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GESTÃO E MAPEAMENTO DE PROCESSOS AULA 6 Prof. Roberto Candido Pansonato 2 CONVERSA INICIAL Na aula anterior, conhecemos a importância das análises dos indicadores como forma de gerar um projeto de melhoria contínua. Os indicadores são primordiais para a tomada de decisão. Vimos também as diferenças entre projetos de melhoria contínua e inovação (que não são poucas). Embora os indicadores sejam de grande importância para a tomada de decisões, existem algumas soluções normalmente aplicadas a alguns tipos genéricos de processo. Muitas vezes, após o mapeamento de um processo, surgem grandes dificuldades para solução dos problemas. Nesta aula, será proposto um conjunto de possíveis soluções, que com certeza irá ajudá-los a decidir qual caminho trilhar após o mapeamento de um processo. Essas possíveis soluções são ativadas pelos chamados gatilhos, que iremos ver logo em seguida. Os principais temas estudados nesta aula serão os seguintes: 1. Aplicação e análises técnicas: análise de valor 2. Aplicação e análises técnicas: proposta de melhoria 3. Priorização dos processos a serem resolvidos 4. Análise da variação dos indicadores de processo 5. Análise de gaps (melhorias pontuais) CONTEXTUALIZANDO O texto a seguir refere-se a um problema fictício que ocorreu em uma indústria. Vamos tentar ajudar o diretor da empresa? A empresa RCP Automotive é uma indústria de médio porte (aproximadamente 350 funcionários) fabricante de peças automotivas e não está conseguindo atender à demanda dos clientes. Seu diretor industrial, Sr. Belmiro, solicitou a uma empresa de consultoria uma análise de qual seria o caminho para atender às solicitações dos clientes. Entre as soluções propostas após o mapeamento estavam algumas relativas à automatização de processos, ao aumento da área de estoque, entre outras. No entanto, para se melhorar a produtividade de uma empresa, antes de qualquer ação é necessária a seguinte análise: a. Verificação do nível de automatização. 3 b. Análise do ponto de equilíbrio. c. Análise da mão de obra direta e indireta. d. Análise nos pontos de gargalo. e. Análise estratégica por departamentos. Análise Um dos erros que se comentem em análises quando se quer aumentar a produtividade é automatizar pontos de um sistema produtivo que não geram impactos diretos na produtividade final de uma organização. Como automatização muitas vezes se mostra como um incremento em tecnologia, ela é aplicada sem um critério minimamente inteligente. Tomando-se como base a Teoria das Restrições, introduzida por Eliyahu M. Goldratt em seu livro A Meta (1984), todo processo produtivo terá uma restrição a qual todos os outros processos estarão subordinados; portanto, antes de qualquer ação referente à automatização, uma análise minuciosa deve ser feita para encontrar o(s) ponto(s) gargalo(s) das organizações (alternativa d). No caso da empresa deste exemplo, que tinha como foco (ou gatilho) o aumento de produtividade, antes mesmo de decidir por automatização de um processo qualquer ou aumento de área destinada a estoque, deveria ser feita uma análise das restrições dos processos. Como complemento ao que foi mencionado anteriormente, a Teoria das Restrições é baseada na premissa de que a taxa de atingimento de metas num sistema é determinada pela vazão desse sistema e limitada por pelo menos uma restrição. TEMA 1 – APLICAÇÃO E ANÁLISES TÉCNICAS: ANÁLISE DE VALOR Como já foi mencionado em aulas anteriores, o processo correto (ou o mais próximo disto) proporcionará um produto ou serviço correto. Na rota anterior, foram apresentados alguns indicadores básicos para tomada de decisão quanto aos objetivos que se quer alcançar. Além dos indicadores básicos (tempo, custo, valor agregado e qualidade), utilizam-se também alguns princípios que podem apresentar possíveis soluções para implantação de projetos que agreguem valor. As informações a seguir têm como fonte o livro Mapeamento e Gestão por Processos – BPM, de Orlando Pavani Junior e Rafael 4 Scucuglia, e foram adaptadas à rota de aprendizagem. Vale ressaltar que essas informações se referem a sugestões para possíveis soluções para elaboração do estado futuro, não devendo o analista de processos se limitar a este menu proposto. Ressalto também que os dados apresentados a seguir demonstram grande parte da realidade das empresas em que atuei. Segue abaixo quadro- resumo com os gatilhos da análise (o que se quer resolver) e as possíveis soluções. Quadro 1 – Gatilhos de análise e as possíveis soluções Gatilho da análise Possível solução (estado futuro) Resultado alvo de indicadores Pensamento lean Assegurar qualidade no início Variabilidade dos indicadores Padronização de processos Automatização Gargalo (restrição) Melhorar a produtividade nos pontos de gargalo (restrição) Interações humanas Minimizar handoffs