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Engenharia da Qualidade Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Antônio Carlos F. Bragança Pinheiro Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade • Introdução • Importância da Qualidade para as Organizações • Atributos da Qualidade de Produtos • Manual de Controle da Qualidade de Juran • Controle da Qualidade Total de Feigenbaum • Contribuições de Deming para a Qualidade • Contribuições de Crosby para a Qualidade • Contribuições de Ishikawa para a Qualidade • Contribuições de Taguchi para a Qualidade • Gestão Estratégica da Qualidade • Características Evolutivas da Qualidade • Custos da Qualidade · Conceituar e apresentar o histórico da qualidade aplicada à produção industrial e sua importância para as organizações. · Apresentar os objetivos da Engenharia da Qualidade e os atributos da qualidade de produtos. · Apresentar a gestão estratégica da qualidade e os custos relacionados. OBJETIVO DE APRENDIZADO Iniciaremos nossos estudos conceituando e apresentando os objetivos da Enge- nharia da Qualidade. A partir de então veremos a importância da qualidade para as organizações. Em seguida, aprenderemos os atributos da qualidade de produtos. Serão apresentadas as principais teorias da qualidade. Aprenderemos também a gestão estratégica da qualidade e as características evolutivas da qualidade. Por fim, serão apresentados os custos da qualidade. É interessante que você reveja alguns conceitos de gestão, a fim de facilitar seu entendimento dessas definições. Ademais, realize a leitura dos textos indicados, acompanhe e refaça os exemplos resolvidos. Não deixe de assistir, também, à apresentação narrada do conteúdo e de alguns exercícios resolvidos. Finalmente, e o mais importante, fique atento(a) às atividades avaliativas propostas e aos prazos de realização e envio. Bom estudo! ORIENTAÇÕES Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade UNIDADE Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade Contextualização É importante compreender a evolução dos conceitos da gestão da qualidade. Saber a importância do atendimento das exigências dos clientes, dos níveis da normalização relacionada e dos custos de produção para a competitividade das organizações. Assim, a Engenharia da Qualidade é amplamente utilizada nas indústrias em empresas prestadoras de serviços para a melhoria da qualidade e produtividade de processos e produtos, bem como para a redução dos custos da manufatura. Aspectos do dia a dia de nossa vida pessoal ocorrem também nas atividades profissionais. Exemplo disso é o nosso trabalho diário, no qual realizamos a escolha de elementos simples, como no caso de um material para revestimento e acabamento, por exemplo, na utilização de um revestimento para um livro, ou um caderno. É possível perceber que para os livros, ou os cadernos, torna-se necessário utilizar revestimentos com qualidade perceptível à visão e ao tato, enquanto que para revestimentos de pisos é possível utilizar materiais que necessitem serem perceptíveis principalmente para a sensibilidade visual. Em nossa vida pessoal e nas fábricas é necessário prever as atividades que serão realizadas, com o objetivo de atender à produção e garantir altos níveis de produtividade fabril e qualidade. Assim, é realizada a escolha de materiais, a fim de garantir os níveis da qualidade necessários para manter a competitividade das empresas dentro dos padrões aceitáveis de qualidade pelos consumidores, padrões esses que atendam às determinações das normas técnicas. Exemplificando com fatos do cotidiano, como podemos avaliar a qualidade de um material que será utilizado para encapar um caderno? Qual o desempenho desse material quando for cortado? Tendo essas informações, é possível determinar qual a melhor maneira de cortar o material, se com estilete ou tesoura. Podem surgir questões pontuais, como a quantidade necessária para a encadernação ou se a fita adesiva fixa adequadamente, como no caso das diversas situações do cotidiano. Todas essas preocupações são similares quando comparadas às necessidades de uma grande estrutura, como em uma fábrica. A manutenção de níveis da qualidade de uma fábrica pode passar por situações mais complexas como, por exemplo, a variação dos esforços atuantes em chapas de madeira para revestimento em função da movimentação realizada por esteiras, ou por equipamentos aéreos de suspenção. Mas, similarmente ao nosso cotidiano – no caso de encapar um caderno, ou um livro –, a produtividade industrial precisa estimar as eventualidades inerentes à cada linha de produção para atender aos níveis desejáveis de qualidade. 