porta voz da ASH (Ação sobre Fumo e Saúde), “é mais provável que a inalação constante de uma substância venenosa tenha efeitos negativos do que positivos”. Uma hipótese para o “efeito protetor” é a de que os fumantes morrem antes de atingir a idade em que o mal de Alzheimer se torna mais freqüente. Embora amplo, o trabalho ainda precisa ser corroborado por outros estudos antes que se possa incluir a demência como uma das moléstias provocadas pelo hábito de fumar. Folha de São Paulo, set/2004 Leitura e Produção de Texto– Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 4 Você deve ter percebido que a parte inicial de cada parágrafo está marcada. Isso foi feito para chamar sua atenção para o modo como o autor elaborou a sua exposição, encadeando as ideias. O encadeamento se realiza, uma vez que nesses trechos há sempre uma palavra ou expressão que retoma algo já dito no parágrafo anterior. Este é um dos recursos de sequenciação presentes no texto. A proposta aqui é que você recupere a informação anterior de cada trecho inicial. O primeiro está feito a título de exemplo. A novidade é que: Retoma a informação dada no parágrafo anterior, que afirma já serem conhecidos os efeitos nocivos do cigarro para a saúde do coração e do pulmão. A palavra novidade aponta para algo desconhecido pela maioria das pessoas e que será a razão de o texto ter sido escrito. Os pesquisadores: _____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ : _________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ : ____________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ : ___________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ Agora, vamos ver um exemplo de um texto com problemas de sequenciação. O texto que segue foi produzido a partir do tema Preservação do meio ambiente e progresso. Reproduzido aqui tal qual foi escrito, apresenta problemas de diferentes tipos: paragrafação, pontuação e regência, entre outros. Leia-o, observando as marcas de continuidade e a progressão das ideias. O casamento perfeito. Progredir e preservar o que é isto? Para muitos, são apenas duas das milhares de palavras, que constam do vocabulário português. Enganam-se porém, pois muito mais do que duas meras e simples palavras, são fundamentais para a sobrevivência do ser humano. Fundamentais por quê? Muitos se perguntam. Porque apenas a preservação do meio ambiente, sem o progresso não adiantaria nada, pois se isso tivesse acontecido, viveríamos ainda como “Adão e Eva”. Ao mesmo tempo, o progresso desenfreado sem a companhia da preservação do meio ambiente, seria outro fator negativo, pois com o tempo todos nós acabaríamos morrendo com a tamanha poluição que se formaria com o passar do tempo. Para progredirmos é necessário vivermos. Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 5 Pensando apenas na vida da natureza, muitos ecologistas se esquecem que é preciso haver o progresso para haver a vida humana. Do mesmo modo, muitos empresários, pensando apenas no progresso, se esquecem que é preciso haver a vida humana para haver o progresso. Agora, unidos, ecologistas e empresários realizariam um casamento perfeito e os frutos desse casamento seriam um mundo progredido e preservado. Aluno do terceiro ano do Ensino Médio 1. Como vimos, para se manter a continuidade no texto, é necessário fazer uso de termos que promovam a ligação entre as informações contidas nele. Identifique marcas de continuidade no texto. 2. O texto apresenta sérios problemas de progressão textual, pois todo ele é desenvolvido a partir de um único argumento. Como consequência, as ideias giram apenas em torno desse argumento e, assim, alcançam pouca profundidade. a. Qual é esse argumento? b. Dê sua opinião: Que outros argumentos o autor poderia ter utilizado para desenvolver o tema? 3. Por fim, dê sua opinião sobre este texto. Em sua opinião, ele apresenta textualidade? Justifique sua resposta. %0%0%0%0%0%0%0%0%0%0%0%0%0%0%0% TÓPICO FRASAL Constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais, o tópico frasal encerra de modo geral e conciso a ideia-núcleo do parágrafo. É certo que nem todo parágrafo apresenta essa característica: algumas vezes a ideia-núcleo está como que diluída nele ou já expressa num dos precedentes, sendo apenas evocada por palavras de referência (certos pronomes) e partículas de transição. Mas a maioria deles é assim construída. Se a maioria dos parágrafos apresenta essa estrutura, é natural que a tomemos como padrão. Assim fazendo, verificamos que o tópico frasal constitui um meio muito eficaz de expor ou explanar ideias. Enunciando logo de saída a ideia-núcleo, o tópico frasal garante de antemão a objetividade, a coerência e a unidade do parágrafo, definindo-lhe o propósito e evitando digressões impertinentes. É isso que se vê no seguinte exemplo de Luis Carlos Cabrera: “Sustentabilidade é a palavra que mais se ouve e se lê por aí — na administração, na economia, na engenharia ou no Direito. Mas, afinal, o que significa sustentabilidade? Como bom mentor, vou tentar explicar