Minimizar envolvimento de pessoas Interações externas Foco nas interações com clientes Ponto único de contato Processos separados Regas de negócio Criação de regras de negócio Terceirizações Gaps Variadas Fonte: elaborado com base em Pavani Junior e Scucuglia, 2011. O quadro anterior refere-se a um resumo da análise realizada. Se a análise demonstrar variabilidade nos indicadores (alternam-se bons e maus resultados), a possível solução pode ser a padronização dos processos ou automatização, conforme mencionado no segundo item da tabela. Vale ressaltar que, dependendo da análise realizada, pode-se ter uma ou mais soluções para o estado futuro. A seguir, serão apresentadas as definições de como funciona cada tipo de possíveis soluções do estado futuro apontados na tabela. 1.1 Pensamento lean Como já foi comentado na aula 3, o pensamento lean (ou pensamento baseado na produção enxuta) parte do pressuposto de que a sequência principal das atividades que agregam valor à transformação da matéria-prima em produto acabado não deve ser interrompida (fluxo contínuo). Como o cliente paga pelo processo de criação de valor, este deve ser o mais desobstruído possível, 5 reduzindo-se o tempo de processamento e do lead time (conforme exemplo de agregação de valor na Aula 3). Deve-se, portanto, assegurar um fluxo contínuo. Outro fator importante diz respeito a um outro princípio básico do pensamento lean: foco nas atividades que agregam valor e eliminação das atividades que não agregam valor. Se o gatilho é o resultado-alvo de indicadores, para obtenção de um bom resultado as atividades que não agregam valor, na medida do possível, devem ser eliminadas. Vale salientar que muitas vezes, principalmente nos processos administrativos, incorporam-se atividades sem agregação de valor e criam-se profissionais que as executam por um longo período. 1.2 Assegurar qualidade no início Os possíveis problemas de qualidade devem ser detectados no início do processo, não delegando esta atividade para ser efetuada após todo o processamento de um produto ou serviço. Recomenda-se investir recursos para que o processo seja robusto o suficiente para assegurar a qualidade do produto ou serviço, evitando um dos grandes problemas relacionados aos sete desperdícios que vimos na Aula 3, que é o retrabalho. 1.3 Padronização dos processos A falta de padronização dos processos pode invariavelmente gerar problemas de variabilidade de indicadores (alternância entre bons e maus resultados). Se profissionais diferentes executam as mesmas tarefas de um modo diferente, então a somade diferentes níveis de habilidade resultará em instabilidade. Estabelecer processos padronizados baseados em métodos certificados é uma das principais tarefas após um mapeamento que certamente promoverá confiabilidade e estabilidade processual. Um caso emblemático de padronização que proporciona bons resultados é o caso do nível de padronização encontrado na rede de restaurantes de fast food McDonald’s: em qualquer lugar do mundo onde haja um McDonald’s o modo de atendimento será muito similar, para não dizer igual. Essa padronização também é vista nas empresas automotivas de origem japonesa, especificamente a Toyota, que conseguem alto níveis de qualidade ao adotar essa solução. Portanto, conclui- se que, quando a variação é mínima, tem-se um controle da instabilidade. 6 1.4 Automatização Automatizar um processo significa substituir um trabalho manual por procedimentos automáticos, sejam eles obtidos por meio de máquinas e equipamentos ou softwares de computador. Via de regra, processos automáticos geram uma eficiência produtiva maior que um processo com atuação manual. Vale ressaltar que decidir por um processo automatizado nem sempre é garantia de bons resultados. Automatizar um processo no estado atual, principalmente quando se utiliza tecnologia da informação, é como automatizar um erro. O procedimento correto seria analisar o estado atual por meio das várias técnicas apresentadas, propor um modelamento para o estado futuro e a partir daí propor possíveis automatizações. No início de nossos estudos, foram citados os erros que se cometem ao adquirir softwares que de alguma forma iriam solucionar problemas de fluxo de informações, mas algumas vezes o que se vê é a adaptação para um modo automática daquilo que estava sendo realizado de forma manual e não estava funcionando a contento – portanto, trata-se de automatizar o defeito. Embora pareça óbvio, tenho visto muitos erros deste tipo na minha trajetória profissional. 