6 7 Para cada tipo de estrutura fabril existem questões estabelecidas e eventualidades que devem ser administradas na condução das questões da qualidade. Na gestão da qualidade, além da utilização das normas técnicas para a execução de produtos, o envolvimento de todas as pessoas é ponto fundamental para a obtenção de níveis superiores de qualidade. Nos métodos de gestão da qualidade são realizados tratamentos matemáticos, com o objetivo de prever solicitações futuras. Assim, com esse exemplo simples de nosso cotidiano, como a escolha de um material de revestimento de livros ou cadernos, lembre-se que na gestão da qualidade podem surgir situações muito mais complexas em seu dia a dia. Cabe ao engenheiro identificar as características do processo de fabricação, projetar e construir sistemas de produção capazes de atender às demandas das organizações, para que possam atender aos níveis previstos de segurança, qualidade e produtividade. Bom estudo! 7 UNIDADE Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade Introdução As empresas industriais ou de produção de serviços, em geral, têm grande preocupação quanto à qualidade. Essa preocupação está relacionada no atendimento das exigências dos clientes, dos níveis da normalização relacionada e nos custos de produção. A qualidade é um dos fatores-chave para o sucesso de qualquer empresa. O conceito da qualidade foi sendo caracterizado ao longo da história da humanidade, particularmente após a Revolução Industrial. Assim, a manutenção dos níveis percebidos da qualidade tem um papel de grande relevância para a manutenção da competição organizacional em ambientes globalizados deste século XXI. Objetivos da Engenharia da Qualidade O objetivo da Engenharia da Qualidade é o de garantir que as características da qualidade de um produto estejam no nível nominal desse produto, ou que estejam nos níveis determinados por normalização. A Engenharia da Qualidade é constituída por um conjunto de ferramentas de pesquisa operacional, de estatísticas e de análise de decisão, que são auxiliares no desenvolvimento e melhoria de produtos e processos industriais. Para isso, as ferramentas de Engenharia da Qualidade são amplamente utilizadas nas indústrias em empresas prestadoras de serviços para a melhoria da qualidade e produtividade de processos e produtos, bem como para a redução dos custos da manufatura. A Engenharia da Qualidade é baseada no gerenciamento feito através de informações com a aplicação de técnicas matemáticas e estatísticas voltadas à melhoria de produtos, serviços e processos. Importância da Qualidade para as Organizações O conceito da qualidade é amplo e tem variado ao longo do desenvolvimento da humanidade. A qualidade, por exemplo, pode estar relacionada aos atributos intrínsecos de um bem, ao seu desempenho técnico ou à sua durabilidade. Pode, também, estar relacionada à satisfação dos clientes quanto à adequação de um determinado produto ao seu uso. No caso das indústrias, qualidade pode ser vista como o atendimento das especificações do produto, isto é, o atendimentodo produto fabricado às especificações contidas no seu projeto. Outrossim, ainda é possível associar a qualidade ao valor relativo do produto. Nesse caso, é utilizada a relação do desempenho do produto e seu preço. 8 9 Antes da década de 1950, a qualidade de um produto era relacionada às suas características técnicas e de produção. A partir de Joseph Moses Juran (1904- 2008), engenheiro eletricista, advogado e consultor de negócios romeno, no início da década de 1950, a qualidade teve seu conceito alterado para a satisfação do cliente. Assim, os produtos precisariam ser ausentes de defeitos e ter os atributos necessários à satisfação dos clientes. Desde então, o entendimento é que qualidade está relacionada à satisfação de quem consome. A International Organization for Standardization (ISO) define qualidade como o grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a requisitos. A qualidade de um produto pode ser vista como as características, ou atributos, que são perceptíveis pelo consumidor. Assim, para se manterem competitivas em ambientes