de forma simples o conceito que já faz parte da vida moderna. Em primeiro lugar, trata-se de um conceito sistêmico, ou seja, ele correlaciona e integra de forma organizada os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade. A palavra-chave é continuidade — como essas vertentes podem se manter em equilíbrio ao longo do tempo.” (Revista Você S.A. – Ed. Abril – Maio de 2009) Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 6 Os primeiros períodos – em destaque, com a intenção de mostrar que se trata de ideia central do parágrafo - constituem o tópico frasal, que traduz uma indagação sobre o significado do termo “sustentabilidade” e sua aplicabilidade no mundo moderno. O rumo das ideias a serem desenvolvidas já está aí traçado: seria desconcertante se o autor não explanasse, especificando, justificando, fundamentando, nas linhas seguintes, o que anunciou nas primeiras. Além disso, a presença do tópico facilita o resumo ou sumário, bastando para isso destacá-lo de cada parágrafo. DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL Há vários modos de se iniciar um parágrafo. Veremos, aqui, os mais comuns: A) Declaração inicial - Este é, segundo consta, o tipo mais frequentemente encontrado. Como o nome indica, o autor inicia o parágrafo fazendo uma declaração sobre o tema que deseja explanar no parágrafo. Exemplo: “Os responsáveis pelas áreas de seleção das principais empresas do Brasil são unânimes em apontar uma falha grave na formação dos profissionais brasileiros: a falta de cultura. A crítica vale tanto para jovens trainees quanto para executivos que já ocupam cargos de liderança. Falta conhecimento de história, geografia, pintura, música e literatura. Esse defeito pode definir sua próxima contratação ou promoção: as empresas precisam de gente culta. Por quê? Porque é o nível cultural que melhora a capacidade de diagnóstico, de entender rapidamente contextos complexos e de fazer julgamentos. Não é à toa que as escolas de administração europeias (que nos últimos anos lideram os rankings internacionais) oferecem cada vez mais cursos que discutem pintura, prosa e poesia, neurologia, filosofia, antropologia e história.” (Luis Carlos Cabrera, Revista Você S. A.) O autor abre o parágrafo com uma declaração sucinta, que, no caso, é uma generalização("Os responsáveis pelas áreas de seleção das principais empresas do Brasil são unânimes em apontar uma falha grave na formação dos profissionais brasileiros: a falta de cultura."), fundamentando-a a seguir por meio de exemplos e pormenores. Às vezes, a declaração inicial aparece sob a forma negativa, seguindo-se a contestação ou a confirmação, como no trecho abaixo: “Não há solução para o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho a não ser pela construção de uma vida harmônica. A tentativa de separar o mundo em duas ou mais partes acaba criando uma espécie de paranoia que não resolve. Gostar do que se faz é fundamental. Ter uma vida pessoal saudável, com família, amigos, hobbies e interesses variados também. Ser responsável no trabalho não implica em colocar a família em segundo plano. Talvez seja a hora de rever os valores e fazer um bom exercício de organização da vida.” (Eugenio Mussak. In: Vida Simples - jan/2010)) B) Definição - Frequentemente o tópico frasal assume a forma de uma definição. É método preferentemente didático. No exemplo que damos a seguir, a definição é denotativa, ou seja, didática ou científica. “Ética é uma ciência que estuda a moral, procurando avaliá-la criticamente para chegar a valores sustentáveis e universais. Essa ciência é um ramo da filosofia, que tem como objetivos maiores o bom e o bem. As organizações em geral precisam de códigos de condutas que possam ir além dos valores e costumes individuais de seus colaboradores, a fim de conseguirem firmar, de maneira uníssona, a imagem de empresas sérias e elegíveis no nicho de mercado em que atuam.” (Célia Leão, Revista Você S. A.) Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 7 C) Divisão - Processo também quase que exclusivamente didático, dadas as suas características de objetividade e clareza, é o que consiste em apresentar o tópico frasal sob a forma de divisão ou discriminação das ideias a serem desenvolvidas: “Quatro funções básicas têm sido atribuídas aos meios de comunicação: informar, divertir, persuadir e ensinar. A primeira diz respeito à difusão de notícias, relatos e comentários sobre a realidade. A segunda atende à procura de distração, de evasão, de divertimento por parte do público. A terceira procura persuadir o indivíduo, convencê-lo a adquirir certo produto. A quarta é realizada de modo intencional ou não, por meio de material que contribui para a formação do indivíduo ou para ampliar seu acervo de conhecimentos.” (Samuel P. Netto, adaptado) D) ALUSÃO HISTÓRICA - Recurso que desperta sempre a curiosidade do leitor é o da alusão a fatos históricos, lendas, tradições, crendices, anedotas ou a acontecimentos de que o autor tenha sido participante ou testemunha. É um recurso muito empregado