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ELEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

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LEMENTOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
REQUISITOS DE EXISTÊNCIA E DE VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
            O estudo dos elementos essenciais, naturais e acidentais do negócio jurídico é um dos pontos mais importantes e controvertidos da parte Geral do Código Civil. Estes elementos também serão elementos dos contratos, trazendo o conteúdo de determinadas cláusulas contratuais.
Flávio Tartuce aduz que Pontes de Miranda concebeu uma estrutura única para explicar tais elementos. Tal estrutura é denominada Escada Ponteana ou Escada Pontiana.  A partir dessa construção, o negócio jurídico tem três planos: de existência, de validade e de eficácia, que, no entendimento de Carlos Roberto Gonçalves se apresente da seguinte forma: Plano da existência / Plano da Validade / Plano da Eficácia
Assim, nesse sentido tem-se que, em regra, para que se verifiquem os elementos de validade, é preciso que o negócio seja existente. Para que o negócio seja eficaz, deve ser existente e válido. Por este prisma, malgrado o Código Civil não tenha adotado a tricotomia existência-validade-eficácia (escada ponteana) é possível distinguir no mundo jurídico os planos de existência, de validade e de eficácia dos Negócios Jurídicos, assunto que passaremos a tratar sob a ótica de Carlos Roberto Gonçalves, que examina o tema com precisão, objetividade e clareza.
 1.1. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO (ESSENTIALIA NEGOTTI):
Esses elementos são aqueles que estão no plano da existência e da validade do Negócio Jurídico, trazendo, a sua inobservância, sérias consequências para o ato celebrado, aplicando-se a teoria das nulidades.
 a) Requisitos de existência
No plano da existência estão os pressupostos de existência para um negócio jurídico, ou seja, os seus elementos mínimos, enquadrados por alguns autores dentro dos elementos essenciais do Negócio Jurídico. Constituem, portanto, suporte fático do negócio jurídico (pressupostos de existência).
Nesse contexto não se indaga da invalidade ou eficácia do Negócio Jurídico, importando apenas a sua existência. Assim, na concepção de Carlos Roberto Gonçalves são três os requisitos de existência  (elementos estruturais) do Negócio Jurídico: a declaração de vontade, a finalidade negocial e a idoneidade do objeto. Não havendo algum desses elementos o Negócio Jurídico é inexistente.
Exemplo: a hipótese de um casamento celebrado por autoridade incompetente (delegado de polícia, por ex.), é considerado inexistente, suposição em que não há que se indagar se é válido ou ineficaz, por se tratar de um “nada jurídico”.
Nesse sentido, imperioso ressaltar que, em regra, para que o negócio seja eficaz deve ser existente e válido. Entretanto, nem sempre isso ocorre. Vejamos algumas possibilidades:
-   Negócio Existente, Inválido e Eficaz – caso um negócio jurídico anulável esteja gerando efeitos.
Exemplo – casamento anulável celebrado de boa-fé-
- Negócio Existente, válido e ineficaz
Exemplo – contrato celebrado sob condição suspensiva que não esteja ainda gerando efeitos jurídicos e práticos.
 a.1- Manifestação (declaração) da vontade - consentimento
 A manifestação de vontade é fundamental para a existência do negócio jurídico, sendo seu elemento basilar e orientador. Vale dizer que a vontade é que diferencia o negócio dos fatos naturais. Nesse sentido vale lembrar que, o tradicional princípio da autonomia da vontade sofreu limitações pelo princípio da supremacia da ordem pública que, em nome da ordem pública e do interesse social, permite a interferência estatal nas manifestações de vontade para evitar a opressão dos economicamente mais fortes sobre os mais fracos (exemplos: Lei do Inquilinato, Código de Defesa do Consumidor, etc.). Em tempo, não se pode olvidar que a vontade, uma vez manifestada obriga o contratante, efeito resultante do princípio da obrigatoriedade dos contratos (pacta sunt servanda), regra relativizada pelo princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva baseado na cláusula rebus sic stantibus e na  teoria da imprevisão (art. 478 CC), que permite recorrer ao judiciário nas hipóteses previstas no artigo supracitado.
