Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SOBRECARGA EM CUIDADORES DE PACIENTES COM DEFICIÊNCIA ATENDIDOS EM CENTROS DE ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS DA CIDADE DO RECIFE Anne Karoline de Holanda Cavalcanti Pereira1; Marcia Maria Vendiciano Barbosa Vasconcelos2 1Estudante do Curso de Odontologia – CCS – UFPE; E-MAIL: karol.cavalcanti26@gmail.com 2Docente/pesquisador do Dept de Clínica e Odontologia Preventiva – CCS – UFPE; E-mail: marciavendiciano@yahoo.com.br SUMÁRIO INTRODUÇÃO 01 METODOLOGIA 02 RESULTADOS E DISCUSSÃO 03 CONCLUSÃO 05 AGRADECIMENTOS 05 REFERÊNCIAS 05 O trabalho objetiva descrever a sobrecarga dos cuidadores de pacientes com deficiência atendidos em Centros de Especialidades Odontológicas (CEO’s) da cidade do Recife. Tratou-se de um estudo transversal do tipo descritivo de caráter exploratório, os dados foram coletados através de questionários, totalizando uma amostra de 87 cuidadores. Observou-se que 74,4% dos cuidadores apresentam uma sobrecarga leve a moderada e que a patologia do cuidado com maior prevalência de sobrecarga moderada e pesada é a de deficiência intelectual. Através da amostra estudada e dos resultados obtidos, sugere-se que há prevalência de sobrecarga nos cuidadores de pacientes com deficiência, portanto é necessário estratégias e políticas de saúde que visem a redução do grau de sobrecarga do cuidador. Palavras-chave: odontologia; cuidadores; assistência odontológica para pessoas com deficiências. INTRODUÇÃO A classificação Brasileira de Ocupações (CBO) define o cuidador como alguém que “cuida a partir dos objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida (1). O cuidador tem o papel imprescindível e decisivo para a pessoa que está sendo cuidada. Ele pode auxiliar a pessoa a retomar e reintegrar suas atividades e participação social, administrar medicamentos, realizar o tratamento necessário, fazer higiene e curativos, facilitar a independência nas atividades da vida diária, promover a autonomia e a privacidade, além de oferecer afeto, escuta, carinho, compreensão e apoio emocional (2). O cuidador pode ser definido como formal, quando possui formação específica para os cuidados que presta e informal, quando não possui formação específica (3). A sobrecarga do cuidador é definida como a percepção que ele tem em relação a sua saúde física, vida social, emoção e status, como resultado dos cuidados para com seu familiar, resultando no conceito de sobrecarga como produto de um processo específico, subjetivo e interpretativo da doença crônica. Pode ser vista como um conceito multidimensional que abrange a esfera biopsicossocial e resulta da busca de um equilíbrio entre as variáveis: tempo disponível para o cuidado, recursos financeiros, condições psicológicas, físicas e sociais, atribuições e distribuição de papéis (4). Os serviços de saúde nem sempre estão preparados para apoiar esses indivíduos, com informações adequadas sobre o ato de cuidar, além de não reconhecerem a necessidade de oferecer estratégias de apoio cotidiano a essas famílias (6). Por conseguinte, a proposta do respectivo trabalho foi descrever a sobrecarga dos cuidadores de pacientes com deficiência atendidos pelos CEO’s, determinando o perfil sociodemográfico dos cuidadores, verificando quais são as patologias/alterações sistêmicas apresentadas pelos indivíduos da amostra, além de verificar a relação entre as patologias/alterações sistêmicas dos pacientes e a sobrecarga nos cuidadores. METODOLOGIA Desenho do estudo A pesquisa foi baseada em um estudo de tipo quantitativo a partir de dados coletados em questionários aplicados aos cuidadores de pacientes com deficiência, que analisou sua sobrecarga, através de um estudo transversal de caráter exploratório, utilizando o processo de amostragem aleatória simples. Caracterização das unidades de coleta A unidade de análise foi composta pelos cuidadores dos pacientes com deficiência atendidos nos Centros de