1.5 Melhorar a produtividade nos pontos gargalos Gargalos, ou restrições, são os empecilhos que barram a fluidez dos processos e muitas vezes geram estagnação na produtividade. Conforme mencionado no início desta aula, Eliyahu M. Goldratt, em seu livro A Meta (1984), diz que todo processo produtivo sempre terá uma restrição. A modelagem do estado futuro (To-Be) deve buscar sempre a otimização dos processos no sentido de aumentar a vazão nos pontos de gargalo. De acordo com a Teoria das Restrições, toda organização tem, em um dado momento no tempo, pelo menos uma restrição que limita a performance do sistema (a organização em questão) em relação à sua meta. A ilustração a seguir mostra um processo fictício em que se tem um fluxo contínuo entre a matéria-prima e o produto acabado e os tempos de ciclo de cada processo. Nota-se que por mais que o processo mais rápido deste fluxo (processo D) efetue seu trabalho, estará sempre subordinado à restrição do processo mais lento (neste caso o processo B). Cabe ao analista fazer a análise e propor as melhorias necessárias. 7 Figura 1 – Análise de restrição de processo 1.6 Minimizar handoffs O termo handoffs significa os pontos exatos em que um determinado processo troca de poder. Por exemplo, um formulário da área de suprimentos que, após a solicitação do pedido, passa por uma verificação e aprovação prévia (troca de poder 1) e em seguida passa para o supervisor de compras (troca de poder 2), que decidirá qual comprador deverá assumir este processo. De forma geral, quanto mais handoffs tiver um processo, mais moroso ele será e consequentemente com custo mais alto. Em resumo, como visto no tópico referente à cadeia de valor de Michael Porter, uma forma eficiente de identificar handoffs é analisar que quanto mais pessoas e áreas funcionais participarem de um processo ou quanto mais níveis de aprovação existirem, maior a probabilidade de esse processo conter alta proporção de trabalhos que não agregam valor. 1.7 Minimizar envolvimento de pessoas Quando se fala em minimizar o envolvimento de pessoas, não se refere apenas à substituição de seres humanos por máquinas em um sistema de manufatura. O grande ganho que se consegue nos processos está no fluxo de informações. Tal qual a dinâmica do telefone sem fio, em que uma informação transmitida entre várias pessoas causa um erro enorme no final do processo, informações orientadas através de pessoas normalmente podem gerar problemas de qualidade. Isso leva a crer que, num processo de fluxo de informações, quanto menor a quantidade de pessoas envolvidas, melhor a qualidade na passagem das informações. 8 1.8 Designação de atividades No início da Aula 2, mais especificamente na seção “Contextualizando”, foi dado um exemplo de um problema que ocorreu em uma empresa que, em função da inexistência de um procedimento de designação de atividades, proporcionou uma falha no processo que acarretou uma reclamação do cliente. A designação de tarefas nesse contexto significa a movimentação de trabalho de um departamento a outro, transferindo responsabilidades de forma clara (o que é ligeiramente diferente de handoffs). 1.9 Foco nas interações com os clientes Por que focar as interações com os clientes? O simples fato de se ter um processo interno robusto já não é o suficiente para garantir o sucesso de uma empresa? Por exemplo, é ineficiente otimizar um processo de preenchimento de pedidos sem considerar o processo de suporte ao cliente que facilite a resolução de problemas relativos ao processo em questão. Mesmo que o pedido tenha sido processado sem problemas (com eficiência), se o item for enviado ao cliente de maneira errada e este se frustrar ao tentar obter o item que ele de fato deseja, o resultado da experiência do cliente não é positivo, e a repetição de novos negócios com o mesmo se torna menos provável. A situação descrita nos remete à definição de conceitos de eficiência e eficácia. Portanto, é necessário ser eficiente nos processos internos de uma organização, porém essa eficiência não irá gerar resultados se não tivermos um processo de suporte ao cliente que o satisfaça plenamente (eficácia). 1.10 Ponto único de contato Normalmente este tipo de demanda ocorre em processos de atendimento ao cliente. Um sintoma tradicional deste tipo de problema são as transferências múltiplas de chamada quando um cliente entra em contato com uma empresa qualquer para resolver um problema. Quem já não se viu numa situação dessas, em que um atendente transfere uma chamada para outro, que por sua vez transfere para um terceiro, e assim por diante? Invariavelmente você, como cliente, irá contar sempre a mesma história para cada atendente. O cliente deseja ser atendido de forma única, com o menor grau de transferências possível. Estabelecer ponto único de contato, sempre que 9 possível e principalmente para clientes especiais, é uma forma de melhorar a relação com o cliente e gerar fidelidade. 