Isto posto, a manifestação de vontade é requisito básico do negócio jurídico e é imprescindível que se exteriorize. Assim, apresenta-se de forma expressa (falada, ou escrita, gestos, mímicas, etc), tácita (se infere da conduta do agente - silêncio) ou presumida.
Exemplos:
Expressa – celebração de contratos verbais ou escritos / emissão de títulos de crédito, cartas e mensagens. Os gestos e mímicas utilizados principalmente por surdos e mudos também são utilizados com frequência nos pregões de bolsas de valores.
Tácita – aceitação de herança (art. 1805 CC) / aquisição de propriedade móvel pela ocupação (art. 1263 CC) / doação pura – art. 539;  aceitação do mandato art. 659, ambos do CC / um táxi estacionado em seu ponto ou próximo a eventos - (Nesse último exemplo, tal atitude, se deduz que ele esteja disponível).
 Pode ser tácita quando a lei não exigir o contrário (art. 111, CC – o silêncio importa a anuência quando as circunstâncias ou os usos autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa – DESSE MODO, POR REGRA, QUEM CALA NÃO CONSENTE, EIS QUE, PARA QUE SEJA VÁLIDA A VONTADE TÁCITA, DEVEM ESTAR PRESENTES OS REQUISITOS APONTADOS).
Exemplos: A cessão da locação, a sublocação e o empréstimo do imóvel, total ou parcialmente, dependem do consentimento prévio e escrito do locador (art 13 Lei 8245/91 – Lei do Inquilinato) e a renúncia à herança – art. 1806
Carlos Roberto Gonçalves explica que o silêncio pode ser interpretado como manifestação tácita da vontade quando a lei conferir a ele tal efeito. Além dos casos exemplificados acima, pode ainda, ser o silêncio interpretado como consentimento quando tal efeito ficar convencionado em um pré-contrato ou ainda resultar dos usos e costumes, como se infere do artigo 432 CC.
Presumida – é a declaração não realizada expressamente mas que a lei deduz de certos comportamentos do agente. Difere da manifestação tácita de vontade vez que a presumida é estabelecida pela lei enquanto aquela é deduzida do comportamento do agente, pelo destinatário. As presunções legais são Juris tantum, ou seja, admitem prova em contrário. Assim, pode o agente elidi-las provando não ter tido a vontade que a lei presume.
Exemplos:
Art. 322 CC – pagamento de cotas periódicas – a quitação da última, até prova em contrário, existe a presunção de estarem solvidas as anteriores;
Art 323 CC – sendo a quitação do capital sem reservas de juros, estes presumem-se pagos.
Art 324 – entrega de título ao devedor firma presunção do pagamento No entanto, ficará sem efeito a quitação se o credor provar em 60 dias, a falta do pagamento
a.1.1 A reserva Mental
A manifestação de vontade subsiste ainda que o autor haja feito reserva mental (art. 110, CC) de não querer o que manifestou, salvo se dela tinha conhecimento o seu destinatário (neste caso é Negócio Jurídico inexistente, tudo configura uma farsa).
Ocorre a reserva mental quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção, isto é, quando não quer um efeito jurídico que declara querer. Tem por objetivo enganar o outro contratante ou declaratório. Se este entretanto, não soube da reserva, o ato subsiste e produz os efeitos que o declarante não desejava. A reserva (o que se passa na mente do declarante), é indiferente ao mundo jurídico e irrelevante no que se refere à validade e eficácia do Negócio Jurídico. Da leitura do artigo 110 infere-se que a reserva mental desconhecida da outra parte é irrelevante para o direito, assim, considera-se somente aquilo que foi declarado. (Carlos Roberto Gonçalves).
Exemplos: alguns exemplos são mencionados com o agente ora agindo de boa-fé ora agindo de má-fé. Na primeira hipótese tem-se aquele em que o declarante manifesta sua vontade no sentido de emprestar a um amigo (contrato de mútuo), porque este tinha a intenção de suicidar-se por estar em dificuldades financeiras. Nessa hipótese a intenção do declarante não
é de realizar o contrato de mútuo, mas, tão somente, salvar o amigo do suicídio.
E também na segunda hipótese (má-fé) a declaração do testador que, com a preocupação de prejudicar herdeiro, dispõe em benefício de quem se diz falsamente devedor.
