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Planejamento Estratégico na Gestão de Pessoas W B A 0 2 3 8 _ V 1. 0 2/239 Planejamento Estratégico na Gestão de Pessoas Autoria: José Mário Roncari Como citar este documento: RONCARI, José Mário. Planejamento estratégico na gestão de pessoas. Va- linhos: 2016. Sumário Apresentação da Disciplina 04 Unidade 1: Planejamento estratégico: conceitos e contextualização 05 Assista a suas aulas 26 Unidade 2: O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico 34 Assista a suas aulas 53 Unidade 3: A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas 61 Assista a suas aulas 81 Unidade 4: Integração de processos, programas e atividades de recursos humanos 89 Assista a suas aulas 112 2/239 3/2393 Unidade 5: A tecnologia da informação a favor da gestão de pessoas 120 Assista a suas aulas 141 Unidade 6: Competências, preenchimento de cargos, desenvolvimento e linhas de sucessão 150 Assista a suas aulas 174 Unidade 7: Dimensionamento e orçamento estratégico de pessoal 183 Assista a suas aulas 203 Unidade 8: Métodos de avaliação do desempenho na gestão de pessoas 211 Assista a suas aulas 231 Sumário Planejamento Estratégico na Gestão de Pessoas Autoria: José Mário Roncari Como citar este documento: RONCARI, José Mário. Planejamento estratégico na gestão de pessoas. Va- linhos: 2016. 4/239 Apresentação da Disciplina Esta disciplina tem o intuito de estimular o pensamento estratégico e uma visão inte- grada e empreendedora dos processos que envolvem o capital humano na estrutura or- ganizacional. Nesse sentido, faz-se necessário entender o papel dos principais atores presentes na trama organizacional e como se estabelece a relação entre eles, com maior foco na área específica de Recursos Humanos. Definir o papel da área de Recursos Humanos como especialista na gestão de pessoas e como seu pensar estratégico pode tornar-se cada vez mais representativo para os negócios. 5/239 Unidade 1 Planejamento estratégico: conceitos e contextualização Objetivos 1. A partir da conclusão da disciplina, você de- verá ser capaz de conceituar planejamento e estratégia contextualizando os conceitos no ambiente de negócios das empresas. 2. Entender e estar apto a atuar de forma direcio- nada e sistemática nas questões que envolvem planejamento estratégico voltado às pessoas. 3. Conhecer as possibilidades e conseguir propor soluções que possam significar ganho nos re- sultados do seu trabalho como gestor de pes- soas. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização6/239 Introdução Para darmos maior especificidade ao tema sem, no entanto, fugir da realidade das or- ganizações e das suas grandes e prementes necessidades, é importante que consigamos conceituar (definir) e contextualizar (enten- der o papel), além, é claro, de entender a re- lação entre estratégia e planejamento, no- tadamente na área de Recursos Humanos, nossa área de estudos. Nesse sentido, parte-se inicialmente para a conceituação de planejamento e de estra- tégia, para depois estudar-se o conceito de planejamento estratégico e, por fim, con- textualizar os termos na moderna adminis- tração, mais especificamente na gestão de pessoas. De acordo com o dicionário Priberam (2013) da língua portuguesa, um dos significados de estratégia é a: “combinação engenhosa para atingir um fim; ardil, astúcia, manha”; e de acordo com o mesmo dicionário, o pla- nejamento significa: “serviço de preparação do trabalho ou das tarefas”. Assim, vejamos: o planejamento estratégi- co seria então preparar o trabalho a ser fei- to, através de uma combinação engenhosa e para atingir um fim específico. Conforme defende Moura et al. (2014), na moderna administração as organizações focam o crescimento, a lucratividade e a sustentabilidade, e para que isso ocorra como premissa é necessário que haja por parte dessas organizações planejamento e estratégia orientados para as competên- cias essenciais dos negócios. Nesse sentido, se as empresas, como organismos comple- Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização7/239 xos que são, se organizam para focar suas competências essenciais, pode-se afirmar que as áreas que compõem as empresas, ou seja, a estrutura organizacional também atue no sentido de focar suas competências essenciais. Cada área da estrutura deve focar sua com- petência essencial, sem, no entanto, esque- cer da razão de ser da empresa, da impor- tância dos negócios, da lucratividade e do seu papel para os diversos stakeholders. Assim, considerando puramente o aspecto organizacional, a estratégia estaria ligada especificamente à forma mais adequada que determinada organização possui para gerar valor. O planejamento estratégico, por sua vez, estaria mais voltado à forma como a empresa se prepara para colocar em prá- tica, ações que façam acontecer essa gera- ção de valor. No entanto, para alguns auto- res, como Mintzberg et al. (2007), estratégia não está exatamente ligada a planejamen- to. Ela decorre muito mais de diversas forças dentro da organização que se comunicam constantemente, como: vértice estratégico; média gestão; operações; tecnoestrutura; logística e valores organizacionais. Mintzberg et al. (2007), em sua obra O pro- cesso da estratégia: conceitos, contextos e casos selecionados, afirmam que as forças citadas anteriormente – vértice estratégico; média gestão; operações; tecnoestrutura; logística e valores – são responsáveis pelo posicionamento da empresa no ambiente de negócios. A estratégia tem maior ligação com essas forças e com aspectos não téc- Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização8/239 nicos, como intuição, por exemplo, do que especificamente com planejamento. Nesse sentido, planejamento é apenas uma atividade, que pode se encontrar em qual- quer lugar da organização e que nem sem- pre está ligado à estratégia ou tampouco ao processo decisório. 1. O papel da estratégia na ges- tão de pessoas Muito tem se falado em gestão estratégi- ca de pessoas, mas antes é imperioso que se estabeleça o conceito de gestão de pes- soas. Na atual economia, cada vez mais as pessoas precisam estar preparadas para as mudanças que ocorrem, em uma veloci- dade jamais vista. Pessoas sempre tiveram papel decisivo na história das organizações e sempre foram objeto de estudo dos cien- Link A abordagem da estratégia deve ser um processo dinâmico, que combine teoria e prática. O livro que fala sobre esse assunto pode ser encontrado em: <https://books.google.com. br/books?hl=pt-BR&lr=&id=1De7yPNT9s 0C&oi=fnd&pg=PA9&dq=abordagem+est rat%C3%A9gica+de+mintzberg&ots=yQ6 Xewn74p&sig=CfyUFYtvqgeBi_0UZYWnD ImIHpQ#v=onepage&q=abordagem%20 e s t r a t % C 3 % A 9 g i c a % 2 0 d e % 2 0 mintzberg&f=false>. Acesso em: 24 jun. 2017. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização9/239 tistas da administração. Com os grandes avanços da tecnologia, e até em virtude de- les, as pessoas se tornaram ainda mais fun- damentais. Aspectos como talento individual, prontidão para mudança, atitude positiva frente aos de- safios, facilidade de relacionamento, negocia- ção e liderança formam um conjunto de ha- bilidades que podem fazer com que as or- ganizações se destaquem das suas concor- rentes e agreguem valor aos seus clientes, criando diferencial estratégico. É a esse conjunto de habilidades que se convencio- nou chamar de competências essenciais. A velocidade com que as mudanças acon- tecem, a obsolescência de tecnologias que praticamente acabaram de aparecer, a am- pla automatização dos processos de tra- balho, a facilidade de comunicaçãopelos mais diversos meios, lança a todos os pro- fissionais de Recursos Humanos um desafio: gerir pessoas nessa nova realidade. Link Até mesmo aspectos relacionados à concentração e gestão do tempo podem significar diferencial estratégico da força de trabalho das empresas. Veja o artigo disponível em: <http://epocane- gocios.globo.com/Inspiracao/Carreira/no- ticia/2015/10/sete-estrategias-para-man- ter-o-foco-em-um-ambiente-de-trabalho- -frenetico.html>. Acesso em: 24 jun. 2017. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização10/239 Conseguir enxergar novas formas de con- duzir processos dentro das organizações maximizando fatores de produtividade, de lucratividade e de inovação provavelmente será o divisor de águas entre o profissional do passado e o profissional do futuro em RH. No entanto, quem acompanha o mundo corporativo tem verificado uma tendência massificadora. Apesar de existir uma neces- sidade premente de inovação, criatividade, novas formas de cumprir papéis, desempe- nhos superiores, resultados consistentes, não se vê, espalhados pelas organizações, gestores capazes de conduzir pessoas com essas capacidades, de liderar esse impor- tante processo de mudança. As empresas têm investido vultuosas cifras e se debruçado sobre programas de treina- mento e capacitação que focam a liderança: desses programas muito bem preparados, invariavelmente faz parte o tema de gestão de pessoas. O que se ouve, e não raras ve- zes, é que as empresas possuem necessida- des de formação de líderes, que têm difi- culdade com a atuação adequada da média gerência na condução dos negócios. Link As empresas acreditam que possam formar líde- res a partir da discussão e capacitação em habi- lidades específicas. Veja o que pensam os espe- cialistas. <http://epocanegocios.globo.com/ Inspiracao/Carreira/noticia/2013/04/pro- fessora-de-harvard-define-tres-pilares-pa- ra-formacao-de-lideres.html>. Acesso em: 24 jun. 2017. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização11/239 Muitas vezes a empresa é altamente depen- dente do modo de pensar e da forma de de- cidir do seu fundador ou do seu presidente. Como consequência dessa dependência, verificam-se organizações despreparadas ou sem um plano consistente para eleger e preparar sucessores nos mais diversos níveis da estrutura. Nesse sentido, parece que há uma tendência de posturas centralizadoras, apesar do grande investimento em forma- ção e capacitação nos mais diversos níveis. A centralização a qual nos referimos, está muito mais ligada à decisão do que propria- mente à operacionalização de processos. Assim, se fossemos estabelecer uma rela- ção entre os níveis de execução do trabalho ou mesmo da estrutura organizacional e a estratégia, poderíamos dizer que a estraté- gia está sempre mais próxima dos níveis de decisão do que dos níveis de operação. Dessa forma, podemos estabelecer um de- senho organizacional em que fiquem distin- tos aspectos estratégicos e táticos, e ainda relacionar a eles aspectos que remetam à eficiência e eficácia de determinada ope- ração de negócios. Ora é importante então que se conceitue de forma clara os conceitos de Eficiência e Eficácia para somente depois partirmos para o desenho e a relação entre os conceitos. De forma bastante simples, eficiência está diretamente relacionada ao foco que se dá à tarefa, enquanto que eficácia está direta- mente relacionada ao foco que se dá ao re- sultado; vejamos a Figura 1: Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização12/239 Figura 1 | Diferenciação entre eficiência e eficácia Fonte: elaborada pelo autor. Dessa forma é possível afirmar que uma determinada operação numa empresa pode ser abso- lutamente eficiente, sem, no entanto, ser eficaz. Significa dizer que a operação atendeu a uma série de ritos que eram esperados para aquela tarefa, mas ao final não atingiu o seu resultado. Imaginemos uma outra situação, que pode ser bem próxima da nossa realidade de estudantes: imagine que você vai fazer uma avaliação (prova) com dez questões; para ser aprovado, precisa acertar pelo menos sete questões. Você faz a prova toda, responde às dez questões, mas só acer- ta três delas. Apesar de eficiente, você não foi eficaz, porque o resultado não estava adequado à sua necessi- dade. Imagine, no entanto, que na mesma prova você não respondeu às dez questões, mas ape- nas sete delas; porém, acertou cirurgicamente todas as sete. Apesar de não ter sido eficiente, foi altamente eficaz, pois o resultado que você precisava foi atingido perfeitamente. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização13/239 Pensar no aspecto da eficiência e da eficácia nos fará relacionar, com toda certeza, a efi- cácia à estratégia, enquanto que a eficiên- cia ficará restrita ao campo da tática: • Entenda-se estratégia, portanto, como o que se vai fazer no longo pra- zo, a ação que será planejada a partir de uma leitura do ambiente e das suas correlações. • Tática, contudo, é o movimento que se faz, reagindo a um acontecimen- to qualquer. Está muito mais ligada à oportunidade do que propriamente a ações planejadas específicas. É como se disséssemos: na tática você olha um lance e na estratégia o tabuleiro. Veja o fluxo na Figura 2: Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização14/239 Figura 2 | Fluxograma de estratégia e tática Fonte: elaborada pelo autor. O que se discute efetivamente é se as empresas têm à sua disposição, nos seus quadros, profis- sionais que possam ser mais estratégicos, e não somente táticos. Veja que não se está aqui ne- gando as necessidades de tática, de ações eficientes e tampouco das tarefas. O que se espera é que haja profissionais em quantidade e qualidade para assumir papéis mais estratégicos quando estes forem necessários. Espera-se ainda que as empresas estejam preparadas para trabalhar com alto grau de delegação a fim de que os processos não se tornem fatalmente burocráticos ou hipercentralizados, o que, sem dúvida, pode diminuir a velocidade com que se faz negócios. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização15/239 Há que se inferir que a diminuição da velo- cidade pode custar importantes posições para as organizações nos mercados em que atuam e, consequentemente, ser a diferen- ça entre estar à frente da concorrência ou a reboque dela. Para Porter (1989), a concorrência está li- gada efetivamente ao sucesso das organi- zações e pode determinar questões estraté- gicas, como o processo de inovação, imple- mentação de ideias, produtos ou serviços. O problema da burocracia, da hipercentrali- zação das decisões e da falta de velocidade para tomá-las é, sem dúvida, um ponto de atenção para as empresas atualmente. Entender as necessidades estratégicas, as necessidades táticas, conhecer a efetiva diferença entre decisão e operação e con- Para saber mais Para Michael Porter (1989), o sucesso ou fra- casso depende da vantagem competitiva obtida pela empresa. Ele entende vantagem competiti- va como sendo a ação de oferecer um produto ou serviço com benefícios exclusivos ao cliente, sem, no entanto, perder competitividade na gestão dos custos. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização16/239 seguir alocar o pessoal na estrutura organi- zacional olhando para essas necessidades e para as competências das pessoas é um ponto importante para a atual administra- ção. O descompasso entre as necessidades e as competências dos colaboradores pode comprometer decisivamente o sucesso dos negócios. Há, no entanto, duas formas de encarar a questão das necessidades versus as competênciasdas pessoas: • Uma forma é pensar que seremos en- golidos pela mudança, que a área de RH será apenas uma área de apoio, sem grande influência nos negócios e com pouca ou nenhuma influência nas decisões corporativas. Seremos apenas operacionais e táticos, quan- do muito, reagindo de forma não mui- to veloz àquilo que o mercado e a con- corrência acabarão por nos impor. • A outra é entender que o RH deve ser uma área que, a partir do seu profundo conhecimento de como gerir o capital humano, utilize esse conhecimento posicionando-se como área técnica e contribuindo efetivamente para os re- sultados. Para tanto, é imprescindível que a área se prepare para posicionar- -se de maneira efetivamente estraté- gica, firmando suas convicções a res- peito da gestão de pessoas e também da gestão dos negócios. É muito importante estar preparado! A se- guir estão relacionados alguns pontos que Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização17/239 devem ser considerados para posicionar- -se de forma estratégica, quando estiver à frente da gestão de pessoas e participar de momentos importantes, como reuniões de trabalho ou reuniões de decisão: • Conhecer o negócio da empresa em seus detalhes. • Entender o posicionamento mercado- lógico do negócio. • Saber como andam as questões finan- ceiras e orçamentárias. Não é porque você é um gestor de pessoas que não tem nada a ver com os números. Os números da empresa são sempre im- portantes para todas as áreas. Lem- bre-se: o gestor que não sabe lidar com números já está em grande des- vantagem. • Não tenha medo de ter dúvidas e nem de manifestar suas convicções. Se você está participando de um momento que é mais estratégico, espera-se que suas convicções sejam manifestadas para contribuir com o grupo. • Baseie sua participação em fatos e dados. Apesar da intuição ser impor- tante, quando ela está acompanhada Para saber mais Posicionamento mercadológico, segundo Kotler (2000), é a ação de projetar seus produtos ou ser- viços, ou ainda, a imagem da organização, nor- malmente através da marca, buscando se dife- renciar e assim poder ser escolhido pelo seu pú- blico-alvo. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização18/239 de fatos e dados que lhe dão supor- te, torna-se muito mais palatável aos seus interlocutores. • Pense sempre em capacitação. A quantidade de informação disponível no mundo é absurdamente grande. Nunca saberemos tudo sobre tudo. É importante cercar-se de recursos que possam trazer à força de trabalho da sua empresa uma formação consis- tente sobre os assuntos que tem maior relevância ao “core business”. 2. A utilização da tecnologia no posicionamento estratégico Quando falamos em tecnologia, atualmen- te, temos a tendência de remeter o nosso pensar à tecnologia da informação (TI), har- dwares e softwares. No entanto, tecnologia é muito mais que isso e precisamos enten- dê-la de forma mais ampla a fim de poder- mos estabelecer o seu real valor e utilidade para as empresas quando precisam posicio- nar-se estrategicamente, notadamente nos mercados e economias em que atuam. Antes, porém, vamos conceituar tecnologia, tentando estabelecer um sentido em que o termo não restrinja o conceito apenas ao campo da eletrônica ou ao desenvolvimen- to de computadores e seus aplicativos. Vamos considerar que Tecnologia é igual a todo e qualquer conhecimento aplicado. E isso, dependendo da empresa, do tipo de economia, do mercado ou do produto, pode significar desde um projeto altamente com- Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização19/239 plexo de robótica a uma simples receita de bolo. Entender esse conceito pode ser a di- ferença entre administrar com tecnologia ou estar a reboque dela; pode significar a diferença entre obter grandes resultados com tecnologia ou apenas correr atrás dos concorrentes. Em sua clássica obra O Novo Estado Indus- trial, Galbraith (1988) enumera seis conse- quências imediatas da divisão e subdivisão das tarefas na aplicação da tecnologia. Faz uma correlação entre o ciclo do trabalho e a utilização da tecnologia propriamente dita. Para ele, há seis pontos importantes que devem ser considerados nesse assunto: 1º. Há maior investimento de tempo apli- cado na produção de um bem ou serviço, quanto mais tecnologia se aplica. 