por cronistas, que, com frequência, aproveitam incidentes do cotidiano como assunto não apenas de um parágrafo, mas até de toda a crônica. “ “Em 1961, o então presidente da república Jânio Quadros condecorou o guerrilheiro esquerdista Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Como Jânio não rezava pela cartilha marxista, na época muitos acharam que, ao tomar a decisão, ele estivesse duas doses a mais do que o resto da humanidade. Não estava. Ao homenagear Che Guevara, Jânio queria alvejar os adversários da direitista UDN, o partido que o ajudara a ser eleito e com o qual havia rompido. O tiro janista saiu pela culatra, mas a medalha concedida ao guerrilheiro entrou para a História como um clássico da provocação política. Quase quarenta anos depois, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, resolveu imitar Jânio. No dia de Tiradentes, em Ouro Preto, o socialista de estilo montanhês distribuiu medalhas da Inconfidência, a mais alta honraria do governo mineiro, a personalidades da oposição. Só para espicaçar o presidente Fernando Henrique Cardoso, seu desafeto.” (VEJA, abr. 1999) E) OMISSÃO DE DADOS IDENTIFICADORES - consiste na técnica de iniciar um parágrafo de tal modo que a atenção do leitor se mantenha suspensa durante largo tempo, técnica que consiste em omitir certos dados necessários a identificar a personagem e apreender a verdadeira intenção do autor. É um artifício, um truque, em geral eficaz nas mãos de um cronista ou contista hábil. Veja-se o exemplo: “Vai chegar dentro de poucos dias. Grande e boticelesca figura, mas passará despercebida. Não terá fotógrafos à espera, no Galeão. (...) Estará um pouco por toda parte, e não estará em lugar nenhum. Tem uma varinha mágica, mas as coisas por aqui não se deixam comover facilmente, ou, na sua rebeldia, se comovem por conta própria, em horas indevidas, de sorte que não devemos esperar pelas consequências diretas do seu sortilégio.” (Carlos Drummond de Andrade, Fala, amendoeira, p. 121) O autor anuncia um fato, de chofre, mas não nos fornece nenhuma indicação clara sobre a personagem de que se trata, mantendo o leitor na expectativa, não apenas até o fim do parágrafo, mas até o fim da própria crônica. É processo muito eficaz para prender a atenção, mas exige certa habilidade, sem a qual o autor acaba tentando, a seu modo, manter o suspense, mas sem sucesso. Um deslize em seu texto e o leitor acaba percebendo, antes do esperado, de qual personagem se está falando. No caso desta crônica, ao final fica-se sabendo que a personagem anunciada por Drummond era a primavera. - Veja este outro exemplo de tópico frasal com omissão de dados identificadores: Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 8 “Ele é feio, mas come todo mundo. É nojento, asqueroso. Um inseto, mesmo. E é tão pequeno, tão baixo, que ninguém nota sua presença. Mas ele nunca está sozinho. Iguais a ele existem aos milhões só em sua casa. E, olha, não se iluda: eles são todos iguais. Totalmente sem escrúpulos, fazem mal às moças e rapazes. Adultos e crianças. Ele é um ser tão desprezível, que respirar perto dele pode causar até alergia. E sabe do que ele mais gosta de comer? Restos de pele humana. Por isso, só na sua cama deve ter pelo menos uns 2 milhões se reproduzindo. Acabe com esta pouca vergonha. Mantenha Sterilair ligado.” F) INTERROGAÇÃO - Às vezes, o parágrafo começa com uma interrogação, seguindo-se o desenvolvimento sob a forma de resposta ou de esclarecimento. Seu principal propósito é despertar a atenção e a curiosidade do leitor. “Já reparou como a palavra ética voltou a fazer parte das conversas corporativas? Escreveu não leu, vem à tona a palavra ética. Seja ético, use de ética em suas relações com fornecedores, são alguns dos mantras que ouvimos nas organizações. Afinal, será que sabemos o que é ética e como ela se traduz nas ações do nosso cotidiano?” (Célia Leão, Revista Você S. A.) Veja outro exemplo de tópico frasal por interrogação: “Você gagueja? Isso pode ser um sintoma de que está em curso uma batalha no seu cérebro: uma disputa entre os hemisférios direito e esquerdo pelo controle daquilo que você fala. Uma pesquisa liderada pelo neurologista Peter Fox, da Universidade do Texas, mostrou que há uma estreita relação entre casos de gagueira e falhas na lateralização da fala.” (Superinteressante, mai. 2003) ____________________________________________________________________________________ EXERCÍCIOS 1- Leia os parágrafos abaixo e numere-os de acordo com as diferentes formas que o tópico frasal pode assumir: ( 1 ) declaração inicial ( 2 ) definição ( 3 ) interrogação ( 4 ) divisão ( 5 ) alusão histórica ( 6 ) omissão de dados identificadores ( ) “O que mais me surpreende no Brasil de hoje é como subestimamosos enormes avanços realizados em tão pouco tempo. Pois basta voltarmos para meados da década passada – apenas alguns minutos na história do país – para nos darmos conta de quanto progredimos.” (Roberto Civita in O Brasil agora tem rumo) ( ) “A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas.” (Drauzio