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- A capacidade de diagnosticar diferentes doenças depende do conhecimento médico das diferentes qualidades de dor. - A dor ocorre sempre que os tecidos são lesionados, fazendo com que o indivíduo reaja para remover o estímulo doloroso. Tipos de dor e suas qualidades – Dor Rápida e Dor Lenta - As vias de condução para esses dois tipos de dor são diferentes, e cada uma tem qualidades específicas. Dor rápida - Também chamada de dor pontual, dor aguda e dor elétrica. - Sentida em 0,1 segundo após a aplicação do estímulo doloroso. - É sentida quando agulha é introduzida na pele, quando a pele é cortada por faca ou quando a pele é agudamente queimada, ou quando a pele é submetida a choque elétrico. - Não é sentida nos tecidos mais profundos da pele. Dor lenta - Também denominada dor em queimação, dor persistente, dor pulsátil e dor crônica. - Começa somente 1 segundo ou mais após o estímulo, aumentando lentamente. - Está associada a destruição tecidual. - Pode levar a sofrimento prolongado e pode ocorrer na pele e em quase todos os órgãos e tecidos profundos. Receptores para dor e sua estimulação - Os receptores para dor são terminações nervosas livres; estão dispersas nas camadas superficiais da pele e em alguns tecidos internos, como o periósteo, parede de artérias, etc. - A dor pode ser desencadeada por três tipos de estímulos: mecânicos, térmicos e químicos. - A dor rápida é desencadeada por estímulos mecânicos e térmicos; já a dor lenta (crônica) é desencadeada por estímulos mecânicos, térmicos e químicos. - Substâncias que excitam o tipo químico de dor são: bradicinina (principalmente), serotonina, íons potássio, ácidos, acetilcolina e enzimas proteolíticas. - As prostaglandinas e substância P aumentam a sensibilidade das terminações nervosas, mas não excitam diretamente essas terminações. Natureza não adaptativa dos receptores para dor - Os receptores para dor se adaptam muito pouco, e alguns até não se adaptam; ao contrário de outros receptores do corpo. - A importância da ausência de adaptação é que possibilita que a pessoa fique ciente da presença do estímulo lesivo, enquanto a dor persistir. - À medida que o estímulo persiste, a excitação das fibras nervosas fica maior, em especial para a dor lento; o aumento da sensibilidade dos receptores para dor é chamado hiperalgesia. Intensidade da lesão tecidual como estímulo para a dor - A dor secundária ao calor está relacionada a intensidade do dano tecidual, e não ao dano total que já ocorreu. Importância especial dos estímulos dolorosos químicos durante lesão tecidual - Quando extratos de tecidos lesionados são injetados sob a pele normal, podem causar dor intensa. - Isso ocorre devido a presença de substâncias químicas presentes que excitam os receptores químicos para dor. - A bradicinina é a substância que induz a dor de modo mais acentuado. - A intensidade da dor se correlaciona ao aumento local de íons potássio ou de enzimas proteolíticas que atacam as terminações nervosas e estimulam a dor por aumentar a permeabilidade das membranas nervosas aos íons. Isquemia tecidual como causa da dor - Quando se interrompe o fluxo sanguíneo, ocorre dor em poucos minutos. - Se maior for a intensidade do metabolismo desse tecido, mais rápido a dor aparece. - Uma das causas de dor por isquemia é o acúmulo de ácido láctico em consequência do metabolismo anaeróbico. Espasmo muscular como causa da dor - O efeito direto do espasmo muscular como causa de dor resulta na estimulação dos receptores mecânicos para dor; o efeito indireto ocorre por vasoconstrição que leva à isquemia. - O espasmo aumenta a intensidade do metabolismo, tornando ainda maior a isquemia. Vias duplas para a transmissão dos sinais dolorosos ao sistema nervoso central - Embora todos os receptores para dor serem terminações nervosas livres, essas terminações utilizam duas vias separadas para a transmissão de sinais dolorosos ao SNC, uma para a dor rápida e outra à dor lenta. Fibras dolorosas periféricas – Fibras Rápidas e Lentas - Os sinais dolorosos rápidos são desencadeados por estímulos mecânicos ou térmicos. - São transmitidos pelos nervos periféricos para a medula espinal por meio das fibras AΔ com velocidade rápida. - O tipo de dor lenta crônica é desencadeado por estímulos químicos, mas também mecânicos ou térmicos persistentes. - Essa dor lenta crônica é transmitida a medula por fibras tipo C, de velocidade mais lenta. - Devido ao sistema duplo de inervação, o estímulo de dor causa sensação dolorosa dupla: dor pontual rápida, transmitida ao cérebro pelas fibras AΔ seguida, por uma dor lenta transmitida pelas fibras C. - A dor pontual avisa a pessoa rapidamente sobre o perigoso, tendo papel na reação imediata do indivíduo