Prévia do material em texto
Prof. Marcelo Depieri UNIDADE II Indicadores Econômicos e Sociais O mercado de trabalho no Brasil nunca foi muito estruturado. Baltar (2014) chama a atenção para o restrito papel exercido pelo poder público no tocante à estruturação do mercado de trabalho, de maneira a destacar que o poder público não se empenhou, de forma suficiente, historicamente a: a) Organizar a entrada e a saída das pessoas no mercado de trabalho; b) Evitar a elevada rotatividade nos empregos; c) Aumentar o poder de compra das remunerações dos trabalhadores, de acordo com o avanço da produtividade, decorrente do desenvolvimento econômico; d) Facilitar o fortalecimento da organização sindical dos trabalhadores e a contratação coletiva do trabalho, colaborando a superar a resistência patronal e a organização de seus empregados. O perfil social do desemprego Os efeitos disso são diversos, podendo-se salientar que a alta rotatividade dificultou o desenvolvimento profissional e as ocupações não garantiam o eixo para uma melhor estruturação da sociedade. Apesar do intenso desenvolvimento econômico, do elevado crescimento do emprego e do aumento da produtividade, a massa salarial não aumentou proporcionalmente a esses ganhos do valor agregado; o que prevaleceu foi a baixa participação dos salários na renda. Ao impossibilitar uma ampliação mais generalizada do poder de compra dos salários, o resultado foi uma distribuição de renda muito desigual e concentrada numa estreita cúpula da população. O perfil social do desemprego A taxa de desemprego usualmente utilizada é calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ocupados são aqueles que declaram estar ocupados na semana da pesquisa. Porém, para capturar a parcela mais significativa do desemprego oculto pelo desalento, optou-se por ampliar para dois meses o tempo de procura por ocupação que, atualmente, no desemprego aberto oficial se limita ao mês em que é realizada a PNAD. O perfil social do desemprego TABELA – Brasil: % dos desocupados na PEA O perfil social do desemprego Fonte: Quadros (2009) TABELA – Composição social dos desocupados no Brasil O perfil social do desemprego Fonte: Quadros (2009) Estratos sociais 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Proporção de desocupados (%) Alta classe média 4,4 3,7 3,2 3,9 4,3 4,6 Média classe média 8,4 7,4 7,2 8,5 8,8 9,9 Baixa classe média 26,7 26,5 26,3 29,9 31,0 33,5 Massa trabalhadora 27,7 27,4 30,2 36,9 35,5 33,2 Miseráveis 22,4 24,2 23,8 12,1 12,5 10,6 Indigentes 10,3 10,7 9,3 8,7 7,8 8,3 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Proporção de ocupados (%) Alta classe média 8,4 8,1 7,5 8,3 9,3 9,8 Média classe média 12,6 11,2 11,8 12,7 13,7 15,1 Baixa classe média 32,8 33,9 32,7 36,4 38,1 39,5 Massa trabalhadora 29,1 29,1 31,5 34,1 31,4 29,0 Miseráveis 17,1 17,7 16,5 8,5 7,6 6,6 Indigentes - - - - - - Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 TABELA – Faixa etária dos desocupados no Brasil, 2007 O perfil social do desemprego Fonte: Quadros (2009) Faixas etárias n° de pessoas (mil) % 10-14 anos 274 2,8 15-19 anos 2.327 23,5 20-24 anos 2.184 22,1 25-29 anos 1.499 15,2 30-34 anos 1.006 10,2 35-39 anos 802 8,1 40-44 anos 627 6,4 45-49 anos 491 5,0 50-54 anos 317 3,2 55-59 anos 191 1,9 60-64 anos 97 1,0 65 ou + anos 64 0,6 Total 9.880 100,0 O perfil social do desemprego Fonte: Quadros (2009) TABELA – Faixa etária, cor e gênero dos desocupados (em %) – Brasil – 2007 Faixas etárias Homem branco Mulher branca Homem negro Mulher negra Total 10-14 anos 19,8 14,0 41,9 24,3 100,0 15-19 anos 20,4 24,5 26,5 28,5 100,0 20-24 anos 17,5 26,6 23,9 32,0 100,0 25-29 anos 15,7 28,4 19,9 36,0 100,0 30-34 anos 14,1 29,9 19,4 36,6 100,0 35-39 anos 13,9 32,4 18,3 35,5 100,0 40-44 anos 16,6 27,8 20,5 35,0 100,0 45-49 anos 20,5 30,5 20,3 28,8 100,0 50-54 anos 24,9 24,7 27,0 23,4 100,0 55-59 anos 32,2 20,4 27,0 20,3 