 RELEMBRANDO - *Art. 117, CC – contrato consigo mesmo (VISTO NA UNIDADE II): contrato é um acordo de vontades, assim, não se admite, salvo se o permitir a lei ou o representado.
O denominado contrato consigo mesmo configura-se tanto na hipótese da dupla representação como quando figura o representante como titular em um dos polos da relação contratual estabelecida sendo sujeito de direitos e obrigações.
O Código Civil prevê expressamente a possibilidade da celebração do contrato consigo mesmo, desde que a lei ou o representado autorizem a sua realização e que não haja conflito de interesses. Sem a observância dessas condições, o negócio é anulável. A exigência da ausência de conflito de interesse é jurisprudencial – é de se prever que, malgrado a omissão do Código Civil, a jurisprudência continuará exigindo a ausência do conflito de interesses como condição de admissibilidade do contrato consigo mesmo, como vem ocorrendo (Carlos Roberto Gonçalves).
 a.2 – Finalidade Negocial
Intenção de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Sem essa intenção, a manifestação de vontade pode desencadear determinado efeito, preestabelecido no ordenamento jurídico, praticando o agente, então, um ato jurídico em sentido estrito.
A existência do negócio jurídico, porém, depende da manifestação de vontade com finalidade negocial, ou seja, com a intenção de produzir os efeitos supramencionados.
O negócio jurídico, como já explicado anteriormente, consiste no exercício da autonomia privada. Há um poder de escolha da categoria jurídica. Permite-se que a vontade negocial proponha, dentre as espécies, variações quanto à sua irradiação e a intensidade de cada uma.
Ex.: numa compra e venda, por exemplo, podem os contratantes estabelecer termos e condições, renunciar a certos efeitos, como os do vício redibitório e da evicção, limitá-los e ainda estabelecer outras avenças.
Todas essas faculdades se inserem no contexto da finalidade negocial, pois permitem a obtenção de múltiplos efeitos, mediante a declaração de vontade (Carlos Roberto Gonçalves)
a.3 - Idoneidade do objeto
A vontade deve recair sobre objeto apto – cada contrato tem objeto específico.
Ex.: um contrato de mútuo, a manifestação da vontade deve recair sobre coisa fungível; já o contrato de comodato, a manifestação da vontade deve recair sobre coisa infungível; Na hipoteca o bem tem que ser imóvel, navio ou avião (art. 1473, VI e VII e Lei).
O objeto ser idôneo significa que ele deve apresentar os requisitos ou as qualidades que a lei exige para que o negócio produza os efeitos desejados.
 b) Requisitos de validade
Para que o negócio jurídico produza efeitos possibilitando a aquisição, modificação ou extinção de direitos deve preencher certos requisitos que ratifiquem sua validade. Assim, o negócio jurídico é inválido, não produz o efeito jurídico necessário e é nulo ou anulável, caso não atenda aos requisitos de validade do negócio jurídico (de caráter geral) elencados no artigo 104 do Código Civil, nos seguintes termos:
Art. 104 -  A validade do negócio jurídico requer:
I – Capacidade do agente
É condição subjetiva e trata-se da aptidão para intervir em negócios jurídicos como declarante ou declaratário. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício, necessária para que uma pessoa possa exercer, por si só, os atos da vida civil. Agente capaz é aquele que tem capacidade de exercício de direitos, ou seja, aptidão para exercer direitos e contrair obrigações na ordem civil (é adquirida com a maioridade – 18 anos, ou com a emancipação). A incapacidade é a restrição legal ao exercício da vida civil.
A capacidade pode ser:
-       Capacidade genérica (de exercício) – incapacidade deve ser suprida pela representação ou assistência.
-        Capacidade específica ou legitimação (não se confunde com a genérica).
  Como todo negócio jurídico traz como conteúdo uma declaração de vontade (o elemento volitivo que caracteriza o ato jurígeno), a capacidade das partes é indispensável para a sua validade.
No que concerne à pessoa física ou natural, aqui figura a grande importância dos artigos 3º e 4º do Código Civil, que apresentam as relações das pessoas absoluta ou relativamente incapazes respectivamente.