para se afastar do estímulo doloroso; já a dor lenta tende a aumentar com o passar do tempo. - Ao entrar na medula espinhal, vindas pelas raízes espinhais dorsais, as fibras de dor terminam em neurônios-relé nos cornos dorsais; existe aí, dois sistemas para o processamento dos sinais dolorosos em seu caminho para o encéfalo. Vias duplas para a dor ne medula espinhal e no tronco encefálico - Ao entrar na medula, os sinais nervosos tomam duas vias para o encéfalo: (1) trato neoespinotalâmico e (2) trato paleospinotalâmico Trato neoespinotalâmico para dor rápida - As fibras AΔ do tipo rápido transmitem as dores mecânicas e térmicas. - Terminam na lâmina I (lâmina marginal) dos cornos dorsais, e excitam os neurônios de segunda ordem do trato neoespinotalâmico. - Esses neurônios dão origem a fibras longas que cruzam imediatamente para o lado oposto da medula espinhal pela comissura anterior e depois ascendem para o encéfalo nas colunas anterolaterais. Terminação do trato neoespinotalâmico no tronco encefálico e no tálamo - Algumas fibras do trato neoespinotalâmico terminam nas áreas reticulares do tronco encefálico, mas a maioria segue até o tálamo, terminando no complexo ventrobasal junto com o trato da coluna dorsal-lemnismo medial para sensações táteis. - Dessas áreas talâmicas, os sinais são transmitidos para outras áreas basais do encéfalo, bem como para o córtex somatossensorial. Capacidade do sistema nervoso central em localizar a dor rápida no corpo - A dor pontual rápida se localiza com muito mais precisão no corpo em relação a dor lenta. - Porém, quando apenas são estimulados os receptores para dor, sem a estimulação simultânea dos receptores táteis, mesmo a dor rápida pode ser mal localizada, num raio de 10 centímetros da área estimulada. - Quando os receptores táteis que excitam o sistema da coluna dorsal-lemnisco medial são estimulados juntamente com os receptores para a dor, a localização do estímulo é quase exata. Glutamato, o neurotransmissor das fibras dolorosas rápidas. - O glutamato é o neurotransmissor para a dor do tipo AΔ da medula espinhal. Via paleoespinotalâmica para a transmissão da dor crônica lenta - A via paleoespinotalâmica é um sistema muito mais antigo e transmite dor por fibras lentas do tipo C. - Nessa via, as fibras terminam na medula espinhal nas lâminas II e III dos cornos dorsais que, em conjunto, são referidas como substância gelatinosa. - Em seguida, os sinais passam para neurônios de fibra curta, dentro dos cornos dorsais, antes de entrar na lâmina V, no corno dorsal. - Aí, os últimos neurônios dão origem a axônios longos que se unem às fibras da via de dor rápida, passando da comissura anterior para o lado oposto da medula, e depois para cima, em direção ao encéfalo, pela via anterolateral. Substância P, o neurotransmissor das terminações nervosas do tipo C. - Os terminais das fibras para dor do tipo C liberam tanto o glutamato quanto o neurotransmissor denominado substância P, sendo secretado mais lentamente, com sua concentração aumentando aos poucos. - A sensação dupla de dor resulta do glutamato gerar sensação de dor rápida, enquanto a substância P gerarsensação mais duradoura. Projeção da via paleoespinotalâmica (sinais dolorosos lentos) para o tronco encefálico e o tálamo - A via paleoespinotalâmica termina de modo difuso no tronco encefálico. - A maioria das fibras termina em uma dessas três áreas: (1) nos núcleos reticulares do bulbo, da ponte e do mesencéfalo; (2) na área tectal do mesencéfalo até os colículos superior e inferior; ou (3) na região cinzenta periaquedutal, que circunda o aqueduto de Sylvius. - De áreas do tronco cerebral, neurônios de fibra curtas transmitem sinais ascendentes da dor pelo núcleo intralaminar e ventrolateral do tálamo e em direção de certas regiões do hipotálamo e outras regiões basais do encéfalo. Capacidade muito baixa do sistema nervoso de localizar precisamente a fonte de dor transmitida pela via crônica lenta - A localização da dor transmitida pela via paleoespinotalâmica é imprecisa, não sendo possível identificar em um ponto específico do corpo, apenas numa região mais abrangente. - Isso ocorre devido à conectividade multissináptica difusa dessa via. Função da formação reticular, tálamo e córtex cerebral na avaliação da dor - A remoção completa do córtex somatossensorial não tira, completamente, a capacidade de percepção de dor. - Os impulsos dolorosos que chegam na formação reticular, do tálamo, e regiões inferiores do encéfalo, causam percepção consciente da dor. - O córtex tem função importante na interpretação da qualidade da dor, mesmo que a percepção da dor seja função principalmente dos centros inferiores. Capacidade especial dos sinais dolorosos em desencadear uma excitabilidade encefálica