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1 TÉCNICO EM ENFERMAGEM 4º MÓDULO Prof.ª Ana Elisa Ártico 2 Enfermagem em Oncologia – Bases Tecnológicas 1. Câncer: Definição e características de tumor benigno e tumor maligno; Fisiopatologia do crescimento celular; Fatores predisponentes; Nomenclatura dos tumores; Mecanismo de invasão (metástase); Diagnóstico; Estadiamento; Tratamento 2. Quimioterapia: Conceito; Classificação; Efeitos colaterais; Assistência de enfermagem; Cuidados no manuseio e administração de quimioterápicos 3. Radioterapia: Conceito; Indicação; Tipos: Tele terapia; Braquiterapia Efeitos colaterais; Assistência de enfermagem 4. Cuidados paliativos: Conceito e princípios; Assistência de enfermagem em cuidados paliativos; Controle da dor: Classificação da dor por seu mecanismo fisiopatológico; Padrões e tipos de dor; Avaliação do paciente com dor; Princípios gerais de controle da dor; Agentes farmacológicos para o controle da dor; Medidas não farmacológica para o controle da dor 5. Processo de luto, morte e o morrer 3 1. Câncer Definição Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Por exemplo, existem diversos tipos de câncer de pele porque a pele é formada de mais de um tipo de célula. As causas de câncer são várias, podendo ser externas ou internas ao organismo, porém ambas são inter-relacionadas. As causas externas relacionam-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas. Esses fatores causais podem interagir de várias formas, aumentando a probabilidade de transformações malignas nas células normais. De todos os casos, 80% a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais. Alguns são bem conhecidos: o cigarro pode causar câncer de pulmão, a exposição excessiva ao sol pode causar câncer de pele, e alguns vírus podem causar leucemia. Outros estão em estudo, como alguns componentes dos alimentos que ingerimos, e muitos são ainda completamente desconhecidos. O envelhecimento traz mudanças nas células que aumentam a sua suscetibilidade à transformação maligna. Isso, somado ao fato de as células das pessoas idosas terem sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco para câncer, explica em parte o porquê de o câncer ser mais frequente nesses indivíduos. Os fatores de risco ambientais de câncer são denominados cancerígenos ou carcinógenos. Esses fatores atuam alterando a estrutura genética (DNA) das células O surgimento do câncer depende da intensidade e duração da exposição das células aos agentes causadores de câncer. Por exemplo, o risco de uma pessoa desenvolver câncer de pulmão é diretamente proporcional ao número de cigarros fumados por dia e ao número de anos que ela vem fumando. Câncer no Brasil A incidência do câncer cresce no Brasil, como em todo o mundo, num ritmo que acompanha o envelhecimento populacional decorrente do aumento da expectativa de vida. É o resultado direto das grandes transformações globais das últimas décadas, que alteraram a situação de saúde dos povos pela urbanização acelerada, dos novos modos de vida e novos padrões de consumo. A prevenção e controle dessa doença em nosso país - de dimensões continentais e fortes diferenças regionais por abrigar uma população de comportamentos, crenças e atitudes de modo bem diversificado - representa, atualmente, um dos grandes desafios que a saúde pública enfrenta. A descrição da distribuição dos tipos mais incidentes de câncer, por meio do tempo, tem sido uma das principais estratégias para o estabelecimento de diretrizes em políticas públicas e, principalmente, para o planejamento de ações de prevenção e controle do câncer. 4 O registro nacional de câncer também é um desafio para países em desenvolvimento, especialmente para o Brasil devido a suas dimensões. A estratégia tem sido manter e fortalecer centros de informação (Registros de Câncer de Base Populacional e Hospitalares - RCBP/RHC) que permitam monitorar a situação do câncer como parâmetro para todo o país; e ainda, dentro dessa lógica, por meio das estimativas de câncer, seja possível obter informações atualizadas e aplicáveis às necessidades estratégicas do país. “Inca diz que expectativa é de 1,2 milhão de novos casos de câncer no país entre 2018 e 2019” - Fonte: http://www.inca.gov.br/estimativa/2018/estimativa-2018.pdf Uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta que 1,2 milhão de novos casos da doença devem surgir no país entre 2018 e 2019. Só neste ano, a estimativa é que surjam 582 mil novos casos – 300 mil em homens e 282 mil em mulheres. Ainda segundo o estudo, em cada 10 casos, três estão relacionados ao estilo de vida que as pessoas levam. Hábitos como tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, obesidade e exposição excessiva ao sol aumentam as chances de incidência da doença. "O tipo de câncer mais comum no nosso país continua sendo, claro que esperado num país tropical, o câncer de pele, do tipo não melanoma. Dos demais cânceres, mama na mulher e próstata no homem vêm se destacando bastante. Além disso, outros tipos de câncer com alta incidência, como o câncer de pulmão e o câncer de intestino, também estão muito ligados a hábitos alimentares, ao tabagismo, uso abusivo de álcool”, (Inca/2018). Tumores de maior incidência Entre os tipos de cânceres com maior incidência em ambos os sexos está o câncer de pele não melanoma, que é um tipo de tumor menos letal. Os outros 10 tipos mais incidentes são: próstata, mama, intestino, pulmão, estômago, colo do útero, cavidade oral, sistema nervoso central, leucemia e esôfago. "No caso homem, o câncer de próstata, no caso da mulher, o câncer de mama, são tipos de câncer ligados ao aumento do tempo de vida, ligados a questões de envelhecimento, alterações hormonais, ligados a funções reprodutivas, obesidade, sedentarismo, são características da vida mais urbana (Inca2018). Segundo os pesquisadores, cerca de um terço dos tipos de câncer podem ser evitados, o que significa um passo muito importante no aspecto da prevenção da doença no Brasil e no mundo. Os dados foram divulgados em um evento no Inca para o Dia Mundial do Câncer. Os cânceres de maior incidência nas mulheres são: câncer de mama intestino colo do útero pulmão glándula tireoide Os cânceres de maior incidência nos homens são: 5 próstata pulmão intestino estômago cavidade oral No caso dos cânceres que podem ser prevenidos, como o de colo do útero, o importante é fazer o exame preventivo e vacinar as filhas e filhos. No caso do câncer de mama, a melhor forma de prevenir é fazer a mamografia a partir dos 50 anos, que é a faixa etária onde há maior incidência da doença. Câncer pediátrico Enquanto os tumores nos adultos estão, em geral, relacionados a exposição aos vários fatores de risco já citados, as causas dos tumores pediátricos ainda são pouco conhecidas – embora em alguns tipos específicos já se tenha embasamento cientifico de que sejam determinados geneticamente. Do ponto de vista clinico,os tumores infantis apresentam menores períodos de latência, em geral crescem rapidamente e são mais invasivos. Por outro lado, respondem melhor ao tratamento e são considerados de bom prognostico. O câncer pediátrico representa de 0,5% a 3% de todos os tumores na maioria das populações. A leucemia é o câncer de maior ocorrência em crianças. Na maioria dos países, crianças abaixo de 5 anos são as mais frequentemente acometidas por esse tipo de neoplasia. Nos países desenvolvidos, os linfomas constituem de 7% a 18% das neoplasias pediátricas, ocupando o terceiro lugar. Já nos países em vias de desenvolvimento, correspondem ao segundo lugar, atrás apenas das leucemias. Os tumores do Sistema Nervoso Central correspondem a uma taxa de 8% a 15% das neoplasias pediátricas – é o mais frequente grupo de neoplasias solidas malignas na faixa pediátrica. Em países desenvolvidos, esses tumores representam o segundo grupo de diagnostico mais comum; nos países em desenvolvimento, é o terceiro tipo de neoplasia mais incidente. Mortalidade No Brasil, a mortalidade proporcional por neoplasias cresceu consideravelmente ao longo das últimas décadas, acompanhando o crescimento da mortalidade relacionada às doenças do aparelho circulatório e por causas externas, ao mesmo tempo em que diminuíram as mortes por doenças infecto parasitarias – esse perfil da mortalidade retrata a transição epidemiológica e demográfica verificada no pais. 6 Características de Tumor benigno e tumor maligno Basicamente, a diferença entre benigno e maligno é definida pela aparência e estrutura das células atacadas pelo tumor. Os tumores benignos são constituídos por células bem semelhantes às que os originaram e não possuem a capacidade de provocar metástases. Já os malignos são agressivos e possuem a capacidade de infiltrar outros órgãos. A multiplicação celular é “controlada” pelos chamados oncogenes ativadores, que regulam o crescimento e a morte da célula e pelos genes supressores de tumor que inibem a multiplicação celular. No tumor benigno há uma mutação na estrutura genética dos oncogenes, mas nada capaz de “descontrolá-la”. O mesmo não ocorre com os tumores malignos, que crescem sem controle por conta da alteração genética Os critérios que permitem estabelecer com segurança o diagnostico são, na maioria dos casos, morfológicos: • Encapsulação – Geralmente os tumores benignos não