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Matemática Discreta Notas de Aula - versão 1.0 Baseado no Livro “Matemática discreta y sus aplicaciones”, Kenneth H. Rosen, quinta edição. Prof. Carlos R. P. Dionisio 1. Lógica e Demonstração Neste capitulo, faremos uma revisão dos fundamentos da matemática discreta, entre eles a lógica, conjuntos e funções. As regras da lógica especificam o significado dos enunciados matemáticos. Por exemplo, estas regras nos ajudam a entender e raciocinar enunciados como “Existe um número inteiro que não é a soma do quadrado de dois números inteiros” ou “Para todo inteiro positivo n, a soma dos inteiros positivos menor ou igual a n é �(� + 1)/2”. A lógica é a base de todo raciocínio matemático com aplicações em inteligência artificial, a programação computacional, as linguagens de programação, etc. Para entender matemáticas devemos entender o que é que constitui um argumento matemático correto, ou seja, uma demonstração. As demonstrações são importantes não somente em matemáticas, também em vários tópicos da ciência da computação como, por exemplo, verificação de programas, análise de algoritmos e sistemas de segurança. 1.1. Lógica As regras da lógica fornecem um significado preciso aos enunciados matemáticos ou sentenças matemáticas. Estas regras se usam para distinguir entre argumentos válidos e não válidos. Proposições: Uma proposição é uma sentença declarativa que é verdadeira ou falsa, porem não ambas. Exemplo 1: Todas as seguintes sentenças são proposições: 1. Bruxelas é a capital da União Europeia. 2. Toronto é a capital de Canada. 3. 1 + 1 = 2. 4. 2 + 2 = 3. As proposições 1 e 3 são verdadeiras, enquanto que a 2 e 4 são falsas. Exemplo 2: Todas as seguintes sentenças não são proposições: 1. Que horas são? 2. Lê isto com atenção. 3. � + 1 = 2. 4. � + � = �. As sentenças 1 e 2 não são proposições porque não são declarativas. As sentenças 3 e 4 não são proposições porque não são nem verdadeiras nem falsas. A área da lógica que trata de proposições é chamada de lógica proposicional. Muitos enunciados matemáticos se constroem combinando uma ou mais proposições. As novas proposições, chamadas proposições compostas, se formam a partir das existentes usando operadores lógicos. Definição 1: Seja p uma proposição. O enunciado “Não se cumpre p” é outra proposição chamada de negação de p. A negação de p se denota mediante ¬� (também denotada por �). Exemplo 3: Obtenha a negação do enunciado “Hoje é sexta feira”. 1. Não se cumpre que hoje é sexta feira. 2. Hoje não é sexta feira. Obs.: De forma estrita, os enunciados relacionados com tempos variáveis não são proposições, a não ser que se assuma um tempo fixo. Uma tabela de verdade mostra as relações entre os valores de verdade das proposições. A Tabela 1 mostra a tabela de verdade para a negação de uma proposição p. Tabela 1. Tabela de verdade para a negação de uma proposição. � ¬� V F F V Definição 2: Sejam p e q proposições. A proposição “p e q”, denotada por �˄�, é a proposição que é verdadeira quando p e q são verdadeiras e falsa em qualquer outro caso. A proposição �˄� é chamada de conjunção de p e q. A tabela de verdade para �˄� é mostrado na Tabela 2. Tabela 2. Tabela de verdade para a conjunção de duas proposições. � � �˄� V V V V F F F V F F F F Exemplo 4: Obtenha a conjunção das proposições p e q no caso em que p é o enunciado “Hoje é sexta feira” e q é “Hoje chove”. 1. Hoje é sexta feira e hoje chove. A proposição é verdadeira as sextas feiras com chuva e falsa qualquer dia que não seja sexta feira e as sextas feiras que não chove. Definição 3: Sejam p e q proposições. A proposição “p ou q”, denotada por �˅�, é a proposição que é falsa quando p e q são falsos e verdadeiro em qualquer outro caso. A proposição �˅� é chamada de disjunção de p e q. A tabela de verdade para �˅� é mostrado na Tabela 3. Tabela 3. Tabela de verdade para a disjunção de duas proposições. � � �˅� V V V V F V F V V F F F Uma disjunção é verdadeira quando ao menos uma das proposições é verdadeira. Exemplo 5: Obtenha a disjunção das proposições p e q no caso em que p é o enunciado “Hoje é sexta feira” e q é “Hoje chove”. 1. Hoje é sexta feira ou hoje chove. Esta proposição é verdadeira qualquer dia que seja sexta feira ou chova (incluindo as sextas feiras que chove). É somente falsa os dias que não são sexta feira e não chove. Definição 5: Sejam p e q proposições. A implicação � → � é a proposição que é falsa quando p é verdadeira e q é falsa e verdadeira em qualquer outro caso. Nesta implicação p é chamada hipótese (ou premissa) e q é chamada de teses ou conclusão. A tabela de verdade para a implicação � → � é mostrado na Tabela 5. Tabela 5. Tabela de verdade para a implicação � → �. � � � → � V V V V F F F V V F F V Uma forma útil de entender o valor de verdade de uma implicação é pensar em uma obrigação ou contrato. Por exemplo, a promessa que muitos políticos fazem para serem eleitos é: “Se eu for eleito, diminuirei os impostos”. Somente quando o politico é eleito e não diminui os impostos, podem seus votantes dizer que o politico não cumpriu sua promessa eleitoral. A continuação, mostramos mais exemplos de implicação: 1. Se hoje fizer sol, então iremos para a praia. 2. Se hoje é sexta feira, então 2 + 3 = 5. 3. Se hoje é sexta feira, então 2 + 3 = 6. Definição 6: Sejam p e q proposições. A bicondicional � ↔ � é a proposição que é verdadeira quando p e q tem os mesmos valores de verdade e falsa em qualquer outro caso. A tabela de verdade para � ↔ � é mostrado na Tabela 6. Tabela 6. Tabela de verdade para a bicondicional � ↔ �. � � � ↔ � V V V V F F F V F F F V Observe que a bicondicional é verdadeira quando as implicações � → � e � → � são verdadeiras. Por isso, a terminologia “p se, e somente se, q” se usa para a bicondicional. Exemplo 8: Seja p a sentença “Você pode tomar o voo” e seja q a sentença “Compras um bilhete”. Então, � ↔ � é o enunciado “Você pode tomar o voo se e somente se compras um bilhete”. Esta proposição é verdadeira se p e q são ambas verdadeiras ou falsas. É falsa quando p e q tem valores de verdade diferentes. Considere a seguinte sentença “Se terminas de comer a comida, podes comer a sobremesa”. Ela é equivalente a “Podes comer a sobremesa se e somente se terminas de comer a comida”. Devido a imprecisão da linguagem natural, devemos incluir o reciproco de uma sentença. Precedência de Operadores Lógicos Podemos construir formulas usando o operador negação e os operadores lógicos definidos anteriormente. Geralmente, vamos utilizar parênteses para especificar a ordem em que devem aplicar-se os operadores lógicos numa formula. A Tabela 7 mostra os níveis de precedência dos operadores lógicos. Tabela 7. Precedência dos operadores lógicos. Operador Precedência ¬ 1 ˄ 2 ˅ 3 → 4 ↔ 5 Por exemplo: 1. ¬�˄� denota (¬�)˄�. 