1.11 Processos separados (criar processo para cada grupo) Demandas diferentes podem solicitar processos diferentes. Normalmente, um único processo tenta absorver todas as variações possíveis; no entanto, entradas e saídas podem variar em complexidade, tipo, tamanho etc. Para algumas variações o processo pode funcionar bem, porém, para outras pode ficar confuso e lento. Por exemplo, ao fazer compras em um supermercado, um cliente seleciona o item e decide ir direto ao caixa rápido. O supermercado tem dois processos de verificação de saída: um para muitos itens e outro para poucos. A verificação para muitos itens tem um empacotador,enquanto a rápida não tem. Se entradas naturalmente se agrupam devido a diferenças significativas, então um símbolo de decisão deve ser colocado no início do processo, perguntando qual subprocesso é mais apropriado para esse grupo. Nesse caso pode haver recursos e custos adicionais, mas deve haver maior eficiência e satisfação do cliente. O grupo de entrada é devidamente direcionado para o processo apropriado (ABPMP, 2009). 1.12 Terceirizações Uma das possíveis soluções para o estado futuro de um modelamento de processos pode ser a terceirização. Tendo como gatilho as regras de negócio, é uma prática cada vez mais comum e frequente nos dias atuais: terceirizar as responsabilidades pelos processos de apoio a outras empresas especializadas na função, liberando a empresa para que esta foque seus recursos em processos estratégicos que geram mais valor ao negócio. Alguns processos de apoio possuem um certo grau de especialização que, nos dias atuais, só se encontra em empresas terceirizadas. Neste momento, é necessário que haja uma decisão de cunho estratégico para definir quais processos devem ser terceirizados. Hoje em dia, é raríssimo encontrar empresas que não possuam processos de segurança patrimonial, limpeza e serviços de restaurante terceirizados, pois no mercado existem inúmeras empresas que prestam esses tipos serviço de maneira mais eficiente e com menor custo do 10 que se fosse realizado internamente com os recursos das organizações. Além dos processos mencionados, que já são padrões de terceirização, outros podem ser detectados por meio da modelagem e analisados quanto à possibilidade de terceirização. O fato é que empresas que adotaram a terceirização costumam relatar que seus custos reduziram, na maioria das vezes, sem alteração da qualidade do serviço. TEMA 2 – APLICAÇÃO E ANÁLISES TÉCNICAS: ANÁLISE DE VALOR Nos parágrafos anteriores, foram catalogadas algumas possíveis soluções para modelagem do estado futuro (To-Be). Será abordado nos próximos parágrafos como se efetua a análise no processo a partir dos gatilhos específicos obtidos por intermédio do estudo detalhado dos fluxos decorrentes da modelagem. Este tipo de análise é o mais comum e mais detalhado dentro das literaturas sobre BPM. Após a execução do mapeamento, quais melhorias podem ser implementadas para se obter um processo mais eficiente e eficaz? Conforme o CBOK 2.0 (ABPMP, 2009), análise de processo é definida da seguinte maneira: “a análise é um trabalho de descoberta que envolve encontrar respostas a uma série de questões sobre o processo e gerar dados para assegurar que quaisquer conclusões estejam baseadas em extrapolações de dados e não em rumores e generalizações”. Portanto, deve-se utilizar as evidências obtidas no processo para gerar as melhorias necessárias. Para análise de processo (in-process), utiliza-se comumente uma ferramenta de gestão (ou método) denominado PDCA. Criada por Shewhart e difundida nos anos 1950 por Willian Edwards Deming, é muito utilizada na administração geral. Possui como característica o controle e a melhoria de processos de forma contínua e está vinculada à filosofia kaizen (cultura japonesa referente à melhoria contínua e um dos pilares da administração da qualidade). Segue abaixo um breve resumo das etapas do PDCA: ● Plan (“Planejar”): planejar o que deve ser realizado. Deve-se observar o problema, definir o problema e determinar ações para resolvê-lo. ● Do (“Executar”): Executar as ações conforme planejado. Coletar dados para o mapeamento e análise dos próximos passos. 11 ● Check (“Verificar”): verificar os resultados e analisar os dados gerados pelo processo durante a execução, identificando as diferenças entre o planejado e o alcançado. ● Action (“Agir”): agir no sentido de realizar as correções das falhas verificadas durante o processo. Mesmo após a correção ser realizada, deve-se repetir o ciclo. Figura 2 – Ciclo PDCA e a melhoria contínua Percebe-se que com essa metodologia o ciclo não deve parar no primeiro giro, devendo girar até que se tenha plena convicção da solução do problema. Quando se fala de melhoria contínua, parte-se do pressuposto de que esse ciclo deve sempre estar em movimento. Portanto, o ciclo PDCA permite de forma otimizada e contínua a análise e o controle dos mais diversos processos existentes em uma organização. Durante a análise, deparamo-nos com a necessidade ou oportunidade de melhoria, que é o denominado gatilho (Pavani Junior; Scucuglia, 2011). Dentre esses gatilhos, ressaltam-se duas categorias: 1. Gatilho disparado por eventos específicos: ocorrências pontuais que justifiquem uma revisão de um processo de negócio. Como exemplo pode-se destacar: resultados de planejamento estratégico, introdução de novas tecnologias, novos negócios, aquisições e fusões. 