2º. Há maior investimento de capital para a produção de um bem ou serviço, quanto mais tecnologia se aplica. Para saber mais John Kenneth Galbraith, canadense radicado nos Estados Unidos, além de professor de economia em diversas universidades, inclusive em Harvard, foi também importante figura política. Participou como conselheiro econômico em diversos gover- nos democratas dos Estados Unidos. Defendia que a economia precisa ser encarada não apenas pelos seus constructos teóricos, mas também a partir da sua aplicação prática, no dia a dia da sociedade. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização20/239 3º. Quanto mais se aumenta a tecnologia e, por conseguinte, mais tempo e capital é aplicado à produção, menores se tornam as possibilidades de erro, aumentando a ne- cessidade por desempenho. 4º. A tecnologia e sua respectiva divisão de tarefas passam a requerer mão de obra es- pecializada. Conhecimento organizado só pode ser aplicado por aqueles que possuem conhecimento. Além disso não apenas a execução e aplicação tecnológica neces- sitam de mão de obra especializada como também o planejamento das tarefas. 5º. A contrapartida inevitável da especial- ização é a organização do trabalho e do ambiente. Não há como aplicar tecnologia especializada em um ambiente desorgani- zado, caótico. 6º. Resumindo, à medida que cresce a ne- cessidade de aplicação tecnológica, cresce também a necessidade de planejamento. O que se consegue depreender das ideias de Galbraith (1988)? Ora, é relativamente simples: observando o modelo econômi- co calcado no capital e na produção, o au- tor nos remete a uma ideia de que há uma relação direta entre o aumento da tecnolo- gia aplicada ao trabalho e a necessidade de planejamento. Vejamos: a aplicação de tec- nologia, de conhecimento aplicado, deve ser também de conhecimento organizado, uma vez que, conforme defende Galbraith (1988), não há possibilidade dessa apli- cação em ambiente caótico. Nesse sentido, estabelece-se uma relação entre planejamento e tecnologia, sobre a Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização21/239 qual podemos concluir que quanto maior for a tecnologia empregada, maior deverá ser a visão estratégica de negócios. Essa afir- mativa nos leva a concluir que as decisões devidamente planejadas sejam as mais ad- equadas à manutenção de vantagem com- petitiva. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização22/239 Glossário Automatização de processos: Forma através da qual processos de trabalho e rotinas que eram realizados e controlados exclusivamente por pessoas passam a ter apoio eletrônico, principal- mente por meio da utilização de softwares. Capital humano: É o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes pertencentes às pes- soas e que são colocados a favor da execução do trabalho, produzindo resultados econômicos ou de inovação. Esse conjunto é adquirido pelas pessoas através de educação e experiência. Stakeholders: Vocábulo inglês que define as partes interessadas ou envolvidas num negócio ou empreendimento, como acionistas, sociedade, funcionários e governo, por exemplo. Questão reflexão ? para 23/239 A partir da sua leitura do texto e pensando na sua ex- periência, como classifica a sua atuação profissional? Como poderiaatuar de forma mais estratégica, contri- buindo consistentemente para os resultados do negócio da empresa onde trabalha, a partir da atividade que de- senvolve? Como faria isso? 24/239 Considerações Finais • Planejamento estratégico está voltado à preparação do trabalho com o ob- jetivo de atingir um resultado específico. • Estratégia está invariavelmente ligada aos resultados e, consequentemente, ao processo decisório. • A qualidade das decisões estabelece o grau de crescimento, lucratividade e sustentabilidade das modernas organizações. • Há uma demanda essencial por profissionais que, mesmo atuando em ativi- dades operacionais, consigam pensar em como essas atividades podem con- tribuir para a estratégia da empresa. • A área de Recursos Humanos deve ser um ator importante, à medida que es- tabeleça programas e políticas que preparem os níveis de comando para se- rem, cada vez mais, gestores de pessoas. Unidade 1 • Planejamento estratégico: conceitos e contextualização25/239 Referências BOHLANDER, George W. Administração de recursos humanos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. BOHLANDER, G. SNELL, S. SHERMAN, A. Administração de recursos humanos. São Paulo: Pio- neira Thomson Learning, 2003. GALBRAITH, John Kenneth. O novo estado industrial. São Paulo: Nova Cultural,1988. KOTLER, Philip. Administração de marketing. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. MINTZBERG, Henry et al. O processo da estratégia: conceitos, contextos e casos selecionados. Porto Alegre: Artmed, 2007. MOURA, L. M. et al. Integração entre pesquisa, desenvolvimento e planejamento estratégico: um estudo em montadoras automobilísticas. Gestão & Regionalidade, Universidade Munici- pal de São Caetano do Sul, São Caetano do Sul. 2014. Disponível em: <http://www.spell.org.br/ documentos/ver/32548/integracao-entre-pesquisa-desenvolvimento-e-planejamento-estrate- gico--um-estudo-em-montadoras-automobilisticas>. Acesso em: 24 jun. 2017. PORTER, Michael. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989. 26/239 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Planejamento Estratégico: Con- ceitos e Contextualização. Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/c48c102c80dc0d1708616962b9cf- d47a/bbdfa52c54c91f077a87c104a19a1140>. Aula 1 - Tema: Planejamento Estratégico: Con- ceitos e Contextualização. Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/c48c102c80dc0d1708616962b9cf- d47a/ccc9105ec391f460fb5c3982c62b1ed1>. 27/239 1. O conceito de Planejamento Estratégico está ligado, invariavelmente, a: a) Questões de ordem operacional que acontecem no dia a dia das empresas. b) Preparar e dar forma ao trabalho ou a um conjunto de atuações de uma organização, de for- ma a atingir um resultado esperado em termos de lucratividade e sustentabilidade. c) Estabelecer exclusivamente critérios de recrutamento e seleção de pessoas. d) Definir de forma indireta o investimento em treinamento de pessoal. e) Formar, a partir de uma orientação da alta diretoria, gestores de pessoas. Questão 1 28/239 2. O papel dos profissionais é decisivo para as organizações. Aspectos como talento individual, prontidão para mudança, atitude positiva fren- te aos desafios, facilidade de relacionamento, negociação e liderança são considerados: a) Um conjunto de habilidades denominado competências essenciais, que podem destacar as organizações das suas concorrentes, agregando valor aos seus clientes. b) Muito importantes, pois agradam os recrutadores nos processos de seleção. c) Um fator de diferenciação frente a outros profissionais, mas sem importância na diferencia- ção das empresas. d) Um aspecto sem nenhuma relevância no mundo corporativo. e) Fatores importantes apenas para o relacionamento entre pares nos processos de trabalho em equipe. Questão 2 29/239 3. Se pensarmos na questão da eficiência e da eficácia, poderíamos afir- mar que: a) Ambas estão ligadas aos processos de decisão. b) Eficiência está voltada a resultados enquanto eficácia está ligada à operação. c) Eficiência tem foco na tarefa enquanto eficácia tem foco no resultado. d) Não há nenhuma relação entre os conceitos. e) Eficácia está restrita ao campo da tática. Questão 3 30/239 4. Ao estabelecer a concorrência como fator importante para a definição do planejamento estratégico, como as empresas devem organizar os seus pro- cessos de trabalho visando aumentar estrategicamente seu poder no am- biente de negócios? a) De forma minuciosa, independentemente do tempo que isso possa levar, organizando as decisões de acordo com a estrutura. b) Através de um processo de forte controle burocrático, evitando que haja erros no processo decisório. c) Centralizando as decisões nas posições mais altas da hierarquia organizacional, como presi- dentes e diretores executivos. d) Diminuindo sempre a velocidade das decisões no sentido de que possam ser amplamente analisadas a fim de que sejam tomadas de forma mais adequada. e) De forma a estabelecer alto grau de delegação a fim de que os processos não se tornem bu- rocráticos ou hipercentralizados, o que sem dúvida geraria perda de velocidade e por conse- quência desvantagem estratégica concorrencial. Questão 4 31/239 5. Alguns pontos devem ser considerados quando o momento exigir po- sicionamento estratégico, notadamente se você for um gestor de pessoas; são eles: a) Conhecer genericamente o negócio, não manifestar convicções, não gastar dinheiro com treinamento. b) Não se importar com questões financeiras, basear-se sempre na sua intuição, conhecer o negócio em detalhes. c) Pensar em capacitação, não opinar sobre questões orçamentárias, cuidar da seleção de no- vos talentos. d) Conhecer o negócio em detalhes, entender o posicionamento de mercado, conhecer ques- tões orçamentárias e financeiras, manifestar suas convicções, utilizar sempre fatos e dados além da intuição, pensar em capacitação. e) Um gestor de pessoas nunca é instado a posicionar-se estrategicamente. Questão 5 32/239 Gabarito 1. Resposta: B. O conceito de planejamento estratégico está ligado invariavelmente à preparação do trabalho com vistas a atingir um resulta- do específico de lucratividade e sustentabi- lidade esperado para a empresa. 