2. �˄�˅� denota (�˄�)˅�. 3. �˅� → � denota (�˅�) → �. Tradução de Frases da Linguagem Natural Uma das razoes para traduzir frases da linguagem natural a expressões com variáveis proposicionais e conectivos lógicos, é a ambiguidade da linguagem natural. Este processo é chamado de formalização. Exemplo 9: Formalize a seguinte frase “Você pode ter acesso a internet dentro do campus somente se estudas ciência da computação ou não eres aluno de primeiro ano”. Utilizaremos variáveis proposicionais para representarcada parte da frase e determinar os conectivos lógicos apropriados entre eles. Seja �: Você pode ter acesso a internet dentro do campus �: estudas ciência da computação �: eres aluno de primeiro ano Considerando que “somente se” é uma forma de expressar uma implicação, a frase pode ser representada como � → (�˅¬�). Exemplo 10: Formalize a seguinte frase “Você não pode entrar na montanha russa se tens altura menor que 1,20 m, a não ser que tenhas mais de 16 anos”. �: Você pode entrar na montanha russa �: tens altura menor que 1,20 m �: tens mais de 16 anos A frase pode ser formalizada como (�˄¬�) → ¬�. 1.2. Equivalências Proposicionais Na construção de argumentos matemáticos se empregam com frequência métodos que produzem proposições com o mesmo valor de verdade que uma formula dada. Definição 1: Uma formula que é sempre verdadeira, não importa os valores de verdade das proposições que a compõem, se denomina tautologia. Uma formula que é sempre falsa se denomina contradição. Finalmente, uma proposição que não é uma tautologia nem uma contradição se denomina contingencia. Exemplo 1: Considere as tabelas de verdade de �˅¬� e �˄¬�. Como �˅¬� é sempre verdadeira é uma tautologia. Como �˄¬� é sempre falso é uma contradição. Equivalências Lógicas As formulas que tem os mesmos valores de verdade em todos os casos possíveis são chamados logicamente equivalentes. Definição 2: Dizemos que as proposições p e q são logicamente equivalentes se � ↔ � é uma tautologia. A notação � ≡ � denota que p e q são logicamente equivalentes. O símbolo ⇔ se usa as vezes no lugar de ≡ para denotar uma equivalência lógica. Exemplo 2: Mostre que ¬(�˅�) e ¬�˄¬� são logicamente equivalentes. As tabelas de verdade para estas proposições se mostram na Tabela 2. Tabela 2. Tabelas de verdade para ¬(�˅�) e ¬�˄¬�. � � �˅� ¬(�˅�) ¬� ¬� ¬�˄¬� V V V F F F F V F V F F V F F V V F V F F F F F V V V V Como os valores de verdade das proposições ¬(�˅�) e ¬�˄¬� correspondem para todas as combinações possíveis de valores de verdade para p e q, então ¬(�˅�) ↔ ¬�˄¬� é uma taulologia e estas proposições são logicamente equivalentes. Exemplo 3: Mostre que as proposições � → � e ¬�˅� são logicamente equivalentes. Exemplo 4: Mostre que as proposições �˅(�˄�) e (�˅�) ˄(�˅�) são logicamente equivalentes. Tabela 4. Tabelas de verdade para �˅(�˄�) e (�˅�) ˄(�˅�). � � � �˄� �˅(�˄�) �˅� �˅� (�˅�) ˄(�˅�) V V V V V V V V V V F F V V V V V F V F V V V V V F F F V V V V F V V V V V V V F V F F F V F F F F V F F F V F F F F F F F F F As equivalências logicas da Tabela 5, assim como outras que foram estabelecidas (Tabelas 6 e 7), podem ser utilizadas para construir novas equivalências logicas. Numa formula, uma proposição pode ser substituída por outra que seja logicamente equivalente sem mudar o valor de verdade da formula. Tabela 5. Equivalências Logicas Equivalência Nome �˄� ≡ � �˅� ≡ � Leis da identidade �˅� ≡ � �˄� ≡ � Leis da dominação �˅� ≡ � �˄� ≡ � Lei idempotente ¬(¬�) ≡ � Lei da dupla negação �˅� ≡ �˅� �˄� ≡ �˄� Leis da comutatividade (�˅�)˅� ≡ �˅(�˅�) (�˄�)˄� ≡ �˄(�˄�) Leis da associatividade �˅(�˄�) ≡ (�˅�)˄(�˅�) �˄(�˅�) ≡ (�˄�)˅(�˄�) Leis da distributividade ¬(�˄�) ≡ ¬�˅¬� ¬(�˅�) ≡ ¬�˄¬� Leis de Morgan �˅(�˄�) ≡ � �˄(�˅�) ≡ � Leis da absorção �˅¬� ≡ � �˄¬� ≡ � Leis da negação Tabela 6. Equivalências logicas relacionadas com implicações � → � ≡ ¬�˅� � → � ≡ ¬� → ¬� �˅� ≡ ¬� → � �˄� ≡ ¬(� → ¬�) ¬(� → �) ≡ �˄¬� (� → �)˄(� → �) ≡ � → (�˄�) (� → �)˄(� → �) ≡ (�˅�) → � (� → �)˅(� → �) ≡ � → (�˅�) (� → �)˅(� → �) ≡ (�˄�) → � Tabela 7. Equivalências logicas relacionadas com implicações � ↔ � ≡ (� → �)˄(� → �) � ↔ � ≡ ¬� → ¬� � ↔ � ≡ (�˄�)˅(¬�˄¬�) ¬(� ↔ �) ≡ � ↔ ¬� Exemplo 5: Mostre que as proposições ¬(�˅(¬�˄�)) e ¬�˄¬� são logicamente equivalentes. Podemos utilizar uma tabela de verdade para mostrar que as proposições são equivalentes. Em lugar disso, estabeleceremos a equivalência utilizando equivalências logicas da Tabela 5. ¬(�˅(¬�˄�)) ≡ ¬�˄¬(¬�˄�) Segunda lei de Morgan ≡ ¬�˄(¬(¬�)˅¬�) Primeira lei de Morgan ≡ ¬�˄(�˅¬�) Lei da dupla negação ≡ (¬�˄�)˅(¬�˄¬�) Segunda lei da distributividade ≡ �˅(¬�˄¬�) ¬�˄� ≡ � ≡ (¬�˄¬�)˅� Lei da comutatividade da disjunção ≡ (¬�˄¬�) Lei da identidade para � Portanto, ¬(�˅(¬�˄�)) e ¬�˄¬� são logicamente equivalentes. Exemplo 6: Mostre que (�˄�) → (�˅�) é uma tautologia. Vamos mostrar que a proposição é logicamente equivalente a �. (�˄�) → (�˅�) ≡ ¬(�˄�)˅(�˅�) Exemplo 3 ≡ (¬�˅¬�)˅(�˅�) Primeira lei de Morgan ≡ (¬�˅�)˅(¬�˅�) Leis da associatividade e comutatividade da disjunção ≡ �˅� Exemplo 1 e a lei da comutatividade para a disjunção ≡ � Lei da dominação Portanto, (�˄�) → (�˅�) é uma tautologia. 1.3. Predicados e Quantificadores Considere a seguinte sentença “ � > 3 ”. Ele não é verdadeiro nem falso se não se especifica o valor da variável. A sentença “ � é maior que 3 ” tem duas partes. A primeira parte é a variável � chamada de sujeito. A segunda parte “ é maior que 3 ” é chamada de predicado e faz referência a uma propriedade que pode ter o sujeito. Vamos denotar a sentença “ � é maior que 3 ” por �(�), onde � denota o predicado e � é a variável. Uma vez que se assigne um valor para a variável �, a sentença �(�) se torna numa proposição e tem um valor de verdade. Exemplo 1: Seja �(�) que denota a sentença “ � > 3 ”. Quais são os valores de verdade de �(4) e �(2) ? Quantificadores A quantificação cria uma proposição a partir de uma função proposicional. Abordaremos dois tipos de quantificação, a saber, quantificação universal e quantificação existencial. Quantificador Universal Muitas sentenças matemáticas impõem que uma propriedade seja verdadeira para todos os valores de uma variável num domínio particular. Tais sentenças são expressas utilizando um quantificador universal. A quantificação universal de uma função proposicional é a proposição que afirma que �(�) é verdadeira para todos os valores de � no domínio. O domínio especifica os possíveis valores da variável �. Definição 1: A quantificação universal de �(�) é a proposição “�(�) é verdadeira para todos os