100,0 60-64 anos 33,4 14,3 30,9 21,4 100,0 65 ou + anos 37,6 14,9 34,4 13,1 100,0 Total 18,2 26,8 23,4 31,6 100,0 Sobre o perfil social do desemprego, assinale a alternativa correta. a) De acordo com o IBGE, é considerada desocupada a pessoa que não está exercendo atividade alguma. b) O mercado de trabalho brasileiro sempre foi estruturado, apresentando uma piora somente na década de 1990. Interatividade c) O Estado brasileiro atuou sempre com o intuito de diminuir a rotatividade do emprego. d) Ocupados são aqueles que declaram estar ocupados na semana da pesquisa ou os que estão ocupados na busca por um emprego. e) Apesar do intenso desenvolvimento econômico, do elevado crescimento do emprego e do aumento da produtividade, a massa salarial não aumentou proporcionalmente a esses ganhos do valor agregado. Interatividade A transformação social vivida após os anos 2000 necessita de análises mais profundas para a real verificação do surgimento de uma nova classe média. Sobre esse tema, a leitura será calcada na análise minuciosa do economista e pesquisador Marcio Pochmann. Em Nova classe média? O trabalho na base da pirâmide social brasileira (2012) e O mito da grande classe média: capitalismo e estrutura social (2014). O trabalho na base da pirâmide social brasileira: a nova classe média? Apesar de uma massa de trabalhadores terem ascendido socialmente, ainda os feitos não são suficientes para torná-los classe média. No debate da sociologia e da ciência política, para se tornar classe média é preciso não apenas o acesso ao mercado de consumo, mas escolaridade, empregos qualificados, acesso à cultura e esses elementos ainda não foram conquistas pela chamada nova classe média. A informalidade sempre foi parte da caracterização do mercado de trabalho brasileiro. Porém, estava presente onde o mercado de trabalho não estava organizado pelas empresas privadas (grandes e médias) e pelo setor público. Portanto, era composto por uma parcela da população que buscava trabalho para obter renda a partir de ocupações por conta própria ou até sem remuneração nos pequenos negócios autônomos. O trabalho na base da pirâmide social brasileira: a nova classe média? O grau de informalidade, nos anos 2000, reduziu significativamente, dado o quadro histórico, porém o abandono do projeto de desenvolvimento nacional, principalmente a partir dos anos 1980, levou a uma situação de baixo crescimento econômico com pouca dinamização setorial, o que resultou numa incapacidade de expandir emprego no mesmo patamar do crescimento da população economicamente ativa. A situação de informalidade não foi contida, entre outros elementos, uma vez que não houve transformações estruturais mais profundas, como reformas clássicas do capitalismo contemporâneo: agrária, tributária e social. O trabalho na base da pirâmide social brasileira: a nova classe média? Gráfico – Brasil: evolução do saldo das ocupações segundo a faixa de remuneração. O trabalho na base da pirâmide social brasileira: a nova classe média? Fonte: Pochmann, 2012 Anos 1980 Anos 1990 Anos 2000 25.000.000 20.000.000 15.000.000 10.000.000 5.000.000 -5.000.000 -10.000.000 0 Anos 1970 Sem remuneração 3 a 5 s.m Até 1,5 s.m Mais de 5 s.m 1,5 a 3 s.m Total Essas mudanças vistas no gráfico representaram um avanço das ocupações na base da pirâmide social brasileira. Além do fato da ampliação de criação de vagas, de 11 milhões de postos de trabalho para 21 milhões de postos de trabalho, entre os anos 1990 e 2000, um grande volume de empregos criados ficaram concentrados na base da pirâmidesocial, o que contribuiu para a redução da desigualdade entre as diferentes remunerações do trabalho. O trabalho na base da pirâmide social brasileira: a nova classe média? Ainda de acordo com a pesquisa de Pochmann (2012), no caso dos trabalhadores de salário de base de até 1,5 salário mínimo mensal, houve uma concentração nas