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Disciplina: Didática Aula 10: Trabalho docente Apresentação A ideia é despertar um olhar crítico sobre os fatos, deixando claro que entre teoria e prática sempre existirão lacunas, cabendo ao professor comparar dialeticamente essas duas lógicas e buscar a superação, a transformação, perseguindo novas respostas a partir do lugar que ocupa na sociedade. Esse é o papel do professor pesquisador: aquele que constata a realidade e age sobre essa mesma realidade, tomada como seu próprio objeto de estudos, transformando- a, construindo uma nova ordem social. Bons estudos! Objetivos Estabelecer a articulação entre teoria e prática; Reconhecer que a prática deve ser compreendida à luz das teorias no campo da educação; Avaliar os fenômenos educativos à luz das teorias; Estabelecer a aproximação do aluno do curso de formação docente da realidade escolar. Analisando os Fenômenos Educativos à Luz das Teorias no Campo da Educação Na turma A, os alunos pareciam desanimados, apáticos e infelizes. Na turma B, todos os alunos estavam atentos e interessados. O que produziu a diferença? Turma A Na turma A, o professor chamou um dos alunos para definir uma palavra. O aluno deu a ideia correta da palavra, mas não a apresentou numa sentença completa. Tudo o que o professor disse foi: “Errado!” O aluno ficou constrangido e escorregou na carteira, inibido por ter falhado perante o grupo. Turma B Na turma B, a professora pediu a definição de museu. Um aluno disse: “É um lugar onde ficam os peixes”. No lugar de dizer “errado”, a professora perguntou: “De onde você tirou essa ideia?” O aluno explicou: “Quando era criança, fui a um museu e lá vi o esqueleto de uma baleia”. ”É verdade” — disse a professora. “De fato, existem esqueletos de peixes em museus, mas o lugar onde se colocam os peixes vivos é...” Alguém disse: “Um aquário”. A professora da turma B, ao contrário do professor da turma A, tinha curiosidade em saber como o aluno adquire a ideia, como aprende, incentivando a turma a se envolver no assunto. Ela construiu algo sobre o que já existia em suas mentes. Estava preocupada com o processo de aprendizagem – o efeito da experiência sobre o desenvolvimento do aluno, e não simplesmente com os resultados. Podemos dizer que o professor da turma A respalda a prática na pedagogia tradicional, na medida em que encerra a discussão, falando que a resposta do aluno estava errada, incompleta, ou seja, não estava da forma como ele, certamente, determinou previamente. Assim, fica evidente que o professor trata o conteúdo como verdade absoluta, não admitindo discussão, não incentivando a participação dos educandos, não os incluindo no processo de aprendizagem. Educação bancária No centro do processo, é o professor que detém o saber e espera que o aluno assimile-o passivamente. A esse modelo, o autor denominou de educação bancária, enciclopedista, conteudista. Segundo Paulo Freire (1987) (p. 57- 58): 01 A educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. Em lugar de comunicar-se, o educador faz comunicados e depósitos que os educandos, meras incidências recebem pacientemente, memorizam e repetem [...] 02 A única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los [...] no fundo, os grandes arquivados são os homens [...] arquivados, porque, fora da busca, fora da práxis, os homens não podem ser. 03 Educador e educandos se arquivam na medida em que; nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros. [...] 04 Na visão bancária da educação, o ‘saber’ é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro. 05 O educador que aliena a ignorância se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processos de busca. Escolas matam a criatividade? A relação aluno - professor é marcada pela hierarquia, pelo distanciamento e formalidade. O aluno não se sente representado no currículo escolar, pois não participa como sujeito protagonista do processo de aprendizagem. Paulo Freire nos diz que no modelo da educação bancária não há criatividade, não há transformação e não há saber. Como a escola poderia se transformar? É impossível discutir Educação sem citar Ken Robinson. Ele escreveu dez livros, lecionou em diversas universidades britânicas e recebeu dezenas de prêmios. Mas ele é mais conhecido pelas suas palestras no TED. Assista a seguir “Porque escolas matam a criatividade”, onde Ken Robinson expõe suas ideias a respeito da necessidade de uma revolução do sistema educacional, e não de uma simples reforma. Essa mudança não consistiria em uma melhoria de um modelo falho, mas uma reforma que o transformaria em algo novo, e por vezes melhor. Porque escolas matam a criatividade. https://www.youtube.com/embed/vIuu2m0C1RU A cultura do silêncio Na condição da educação bancária, o aluno é o sujeito passivo e sua formação é meramente reprodutora, contribuindo apenas para garantir a manutenção da estrutura social vigente, ou seja, garantir o status quo. Paulo Freire (1987, p. 59) sinaliza para a cultura do silêncio e acrescenta que, nesse caso: 1 O educador é o que educa; os educandos são educados. 