valores � do domínio”. A notação ∀� ∈ �: �(�) denota a quantificação universal de �(�). Chamaremos o símbolo ∀ o quantificador universal. A proposição ∀� ∈ �: �(�) se lê como “para todo � ∈ �: �(�)”. Um número natural é um número inteiro não-negativo. O conjunto dos números naturais é denotado pelo símbolo ℕ. ℕ = {0, 1, 2, 3, … } ℤ denota o conjunto dos números inteiros. ℤ� denota o conjunto dos números inteiros positivos. ℚ denota o conjunto dos números racionais. ℝ denota o conjunto dos números reais. Exemplo 5: Qual é o valor de verdade da quantificação ∀� ∈ ℝ: � + 1 > � ? Exemplo 6: Qual é o valor de verdade da quantificação ∀� ∈ ℝ: � < 2 ? Exemplo 7: Qual é o valor de verdade da quantificação ∀� ∈ ℕ˄� ≤ 4: �� < 10 ? Quantificador Existencial Muitas sentenças matemáticas afirmam que existe um elemento com algumapropriedade. Tais sentenças se expressam através de quantificadores existenciais. Com um quantificador existencial formamos uma proposição que é verdadeira se e somente se �(�) é verdadeira para ao menos um valor � no domínio. Definição 2: A quantificação existencial de �(�) é a proposição “Existe um elemento � no domínio tal que �(�) é verdadeira”. Utilizamos a notação ∃� ∈ �: �(�) para a quantificação existencial de �(�). O símbolo ∃ se denomina quantificador existencial. A quantificação existencial ∃� ∈ �: �(�) se lê como “Existe um � que pertence a � tal que �(�)”. Exemplo 11: Qual é o valor de verdade da quantificação ∃� ∈ ℝ: � > 3 ? Exemplo 12: Qual é o valor de verdade da quantificação ∃� ∈ ℝ: � = � + 1 ? Exemplo 11: Qual é o valor de verdade da quantificação ∃� ∈ ℕ˄� ≤ 4: �� > 10? Na Tabela 1 se resume o significado dos quantificadores universais e existenciais. Tabela 1. Quantificadores. Sentença Quando é verdadeira? Quando é falsa? ∀� ∈ �: �(�) �(�) é verdadeira para todo � ∈ � Existe um � ∈ � tal que �(�) é falsa ∃� ∈ �: �(�) Existe um � ∈ � tal que �(�) é verdadeira �(�) é falsa para todo � ∈ � Negações de Quantificadores Frequentemente se faz necessário considerar a negação de uma expressão quantificada. Por exemplo, considere a negação do enunciado “Todos os estudantes de GCC103 já fizeram uma disciplina de cálculo”. Esta sentença é uma quantificação universal da forma ∀� ∈ �: �(�), onde �(�) é a sentença “� já fez uma disciplina de cálculo”. A negação de esta sentença é “Não se cumpre que todos os estudantes de GCC103 já fizeram uma disciplina de cálculo”. Isto é equivalente a “Existe pelo menos um estudante de GCC103 que não fez uma disciplina de cálculo”. Isto é a quantificação existencial da negação da função proposicional original, ou seja, ∃� ∈ �: ¬�(�). Este exemplo ilustra a seguinte equivalência: ¬∀� ∈ �: �(�) ≡ ∃� ∈ �: ¬�(�). De forma similar, podemos estabelecer a seguinte equivalência: ¬∃� ∈ �: �(�) ≡ ∀� ∈ �: ¬�(�). Exemplo 15: Quais são as negações dos seguintes enunciados: a. Há um político honesto b. Todos os americanos comem hambúrguer a. Todo político é desonesto b. Alguns americanos não comem hambúrguer Exemplo 16: Quais são as negações das seguintes sentenças: a. ∀� ∈ ℝ: �� > � b. ∃� ∈ ℝ: �� = 2 Exemplo 17: Expresse a frase “Todo estudante desta aula já fez cálculo” utilizando predicados e quantificadores. Para todo estudante desta aula, esse estudante já fez cálculo. Para todo estudante � desta aula, � já fez cálculo. ∀� ∈ �: �(�) onde � consiste nos estudantes desta aula e �(�) é o predicado “� já fez cálculo”. Exemplo 18: Formalize as seguintes frases: a. Algum estudante desta aula já visitou México b. Todo estudante desta aula já visitou México ou Argentina Há um estudante nesta aula tal que esse estudante já visitou México Há um estudante � nesta aula tal que � já visitou México ∃� ∈ �: �(�) onde � consiste nos estudantes desta aula e �(�) é o predicado “� já visitou México”. Para todo estudante � desta aula, � já visitou México ou � já visitou Argentina. ∀� ∈ �: �(�)˅�(�) onde � consiste nos estudantes desta aula, �(�) é o predicado “� já visitou México” e �(�) é o predicado “� já visitou Argentina”. Exemplo 19: Considere as seguintes frases. As duas primeiras se denominam premissas e a terceira se denomina conclusão. O conjunto das três se denomina argumento. a. Todos os leões são ferozes b. Alguns leões não tomam café c. Algumas criaturas ferozes não tomam café Sejam �(�), �(�) e �(�) os enunciados “� é um leão”, “� é feroz” e “� toma café”, respectivamente. Supondo que o domínio � é o conjunto de todas as criaturas, expresse as sentenças do argumento utilizando quantificadores. a. ∀� ∈ �: �(�) → �(�) b. ∃� ∈ �: �(�)˄¬�(�) c. ∃� ∈ �: �(�)˄¬�(�) 1.4. Quantificadores Compostos São quantificadores que se localizam dentro do alcance da aplicação de outros quantificadores, como a sentença ∀� ∈ ℝ ∃� ∈ ℝ: � + � = 0. Exemplo 1: A sentença ∀� ∈ ℝ ∀� ∈ ℝ: � + � = � + � afirma que � + � = � + � para todo par de números reais � e �. Exemplo 2: Traduz a sentença para a linguagem natural ∀� ∈ ℝ ∀� ∈ ℝ: � > 0 ˄ � < 0 → �� < 0. Para todo par de números reais � e �, se � > 0 e � < 0, então �� < 0. Para os pares de números reais � e �, se � é positivo e � é negativo, então �� é negativo. O produto de um número real positivo e um número real negativo é um número real negativo. Exemplo 4: Traduz a sentença ∃� ∈ � ∀� ∈ � ∀� ∈ �: �(�, �)˄�(�, �)˄(� ≠ �) → ¬�(�, �) a linguagem natural, onde �(�, �) significa que � e � são amigos e � consiste em todos os estudantes da faculdade. Os estudantes � e � são amigos, os estudantes � e � são amigos, � e � não são a mesma pessoa, então � e � não são amigos. Há um estudante � tal que para todos os estudantes � e todos os estudantes � que são diferentes de �, se � e � são amigos e � e � também são amigos, então � e � não são amigos. Há um estudante tal que seus amigos não são amigos entre si. 1.5. Métodos de Demonstração Duas questões importantes que aparecem no estudo das matemáticas são: 1. Quando um argumento matemático está correto? 