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Duodenopancreatectomia Definição: A duodenopancreatectomia é a remoção da cabeça do pâncreas, todo o duodeno, uma porção do jejuno e o terço distal do estômago, além da metade inferior do ducto biliar comum, com o restabelecimento da continuidade dos sistemas biliar, pancreático e do TGI1. Anatomia do Sistema Gastrointestinal: Epidemiologia e Morbimortalidade: Os tumores originam-se de glândulas exócrinas (95%) e endócrinas (5%) no pâncreas. O adenocarcinoma ductal constitui 80% de todos os tumores pancreáticos. Muitos tumores começam na cabeça da glândula exócrina, obstruem o ducto biliar e se estendem para o duodeno, os intestinos e a coluna vertebral. A disseminação ocorre para os linfonodos regionais, e os sítios metastáticos comuns incluem o fígado e os pulmões, além de vasos sanguíneos e abdome1. Adenocarcinoma ductal da cabeça do pâncreas é a quarta causa de morte por câncer no mundo e a ressecção cirúrgica através da duodenopancreatectomia é a única com potencial de cura. A duodenopancreatectomia (DP) é um procedimento cirúrgico desafiador e a mortalidade operatória é de 3-5% em centros de referência. Entretanto a incidência de complicações pós-operatórias permanece elevada, variando de 30- 61%2. Quando a doença é diagnosticada em estágio localizado, a sobrevida aumenta para apenas 27 % em 5 anos. O carcinoma de pâncreas é uma neoplasia que tende a ser diagnosticada em pacientes maiores de 40 anos e possui sua maior prevalência ao redor dos 70 anos. O diagnóstico tende a ser mais prevalente em países desenvolvidos e em homens, sendo o adenocarcinomaductal a neoplasia mais comum, a qual corresponde a cerca de 85 % das malignidades pancreáticas. Em torno de 5 a 10% dos casos, há presença de componentes genéticos2. Histórico: A primeira DTP foi realizada por Alessandro Codivila, na Itália, em 1898, em um paciente com carcinoma da cabeça do pâncreas e que veio a óbito 24 dias após a cirurgia, onde a necropsia revelou metástases generalizadas. A partir daí viu-se a importância da linfadenectomia, pois metástase linfonodal afeta adversamente a sobrevida em pacientes com adenocarcinoma de pâncreas2,3. Foi introduzida em 1935 nos Estados Unidos por Allen Oldfather Wipple, professor de cirurgia da Universidade de Columbia, o qual operou um paciente de 49 anos com um carcinoma de papila, que sobreviveu 28 meses após a cirurgia. O procedimento passou por diversas variações, como a sua realização em dois tempos cirúrgicos, promovida por Walter Kausch, porém o paciente veio a óbito 10 meses depois devido a uma colecistite aguda. Hirshel então realizou o procedimento em apenas um tempo cirúrgico, na Alemanha com sucesso total3. Devido à presença se suco pancreático livre na cavidade peritoneal, causando um aumento na mortalidade e muitas complicações nos pacientes que eram submetidos, foi então recomendado por Catell uma anastomose direta do ducto pancrático com o jejuno. Essa técnica foi aperfeiçoada por Whipple, e o mesmo ainda introduziu a pancratojejunoanastomose e completou a reconstrução em estágio único, que se popularizou como método ou cirurgia de Wipple3. Ainda assim, muitas variações na técnica da DTP têm sido sugeridas desde o início da sistematização desse complexo procedimento, embora, na maioria, sejam variações das ideias de Whipple, Child e Catel, e que são reconhecidas pelo Grupo Internacional de Estudo em Cirurgia Pancreática (ISGPS)3. Indicação: A DTP é atualmente o procedimento de escolha potencialmente curativo para os tumores invasivos da cabeça do pâncreas e da área periampular1. Em pacientes com pancreatite crônica, a doença se localiza primariamente na cabeça do pâncreas. É aceito, há décadas, que esses pacientes podem se beneficiar da ressecção da cabeça do pâncreas como tratamento para sua debilitante crônica1. São ainda indicações de DTP os adenomas vilosos duodenais ou da papila de Vater, os tumores de ilhotas do pâncreas, os cistoadenomas pancreáticos e as neoplasias císticas da cabeça do pâncreas1. Seleção dos pacientes: A ressecção cirúrgica das neoplasias malignas periampulares só beneficia os pacientes com doença localizada regionalmente. Desta forma, avaliação por métodos de imagem deve ser realizada para excluir a presença de doença metastática sistêmica, para avaliar a extensão do tumor e o envolvimento vascular local4. A presença de metástases à distância é critério de inoperabilidade. Já a presença de metástases ganglionares no campo cirúrgico da ressecção “standard” não se constitui em contraindicação à DTP4. Pré-operatório: As condições clinicas do paciente para tolerar um procedimento cirúrgico de alta complexidade é um fator de grande importância na determinação da ressecabilidade. Uma completa avaliação do sistema cardiovascular, renal e pulmonar é obrigatória antes da DTP e