seguintes atividades, nos anos 2000: Serviços: 6,1 milhões de novos postos de trabalho, o equivalente a 31% da ocupação total; Comércio: 2,1 milhões de novos postos de trabalho; Construção civil: 2 milhões; Escriturários: 1,6 milhão; Indústria têxtil e de vestuário: 1,3 milhão; Atendimento ao público: 1,3 milhão. O trabalho na base da pirâmide social brasileira: a nova classe média? Gráfico – Brasil: composição das ocupações geradas para trabalhadores de salário de base segundo o sexo. O trabalho na base da pirâmide social brasileira: a nova classe média? Fonte: Pochmann, 2012 70 60 50 40 30 20 10 0 Anos 1980 Anos 1990 Anos 2000 Masculino Feminino Gráfico – Brasil: saldo líquido de ocupações geradas para trabalhadores de salário de base segundo a faixa de escolaridade. O trabalho na base da pirâmide social brasileira: a nova classe média? Fonte: Pochmann, 2012 11.000.000 9.000.000 7.000.000 5.000.000 3.000.000 1.000.000 -1.000.000 -3.000.000 -5.000.000 Anos 1990Anos 1980 Anos 2000 Nunca estudou Ensino Superior Ensino Fundamental Mestrado ou doutorado Ensino Médio Nos anos 2000, houve uma expansão do trabalho assalariado com carteira de trabalho: “para cada grupo de dez ocupações abertas para trabalhadores de salário de base, sete foram de empregos formais, e a cada vaga aberta de emprego assalariado informal, três outras eram criadas para o trabalho com carteira assinada” (POCHMANN, 2012, p. 38). Essa ampliação da formalização do mercado de trabalho é importante, pois garante proteção social aos trabalhadores, principalmente previdência social. Isso se deve porque a previdência social cobre apenas os trabalhadores formalizados do mercado de trabalho ou aqueles que pagam autonomamente. Além disso, é importante lembrar que o trabalho formal também garante outros direitos trabalhistas, como férias remuneradas, descanso semanal, entre outros. O trabalho na base da pirâmide social brasileira: a nova classe média? Assinale a alternativa correta sobre o debate da “nova classe média”. a) É consenso que para se tornar classe média basta ocorrer um aumento nos salários. b) O Brasil, nos anos 2000, tornou-se um país de classe média. Interatividade c) No debate da sociologia e da ciência política, para se tornar classe média é preciso não apenas o acesso ao mercado de consumo, mas escolaridade, empregos qualificados, acesso à cultura, e esses elementos ainda não foram conquistados pela chamada nova classe média. d) Na sociologia e na ciência política, o acesso ao consumo é suficiente para diferenciar se uma família pertence ou não à classe média. e) Os empregos menos qualificados não foram ampliados na década dos anos 2000, por isso não podemos levantar a hipótese de uma nova classe média. Interatividade Objetivos dos indicadores: busca por uma melhor compreensão da realidade de um país. Indicadores sociais Um avanço em relação ao uso exclusivo de indicadores econômicos, como o PIB – Produto Interno Bruto. Se o PIB de determinado país mede quanto uma nação produziu em determinado ano, índices como o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano e o Índice de Gini procuram chamar atenção para temas como saúde, educação e distribuição de renda. Limites: indicadores como o PIB, IDH, Índice de Gini e até mesmo os indicadores calculados pelo IBGE mostram apenas parte da realidade socioeconômica. O Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores Realidade socioeconômica brasileira: ir além dos indicadores. Utilizando dados, informações e análises estruturais da sociedade, tais como: Concentração de terras; Processo de industrialização; Orçamento público; Tributação. O Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) agrega variáveis de renda, de saúde e de educação. Variável de renda: renda per capita. O quanto a economia de um determinado país produziu em relação à sua população. Variável de saúde: expectativa de vida. A