2. Que métodos se podem utilizar para construir argumentos matemáticos? Um teorema é uma sentença que se pode verificar que é verdadeira. Demostramos que um teorema é verdadeiro através de uma sequência de sentenças que constituem um argumento chamado demonstração. Para construir demonstrações precisamos de métodos para derivar sentenças novas a partir das conhecidas. As sentenças que se utilizam numa demonstração podem incluir axiomas ou postulados, hipóteses do teorema ou teoremas demonstrados previamente. As regras de inferência, que são os meios usados para deduzir conclusões a partir de outras afirmações, ligam os passos de uma demonstração. Um lema é um teorema simples utilizado na demonstração de outros teoremas. Um corolário é uma proposição que se pode estabelecer diretamente a partir de um teorema que já foi demonstrado. Uma conjectura é uma sentença cujo valor de verdade é desconhecido. Quando se encontra uma demonstração para uma conjectura, ela se converte num teorema. Regras de Inferência Estas regras justificam os passos dados para demonstrar que a partir de uma serie de hipóteses se obtém de forma logica uma conclusão. A tautologia (�˄(� → �)) → � é a base da regra de inferência chamada modus ponens. Esta tautologia se escreve da seguinte forma: � � → � ∴ � O símbolo ∴ denota “Portanto”. O modus ponens declara que se uma implicação e sua hipótese são verdadeiras, então a conclusão desta implicação é verdadeira. Exemplo 1: Suponha que a implicação “se hoje nevar, iremos a esquiar” e a hipótese “hoje esta nevando” são verdadeiras. Então, pelo modus ponens, segue que a conclusão “iremos a esquiar” é verdadeira. Exemplo 2: Suponha que a implicação “se � é maior que 3, então �� é maior que 9” é verdadeira. Portanto, se � é maior que 3, pelo modus ponens, segue que �� é maior que 9. A Tabela 1 mostra uma lista de regras de inferência mais importantes. Tabela 1. Regras de inferência. Regra de inferência Tautologia Nome � ∴ �˅� � → (�˅�) Adição �˄� ∴ � (�˄�) → � Simplificação� � → � ∴ � (�˄(� → �)) → � Modus ponens ¬� � → � ∴ ¬� (¬�˄(� → �)) → ¬� Modus tollens � → � � → � ∴ � → � ((� → �)˄(� → �)) → (� → �) Silogismo hipotético �˅� ¬� ∴ � ((�˅�)˄¬�) → � Silogismo disjuntivo Exemplo 3: Qual é a regra de inferência na qual se baseia o seguinte argumento: “Agora estamos debaixo de zero graus. Portanto, estamos debaixo de zero graus ou chove agora”. Seja � a proposição “Agora estamos debaixo de zero graus” e � “chove agora”. Então, este argumento é da seguinte forma: � ∴ �˅� Este argumento utiliza a regra da adição. Exemplo 4: Qual é a regra de inferência na qual se baseia o seguinte argumento: “Estamos debaixo de zero graus e chove. Portanto, estamos debaixo de zero graus”. Seja � a proposição “Estamos debaixo de zero graus” e � “chove”. Então, este argumento é da seguinte forma: �˄� ∴ � Este argumento utiliza a regra da simplificação. Exemplo 5: Qual é a regra de inferência na qual se baseia o seguinte argumento: “Se hoje chove, então hoje não faremos churrasco. Se hoje não faremos um churrasco, faremos um churrasco amanha. Portanto, se hoje chove então faremos um churrasco amanha”. Seja � a proposição “hoje chove”, � “hoje não faremos um churrasco” e � “faremos um churrasco amanha”. Então, este argumento é da seguinte forma: � → � � → � ∴ � → � Este argumento utiliza a regra do silogismo hipotético. Argumentos válidos Um argumento dedutivo é correto se sempre que todas as hipóteses são verdadeiras, então a conclusão também é verdadeira. Consequentemente, mostrar que � se deduz logicamente das hipóteses ��, ��, … , �� é o mesmo que mostrar que a implicação (��˄��˄ … ˄��) → � é verdadeira. Quando todas as proposições utilizadas num argumento correto são verdadeiras, se obtém uma conclusão correta. Porem, um argumento correto pode levar a uma conclusão incorreta se utilizamos uma ou mais proposições falsas no argumento. Por exemplo Se √2 > � � então (√2)� > ( � � )�. Sabemos que √2 > � � ; portanto (√2)� = 2 > ( � � )� = � � é um argumento correto baseado no modus ponens. Porem, a conclusão deste argumento é falsa. Utilizou-se no argumento a proposição falsa √2 > � � . Exemplo 6: Mostre as seguintes hipóteses “Esta tarde não faz sol e faz mais frio que ontem”, “Iremos a nadar somente se faz sol”, “Se não vamos a nadar, daremos um passeio em canoa” e “Se damos um passeio em canoa, estaremos em casa de noite” levam a conclusão “Estaremos em casa de noite”. Seja � a proposição “Esta tarde faz sol”, � a proposição “faz mais frio que ontem”, � a proposição “Iremos a nadar”, � a proposição “daremos um passeio em canoa” e � a proposição “Estaremos em casa de noite”. Então, as hipóteses se podem expressar como ¬�˄�, � → �, ¬� → � e � → �. A conclusão é �. Vamos construir um argumento para mostrar que nossas hipóteses levam a conclusão desejada como segue: 1. ¬�˄� Hipoteses 2. ¬� Simplificação usando o passo 1 3. � → � Hipoteses 4. ¬� Modus tollens usando os passos 2 e 3 5. ¬� → � Hipoteses 6. � Modus ponens usando os passos 4 e 5 7. � → � Hipoteses 8. � Modus ponens usando os passos 6 e 7 Regras de inferência para sentenças quantificadas Estas regras de inferência se usam com frequência nos argumentos matemáticos, as vezes sem menciona-las explicitamente. Particularização universal é a regra de inferência que se utiliza para concluir que �(�) é verdadeira, onde � é um elemento particular do domínio �, dada a premissa ∀� ∈ �: �(�). Utiliza-se a particularização universal quando se conclui da sentença “Todas as mulheres são sabias” que “Maria é sabia”, onde Maria é um elemento do domínio � de todas as mulheres. Generalização universal é a regra de inferência que declara que ∀� ∈ �: �(�) é verdadeira, dada a premissa de que �(�) é verdadeiro para todos os elementos � no domínio �. Utilizamos a generalização universal quando mostramos que ∀� ∈ �: �(�) é verdadeira tomando um elemento arbitrário � do domínio e mostrando que �(�) é verdadeira. Particularização existencial é a regra que nos permite concluir que existe um elemento � no domínio � tal que �(�) é verdadeiro se sabemos que ∃� ∈ �: �(�) é verdadeiro. Geralmente, não temos conhecimento das propriedade de �, somente que este existe. Generalização existencial é a regra de inferência que se utiliza para concluir que ∃� ∈ �: �(�) é verdadeiro quando se conhece um elemento particular � com �(�) verdadeiro. Resumimos estas regras de inferência na Tabela 2. Regra de inferência Nome ∀� ∈ �: �(�) ∴ �(�) Particularização universal �(�) para um � arbitrário ∴ ∀� ∈ �: �(�) Generalização universal ∃� ∈ �: �(�) ∴ �(�) para algum elemento � Particularização existencial �(�) para algum elemento � ∴ ∃� ∈ �: �(�) Generalização existencial Exemplo 12: Mostre que as premissas “Todo aluno da disciplina matemática discreta está matriculado em AED2” e “Maria é uma aluna de matemática discreta” implica a conclusão “Maria esta matriculada em AED2”. Se �(�) denota “� é aluno da disciplina matemática discreta”, �(�) denota “� está matriculado em AED2” e � denota o conjunto de alunos. Então, as premissas são ∀� ∈ �: �(�) → �(�) e �(Maria). A conclusão é �(Maria). Podemos utilizar os seguintes passos para estabelecer a conclusão a partir das premissas: 1. ∀� ∈ �: �(�) → �(�) Premisa 2. �(Maria) → �(Maria) Particularização universal de 1 3. �(Maria) Premisa 4. �(Maria) Modus ponens usando 2 e 3 Exemplo 13: Mostre que as premissas “Um estudante desta aula não há lido o livro” e “Todo aluno nesta aula aprovou a primeira