possuem cápsulas verdadeiras, e sim pseudocapsulas fibrosas que se formam em decorrência da compressão dos tecidos vizinhos pelo crescimento lento e expansivo do tecido tumoral. Já no caso dos tumores malignos, o crescimento rápido, desordenado e infiltrativo do tecido não permite a formação das pseudocapsulas. • Crescimento - Como todas as estruturas orgânicas, os tumores também tem parênquima, representado pelas células que os estão originando, e tem tecido conjuntivo, vascularizado, que constitui a estrutura da sustentação e o veículo da nutrição do parênquima. Os tumores benignos frequentemente exibem crescimento lento e expansivo, possuindo um estroma adequado, com um bom suprimento vascular, raramente mostrando necrose e hemorragia. Os tumores malignos, ao contrário, pela rapidez e desorganização no crescimento, pelo caráter infiltrativo e pelo alto índice de multiplicação celular, geralmente apresentam uma desproporção muito grande entre o parênquima tumoral e a vascularização. Tal comportamento explica a razão por que, com frequência, esses tumores exibem áreas extensas de necrose ou hemorragia. A capacidade invasiva das neoplasias malignas é a principal responsável pela dificuldade da erradicação cirúrgica das mesmas. • Morfologia - As células parenquimatosas dos tumores exibem graus variados de diferenciação. As dos tumores benignos são bem diferenciadas e reproduzem o aspecto das células do tecido original. Em neoplasias benignas raramente são observadas células atípica Já as células dos tumores malignos apresentam menores graus de diferenciação e, consequentemente, não reproduzem as características dos tecidos que as originaram. Desse modo, as células malignas mostram caracteres morfológicos que se afastam, em grau variado, daqueles da célula de origem. As alterações anaplásicas são mais evidenciadas nos núcleos das células, caracterizando-se pelo pleomorfismo nuclear, com variação de forma, tamanho e cromatismo, assim como pelas modificações da relação núcleo/citoplasma, pela proeminência dos nucléolos e pelo espessamento da membrana nuclear. Mitoses - O número de mitoses expressa a atividade da divisão celular. Assim, quanto maior a atividade proliferativa de um tecido, maior e o número de mitoses verificadas. No caso dos 7 tumores, o número de mitoses relaciona-se inversamente com o grau de diferenciação tumoral: quanto mais diferenciado o tumor, menor o número de mitoses observadas. Nos tumores benignos, as figuras de mitose são raras e todas tem aspecto típico. Já no caso dos tumores malignos, as figuras de mitose são vistas em maior número e podem ter aspecto atípico. • Antigenicidade - As células dos tumores benignos, por serem bem diferenciadas, não apresentam a capacidade de produzir antígenos. No entanto, as células cancerosas podem apresentar esta capacidade. Os antígenos tumorais vem sendo utilizados no diagnóstico de alguns tipos de câncer. Por exemplo, sabe-se que, no caso do câncer hepático, as células malignas podem voltar a produzir antígenos fetais (alfafetoproteina), que normalmente não são produzidos pelos hepatócitos. • Metástases - Os tumores malignos tem capacidade de invasão e disseminação, o que resulta na produção das metástases, principal característica do câncer. A metástase constitui o crescimento neoplásico secundário, a distância, sem continuidade com o foco primitivo. Diferenciação entre tumores benignos e malignos Critérios Benigno Maligno Encapsulação Presença frequente Geralmente ausente Crescimento Lento, expansivo e bem definido Rápido, infiltrativo com delimitação imprecisa Morfologia Reproduz o aspecto do tecido de origem Caracteres diferentes do tecido de origem Mitoses Raras e típicas Frequentes e atípicas Antigenicidade Ausente Presente – geralmente fraca Metástase Não ocorrem Frequente Oncogênese O organismo humano está exposto a múltiplos fatores carcinogênicos, com efeitos aditivos ou multiplicativos. Sabe-se que a predisposição individual tem um papel decisivo na resposta final, porém não é possível definir em que grau ela influencia a relação entre a dose e o tempo de exposição ao carcinógeno e a resposta individual à exposição. Independente da exposição a carcinógenos, as células sofrem processos de mutação espontânea, que não alteram o desenvolvimento normal da população celular como um todo. Estes fenômenos incluem danos oxidativos, erros de ação de enzimas e redução e reordenamento cromossômico. Há também que se considerar a vigilância imunológica como mecanismo de correção ou exclusão das células mutantes. Os fenômenos de mutação espontânea podem proporcionar maior ou menor instabilidade no DNA, que pode ser fundamental nos processos iniciais da carcinogêneas. 8 A carcinogênese pode ter início de forma espontânea ou ser provocada pela ação de agentes carcinogênicos (químicos, físicos ou biológicos). Em ambos os casos, verifica-se a indução de alterações mutagênicas nas células. A incidência, a distribuição geográfica e o comportamento de tipos específicos de cânceres estão relacionados a múltiplos fatores, incluindo sexo, idade, raça, predisposição genética e exposição ao carcinógenos ambientais. Destes fatores, os ambientais são, provavelmente, os mais importantes.Os carcinógenos químicos (particularmente aqueles presentes no tabaco e resultantes de sua combustão e metabolismo), bem como determinados agentes, como os azocorantes, afla toxinas e benzeno, foram claramente implicados na indução de câncer no homem e em animais. O tempo para a carcinogêneas ser completada é indeterminável, podendo ser necessários muitos anos para que se verifique o aparecimento do tumor. Teoricamente, a carcinogêneas pode ser interrompida em qualquer uma das etapas, se o organismo for capaz de reprimir a proliferação celular e de reparar o dano causado ao DNA. A descoberta de que os oncogênese causadores de tumores estão relacionados aos genes normais levantou várias questões sobre o papel destes genes no crescimento e desenvolvimento (diferenciação) das células normais e tumorais. Parece certo que etapas da iniciação e promoção de um tumor e a própria existência de uma neoplasia maligna depende da expressão (manifestação do efeito) aumentada de oncogênese, ocasionada por amplificação (aumento do número de copias do gene), por expressão alterada de genes repressores ou por mutações críticas em áreas de determinado oncogênese. Oncogênese física A energia solar ionizante, é o mais importante carcinógeno físico. O mecanismo da carcinogênese pela radiação ocorre devido a sua capacidade de induzir mutações. Essas mutações podem resultar de algum efeito direto da energia radiante ou de efeito indireto intermediado pela produção de radicais livres a partir da água ou do oxigênio. As radiações na forma de partículas (como partículas alfa e nêutrons) são mais carcinogênicas do que a retenção eletromagnética (raios X, raios gama). Raios ultravioleta (RUV) Radiação Solar No Brasil, o câncer mais frequente é o de pele, correspondendo a cerca de 25% de todos os tumores diagnosticados em todas as regiões geográficas. A radiação ultravioleta natural, proveniente do sol, é o seu maior agente. A radiação ultravioleta natural, proveniente do sol, pode causar câncer de pele. Há que se considerar dois tipos de RUV: os RUV-A e RUV-B. Os RUV-B são carcinogênicos e sua ocorrência tem aumentado muito com a destruição da camada de ozônio. Por sua vez, os RUV-A não sofrem influência da camada de ozônio e causam câncer de pele em quem se expõe a doses altas e por um longo período de tempo. Outras Radiações 9 Estima-se que menos de 3% dos cânceres resultem da exposição às radiações ionizantes. Estudos feitos entre os sobreviventes da explosão das bombas atômicas e entre pacientes que se submeteram à radioterapia mostraram que o risco de câncer aumenta em proporção direta à dose de radiação recebida, e que os tecidos mais sensíveis às radiações ionizantes são o hematopoético, o tiroidiano, o mamário e o ósseo. As leucemias ocorrem entre 2 e 5 anos após a exposição, e os tumores sólidos surgem entre 5 e 10 anos após a exposição. O risco de desenvolvimento de um câncer é significantemente maior quando a exposição dos indivíduos à radiação aconteceu na infância. Dois mecanismos podem estar envolvidos na indução do câncer por raios ultravioleta: lesão do material genético e imunossupressão. Radiação ionizante As radiações eletromagnéticas e na forma de partículas são todas carcinogênicas e a sua ação nociva é evidenciada em várias circunstancias: Os mineiros que trabalham com elementos radioativos apresentam risco aumentado de Câncer de pulmão. A incidência de certas formas de leucemia esteve e está acentuadamente aumentada em sobreviventes das bombas atômicas lançadas sobre o Japão e do acidente atômico ocorrido em Chernobyl. Oncogênese química A oncogênese química é um processo sequencial, dividido em duas fases – a iniciação e a promoção. Iniciação: consiste de um fator iniciador ou carcinogênico que causa dano ou mutação celular. A mutação do DNA é o fenômeno central da etapa de iniciação da carcinogênese. As células “iniciadas” permanecem latentes até que sobre elas atuem agentes promotores. Promoção: estimula o crescimento da célula que sofreu mutação, e pode acontecer a qualquer momento, após a transformação celular inicial. Os