2 O educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem. 3 Educador é o que pensa; os educandos, os pensados. 4 O educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente. 5 O educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados. 6 O educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos, os que seguem a prescrição. 7 O educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na atuação do educador. 8 O educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, jamais ouvidos nesta escolha, acomodam-se a ele. 9 O educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar- se às determinações daquele. 10 O educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos. Aula teórica X prática Vamos observar dois tipos de aula: Aula 1 Na primeira aula, o professor disserta sobre o conceito de mamífero de forma abstrata e universal. Repare que os alunos desconhecem o conceito, têm dúvidas, interrogações. Aula 2 Já na segunda aula, o professor demonstra “ao vivo e a cores” o conceito de mamífero para que o aluno visualize, na prática, o conceito de mamífero. Podemos dizer que a aula 1 foi respaldada na pedagogia tradicional e a aula 2 foi respaldada pelo modelo escola-novista, com influências de J. Dewey e J. Piaget. Aula prática No modelo escola-novista, os alunos aprendem fazendo, vendo, no plano concreto, debruçando-se diretamente sobre o objeto de estudos, o que facilita o aprendizado, na medida em que mobiliza positivamente a motivação dos estudantes em participar ativamente do processo de aprendizagem. Mostrar “ao vivo e a cores” o objeto de estudos não garante a visão crítica sobre o que se está estudando, pois qual o sentido desta prática? Se desejamos formar o aluno criticamente frente ao mundo, precisamos levantar questionamentos a respeito do objeto de estudos. Talvez um debate sobre a alimentação, o direito a uma necessidade básica; discutir sobre a miséria,sobre a fome, sobre a desigualdade social. Podemos dizer o mesmo a respeito de aulas em que o professor solicita aos alunos que plantem o feijão no algodão para que eles estudem, conheçam as partes do vegetal; mas, se a aula parar por aí, apenas na demonstração, apesar de prática, não abriremos espaço para que os alunos manifestem suas inquietações frente à realidade vivida. A construção de uma nova ordem social Cabe ao professor contribuir para a formação crítica, emancipada e transformadora dos educandos, instigando-os a pensar criticamente, visando construir uma nova ordem social. Em outras palavras, o professor os faz acreditar que os fatos não são inexoráveis, não estão consumados por uma ideologia dominante de que eles não são capazes de terem acesso a uma alimentação de qualidade, dentre outras necessidades, tais como educação, lazer, transporte, moradia, saúde, segurança, trabalho etc. Note que a educação pode funcionar como um instrumento de opressão ou libertação e transformação, e que isto não ocorre apenas na relação aluno - professor, mas que a partir da prática docente, é possível contribuir para transformar o sistema. O vídeo a seguir é uma cena do filme Sociedade dos Poetas Mortos, onde conta que em 1959, na Welton Academy, em uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno volta à instituição como o novo professor de literatura, mas logo seus métodos de incentivar aos alunos a pensarem por si mesmos cria um choque com a ortodoxa direção do colégio. Isso ocorre, principalmente, quando o docente trata da "Sociedade dos Poetas Mortos" com seus alunos. Ficha técnica: DEAD Poets Society = SOCIEDADE dos poetas mortos. Intérpretes: Robin Williams, Ethan Hawke, Robert Sean Leonard. EUA: Disney / Buena Vista, 1989. 