2. Resposta: A. As pessoas sempre tiveram papel decisi- vo na história das organizações e aspectos relacionados a suas capacidades e quali- dades individuais, como talento, prontidão para mudança, atitude positiva frente aos desafios, facilidade de relacionamento, ne- gociação e liderança, formam um conjunto de habilidades denominado competências essenciais, que atuam de forma importan- te no processo de concorrência, agregando valor aos clientes. 3. Resposta: C. Há uma intensa relação entre os conceitos de eficiência, eficácia, estratégia e tática. Eficiência possui foco na tarefa e está nos domínios da tática, do como fazer, enquanto eficácia possui foco no resultado e pertence aos domínios da estratégia, notadamente à qualidade do processo decisório que deve, invariavelmente, estar atento aos objetivos da organização como premissa. 33/239 Gabarito 4. Resposta: E. Ao estabelecer a concorrência como fator importante para a definição do planeja- mento estratégico, espera-se que as em- presas estejam preparadas para trabalhar com alto grau de delegação a fim de que os processos não se tornem burocráticos, que não haja necessidade de centralização, que haja empoderamento nos diversos níveis da estrutura organizacional e, com isso, au- mente-se estrategicamente a velocidade com que se faz negócios, ganhando posi- ções frente à concorrência. 5. Resposta:D. É muito importante estar preparado para posicionar-se de forma estratégica, quan- do estiver à frente da gestão de pessoas, e participar de momentos importantes, como reuniões de trabalho ou reuniões de deci- são. Para tanto, há que se conhecer aspec- tos importantes dos negócios e da empre- sa: o negócio em seus detalhes; o posicio- namento mercadológico do negócio e as questões financeiras e orçamentárias. Além disso, algumas características relacionadas aos seus posicionamentos pessoais são im- portantes: seja convicto; baseie-se em fatos e dados e pense sempre em capacitação. 34/239 Unidade 2 O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico Objetivos 1. Discutir o papel que a força de traba- lho desempenha na estratégia das or- ganizações. 2. Entender como as pessoas e aquilo que desenvolvem no dia a dia das em- presas pode significar estratégia. 3. Discutir modelos de desenvolvimento estratégico de pessoas. 4. Discutir modelos de posicionamento de RH na estratégia dos negócios. Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico35/239 Introdução Neste capítulo, vamos trabalhar a questão da contextualização da área de Recursos Humanos e das pessoas no âmbito do pla- nejamento estratégico. Para tanto, é impor- tante nos atentarmos às principais questões que envolvem o assunto, a saber: • O papel que as pessoas desenvolvem nas ações estratégicas. • Como a gestão de pessoas pode e deve fazer parte da estratégia organi- zacional. De acordo com Porter (1989) em sua obra clássica Vantagem competitiva, a estrutu- ra organizacional tem papel importante na definição da estratégia, uma vez que são as particularidades do desenho da estrutura que conseguem fazer com que o core com- petence esteja efetivamente traduzido para as diversas áreas da organização. O conceito de core competence surgiu na década de 1990, através do artigo denomi- nado The core competence of the corpora- tion, publicado na Harvard Business Review. Link Conheça o artigo original de Prahalad e Ha- mel (1990) acessando o link: <https://www. profrandes.com.br/userfiles/37e2f78e- 93b640608ec17b8de1b6d4b5.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2017. Nesse artigo, os gurus da administração, professores Gary Hamel e C. K. Prahalad (1990), afirmam que o núcleo de especia- Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico36/239 Para Porter (1989), a cadeia de valores pode ser um item determinante na definição do tamanho e da forma da estrutura das orga- lidades denominado de competências es- senciais deve ser amplamente considerado para compor o plano estratégico de negó- cios. Para saber mais Na época da publicação do artigo The core com- petence of the corporation, C. K. Prahalad era pro- fessor de estratégia corporativa e de negócios in- ternacionais na Universidade de Michigan e Gary Hamel era professor de política comercial e de gestão da London Business School. Ambos con- tinuam sendo professores e conferencistas acla- mados no mundo dos negócios. nizações. Há organizações cuja cadeia de valor requer maior complexidade estrutural por possuírem mais particularidades. Nes- se sentido, a organização se vê obrigada a criar uma estrutura com diversos níveis de diferenciação a fim de responder às neces- sidades impostas pela cadeia de produção de bens ou serviços. É importante lembrar que quanto maior e mais complexo o desenho da estrutura, tanto maior será o grau de dificuldade em estabelecer níveis confiáveis de integração entre as áreas. Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico37/239 Vale ressaltar que a estrutura, desenhada a partir de um conceito de especialização, com áreas de marketing, finanças, opera- ções, produção etc., cada uma dessas áreas deve desenvolver atividades bastante espe- cíficas a fim de criar valor na cadeia de pro- dução de bens ou serviços. Nesse sentido, a dificuldade em estabele- cer integração e coordenação entre as áre- as deve gerar maior esforço da corporação. Para saber mais Michael Porter é professor aclamado da Harvard Business School onde desenvolveu cursos de mes- trado em Administração voltados à Estratégia Competitiva, além disso foi consultor de grandes corporações em todo o mundo. Como a empresa possui uma estratégia de negócios, é importante observar se o es- forço para manter as áreas integradas não compromete a própria estratégia. Para Por- ter (1989), informações e dados necessários para manter o padrão de atuação nos negó- cios e manter viva a estratégia corporativa raramente são coletados por toda a cadeia, dificultando a otimização e podendo preju- dicar os resultados. 1. Gestão de pessoas e o proces- so estratégico Para Moura et al. (2014), tratar o processo estratégico requer que se leve em conside- ração que o processo é singular para cada organização. A partir desse preceito, e tam- Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico38/239 bém quando falamos das pessoas na defi- nição e acompanhamento do processo es- tratégico, podemos entender que este está diretamente ligado a: i. Competências essenciais da organi- zação – seu “core competence”. ii. Aspectos relacionados a idiossincra- sias organizacionais, como cultura, modelos de gestão e posicionamento frente à concorrência. iii. Ao planejamento que, em suas espe- cificidades traduza o que se deve rea- lizar a longo prazo. iv. Respostas que a estratégia possa dar às realidades dos problemas da orga- nização e eventuais oportunidades de melhoria de resultados. De acordo com Moura et al. (2014), adap- tando artigo da Harvard Business Essencials Para saber mais Cultura organizacional pode ser definida como o conjunto de hábitos e comportamentos de seus colaboradores, bem como os valores morais e éti- cos, e também o conjunto de políticas que orien- tam qual o padrão de fazer negócios de uma em- presa no seu ambiente concorrencial. Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico39/239 (2005), há um importante papel do proces- so decisório e das táticas de implementação na criação da estratégia. A Figura 1 estabelece um resumo do pro- cesso estratégico adotado pelas organi- zações. Nessa figura, há que se destacar o papel da criação da estratégia ao centro. As táticas de implementação devem ser enca- radas como a execução, o fazer acontecer do processo de decisão. Figura 1 | Táticas de criação e implementação da estratégia Fonte: Moura et al. (2014, p. 102). A partir da análise da Figura 1, presente no artigo de Moura et al. (2014), conseguimos depreender que a criação da estratégia es- Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico40/239 tabelece relações com os ambientes interno e externo. Nesse sentido, pode-se afirmar que ao relacionar-se com o ambiente exter- no, a estratégia tem maior ligação com as- pectos da concorrência, e ao relacionar-se com o ambiente interno, relaciona-se com os atores da estrutura organizacional. De acordo com Porter (1989), conseguir es- tabelecer vantagem competitiva depende também de aspectos relacionados à gestão estratégica de pessoas. As alterações ocorridas no sistema produti- vo a partir da década de 1980 começaram a forçar as empresas a olharem com mais cui- dado para o perfil dos trabalhadores. Dessa forma, as áreas de RH sofreram transforma- ções importantes no sentido de responder a esse movimento rumo à estratégia. Essas alterações sofridas pelas áreas de RH das empresas surgiram com a alteração do foco econômico da produção manufatu- reira para a economiade serviços, em que aspectos como força física e conhecimento técnico específico, anteriormente requeri- dos, foram substituídos por conhecimento genérico, necessidade de formação em ní- vel superior, habilidades de relacionamento. É importante notar que as empresas pas- saram por alterações significativas, nota- damente a descentralização das responsa- bilidades, o achatamento dos níveis da es- trutura organizacional, a redução dos níveis do staff, o qual passa a desenvolver papéis mais estratégicos, como o de criar e disse- minar conhecimento. Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico41/239 Muito importante também é relacionar o desenvolvimento da estratégia das corpo- rações com a capacidade ou competência dos colaboradores e com as questões que geram vantagem competitiva. Nesse sen- tido, a inovação figura como um excelente exemplo. Vale ressaltar que a área de Recur- sos Humanos tem o papel de desenvolver os colaboradores estabelecendo políticas que premiem as ações individuais ou de equipes que sejam aderentes aos objetivos e estra- tégias da organização. Para Bohlander et al (2003), os principais desafios competitivos da gestão de recur- sos humanos são: i. Tornar-se global. ii. Adotar sempre novas tecnologias. iii. Gerenciar mudanças. iv. Desenvolver o capital humano. v. Reagir ao mercado. vi. Conter custos. Link Para conhecer melhor os conceitos de globalização, leia o artigo que versa sobre globalização no pós- guerra, disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236- 99962015000100265&lng=pt&nrm=iso&tlng =pt>. Acesso em: 24 jun. 2017. Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico42/239 Nesse sentido, vale refletir sobre como as áreas de Recursos Humanos das empresas, suas políticas, programas e projetos podem ser utilizados para que o capital humano es- teja, pelo menos na maioria do tempo, e ain- da que realizando tarefas operacionais, vol- tado aos aspectos estratégicos do negócio. 2. A área de RH e o seu papel na definição da estratégia Muito tem se discutido sobre a questão do papel da área de Recursos Humanos no pla- nejamento estratégico, mas acredita-se que a área, mais do que possuir um papel no planejamento, possui também um papel na definição da estratégia. Esse aspecto foi discutido no bloco anterior, qual seja a dife- rença entre a estratégia, o plano estratégi- co e o plano operacional/tático, bem como a importância de todos para o desenvolvi- mento dos negócios. Entender como a área de recursos huma- nos deve se posicionar para estar próxima da estratégia e, consequentemente, con- tribuir para alcançar resultados consisten- tes é uma tarefa que as empresas precisam realizar. Assim, o posicionamento de RH, no sentido de atuar de forma mais estratégica, se prende a todas as ações corporativas que buscam obter os resultados desejados atra- vés das pessoas. Na verdade, uma questão que deve ser leva- da em consideração é o conhecimento que o principal executivo de RH possui sobre o negócio da empresa, e também suas con- Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico43/239 vicções a respeito da forma de atuação da área de RH. Nesse sentido, entender como o principal executivo de RH de uma empresa aplica os programas e as políticas, que aju- dam na consecução dos objetivos corpora- tivos, sem se descuidar da gestão dos cus- tos, é tarefa imprescindível para saber se o RH dessa empresa é de fato estratégico. Realizar essa tarefa é um dos fatores que direciona a organização para o caminho da obtenção de vantagem competitiva, pre- missa da estratégia organizacional. Para melhor entendimento da função de RH no desenho estratégico, observe a representa- ção na Figura 2: Figura 2: A relação entre estratégia, vanta- gem competitiva e gestão de RH Fonte: elaborada pelo autor. O que se depreende da Figura 2 é que a es- tratégia recebe influência e responde ao ambiente externo, notadamente na ques- tão da concorrência e da vantagem com- petitiva. Da mesma forma, as definições estratégicas impactam o ambiente interno Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico44/239 que se traduz nas áreas da estrutura orga- nizacional. Dentre essas áreas da estrutu- ra organizacional, o foco será em Recursos Humanos, que deve estabelecer os forma- tos para gestão de pessoas, traduzidos em Políticas, Programas e Projetos. Assim, pode-se dizer que o processo de ges- tão de pessoas deve atuar no sentido de im- pactar diretamente a administração a fim de gerar vantagens competitivas e, conse- quentemente, ser um balizador das estraté- gias corporativas. Sendo interpretado como área de apoio, Re- cursos Humanos deverá preparar a força de trabalho da organização para que, conhe- cendo e se posicionando ao lado da estra- tégia corporativa, atue de forma engajada para que haja coordenação e integração entre todas as áreas da organização. É importante e necessário dar atenção es- pecial a algumas políticas, a alguns progra- mas e projetos, tecnicamente dominados pela área de RH e que devem ser comprados em primeiro lugar pelo board; na sequência, devem ser disseminados por toda a estrutu- ra organizacional, gerando os impactos es- tratégicos necessários. A partir do princípio de que os programas precisam de patrocínio dos mais altos es- calões da estrutura, é importante estabe- lecer quais seriam os mais importantes e aderentes à estratégia. Como Recursos Hu- manos é uma área de atividades-meio, ou seja, prestadora de serviços para as demais Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico45/239 áreas da organização, e também uma área de integração entre elas, vale ressaltar que muitos dos programas e políticas propostos pelo RH acabam, por necessidade, focando questões de infraestrutura. Da mesma forma, após conseguir estabili- zar a questão da infraestrutura é importan- te para o RH estabelecer ações específicas que viabilizem a implantação de progra- mas que ataquem questões motivacionais, lembrando que, para a estratégia, ambas as abordagens são importantes. Nesse senti- do, vale recordar a visão clássica de Herz- berg, Mausner e Snyderman (1959), em sua obra clássica The motivation to work, sobre a teoria da motivação. Para ele, a questão deve ser abordada por meio de um quadro que separa os fatores que impactam a força de trabalho em higi- ênicos e motivacionais; vejamos: Link Conheça o livro original do professor Herzberg, Mausner e Snyderman acessando: <http://www. cra-rj.adm.br/the-motivation-to-work-a- no-1959/>. Acesso em: 24 jun. 2017. Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico46/239 Figura 3 | Teoria dos dois fatores Fonte: adaptado de Herzberg (1959). Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico47/239 Glossário Board: Expressão retirada do vocabulário utilizado nas empresas de Sociedades Anônimas, sig- nifica o conselho de administração. O termo é muitas vezes utilizado em outros tipos de empre- sa para designar a diretoria ou o comitê executivo, composto por presidente, vice-presidentes, diretores, gerentes executivos e/ou outros tipos de cargos executivos de decisão. Core Competence: Significa, resumidamente, um núcleo de especialidades e/ou competências que diferenciam uma empresa das demais. Staff: É um termo inglês que denomina o pessoal ou a equipe de colaboradores; especificamen- te as equipes administrativas pertencentes a uma organização. Questão reflexão ? para 48/239 Pensando como profissional de RH, quais seriamas suas principais ações para fazer com que as pessoas fossem cada vez mais engajadas em relação à estratégia da or- ganização? 49/239 Considerações Finais (1/3) A partir das questões discutidas neste capítulo, pode-se estabelecer al- gumas conclusões importantes, que passamos a elencar a fim de definir um cenário em que se consiga delinear o papel das pessoas na condução dos processos estratégicos: • Para as organizações, conseguir definições estratégicas nos negócios está invariavelmente ligado às vantagens competitivas. • Nas definições estratégicas tem que ser levado em consideração o core competence da organização. • No processo estratégico as áreas da empresa apresentam-se de for- ma especializada. Deve haver uma área que realize o trabalho de in- tegração dessas especialidades em direção ao plano estratégico; ge- ralmente essa área é a de Recursos Humanos. • Aspectos específicos como cultura organizacional são extremamente significativos para a condução do planejamento estratégico corporativo. 