Especialidades Odontológicas da cidade do Recife. Foram esses, Policlínica Lessa de Andrade, Policlínica Waldemar de Oliveira, Albert Sabin, Policlínica Clementino Fraga, Policlínica do Pina, Policlínica Salomão Kelner e Policlínica Agamenon Magalhães. A amostra foi de 87 cuidadores. Variáveis a serem estudadas As variáveis para este estudo foram divididas em dependentes e independentes, que foram distribuídas, respectivamente, em sobrecarga dos cuidadores e sexo, idade, renda, status social, escolaridade, tipo de patologia/alteração sistêmica dos cuidados e cuidadores. Instrumentos de coleta O perfil dos indivíduos que participou da pesquisa foi descrito por meio de anamnese onde informações sobre idade, sexo, escolaridade e local de residência foram coletadas. Os Critérios de Classificação Econômica Brasil 2013 (CCEB) (desenvolvido pela ABEP- Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), foi utilizado para avaliar o perfil socioeconômico. No estudo da sobrecarga dos cuidadores de pacientes com deficiência foi utilizado o Burden Interview, traduzido para o português por Scazufca (2002).Após a análise dos dados do questionário aplicado aos usuários e separação do padrão das respostas, foram utilizadas as técnicas de estatística descritiva com distribuições absolutas e percentuais para os dados quantitativos. Foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson para estabelecer as relações entre variáveis dependentes e independentes. O programa estatístico utilizado para digitação dos dados e obtenção dos cálculos estatísticos foi o SPSS (StatisticalPackage for the Social Sciences) na versão 20.0. Aspectos éticos O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Federal de Pernambuco (CEPE). Aprovado através do CAEE- Certificado de Apresentação para Apreciação Ética: 43981115.8.0000.5208. Na condução da pesquisa foram respeitados os aspectos éticos nos termos da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, incluindo a liberdade de participação e o anonimato dos usuários com base no consentimento livre e esclarecido, sendo assegurado o sigilo e a confidencialidade das informações. A coleta de dados somente foi iniciada após a aprovação pelo CEPE. RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1. Distribuição dos Dados Sociodemográficos dos Cuidadores Variáveis n % Gênero – cuidador Masculino Feminino 11 76 12,6 87,4 Idade categorizada – cuidador 20-59 anos Acima de 60 anos 78 22 78,0 22,0 Grau de parentesco Pai Mãe Outros 7 59 21 8,0 67,8 24,1 Profissão – cuidador Trabalha Não trabalha 38 49 43,7 56,3 Escolaridade – cuidador Analfabeto Ensino fundamental Ensino médio Ensino superior 28 42 15 2 32,2 48,3 17,2 2,3 Classificação econômica B2 C1 C2 D E 6 29 26 24 2 6,9 33,3 29,9 27,6 2,3 Tabela 2. Distribuição das patologias dos pacientes especiais e o grau de sobrecarga dos cuidadores Variáveis n % Patologia do cuidado categorizado Deficiência intelectual Deficiência física Deficiência sensorial Síndromes/malformações Deficiências múltiplas Transtornos psiquiátricos Transtornos do desenvolvimento 47 14 5 8 4 2 7 54,0 16,1 5,7 9,2 4,6 2,3 8,0 Sobrecarga Pouca ou nenhumasobrecarga Sobrecarga leve a moderada Sobrecarga moderada a pesada Sobrecarga pesada 5 65 16 1 5,7 74,4 18,4 1,1 Tabela 3. Distribuição da frequência do tipo de patologia do cuidado de acordo com a sobrecarga do cuidador Variáveis Sobrecarga Moderada Pesada Total Patologia - cuidado DeficiênciaIntelectual 41 06 54 Deficiênciafísica 12 02 17 Deficiência sensorial 03 02 05 Síndromes/malformações 06 02 10 Deficiênciasmúltiplas 01 03 04 Transtornospsiquiátricos 02 00 03 Transtornos do desenvolvimento 05 02 07 Os resultados observados nesta pesquisa possibilitam verificar os aspectos relativos à sobrecarga de cuidadores de pacientes com deficiência atendidos nos CEO’s. Quanto aos participantes, observa-se que a maioria é do gênero feminino, mães e com faixa etária de 20-59 anos. Acerca da ocupação, mais da