prova” implica a conclusão “Alguém que aprovou a primeira prova não há lido o livro”. Se �(�) denota “� é desta aula”, �(�) denota “� há lido o livro”, �(�) denota “� aprovou a primeira prova” e � denota o conjunto de alunos. As premissas são ∃� ∈ �: �(�)˄¬�(�) e ∀� ∈ �: �(�) → �(�). A conclusão é ∃� ∈ �: �(�)˄¬�(�) . Os seguintes passos estabelecem a conclusão a partir das premissas: 1. ∃� ∈ �: �(�)˄¬�(�) Premisa 2. �(�)˄¬�(�) Particularização existencial de 1 3. �(�) Simplificação de 2 4. ∀� ∈ �: �(�) → �(�) Premisa 5. �(�) → �(�) Particularização universal de 4 6. �(�) Modus ponens usando 3 e 5 7. ¬�(�) Simplificação de 2 8. �(�)˄¬�(�) Conjunção de 6 e 7 9. ∃� ∈ �: �(�)˄¬�(�) Generalização existencial de 8 Métodos para demonstrar Teoremas Dado que muitos teoremas são implicações, as técnicas para demonstrar implicações são importantes. Lembre-se que quando se demonstra a sentença � → � somente falta demonstrar que � é verdadeiro se � é verdadeiro. Demonstração Direta A implicação � → � se pode demonstrar supondo que se � é verdadeiro então � deve ser também verdadeiro. Para realizar este tipo de demonstração, se supõe que � é verdadeiro e se utilizam regras de inferência e teoremas já demonstrados para demonstrar que � deve ser também verdadeiro. Definição 1: O inteiro � é par se existe um inteiro � tal que � = 2� e é ímpar se existe um inteiro � tal que � = 2� + 1. Exemplo 14: Mostre uma demonstração direta do teorema “Se � é um inteiro ímpar, então �� é um inteiro ímpar”. Supomos que a hipótese é verdadeira, ou seja, � é ímpar. Então, � = 2� + 1 para algum inteiro �.Podemos escrever �� = 2(2�� + 2�) + 1, onde � = 2�� + 2� é um inteiro. Por tanto, �� é um número ímpar. Demonstração Indireta Como a implicação � → � é equivalente a ¬� → ¬�, podemos demonstrar a implicação � → � demonstrando a implicação ¬� → ¬�. Exemplo 15: Mostre uma demonstração indireta do teorema “Se 3� + 2 é ímpar, então � é ímpar”. O teorema anterior é equivalente a “Se � é par, então 3� + 2 é par”. Supomos que a hipótese é verdadeira, ou seja, � é par. Então, � = 2� para algum inteiro �. Podemos escrever 3� + 2 = 2(3� + 1), onde � = 3� + 1 é um inteiro. Logo, 3� + 2 é um número par. Por tanto, demonstramos o teorema original. Definição 2: O número racional � é racional se existem dois inteiros � e �, � ≠ 0, tal que � = �/�. Um número real que não é racional se denomina irracional. Exemplo 18: Demonstre que a soma de dois números racionais é um número racional. Vamos tentar uma demonstração direta. Supomos que � e � são números racionais. Da def. 2, existem dois inteiros � e �, � ≠ 0, tal que � = �/�, e existem outros dois inteiros � e �, � ≠ 0, tal que � = �/�. Podemos escrever � + � = � � + � � = ����� �� , onde �� + �� é um inteiro e �� ≠ 0. Por tanto, � + � é um número racional. Exemplo 19: Demonstre que se � é um inteiro e �� é ímpar, então � é ímpar. A demonstração direta não é fácil. Vamos tentar uma demonstração indireta. A sentença anterior é equivalente a “Se � é um inteiro e � é par, então �� é par”. Supomos que a hipótese é verdadeira, ou seja, � é par. Então, � = 2� para algum inteiro �. Podemos escrever �� = 4�� = 2(2��), onde � = 2�� é um inteiro. Logo, �� é um número par. Por tanto, demonstramos a sentença original. Demonstração por Redução ao Absurdo A implicação � → � é equivalente a (�˄¬�) → �˄¬�. Assim, para provar que � → �, basta provar que (�˄¬�) → �˄¬�. Ou seja, em uma demonstração por redução ao absurdo, supomos que a hipótese e a negação da conclusão são ambas verdadeiras e tentamos deduzir uma contradição. Exemplo 21: Prove que √2 é irracional mostrando uma demonstração por redução ao absurdo. Seja � a proposição “√2 é irracional”. Supomos que ¬� é verdadeiro. Então √2 é racional. Da def. 2, existem dois inteiros � e �, � ≠ 0, tal que √2 = �/�, onde � e � não tem fatores comuns. Como √2 = �/� então 2 = ��/��. Logo, 2b� = a�. Como �� é par, então � é par. Ou seja, existe um inteiro � tal que � = 2�. Assim, 2�� = 4��. Simplificando, obtemos �� = 2��. Como �� é par, então � é par. Desta forma, os inteiros � e � tem um fator comum igual a 2. Se � é a sentença “� e � são inteiros sem fatores comuns”, então ¬� → �˄¬�. Por tanto, � é verdadeiro, ou seja, √2 é irracional. Demonstração por Casos (Exaustão) Para demonstrar uma implicação da forma (��˅��˅ … ˅��) → �, podemos utilizar a proposição equivalente (�� → �)˄(�� → �)˄ … ˄(�� → �) Exemplo 23: Utilize uma demonstração por casos para provar que |��|= |�||�|, onde � e � são números reais. Seja � denota “� e � são números reais” e � denota “|��|= |�||�|”. Observe que � é equivalente a ��˅��˅��˅��, onde �� denota “� ≥ 0 ˄ � ≥ 0 ”, �� denota “� ≥ 0 ˄ � < 0 ”, �� denota “� < 0 ˄ � ≥ 0 ” e �� denota “� < 0 ˄ � < 0”. Para demonstrar � → �, devemos provar que �� → �, �� → �, �� → � e �� → �. Se � ≥ 0 ˄ � ≥ 0 , então |��|= �� = |�||�|. Logo, �� → �. Se � ≥ 0 ˄ � < 0 , então |��|= −�� = � (−� ) = |�||�|. Logo, �� → �. Se � < 0 ˄ � ≥ 0 , então |��|= −�� = (−� )� = |�||�|. Logo, �� → �. Se � < 0 ˄ � < 0, então |��|= �� = (−� )(−� ) = |�||�|. Logo, �� → �. Por tanto, provamos que � → �. 3. Raciocínio Matemático, Indução e Recursividade 3.3. Indução Matemática Qual é a soma dos � primeiros inteiros positivos ímpares? 1 = 1 1 + 3 = 4 1 + 3 + 5 = 9 1 + 3 + 5 + 7 = 16 1 + 3 + 5 + 7 + 9 = 25 Pelos resultados anteriores, é razoável supor que a soma dos � primeiros inteiros positivos ímpares é ��. Se esta suposição é correta para qualquer inteiro �, então necessitamos de um método para demonstra-la. Indução matemática é uma técnica extremamente importante que podemos utilizar para demonstrar sentenças desse tipo. Deve ficar claro que a indução matemática somente pode ser utilizada na demonstração de resultados que foram obtidos de alguma outra forma. Muitos teoremas afirmam que �(�) é verdadeira para todo � inteiro positivo, onde �(�) é uma função proposicional ou predicado como, por exemplo, a sentença 1 + 2 + 3 + ⋯ + � = �(� + 1)/2 ou � ≤ 2�. A indução matemática se utiliza para demonstrar proposições da forma ∀� ∈ �: �(�), onde o domínio � geralmente é o conjunto dos inteiros positivos. Uma demonstração por indução de que �(�) é verdadeira para todo � inteiro positivo consiste em dois passos: PASSO BASE: Mostramos que a proposição �(1) é verdadeira. PASSO DA INDUÇÃO: Mostramos que a implicação �(�) → �(� + 1) é verdadeira para todo � inteiro positivo. A sentença �(�) se denomina hipótese de indução. Quando provamos os dois passos de uma demonstração por indução matemática, provamos que �(�) é verdadeira para todo � inteiro positivo, ou seja, ∀� ∈ ℤ�: �(�) é verdadeira. Este método é chamado de primeiro princípio de indução matemática. Exemplo 