média de anos que as pessoas vivem nos países (esperança de vida ao nascer). Variável de educação: taxa de alfabetização; número de matriculados nos ensinos (fundamental, médio e superior) por quantidade de pessoas na faixa etária entre 6 e 22 anos de idade. O Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores De acordo com o IDH, o Brasil é um país que é considerado com um médio desenvolvimento. Gráfico 1 - Índice de Desenvolvimento Humano, 2015 – países selecionados. O Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores Fonte: Relatório PNUD, 2016. Índice de Gini: expressa a desigualdade de renda de um país. Um valor de zero expressa uma igualdade absoluta de renda e um valor de 100 uma desigualdade absoluta. Ou seja, quanto mais próximo de 0 melhor será a distribuição de renda do país e quanto mais próximo de 100 pior será a distribuição de renda. Gráfico 2 – Índice de Gini – Média, países selecionados. O Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores Fonte: Relatório PNUD - 2016 Tabela 2 – Brasil: Evolução da concentração de terra no Brasil 2003/2010/2014 O Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores Fonte: Sistema Nacional de Cadastro Rural (adaptado) Classificação Imóveis 2003 2010 2014 Número de Imóveis Área ocupada (%) Número de Imóveis Área ocupada (%) Número de Imóveis Área ocupada (%) Minifúndio 2.736.052 9,3% 3.318.077 8,2% 3.761.005 7,8% Pequena Propriedade 1.142.937 17,7% 1.338.300 15,5% 1.462.861 14,7% Média Propriedade 297.220 21,1% 380.584 19,9% 402.809 17,9% Grande Propriedade 112.463 51,3% 130.515 55,8% 135.294 59,5% 1) Improdutiva 58.331 31,9% 69.233 40,0% 65.047 27,1% 2) Produtiva 54.132 19,4% 51.282 15,8% 65.840 14,9% Total 4.290.482 100% 5.181.645 100% 5.761.969 100% Industrialização brasileira. Crescimento econômico e industrial. Desigualdades sociais: utilização de capital intensivo. Desigualdades regionais: concentração dos investimentos nas regiões sul e sudeste. Bens e serviços mal distribuídos: população urbana não possui bens e serviços essenciais de qualidade. O Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores O Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores Fonte: Senado Federal Carga tributária e variações por base de incidência (2016 x 2015) O Brasil real: a desigualdade para além dos indicadores Fonte: FGV Arrecadações Incidência 2015 2016 Valor (R$ milhões) % da Arrecada ção % do PIB Valor (R$ milhões) % da Arrecad ação % do PIB Renda 352.368,74 18,30% 5,88% 404.817,40 19,97% 6,47% Folha de salários 502.676,82 26,11% 8,38% 533.235,87 26,31% 8,52% Propriedade 85.572,80 4,44% 1,43% 94.602,37 4,67% 1,51% Bens e Serviços 950.610,78 49,37% 15,85% 960.556,63 47,39% 15,35% Transações Financeiras 34.686,30 1,80% 0,58% 33.644,91 1,66% 0,54% Outros -464,30 -0,02% -0,01% 157,30 0,01% 0,00% Total 1.925.451,14 100% 32,11% 2.027.014,48 100% 32,38% Sobre a realidade social do Brasil, assinale a alternativa correta. a) O IDH brasileiro está inserido no campo dos países com alto desenvolvimento. b) Por meio dos indicadoreseconômicos e sociais, podemos ter perfeita noção da realidade social brasileira. Interatividade c) De acordo com o Índice de Gini, o Brasil possui uma das piores distribuições de renda. d) Para a melhor compreensão da realidade social brasileira, é importante a análise de pontos estruturais da sociedade brasileira, além dos indicadores, tais como: a concentração de terras, o processo de industrialização, o orçamento público e a tributação no país. e) O IDH brasileiro é considerado de médio desenvolvimento, o que coloca o país em uma melhor posição do que todos seus vizinhos da América Latina no ranking dos países mais desenvolvidos. Interatividade A economia e a sociedade brasileiras tiveram significativas mudanças a partir do início do Plano Real, em 1994. No período anterior, que envolve a década de 1980 e início dos anos de 1990, a economia sofria com uma elevada inflação crônica, com características de hiperinflação. Além disso, o baixo crescimento, a demanda reprimida, o elevado desemprego e as dificuldades fiscais e cambiais também foram aspectos recorrentes do período anterior a 1994. Governos FHC, Lula, Dilma e Temer. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências O Plano Real teve seu início em 1993 no governo de Itamar Franco. Esse plano foi elaborado após o insucesso dos planos de estabilização de combate à inflação que foram adotados ao longo da segunda metade da década de 1980 e do início da década de 1990. O principal objetivo do Plano Real era reduzir e controlar a elevada inflação vigente no período. Além disso, ressalta-se que no início dos anos 1990, houve uma maior abertura da economia brasileira ao exterior, renegociação da dívida externa e privatizações. Como a inflação foi diagnosticada com um significativo componente inercial, o Plano Real foi adotado de forma gradual por meio da chamada “substituição natural” da moeda. Além disso, o déficit público também foi considerado um dos fatores que impactavam a inflação e que deveria ser revertido. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências Para o controle dos preços internos, ainda no final do governo Itamar foi mantida a chamada âncora cambial, com a taxa de câmbio muito valorizada, chegando a R$ 0,84/US$ em novembro de 1994. Se por um lado esse processo trouxe resultados positivos para a diminuição nos preços, uma vez que o aumento do número de produtos importados na economia pressionava a baixa dos preços dos produtos nacionais, por outro trouxe resultados negativos em termos produtivos, pois muitas empresas não estavam preparadas para a concorrência dos produtos importados. Já no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), destaca-se a chamada âncora monetária, com a manutenção de uma taxa de juros muito elevada, especialmente para atrair recursos externos. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências Fonte: Pochmann, 2010, p. 639. A estabilização da inflação proporcionou uma recomposição dos mecanismos de crédito e uma maior capacidade de os agentes econômicos elaborarem prognósticos. No entanto, apesar de uma demanda que estava reprimida, as perspectivas, de que com a estabilização da inflação ocorreria uma forte retomada do crescimento econômico, não se concretizaram. A taxa de crescimento econômico médio de 1995 a 1998 foi de 2,5%. No início do segundo governo FHC, em 1999, foi implementada uma nova base da política macroeconômica, o chamado tripé. Os pilares do tripé são: 1) Sistema de metas de inflação; 2) Superávit primário; e 3) Câmbio flutuante. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências No primeiro mandato de Lula, houve a manutenção do tripé macroeconômico, uma revisão das metas de inflação e de superávit primário e a taxa de juros muito elevada. Ademais, houve a implementação do programa de transferência de renda “Bolsa Família”, com o intuito de reduzir a extrema pobreza no País e a política de valorização do salário mínimo. O cenário econômico externo se apresentava positivo, especialmente no que se refere à alta dos preços das commodities, impactando positivamente na economia brasileira. Ressalta-se que o governo conseguiu atingir as metas definidas, com diminuição do endividamento, acúmulo de reservas, melhora nas transações correntes e no desempenho econômico. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências A partir do início do segundo mandato de Lula, em 2007, a política econômica adotada tinha como objetivo fomentar o crescimento econômico. Além de um relevante crescimento econômico com estabilização do nível de preços e equilíbrio fiscal, o governo Lula teve sucesso diante da crise internacional e foi reconhecido como o governo que criou empregos e diminuiu a pobreza. Portanto, além de resultados positivos em termos econômicos, registrou importantes avanços sociais e regionais. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências No último ano do mandato Lula (2010), sua aprovação estava muito elevada. Assim, nas eleições presidenciais, o PT conseguiu eleger Dilma Rousseff para presidência. Como principais medidas econômicas adotadas no primeiro mandato, destacam-se: Redução dos juros: o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a taxa básica de juros (Selic) de 12,50% para 7,25%, entre 2011 e 2013, chegando ao menor nível até então. Financiamentos do BNDES. Desonerações tributárias: diversos setores da economia foram desonerados, com destaque para folhas de pagamento, IPI e PIS/Cofins. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências Apesar das medidas econômicas que visavam impulsionar a economia, iniciou-se uma tendência de piora dos indicadores de nível de atividade, do mercado de trabalho, aumento da inflação e piora nas contas públicas. Adicionalmente, o contexto internacional estava ruim, com destaque para a piora da crise da Europa a partir de 2011. O crescimento do PIB reduziu, passando de 3%, em 2013, para 0,5%, em 2014. Com a diminuição do crescimento econômico combinado com as desonerações fiscais, houve uma piora das contas públicas. Além disso, o avanço da operação Lava Jato não só aumentou o descontentamento da população sobre a classe política no que se refere à corrupção, mas também impactou o desempenho da economia. Foi nesse contexto que ocorreram as eleições presidenciais de 2014, nas quais houve uma disputa acirrada entre a presidenta Dilma e o candidato do PSDB, Aécio Neves. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências Com a piora da crise econômica e política, a presidenta Dilma sofreu um impeachment em 2016, assumindo seu vice, Michel Temer. Temer alterou a equipe econômica e aprofundou as medidas restritivas que vinham sendo colocadas em prática no governo Dilma. O impeachment da presidenta Dilma pode ser analisado no âmbito da disputa de interesses entre as diferentes classes sociais no Brasil. De acordo com Armando Boito Jr. (2016), as duas características interligadas que foram definidoras da crise política no Brasil foram: “a ofensiva política restauradora da direita neoliberal [...] e a decisão do governo neodesenvolvimentista de Dilma Rousseff de adotar uma política de recuo passivo diante de tal ofensiva”. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências A despeito das incertezas políticas, o governo Temer conseguiu a aprovação de duas agendas estruturais com o apoio dos congressistas. A primeira delas foi no âmbito fiscal, com a aprovação da Emenda Constitucional 95, no final de 2016. Essa medida congelou os gastos públicos por vinte anos. A outra medida estrutural do governo Temer foi a Reforma Trabalhista, aprovada no segundo semestrede 2017. Essa reforma liberaliza o mercado de trabalho brasileiro com medidas que fragilizam os empregados em favor dos empresários, retirando da legislação alguns direitos trabalhistas. Dentre as alterações, uma das importantes medidas diz respeito ao campo das negociações entre trabalhadores e empresários. Economia e sociedade brasileiras e suas tendências As medidas adotadas durante o governo Temer, a Emenda Constitucional 95 e a Reforma Trabalhista, podem trazer uma série de efeitos econômicos e sociais, dentre eles podemos citar: a) Aprofundamento da desigualdade social, precarização do mercado de trabalho e piora dos serviços públicos ofertados. b) Aumento da oferta de empregos, mas com precarização do trabalho e melhora na oferta dos serviços públicos. Interatividade c) Aprofundamento da desigualdade de renda e crescimento econômico. d) Melhora da distribuição de renda e precarização do trabalho. e) Aumento da oferta de emprego e redução da desigualdade social. Interatividade ATÉ A PRÓXIMA!