128 min., son., color. https://www.youtube.com/embed/cpfNJGl0bks Não é de estranhar, pois, que nesta visão bancária da educação, os homens sejam vistos como seres da adaptação, do ajustamento, que se conformam com os fatos. Quanto mais se exercitem os educandos no arquivamento dos depósitos que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão em si a consciência crítica de que resultaria a sua inserção no mundo, como transformadores dele. Quanto mais se lhes imponha passividade, tanto mais ingenuamente, em lugar de transformar, tendem a adaptar-se ao mundo, à realidade parcializadas nos depósitos recebidos. Na medida em que esta visão bancária anula o poder criador dos educandos ou o minimiza, estimulando sua ingenuidade e não sua criticidade, satisfaz aos interesses dos opressores: para estes, o fundamental não é o desnudamento do mundo, a sua transformação [...] O que pretendem os opressores é transformar a mentalidade dos oprimidos e não a situação que os oprime, e isto para que, melhor adaptando-os a esta situação, melhor os dominem. Paulo Freire, 1987, p. 60. O que é Práxis? De acordo com Vázquez, o homem comum só concebe a prática como prática- utilitária, isto é, aquilo que ele usa para satisfazer as necessidades imediatas da vida cotidiana, o que não é suficiente quando pensamos em construir um mundo mais justo, digno, democrático e, portanto, melhor de se viver. O homem crítico e não pragmatista apenas tem um olhar mais amplo e não imediatista, individualista, pois está comprometido com o mundo, e não apenas consigo mesmo. Nessa perspectiva, a práxis, por sua vez, é: A atividade humana que produz objetos, sem que, por outro lado, essa atividade seja concebida com o caráter estritamente utilitário que se infere do prático na linguagem comum [...] A práxis é a atividade humana transformadora da realidade natural e humana. Vázquez, 1977, p.5-32. Saiba mais Diferença entre prática e práxis É preciso reforçar que não é suficiente uma aula prática para formar um aluno crítico, pois, o sentido da prática pode se perder caso o professor não tenha esses valores interiorizados dentro de si; se a sua própria formação docente é acrítica e pragmatista. Muitos pensam que propor uma aula prática, lúdica, dinâmica, experimental, em laboratórios e aulas-passeio é uma solução para os problemas da educação, para os problemas sociais, mas há uma diferença substancial entre as palavras prática e práxis. Para Vázquez, A prática tem uma dimensão prático-utilitária quando tenta resolver apenas as necessidades imediatas. O homem comum, segundo o autor, “considera a si mesmo como o verdadeiro homem prático; é ele que vive e age praticamente”. Dentro de seu mundo, as coisas não apenas são e existem em si, como também são e existem, principalmente, por sua significação prática, na medida em que satisfazem necessidades imediatas de sua vida cotidiana [...] o mundo prático – para a consciência comum – é um mundo de coisas e significação em si. Práticas pedagógicas Como atividade humana, a prática pedagógica pode se constituir em atividade de prática, numa visão utilitarista, ativista e espontaneísta, ou sem uma práxis guiada por intenções conscientes. Dessa forma, ela toma uma dupla diretriz: de um lado, temos uma prática pedagógica repetitiva e, de outro, reflexiva (Veiga, 1989). Na pratica pedagógica repetitiva, a unidade teoria e prática é rompida, a fragmentação do conhecimento encontra espaço para efetivar-se, havendo dificuldades para a introdução do novo. Neste terreno, a prática do professor vai se efetivando num marasmo respaldado pela rígida burocracia e controle escolares (Veiga, 1989). As ações do professor não são mais pensadas, ele faz por fazer, sem conhecimento de causa, sem saber por que fazer; ele executa porque lhe determinaram e não porque está consciente do valor ou não da ação na vida dos cidadãos. [no cotidiano da atividade docente] as ações parecem acontecer sem dúvidas nem reflexões, num ativismo sem precedentes, o qual pode levar o professor a alienar-se do seu trabalho e dos seus pares, correndo o risco de não se reconhecer no que realiza. Veiga, 1989. Embora haja nele certa consciência, mesmo débil, em relação à sua prática, esta tende a desaparecer pelo caráter mecânico e burocratizado dessa prática. As condições concretas de trabalho do professor transformam-no no último elo de uma cadeia rígida de poder, motivo pelo qual ele se sente impelido a cumprir um papel no qual não se reconhece. Regimento Escolar Na sala de aula, o trabalho do professor é condicionado pelo regimento escolar, pelas leis do sistema de ensino, pelas relações de emprego e pela formação deficiente e inadequada que possui. Regimento escolar é o documento administrativo