fatores de promoção podem ser: agentes químicos (p. ex. asbesto), processo inflamatório, hormônios, fatores que atuam no crescimento celular normal. É importante destacar que o agente promotor não tem ação mutagênica nem carcinogênica e que, para conseguir efeito biológico, deve persistir no ambiente. Isto significa que seus efeitos revertem-se, caso a exposição a ele seja suspensa, sendo esta a grande diferença existente, entre ele e o agente carcinogênico, decisiva para as ações preventivas do câncer. Oncogênese biológica Diversos vírus de ADN e de ARN produzem canceres em animais, e alguns foram implicados na gênese do câncer humano. Entre os vírus de ADN, encontram-se os do Papiloma vírus humano (HPV), de Epstein-Barr (EBV) e o da hepatite B (HBV). Os vírus de ARN (retrovírus) se relacionam mais raramente com o câncer humano. Os vírus agem pela incorporação do seu ADN ao da célula hospedeira, que passa a ser utilizada para a produção de novos vírus. Durante este processo, ou mesmo anos após ele, pode haver a inativação de anti-oncogenes celulares pelas proteínas virais (dando-se a imortalização da 10 célula pela inibição da apoptose) ou a ativação de proto-oncogenes humanos ou virais (que estimulam a replicação celular). Diversos estudos demonstram que apenas essas alterações no DNA, isoladamente, não são capazes de induzir a transformação maligna de uma célula. Para que esta aconteça, são necessárias mutações adicionais, muito facilitadas pelas frequentes mitoses que ocorrem nas células infectadas. Diversos outros agentes biológicos são suspeitos de promoverem a carcinogenese, entre eles, o Helicobacter pylori, uma das bactérias mais prevalentes no homem, responsável pela gastrite crônica. Fatores de risco de natureza ambiental Os fatores de risco de câncer podem ser encontrados no meio ambiente ou podem ser herdados. A maioria dos casos de câncer (80%) está relacionada ao meio ambiente, no qual encontramos um grande número de fatores de risco. Entende-se por ambiente o meio em geral (água, terra e ar), o ambiente ocupacional (indústrias químicas e afins) o ambiente de consumo (alimentos, medicamentos) o ambiente social e cultural (estilo e hábitos de vida). As mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem, os 'hábitos' e o 'estilo de vida' adotados pelas pessoas, podem determinar diferentes tipos de câncer. Hábitos alimentares Muitos componentes da alimentação têm sido associados com o processo de desenvolvimento do câncer, principalmente câncer de mama, cólon (intestino grosso) reto, próstata, esôfago e estômago. Alguns alimentos, se consumidos regularmente durante longos períodos de tempo, parecem fornecer o tipo de ambiente que uma célula cancerosa necessita para crescer, se multiplicar e se disseminar. Esses alimentos devem ser evitados ou ingeridos com moderação. Neste grupo estão incluídos os alimentos ricos em gorduras, tais como carnes vermelhas, frituras, molhos com maionese, leite integral e derivados, bacon, presuntos, salsichas, linguiças, mortadelas, dentre outros. Existem também os alimentos que contêm níveis significativos de agentes cancerígenos. Por exemplo, os nitritos e nitratos usados para conservar alguns tipos de alimentos, como picles, salsichas e outros embutidos e alguns tipos de enlatados, se transformam em nitrosaminas no estômago. As nitrosaminas, que têm ação carcinogênica potente, são responsáveis pelos altos índices de câncer de estômago observados em populações que consomem alimentos com estas características de forma abundante e frequente. Já os defumados e churrascossão impregnados pelo alcatrão proveniente da fumaça do carvão, o mesmo encontrado na fumaça do cigarro e que tem ação carcinogênica conhecida. Os alimentos preservados em sal, como carne-de-sol, charque e peixes salgados, também estão relacionados ao desenvolvimento de câncer de estômago em regiões onde é comum o consumo desses alimentos. Antes de comprar alimentos, compare a quantidade de sódio nas tabelas nutricionais dos produtos. Estudos demonstram que uma alimentação pobre em fibras, com altos teores de gorduras e altos níveis calóricos (hambúrguer, batata frita, bacon etc.), está relacionada a um maior risco para o desenvolvimento de câncer de cólon e de reto, possivelmente porque, sem a ingestão 11 de fibras, o ritmo intestinal desacelera, favorecendo uma exposição mais demorada da mucosa aos agentes cancerígenos encontrados no conteúdo intestinal. Em relação a cânceres de mama e próstata, a ingestão de gordura pode alterar os níveis de hormônio no sangue, aumentando o risco da doença. Uma alimentação pobre em fibras, com altos teores de gorduras e altos níveis calóricos (hambúrguer, batata frita, bacon etc.), está relacionada a um maior risco para o desenvolvimento de câncer de cólon e de reto, possivelmente porque, sem a ingestão de fibras, o ritmo intestinal desacelera, favorecendo uma exposição mais demorada da mucosa aos agentes cancerígenos encontrados no conteúdo intestinal. Em relação a cânceres de mama e próstata, a ingestão de gordura pode alterar os níveis de hormônio no sangue, aumentando o risco da doença. Deve ser dada atenção especial aos grãos e cereais. Se armazenados em locais inadequados e úmidos, esses alimentos podem ser contaminados pelo fungo Aspergillus flavus, que produz a aflatoxina, substância cancerígena. Essa toxina está relacionada ao desenvolvimento de câncer de fígado. Alimentos Protetores Algumas mudanças nos hábitos alimentares podem ajudar a reduzir os riscos de desenvolver câncer. A adoção de uma alimentação saudável contribui não só para a prevenção do câncer, mas também de doenças cardíacas, obesidade e outras enfermidades crônicas como diabetes. Frutas, verduras, legumes e cereais integrais contêm nutrientes, tais como vitaminas, fibras e outros compostos, que auxiliam as defesas naturais do organismo a destruírem os carcinógenos antes que eles causem sérios danos às células. Esses tipos de alimentos também podem bloquear ou reverter os estágios iniciais do processo de carcinogênese e, portanto, devem ser consumidos com frequência. Uma alimentação rica nesses alimentos ajuda a diminuir o risco de câncer de pulmão, cólon e reto, estômago, boca, faringe e esôfago. Provavelmente, reduzem também o risco de câncer de mama, bexiga, laringe e pâncreas, e possivelmente o de ovário, endométrio, colo do útero, tireoide, fígado, próstata e rim. Consumo de Álcool Existe uma associação epidemiológica entre o consumo de álcool e cânceres da cavidade bucal e de esôfago. O uso combinado de álcool e tabaco aumenta ainda mais o risco de câncer nestas e em outras localizações, como a faringe e a laringe supraglótica. Está também, relacionado com os cânceres de fígado, reto e, possivelmente, mama. Os estudos epidemiológicos têm demonstrado que o tipo de bebida (cerveja, vinho, cachaça etc.) é indiferente, pois parece ser o etanol, propriamente, o agente agressor. O conselho para as pessoas que optarem por beber álcool é que limitem o consumo para menos de dois drinques por dia para homens e menos de um para mulheres. Mulheres grávidas, crianças e adolescentes não devem ingerir bebida alcoólica. Hábitos Sexuais 12 Certas características de comportamento sexual aumentam a chance de exposição a vírus carcinogênicos sexualmente transmissíveis. A promiscuidade sexual, a falta de higiene, a precocidade do início da vida sexual (antes dos 18 anos de idade), bem como a variedade de parceiros, tanto da mulher como do seu companheiro, estão relacionados a um maior risco de câncer do colo uterino. Esses fatos sugerem que os hábitos sexuais contribuem para a propagação de agentes sexualmente transmissíveis, capazes de induzir o câncer. Vírus com potencial carcinogênico que podem ser transmitidos sexualmente: Herpesvírus tipo II e Papilomavírus (HPV) estão relacionados ao câncer do colo uterino; Vírus HIV (Human Immunodeficiency Virus), associado a outros tipos de vírus, como o citomegalovírus e os herpesvírus I e II, pode desencadear o aparecimento de sacoma de Kaposi, câncer de língua e de reto, respectivamente, em pacientes portadores de AIDS; Vírus HTLV-I (Vírus Linfotrópico da Célula Humana) associa-se a leucemias e ao linfoma de linfócitos T; Vírus da hepatite B relaciona-se ao câncer de fígado. Medicamentos Apesar de contribuir para o controle de muitas doenças, o uso de medicamentos também produz também efeitos indesejáveis, entre os quais a carcinogênese. Podem ser citados: Efeito carcinogênico da clornafazina e do melfalan. Há evidência que o clorambucil, o tiotepa e a ciclofosfamida são indutores de leucemias e câncer de bexiga. Supressores imunológicos, como a azatio-prina e prednisona, já foram relacionados com linfomas malignos e com o câncer de pele. Quando administrados a transplantados, aumentam, agudamente, em meses, o risco de desenvolver o linfoma e outros tumores malignos. Fenacetina tem sido responsabilizada por tumores da pelve renal. Há relação entre o uso de dietilestilbestrol por mulheres grávidas e o desenvolvimento, em suas filhas expostas in útero ao hormônio, de adenocarcinoma de células da vagina. O uso de estrogênios conjugados, para o tratamento dos sintomas da menopausa, correlaciona-se com uma maior ocorrência do câncer de endométrio, e alguns estudos relacionaram o câncer de mama com o uso prolongado de contraceptivos, antes da primeira gravidez. Fatores Ocupacionais A primeira observação da relação entre a ocupação das pessoas, a exposição a agentes ocupacionais e neoplasias de origem hematopoética foi relatada por Pott, em 1775, pela qual demonstrou a alta frequência de câncer da bolsa escrotal de limpadores de chaminés, em Londres, na Inglaterra. Segundo Stellman e Daum (1975), cerca de 3.000 substâncias novas são introduzidas a cada ano nas indústrias, sem que os trabalhadores a elas expostos tenham consciência dos seus efeitos tóxicos. Rumel (1988) estudou, no Estado de São Paulo, a mortalidade por algumas causas básicas, entre trabalhadores masculinos de ocupações correspondentes a diferentes níveis sociais, e demonstrou que, o risco de óbito por câncer de pulmão é maior entre os trabalhadores braçais do que entre os metalúrgicos, comerciários, cientistas e artistas. 