1: Utilize indução matemática para demonstrar que a soma dos � primeiros inteiros positivos ímpares é ��. Seja �(�) a proposição que afirma a soma dos � primeiros inteiros positivos ímpares é ��. Ou seja, �(�): 1 + 3 + 5 + ⋯ + (2� − 1) = � �. PASSO BASE: �(1) afirma que 1 = 1�. PASSO DA INDUÇÃO: Supomos que �(�) é verdadeira para algum inteiro positivo �, isto é: 1 + 3 + 5 + ⋯ + (2� − 1) = � �. Devemos provar que �(� + 1) é verdadeira, ou seja: 1 + 3 + 5 + ⋯ + (2� − 1 ) + (2� + 1) = (� + 1)�. Se �(�) é verdadeira, então: 1 + 3 + 5 + ⋯ + (2� − 1 ) + (2� + 1) = �� + (2� + 1) = (� + 1)�. Assim, �(� + 1) é verdadeira. Como �(1) é verdadeira e �(�) → �(� + 1) também é verdadeira para todo � inteiro positivo, pelo princípio da indução matemática concluímos que �(�) é verdadeira para todo � inteiro positivo. Exemplo 2: Utilize o método da indução matemática para demonstrar que � < 2� para todo inteiro positivo �. Seja �(�): � < 2�. PASSO BASE: �(1) afirma que 1 < 2�. PASSO DA INDUÇÃO: Supomos que �(�) é verdadeira para algum inteiro positivo �, isto é: � < 2� . Devemos provar que �(� + 1) é verdadeira, ou seja: � + 1 < 2���. Se �(�) é verdadeira, então: � + 1 < 2� + 1. Como 1 ≤ 2� para todo inteiro positivo �, então: � + 1 < 2� + 1 ≤ 2� + 2� = 2. 2� = 2���. Assim, �(� + 1) é verdadeira. Por tanto, pelo princípio da indução matemática concluímos que �(�) é verdadeira para todo � inteiro positivo. Exemplo 3: Utilize o método da indução matemática para demonstrar que �� − � é divisível por 3 sempre que � seja um inteiro positivo. Seja �(�) a proposição “�� − � é divisível por 3”. Exemplo 4: Utilize o método da indução para demonstrar que 1 + 2� + 2� + ⋯ + 2 � = 2��� − 1 para todos os inteiros não negativos �. Seja �(�): 1 + 2� + 2� + ⋯ + 2 � = 2��� − 1 . PASSO BASE: �(0) afirma que 2� = 1 = 2� − 1 . PASSO DA INDUÇÃO: Supomos que �(�) é verdadeira para algum inteiro positivo �, isto é: 1 + 2� + 2� + ⋯ + 2 � = 2��� − 1 . Devemos provar que �(� + 1) é verdadeira, ou seja: 1 + 2� + 2� + ⋯ + 2 � + 2��� = 2(���)�� − 1 = 2 ��� − 1 . Se �(�) é verdadeira, então: 1+ 2� + 2� + ⋯ + 2 � + 2��� = (2��� − 1 ) + 2��� = 2. 2��� − 1 . 1 + 2� + 2� + ⋯ + 2 � + 2��� = 2��� − 1 . Assim, �(� + 1) é verdadeira. Por tanto, pelo princípio da indução matemática concluímos que �(�) é verdadeira para todo � inteiro não negativo. Indução Forte Há outra forma de indução matemática que frequentemente se utiliza nas demonstrações. Nesta forma usamos o mesmo passo base, porem muda o passo da indução. Supomos que �(�) é verdadeira para � = 1, ⋯ , � e baseando-nos nesta suposição, demonstramos que �(� + 1) deve ser também verdadeira. Este método é conhecido como indução forte ou também chamado como o segundo princípio da indução matemática. Os passos utilizados para demonstrar que �(�) é verdadeira para todo inteiro positivo � são: PASSO BASE: Mostramos que a proposição �(1) é verdadeira. PASSO DA INDUÇÃO: Mostramos que a implicação [�(1)˄�(2)˄ ⋯ ˄� (�)] → �(� + 1) é verdadeira para todo � inteiro positivo. As duas formas de indução matemática são equivalentes. Exemplo 14: Mostre que se � é um inteiro maior que 1, então � se pode escrever como o produto de números primos. Seja �(�) a proposição “� se pode escrever como o produto de números primos”. PASSO BASE: �(2) afirma que 2 pode-se escrever como o produto de números primos. Isto é verdade pois 2 = 1 × 2 . PASSO DA INDUÇÃO: Supomos que �(2)˄ ⋯ ˄� (�) é verdadeira para algum inteiro positivo � ≥ 2 . Devemos provar que �(� + 1) é verdadeira. Se �(2)˄ ⋯ ˄� (�) é verdadeira para � ≥ 2 , então: Caso 1: Se � + 1 é primo Então, �(� + 1) é verdadeiro. Caso 2: Se � + 1 não é primo Então, podemos escrever � + 1 como o produto de dois inteiros, ou seja: � + 1 = �� tal que 2 ≤ � ≤ � < � + 1. Pela hipótese de indução, � e � se podem escrever como o produto de números primos. Assim, � + 1 se pode escrever como o produto de números primos (isto é, os primos da fatoração de � e �). Assim, �(� + 1) é verdadeira. Por tanto, pelo segundo princípio da indução matemática concluímos que �(�) é verdadeira para todo inteiro positivo � > 1. Exemplo 15: Prove que qualquer franquia postal maior ou igual a 12 centavos pode ser obtida usando-se selos de 4 e 5 centavos. Seja �(�) a proposição “uma franquia postal de � centavos pode ser obtida usando-se selos de 4 e 5 centavos”. Demonstração utilizando o primeiro princípio da indução matemática. PASSO BASE: �(12) afirma que uma franquia postal de 12 centavos pode ser obtida usando-se selos de 4 e 5 centavos Isto é verdade considerando três selos de 4 centavos. PASSO DA INDUÇÃO: Supomos que �(�) é verdadeira para algum inteiro positivo � ≥ 12 , isto é, uma franquia postal de � centavos pode ser obtida usando-se selos de 4 e 5 centavos. Devemos provar que �(� + 1) é verdadeira, ou seja, uma franquia postal de � + 1 centavos pode ser obtida usando-se selos de 4 e 5 centavos. . Se �(�) é verdadeira, então: Caso 1: Se foi utilizado ao menos um selo de 4 centavos Então, podemos trocar este selo por um selo de 5 para formar uma franquia de � + 1 centavos. Caso 2: Se não foi utilizado nenhum selo de 4 centavos Então, a franquia de � centavos se formou usando somente selos de 5 centavos. Como � ≥ 12 , então foi utilizado ao menos três selos de 5 centavos. Assim, se trocamos três selos de 5 por quatro de 4, então formamos uma franquia de � + 1 centavos. Assim, �(� + 1) é verdadeira. Por tanto, pelo primeiro princípio da indução matemática concluímos que �(�) é verdadeira para todo inteiro positivo � ≥ 12 . Demonstração utilizando o segundo princípio da indução matemática. PASSO BASE: As seguintes proposições são verdadeiras: �(12): três selos de 4. �(13): dois de 4 e um de 5. �(14): um de 4 e dois de 5. �(15): três de 5. PASSO DA INDUÇÃO: Supomos que �(12)˄�(13)˄ ⋯ ˄� (�) é verdadeira para algum inteiro positivo � ≥ 15 . Devemos provar que �(� + 1) é verdadeira, ou seja, uma franquia postal de � + 1 centavos pode ser obtida usando-se selos de 4 e 5 centavos. . Para formar uma franquia de � + 1 centavos, podemos usar a franquia de � − 3 e um selo de 4 centavos. Assim, �(� + 1) é verdadeira. Por tanto, pelo segundo princípio da indução matemática concluímos que �(�) é verdadeira para todo inteiro positivo � ≥ 12 . 