2. Gatilho disparado por monitoramento contínuo: ocorrências identificadas por meio de comportamentos de indicadores que medem o desempenho de processos. Qualquer resultado esperado que não ocorra de forma contínua requer algum tipo de mudança ou ação de melhoria. De uma maneira geral, os indicadores devem ser a base para este gatilho, no entanto vale ressaltar que o conhecimento tácito das pessoas (conhecimento que o indivíduo adquiriu ao longo da vida, pela experiência e geralmente é difícil de 12 ser formalizado ou explicado a outra pessoa) deve ser levado em consideração (Pavani Junior; Scucuglia, 2011) Com relação aos gatilhos anteriormente mencionados, estes sugerem melhorias que podem ser classificadas conforme da seguinte maneira: ● Necessidade de Melhoria: refere-se a todo e qualquer resultado proveniente de uma análise que apresente um motivo específico e que esteja prejudicando as operações, tais como: problemas de desempenho, problemas de estratégia, inovação tecnológica, novos negócios, aumento de capacidade, etc. ● Oportunidade de Melhoria: refere-se a todo e qualquer resultado independentemente de qualquer motivo específico, tais como: normas de gestão, procedimentos otimizados, diagnoses estruturadas, etc. (Pavani Junior; Scucuglia, 2011) TEMA 3 – PRIORIZAÇÃO DOS PROCESSOS A SEREM RESOLVIDOS A análise de processos para implantação de melhorias normalmente consome recursos, portanto saber escolher qual processo deve ser priorizado é de suma importância. Existem várias ferramentas para priorizar tanto os processos como os problemas a serem atacados. Dentre elas podemos destacar as mais simples, como Matriz GUT, Pareto e Matriz de Impacto e Severidade. As duas primeiras fazem parte das ferramentas da qualidade. A Matriz de Impacto e Severidade – também muito utilizada para gestão de riscos em Projetos (Possi, 2006) – a qual será utilizada como exemplo, possui duas variáveis: ● Impacto: Processos de maior impacto são aqueles que se eventualmente proporcionarem falhas ou resultados negativos irão influenciar diretamente a satisfação do cliente e ou a remuneração dos acionistas. ● Severidade: Quanto mais severo for o processo, mais nocivo será uma eventual falha em termos de imagem para o cliente e reputação da organização. (Possi, 2006) Figura 3 – Matriz impacto versus severidade Fonte: ABPMP, 2009, p. 79. 13 Para utilização dessa matriz, cada processo é listado em algum ponto do quadro, levando-se em consideração a severidade e o impacto para a organização. Os processos que apresentarem uma elevada pontuação no impacto e na severidade serão os processos que precisam de mais atenção. Qualquer que seja a forma de priorização, os processos escolhidos devem atender diretamente aos objetivos da organizaçãoe ter um impacto positivo no resultado-chave do negócio. TEMA 4 – ANÁLISE DA VARIAÇÃO DOS INDICADORES DE PROCESSO Os indicadores de processo são definidos e obviamente metas são estabelecidas. Embora essas metas sejam atribuídas por meio de um desejo humano, algumas regras devem ser levadas em consideração, como por exemplo propor um objetivo alcançável. Regras para elaboração de indicadores foram apresentadas na aula 5. Um dos indicadores que certamente deverá acionar uma ação de curto prazo é o indicador referente à “reclamação de clientes”, pois todo o trabalho de mapeamento/modelagem de um processo tem como um dos principais objetivos a satisfação do cliente, seja o cliente externo ou interno. Conforme foi mencionado em parágrafos anteriores (mais especificamente na seção “Contextualizando” desta aula), a rede de restaurantes de fast food McDonald’s tem um forte trabalho no sentido de minimizar as variações de processo. Para que esse objetivo seja alcançado, a empresa utiliza a padronização de trabalho. Variações de processos ocorrem em qualquer organização, no entanto, o grande desafio é minimizá-las e mantê-las sob controle. Muitas vezes as empresas administram seus indicadores de processo pela média dos resultados, sem se importar com a variabilidade, que pode estar escondendo futuros problemas. Vejamos como exemplo os gráficos abaixo, relativos ao tempo de entrega de um produto qualquer (lead time): 14 Figura 4 – Processo A Figura 5 – Processo B Reparem que se esses dois processos fossem analisados pela média, ambos estariam atendendo à meta estipulada; no entanto, a dispersão dos resultados é muito mais evidente no processo A, em que se tem um desvio padrão de 2 contra 0,5 de desvio padrão do processo B. Embora pareçam óbvias as diferenças de resultados, normalmente é um erro comum nas organizações não se ater a esta variabilidade. Seja o analista de processos ou o administrador, a atenção à variabilidade dos processos é primordial para o sucesso de uma empresa. 