globalizados, as empresas buscam atender às expectativas de seus clientes quanto aos atributos da qualidade. Atributos da Qualidade de Produtos As empresas buscam obter vantagens competitivas de mercado, baseadas na qualidade percebida de seus produtos. Os critérios, ou atributos, da qualidade e seus indicadores podem ser: • Atendimento ao cliente e assistência técnica: competência e cortesia; • Confiabilidade: tempo de utilização sem falhas, em condições normais de utilização; • Conformidade: grau de características do produto em conformidade com as suas especificações de projeto; • Desempenho técnico ou funcional: grau de cumprimento de suas funções especificadas; • Disponibilidade: funcionamento do produto quando for requisitado; • Durabilidade: vida útil do produto em relação ao seu desempenho técnico e de custo; • Estética: percepção de beleza pelo consumidor; • Facilidade ou conveniência de utilização: grau de superação das funções básicas inerentes ao produto; • Imagem da marca: percepção do consumidor a partir da reputação da marca; • Instalação e orientação de uso: instruções para a instalação e utilização do produto; • Interface com o meio ambiente: impactos ambientais gerados pelo produto em seu ciclo de vida; 9 UNIDADE Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade • Interface com o usuário: interação do produto com o consumidor quanto a riscos de lesões a acidentes; • Mantenabilidade: facilidade de manutenção do produto. Até antes da Revolução Industrial (1760-1830), a qualidade era vista como autocontrole, realizada pelos artesãos. O artesão produzia pequenas quantidades, onde cada peça era ajustada manualmente. O artesão era um especialista em seus produtos e tinha o domínio completo de todo o ciclo de produção, desde a concepção até o pós-venda. O foco do controle da qualidade era o produto elaborado – e não o processo de fabricação. O controle da qualidade era realizado por inspeção de todos os produtos pelo artesão. Com o surgimento da teoria da administração científica, a qual proposta por Frederick Winslow Taylor (1856-1915), engenheiro mecânico norte-americano, no início do século XX, o controle da qualidade começou a ser externo à produção. A inspeção da qualidade consistia em retirar os produtos que estavam fora da conformidade, antes de serem enviados aos consumidores. A linha de montagem foi utilizada para a produção em massa. O trabalho foi segmentado, onde os trabalhadores tinham domínio de apenas uma pequena parte do trabalho, cuja atividade era repetida várias vezes por dia. No modelo de administração de Taylor, as etapas de concepção e de planejamento eram atividades realizadas somente pelos administradores. No final da década de 1920 surgiu a teoria das cartas de controle de processo, proposta por Walter Andrew Shewhart (1891-1967), físico, engenheiro eletricista e estatístico norte-americano, onde utilizava ferramentas estatísticas para estabelecer um modelo estatístico de variabilidade máxima da resposta de um processo produtivo. A partir desse modelo, era realizado o monitoramento da qualidade do processo de fabricação. Shewhart criou os gráficos de controle ao relacionar conceitos de estatística com a produção industrial. Ademais, Shewhart propôs o ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA), que direcionava as atividades de análise e solução de problemas. Na década de 1930 houve grande evolução do controle da qualidade. Isso foi possível com o desenvolvimento do sistema de medidas, de ferramentas de controle estatístico de processos, como as técnicas de amostragem, e de normas técnicas relacionadas. No final da década de 1930, surgiram técnicas de inspeção por amostragem propostas por Harold French Dodge (1893-1976), físico, engenheiro eletricista e estatístico norte-americano, e Harry George Romig (1892-1964), físico e matemático norte-americano. Houve então a inspeção de lotes de produtos por amostragem, a qual era baseada na abordagem probabilística para a previsão da qualidade do lote a partir da qualidade da amostra. 