e normativo de uma unidade escolar que, fundamentado na proposta pedagógica, estabelece a organização e o funcionamento da escola e regulamenta as relações entre os participantes do processo educativo. Regimento escolar. (Fonte: Sean K / Shutterstock) Saiba mais Legislação Básica para elaboração do Regimento Escolar: Lei 9394/96 <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9394.htm> – Lei de Diretrizes e Bases da Ed. Nacional; Deliberação CEE 10/97 <http://www.lite.fe.unicamp.br/cee/d1097.html> – Fixa normas para elaboração do Regimento dos estabelecimentos do Ensino Fundamental e Médio; Indicação CEE 9/97 <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/diretrizes_p0820- 0830_c.pdf> – Diretrizes para elaboração do Regimento das escolas no Estado de São Paulo; Indicação CEE 13/97 <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/diretrizes_p0942- 0946_c.pdf> – Diretrizes para elaboração do Regimento das escolas no Estado de São Paulo; Indicação CEE 67/98 <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/diretrizes_p1022- 1048_c.pdf> – Normas Regimentais Básicas para as Escolas Estaduais. Praxis humana total É preciso ter uma consciência elevada da práxis para poder captar e exprimir de modo adequado o verdadeirosignificado da práxis humana total e de suas manifestações particulares, concretas e específicas, como é o caso da prática pedagógica. Essa prática, como forma específica de práxis, é uma dimensão da prática social dirigida por objetivos, finalidades e conhecimentos, vinculada com a prática social mais ampla Veiga, 1989. Isso significa que, se desejamos contribuir para uma formação mais crítica, para uma sociedade mais democrática, mais justa, cabo ao professor ser, igualmente, crítico, e não mero reprodutor de práticas alheias. Senso de coletividade Cabe ao professor despertar no educando o senso de coletividade, o desejo de ir além do imediatismo, compreendendo a educação como instrumento de transformação de realidades sociais, e não apenas para mobilizar a motivação pessoal, o interesse pessoal, visando à aprovação no final do ano letivo. É preciso querer mais para os nossos alunos: que eles, de fato, se comprometam socialmente com o que estão fazendo, estudando, afinal, o que ficamos fazendo anos sentados nos bancos escolares, não é mesmo? Cabe ao professor despertar no educando o senso de coletividade. (Fonte: Lopolo / Shutterstock) Construindo uma sociedade O projeto de escola deverá ser mais aberto, e não apenas responder aos interesses de uma sociedade capitalista, respaldada na lógica do mercado, e, portanto, individualista e competitiva. Em se tratando de educação, podemos compreendê-la como superação, contribuição, mudança social, construção de uma sociedade mais solidária e humana. Avaliação Tradicional X Avaliação Construtivista/ Progressista No caso desta charge, o professor respalda a prática no modelo tradicional, na medida em que compara os alunos reforçando a fragilidade de Alcides, expondo-o publicamente, o que mobiliza negativamente sua autoestima. Posturas como essa do professor fazem os alunos temerem as avaliações. A avaliação do rendimento escolar acaba por se constituir como um instrumento de reprodução das relações de poder típicas de uma sociedade dividida em classes sociais. Em outras palavras, ela se constitui como um elemento de seleção “natural” entre os que sabem e os que não sabem, entre os que se dedicam e os que não se dedicam, cabendo ao professor aprender a lidar com o aluno real e não, apenas, com o aluno “ideal”. PILETTI, N. Psicologia educacional. São Paulo: Ática, 2002. O aluno ideal existe? Ideal pra quê e pra quem? Para o sistema? Ideal, porque se enquadrou no sistema, na medida em que apresenta as habilidades cognitivas exigidas pelo mesmo? Nessa perspectiva, a avaliação é entendida como procedimento de medida e tem por finalidade a classificação do aluno, com base nas notas obtidas, tendo em vista a seleção daqueles com condições de prosseguir nos estudos; portanto, é excludente. Com esse discurso, não estamos querendo dizer que devemos aprovar todos os alunos incondicionalmente, mas que devemos, como professores, reconhecer “outras” habilidades, saberes, tão formativos quanto o domínio das ciências, admitindo que as pessoas são diferentes. Atenção Para Mesquita e Coelho (2008): O sistema de notas introduzido na escola, com base nessa concepção, passa a ter a função de medir o conhecimento dado pelo professor de forma decorativa e