15 O entendimento das causas e a proposição de melhorias para variações de um processo são mais complexas e exigem um maior esforço, no entanto, ter um processo com o mínimo de variabilidade e sob controle proporcionará resultados mais previsíveis, que com certeza irão melhorar a capacidade de planejamento de seus administradores. Neste contexto, as ferramentas estatísticas são um grande aliado. Seguem algumas sugestões dadas por Edson Vaz Musa1 (citado por Pavani Junior; Scucuglia, 2011, p. 189) durante um seminário da Fundação Nacional da Qualidade, realizado em 19 de abril de 2006, que considero relevantes e pertinentes para análise da variação dos indicadores de processo: • Toda e qualquer medida (indicador) possui variabilidade, proveniente do processo e do próprio sistema de medição; • Erro que todos comentem: mexer no processo quando ele está estável [lembram-se do experimento de Deming, na rota 1?]. Um erro grave é cometido quando tomamos uma ação todas as vezes que determinado resultado fica acima ou abaixo da média. Comparar com a média é sempre inadequado (vide exemplos dos gráficos acima). O que precisa ser analisado é se o resultado se encontra fora dos limites de controle. • Outro ponto a ser analisado é se a variabilidade do processo (desvio padrão) está muito grande. Deve-se mexer no processo em duas situações: 1. Quando o resultado estiver fora dos limites de controle; 2. Quando se deseja diminuir a variabilidade do processo. • Tomar ações sempre que um indicador se apresentar acima ou abaixo da média só aumenta a variabilidade do mesmo. • Isso é aplicável não só a produção, mas para todos os resultados administrativos, financeiros, etc. • Pontos fora do limite de controle certamente possuem uma causa especial. É necessário localizar e trabalhas nas causas especiais. • Exemplo: um empresário norte-americano inventou um sistema de informação que possibilita analisar suas 950 lojas. Trata-se de uma gestão baseada por cores: uma loja com resultado vermelho significa variabilidade abaixo dos limites de controle. Nesses casos, ele ligava para as lojas e entendia a causa da variabilidade (sistema simples e eficaz). • Devemos focar nas causas especiais. Causas normais acontecem. Exemplo: uma queda de 3% de faturamento gera um alarde, mas quando for pesquisada uma “causa” pode ser que tenha tido um feriado a mais naquele mês. Isso gera um desconforto desnecessário. A performance está dentro dos limites normais de variação, é inevitável. • O grande objetivo a perseguir é reduzir a variabilidade dos processos. Os gráficos a seguir ilustram melhor o que ocorre nos processos e quando se deve tomar uma decisão quanto à intervenção sobre eles. 1 Primeiro brasileiro a chegar à presidência de uma empresa multinacional. 16 Figura 6 – Processo com variabilidade sob controle Figura 7 – Processo com variabilidade fora do controle TEMA 5 – ANÁLISE DE GAPS (MELHORIAS PONTUAIS) Além dos gatilhos que podem gerar as possíveis soluções apresentadas, existe um outro tipo de gatilho baseado em pontos no sequenciamento de processos que possuam algum tipo de obstáculo, por menor que seja. Mesmo não sendo tão relevantes em termos de resultado, a análise desses gaps e a proposição de melhorias proporcionará ganhos paralelos na sistemática de trabalho e no clima entre os participantes do processo. Segue abaixo alguns tipos de gaps mais comuns, conforme Pavani Junior e Scucuglia (2011, p. 196): • Produto ou serviço errado • Restrições impostas por regulações ou recursos • Políticas restritivas • Processos sem procedimento padrão • Falta de controle de qualidade • Controle exagerado • Recursos inadequados ou indisponíveis • Ergonomia pobre 17 • Layout e ambiente inadequados • Formação de filas • Pessoas controlando pessoas • Valor agregado baixo ou negativo • Inflexibilidade comportamental • Respostas muita lentas de outras áreas • Pequenos conflitos de relacionamento entre pessoas • Falta de credibilidade na liderança • Etapas sendo executadas “porque sempre foi assim” • Procedimentos operacionais desnecessários Segue um exemplo de mapeamento de um processo no qual o analista detectou um gap: Figura 8a – Fluxograma de processo (estado atual) Figura 8b – Fluxograma de processo (estado futuro) FONTE: O Autor FONTE: O Autor 18 O exemplo acima ilustra uma situação na qual não se detectaram problemas de performance por meio de indicadores, porém um tipo de gap muito comum foi identificado: “porque sempre foi assim”. Trata-se de uma inspeção realizada no produto antes de embalá-lo, sendo que todo produto estocado deve, pelo procedimento da empresa, ter sua checagem realizada. Houve também ganhos referentes aos