metade dos indivíduos da amostra avaliada, não trabalham fora de casa, enquanto que apenas metade frequentaram a escola até o ensino fundamental. Esses achados corroboram com outros achados da literatura que apresentam características semelhantes, na qual os cuidadores foram classificados, em sua maioria, do sexo feminino, em geral mães, com média de idade acima de 40 anos, com baixa escolaridade e que não possuía registro de emprego formal (7,8). Muitas vezes esta situação está ligada a questões sócio-culturais que incorporam à mulher o papel de principal provedora de cuidados à família e aos necessitados. Esta tarefa, muitas vezes, é cumprida com dedicação integral, derivada de uma construção social ideologicamente determinada e aceita, constituindo-se como uma verdadeira obrigação moral (12,13). A maioria dos cuidadores são informais, visto que grande parcela desses cuidadores são mães dos pacientes com deficiência, que pela proximidade afetiva, grau de parentesco e disponibilidade de tempo assumem o papel e a responsabilidade de cuidar. Por serem cuidadores informais, não são remunerados, capacitados, assistidos e/ou orientados pelos serviços de saúde, o que leva a uma sobrecarga nesses cuidadores. No que diz respeito as patologias apresentadas pelos pacientes deficientes, os resultados mostram a seguinte ordem crescente de prevalência, deficiência intelectual, seguido da deficiência física, síndromes e malformações, transtornos do desenvolvimento, deficiência sensorial, deficiências múltiplas e transtornos psiquiátricos. Esses achados diferem dos dados encontrados em outro estudo, onde há um maior número de pacientes que apresentaram deficiência física (52%), seguido da deficiência intelectual (36%), transtornos psiquiátricos (11,8%), e deficiência sensorial (5,5%), seguindo assim uma ordem decrescente de prevalência (8). Em referência à análise da sobrecarga, 100% da amostra de cuidadores relatou algum grau de sobrecarga, onde o maior percentual encontrado é a sobrecarga de leve a moderada, seguindo a ordem de sobrecarga moderada a pesada, pouca ou nenhuma sobrecarga, finalizando com sobrecarga pesada. A prevalência do grau de sobrecarga foi semelhante aos resultados de outro estudo, com predomínio de casos classificados como sobrecarga moderada, seguido de moderada a pesada, e poucos casos classificados como sobrecarga pesada (9). A sobrecarga do cuidador caracteriza-se por mudanças negativas no cotidiano relacionadas ao processo de cuidado, hábitos e maiores responsabilidades. Estas mudanças, muitas vezes, requerem adaptações que podem interferir nas necessidades do cuidador, causar acúmulo de responsabilidades, gerarem estresse, custos e até adiamento de planos pessoais. Exclusão social, isolamento afetivo e social, depressão, erosão nos relacionamentos, perda da perspectiva de vida, distúrbios do sono, maior uso de psicotrópicos são alguns dos vários registros no contexto psicossocial do cuidador. (14) Familiares que cuidam de pacientes que não apresentam quadros promissores no que tange a autonomia, desprovidos de suporte social efetivo, experimentam uma sobrecarga ao se deparar com situações desconhecidas, o que pode refletir diretamente na sua qualidade de vida (3). Embora não encontrando relação estatisticamente significativa entre o tipo de patologia apresentada pelo deficiente e sua repercussão no nível de sobrecarga do cuidador, percebe-se que na patologia do cuidado a totalidade de sobrecarga moderada e pesada encontrada foi maior nas pessoas com deficiência intelectual. Esse resultado não corrobora com outros estudos achados na literatura onde se atesta que o impacto ou sobrecarga sofrido pelo cuidador, tinham relação direta com a presença de transtornos psiquiátricos apresentados pelos pacientes (7). Com base nesse resultado, pode-se propor um aprofundamento do estudo, para avaliar a relação do tipo de deficiência do paciente com o grau de sobrecarga de seu cuidador. Por se dedicar