geral - A estimulação elétrica das áreas reticulares do tronco encefálico e dos núcleos intralaminares do tálamo, áreas onde terminam os sinais da dor lenta, tem efeito de alerta sobre a atividade neural de todo o encéfalo. Interrupção cirúrgica das vias dolorosas - Quando a pessoa possui dor grave e intratável, pode ser feito uma intervenção cirúrgica onde as vias neurais são cortadas para aliviar a dor. - Se a dor for localizada na parte inferior do corpo, a cordotomia na região torácica da medula espinhal é um procedimento realizado; assim, a medula espinhal, no lado oposto ao da dor, é parcialmente cortada no quadrante anterolateral para interromper a via sensorial anterolateral. - Outro procedimento cirúrgico é a cauterização de áreas dolorosas específicas nos núcleos intralaminares no tálamo, que alivia as dores crônicas lentas. Sistema de supressão da dor (analgesia) no encéfalo e na medula espinhal - O sistema de analgesia consiste em três grandes componentes: (1) as áreas periventricular e da substância cinzenta periaquedutal do mesencéfalo e região superior da ponte que circundam o aqueduto de Sylvius e porções do terceiro e quarto ventrículo. - Os neurônios dessas áreas enviam sinais para (2) o núcleo magno da rafe e o núcleo reticular paragigantocelular. - Desses núcleos, os sinais de segunda ordem são transmitidos pelas colunas dorsolaterais da medula espinhal, para (3) o complexo inibidor da dor, localizado nos cornos dorsais da medula espinhal. - Nesses pontos, os sinais de analgesia podem bloquear a dor antes dela ser transmitida ao encéfalo. - A estimulação elétrica, seja na área cinzenta periaquedutal ou no núcleo magno da rafe, pode suprimir muitos sinais de dor fortes que entram pelas raízes espinhais dorsais. - A estimulação das áreas encefálicas, que excitam a substância cinzenta peraquedutal, também pode suprimir a dor; essas áreas são: (1) os núcleos periventriculares do hipotálamo e (2) o fascículo prosencefálico medial. - Os principais neurotransmissores envolvidos no sistema de analgesia são a encefalina e a serotonina. - Muitas fibras nervosas, derivadas dos núcleos periventriculares e da substância cinzenta periaquedutal, secretam encefalina. - As fibras que se originam nessa área enviam sinais aos cornos dorsais da medula espinhal para secreção de serotonina. - A encefalina causa inibição pré-sináptica e pós-sináptica das fibras de dor. - Assim, o sistema de analgesia bloqueia os sinais de dor no ponto de entrada inicial para a medula espinhal. Sistema Opioide Encefálico – Endorfinas e Encefalinas - A injeção de morfina no núcleo periventricular, ao redor do terceiro ventrículo, ou na substância cinzenta periaquedutal do tronco encefálico, causam extrema analgesia. - Descobriu-se que os opioides também causam analgesia; são exemplos a B-endorfina, metencefalina, leuencefalina e a dinorfina. - A ativação do sistema de analgesia é feita por sinais que entram na substância cinzenta periaquedutal e na área periventricular. Dor referida - Quando a pessoa sente dor em parte do corpo que fica distante do tecido causador da dor, chama-se de dor referida. - Ela ocorre especialmente de dores dos órgãos viscerais. Mecanismo da dor referida - Ramos das fibras para a dor visceral fazem sinapse na medula espinhal, nos mesmos neurônios de segunda ordem (1 e 2) que recebem os sinais dolorosos da pele. - Quando as fibras viscerais para a dor são estimuladas, os sinais dolorosos das vísceras são conduzidos pelo menos por alguns dos mesmos neurônios que conduzem os sinais dolorosos da pele. - A pessoa tem a sensação de que as sensações se origem da pele propriamente dita. Sensações térmicas Receptores térmicos e sua excitação - O ser humano pode perceber diferentes graus de frio e calor. - Essas variações térmicas são captadas por três tipos de receptores sensoriais: para frio, para calor e para dor. - Os receptores para dor apenas são estimulados em graus extremos de calor ou frio. - Receptores para frio e para calor se localizam imediatamente abaixo da pele, sendo que os ara frio são muito mais abundantes. Efeitos estimulatórios da elevação e da queda da temperatura – Adaptação dos receptores térmicos - Quando o receptor para frio é submetido a queda de temperatura, inicialmente, ele é estimulado, mas essa estimulação diminui, com rapidez, nos primeiros segundos; assim, o receptor acaba se adaptando ao estímulo. - As sensações térmicas respondem às alterações da temperatura. - Quando a tempera da pele está ativamente caindo, a pessoa sente muito mais frio do que quando a temperatura permanece fria, no mesmo nível. Mecanismos da estimulação dos receptores térmicas - Os receptores para frio e calor são estimulados pelas alterações de suas intensidades metabólicas.