3.4. Definições Recorrentes Às vezes é difícil definir objetos de forma explícita, porem pode ser simples se o definimos em termos deles mesmos. Este processo se denomina recursão. Podemos utilizar a recursão para definir sequências, funções, conjuntos e operações. Por exemplo, a sequência das potências de 2 é dada por �(�) = 2�, para � = 0, 1, 2, ⋯ Porem, esta sequência se pode definir também definindo o primeiro termo da sequência, �(0) = 1, e uma regra para obter um termo da sequência a partir da anterior, �(� + 1) = 2�(�), para � = 0, 1, 2, ⋯ Funções definidas recursivamente Utilizamos dois passos para definir uma função cujo domínio é o conjunto dos números naturais ℕ. PASSO BASE: Especificamos o valor da função em zero. PASSO RECURSIVO: Proporcionamos uma regra para obter seu valor num inteiro a partir dos seus valores em inteiros menores. Exemplo 1: Suponha que � se define recursivamente como: �(0) = 3 �(� + 1) = 2�(�) + 3 Calcule �(1), �(2), �(3) e �(4). Exemplo 2: Determine uma definição recursiva da função fatorial �(�) = �! �(0) = 1 �(� + 1) = (� + 1)�(�) Exemplo 2: Determine uma definição recursiva de ��, onde � é um número real não nulo e � é um número natural. Como �� = 1 e ���� = ���, então: �(0) = 1 �(� + 1) = ��(�) é uma definição recursiva de ��. Definição 1: Os números de Fibonacci, �(0), �(1), �(2),⋯ , se definem recursivamente da seguinte forma: �(0) = 0 �(1) = 1 �(�) = �(� − 1 ) + �(� − 2) para � = 2, 3, 4, ⋯ Exemplo 5: Calcule os números de Fibonacci �(2), �(3), �(4), �(5) e �(6). Conjuntos definidos recursivamente De forma similar a definição recursiva de funções, as definições recursivas de conjuntos têm duas partes, um passo base e um passo recursivo. No passo base se especifica uma coleção inicial de elementos. No passo recursivo se proporcionam regras para a formação de novos elementos do conjunto a partir dos que já se conhecem. Exemplo 7: Considere o subconjunto � dos números inteiros definidos por: PASSO BASE: 3 ∈ �. PASSO RECURSIVO: Se � ∈ � e � ∈ �, então � + � ∈ �. Exemplo 10: Podemos definir o conjunto de formulas bem definidas formadas com variáveis proposicionais, operadores lógicos do conjunto {¬, ˄, ˅, →, ↔} e os valores � e �. PASSO BASE: �, � e �, onde � é uma variável proposicional, são formulas bem definidas. PASSO RECURSIVO: Se � e � são formulas bem definidas, então (¬�), (�˄�), (�˅�), (� → �) e (� ↔ �) são formulas bem definidas. Exemplo 11: Podemos definir de forma recursiva o conjunto das formulas bem definidas formadas por variáveis, números e operadores do conjunto {+, −,∗ ,/, ^}. PASSO BASE: � é uma formula bem definida se � é um número ou uma variável. PASSO RECURSIVO: Se � e � são formulas bem definidas, então (� + �), (� − �) , (� ∗ �), (�/�) e (�^�) são formulas bem definidas. Exemplo 12: Demonstre que o conjunto � definido no Exemplo 7 é o conjunto dos inteiros positivos múltiplos de 3. Seja � = {3� | � ≥ 1} o conjunto dos inteirospositivos múltiplos de 3. Para demonstrar que � = � devemos provar que � é um subconjunto de � e que � é um subconjunto de �. Prova de � ⊆ � Seja a sentença �(�): 3� ∈ �. Devemos provar que �(�) é verdadeira para todo � ≥ 1 . PASSO BASE: �(1) afirma que 3 × 1 = 3 ∈ � . PASSO DA INDUÇÃO: Supomos que �(�) é verdadeira para algum inteiro positivo �, isto é, 3� pertence a �. Devemos provar que �(� + 1) é verdadeira, ou seja, provar que 3(� + 1) ∈ �. Como 3� ∈ � e 3 ∈ �, da segunda parte da definição recursiva segue que 3� + 3 = 3(� + 1) ∈ �. Assim, �(� + 1) é verdadeira. Por tanto, pelo princípio da indução matemática concluímos que �(�) é verdadeira para todo � ≥ 1 . Prova de � ⊆ � Para esta prova, vamos utilizar a definição recursiva de �. O passo base da definição especifica que 3 ∈ �. Como 3 = 3 × 1 então 3 ∈ �. Para completar a prova, devemos provar que todos os inteiros de � gerados usando o passo recursivo pertencem ao conjunto �. Ou seja, considerando as premissas: Se � ∈ � então � ∈ � Se � ∈ � então � ∈ � Devemos provar que se � + � ∈ � então � + � ∈ �. Pelo passo recursivo, se � ∈ � e � ∈ � então � + � ∈ �. Como � e � são múltiplos de 3 então � + � também é múltiplo de 3. Assim, � + � ∈ �. 6. Recorrência 6.1 Relações de Recorrência A regra que define um elemento em função dos que lhe precedem se denomina relação de recorrência. Definição 1: Uma relação de recorrência para a sequência {�(�) | � ≥ � �} é uma equação que determina o elemento �(�) em função dos elementos anteriores, isto é, �(0), �(1), ⋯ �(� − 1) , para todo inteiro � ≥ � �, onde �� é um inteiro positivo. Uma sequência é uma solução de uma relação de recorrência se seus elementos satisfazem a relação para todo inteiro positivo �. Exemplo 2: Determine se a sequência �(�) é solução da relação de recorrência �(�) = 2�(� − 1 ) − �(� − 2) para � ≥ 2 , onde �(�) = 3� para � ≥ 1 . Responda a mesma pergunta para as sequências �(�) = 2� e �(�) = 5. Se �(�) = 3�, então para � ≥ 2 2�(� − 1 ) − � (� − 2 ) = 2�3(� − 1 )�− 3 (� − 2 ) = 3� = �(�). Por tanto, a sequência �(�) é solução da relação de recorrência. Se �(�) = 2�, então �(0) = 1, �(1) = 2 e �(2) = 4. Para � = 2, 2�(1) − � (0) = 2 × 2 − 1 = 3 ≠ �(2) . Por tanto, a sequência �(�) não é solução da relação de recorrência. Se �(�) = 5, então para � ≥ 2 2�(� − 1 ) − � (� − 2 ) = 2 × 5 − 5 = 5 = �(�) . Por tanto, a sequência �(�) é solução da relação de recorrência. Exemplo 4: Um casal de coelhos recém-nascidos (um de cada sexo) é solto numa ilha. Os coelhos não podem ter descendência até a idade de dois meses. Com dois meses de idade, cada casal de coelhos tem como descendência outro casal de coelhos a cada mês. Determine uma relação de recorrência para o número de casais de coelhos que existirá na ilha depois de � meses, supondo que nenhum coelho morre. Mês Casais reprodutores Casais jovens Total de casais 1 0 1 1 2 0 1 1 3 1 1 2 4 1 2 3 5 2 3 5 6 3 5 8 Seja �(�) o número de casais de coelhos que vivem na ilha depois de � meses. A população de coelhos pode ser modelada utilizando uma relação de recorrência. No final do primeiro mês, o número de casais de coelhos na ilha é �(1) = 1. Como o casal não se reproduz durante o segundo mês, então �(2) = 1. Para calcular o número de casais depois de � meses, devemos somar o número de casais de coelhos que tinha no mês anterior, �(� − 1) , e o número de casais que nascem durante esse mês, que é �(� − 2) , já que somente os coelhos com dois meses ou mais podem reproduzir-se. Por tanto, a sequência �(�) verifica a relação de recorrência: �(�) = �(� − 1 ) + �(� − 2) para � ≥ 3 junto com as condições iniciais �(1) = 1 e �(2) = 1. A sequência �(�) é a sequência de Fibonacci. Exemplo 5: [Torre de Hanoi] Considere três barras montadas sobre uma base junto com discos de diferentes tamanhos. No inicio do jogo, os discos se colocam na primeira barra ordenados de maior a menor. As regras do jogo permitem mover os discos de um em um para troca-los de barra, com a restrição de que um disco nunca pode ser colocado encima de outro menor. O objetivo do jogo é colocar os discos na segunda barra, ordenados com o maior na base. Seja �(�) o número de movimentos necessários para resolver o problema