Varella in Violencia epidémica) ( ) O Brasil está melhorando? Às vezes parece que sim, outras que não. Certas estatísticas afirmam que sim: menos mortalidade infantil, mais criança na escola. Certas realidades do dia-a-dia indicam o inverso: o pátio dos milagres que se contempla e cada esquina de maior movimento, favelas horrendas, violência. Se se necessita de um antídoto às aflições desse vai-e-vem, contemple-se o trabalho de pessoas como Milu Vilela e Luís Norberto Paschoal. Eles estão à frente de uma história de sucesso que foi o transcurso, no Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 9 Brasil, do Ano Internacional do Voluntário. É um caso que dá a impressão de que a resposta é: - Sim, o Brasil está melhorando.” (Roberto P. de Toledo in Uma história de sucesso) ( ) “Dois livros, recém-editados, discutem a ideia de caráter moral. O primeiro, ‘A Corrosão do Caráter’ (Editora Record), de Richard Sennett, de forma explícita; o segundo, ‘O Que é a Filosofia Antiga’ (Editora Loyola), de Pierre Hadot, de modo tangencial, mas com igual sensibilidade crítica. A relevância dos livros para o debate ético entre nós é enorme.” ( Jurandir da Costa Freire in Descaminhos do Caráter) ( ) “Depressão é uma doença crônica, recorrente, muitas vezes com alta concentração de casos na mesma família, que ocorre não só em adultos, mas também em crianças e adolescentes.” ( Drauzio Varella in Depressão na Adolescência) ( ) “De uns tempos para cá tem surgido um elemento novo no cenário político nacional. Extremamente movediço, ele sempre aparece onde não se espera. Se o espreitamos, ele se esconde, em hibernação cautelosa.” (Antonio Suárez Abreu in Curso de Redação) TEXTO LITERÁRIO E NÃO LITERÁRIO Um mesmo tema pode receber um tratamento utilitário ou um tratamento estético. No primeiro caso, produz-se um texto não literário; no segundo, um texto literário. Cada um dos textos produz efeitos de sentidos distintos. Há algumas características que permitem distinguir um texto literário de um não literário, vejamos as principais: TEXTO NÃO LITERÁRIO - TEM FUNÇÃO UTILITÁRIA - SUA RELEVÂNCIA SE DÁ NO PLANO DA MENSAGEM - PODE SER RESUMIDO, SEM PREJUÍZO DE SEU CONTEÚDO OU PLANO DE EXPRESSÃO - É DENOTATIVO, OU SEJA, REFERENCIAL, ASPIRANDO A SER O MAIS INFORMATIVO POSSÍVEL - SUA LINGUAGEM BUSCA TRANSMITIR UM ÚNICO SIGNIFICADO PARA OS TERMOS QUE EMPREGA TEXTO LITERÁRIO - TEM FUNÇÃO ESTÉTICA - SUA RELEVÂNCIA SE DÁ NO PLANO DA EXPRESSÃO; NÃO IMPORTA APENAS O QUE SE DIZ, MAS COMO SE DIZ Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 10 - É INTANGÍVEL, ISTO É, NÃO PODE TER SEUS TERMOS SUBSTITUÍDOS OU SUA ORDEM ALTERADA; ELE É INTOCÁVEL, NÃO PERMITINDO SEQUER SER RESUMIDO - É CONOTATIVO, OU SEJA, CRIA SIGNIFICADOS NOVOS - SUA LINGUAGEM É PLURISSIGNIFICATIVA, ISTO É, BUSCA REMETER A VÁRIOS SIGNIFICADOS PARA OS TERMOS QUE USA Exemplo de texto não literário: A bomba de Hiroshima Na manhã de 6 de agosto de 1945, quase ao fim da Segunda Guerra Mundial, o bombardeiro B-29 americano Enola Gay lançou a ainda não testada bomba de urânio Little Boy sobre a cidade de Hiroxima, a sudoeste de Honshu, a principal ilha japonesa. Ela rebentou no ar a 600 metros de altura e liberou uma energia equivalente a 20 quilotons (20 mil toneladas) do explosivo químico TNT, matando 64 mil pessoas instantaneamente. Três dias depois, após sobrevoar inutilmente durante 45 minutos um segundo alvo, a cidade de Kokura, sem visualizá-la, o avião mudou de rumo. E Fat Man, outra bomba, esta de plutônio, arrasou mais da metade da área de Nagasaki, no sul do Japão. Passados seis meses, 40 mil pessoas haviam morrido. O número de vítimas poderia ter sido ainda maior e incluir cidadãos americanos caso o mau tempo não tivesse afastado o bombardeiro 1500 metros do alvo: isso salvou a vida de 1300 prisioneiros de um campo de concentração japonês desconhecido dos Estados Unidos. Revista SUPERINTERESSANTE Novembro de 1989 (SUPER número 11, ano 3) Agora vejamos o mesmo tema, tratado literariamente: A rosa de Hiroxima Vinícius de Moraes Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 11 Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada. ______________________________________________________ EXERCÍCIOS A seguir você vai ler dois textos: o primeiro é parte de uma reportagem de jornal; o segundo é uma crônica de Moacyr Scliar, criada a partir dessa reportagem. Texto 1: Dormir fora de casa pode ser tormento (Mirna Feitoza) A euforia de dormir na casa do amigo é tão comum entre algumas crianças quanto o pavor de outras de passar uma noite longe dos pais. E, ao contrário do que as famílias costumam imaginar, ter medo de dormir fora de casa não tem nada a ver com a idade. Assim como há crianças de três anos que tiram essas situações de letra, há pré-adolescentes que chegam a passar mal só de pensar na ideia de dormir fora, embora tenham vontade. Os especialistas dizem que esse medo é comum. A diferença é que algumas crianças têm mais dificuldade para lidar com ele. “Para o adulto, dormir