memorizativa. Observa-se, nesse tipo de avaliação, sua forma disciplinadora de condutas sociais: se o aluno não atingir a média estabelecida pela rede de ensino, é punido com a reprovação. Neste contexto, a avaliação constitui um fim em si mesmo, pois é utilizada como instrumento de medição da capacidade de apreensão de conteúdos. Estudo de casos Veja agora os casos a seguir: Conflito na Aula; <galeria/aula10/anexo/conflito_aula.pdf> O Aluno Ideal; <galeria/aula10/anexo/aluno_ideal.pdf> Aula de Matemática; <galeria/aula10/anexo/aula_matematica.pdf> A visão Reducionista. <galeria/aula10/anexo/visao_reducionista.pdf> Fábula: A Menina e o Leite A professora do 5º ano do Ensino Fundamental pede aos alunos que leiam a fábula a seguir, e em seguida, ela dita as respostas para as perguntas referentes ao texto. Vamos à leitura da fábula e em seguida, refletir sobre a ação da professora? A menina não cabia em si de felicidade. Pela primeira vez iria à cidade vender o leite de sua vaquinha. Trajando o seu melhor vestido, ela partiu pela estrada com a lata de leite na cabeça. Enquanto caminhava, o leite chacoalhava dentro da lata. E os pensamentos faziam o mesmo dentro da sua cabeça. “Vou vender o leite e comprar uma dúzia de ovos”. “Depois, choco os ovos e ganho uma dúzia de pintinhos”. “Quando os pintinhos crescerem, terei bonitos galos e galinhas”. “Vendo os galos e crio as frangas, que são ótimas botadeiras de ovos”. “Choco os ovos e terei mais galos e galinhas”. “Vendo tudo e compro uma cabrita e algumas porcas”. “Se cada porca me der três leitõezinhos, vendo dois, fico com um e...”. A menina estava tão distraída que tropeçou numa pedra, perdeu o equilíbrio e levou um tombo. Lá se foi o leite branquinho pelo chão. E os ovos, os pintinhos, os galos, as galinhas, os cabritos, as porcas e os leitõezinhos pelos ares. Não se deve contar com uma coisa antes de consegui- la. (Jean de La Fontaine. Fábulas de Esopo. SP, Scipione, 1998. In: VASCONCELOS, A. Aprender juntos português: ensino fundamental 4. São Paulo: SM, 2006.) Releia a moral da fábula: “Não se deve contar com uma coisa antes de consegui-la”. Vejamos, a seguir, alguns questionamentos levantados a respeito da fábula que acabamos de ler e suas respectivas respostas: Você concorda com esse ensinamento ou discorda? Explique: Sim, porque nós devemos sempre fazer algo pensando no futuro. Explique o sentido do ensinamento que você marcou: Sempre há sacrifício e custo para alcançarmos o que queremos obter. O que faltou à menina para conquistar os objetivos que tinha? Faltou determinação e atenção. No início do texto, a menina não cabia em si de felicidade. E no final do texto, quais sentimentos ela, provavelmente, experimentou? Angústia, tristeza e arrependimento. Se, por algum motivo, você não consegue atingir um de seus objetivos, que atitude você tem: desiste ou tenta novamente? Comente: Eu tento novamente, mas com outra estratégia que dê certo. Leitura Você sabia que essas respostas não foram dadas pelos alunos do 5º ano, e sim pela professora, que solicita que todos os alunos as copiam, não oferecendo oportunidade para que eles debatessem e se manifestassem, exercendo assim o senso de cidadania? Com o ditado, ela determina o que é certo e errado, e com isso, percebemos o objetivo da aula: o desenvolvimento moral dos alunos. Leia sobre esta Prática pedagógica <galeria/aula10/anexo/pratica_pedagogica.pdf> . Professor Alienado e Alienante Um professor de Ciências falava a seus alunos sobre a fotossíntese. De repente, um problema: a luz do sol que entrava pela janela atrapalha a visão de alguns alunos que, desta maneira, não conseguiam ler o que o professor escrevia no quadro-negro. Alguém tentou fechar a cortina, mas um dos galhos da enorme folhagem que enfeitava a sala impediu que a cortina fosse totalmente fechada. Resolvido o problema, o professor continuou tranquilamente falando sobre fotossíntese e escrevendo suas explicações no quadro-negro. Tão condicionado estava a dar aula utilizando apenas saliva e giz que nem lhe ocorreu chamar a atenção de seus alunos para o fato de que estavam diante do fenômeno da fotossíntese: o galho da folhagem crescera voltado para a janela em busca da luz, comprovando o fenômeno que estavam estudando. Talvez esse professor nem tenha consciência sobre o que está fazendo, ensinando e sobre o sentido da aula. O professor não mostra familiaridade com o objeto de estudos; apenas repete e transmite o conteúdo que é repassadode geração a geração, sem um compromisso que vá