deve incluir a ecocardiografia em pacientes com idade acima de 50 nos2. A finalidade dos exames de imagem aplicados ao AP são: 1) fornecer o diagnóstico, 2) avaliar a invasão locorregional da lesão (ressecabilidade) e 3) avaliar a presença de doença à distância. A tomografia de abdome com múltiplos detectores, a ressonância nuclear magnética a ecoendoscopia, a tomografia com emissão de pósitrons e a laparoscopia preenchem em maior ou menor grau esses objetivos2. Procedimento: O objetivo da DTP é remover todo o tumor macroscópico de forma segura, com baixo risco de mortalidade e morbidade, como o menor tempo possível de internação hospitalar4. Há três formas principais de duodenopancreatectomia que têm sido descritas. A primeira e clássica (standard) duodenopancreatectomia foi desenvolvida por Whipple, onde são ressecados o terço distal do estomago, todo o duodeno, a porção inicial do jejuno, a vesícula biliar, o colédoco e a cabeça do pâncreas; a segunda é a duodenopancreatectomia com preservação do piloro e um segmento do duodeno; e recentemente desenvolvida, a terceira é a duodenopancreatectomia subtotal com preservação gástrica4. O racional para a linfadenectomia na ressecção do Adenocarcinoma de Pâncras é o mesmo para a maioria dos tumores sólidos. Objetiva-se com a ressecção de gânglios a remoção de doença locoregional que de outra forma seria deixada no leito do órgão removido. Para que esse raciocínio esteja certo é imperativo que as estações linfonodais funcionem como um bloqueio para a disseminação sistêmica da doença. O ISGPS descreveu a extensão e estações nodais que deveriam ser removidas na linfadenectomia padrão para duodenopancreatectomia. As estações linfonodais incluem 5, 6, 8a, 12b1, 12b2, 12c, 13a, 13b, 14a, 14b, 17a, e 17b. O número de linfonodos retirados na linfadenectomia padrão deve ser ≥ 15 para adequado estadiamento patológico da doença4. Os dois métodos mais comuns de anastomose pancreatoentérica são a pancreatojejunostomia convencional em que a mesma alça jejunal é utilizada para a anastomose do pâncreas, da via biliar e do estômago, e a pancreatojejunostomia isolada em alça de Roux4 O argumento em favor da alça isolada de Roux é a derivação da bile longe da pancreatojejunostomia para minimizar a ativação de enzimas pancreáticas e reduzir o risco de formação de fístula; se esta complicação ocorrer, será fístula pancreática pura com menor repercussão. Algumas desvantagens da alça isolada de Roux são a necessidade de uma anastomose adicional e um aumento no tempo operatório2,3,4. . A utilização de cateter no ducto pancreático pode proporcionar drenagem interna ou externa (fora do corpo). O cateter interno não resulta emperda de enzimas pancreáticas, deve ter 10-20 cm de comprimento e ir além da anastomose bilioentérica4. A enteroentero anastomose tipo Braun é anastomose entre as alças aferente e eferente. É designada para derivar a bile e o suco pancreático da alça aferente a fim de reduzir o refluxo dentro do estômago. Em teoria, após duodenopancreatectomia, a enteroentero anastomose estabiliza a anastomose, ajuda evitar rotação e angulação e deriva os sucos biliar e pancreático para longe do estômago4. Curiosidade: De acordo com a literatura, cirurgião de alto volume deve realizar ≥20 duodenopancreatectomias por ano, resultando em maior número de linfonodos ressecados com redução no sangramento e no tempo operatório, enquanto que a curva de aprendizado para duodenopancreatectomia é de ≥50 operações. Nestas situações o cirurgião alcança um melhor resultado pós-operatório incluindo redução no tempo operatório e na permanência hospitalar1. Complicações: Algumas complicações estão relacionadas ao procedimento de Whipple como síndrome de dumping e diarreia, outras complicações são relacionadas à PPPD, como retardo no esvaziamento gástrico de 19-61%, linfadenectomia inadequada e deficiência nutricional em longo prazo3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Cambell IA. Erosion Rates in the Steveville Badlands, Alberta. Can Geogr Géographe Can [Internet]. 1970;14(3):202–16. Available at: http://doi.wiley.com/10.1111/j.1541-0064.1970.tb01568.x 2. Bassan AF, Pisani L, Kalil MS, Doncatto V, Garcia M. Câncer da cabeça de pâncreas Pancreatic cancer. 2017; 3. Torres OJ, Fernandes E de SM, Vaques RR, Waechter FL, Amaral PCG, Rezende MB, et al. Duodenopancreatectomia: Prática Padrão Do Brasil*. ABCD Arq Bras Cir Dig Artig Orig [Internet]. 2017;30(3):190–6. Available at: http://www.scielo.br/pdf/abcd/v30n3/pt_0102-6720-abcd-30-03- 00190.pdf 4. Amico EC, Barreto EJS da S, Dantas-Filho AM, Araújo-Filho I. Diagnóstico, estadiamento e tratamento cirúrgico do adenocarcinoma de pâncreas. ABCD Arq Bras Cir Dig (São Paulo) [Internet]. 2008;21(4):192– 200. Available at: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 67202008000400008&lng=pt&tlng=pt