fora de casa pode parecer algo muito simples, mas, para a criança, não é, porque ela tem muitos rituais, sua vida é toda organizada, ela precisa sentir que tem controle da situação”, explica o psicanalista infantil Bernardo Tanis, do Instituto Sedes Sapientiae. Dormir em outra casa significa deparar com outra realidade, outros costumes. “É um desafio para a criança, e novas situações geram ansiedade e angústia”, afirma. [...] (Folha de S. Paulo, 30/08/2001) Texto 2: Tormento não tem idade (Moacyr Scliar) - Meu filho, aquele seu amigo, o Jorge, telefonou. - O que é que ele queria? - Convidou você para dormir na casa dele, amanhã. - E o que é que você disse? - Disse que não sabia, mas que achava que você iria aceitar o convite. - Fez mal, mamãe. Você sabe que eu odeio dormir fora de casa. - Mas, meu filho, o Jorge gosta tanto de você... - Eu sei que ele gosta de mim. Mas eu não sou obrigado a dormir na casa dele por causa disso, sou? - Claro que não, mas... - Mas o que, mamãe? - Bem, quem decide é você. Mas, que seria bom você dormir lá, seria. - Ah, é? E por quê? - Bem, em primeiro lugar, o Jorge tem um quarto novo de hóspedes e queria estrear com você. Ele disse que é um quarto muito lindo. Tem até tevê a cabo. - Eu não gosto de tevê. Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 12 - O Jorge também disse que queria lhe mostrar uns desenhos que ele fez... - Não estou interessado nos desenhos do Jorge. - Bom. Mas tem uma coisa... - O que é, mamãe? - O Jorge tem uma irmã, vocêsabe. E a irmã do Jorge gosta muito de você. Ela mandou dizer que espera você lá. - Não quero nada com a irmã do Jorge. É uma chata. - Você vai fazer uma desfeita para a coitada... - Não me importa. Assim ela aprende a não ser metida. De mais a mais você sabe que eu gosto da minha cama, do meu quarto. E, depois, teria de fazer uma maleta com pijama, essas coisas... - Eu faço a maleta pra você, meu filho. Eu arrumo suas coisas direitinho, você vai ver. - Não, mamãe. Não insista, por favor. Você está me atormentando com isso. Bem, deixe eu lhe lembrar uma coisa, para terminar com essa discussão: amanhã eu não vou a lugar nenhum. Sabe por que, mamãe? Amanhã é meu aniversário, você esqueceu? - Esqueci mesmo. Desculpe, filho. - Pois é. Amanhã eu estou fazendo 50 anos. E acho que quem faz 50 anos tem o direito de passar a noite em casa com sua mãe, não é verdade? (In: O imaginário cotidiano. São Paulo; Global. 2001. p. 173-4) (Observação: este autor mantinha, na Folha de São Paulo, uma coluna em que criava um texto ficcional a partir de uma notícia real.) 1. Você observou que os dois textos abordam o medo de dormir fora de casa. Apesar disso, são bastante diferentes. Essas diferenças se devem à finalidade e ao gênero de cada um dos textos, bem como ao público a que cada um deles se destina. A fim de sintetizar as diferenças entre os dois textos, compare-os e responda: a. Qual deles apresenta uma linguagem objetiva, utilitária, voltada para explicar um assunto ligado à realidade, e tem como objetivo passar informações ao leitor? b. Em qual deles a linguagem é propositalmente organizada a fim de criar duplo sentido e tem, como finalidade, divertir, distrair, sensibilizar o leitor? c. Considerando as reflexões que você fez sobre a linguagem e o objetivo dos textos em estudo, responda: Qual deles é um texto literário? Cada tipo de arte faz uso de certos materiais. A pintura, por exemplo, trabalha com tinta, cores e formas; a música utiliza os sons; a dança, os movimentos; a arquitetura e a escultura fazem uso de formas e volumes. E a literatura, que material usa? De uma forma simplificada, pode-se dizer que literatura é a arte da palavra. Carlos Drummond de Andrade diz, em um de seus poemas: (…) Chega mais perto e contempla as palavras. Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 13 Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? (…) (trecho do poema “Procura da Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade) Como qualquer arte, a literatura exige, da parte do escritor, técnicas, conhecimentos, sensibilidade e paciência. Mas um texto só se realiza plenamente em contato com o leitor. Leia o texto abaixo: Os poemas Mário Quintana Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhoso espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... Fonte: QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM,1980. ___________________________________________________ A COESÃO TEXTUAL Entende-se por coesão textual a ligação que deve existir nas frases, entre as frases e entre os vários parágrafos de um texto. Tal ligação influi diretamente na clareza do que se deseja expor, pois estabelece relações de significado dentro do texto. Seria muito difícil tentar expor todos os problemas de coesão passíveis de aparecerem em um texto. Vejamos os mais comuns, que aparecem com mais frequência em textos elaborados por alunos. Obs.: os exemplos abaixo foram extraídos de textos produzidos por alunos do ensino médio. 