13 A má qualidade do ar no ambiente de trabalho é um fator importante para o câncer ocupacional. Durante pelo menos oito horas por dia os trabalhadores estão expostos ao ar poluído, pondo seriamente em risco a saúde. Algumas substâncias como o asbesto, encontrado em materiais como fibras de amianto ou cimento e tem o mesotelioma de pleura como neoplasia maligna especificamente relacionada a essa exposição; as aminas aromáticas, usadas na produção de tintas e os agrotóxicos agem preferencialmente sobre a bexiga, enquanto os hidrocarbonetos aromáticos, encontrados na fuligem, parecem agir sobre as células da pele e sobre as vias respiratórias e pulmões. O benzeno, que pode ser encontrado como contaminante na produção de carvão, em indústrias siderúrgicas, e é usado como solvente de tintas e colas, atinge principalmente a medula óssea, podendo provocar leucemia. Outros cancerígenos passam pela circulação do sangue, atingindo primeiramente o fígado, onde suas moléculas são quebradasquimicamente, dando origem a novas substâncias (metabólitos) muitas vezes mais tóxicas que as substâncias originais. O câncer provocado por exposições ocupacionais geralmente atinge regiões do corpo que estão em contato direto com as substâncias cancerígenas, seja durante a fase de absorção (pele, aparelho respiratório) ou de excreção (aparelho urinário), o que explica a maior frequência de câncer de pulmão, de pele e de bexiga nesse tipo de exposição. A falta de conhecimento sobre os riscos para a saúde e de informações político-econômicas que não priorizam o ser humano e sua preservação são fatores fundamentais para o aparecimento do câncer ocupacional. Como Prevenir o Câncer Ocupacional A prevenção do câncer de origem ocupacional deve abranger: 1 - Remoção da substância cancerígena do local de trabalho; 2 - Controle da liberação de substâncias cancerígenas resultantes de processos industriais para a atmosfera; 3 - Controle da exposição de cada trabalhador e o uso rigoroso dos equipamentos de proteção individual (máscaras e roupas especiais); 4 - Boa ventilação do local de trabalho, para evitar o excesso de produtos químicos no ambiente; 5 - Trabalho educativo, visando aumentar o conhecimento dos trabalhadores a respeito das substâncias com as quais trabalham, além dos riscos e cuidados que devem ser tomados ao se exporem a essas substâncias; 6 - Eficiência dos serviços de medicina do trabalho, com a realização de exames periódicos em todos os trabalhadores; 7 - Proibição do fumo nos ambientes de trabalho. 14 Transformação da célula normal em célula maligna Formação de Tumores – acúmulo de células cancerosas ou neoplasias malignas. Multiplicação acelerada das células. * Tumor benigno – massa localizada de células. Multiplicação Vagarosa. Como surge o câncer? Genes: arquivos que guardam e fornecem instruções para a organização das estruturas, formas e atividades das células no organismo. DNA: informação genética; passam informações para o funcionamento da célula. Mutação genética: alterações no DNA dos genes. Protooncogenes: genes especiais, inativos em células normais. Oncogenes: protooncogenes ativados, responsáveis pela “cancerização” das células normais. Biologia tumoral Para a compreensão do crescimento de tecidos normais e tumorais, é necessário conhecer a cinética celular. Ciclo celular A vida da célula compreende uma sequência de eventos, chamado ciclo celular, e tem cinco fases: G1, S, G2, M e GO (figura 02). A duração de cada fase e variável até mesmo nas células sob reprodução controlada, mas os processos ocorridos no interior das células são iguais para todas elas. 15 Fig 2 Desenho esquemático do ciclo celular Fase G1: Nesta fase, há a preparação para a síntese de ADN e passe de G1 para a fase seguinte. A fase G1 precede a síntese, daí ser chamada pre-sintetica. Células que apresentam baixo índice de duplicação apresentam uma duração de G1 longa, correspondente a G0 (repouso), ai persistindo (células como as do sistema nervoso) ou voltando a G1, quando necessário (células do fígado, por exemplo, quando em processo de regeneração). Células como as da pele, das mucosas e da medula óssea, como apresentam-se em constante divisão, tem G1 muito curto, podendo-se dizer que o seu ciclo não inclui a fase G0. Fase S: Nesta fase, uma proteína desencadeante é produzida para fazer a interação entre o DNA e a enzima duplicasse de DNA; ocorrendo esta reação, ele é inteiramente duplicado. Fase G2: Período pré-mitótico. Nesta fase, a síntese de ADN está completa e os cromossomos, em número dobrado, rearranjam-se, preparando o núcleo para a divisão celular. Fase M: A fase M é curta e corresponde a mitose. Ocorrem movimentações cromossômicas e separação da célula, cujo resultado é a distribuição de pares de cromossomos para as duas células-filhas. Estas, dependendo da sua função, podem morrer, entrar novamente no ciclo celular (Fase G1) ou passar para a fase do estado de G0. Fase G0: Durante a fase G0, as células apresentam menor atividade metabólica. G0 descreve um período prolongado de repouso, durante o qual as células não respondem aos estímulos que normalmente iniciam a síntese de DNA. As células em G0 não fazem parte do ciclo celular proliferativo. 16 Crescimento tecidual As células cancerosas e as normais se dividem mais rapidamente quando os volumes teciduais ou tumorais são menores e, mais lentamente, se esses volumes são maiores. Isto leva a um crescimento exponencial com curto tempo de duplicação em tumores de menor volume. A fração proliferativa do tumor decresce à proporção que o mesmo cresce, aumentando seu tempo de duplicação. Assim, um tumor apresenta tempos diferentes de duplicação em momentos diferentes de sua história natural. Três aplicações práticas derivam destes conhecimentos sobre a cinética celular: Quanto menor o tumor, maior a sua fração proliferativa, portanto mais sensível será aos medicamentos antibalísticos (quimioterapia) e as radiações ionizantes (Radioterapia). Quanto mais precoce for a aplicação de quimioterapia ou radioterapia após o tratamento cirúrgico do tumor, mais eficazes elas serão, pois maior será o número de células em fase proliferativa. Os tecidos normais que apresentam alta fração de crescimento são os que sofrem a ação da quimioterapia e radioterapia, neles concentrando-se os efeitos colaterais agudos desses tratamentos (náusea e vômitos, diarreia, leucopenia, alopecia etc.). Quando um tumor maligno alcança cerca de 1 cm de diâmetro, torna-se detectável pelos métodos diagnósticos disponíveis e contem cerca de 109 células. Acredita-se que é necessário um longo período de tempo para o tumor alcançar este tamanho, talvez alguns anos. Ele apresenta tempos diferentes de duplicação em momentos diferentes de sua história natural e, em alguns deles, bem antes desta detecção provavelmente já ocorreu a metástase por via hematogênica. Metástases Os tumores malignos apresentam duas propriedades peculiares: invasão dos tecidos circunvizinhos e comprometimento à distância (metástase). A metástase é definida como o comprometimento a distância por uma parte do tumor que não guarda relação direta com o foco primário. A disseminação tumoral é um processo complexo e não de todo esclarecido, que pode ser dividido em cinco etapas: 1) invasão e infiltração de tecidos subjacentes por células tumorais, dada a permeação de pequenos vasos linfáticos e sanguíneos; 2) liberação na circulação de células neoplásicas, tanto isoladas como na forma de pequenos êmbolos; 3) sobrevivência dessas células na circulação; 4) Retenção das células nos leitos capilares de órgãos distantes; 5) Extravasamento das células dos vasos linfáticos ou sanguíneos, seguido do crescimento das células tumorais disseminadas. Ao longo de todo esse processo, fatores mecânicos e imunológicos devem ser superados para que as células neoplásicas consigam implantar-se em um novo órgão e terem crescimento autônomo em relação ao tumor primário. A figura 3 demostra os eventos relacionados aos mecanismos da disseminação tumoral. 