50/239 • Aspectos mercadológicos e econômicos podem ser determinantes na escolha da estratégia, ou mesmo na mudança dos planejamentos de longo prazo. • A estratégia responde ao ambiente externo, e as definições estraté- gicas impactam o ambiente interno traduzido na estrutura organiza- cional. • A área de RH deve ser um implementador de programas que auxiliem a organização no engajamento estratégico sem deixar de ser líder de custos dentro da corporação. • O processo de gestão de pessoas deve atuar no sentido de impactar diretamente a administração, gerar vantagem competitiva e ser um balizador de estratégias. Considerações Finais (2/3) 51/239 • A área de Recursos Humanos deve estabelecer os formatos para ges- tão de pessoas, traduzidos em Políticas, Programas e Projetos, de- sempenhando o papel de propositor dessas ferramentas, sempre mais aderentes à estratégia. • Sem descuidar-se das questões estratégicas, Recursos Humanos deve propor políticas e programas que foquem tanto questões higiênicas como motivacionais – conforme teoria dos dois fatores de Herzberg, Mausner e Snyderman (1959). • Recursos Humanos deve ser a área que organiza o trabalho de cria- ção, implantação e acompanhamento de ações, através de políticas e programas que coloquem, além do próprio RH, toda a organização trabalhando em prol do mapa estratégico. Considerações Finais (3/3) Unidade 2 • O papel das pessoas e a sua influência no planejamento estratégico52/239 Referências BOHLANDER, G. SNELL, S. SHERMAN, A. Administração de recursos humanos. São Paulo: Pio- neira Thomson Learning, 2003. HERZBERG, Frederick; MAUSNER, Bernard; SNYDERMAN, Barba B. The motivation to work. John Wiley & Sons Inc. Library of Congress USA, 1959. MOURA, L. M. et al. Integração entre pesquisa, desenvolvimento e planejamento estratégico: um estudo em montadoras automobilísticas. Gestão & Regionalidade, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, São Caetano do Sul. 2014. Disponível em: <http://www.spell.org.br/docu- mentos/ver/32548/integracao-entre-pesquisa-desenvolvimento-e-planejamento-estrategico- --um-estudo-em-montadoras-automobilisticas>. Acesso em: 24 jun. 2017. PORTER, Michael. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, Gary. The core competence of the corporation. Boston: Harvard Business Review. Cambridge, 1990. Disponível em: <https://www.profrandes.com.br/user- files/37e2f78e93b640608ec17b8de1b6d4b5.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2016. 53/239 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: O Papel das Pessoas e a sua Influ- ência no Planejamento Estratégico. Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/64e6d95d301f1b1d0be98980cba0cb7d>. Aula 2 - Tema: O Papel das Pessoas e a sua In- fluência no Planejamento Estratégico. Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 0311491fcebe75b4c9f25b972708482a>. 54/239 1. Para Porter (1989), a estrutura organizacional é importante na definição da estratégia, porque: a) É a estrutura que define quais e quantos serão os cargos de gestão. b) As particularidades do desenho da estrutura traduzem o core competence nas diversas áreas da organização. c) O tamanho da estrutura define o mapa estratégico da organização. d) É a estrutura organizacional a responsável pela implementação de toda a estratégia organi- zacional. e) A estratégia é parte integrante da estrutura organizacional. Questão 1 55/239 2. Para desenvolver o processo estratégico é importante levar em conta a singularidade de cada organização, inclusive quando se trata de pessoas. A definição e o acompanhamento do processo estratégico estão diretamente ligados a alguns fatores. São eles: Questão 2 a) O core competence e as decisões da alta gerência relacionadas ao planejamento. b) A cultura organizacional e o posicionamento da empresa nas redes sociais. c) O core competence, as idiossincrasias organizacionais, o planejamento e as respostas que a estratégia possa dar às realidades organizacionais. d) Os resultados das pesquisas de clima e as decisões da presidência e do board relacionadas ao planejamento de curto prazo. e) As respostas que a estratégia possa dar às expectativas dos clientes frente ao lançamento de novos produtos ou serviços. 56/239 3. Para Bohlander et al (2003), os principais desafios competitivos da gestão de recursos humanos são: Questão 3 a) Conter custos, vigiar a concorrência, manter tecnologias vencedoras, desenvolver o capital humano, reagir ao mercado. b) Focar o mercado local, conseguir levar a empresa para o mercado de ações, treinar as lide- ranças. c) Investir nas pessoas independentemente do custo, vigiar a concorrência, manter tecnologias vencedoras. d) Seguir o mercado, evitar mudanças, conter despesas evitando novas tecnologias, desenvol- ver o capital humano. e) Tornar-se global, adotar sempre novas tecnologias, gerenciar mudanças, desenvolver o ca- pital humano, reagir ao mercado, conter custos. 57/239 4. O principal executivo de RH deve adotar algumas posturas importantes a fim de conseguir que a área seja relevante na consecução dos objetivos estratégi- cos corporativos. São elas: Questão 4 a) Saber o resultado das pesquisas salariais, utilizar a seu favor o conhecimento que possui do conselho de administração. b) Estar preparado para a aplicação de pesquisas de clima; lutar por um excelente programa de treinamento com uma universidade norte-americana. c) Estar update com as ferramentas das principais consultorias e headhunters do mercado; co- nhecer técnicas de coaching. d) Conhecimento do negócio, convicções a respeito da implantação de programas e políticas, vigilância com a questão do custo. e) Desenvolver processo de coaching com as lideranças, fazendo ele mesmo o processo para reduzir custos. 58/239 5. A área de RH tem funções bastante específicas na gestão de pessoas. Quais são as principais e mais importantes quando o assunto é Estratégia? Questão 5 a) Estabelecer formatos, criar políticas, programas e projetos, propor a implantação dessas ferramentas, ser o líder e o balizador para adesão da empresa à estratégia. b) Preparar os principais eventos corporativos, montar os treinamentos e capacitações. c) Secretariar as reuniões do board e preparar as atas; desenvolver processos de seleção de executivos. d) Administrar a folha de pagamento e os recolhimentos de impostos; preparar a contabiliza- ção da folha de pagamento. e) Cuidar das pesquisas de remuneração e atuar no sentido de equiparar os benefícios ao mer- cado.59/239 Gabarito 1. Resposta: B. Para Porter (1989), as particularidades do desenho da estrutura traduzem o core com- petence da organização. Por exemplo, uma empresa com o core competence comercial bastante forte provavelmente irá possuir na estrutura uma área comercial maior, com posições importantes, um representante no board. Detalhes da estrutura organizacional desse tipo traduzem o core competence da organização, segundo Porter (1989). 2. Resposta: C. O processo estratégico é desenvolvido sem- pre levando em consideração as singulari- dades da organização, inclusive no quesito gestão de pessoas. A definição e o acompa- nhamento da estratégia estão ligados a fa- tores específicos, como as competências es- senciais da organização, às idiossincrasias organizacionais, como cultura e modelos de gestão, ao modelo de planejamento adota- do que possa traduzir a visão e também às respostas que a estratégia dará a problemas do dia a dia, estabelecendo oportunidades de melhoria consistente de resultados. 3. Resposta: E. Para Bohlander et al (2003), os principais desafios competitivos, e portanto estraté- gicos da gestão de recursos humanos são manter-se atualizado, através da adoção constante de novas tecnologias, fazer a ges- 60/239 Gabarito tão competente da mudança, uma vez que a mudança nos cenários de negócios é a maior certeza que se possui nas organizações, de- senvolver o capital humano, pois é nele que reside o desenvolvimento da tecnologia, re- ger as reações corporativas ao mercado e à concorrência e, claro, fazer tudo isso com absoluto princípio da austeridade, conten- do custos. 4. Resposta: D. O principal executivo de RH deve adotar posturas importantes a fim de colocar a área de RH num patamar de protagonismo frente às estratégias de negócio. Para con- seguir esse protagonismo é primordial que possua vasto conhecimento do negócio e firme suas convicções a respeito da implan- tação de programas e políticas, além de ser absolutamente vigilante com a questão do custo, principalmente no que diz respeito ao custo com mão de obra. 5. Resposta: A. A área de Recursos Humanos deve estabe- lecer os formatos para gestão de pessoas, por meio da criação e implementação de Políticas, Programas e Projetos, propondo o formato de utilização dessas ferramentas no sentido de impactar diretamente a orga- nização, gerar vantagem competitiva e ser um balizador do planejamento altamente aderente à estratégia. 61/239 Unidade 3 A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas Objetivos 1. Conceituar estrutura organizacional. 2. Entender os modelos de estrutura mais comuns e a sua importância nos processos de gestão de pessoas. 3. Entender aspectos relacionados ao custo da estrutura. 4. Relacionar aspectos da estrutura com subsistemas de Recursos Humanos. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas62/239 Introdução Para que se consiga estabelecer uma noção clara sobre o papel da estrutura organiza- cional na definição da estratégia empre- sarial, é preciso entender que esse papel, o da estrutura organizacional, é bastante im- portante para a área de Recursos Humanos e também para as demais áreas da organi- zação. Como dissemos, a questão da estrutura or- ganizacional está ligada à definição da es- tratégia, uma vez que é a partir da estrutura que são estabelecidos: • O tamanho da organização – em quantidade de colaboradores. • O desenho das especificidades, já tra- tado no bloco anterior, que diz respei- to a como a organização se dividirá em áreas. • Os modelos de gestão de pessoas, cal- cados especificamente em políticas, normalmente criados e implementa- dos pela área de RH. Isso se faz, via de regra, utilizando-se o desenho da es- trutura organizacional. • A liderança de custos como fator es- tratégico importante, uma vez que é na força de trabalho, ou seja, na es- trutura organizacional, que se con- centram os custos com pessoal. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas63/239 Para saber mais Para Porter (1989), liderança de custos é uma das três estratégias genéricas para todas as organi- zações independentemente da indústria/merca- do em que atuam. As outras duas são diferencia- ção e enfoque. • O acompanhamento das despesas re- correntes de pessoal da organização, notadamente salários, benefícios, en- cargos sociais. Para saber mais Despesas recorrentes referem-se ao tipo de gas- tos que ocorrem a uma variação de tempo defini- da e sem interrupção. Por exemplo, despesas com salários que ocorrem todos os meses. Assim, estudar a estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas é neces- sário, pois proporciona uma visão concreta de como as coisas acontecem no dia a dia das organizações e, portanto, faz com que o assunto estratégia fique, a cada passo dos nossos estudos, mais desmistificado. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas64/239 1. Conceituação Para darmos início ao estudo da estrutura organizacional, vamos realizar a conceitua- ção do tema. De acordo com o minidicioná- rio Aurélio (FERREIRA, 2004, p.303), estru- tura é: “reunião de partes ou elementos, em certa ordem ou disposição. O modo como as partes ou elementos se relacionam e que de- termina as características ou funcionamento do todo [...]”. Assim como na definição linguística, para a administração a estrutura também se ba- seia no princípio da reunião de partes que se relacionam. A forma e o funcionamento da estrutura organizacional são determina- dos pelo funcionamento das partes, geral- mente divididas em áreas de especialidade, como marketing, operações, finanças etc.; e também é a estrutura que se revela como a sustentação do negócio da empresa. Como estamos falando de Recursos Huma- nos, vale acrescentar ainda o conceito de que a empresa é formada pela estrutura, a estrutura pelas áreas, as áreas pelas pesso- as. É nesse sentido que se estabelece a má- xima de que a empresa é essencialmente formada por pessoas. Vejamos a Figura 1: Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas65/239 Figura 1 | A estrutura organizacional a partir das pessoas Fonte: elaborada pelo autor. As organizações costumam definir suas estruturas de forma hierarquizada, mas é importante saber que não existe apenas esse modelo, apesar de ser o mais comum, principalmente nas em- presas brasileiras. Esse modelo, o hierarquizado, leva em consideração os cargos em seus diversos níveis e também respeita a divisão por especialização funcional das áreas. Conforme já estudado anteriormente, a divisão por especialização refere-se àquilo que a área desenvolve no ciclo da cadeia produtiva de bens ou serviços da organização. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas66/239 Para a organização, de uma maneira geral, a estrutura é todo o investimento realiza- do a fim de que o ciclo de produção de bens ou serviços aconteça e, consequentemente, a posição da organização no ambiente da concorrência, obedecendo às especificida- des determinadas pelos consumidores. Num certo sentido, pode-se entender es- trutura organizacional de uma forma ainda mais ampla, para além das pessoas, como as estruturas físicas (imóveis, por exemplo), equipamentos e maquinários (se for o caso), além de hardwares e softwares necessários à produção e ao controle da atividade de- senvolvida pela empresa. Além disso, todo o material envolvido no processo de comer- cialização, como divulgação e distribuição. Refere-se ainda a todo o investimento in- tegralizado no backoffice para controle das operações. No entanto, o que trataremoscom mais foco na nossa disciplina é um conceito um pouco mais específico, direcionado para Recursos Humanos. Nessa visão, o que irá nos impor- tar são os investimentos realizados nas pes- soas, para que ocupem os espaços funcio- nais em toda a sua capacidade e plenitude, e consigam, através do seu know-how, fazer com que os processos de produção de bens e/ou serviços aconteçam. Resumindo, para o RH e, portanto, para o nosso caso em tela, a estrutura são as pes- soas que compõem as áreas e é desse tipo de estrutura organizacional que tratare- mos. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas67/239 2. Os modelos de estrutura Conforme dissemos anteriormente, não existe apenas um modelo de estrutura or- ganizacional. Assim, vamos conhecer algu- mas, especialmente as mais utilizadas pelas empresas brasileiras. Vale ressaltar que é absolutamente possível que uma empresa mescle a utilização de mais de um tipo de estrutura, dependendo das necessidades do negócio e das condições de mercado que vier a enfrentar. Estruturas funcionais São aquelas que se dividem em departa- mentos, sendo que nos departamentos re- únem-se os profissionais que desenvolvem atividades relacionadas à função daquele departamento. Bastante utilizadas nas em- presas brasileiras e em modelos familiares de gestão. Estruturas divisionais São modelos em que um líder concentra a responsabilidade por todas as operações e funções de uma determinada divisão ou, como é comum dizer, de uma unidade de negócios. Esse líder geralmente é responsá- vel pelo resultado da unidade, e não apenas pela sua operação. Comumente encontrado em empresas de capital internacional, no- tadamente alemãs e americanas, e também em empresas que produzem diversos tipos de produtos e/ou serviços, nas quais as di- visões são geralmente adotadas para um produto/serviço específico. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas68/239 Estruturas matriciais As estruturas matriciais são caracterizadas pela presença de profissionais, geralmente especialistas, de diversas áreas da organi- zação, em equipes multidisciplinares que, via de regra, são conduzidas por líderes de projeto. De acordo com Robbins (2005), a estrutura matricial combina duas formas de divisão, por função e por produto ou projeto. Com certeza, os tipos de estrutura que fo- ram elencados aqui possuem aspectos po- sitivos e negativos e cabe à empresa, a par- tir do seu mapa estratégico, decidir qual é o melhor desenho a escolher. Conforme dis- cutido anteriormente, é bastante possível que haja uma combinação entre os dese- nhos de estrutura. O que se espera é que o desenho da estrutura não seja um item de burocratização dos processos internos, mas sempre um alavancador de resultados con- sistentes e de crescimento organizacional. 3. Aspectos relacionados ao cus- to da estrutura Um ponto de bastante atenção, menciona- do por Porter (1989), é a questão da geração Para saber mais As estruturas matriciais possuem um aspecto par- ticular importante que é o da dupla subordinação. Esse tipo de estrutura é mais comum em empre- sas complexas e orientadas a projetos, como é o caso de algumas empreiteiras que tocam grandes obras, por exemplo. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas69/239 de vantagem competitiva. Nesse sentido, é indispensável para o plano estratégico a li- derança de custos. As organizações têm se debruçado sobre questões de redução de custos que possam gerar essa liderança. Com certeza, o custo impacta o preço, e o preço, por sua vez, im- pacta o mercado. Dependendo do tipo de produto ou serviço que a organização co- mercializa, de como a sua marca é perce- bida pelo mercado e de como está posicio- nada no ambiente concorrencial, o aspecto custo pode significar desde margens mais atraentes até a própria sobrevivência da or- ganização. De acordo com Bohlander et al (2003), as organizações estão buscando dar mais efe- tividade às suas estruturas, dividindo-as em unidades menores, em que o processo de produção de bens ou serviços fique mais horizontal, reduzindo dessa forma os níveis hierárquicos da estrutura e, por consequên- cia, os custos. A redução de níveis hierárquicos, como a que temos experimentado notadamente nas empresas brasileiras a partir do início do século XXI, parece querer introduzir al- guns aspectos na administração das orga- nizações: • A diminuição dos níveis cria equipes em que chefes e subordinados são mais próximos. • As diferenças salariais são diminuídas. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas70/239 • O trabalho, antes bastante especiali- zado, começa a dar lugar ao trabalho com abordagem mais generalista. • As decisões são mais ágeis. O espaço e consequentemente o tempo entre a ocorrência do problema e a decisão sobre sua solução são menores. • Os líderes de equipe são, via de regra, conclamados a participarem das deci- sões e das operações através de uma postura mais hands-on. • Dessa forma, menos gente faz mais trabalho e, portanto, a estrutura fica mais barata, ainda que os salários se- jam maiores. De acordo com Porter (1989), a cadeia de valor, condição importante para a criação e manutenção da vantagem competitiva, portanto, ocupante de peso do mapa es- tratégico, deve desempenhar papel funda- mental no estabelecimento do modelo de estrutura organizacional. Para Porter (1989), as atividades simila- res, segundo a sua especialidade, devem ser agrupadas, no sentido de que se possa ganhar maior sinergia entre elas e, assim, diminuir o custo da estrutura. Outro ponto a se considerar é que para a geração con- sistente de valor aos clientes, os limites da estrutura, muitas vezes, não serão muito claros. Para Porter (1989), mais importante que os limites definidos pelo desenho da es- trutura é a forma como esta funciona; deve agregar atividades e energia nos pontos em que se concentrem as maiores possibilida- des de problemas. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas71/239 É importante que as áreas possuam um ca- nal de comunicação, para processos e in- formações e que haja líderes, e até mesmo áreas, que funcionem como links, respon- sáveis por realizar, de forma eficaz, o trân- sito do trabalho, dos processos e da infor- mação valiosa. Porter (1989) elenca a área de recursos humanos como área de apoio e como uma das responsáveis pela integra- ção entre os diversos atores da estrutura, no sentido de que o processo de trabalho, a aplicação da tecnologia e do conhecimento e, consequentemente, de geração de valor ao cliente esteja sempre otimizado. Nesse sentido, se mantida a geração de va- lor na cadeia de produção de bens e/ou ser- viços, pode-se estabelecer a correlação en- tre o desenho da estrutura organizacional com o seu adequado funcionamento, como sendo fator primordial para a definição da estratégia. Link Para ter informações mais completas a respei- to do valor do conhecimento, leia na íntegra o artigo Valoração do conhecimento nas organi- zações: as concepções dos indivíduos no contex- to do trabalho. Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S1984-92302016000200307&lang=pt>. Acesso em: 24 jun. 2017. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas72/239 4. Os subsistemas de RH e a es- trutura organizacional Conforme já discutido anteriormente, a es- trutura organizacional é um elemento im- portante na definição e na condução do pla- no estratégico. Parte dessa importância está ligada aos aspectos relacionados às pessoas e, portanto, diretamenteà área de RH. Devemos entender que a área de RH atua para definição e condução do plano estra- tégico através de políticas e programas que direcionam os esforços da força de trabalho aos objetivos estratégicos. Para conseguir realizar esse direcionamento, a área de RH lança mão da divisão da própria área em subsistemas, visando que cada subsistema atue nos programas e políticas com a maior especialidade possível. A fim de deixar esse assunto ainda mais claro, vamos entender o conceito de sub- sistema. De acordo com o dicionário Auré- lio (FERREIRA, 2004, p. 664), sistema é um “conjunto de elementos entre os quais haja alguma relação; disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si e que formam uma estrutura organizada”. Nes- Link Quer ver um exemplo de Política de Recursos Hu- manos? Acesse o link e veja um exemplo da Nes- tlé, do ano de 2012. Disponível em: <https:// empresa.nestle.pt/conhecaanestle/docu- ments/politica%20de%20recursos%20hu- manos%20da%20nestle.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2017. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas73/239 se sentido, partindo dessa definição de sis- tema, subsistema nada mais é do que uma parte do todo. Para Chiavenato (2016), os subsistemas possuem temas que apesar de distintos são interligados, e o resultado do funcionamento desses subsistemas é tanto melhor quanto mais coordenados e articu- lados entre si eles estiverem. Assim, poderíamos então afirmar que cada subsistema, dentro da área de RH está li- gado a uma especialidade em termos de processos de trabalho, projetos e políticas. Utilizando ainda o conceito de Chiavenato (2016), os subsistemas de RH estão assim divididos: • Subsistema de provisão. • Subsistema de aplicação. • Subsistema de manutenção. • Subsistema de desenvolvimento. • Subsistema de monitoração. Numa visão ainda mais simples, a utiliza- ção da divisão por subsistemas serviria para facilitar o direcionamento dos projetos de RH, no sentido de estabelecer quais os mais importantes para que a organização atinja o que foi planejado no mapa estratégico. Vale lembrar que já discutimos a importân- cia das pessoas, presentes na estrutura or- ganizacional, para colocar de pé a estratégia traçada. As configurações dos subsistemas variam um pouco de empresa para empresa mas adotaremos aqui o modelo mais comumen- te encontrado nas organizações nacionais, proposto por Chiavenato (2016): Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas74/239 Provisão – Recrutamento, Seleção e Plane- jamento de Pessoal: é o subsistema re- sponsável pela captação da mão de obra e que procura adequar o perfil profissional dos candidatos às necessidades estratégi- cas e também operacionais da organização. Aplicação – Desenho e Avaliação de Cargos e Avaliação do Desempenho: é o subsiste- ma responsável por desenhar a estrutura organizacional a partir da hierarquia e im- Link Para aprofundar-se na questão dos subsistemas de RH, consulte: <http://www.jrmcoaching. com.br/blog/quais-sao-os-subsistemas-de- -rh/>. Acesso em: 24 jun. 2017. portância dos cargos, além de avaliar o de- sempenho das pessoas. Manutenção – Remuneração & Benefícios e Saúde & Segurança: é o subsistema re- sponsável pela gestão dos pontos mais sensíveis da organização, quais sejam o din- heiro e a saúde das pessoas. Nesse sentido, o subsistema atua, em certo grau, num con- flito entre os interesses dos colaboradores e a necessidade da gestão efetiva dos custos com pessoal. Desenvolvimento – Treinamento & Capaci- tação, Desenvolvimento Organizacional – é o subsistema responsável pela implemen- tação de ferramentas que visam atualizar os colaboradores, sempre com foco na lucra- tividade e sustentabilidade dos negócios, bem como estabelecer programas que colo- Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas75/239 quem toda a organização update (atualiza- da) com o plano estratégico. Monitoração – Banco de dados, KPIs (Key Per- formance Indicators – Indicadores-Chave de Desempenho): é o subsistema responsável pela emissão e gerenciamento de relatóri- os de indicadores. Realiza a integração da área de RH a partir da leitura e análise dos indicadores de cada um dos subsistemas. É a partir desses relatórios, que se pode con- tribuir com fatos e dados, provendo as de- mais áreas da organização com informações relevantes sobre gestão de pessoas. Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas76/239 Glossário Backoffice: É a parte da atividade de uma empresa que não está diretamente em contato com o cliente. São as denominadas áreas de retaguarda, como Contabilidade, Recursos Humanos, Compras (por exemplo). Forma hierarquizada: É o desenho de estrutura que respeita a hierarquia dos cargos, ou seja, a subordinação. Seu desenho geralmente segue um modelo piramidal em que o cargo de co- mando fica no topo da pirâmide e o cargo subordinado no nível imediatamente abaixo, e assim sucessivamente. Hands-on: Expressão da língua inglesa que significa literalmente “mãos em”. Para o mundo cor- porativo, a expressão é utilizada para designar o profissional que se coloca à disposição para fazer, que está sempre pronto, que denota proatividade, que, mesmo sendo líder, não se furta a realizar tarefas operacionais. Know-how: Termo da língua inglesa que significa literalmente “saber como”. Consiste no con- junto de conhecimentos e experiências de determinada empresa ou pessoa que podem dife- renciá-la das demais. Questão reflexão ? para 77/239 Coloque-se no lugar de um gestor de RH e responda: qual é a questão mais importante que envolve a defini- ção da forma e do tamanho da estrutura organizacio- nal? Por quê? 78/239 Considerações Finais (1/2) Como vimos, a estrutura organizacional, e notadamente a estrutura de Recur- sos Humanos estão intrinsicamente ligadas ao plano estratégico na medida em que são as pessoas, em última análise, que realizam o plano. Nesse conte- údo, você estudou: • Que a estrutura organizacional é um importante elemento do desenvolvi- mento da estratégia. • Que o RH representa a estrutura organizacional, atuando com políticas e projetos de direcionamento estratégico, sempre com foco nos negócios e através das pessoas. • Que a área de RH lança mão, para cumprir a estratégia, da divisão em sub- sistemas. • Que cada subsistema responde por um conjunto de especialidades, o que, em tese, gera maior foco. 79/239 • Que os principais subsistemas de RH são: • Subsistema de provisão. • Subsistema de aplicação. • Subsistema de manutenção. • Subsistema de desenvolvimento. • Subsistema de monitoração. • Que a área de RH, além de ser representante da estrutura, é um importante prestador de serviços internos e deve desenvolver práticas que direcionem as demais áreas sempre para o plano estratégico organizacional. Considerações Finais (2/2) Unidade 3 • A estrutura organizacional sob a ótica da gestão de pessoas80/239 Referências BOHLANDER, G. SNELL, S. SHERMAN, A. Administração de recursos humanos. São Paulo: Pio- neira Thomson Learning, 2003. CHIAVENATO, I. Administração de recursos humanos. São Paulo: Manole, 2016. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio da língua portuguesa. Curitiba: Positivo, 2004. PORTER, Michael. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989. ROBBINS, Stephen P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2005. 81/239 Assista a suas aulas Aula 3 - Tema: A Estrutura Organizacional Sob a Ótica da Gestão de Pessoas. Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/