1. Uso inadequado do conectivo (preposição, pronome relativo e conjunção): a. Preposição Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 14 Observe a frase abaixo: “O desprezo do computador nos dias de hoje é nada mais, nada menos que pura ignorância.” Obviamente, o autor quis dizer “O desprezo pelo computador...” O emprego da preposição inadequada acarretou mudança de significado. O computador não é agente da ação (isto é, não é ele quem despreza), e sim paciente (ele é o desprezado). b. Pronome relativo “Os problemas o qual penso são difíceis de resolver.” A forma correta seria: “Os problemas nos quais (ou em que) penso são difíceis de resolver.” c. Conjunção “Se uma pessoa de carne e osso porém sem ação e reflexão.” Aqui, além de excesso de conjunções, temos ausência do verbo e de pontuação. Provavelmente, o autor queria dizer a seguinte frase: “É uma pessoa de carne e osso, porém sem ação e reflexão.” O uso da conjunção se (condicional) no início desta frase é totalmente descabido. 2. Falta de sequência lógica: Isto ocorre quando se inicia um período utilizando uma estrutura que exige determinada sequência, no entanto, ao invés de dar a devida continuidade, o autor desvia-se e trunca a ideia inicial. Ex.: “O grau de salinidade da água é tal que não se pode mais utilizá-la nas plantações nem mesmo pelas pessoas.” A expressão destacada não completa corretamente a sequência original, até por questão de estrutura da frase. A continuidade correta seria: “...não se pode mais utilizá-la nas plantações, nem para outra finalidade qualquer.” 3. Redundância: Entende-se por redundância a repetição desnecessária de palavras, expressões ou ideias, tornando o texto prolixo e cansativo. Ex.: “Essa matéria é desnecessária no vestibular. Por que insistem em dar essa matéria?” Há inúmeros recursos de que se pode lançar mão para evitar que tais repetições ocorram. O uso de pronomes, por exemplo. A segunda frase do período acima poderia ser redigida de várias formas diferentes, contornando o problema que apresenta. Ex.: “Por que insistem em dá-la?” “Por que insistem em ensiná-la?” “Por que insistem em ensinar assuntos não relevantes para nosso objetivo?”, etc. Vejamos outros recursos para se evitar a redundância aplicados a um texto maior. Analisemos o seguinte parágrafo, que comenta um incêndio ocorrido em um shopping: “Tanto os empregados como os proprietários das lojas atingidas pelo fogo acharam, a princípio, que, devido ao incêndio, nada se salvaria, tudo seria consumido pelo fogo, tamanho era o volume das chamas e a densidade da fumaça que saía das lojas. Mas, com a rápida ação de três guarnições do Corpo de Bombeiros que chegaram ao local em seus caminhões-tanque, rapidamente a situação ficou sob controle e foi possível controlar as chamas.” Observe: Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 15 - devido ao incêndio: já sabemos que as lojas pegaram fogo; portanto, a destruição só poderia ser atribuída mesmo ao incêndio. Logo, esta informação é repetitiva e desnecessária. - tudo seria consumido pelo fogo: novamente, informação repetitiva e desnecessária. - que saía das lojas: se foram as lojas que pegaram fogo, de onde mais poderia estar saindo a fumaça? - que chegaram ao local em seus caminhões-tanque: já se tinha dito que os bombeiros controlaram o fogo. Logo, já se sabia que eles tinham chegado ao local. Quanto aos “caminhões-tanque”, isto também é desnecessário, já que ninguém supões que bombeiros cheguem para combater incêndios de táxi ou a pé.- e foi possível controlar o incêndio: nova informação redundante. Já havia sido dito antes que a situação ficara sob controle. Eliminando-se as redundâncias, o parágrafo poderia ser escrito de modo mais claro e conciso, como se segue: “Tanto os empregados como os proprietários das lojas atingidas pelo fogo acharam, a princípio, que nada se salvaria, tamanho era o volume das chamas e a densidade da fumaça. Mas, com a rápida ação de três guarnições do Corpo de Bombeiros, rapidamente a situação ficou sob controle.” 4. Ambiguidade: O uso inadequado da ambiguidade ocorre quando o período produzido se presta a mais de uma interpretação, tendo sua clareza comprometida. Ex.: “Imagine que o vestibulando deve redigir um texto em trinta linhas, entregar a um professor que não conhece seus objetivos.” O pronome em destaque se refere ao vestibulando ou ao professor? Afinal, é o professor que não conhece os objetivos do vestibulando, ou vice-versa? Este tipo de problema é muito comum e tende a ocorrer quando o autor perde de vista o preceito de que seu texto deve ser o mais claro e lógico possível, para qualquer leitor que vá ter acesso a ele. Vejamos mais alguns exemplos: a. “Comprando legumes na feira, encontrei o meu vizinho Neste caso, quem comprava legumes, você ou seu vizinho? b. “Os alunos que estudam raramente tiram notas ruins.” Aqui, há duas interpretações possíveis para esta frase: 1. Os alunos que raramente estudam tiram notas ruins. (ou seja, “raramente” se refere a “estudam”) 2. Os alunos que estudam tiram notas ruins raramente. (“raramente” se refere a “tirar notas ruins”) c. “Maria viu Sílvia com seu marido numa boate.” Aqui, o problema é sério. Se o marido for de Sílvia, tudo bem. Mas, se for o de Maria, provavelmente é caso de divórcio... d. “Pedro disse a Fernando que ele não havia tirado boas notas.” Aqui, ficamos sem saber que é que tirou notas ruins. Escrevendo deste jeito, provavelmente foram os dois. Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 16 COMO EVITAR PROBLEMAS DE COESÃO NA PRODUÇÃO DE SEU TEXTO O melhor recurso de que se pode lançar mão para se evitar os problemas acima relacionados é a releitura do texto, observando-se se a relação entre cada palavra está correta. Nunca deixe de reler o texto produzido, antes de entregá-lo para leitura ou correção. Nessa releitura, procure manter uma postura o mais isenta possível, isto é, procure ver o texto como se não fosse seu. Pergunte-se: se eu não conhecesse esse texto ou a proposta de onde ele partiu, será que eu conseguiria entendê-lo na íntegra? Imagine-se não como autor, mas apenas como leitor de seu texto. De início, não é uma postura fácil de se seguir. Mas, com o tempo e a prática, isto vai ajudá-lo muito a produzir textos cada vez mais claros, principalmente os de caráter profissional (no trabalho ou nos estudos), que normalmente exigem maior clareza e objetividade. _____________________________________________________________ EXERCÍCIO 1. Cada grupo de frases abaixo mantém entre si relação de sentido. Reescreva cada grupo de frases, de modo a formar um período único. Para isso, basta usar o(s) conectivo(s) adequado(s), fazendo as adaptações necessárias. A primeira está feita, como exemplo. As demais ficam por sua conta. Mãos à obra! Ex.: Nossa casa estava situada na várzea. A trezentos metros dela ficava uma pequena lagoa. Era aí que costumávamos pescar. Resp.: Nossa casa estava situada na várzea, a trezentos metros de uma pequena lagoa, onde costumávamos pescar. a) O choque entre os dois veículos foi muito violento. Um dos passageiros foi atirado a distância. Ele fraturou o crânio. b) A chuva amolece a terra. O pranto da mulher abranda o coração dos homens. c) A casa foi construída há muito tempo. O forro e o assoalho estão em ruínas. Isso me obrigará a fazer uma reforma de grandes proporções. d) Dispúnhamos de pouco tempo. Não nos foi possível concluir a tarefa a contento. Isso provocou reclamações dos interessados. e) Foi tremenda a violência do furacão. Até automóveis foram arrastados pela sua fúria. f) Os jesuítas tinham-se estabelecido no Maranhão no século XVII. Então começaram as disputas entre eles e os colonos. O motivo dessas disputas era o cativeiro dos índios. Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 17 2. Nas frases que se seguem, o excesso de conectivos (no caso, o “que”) torna as orações repetitivas e enfadonhas. Reescreva-as, alterando sua estrutura, para eliminar essa repetição. A primeira também está feita, como exemplo: Ex.: Depois que ele saiu, concluímos o trabalho que havíamos interrompido assim que ele chegou. Resp.: Depois que ele saiu, concluímos o trabalho, interrompido devido a sua chegada. a) Convém que recapitulemos toda a matéria que foi dada no primeiro semestre e que o professor disse que incluirá na prova que se realizará no mês que vem. b) Pedi-lhe que entregasse imediatamente a encomenda que chegara na véspera, mas ele fingiu que estava passando mal só para não me atender. c) Espero que me respondas prontamente a fim de que se tomem as devidas providências que serão necessárias para que seja bem sucedido o teu julgamento. d) Pediram-me que providenciasse que comprassem máquinas novas para que o trabalho que foi pedido seja entregue dentro do prazo que foi estipulado. #O#O#O#O#O#O#O#O#O#O#O#O#O#O# COERÊNCIA TEXTUAL Vamos partir de exemplos de incoerências, mais simples de perceber, para mostrar o que é coerência. 1) Coerência Narrativa É incoerente narrar uma história em que alguém está descendo uma ladeira num carro sem freios, que pára imediatamente, depois de ser brecado, quando uma criança lhe corta a frente. (...) Como exemplo, vamos citar um desses equívocos cometidos na redação de um aluno em um curso preparatório para o vestibular: O incêndio se alastrava velozmente pelo shopping, atingindo todas as lojas. Por toda a parte, viam- se rolos da espessa fumaça que tomava conta de tudo e essa fumaça não deixava que nós víssemos qualquer coisa, pois ela era muito intensa. Fiquei parado ali, do outro lado da rua, observando as mercadorias que se perdiam no fogo. Havia roupas, eletrodomésticos, sapatos, tudo em chamas, prestes a virarem cinzas. Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 18 Nesse caso, o sujeito não podia ver e viu. Como ele podia saber que objetos estavam sendo destruídos pelo fogo, se a fumaça não deixava ver nada? O texto poderia tornar-se coerente se o narrador dissesse que ficara parado ali imaginando as mercadorias sendo destruídas por detrás da cortina de fumaça. Um outro tipo de incoerência narrativa pode ocorrer em relação à caracterização dos personagens e às ações atribuídas a eles. No percurso da narrativa, os personagens são descritos como possuidores de certas qualidades (alto, baixo, frágil, forte), atribuem-se a eles certos estados de alma (colérico, corajoso, tímido, introvertido, apático, combativo). Essas qualidades e estados de alma podem combinar-se ou repelir-se, alguns comportamentos dos personagens são compatíveis ou incompatíveis com determinados traços de sua personalidade. A preocupação com a coerência e a unidade do texto pressupõe que se conjuguem apropriadamente esses elementos. Se na narrativa aparecem indicadores de que um personagem é tímido, frágil e introvertido, seria incoerente atribuir a esse mesmopersonagem o papel de líder e agitador dos foliões por ocasião de uma festa pública. Obviamente, a incoerência deixaria de existir se algum dado novo justificasse a transformação do referido personagem. Uma bebedeira, por exemplo, poderia desencadear essa mudança. Muitos outros casos de incoerência desse tipo podem ser apontados. Dizer, por exemplo, que um personagem foi a uma partida de futebol, sem nenhum entusiasmo, pois já esperava ver um mau jogo e, posteriormente, afirmar que esse mesmo personagem saiu do estádio decepcionado com o mau futebol apresentado é incoerente. Quem não espera nada não pode decepcionar- se. As incoerências podem ser utilizadas para mostrar a ambiguidade de um mesmo personagem, mas tem de ficar claro ao longo do texto que este recurso foi usado de modo proposital pelo autor e que as incoerências são apenas aparentes. É o caso, por exemplo, de narrativas policiais em que o assassino é quem menos se espera. 2) Coerência argumentativa Quando se defende o ponto de vista de que o homem deve buscar o amor e a amizade, não se pode dizer em seguida que não se deve confiar em ninguém e que por isso é melhor viver isolado. Num esquema de argumentação, joga-se com certos pressupostos ou certos dados e deles se fazem inferências ou se tiram conclusões que estejam verdadeiramente implicados nos elementos lançados como base do raciocínio que se quer montar. Se os pressupostos ou os dados de base não permitem tirar as conclusões que foram tiradas, comete-se a incoerência de nível argumentativo. Se o texto parte da premissa de que todos são iguais perante a lei, cai na incoerência se defender posteriormente o privilégio de algumas categorias profissionais não estarem obrigadas a pagar imposto de renda. O argumentador pode até defender essas regalias, mas não pode partir da premissa de que todos são iguais perante a lei. Assim também é incoerente defender ponto de vista contrário a qualquer tipo de violência e ser favorável à pena de morte, a não ser que não se considere a ação de matar como uma ação violenta. _________________________________________________________ EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 1. Leia a tira a seguir: Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 19 - O terceiro quadrinho é coerente com o primeiro? Justifique sua resposta: 2. Exercício de coerência com notícias de jornal: GAFES DO JORNALISMO Frases efetivamente publicadas em alguns dos principais jornais brasileiros (Vamos comentar os “problemas” relacionados à construção de tais enunciados e, na medida do possível, tentar torná-los compreensíveis.) 1. "A nova terapia traz esperanças a todos os que morrem de câncer a cada ano." (JORNAL DO BRASIL) 2. "Apesar da meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente." (O GLOBO) 3. "Os sete artistas compõem um trio de talento." (EXTRA) 4. "A vítima foi estrangulada a golpes de facão." (O DIA) 5. "Os nossos leitores nos desculparão por esse erro indesculpável." (O GLOBO) 6. "No corredor do hospital psiquiátrico os doentes corriam como loucos." (O DIA) 7. "Ela contraiu a doença na época que ainda estava viva." (JORNAL DO BRASIL) 8. "Parece que ela foi morta pelo seu assassino." (EXTRA) 9. "Ferido no joelho, ele perdeu a cabeça." (O DIA) 10. "O acidente foi no triste e célebre Retângulo das Bermudas." (EXTRA) Leitura e Produção de Texto – Profa. Ana Madalena Fontoura – Aula 5 20 11. "O tribunal, após breve deliberação, foi condenado a um mês de prisão." (O DIA) 12. "O velho reformado, antes de apertar o pescoço da mulher até a morte, se suicidou." (O DIA) 13. "A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço." (EXTRA) 14. "Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério, para a satisfação dos habitantes." (JORNAL DO BRASIL) 15. "Há muitos redatores que, para quem veio do nada, são muito fiéis às suas origens." (O GLOBO) 16. "O aumento do desemprego foi de 0% em novembro." (EXTRA) 17. "Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio, trata-se de um incêndio." (O DIA) 18. "Na chegada da polícia, o cadáver se encontrava rigorosamente imóvel." (O DIA) 19. "O cadáver foi encontrado morto dentro do carro." (O ESTADO DE SÃO PAULO) 20. "Prefeito de cidade do interior vai dormir bem, e acorda morto." (O DIA) #O#O#O#O#O#O#O#O#O#O#O#O#O#O#
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