17 Fig. 3- Cascata metastática - Principais eventos (setas) Fonte: Adaptado de Venegas e Fleck (1992, p. 55) As vias pelas quais o tumor dissemina são: transcavitaria, linfática e sanguínea. • Disseminação transcavitaria - As metástases transcavitaria ocorrem quando células de um tumor maligno penetram alguma cavidade corporal, crescem e disseminam-se. Na pratica, as cavidades mais afetadas são a peritoneal e a pleural, porém a pericárdica, subaracnóideae articular podem também ser atingidas. • Disseminação linfática – as células malignas seguem a drenagem linfática normal da área do tumor primário, ocupando os linfonodos mais próximos e que recebem maior número de vasos linfáticos. Exemplo disto é a disseminação linfática do câncer de pulmão, que invade inicialmente os linfonodos mediastinos e, em sequência, os supra claviculares e cervicais. O mesmo se verifica com o câncer de mama, que invade inicialmente os linfonodos axilares, só posteriormente atingindo os de outras cadeias linfáticas supra claviculares, intraclaviculares, cervicais, mediastinos e axilar contralateral. Por um tempo não determinado, e possível que os linfonodos consigam impedir a disseminação das células tumorais, pois, chegando aos linfonodos, elas entram em contato com células do sistema imunológico e, então, podem ser destruídas. De outra forma, se resistirem e encontrarem condições vitais favoráveis e poderão multiplicar-se. • Disseminação sanguínea - As metástases por via hematogênica tem início quando células tumorais invadem os vasos sanguíneos. As veias e vênulas, por possuírem paredes mais frágeis, são mais facilmente penetradas do que artérias e arteríolas. As metástases por via arterial podem ocorrer, por exemplo, quando células metastáticas cruzam o leito capilar pulmonar, quando atravessam comunicações arteriovenosas ou quando as próprias metástases pulmonares funcionam como foco de novas células tumorais capazes de metastizar. 18 Em todo o organismo, os órgãos que mais são comprometidos por esse tipo de disseminação são, obviamente, os mais vascularizados: pulmão e fígado, em parte por receberem, respectivamente, grande volume de sangue procedente das circulações da veia cava e porta, ossos e cérebro. Padrões de localização Em relação à escolha dos órgãos-alvo, sabe-se que a distribuição das metástases é variável, e depende principalmente do tipo histológico e da localização do tumor primário. De fato, a localização mais comum de metástases de vários tipos histológicos é o primeiro leito capilar que as células encontram. Exemplos são: o câncer de pulmão metastatizando para o sistema nervoso central e o câncer de colón para o fígado. Entretanto, locais específicos parecem ser preferidos pelas células tumorais circulantes, como no caso do câncer de próstata para ossos. Isto demonstra um processo de intima correlação entre célula tumoral e órgão-alvo, denominado tropismo seletivo. A metástase deve ser vista como um novo tumor, diferente do primário, com ampla autonomia para crescimento e propagação. Uma compreensão mais abrangente sobre a patogênese da disseminação do câncer provavelmente resultará em mudanças significativas no tratamento. Como se comportam as células cancerosas? Multiplicam-se de maneira descontrolada; Têm capacidade para formar novos vasos sanguíneos para sua nutrição mantendo as atividades de crescimento descontrolado; O acúmulo dessas células forma os tumores malignos; Adquirem a capacidade de se desprender do tumor e de migrar; Chegam ao interior de um vaso sanguíneo ou linfático e, através desses, disseminam-se, chegando a órgãos distantes do local onde o tumor se iniciou, formando as metástases; Menos especializadas nas suas funções do que as suas correspondentes normais. Quadro 2 – Comportamento das células cancerosas Nomenclatura dos tumores A nomenclatura dos tumores depende do tecido que lhes deu origem. A figura 3 mostra as etapas do desenvolvimento do ovo até a formação do embrião tridermico, do qual derivam todos os tecidos do corpo humano. 19 Etapas da evolução do ovo e origem dos tecidos a partir do embrião tridérmico Tumor benigno O tumor benigno pode apresentar mais de uma linhagem celular e, neste caso, recebe via de regra o nome dos tecidos que o compõem, acrescido do sufixo “oma”. Exemplos: - Tumor benigno do tecido cartilaginoso – condroma. - Tumor benigno do tecido gorduroso – lipoma. - Tumor benigno do tecido glandular – adenoma. Tumor maligno Quanto aos tumores malignos, é necessário considerar a origem embrionária dos tecidos de que deriva o tumor, para aplicar as regras de nomenclatura. - Tumores malignos originados dos epitélios de revestimento externo e interno são denominados carcinomas. - Tumores malignos originados de tecido glandular são chamados de adenocarcinomas. Exemplos: - Carcinoma basocelular da face. - Adenocarcinoma de ovário. - Tumores malignos originários dos tecidos conjuntivos (mesenquimais) é formado pelo nome do tecido mais a determinação sarcoma. Exemplos: - Tumor maligno do tecido cartilaginoso – condrossarcoma. - Tumor maligno do tecido gorduroso – lipossarcoma. - Tumor maligno do tecido muscular liso – leiomiossarcoma. - Tumor maligno do tecido muscular estriado – rabdomiossarcoma. 20 Exceções A dificuldade de enquadrar todos os tumores nessa classificação simplificada, assim como a consagração pelo uso de alguns termos diferentes daqueles que seriam esperados segundo as regras, acabaram por determinar as exceções da nomenclatura. Vários critérios que fogem as regras antes descritas são utilizados: Origem embrionária dos tumores Por este critério, são classificados os tumores originados de células blásticas, que ocorrem mais frequentemente na infância. São os chamados blastomas, como, por exemplo, hepatoblastoma, nefroblastoma, neuroblastoma, retinoblastoma e osteoblastoma. São classificados também sob este critério os tumores originados de células primitivas totipotentes que antecedem o embrião tridermico. Eles são agrupados em quatro principais tipos: teratomas, seminomas, coriocarcinomas e carcinoma de células embrionárias. Os teratomas podem ser tumores benignos ou malignos, dependendo do seu grau de diferenciação. Quando benignos, mostram 100% de células diferenciadas, principalmente de pele e anexos (cistos dermoides). Uso de epônimos Há tumores cuja nomenclatura utiliza o nome dos cientistas que os descreveram pela primeira vez, ou porque sua origem demorou a ser esclarecida ou porque os nomes ficaram consagrados pelo uso. São exemplos: o linfoma de Burkitt, o sarcoma de Ewing, o sarcoma de Kaposi, o tumor de Wilms (nefroblastoma), o tumor de Krukemberg (adenocarcinoma mucinoso metastático para ovário) etc. Morfologia tumoral Os carcinomas e adenocarcinomas recebem nomes complementares que melhor classificam sua morfologia macro ou microscópica. Assim, podem ser utilizados termos como epidermoide, papilífero, seroso, mucinoso, cístico, medular, lobular etc. Exemplos: - Cistoadenocarcinoma papilífero. - Adenocarcinoma mucinoso. - Carcinoma ductal infiltrante. Outros nomes utilizados A nomenclatura de alguns tumores foge a qualquer critério histogenetico ou morfológico, como são os exemplos da doença de Hodgkin e da mola hidatiforme. A denominação micose fungóide, embora não sugira sequer neoplasia, refere-se a um linfoma maligno de pele. Quando o tumor apresenta linhagem epitelial e mesenquimal, ambas malignas, recebe o nome de carcinossarcoma. O carcinoma é dito adenoescamoso quando possui componentes epiteliais e glandulares malignos. Tumores como o melanoma e os linfomas podem receber o adjetivo “maligno”, apesar de não possuírem a variante benigna. Isto ocorre devido a confusão que sua terminação - oma faz com a nomenclatura de tumor benigno. 21 22 Graduação e Estadiamento dos tumores malignos A evolução do tumor maligno inclui várias fases, que dependem, em grande parte, da velocidade do crescimento tumoral, do órgão-sede do tumor, de fatores constitucionaisdo organismo, de fatores ambientais etc. Os tumores podem ser detectados nas fases microscópica, pré-clínica ou clínica. A história biológica de alguns tumores permite que eles sejam previstos quando ainda a lesão esteja na fase pré-neoplasica. As ações preventivas na área da saúde podem, se bem orientadas, colaborar para modificação na evolução natural dos tumores, levando a diagnósticos precoces que permitem não só aplicar o tratamento nas fases iniciais das lesões, assim como - o que é mais importante - tratar as lesões pré-neoplásica e, com isso, evitar o aparecimento do tumor. As etapas sequenciais das neoplasias epiteliais que surgem em epitélio escamoso, como, por exemplo, do colo do útero, são as seguintes: Carcinoma in situ - a neoplasia se desenvolve no interior do tecido de origem, sem ultrapassar os seus limites, definidos pela membrana basal. Carcinoma microinvasor - refere-se a neoplasia maligna que ultrapassa a membrana basal e atinge o tecido conjuntivo, mas não alcança profundidade superior a 5 mm. Carcinoma invasor - é assim definido quando se verifica a infiltração, com invasão mais profunda dos tecidos adjacentes. Essa sequência, no entanto, não é suficiente para permitir uma avaliação mais completa da evolução da lesão. Métodos que possam definir a rapidez do crescimento e a presença ou não de metástases são necessários à avaliação do prognóstico e tratamento a ser instituído. Entre esses métodos, os mais utilizados são a graduação histológica e o estadiamento. Estadiamento Verifica-se que, apesar da sua variedade, os tumores malignos seguem um curso biológico mais ou menos comum a todos, que se inicia pelo crescimento e invasão local, segue pela invasão dos órgãos vizinhos e termina com a disseminação regional e sistêmica. Esta evidencia levou a União Internacional Contra o Câncer a desenvolver um sistema de estadiamento dos tumores que tem como base o Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos: - Avaliação da dimensão do tumor primário (T) - Extensão da disseminação em linfonodos regionais (N) - Presença ou não de metástases a distância (M) Na interpretação de cada fator são analisadas as diversas variações que, para o tumor primitivo, vão de T1 a T4, para o comprometimento linfático, de N0 a N3, e, para as metástases a distância, de M0 a M1. 