da Torre de Hanoi com � discos. Determine uma relação de recorrência para a sequência �(�) . Iniciamos com n discos na primeira barra. Os n − 1 discos superiores se podem levar para a terceira barra, seguindo as regras do jogo, realizando H(n − 1) movimentos. Durante o processo anterior, o disco maior permaneceu no mesmo lugar. A seguir, realizamos um movimento para coloca-lo na posição mais baixa da segunda barra. Uma vez feito isto, com outros H(n − 1) movimentos podemos levar os n − 1 da terceira barra para a segunda, colocando-os encima do maior e terminando assim o jogo. H(n) = 2H(n − 1 ) + 1 A condição inicial é H(1) = 1, já que um único disco se pode levar da primeira barra para a segunda com um único movimento. Um procedimento iterativo nos mostra uma formula explícita para H(n) . H(n) = 2H(n − 1 ) + 1 H(n) = 2(2H (n − 2 ) + 1) + 1 = 2�H(n − 2 ) + 2 + 1 H(n) = 2�(2H(n − 3 ) + 1) + 2 + 1 = 2�H(n − 3 ) + 2� + 2 + 1 ⋮ H(n) = 2���H(1) + 2��� + 2��� + ⋯ + 2 + 1 H(n) = 2��� + 2��� + 2��� + ⋯ + 2 + 1 H(n) = 2� − 1 O método iterativo nos proporciona a solução da relação de recorrência H(n) = 2H(n − 1 ) + 1 com a condição inicial H(1) = 1. A demonstração de que esta solução é correta pode ser feita utilizando o principio da indução matemática. 6.2 Resolução de relações de recorrência Uma grande variedade de relações de recorrência pode ser resolvida utilizando argumentos iterativos. Porem há um tipo especial de relações de recorrência que podem ser resolvidas explicitamente. São as relações de recorrência que expressam os termos da sequência como uma combinação linear dos termos anteriores. Definição 1: Uma relação de recorrência linear, homogênea de ordem � e com coeficientes constantes é da forma: �(�) = ���(� − 1 ) + ���(� − 2 ) + ⋯ + � ��(� − �) onde ��, ��, …, �� são números reais e �� ≠ 0. Exemplo 1: a. �(�) = 1.11�(� − 1) é uma relação de recorrência linear e homogênea de ordem 1. b. �(�) = �(� − 1 ) + �(� − 2) é uma relação de recorrência linear e homogênea de ordem 2. c. �(�) = �(� − 5) é uma relação de recorrência linear e homogênea de ordem 5. Exemplo 2: a. �(�) = �(� − 1 ) + ��(� − 2) não é linear. b. � (�) = 2� (� − 1 ) + 1 não é homogênea. c. �(�) = ��(� − 1) não tem coeficiente constante. Se �(�) = ��, então �� − � �� ��� − � �� ��� − ⋯ − � ���� − � � = 0, onde � é uma constante. Esta equação se denomina equação característica. As soluções desta equação são as raízes características. Teorema 1: Seja �� e �� números reais. Suponha que � � − � �� − � � = 0 tem duas raízes reais distintas �� e ��. Então �(�) = ���(� − 1 ) + ���(� − 2 ) se e somente se �(�) = ���� � + ���� � para � ≥ 0 , onde �� e �� são constantes. Exemplo 3: Qual é a solução da relação de recorrência �(0) = 2 �(1) = 7 �(�) = �(� − 1 ) + 2�(� − 2 ) � ≥ 2 A equação característica da relação de recorrência é �� − � − 2 = 0 . Suas raízes são �� = 2 e �� = −1 . Então �(�) = ��2 � + ��(−1) � Utilizando as condições iniciaisobtemos �� = 3 e �� = −1 . Por tanto, �(�) = 3 ∙ 2� − (−1 )� � ≥ 0 Exemplo 4: Calcule a solução para a sequência de Fibonacci. �(0) = 0 �(1) = 1 �(�) = �(� − 1 ) + �(� − 2 ) � ≥ 2 A equação característica da relação de recorrência é �� − � − 1 = 0 . Suas raízes são �� = (1 + √5)/2 e �� = (1 − √5)/2. Então �(�) = �� � ��√� � � � + �� � ��√� � � � Utilizando as condições iniciais obtemos �� = 1/√5 e �� = −1/ √5. Por tanto, �(�) = � √� � ��√� � � � − � √� � ��√� � � � � ≥ 0 Teorema 2: Seja �� e �� números reais tal que �� ≠ 0. Suponha que � � − � �� − �� = 0 tem uma única raiz ��. Então �(�) = ���(� − 1 ) + ���(� − 2 ) se e somente se �(�) = ���� � + ����� � para � ≥ 0 , onde �� e �� são constantes. Exemplo 5: Qual é a solução da relação de recorrência �(0) = 1 �(1) = 6 �(�) = 6�(� − 1 ) − 9� (� − 2 ) � ≥ 2 A equação característica da relação de recorrência é �� − 6� + 9 = 0 . Sua única raiz é �� = 3. Então �(�) = ��3 � + ���3 � Utilizando as condições iniciais obtemos �� = 1 e �� = 1. Por tanto, �(�) = 3� + �3� � ≥ 0 Teorema 3: Seja ��, ��, …, �� números reais. Suponha que � � − � �� ��� − ⋯ − �� = 0 tem � raízes reais distintas ��, ��, …, �� . Então �(�) = ���(� − 1 ) + ���(� − 2 ) + ⋯ + � ��(� − �) se e somente se �(�) = ���� � + ���� � + ⋯ + ���� � para � ≥ 0 , onde ��, ��, …, �� são constantes. Exemplo 6: Determine a solução da relação de recorrência �(0) = 2 �(1) = 5 �(2) = 15 �(�) = 6�(� − 1 ) − 11� (� − 2 ) + 6�(� − 3) � ≥ 3 A equação característica da relação de recorrência é �� − 6� � + 11� − 6 = 0 . Suas raízes são �� = 1, �� = 2 e �� = 3. Então �(�) = ��1 � + ��2 � + ��3 � Utilizando as condições iniciais obtemos �� = 1, �� = −1 e �� = 2. Por tanto, �(�) = 1 − 2 � + 2 ∙ 3� � ≥ 0 Relações de Recorrência Linear e Não-Homogênea com Coeficientes Constantes Uma relação de recorrência linear e não-homogênea com coeficientes constantes é da forma: �(�) = ���(� − 1 ) + ���(� − 2 ) + ⋯ + � ��(� − � ) + �(�) onde ��, ��, …, �� são números reais e �(�) é uma função não nula. Teorema 5: Seja ��, ��, …, �� números reais. Se ��(�) é uma solução particular da relação de recorrência linear não-homogênea com coeficientes constantes �(�) = ���(� − 1 ) + ���(� − 2 ) + ⋯ + � ��(� − � ) + �(�) então toda solução é da forma �(�) = ��(�) + ��(�), onde ��(�) é uma solução de �(�) = ���(� − 1 ) + ���(� − 2 ) + ⋯ + � ��(� − � ) para � ≥ 0 . Exemplo 10: Qual é a solução da relação de recorrência �(1) = 6 �(�) = 3�(� − 1 ) + 2� � ≥ 2 Solução homogênea: A relação de recorrência linear homogênea é �(�) = 3�(� − 1 ). Suas soluções são ��(�) = �3 �, onde � é uma constante. Solução particular: Como �(�) = 2�, então vamos supor que ��(�) = �� + �, onde � e � são constantes. Substituindo na relação de recorrência linear não-homogênea obtemos: �� + � = 3(�(� − 1 ) + �) + 2� Simplificando obtemos (2 + 2�)� + (2� − 3� ) = 0. Assim, � = −1 e � = −3/2 . Logo, ��(�) = −� − 3/2 . Todas as soluções são da forma: �(�) = −� − � � + �3�. Utilizando a condição inicial obtemos � = 11/6. Por tanto, �(�) = −� − � � + �� � 3� para � ≥ 1 . Exemplo 11: Determine todas as soluções da relação de recorrência �(�) = 5�(� − 1 ) − 6�(� − 2) + 7 � � ≥ 2 Solução homogênea: A relação de recorrência linear homogênea é �(�) = 5�(� − 1 ) − 6�(� − 2) . Suas soluções são ��(�) = ��3 � + ��2 �, onde �� e �� são constantes. Solução particular: Como �(�) = 7�, então vamos supor que ��(�) = � ∙ 7 �, onde � é uma constante. Substituindo na relação de recorrência linear não-homogênea obtemos: � ∙ 7� = 5� ∙ 7��� − 6� ∙ 7��� + 7� Simplificando obtemos 49� = 35� − 6� + 49 . Assim, � = 49/20. Logo, ��(�) = (49/20)7 �. Por tanto, todas as soluções são da forma: �(�) = ��3 � + ��2 � + (49/20)7�.
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