desperdícios catalogados pela produção enxuta, tais como: eliminação de retrabalho e excesso de processo. De acordo com o exemplo anterior, cabe ao analista de processos a função de entender a lógica do sequenciamento de atividades e compreender, se existir, possibilidades de execução diferenciada que resulte em algum tipo de ganho. Conforme Mike Rother e John Shook (2009): “Sempre que há um produto para um cliente, há um fluxo de valor. O desafio é enxergá-lo”. TROCANDO IDEIAS Vimos nesta aula que um dos “gatilhos” para tomada de decisão em relação à possível solução para modelagem do estado futuro refere-se à melhoria da produtividade dos pontos de gargalo. Dentro desse contexto, o estudo de caso a seguir refere-se à utilizaçãodos fundamentos da Teoria das Restrições (TOC) em uma indústria de couros do estado de Santa Catarina. A restrição de capacidade para atendimento a um determinado cliente foi solucionada por meio da aplicação dos fundamentos da Teoria das Restrições. Vamos ver como a utilização dessa teoria funciona na vida real? Leia atentamente o estudo de caso disponível no link a seguir: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/contabilidade/article/viewFile/2175- 8069.2009v6n11p59/11605>. Discorrendo sobre os resultados obtidos após a implantação das melhorias, pode-se afirmar que a seguinte informação é correta: a. O estudo mostra que as restrições que afetavam a empresa estavam contidas no mercado. b. O estudo mostra que as restrições que afetavam a empresa estavam contidas no elemento máquina, que era o único gargalo. c. O estudo mostra que as restrições que afetavam a empresa estavam contidas nos elementos máquina e matéria-prima. 19 d. O estudo mostra que as restrições que afetavam a empresa estavam contidos nos elementos máquina e mão de obra. e. O estudo mostra que as restrições que afetavam a empresa estavam contidos nos elementos de gestão administrativa. Análise do estudo de caso O estudo de caso na indústria de couros de Santa Catarina mostra como se efetua uma análise em um processo a partir do objetivo de aumentar a produtividade nos pontos de gargalo para atendimento à demanda do cliente. Nesse caso, a restrição principal estava na máquina. O segundo gargalo, também conhecido como recurso com capacidade restrita, refere-se à matéria- prima. Esse estudo de caso é um bom exemplo de exploração das restrições em um sistema produtivo (alternativa correta: c). Discuta com os demais alunos utilizando-se do Ambiente Virtual. Vocês já identificaram algum processo que possui restrições quanto à capacidade produtiva? Em termos nacionais (Brasil), vocês conseguem enxergar algum processo que possua gargalos (restrições) que prejudicam o fluxo de um determinado segmento? NA PRÁTICA Responda às questões propostas. As respostas estão ao final deste documento. 1. Difundida nos anos 1950 por Willian Edwards Deming e muito utilizada na administração geral, possui como característica o controle e a melhoria de processos de uma forma contínua e está vinculado à filosofia kaizen (cultura japonesa referente à melhoria contínua e um dos pilares da administração da qualidade). Essa definição se refere: I. Às sete ferramentas da qualidade. Entre elas: gráfico de controle, diagrama de causa e efeito, e histograma. II. Ao PDCA, que significa: planejar, definir, construir e agir. III. À melhoria contínua e ao processo de padronização como forma de melhoria de eficiência dos processos. IV. Ao PDCA, que significa: planejar, executar, verificar e agir. 20 Assinale a alternativa correta: a. As alternativas I e II estão corretas. b. Somente a alternativa I está correta. c. Somente a alternativa II está correta. d. As alternativas III e IV estão corretas. e. Somente a alternativa IV está correta. 2. Uma das análises que o profissional de mapeamento/modelagem de processos deve fazer refere-se à análise da variação dos indicadores de processo. Conforme essa análise, é correto afirmar que: a. Variações de processos ocorrem em qualquer organização, no entanto, o grande desafio é minimiza-las e mantê-las sobre controle. b. Variações de processos ocorrem em qualquer organização, no entanto, deve- se maximizá-las e mantê-las sobre controle. c. As variações de processos lhes são inerentes, no entanto, devemos focar as causas normais, porém para processos especiais. d. Variações de processos ocorrem em qualquer organização devido à instabilidade dos processos de negócio, que variam em função do mercado. e. Variações de processos ocorrem em qualquer organização. Toda e qualquer medida (indicador) possui invariabilidade, proveniente do processo e do próprio sistema de gestão. 