23 A combinação das diversas variantes de T, N e M, finalmente, determina os estádios clínicos que variam entre I e IV na maioria dos casos, isto porque alguns dos tumores só são classificados em três estádios. Para a ação da enfermagem, o conhecimento do Estadiamento é fundamental para traçar o plano de assistência, compreender as bases terapêuticas do tratamento médico instituído, orientar adequadamente o raciocínio clinico diante dos sinais e sintomas apresentados pelo cliente e, finalmente, para poder estabelecer com o cliente uma relação profissional orientada pelo respeito e por critério prognostico mais realista. Lesões proliferativas controladas e lesões pré-neoplásicas Verificam-se formas de crescimento celular controladas e não-controladas. A hiperplasia, a metalepsia e a displasia são exemplos de crescimento controlado Os limites entre os crescimentos nao-neoplasicos e neoplásicos não são bem definidos. Torna- se difícil determinar como e quando as lesões pre-neoplasica passam a desenvolver características de neoplasia. Pode-se, no entanto, afirmar que algumas lesões proliferativas nao-neoplásicas evoluirão para um crescimento neoplásico bem definido, ou seja, um processo proliferativo controlado passará a crescimento não-controlado. Entre as lesões proliferativas controladas encontram-se: Hiperplasia - Trata-se de um aumento localizado e autolimitado do número de células de um órgão ou tecido. Essas células são normais na forma e na função. A hiperplasia pode ser fisiológica ou patológica. Na forma fisiológica, os tecidos são estimulados à proliferação para atender as necessidades normais do organismo, como ocorre com a glândula mamaria durante a gestação. Na forma patológica, geralmente um estimulo excessivo determina a proliferação, como, por exemplo, a hiperplasia endometrial estimulada por excesso de estrogênios. Deve-se considerar que, nesses casos, assim que cessam os estímulos, cessa também a proliferação celular. Metalepsia - É um processo proliferativo de reparo em que o tecido formado é de tipo diferente daquele original. Exemplos dessas alterações são vistos frequentemente em epitélios de revestimento, como o caso da substituição do epitélio pseudo-estratificado ciliado por epitélio escamoso estratificado nos brônquios dos fumantes. A metalepsia também e reversível quando cessam os estímulos que a provocam. Displasia - Este termo tem sido usado para definir processos uma forma de proliferação celular que ocorre nas células epiteliais, caracterizada por perda de polaridade e alterações de forma e tamanho, além da presença frequente de mitoses Considera-se que a displasia e também um processo proliferativo reversível, desde que o estimulo causador seja removido. Grande parte dos conceitos atualmente consolidados sobre displasia provém de estudos feitos por acompanhamento das lesões observadas no colo uterino. Isto ocorre porque este órgão oferece facilidade de observação e porque estas lesões ocorrem com frequência nele. Exemplo disso são as displasias do colo que podem atingir apenas o terço inferior ou profundo 24 do epitélio escamoso (displasia leve) ou até dois terços da espessura desse epitélio (displasia moderada) ou, por fim, quase toda a espessura do epitélio, poupando apenas as células mais superficiais (displasia acentuada). Estas alterações morfológicas podem ser sequenciais e progressivas, como também podem regredir. A progressão da lesão leva ao carcinoma in situ. Diagnóstico A anamnese e o exame físico são a base do diagnóstico clínico e constituem elementos orientadores da indicação de exames complementares. O principal exame que confirma a existência de um tumor maligno é a biópsia. São múltiplas as finalidades dos exames complementares na área da oncologia. A solicitação destes exames visa avaliar o tumor primário, as funções orgânicas, a ocorrência simultânea de outras doenças e a extensão da doença neoplásica (estadiamento). Além disso, os exames complementares são indicados para detecção de recidivas, controle da terapêutica e rastreamento em grupos de risco. Os exames utilizados para diagnosticar e estadiar o câncer são, na maioria, os mesmos usados no diagnóstico de outras doenças. Assim é que os exames laboratoriais, de registros gráficos, endoscópicos e radiológicos, inclusive os ultra-sonográficos e de medicina nuclear, constituem meios pelos quais se obtêm a avaliação anatômica e funcional do paciente, a avaliação do tumor primário e suas complicações loco-regionais e à distância. Alguns tumores se caracterizam pela produção de substâncias, cuja dosagem é usada como meio diagnóstico, como parâmetro de estadiamento, como controle da terapêutica e como fator prognóstico. Essas substâncias são conhecidas como marcadores tumorais. É necessário ressaltar que, dependendo da dosagem desses marcadores, eles podem ser interpretados como de resultado normal, suspeito ou patológico. O quadro 5 apresenta os principais marcadores tumorais. Antígenos produzidos pelas células tumorais (marcadores tumorais) Marcador Tumor Alfafetoproteína (AFP) Câncer de fígado, testículo, ovário Quinase de linfoma anaplásico (ALK) Câncer de pulmão BCR - ABL Leucemia mielóide crônica Beta-2-Microglobulina (B2M) Mieloma múltiplo, leucemia linfoide crônica, linfoma Antígeno Tumoral da Bexiga (BTA)Câncer de bexiga BRAF Melanoma, câncer de tireóide, câncer colorretal CA 15 -3 Câncer de mama CA 19 - 9 Câncer colorretal, câncer de pâncreas CA 125 Câncer epitelial de ovário Antígeno Carcinoembrionário (CEA) Mais importante no câncer colorretal 25 Gonadotrofina Coriônica Humana (HCG) Câncer de testículo e ovário Antígeno Prostático Específico (PSA) Câncer de próstata Fosfatase Ácida Prostática (PAP) Câncer de próstata Tratamentos do Câncer Para o tratamento do câncer existem várias técnicas, dentre elas temos a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia, que representam as principais armas na luta contra o câncer. Estas podem ser utilizadas isoladamente, mas o seu uso combinado tem proporcionado excelentes resultados. A Imunoterapia e a Hormonioterapia também são utilizadas para o tratamento de alguns tipos de tumores. A escolha do tratamento depende da análise feita pelo oncologista, do tipo de tumor e da sua extensão, baseado ainda na sua experiência e nos protocolos de tratamento existentes. CIRURGIA É o método mais antigo e mais definitivo, quando o tumor é localizado, em circunstâncias anatômicas favoráveis. Em geral é o tratamento mais importante, que influencia mais na cura do paciente. Para alguns tipos de câncer, no entanto, apenas a cirurgia não é suficiente, devido à disseminação de células cancerosas local ou difusamente. A cirurgia é uma das formas mais utilizadas para o controle das neoplasias. As técnicas cirúrgicas têm melhorado muito nos últimos anos, evoluindo para as micro-cirurgias, com a intenção de poder devolver a esses pacientes uma condição de vida mais estável. A cirurgia é utilizada desde o início do diagnóstico, quando são realizadas as biópsias, que nada mais são do que retiradas de fragmentos do tecido comprometido para sua análise e determinação do tipo de tumor encontrado. A cirurgia para remoção de tumores malignos envolve não só a retirada do tumor in loco, mas também dos tecidos adjacentes, no que chamamos de margem de segurança, para evitarmos desta forma a recidiva ou a volta da neoplasia no mesmo local. Às vezes se faz necessária a ressecção cirúrgica do sistema de proteção que atua na remoção e transporte de sustâncias do organismo para o sistema linfático (gânglios linfáticos) que, nesses casos, pode atuar como disseminador das células tumorais à distância, provocando o que chamamos de metástase. A extensão da cirurgia para remoção dos tumores malignos vai depender muito do seu estadiamento: tumores diagnosticados no seu início precisam de cirurgias menores. Algumas vezes, dada a extensão do tumor e do envolvimento com os órgãos adjacentes, somente se faz a retirada de parte da massa tumoral e se complementa o tratamento com radioterapia ou quimioterapia, podendo se associar ainda uma nova cirurgia após a diminuição do mesmo causado pela ação destes tratamentos. O paciente deve ser devidamente esclarecido das consequências do tipo de tratamento proposto, assim como das sequelas a ele vinculado. O planejamento em cirurgia oncologica deve considerar: 26 Diagnostico; Estadiamento; Condições clinicas do paciente; Aspectos biológicos; Historia natural; Vias de disseminação dos tumores A assistência de enfermagem ao cliente cirúrgico deve incluir todos os cuidados referentes aos princípios gerais da cirurgia e ao preparo do paciente e seus familiares sobre as alterações fisiológicas e mutilações que