10 11 Até a metade do século XX, o controle da qualidade era limitado ao processo de fabricação, sendo realizado sobre os resultados dos processos de fabricação, com o objetivo de garantir a conformidade dos produtos com suas especificações. Em 1945, nos Estados Unidos, surgiu a primeira associação de profissionais da área da qualidade, a Society of Quality Engineers – Sociedade dos Engenheiros da Qualidade. Em 1946, igualmente nos Estados Unidos, foi fundada a American Society for Quality Control – Sociedade para o Controle da Qualidade –, hoje denominada American Society for Quality (ASQ) – Sociedade Americana da Qualidade. Em 1950, no Japão, foi criada a Japan Union of Scientists and Engineers (Juse) – União Japonesa de Cientistas e Engenheiros –, com grande importância para a área da qualidade. A partir da década de 1950, surgiram outras teorias da qualidade que procuraram ampliar o conceito e as atividades relacionadas à qualidade. Em 1987, dentro do processo de globalização das atividades produtivas e econô- micas, surgiu o modelo normativo da ISO para a área de gestão da qualidade, através da série ISO 9000 – sistemas de garantia da qualidade. Em 1996, surgiu a norma de gestão ambiental – ISO 14000, fortemente relacionada à norma ISO 9000. Em 1999, o British Standards Institution (BSI Group) publicou a norma Occupational Health and Safety Assessment (OHSAS 18000) de saúde e segurança ocupacional e em 2010 foi publicada a norma ISO 26000 de responsabilidade social. Essas compõem os Sistemas Integrados de Gestão (SIG), observando a questão ambiental, de saúde e segurança ocupacional, bem como a responsabilidade social, integrando a gestão da qualidade. Manual de Controle da Qualidade de Juran Em 1950, Juran publicou o seu Planning and practices in quality control – Manual de controle da qualidade. Nesse manual é colocado que para a adequação de um produto ao seu uso, todos os processos relacionados, direta ou indiretamente ao ciclo produtivo, devem ser focados no atendimento das expectativas do cliente. Assim, Juran indica que o conceito da qualidade deve ser incorporado por todos os processos da empresa. A qualidade no ciclo de produção deve ser sistêmica, isto é, realizada em todos os setores da empresa. Tal condição, denominada por Juran de função qualidade, quando vista no ciclo produtivo, esse teórico denominou espiral do progresso na qualidade (Figura 1). Nessa a satisfação do cliente é aumentada pelo feedback ao ciclo de produção quanto às informações obtidas em pesquisas de mercado sobre o desempenho do produto na etapa de pós-venda e dos serviços vinculados. 11 UNIDADE Desenvolvimento da Engenhariada Qualidade Qualidade Pesquisa de Mercado Projeto do Produto Desenvolvimento do Produto Especi�cação do Produto Compras Fornecedores Planejamento da Manufatura Produção e Controle do Processo Inspeção e Testes Marketing Serviço ao Cliente Atacado Varejo Uso e informações sobre desempenho Figura 1 – Espiral do progresso da qualidade Fonte: Acervo do conteudista Juran identificou a importância do estabelecimento de relações entre cliente e fornecedor ao longo da cadeia produtiva. Para esse teórico, cada processo tem simultaneamente o papel de produtor, cliente e fornecedor. Juran também observou a importância de existirem atividades ao longo do processo produtivo, de modo que os produtos estarão livres de deficiências e seus atributos estarão conforme as expectativas dos clientes. Propôs ainda a trilogia de controle da qualidade, que consiste de um processo cíclico de gerenciamento composto de planejamento, controle e melhoria da qualidade. Assim, sua contribuição é instrumental, relacionada às práticas de controle da qualidade. Pontos fortes: • Destaque para a necessidade de abandonar a euforia exagerada e os slogans; • Valoriza a importância do papel dos consumidores internos e externos; • Valoriza a importância do envolvimento e comprometimento da administração; • Forte intensidade em sistemas de controle. Pontos fracos: • Não está associada a outras teorias de liderança; • Não aceita iniciativas participativas; • Não é forte nas dimensões humanas nas empresas. Controle da Qualidade Total de Feigenbaum Em 1951, Armand Vallin Feigenbaum (1922-2014), engenheiro eletricista norte- americano, foi o primeiro a conceber a qualidade de forma sistêmica nas empresas, propondo o sistema de controle da qualidade total – Total Quality Control (TQC). Definiu as atividades de controle da qualidade em (Figura 2) controle de: 12 13 • Projeto; • Material recebido; • Produto; • Processos especiais. Figura 2 – Atividades de controle da qualidade segundo Feigenbaum Fonte: Acervo do conteudista Para Feigenbaum existem nove fatores que afetam a qualidade, chamados de 9 M – em