ao cuidado em saúde, o cuidador assume a tarefa de ser o provedor de cuidado a si mesmo e também ao paciente, o que pode acarretar em uma rotina de atividades que supera seus limites físicos e emocionais, nem sempre reconhecidos (15). A atenção ao cuidador ainda necessita de maiores estudos para elucidação de suas necessidades e intervenções por parte de profissionais e serviços da área. Muitas vezes, a sobrecarga relacionada ao cuidado favorece o adoecimento do próprio cuidador o qual por sua vez chega a negligenciar o auto-cuidado a favor de cuidar do próximo. CONCLUSÃO Através da amostra estudada e dos resultados obtidos, sugere-se que há prevalência de sobrecarga nos cuidadores de pacientes com deficiência, Portanto é necessário estratégias e políticas de saúde que visem a redução do grau de sobrecarga do cuidador. AGRADECIMENTOS Agradeço à Universidade Federal de Pernambuco, à minha orientadora Marcia Maria Vendiciano Barbosa Vasconcelos e a meu co-orientar André Cavalcanti. REFERÊNCIAS 1. Fernandes BCW, Ferreira KCP, Marodin MF, Val MON do, Fréz AR. Influência das orientações fisioterapêuticas na qualidade de vida e na sobrecarga de cuidadores. Fisioter em Mov [Internet]. PUCPR; 2013 Mar [cited 2016 Jun 8];26(1):151–8. 2. Pimenta R de A, Rodrigues LA, Greguol M. Avaliação da qualidade de vida e sobrecarga de cuidadores de pessoas com deficiência intelectual. Rev Bras Ciências da Saúde. 2011;14(3). 3. Pereira KCR, Guimarães FS, Alcauza MTR, Campos DA de, Moretti-Pires RO. Percepção, Conhecimento E Habilidades De Cuidadores Em Saúde Bucal De Idosos Acamados. Saúde Transform Soc / Heal Soc Chang. 2015;5(3):34–41. 4. Nogueira PC, Rabeh SAN, Caliri MHL, Haas VJ, Nogueira PC, Rabeh SAN, et al. Cuidadores de indivíduos com lesão medular: sobrecarga do cuidado. Rev da Esc Enferm da USP [Internet]. Revista da Escola de Enfermagem da USP; 2013 Jun [cited 2016 Jun 8];47(3):607–14. 5. Masuchi MH, Rocha EF. Cuidar de pessoas com deficiência: um estudo junto a cuidadores assistidos pela estratégia da saúde da família* Care of people with disabilities: a study with caregivers assisted of the family health program. 2012; 6. Cassis SVA, Karnakis T, Moraes TA de, Curiati JAÉ, Quadrante ACR, Magaldi RM. Correlação entre o estresse do cuidador e as características clínicas do paciente portador de demência. Rev Assoc Med Bras [Internet]. Associação Médica Brasileira; 2007 [cited 2016 Jun 9];53(6):497–501. 7. Pereira LM, Mardero E, Ferreira SH, Kramer PF, Cogo RB. Atenção odontológica em pacientes com deficiências: a experiência do curso de Odontologia da ULBRA (Canoas/RS). Stomatos. ULBRA; 2010;16(31):92–9. 8. Wachholz PA, Santos RCC, Wolf LSP. Reconhecendo a sobrecarga e a qualidade de vida de cuidadores familiares de idosos frágeis. Rev Bras Geriatr e Gerontol [Internet]. Universidade do Estado do Rio Janeiro; 2013 Sep [cited 2016 Jun 9];16(3):513–26. 9. Alves LS, Rodrigues RN. Determinantes da autopercepção de saúde entre idososdo Município de São Paulo, Brasil [dissertação]. Belo Horiz Univ Fed Minas Gerais. 2004. 10. Araújo CS de, Lima R da C, Peres MA, Barros AJD. Utilização de serviços odontológicos e fatores associados: um estudo de base populacional no Sul do Brasil. Cad saúde pública. 2009;25(5):1063–72 11. Neves ET, Cabral IE. Empoderamento da mulher cuidadora de crianças com necessidades especiais de saúde. Texto Contexto Enferm. 2008;17(3):552-60. 12. Goldfarb DC, Lopes RGC. A família frente à situação de Alzheimer. Gerontologia. 1966;4(1):33-7. 13. Franco RF. A família no contexto da reforma psiquiátrica: a experiência de familiares nos cuidados e na convivência com pacientes portadores de transtornos mentais [dissertação]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2002. 14. Luzardo AR, Gorini MIPC, Silva APSS. Características de idosos com doença de Alzheimer e seus cuidadores: uma série de casos em um serviço de neurogeriatria. Texto Contexto Enferm. 2006;15(3):587-94.
Compartilhar