Enquanto os absolutamente incapazes devem ser representados por seus pais ou tutores, os relativamente incapazes devem ser assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. Todavia pode o relativamente incapaz celebrar determinados atos e negócios, como fazer testamentos, aceitar mandato ad negotia e ser testemunha.
O negócio praticado pelo absolutamente incapaz sem a devida representação é nulo, por regra (art. 166, I CC). O realizado por relativamente incapaz sem a correspondente assistência é anulável (art. 171, I, CC).
No tocante à capacidade relativa de uma parte, prevê o artigo 105 do CC que esta não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, também não aproveitando aos cointeressados capazes, salvo se, neste caso, foi indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum a todos. Desse modo, não poderão os credores ou devedores solidários ser privilegiados por suas alegações visto que a alegação de incapacidade constitui uma exceção pessoal.
Quanto às pessoas jurídicas, estas devem ser representadas ativa e passivamente, na esfera judicial ou não, por seus órgãos constituídos conforme as formalidades previstas em lei.
Além dessa capacidade geral, para determinados negócios exige-se a capacidade especial para certos atos, denominada legitimação.
Exemplo: uma pessoa maior e casada que é plenamente capaz pode dispor sobre os seus bens sem representação. Mas ela não poderá vender um imóvel sem a outorga de seu cônjuge ou o suprimento judicial deste SALVO se for casado sob o regime de separação absoluta de bens.
Essa regra consta dos artigos 1.647 e 1.648 do CC. A pena para o ato assim celebrado é a sua anulabilidade conforme o artigo 1.649 da mesma norma codificada, desde que proposta ação pelo outro cônjuge ou pelo seu herdeiro no prazo decadencial de dois anos, contados da dissolução da sociedade conjugal.
Observação – . O ascendente, por exemplo, não estará legitimado a vender bens a um descendente enquanto não obtiver o consentimento do seu cônjuge e dos demais descendentes (CC art. 496), embora não seja um incapaz, genericamente para realizar negócios jurídicos. A proibição imposta ao tutor de adquirir bens do pupilo, mesmo em hasta pública, também gera impedimento ou falta de legitimação, que não importa em incapacidade genérica.
 II - Objeto lícito, possível, determinado ou determinável.
A validade do negócio jurídico requer ainda, que o objeto seja lícito, possível, determinado ou determinável (condição objetiva).
Objeto lícito - não atenta contra o ordenamento jurídico, ou seja é o que não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes, à ordem pública, à boa-fé e à função social ou econômica de um instituto. Objeto jurídico, objeto imediato ou conteúdo do negócio é sempre uma conduta humana e se denomina prestação (dar, fazer ou não fazer); o objeto material ou mediato são os bens ou prestações sobre os quais incide a relação jurídica obrigacional.
Objeto possível – o objeto deve ser também possível no plano fático. Se o negócio implicar em prestações impossíveis deverá ser declarado nulo. A impossibilidade pode ser física ou jurídica – ex.: art. 426, CC, alguns bens fora do comércio.
A impossibilidade física emana das leis físicas e naturais e está presente quando o objeto não pode ser apropriado por alguém ou quando a prestação não puder ser cumprida por alguma razão. Essa impossibilidade deve ser absoluta, isto é, deve alcançar a todos indistintamente (ex. colocar toda a água do oceano em um copo); a impossibilidade relativa, que atinge o devedor mas não outras
pessoas, não constitui obstáculo ao negócio jurídico (art. 106 CC – a impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado).
A impossibilidade jurídica do objeto ocorre quando o ordenamento jurídico proíbe, expressamente, negócios a respeito de determinado bem, como a herança de pessoa viva (CC art. 426), de alguns bens fora do comércio, como os gravados com cláusula de inalienabilidade, etc.
A ilicitude do objeto é mais ampla, pois abrange os objetos contrários à moral e aos bons costumes.