inglês: • Dinheiro (money): margens estreitas de lucro e investimentos; • Gerência (management): qualidade do produto e assistência técnica; • Pessoas (men): especialização e engenharia de sistemas; • Mercados (markets): competição e velocidade de mudança; • Motivação (motivation): educação e conscientização para a qualidade; • Materiais (materials): diversidade e necessidade de exames complexos; • Máquinas (machines): complexidade e dependência da qualidade dos materiais; • Métodos (methods): melhores informações para a tomada de decisão; • Montagem do produto, requisitos (mounting product, requirements): fatores que devem ser considerados: poeira, vibração etc. Pontos fortes: • Abordagem total ao controle da qualidade; • Valoriza a importância da administração; • Insere ideias de sistemas sociotécnicos; • Promove a participação de todos os empregados. 13 UNIDADE Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade Pontos fracos: • Não diferencia os diversos contextos da qualidade; • Não reúne as diferentes abordagens da administração. Assim, sua contribuição é instrumental, relacionada às práticas de controle da qualidade. Contribuições de Deming para a Qualidade Willian Edwards Deming (1900-1993), engenheiro eletricista, físico e matemático norte-americano, na década de 1940, logo após a Segunda Grande Guerra, teve sua teoria inicialmente aceita no Japão, país que à época precisava reerguer a sua indústria de bens de consumo. Nessa ocasião a indústria norte-americana não tinha concorrência e havia um aumento significativo no consumo. Somente após seu sucesso no Japão, sua teoria foi aplicada nos Estados Unidos. Deming apresentou quatorze pontos para a gestão empresarial, os quais descrevem o caminho necessário para a realização da qualidade total, devendo ser continuamente aperfeiçoados: 1. Estabelecimento de constância de propósito de aperfeiçoamento do produto e do serviço, com objetivo de torná-los competitivos, mantê-los continuamente no mercado e gerar empregos; 2. Adotar uma nova filosofia. Na nova economia a administração deve compreender os desafios, conscientizar-se de suas responsabilidades e assumir a liderança em direção à transformação; 3. Não depender da inspeção para obter qualidade. Eliminar a necessidade da inspeção em massa, priorizando a internalização da qualidade do produto; 4. Eliminar a prática de negócios compensadores baseados apenas no preço. Procurar minimizar o custo total. Procurar ter um único fornecedor para cada item, desenvolvendo relacionamentos de longa duração, os quais pautados na qualidade e na confiança; 5. Aperfeiçoar constante e continuamente todo o processo de planejamento, produção e de serviços, com a intenção de aumentar a qualidade e a produtividade, conduzindo à redução dos custos; 6. Treinar no local de trabalho; 7. Adotar e estabelecer a liderança. O objetivo é ajudar as pessoas na realização de um trabalho melhor; 14 15 8. Eliminar o medo, para que todos trabalhem de modo mais eficaz; 9. Eliminar as barreiras entre os departamentos e setores da empresa. Todos os trabalhadores da organização devem trabalhar em equipe, tornando-se capazes de antecipar problemas que possam surgir durante a produção ou na utilização de produtos e/ou serviços; 10. Eliminar slogans, exortações e metas numéricas dirigidas aos trabalha- dores que criem relações adversárias de trabalho; 11. Eliminar cotas numéricas para os trabalhadores, a Administração por Objetivos (APO) e a administração através de números e metas numéricas, substituindo por liderança; 12. Remover as barreiras que tirem das pessoas a satisfação e o orgulho no trabalho. Significa a retirada das avaliações de desempenho ou de mérito e da administração por objetivos ou números; 13. Adotar um programa rigoroso de educação, treinamento e autoaperfei- çoamento para todos os trabalhadores; 14. Fazer com que todos da empresa trabalhem de modo a realizar a transformação. Deming e Shewhart construíram o ciclo PDCA, cujo conceito é planejar, fazer, veri- ficar e agir, na busca da padronização e melhoria contínua de processos empresariais. Pontos fortes: • Utiliza lógica sistemática e funcional que identifica estágios de melhoria da qualidade; • Destaca que a administração antecede a tecnologia; • A liderança e a motivação são vistas com grande importância; • Valoriza os métodos estatísticos e quantitativos; • Apresenta a diferença entre a cultura oriental da cultura ocidental. Pontos fracos: • O plano metodológico e os princípios de ação são vagos; • Abordagem de liderança e motivação personalizada; • Não aborda situações políticas ou coercitivas. A contribuição de Deming está relacionada a mudanças na cultura organizacional e nos fundamentos de administração e de gestão de recursos humanos. 