além do desenvolvimento intelectual e moral do aluno. Sua expectativa é que os alunos aceitem o determinismo técnico e sequer são despertados para a importância do que estão estudando. (Fonte: Dotshock / Shutterstock) Nesse sentido, a ciência não é desvelada; o aluno estuda por estudar e, na maioria das vezes, fica com o sentimento da inutilidade dos conteúdos em suas vidas. Claro quem com esse discurso, não estamos afirmando que bastaria constatar na prática, no plano concreto, o fenômeno estudado teoricamente, mas que se vá além disso, além da constatação do fenômeno que, na verdade, o professor nem cogitou sua presença, mostrando-se totalmente alienado e alienante, lamentavelmente. Planejamento Educacional Por mais que o professor já encontre na instituição de ensino uma proposta de trabalho pronta, cabe a ele se apropriar criticamente acerca do que foi planejado por terceiros, (re)elaborar, resgatar a sua condição de sujeito autônomo. Planejar o processo educativo é planejar o indefinido, porque educação não é o processo, cujos resultados podem ser totalmente predefinidos, determinados ou pré-escolhidos, como se fossem produtos de correntes de uma ação puramente mecânica e impensável. Devemos, pois, planejar a ação educativa para o homem, não lhe impondo diretrizes que o alheiem, permitindo, com isso, que a educação ajude o homem a ser criador de sua história. A flexibilidade e a humildade científica são necessárias para que possamos fazer a revisão de nossas ações pedagógicas; fazer a leitura de mundo, o que não significa fazer qualquer coisa, mas aprender a lidar com as incertezas que surgem no cotidiano escolar. Menegola e Sant’Anna, 1997, p. 25. Um dos momentos essenciais para a elaboração de um planejamento é a definição das metas a serem alcançadas, bem como os conteúdos e a organização da ação educativa. Lembre-se que a prática educacional institucionalizada é intencional e deve ser organizada de forma lógica, precisa e rigorosa, ou seja, não deve decorrer de um espontaneísmo individual, mas de um trabalho coletivamente pensado, organizado e, fundamentalmente, contextualizado. No caso relatado em questão, o inusitado foi o fenômeno da fotossíntese apresentado “ao vivo e a cores”, mas, num espaço em que convivem pessoas, não podemos acreditar que controlaremos tudo e todos, pois isto seria uma ingenuidade. Logo, fica evidente a necessária compreensão crítica da relação que deve se estabelecer entre teoria e prática e que as mesmas se gestam a partir de uma materialidade concreta, viva. Devemos planejar a ação educativa para o homem, permitindo-o ser criador de sua história. (Fonte: Stockfour / Shutterstock) Atividade 1. Como você interpretaria o fenômeno educativo acima à luz da literatura especializada no campo da educação? 2. Relate ou descreva um fato educativo vivenciado e uma busque fundamentação teórica para iluminar tal fenômeno no campo da educação. Referências ALONSO, Myrtes; QUELUZ, Ana Gracinda. O trabalho docente: teoria e prática. Rio de Janeiro: Cengage Learning, 1999. DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sociocultural. In: DAYRELL, J. (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e a cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1996. FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: um processo em parceria. São Paulo: Loyola, 1991. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. __________. A pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. __________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MENEGOLA, Maximiliano; SANT’ANNA, Ilza Martins. Por que planejar? Como planejar? Currículo – área – aula. Escola em debate. Petrópolis: Vozes, 1997. MESQUITA, Maria de Fátima Monteiro; COELHO, Maria Hercília Mota. Breve trajetória histórico-pedagógica do planejamento de ensino e da avaliação da aprendizagem. In: Dialogia. São Paulo, v. 7, n. 2, p. 163-175, 2008. SACRISTÁN, J.G. Currículo e diversidade cultural. In: SILVA, T.T., MOREIRA, A.F. (Org.). Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995. VÁZQUEZ, A.S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. VEIGA, I.P.A. A prática pedagógica do professor de didática. Campinas: Papirus, 1989. Explore mais Para um maior aprofundamento sobre a prática reflexiva, leia o artigo “Ação- reflexão-ação: a prática reflexiva como elemento transformador do cotidiano educativo” <http://periodicos.est.edu.br/index.php/nepp/article/download/157/194> .
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