poderão advir do tratamento. Prevenção: primeira escolha para tratamento de lesões pré cancerosas e in situ de superfícies epiteliais. Diagnostica: tem como objetivo a confirmação do diagnóstico do câncer. O tipo de técnica depende da localização, do tamanho e das características de crescimento do tumor. Por exemplo: biopsia incisional. Estadiamento: reservado para tumores inacessíveis, de difícil avaliação por meio de exames clínicos. Exemplo: tumores do trato digestivo. Indicações Curativa: geralmente a cirurgia é a modalidade terapêutica inicial para o manejo dos tumores sólidos, pode ser o tratamento exclusivo, ou necessitar de terapêuticas complementares, como quimioterapia ou radioterapia, com o objetivo de aumentar o potencial de ressecção do tumor; reduzir a extensão do tumor; limitar as incapacitações funcionais e melhorar o desfecho terapêutico. Paliativa: tem a finalidade de reduzir a população de células tumorais ou de controlar sintomas que põem em risco a vida do paciente ou comprometem a qualidade da sua providencia. Exemplo: descompressão de estruturas vitais (Gastrostomia descompressiva), o controle de hemorragia e perfurações (ligadura de carótida), o controle da dor, o desvio de transito aéreo (traqueostomia) e urinários (cistostomia). Introdução e monitoramento de órteses terapêuticas e de suporte, com a finalidade de: Promover maior bem estar e facilitar a administração do tratamento. Exemplo: cvc, e dispositivos vasculares implantáveis. Melhorar aspectos funcionais e / ou estéticos. Reconstrução: reparo de defeitos anatômicos causados pela cirurgia oncológica Assistência de Enfermagem Orientação a cirurgia a ser realizada; Orientação sobre a anestesia e controle de dor no pós operatório; Orientação sobre exercícios respiratórios, deambulação precoce; Estratégia de cuidados pessoais para prevenir e minimizar complicações de cirurgia; Termo de consentimento. Ferida operatória: curativo de acordo com as normas da instituição; atentar para presença de sinais flogísticos; Drenos e ou sondas: cuidados com a fixação, monitorização de débitos de drenos, bem como do aspecto drenado (coloração, odor); Cuidados para profilaxia de infecção respiratória: orientação sobre exercícios respiratórios e cabeceira elevada; Cuidados para profilaxia TVP: exercícios ativos de membros inferiores, de ambulação precoce, rodízio dos locais de aplicação de heparina; Monitorar sinais de sangramentos; 27 Avaliar a dor quanto a localização, a intensidade, duração e fatores desencadeantes; Monitorização de sinais de infecção (leucocitose, sinais vitais, hemograma). Fornecer informações relacionadas com: Modificações nas atividades de cuidados pessoais; Retorno progressivo ao nível máximo de atividade; Expectativa de manutenção de medicação após a alta; Cuidados com a ferida operatória. Uso adequado de órteses ou próteses: Sintomas a serem observados: febre, dor, vomito, diarreia, sangramento, desnutrição; Quem e quando o cliente deve procurar se surgirem problemas. Radioterapia. É o mais utilizado para tumores localizados que não podem ser ressecados totalmente, ou para tumores que costumam recidivar localmente após a cirurgia. Pode causar efeitos colaterais localizados, principalmente por lesão de tecidos normais adjacentes ao tumor. A quantidade de radiação utilizada depende do tipo de tumor, e é medida em rads. É o método de tratamento terapêutico pela aplicação de raios de rádio, de polônio, de cobalto 60, e etc. A ação da radioterapia nas células neoplásicas é semelhante à da quimioterapia, no entanto ela é restrita ao local tratado. A radioterapia está fundamentada nas radiações ionizantes que podem ser ondas eletromagnéticas ou corpusculares, dependendo de estarem formadas por partículas ou não. São denominadas ionizantes por terem a propriedade de romper a estrutura molecular dando lugar a formação de iones, os quais causam a morte celular. Esta modalidade pode complementar o tratamento cirúrgico, no sentido da eliminação de pequenos focos microscópicos que, se deixados, podem fazer o tumor voltar localmente.Dentre os efeitos colaterais temos leves queimaduras ou irritações na pele, inflamações das mucosas, cáries de radiação e osteorradionecrose, queda de cabelos nas áreas irradiadas e redução da contagem celular sanguínea, relacionados com as doses-intensidade observadas. A radioterapia pode ser aplicada de duas formas principais: a Braquiterapia (a fonte de irradiação é colocada a uma pequena distância ou em contato com o tumor) na Terapia Interna ou Metabólica: se fundamenta na seletividade de alguns órgãos por determinados elementos radioativos, e a Teleterapia onde a fonte de radiação está à distância da área tratada. Os avanços tecnológicos e a informatização têm facilitado a obtenção de melhores resultados com a redução de efeitos colaterais. Não há risco de lesão aos órgãos fora do campo irradiado. Quimioterapia É o tratamento sistêmico para o câncer que por meio de compostos químicos atua destruindo as células malignas. Consiste na utilização de medicamentos que tem ação citotóxica (causa danos às células). Podem ser utilizadas combinações de vários medicamentos diferentes, pois nos tumores há frequentemente subpopulações de células com sensibilidade diferente às drogas antineoplásicas. Os quimioterápicos são mais ativos em tumores que apresentam uma intensa atividade mitótica e pouco ativod naqueles que têm uma grande quantidade de células em repouso. São 28 mais eficientes em tumores de pequeno porte, mesmo que múltiplos, do que naqueles que apresentam uma extensa massa tumoral. Sua ação é sistêmica, ou seja, não se limitará a área do tumor o que é importante fator quando se pensa em atingir eventuais disseminações. Dada a sua ação sistêmica, atuam também sobre os tecidos sadios do organismo (os chamados efeitos colaterais), que são mais sentidos nos tecidos com alto índice de renovação celular, como são o sangue e as mucosas que revestem o trato digestivo, por exemplo. Alguns dos efeitos colaterais que dependem diretamente da dose e da combinação das drogas utilizadas são a queda na produção das células do sangue (glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas), tornando o paciente susceptível a infecções e sangramentos, além de inflamações das mucosas (mucosite), na forma de aftas ou diarreia. A queda de cabelo, quando ocorre, é reversível e sua intensidade depende do quimioterápico utilizado. As náuseas e vômitos, de grande importância no passado, atualmente são bem melhor controlados com as novas medicações anti-eméticas. Hormonioterapia Os hormônios funcionam como uma espécie de mensageiros químicos, circulantes no sangue que atuam em várias reações internas do organismo. Esta terapêutica é de muita utilidade no tratamento do câncer de mama e de próstata. Para exemplificar, o crescimento das mamas nas mulheres é determinado pela presença de hormônios sexuais femininos. Este papel é bastante útil no tratamento oncológico pois alguns tipos de tumores mantém relação com hormônios e o bloqueio nesta ação hormonal pode inibir seu crescimento. Esta é a base para o uso do bloqueio hormonal após a retirada de um tumor de mama hormônio dependente, por exemplo. Terapia biológica São utilizados modificadores da resposta biológica do próprio organismo frente ao câncer, "ajudando-o" a combater a doença (linfoquinas, anticorpos monoclonais). Também podem ser usadas drogas que melhoram a diferenciação das células tumorais, tornando-as de fácil controle. Há ainda outras propostas, como a produção de anticorpos monoclonais (Figura 5), contra proteínas específicas, encontradas nas paredes das células neoplásicas. Estes anticorpos ajudariam o sistema imune a reconhecer as células neoplásicas como estranhas. Poderiam também, carregar consigo toxinas que atingiriam apenas as células com aquela proteína, no caso, as células do câncer. 29 Anticorpo monoclonal Imunoterapia A possibilidade do sistema imunológico ser utilizado para destruir as células neoplásicas sempre foi vista como uma possibilidade muito interessante. Nos últimos anos, a imunologia tem feito novas descobertas impressionantes. O tratamento imunoterápico do câncer se baseia na ativação do sistema imune contra a célula maligna. Ela produz alguns tipos de proteínas que passariam a ser reconhecidas pelas células de defesa do organismo. Haveria então a destruição das células do tumor. Há várias formas de estimular o organismo a atacar as células neoplásicas. Inespecificamente, através da inoculação de bactérias (por exemplo, a BCG) pouco ativas para produzir doença, mas ativas o suficiente para evocar uma severa reação inflamatória, tornando as células de defesa mais agressivas. Funciona bem se aplicarmos localmente, no tumor. Há também a possibilidade das vacinas, onde se separam antígenos específicos da célula tumoral, e se reinjetam no paciente, que teria seu sistema imune ativado (como já é feito com vírus e bactérias, atualmente). Ainda outra possibilidade, que está em estudo, é a produção de linfócitos por engenharia genética, que levariam à destruição das células tumorais. Estes linfócitos seriam retirados do próprio paciente, o que tornaria o tratamento mais específico. Está fundamentada no fato de que algumas substâncias podem estimular as células imunocompetentes fazendo com que atuem de forma mais enérgica. Esta estimulação pode ser seletiva a certas populações celulares ou atuar de forma inespecífica através da ativação de qualquer grupo celular. A partir da ideia de que o câncer é um elemento estranho ao organismo, algumas drogas foram criadas com o objetivo de interferir no sistema imunológico do paciente, controlando o tumor. Estas drogas são utilizadas apenas em certos tipos de neoplasias. 