15 UNIDADE Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade Contribuições de Crosby para a Qualidade Philip Bayard Crosby (1926-2001), médico e empresário norte-americano, lan- çou, em 1957, o programa Zero defeito, que utiliza noções da qualidade propostas por Juran, mas é fortemente gerencial e motivacional, com ênfase em fazer certo na primeira vez. Ademais, propôs quatorze pontos importantes para a qualidade: 1. Ter o compromisso dos altos dirigentes com a qualidade; 2. Formar equipes de aperfeiçoamento da qualidade em todos os departamentos; 3. Avaliar a qualidade na empresa através de indicadores da qualidade que indiquem as necessidades de melhoria; 4. Apropriar os custos da não qualidade; 5. Informar aos empregados a importância da qualidade nos produtos; 6. Implantaro sistema de ação corretiva; 7. Planejar o programa Zero defeito; 8. Capacitar os inspetores e demais responsáveis da empresa; 9. Instituir o dia do Zero defeito; 10. Estabelecer os objetivos a serem alcançados; 11. Eliminar as causas dos erros; 12. Reconhecer publicamente os empregados que atingem os objetivos, não realizando a premiação financeira; 13. Instalar os círculos da qualidade para monitorar o processo; 14. Realizar continuamente os itens anteriormente listados. A teoria do zero defeito parte do princípio de que o ser humano tem capacidade para executar tarefas sem incidência de erros, estando estritamente relacionada ao treinamento técnico e à capacitação psicológica do empregado. Pontos fortes: • Método objetivo e fácil de realizar; • É fundamental a participação do trabalhador; • É convincente na explicação da realidade e na motivação das pessoas para iniciar os projetos da qualidade. Pontos fracos: • Culpa os trabalhadores pelos problemas; • Ênfase em coisas óbvias; • Desconhece dificuldades; • Evita riscos. 16 17 Contribuições de Ishikawa para a Qualidade Kaoru Ishikawa (1915-1989), químico japonês, teve em suas contribuições teóricas a influência de Deming e de Juran. Para Ishikawa a qualidade total está relacionada à participação de todos e no trabalho em grupos ao invés de trabalhos individuais. Isso o levou à criação de Círculos de Controle da Qualidade (CCQ), que devem compor um programa mais amplo da qualidade. Seu trabalho influenciou na formulação do modelo japonês de controle da qualidade denominado Company Wide Quality Control (CWQC). Ishikawa classificou as técnicas de controle estatístico em três grupos de complexidade crescente. O primeiro grupo é composto por sete ferramentas que devem ser conhecidas por todos os funcionários da empresa e podem ser utilizadas na análise e solução da maioria dos problemas da qualidade: 1. Análise de Pareto; 2. Diagrama de causa e efeito; 3. Histograma; 4. Cartas de controle; 5. Folha de verificação; 6. Gráfico de dispersão; 7. Fluxograma. O segundo grupo é composto por métodos estatísticos intermediários, utilizados pelos especialistas da qualidade, de modo que incluem: • Inspeção amostral; • Estimativas estatísticas; • Projetos de experimentos. O terceiro grupo é formado por métodos estatísticos avançados, os quais utilizados por especialistas em qualidade e incluem: • Análise multivariável; • Técnicas de pesquisa operacional. Pontos fortes: • Valoriza a importância da participação das pessoas na solução de problemas; • Composto de técnicas estatísticas e de orientação para as pessoas; • Inicia a ideia dos círculos de controle da qualidade. 