Objeto determinado ou determinável (indeterminado relativamente ou suscetível de determinação no momento da execução). Admite-se assim, a venda de coisa incerta, indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade (CC art. 243), que será determinada pela escolha, bem como a venda alternativa, cuja a indeterminação cessa com a concentração (CC, art. 252). (ex:. art. 243, CC);
Para melhor compreensão do que foi dito acima, o objeto do negócio deve ser determinado ou pelo menos determinável. Flávio Tartuce esclarece que o próprio Código Civil afasta o rigor da certeza quanto ao objeto, apontando que na obrigação de dar coisa incerta, o objeto é ainda pendente de determinação. A determinação se dará pela escolha, também denominada de concentração. Nesses casos, não há que se falar em invalidade do negócio por indeterminação do objeto. Esse é um exemplo de incidência da regra constante no artigo 106 do CC.
Nas típicas situações de negócios jurídicos de alienação de coisas, caso dos contratos de compra e venda e de doação, o objeto deve, ainda, ser consumível, ou seja, deve ser alienável, ao passo que a venda ou a doação de bem inalienável (anteriormente denominados bens fora de comércio) é nula, por ilicitude do objeto ou fraude à lei (art. 166, II e VI do CC).
 III - Forma prescrita ou não defesa em lei – o terceiro requisito de validade do negócio jurídico é a forma, que é um meio de revelação da vontade. Em regra a forma é livre, salvo exigência legal (ex:. art. 107, CC).
Nesse sentido há alguns aspectos fundamentais a saber:
-    Livre (consensualismo);
-   Especial ou solene (exigida por lei - formalismo);
-  Contratual (convencionada pelas partes – art. 109, CC).
 Forma – conjunto de solenidades que devem ser observadas para que a declaração de vontade tenha eficácia jurídica. É o revestimento jurídico a exteriorizar a declaração de vontade.
Como regra, a validade da declaração de vontade NÃO depende de forma especial, senão quando a lei expressamente exigir. Desse modo, os negócios jurídicos, em regra, são informais, conforme prevê o artigo 107 do CC, que consagra o princípio da liberdade das formas.
Entretanto, em casos especiais, visando conferir maior certeza e segurança nas relações jurídicas, a lei disciplina a necessidade de formalidades, relacionadas com a manifestação de vontade. Nessas situações, o negócio não admitirá forma livre, sendo conceituado como negócio formal.
Relação entre solenidade de formalidade.
Solenidade -  significa necessidade de ato público (escritura pública), enquanto formalidade constitui qualquer exigência de qualquer forma apontada pela lei, como por exemplo, a de forma escrita. Assim pode-se dizer que forma é gênero da qual a solenidade é espécie.
A forma especial (solene) pode ser única (art. 108 CC – escritura pública essencial à validade das alienações imobiliárias); múltipla ou plural (quando o ato é solene mas a lei permite a formalização do negócio por diversos modos – art. 1609 CC – reconhecimento voluntário do filho que pode ser feito de quatro modos; art. 1806 CC – a renúncia à herança que pode ser feita por escritura pública ou por termo judicial).
Por fim, Silvio de Salvo Venosa bem explica em tom didático a diferenciação ao dizer que o “contrato solene entre nós é aquele que exige escritura pública. Outros contratos exigem forma escrita, o que os torna formais, mas não solenes. No contrato solene, a ausência de forma torna-o nulo. Nem sempre ocorrerá a nulidade, e a relação jurídica gerará efeitos entre as partes, quando se trata de preterição de formalidade, em contrato não solene”.
Em termos práticos, a diferenciação é pouco relevante, isso porque, havendo desrespeito à forma ou sendo preterida alguma solenidade prevista para o negócio, esse será nulo (artigo 166, IV e V do CC).
Ressalte-se que estatui o artigo 109 do Código Civil, segundo o qual “no negócio jurídico celebrado com cláusula de não valer sem instrumento público, este é substância do ato”. Portanto, podem as partes, por ato de vontade e visando à segurança, prever que o negócio deva atender as solenidades.
A imposição do negócio solene pode ser, portanto, convencionada entre as partes.
As formalidades ou solenidades previstas em lei têm ainda, por finalidade, garantir a autenticidade do negócio, para, eventualmente, facilitar sua prova, bem como garantir que a autonomia privada seja preservada, objetivando sempre a certeza e a segurança jurídica.
Nesse sentido, vale lembrar a regra do artigo 108 do Código Civil que enuncia que “a escritura pública somente será exigida para negócio jurídicos que visam a constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis, com valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no país”.

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