3. O segmento de pet shop movimentou no ano de 2016 no Brasil algo em torno de R$ 19 bilhões (fonte: <http://cbn.globoradio.globo.com>). A Duda’s Toy (nome fictício) é um pet shop que vem apresentando um crescimento extraordinário e precisa organizar seus processos por meio de um mapeamento. Por meio de um fluxograma simples, descreva o processo a seguir. Faça-o antes de ver a resposta e verifique a solução no gabarito ao fim da atividade. I. Início, II. Cachorro dá entrada no pet shop. III. Recepcionista do pet shop verifica se o animal está cadastrado. Se estiver cadastrado, segue para o próximo passo; se não, deve providenciar cadastro. 21 IV. Recepcionista do pet shop verifica quais serviços devem ser executados. Se tosa e banho, segue o processo 5 em diante; caso apenas banho, segue para o processo 6. V. Cachorro é levado para a tosa. VI. Cachorro é levado para o banho. VII. Após banho, cachorro é encaminhado para secagem. VIII. Cachorro é encaminhado para aplicação de antipulga e colocação de coleira e adereços. IX. Cachorro é encaminhado ao canil. X. Aguardo pelo dono do cachorro. XI. Pagamento pelo serviço efetuado. XII. Devolução ao dono. XIII. Fim. FINALIZANDO Na aula passada, vimos que a análise dos processos de negócio é o ponto de partida para a introdução de melhorias, e os indicadores mostrarão em que direção deve-se seguir para se alcançar os objetivos. Vimos também como implantar projetos de melhoria. Nesta aula, o foco sobre a análise de processos foi mais extenso. Conhecemos a complexidade de uma análise criteriosa baseada em gatilhos. Qual será o ponto de partida para implantação de melhoria após o mapeamento de processos no estado atual? Por meio de um conjunto de soluções apresentadas (tais como agregação de valor para o cliente, minimização do envolvimento de pessoas, aumento de produtividade nos pontos de gargalo, chegando até a terceirização), foi possível compreender que para cada sintoma teremos um “remédio” adequado. Entendemos a definição da análise de processos segundo a ABPMP (Association of Business Process Management Professionals), que é uma associação internacional de profissionais de gerenciamento de processos de negócios e serve como ótima referência para o nosso trabalho. Reconhecemos a diferença entre necessidade de melhoria e oportunidade de melhoria. Como decidir em que processos atuar após seu mapeamento e análise? Para essa questão, apresentamos uma ferramenta simples que apresenta bons resultados, que é a matriz de impacto e severidade. 22 Voltamos a discorrer sobre indicadores de processos, porém sob uma outra ótica, que é a análise da variabilidade dos processos. Ao se analisar indicadores de processo pela média, pode-se cometer erros primários que com certeza irão comprometer os resultados da organização. Em resumo, quanto mais padronizado for um processo, menor será a sua variabilidade. Dentro deste tópico, foram apresentadas sugestões extremamente úteis de um grande especialista na área de administração. Muitas vezes, na análise de processos, ocorrem possibilidades de melhorias pontuais que não se enquadram nos padrões pré-estabelecidos, mas que certamente devem ser implantadas (os chamados gaps). Neste contexto, foi apresentado um exemplo de fluxogramas do estado atual (As-Is) e do estado futuro (To-Be) para auxiliar a compreensão. Chegamos ao fim desta aula e desta disciplina. Todo o conhecimento visto até esse momento, desde a definição do que é um processo, passando pela gestão por processos, mapeamento e modelagem, notações para mapeamento, análise de processose projetos de melhoria, tem como objetivo capacitar o administrador para o eficaz desenvolvimento de sua profissão. O conhecimento isolado não gera mudanças, no entanto, a transformação deste conhecimento em projetos é o que faz a diferença entre os profissionais. Espero ter contribuído no sentido de fazer esta diferença em preparar profissionais de sucesso. 23 REFERÊNCIAS ABPMP – Association of Business Process Management Professionals. CBOK 2.0: Guia para gerenciamento de processos de negócios – corpo comum de conhecimento. [S. l.]: ABPMP, 2009. ABPMP BRASIL. Disponível em: <http://www.abpmp-br.org/>. Acesso em: 5 abr. 2018. DEMING, W. E. Saia da crise. São Paulo: Futura, 2003. WILDAWER, E. W.; WILDAWER, L. D. B. S. Mapeamento de processos: conceitos, técnicas e ferramentas. Curitiba: InterSaberes, 2015. GOLDRATT, M. E.; COX, J. A meta. São Paulo: Nobel, 2002. PAVANI JUNIOR, O.; SCUCUGLIA, R. Mapeamento e gestão por processos: BPM. São Paulo: M.Books 2011. PORTAL ADMINISTRAÇÃO. Disponível em: <http://www.portal- administracao.com/>. Acesso em: 5 abr. 2018. POSSI, M. Gerenciamento de projetos guia do profissional: aspectos humanos e interpessoais – volume 2. Rio de Janeiro: Brasport, 2006. ROTHER, M.; SHOOK, J. Aprendendo a enxergar: mapeando o fluxo de valor para agregar valor e eliminar o desperdício. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2009. 24 RESPOSTAS 1. e. 2. a. 3. Conforme fluxograma do pet shop a seguir.:
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