17 UNIDADE Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade Pontos fracos: • Método simplista de solução de problemas; • Transposição de ideias para a ação pelos círculos da qualidade de for- ma inadequada. Contribuições de Taguchi para a Qualidade Genichi Taguchi (1924-2012), engenheiro têxtil e matemático japonês, fez seus estudos nas atividades de projeto – e não na produção industrial. Esse estudo denominou controle da qualidade off-line, a fim de o diferenciar das técnicas on- line de controle estatístico de processos. Taguchi achava que a satisfação do cliente deveria ser baseada na criação de um produto de qualidade robusta. Assim, realizou a proposição de técnicas de projeto de experimento – Design of Experiment (DOE) – e a função perda da qualidade. Argumentava que dependendo da característica da qualidade, a função perda da qualidade se afasta do valor nominal – valor-alvo –, aumentando a perda para a sociedade, mesmo que estivesse dentro dos limites de especificação. Para esse teórico, a redução das perdas não está diretamente relacionada à conformidade das especificações, mas à redução da variabilidade em torno do valor-alvo. Figura 3 – Função perda da qualidade segundo Taguchi Fonte: Acervo do conteudista 18 19 Pontos fortes: • Qualidade desde o design; • Qualidade é assunto social – e não somente organizacional; • Métodos desenvolvidos por engenheiros práticos; • Forte controle do processo. Pontos fracos: • Difícil de aplicar quando o desempenho é de difícil medição, como no caso de serviços; • Controle realizado por especialistas; • Fraco para motivar e administrar pessoas. Gestão Estratégica da Qualidade No Japão, no ano de 1962, a Juse iniciou as atividades de grupo nos locais de trabalho do tipo CCQ. O controle da qualidade total japonês foi caracterizado em 1968 por seis pontos: 1. Participação de todos os setores e envolvimento de todos os trabalhadores com o controle da qualidade total; 2. Entusiasmo por educação e treinamento em qualidade; 3. Atividades de círculos de controle da qualidade; 4. Auditorias do presidente da empresa e participação no Prêmio Deming de Qualidade; 5. Uso de métodos estatísticos, das sete ferramentas da qualidade e outros métodos avançados; 6. Campanhas nacionais de promoção da qualidade. Esse movimento japonês evoluiu na década de 1970, até tornar-se referência para a qualidade total nos países ocidentais. Características Evolutivas da Qualidade Uma das classificações que conceitua as tendências dos modelos utilizados para a qualidade ao longo do tempo é a proposta por David A. Garvin, economista norte-americano: 19 UNIDADE Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade Fase da inspeção (final do século XIX até a década de 1930): • Característica básica: inspeção; • Interesse principal: verificação da qualidade; • Visão da qualidade: problema empresarial a ser resolvido; • Ênfase: uniformidade dos produtos; • Métodos: inspeção de medidas. • Atividades dos profissionais da qualidade: inspeção, classificação, contagem, avaliação e reparos; • Responsável pela qualidade: departamento de inspeção. Fase do controle estatístico do processo (da década de 1930 até a década de 1960): • Característica básica: controle estatístico do processo; • Interesse principal: controle; • Visão da qualidade: problema empresarial a ser resolvido; • Ênfase: uniformidade dos produtos com menos inspeções; • Métodos: ferramentais e técnicas estatísticas; • Atividades dos profissionais da qualidade: solução de problemas e aplicação de métodos estatísticos; • Responsável pela qualidade: departamentos de fabricação e de engenharia. Fase da garantia da qualidade (da década de 1960 até a década de 1990): • Característica básica: garantia da qualidade; • Interesse principal: coordenação; • Visão da qualidade: problema empresarial a ser resolvido proativamente; • Ênfase: toda cadeia de fabricação, bem como a contribuição de todos os grupos funcionais para impedir falhas da qualidade; • Métodos: programas e sistemas da qualidade; • Atividades dos profissionais da qualidade: planejamento, medição da qualidade e desenvolvimento de programas; • Responsável pela qualidade: todos os departamentos da empresa, com envolvimento superficial da alta administração no planejamento e na execução das diretrizes da qualidade. Fase da gestão total da qualidade (a partir da década de 1990): • Característica básica: gestão total da qualidade; • Interesse principal: impacto estratégico; • Visão da qualidade: oportunidade de diferenciação da concorrência; • Ênfase: necessidades de mercado e do cliente; • Métodos: planejamento estratégico, estabelecimento de objetivos e a mobili- zação da empresa; 20 21 • Atividades dos profissionais da qualidade: estabelecimento de metas, educação e treinamento, consultoria a outros departamentos da empresa e desenvolvimento de programas; • Responsável pela qualidade: todos na empresa, com a alta administração atuando com forte liderança. Custos da