30 2. Quimioterapia (QT) É uma modalidade de tratamento do câncer que utiliza substâncias químicas, chamados quimioterápicos, para promover a destruição das células tumorais, interferindo na função e reprodução celulares. Histórico 1946 - O primeiro quimioterápico antineoplásico foi desenvolvido a partir do gás mostarda, usado nas duas Guerras Mundiais como arma química. Após a exposição de soldados a este agente, observou-se que eles desenvolveram hipoplasia medular e linfóide, o que levou ao seu uso no tratamento dos linfomas malignos mais tarde. Mostarda nitrogenada – efeitos sobre tecidos em estado de rápido crescimento. Decadas de 60 e 70 inicia-se a era da quimioterapia científica, com o conhecimento da cinética celular e da ação farmacológica das drogas. Introdução da poliquimioterapia. Exemplos de protocolo de quimioterapia: FEC (Fluorouracil, Epirubicina e Ciclofosfamida) - tratamento do câncer de mama. BVD (Doxorrubicina, Bleomicina, Vinblastina, Dacarbazina) - tratamento da doença de Hodgkin; Mecanismos de Ação dos quimioterápicos Afetam tanto as células normais como as neoplásicas, com maior dano às células malignas; Diferenças quantitativas entre os processos metabólicos dessas duas populações celulares; Crescimento das células malignas e os das células normais; Ação nas enzimas, que são responsáveis pela maioria das funções celulares; Afeta a função e a proliferação tanto das células normais como das neoplásicas. Classificação das drogas antineoplásicas Ciclo-inespecíficos - Aqueles que atuam nas células que estão ou não no ciclo proliferativo, como, por exemplo, a mostarda nitrogenada. Ciclo-específicos - atuam somente nas células que se encontram em proliferação, como é o caso da ciclofosfamida. Fase-específicos - Aqueles que atuam em determinadas fases do ciclo celular 31 A figura 6 apresenta as fases do ciclo celular. Fasesdo ciclo celular Tipos e finalidades da quimioterapia Curativa - quando é usada com o objetivo de se conseguir o controle completo do tumor. Adjuvante - quando se segue à cirurgia curativa, tendo o objetivo de esterilizar células residuais locais ou circulantes, diminuindo a incidência de metástases à distância. Neoadjuvante ou prévia - quando indicada para se obter a redução parcial do tumor, visando a permitir uma complementação terapêutica com a cirurgia e/ou radioterapia. Paliativa - não tem finalidade curativa. Usada com a finalidade de melhorar a qualidade da sobrevida do paciente. Critérios para aplicação da quimioterapia Condições gerais do paciente: Menos de 10% de perda do peso corporal desde o início da doença; Ausência de contra-indicações clínicas para as drogas selecionadas; Ausência de infecção ou infecção presente, mas sob controle; Capacidade funcional correspondente aos três primeiros níveis, segundo os índices propostos por ECOG e Karnofsky. 32 Avaliação da capacidade funcional Avaliação da capacidade funcional Níveis Critérios ECOG KARNOFSKY 0 100-90% Paciente assintomático ou com sintomas mínimos 1 89 – 70% Paciente sintomático, mas com capacidade para o atendimento ambulatorial 2 69 -50% Paciente sintomático, mas com capacidade para o atendimento 3 49 – 30% Paciente permanece no leito mais da metade do dia 4 29 – 10% Paciente acamado, necessitando de cuidados constantes Contagem das células do sangue e dosagem de hemoglobina. (Os valores exigidos para aplicação da quimioterapia em crianças são menores): Contagem das células do sangue Leucócitos > 4.000/mm³ Neutrófilos > 2.000/mm³ Plaquetas > 150.000/mm³ Hemoglobina > 10 g/dl Dosagem sérica Uréia < 50 mg/dl Creatinina < 1,5 mg/dl Bilirrubina total < 3,0 mg/dl Ácido Úrico < 5,0 mg/dl Transferasses (transaminases) < 50 Ul/ml Deve-se iniciar a quimioterapia quando a população tumoral é pequena, a fração de crescimento é grande e a probabilidade de resistência por parte das células com potencial mutagênico é mínima. Principais drogas utilizadas no tratamento do câncer 33 Classificação farmacológicas das principais drogas anteneoplásicas Alquilantes Capazes de substituir em outra molécula um átomo de hidrogênio por um radical alquil. Eles se ligam ao ADN de modo a impedir a separação dos dois filamentos do ADN na dupla hélice espiralar, fenômeno este indispensável para a replicação. Os alquilantes afetam as células em todas as fases do ciclo celular de modo inespecífico. Ex.: mostarda nitrogenada, a mostarda fenil-alanina, a ciclofosfamida, o bussulfam, as nitrosuréias, a cisplatina e o seu análago carboplatina, e a ifosfamida. Antimetabólitos Afetam as células inibindo a biossíntese dos componentes essenciais do DNA e do RNA. Deste modo, impedem a multiplicação e função normais da célula. Antibióticos Estrutura química variada, possue em comum anéis insaturados que permitem a incorporação de excesso de elétrons e a consequente produção de radicais livres reativos. Podem apresentar outro grupo funcional que lhes acrescenta novos mecanismos de ação, como alquilação, inibição enzimática, ou inibição da função do ADN por intercalação. Inibidores mitóticos Podem paralisar a mitose na metáfase. Os cromossomos, durante a metáfase, ficam impedidos de migrar, ocorrendo a interrupção da divisão celular. Devem ser associados a outros agentes para maior efetividade da quimioterapia. Outros agentes Algumas drogas não podem ser agrupadas em uma determinada classe de ação farmacológica. Ex.: dacarbazina - melanoma avançado, sarcomas de partes moles e linfomas; procarbazina - doença de Hodgkin; L- asparaginase, que hidrolisa a L-asparagina e impede a síntese protéica, utilizada no tratamento da leucemia linfocítica aguda. Segurança do paciente em quimioterapia Técnica asséptica Prescrição legível: Nome da droga, dosagem e a via. Cálculo da dose – Superfície Corporal Leitura três vezes da prescrição por profissionais diferentes. Administração de Quimioterapia Cuidados Fundamentais Ordem de Infusão: Pré Quimioterápicos Hidratação em “Y’ com a QT Quimioterápicos 34 Tempo de Infusão – varia de acordo com a droga a ser administrada. Pode variar de 15 minutos a 24h (infusão contínua em bomba de infusão). Supervisão do Acesso Venoso – verificar constantemente o local da infusão. Identificar rapidamente os primeiros sinais de infiltração do medicamento e as condições e/ou sinais flogísticos . Pré Quimioterápicos ou ( Pré-QT): Antieméticos ( Zofran, Plamet, Kytril) Decadron Diluído em 100 ml SF0,9% ou SG 5% - 20 min. Antak Benadryl ( Difenidramina ou Difenidrin) Diluído em 50ml SF0,9% em 30 min. Terapia de Suporte Medicação Cardioprotetora: Cardioxane Doxorrubicina e Farmarrubicina Administrada antes da QT por 1 hora Diluída em 500ml de Ringer pela Framacêutica (Dose única) Medicação Citoprotetora: MITEXAN - Mesna 400mg Prevenir Cistite Hemorrágica Holoxane e Genuxal Administração é na hora: Zero - 15 min. antes da QT Quatro – Quatro hora após o início da QT Oito – Oito horas após o início da QT Diluída na unidade; Protocolo: Cisplatina + 5 Fourouracil Nefrotóxico e ototóxico Cuidados de enfermagem: Estimular ingesta hídrica Introduzir BH pois o paciente pode ter IRA Observar sintomas neurológicos e renais. Em casos de intercorrência Valorizar a queixa do paciente Interromper a Infusão Manter a hidratação Comunicar ao médico assistente Verificar Sinais Vitais Não jogar a QT fora 35 Vias de Administração Via oral. Vias subcutâneas e intra muscular. Via intra-arterial. Via intraperitoneal. Via intratecal. Via intrapleural. Via intravesical Via endovenosa (mais utilizada, escolha da punção) Via Oral Procedimento de fácil execução. É mais econômica, menos tóxica. Orientar dos efeitos colaterais, conservação, manuseio. Orientação em caso de vômito imediato. Figura 7 – Quimioterápico oral Vias Subcutâneas e Intramuscular Absorção mais lenta, limita seu uso. Observar contagem plaquetária. Fazer rodízio das áreas de aplicação. Compressão local. Atenção maior do Zoladex®. Via endovenosa É uma via segura, e mais usada. Avaliação da rede venosa (principalmente para quimioterapia vesicantes). Observar fragilidades vascular e cutânea. A atenção na infusão de antineoplásico deve ser redobrada. Evitar puncionar veias em articulações. Administração pode ser push ou sob infusão contínua A fixação deve ser segura, sem excesso de adesivo. Uso de EPIs. 36 Puncionar o acesso somente com soro fisiológico/glicosado. Testar o acesso, antes da administração do quimioterápico Administração em infusão contínua, geralmente são em grandes quantidades de diluentes. Atenção permanente em caso de uso de drogas vesicantes, em acessos periféricos. Manter um soro em conector em “y”. Flebite, dor, eritema e extravasamento são as maiores complicações. Critérios da punção venosa devido à toxicidade dermatológica local Via exclusiva Prevenção de Extravasamento o Evitar droga vesicante infusão continua em veia periférica
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