Qualidade A gestão da qualidade implicaem investimentos e a análise custo versus benefício deve ser considerada nas decisões de melhoria de resultados e redução da não qualidade dos produtos e processos. Geralmente, os custos da qualidade contêm os custos da falta da qualidade, bem como os custos para se obter qualidade. Os custos da qualidade podem ser classificados em: 1. Custos devidos a falhas internas: são os custos associados aos defeitos e que são detectados antes do despacho do produto. Esses custos desapareceriam se os produtos fossem isentos de defeitos. Exemplos: • Refugo: material, horas de trabalho etc.; • Retrabalho: horas de retrabalho; • Reinspeção: horas de trabalho de reinspeção; • Inspeção total: horas de trabalho de inspeção total de lotes com níveis da qualidade inaceitáveis; • Redução de preço de venda: redução devido à baixa qualidade. 2. Custos devidos a falhas externas: são os custos associados aos defeitos encontrados no produto depois que este foi comercializado. Tais custos desapareceriam se os produtos fossem isentos de defeitos. Exemplos: • Assistência técnica: custo da assistência técnica no período de garantia do produto; • Rompimento de contrato: custo de rompimento de contrato por não atendimento às especificações da qualidade; • Custo jurídico: custo de ações na justiça. 3. Custos de avaliação da qualidade: são os custos associados às ativida- des de verificação do grau de conformidade dos produtos com os requisi- tos da qualidade. Exemplos: • Inspeção e testes de recebimento de produtos de fornecedores: são os custos das atividades de verificação da qualidade de produtos comprados de fornecedores; • Inspeção no processo: são os custos das atividades de verificação da qualidade de produtos durante o processo de fabricação; 21 UNIDADE Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade • Inspeção final e teste: são os custos das atividades de inspeção final e teste dos produtos acabados; • Auditorias da qualidade: são os custos diversos da atividade de auditoria da qualidade; • Rastreabilidade e acuracidade de equipamentos: são os custos diversos provenientes da identificação e da manutenção da precisão de equipamentos de inspeção e testes. 4. Custos de prevenção de falhas: são os custos associados às atividades necessárias para reduzir ao mínimo os custos relativos a falhas e de avaliação da qualidade. Exemplos: • Planejamento da qualidade: são os custos de todas as atividades que, em conjunto, formam o planejamento amplo e detalhado das metas da qualidade; • Revisão de novos produtos em desenvolvimento: são os custos associados a todas as atividades de incorporação e garantia da qualidade do produto em fase de desenvolvimento; • Controle de processo: são os custos provenientes das atividades de controle da qualidade do processo; • Auditorias da qualidade: são os custos de avaliação da realização de atividades da qualidade; • Qualificação e desenvolvimento de fornecedores: são os custos associados à avaliação da qualidade de fornecedores antes da seleção e durante o contrato de fornecimento; • Treinamento: são os custos associados aos treinamentos em programas da qualidade. A composição dos custos pode ser vista na Figura 4: Figura 4 – Composição de custos para a obtenção da qualidade Fonte: Acervo do conteudista 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Gestão de Qualidade, Produção e Operações: Inclui a ISO 26000 BALLESTERO-ALVAREZ, M. E. Gestão de qualidade, produção e operações: inclui a ISO 26000. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. Introdução à Engenharia de Produção BATALHA, M. O. (Org.). Introdução à Engenharia de Produção. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. Gestão da Qualidade: Tópicos Avançados OLIVEIRA, O. J. (Org.). Gestão da qualidade: tópicos avançados. São Paulo: Cengage Learning, 2013. Administração da Produção e Operações RITZMAN, L. P.; KRAJEWSKI, L. J. Administração da produção e operações. São Paulo: Prentice Hall, 2004. 23 UNIDADE Desenvolvimento da Engenharia da Qualidade Referências CARPINETTI, L. C. R. Gestão da qualidade: conceitos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2010. CARVALHO, M. M. Gestão da qualidade: teoria e casos. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. MELLO, C. H. P. Gestão da qualidade. São Paulo: Pearson, 2011. 24
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