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transplante de celulas

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AULA 1 
TRANSPLANTE DE CÉLULAS-
TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 
Prof. Cristiano Caveião 
 
 
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TEMA 1 – HISTÓRICO DO TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO 
HEMATOPOIÉTICAS 
A história do Transplante de Medula Óssea (TMO) iniciou-se com o 
reconhecimento de que o baço salvava animais da irradiação letal. Acreditava-se 
que a infusão de células-tronco ou as células do baço poderiam impedir óbito por 
aplasia após irradiação, dessa forma surgiu o conceito de que as células-tronco 
hematopoiéticas são transplantáveis. Atualmente, a terminologia passou a ser 
definida como Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas (TCTH), sendo 
este termo que será utilizado ao longo deste texto. 
A realização da primeira tentativa de transplante de células-tronco 
hematopoiéticas em humanos ocorreu em 1939 para o tratamento de um paciente 
com anemia aplástica induzida por sais de puro, utilizando um doador irmão ABO 
compatível. Porém, esse transplante não foi bem-sucedido e, após diversas 
tentativas infrutíferas, os pesquisadores pararam de investir nessa área, pois as 
dificuldades pareciam ser insuperáveis na época. 
Existem alguns profissionais no mundo e no Brasil que são considerados 
pioneiros no transplante de células-tronco hematopoiéticas, são eles: Dirk Van 
Bekkum, Edward Donnall Thomas, Georges Methé, Jean Dousset, Julio Cesar 
Voltarelli, Jon Van Rood e Ricardo Pasquini. Cada um apresentou uma 
contribuição para o desenvolvimento das pesquisas nesta área, para que o serviço 
evoluísse. 
Alguns dos importantes destaques são Georges Methé, que, na década de 
1950, utilizou os animais como os primeiros modelos de transplante de células-
tronco hematopoiéticas. Em 1958, ocorreu um acidente nuclear e os cientistas 
sofreram irradiação; nesse grupo, foram aplicadas células-tronco 
hematopoiéticas. Os casos obtiveram sucesso entre humanos que não eram 
gêmeos idênticos. Também em 1963, o cientista observou que o transplante de 
células-tronco hematopoiéticas em uma criança com leucemia aguda provocou 
mudança do grupo sanguíneo e descobriu com esse caso a recidiva da doença. 
Ainda, seus estudos fortaleceram o descobrimento de doenças secundárias após 
o TCTH. 
Na época, os pesquisadores tinham algumas indagações: 1) Como destruir 
a medula do receptor?; 2) Como infundir as células do doador no receptor para 
que estas cheguem até a medula para poder ser proliferar e originar um novo 
 
 
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tecido que possa produzir nova linhagem hematopoiética?; 3) Como fazer o 
receptor não rejeitar a medula? Essas indagações foram respondidas ao longo do 
tempo com os estudos realizados. 
Já Edward Donnall Thomas realizou, em 1956, o TCTH em gêmeas 
idênticas, em 1969, entre indivíduos com compatibilidade imunológica e, em 1970, 
publicou o primeiro artigo relatando vários casos de TCTH em pacientes com 
leucemias avançadas. Ao final de década de 1960, ele identificou e compreendeu 
a contribuição do sistema HLA (Human Leukocytes Antigens), ou seja, a 
histocompatibilidade, que está codificada no cromossomo 6, colaborando, dessa 
forma, para o avanço do TCTH. Os seus estudos contribuíram para o aumento da 
taxa de sobrevivência, após transplante, nos casos de leucemia e linfoma, sendo 
a taxa estimada de zero para mais de 90%. Ele recebeu o Prêmio Nobel em 
Fisiologia e Medicina. 
Dirk Van Bekkum entre as décadas de 1950 e 1960, descobriu a doença 
secundária após o TCHT, que hoje é denominada como doença do enxerto contra 
o hospedeiro. Ainda, descobriu que o efeito de cura com o TCTH estava 
relacionado com à pega das células-tronco hematopoiética e não por fatores 
humorais. 
Portanto, as décadas de 1950 e 1960 foram marcadas por frustações e 
desapontamentos. A maior incidência para a realização dos TCTH era em 
pacientes de fase terminal, que não tinham sobrevida suficiente para a avaliação 
da eficácia do enxerto. E os enxertos que apresentavam sucesso comumente 
apresentavam a reação do enxerto contra o hospedeiro ou septicemia de difícil 
controle, o que transgredia para a alta mortalidade após o procedimento. 
No Brasil, no município de Curitiba – PR, no ano de 1979, Ricardo Pasquini 
e Eurípedes Ferreira realizaram o primeiro transplante, com muita dificuldade e 
improvisação, no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná 
(HC/UFPR). 
O HC/UFPR também foi considerado o pioneiro na América Latina a 
realizar TCTH de cordão umbilical para transplante alogênico e o primeiro a 
instalar um programa de transplante com doadores não aparentados. Esse serviço 
atualmente encontra-se entre um dos principais centros mundiais e está filiado ao 
International Bone Marrow Transplantation Registry, órgão que mantém o maior 
registro de informações sobre transplantes de medula óssea do mundo. 
 
 
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Cabe destacar que, junto a todo esse avanço, também sugiram técnicas de 
mobilização e congelamento das células precursoras, o que permitiu que o 
transplante autólogo fosse realizado nos pacientes com tumores sólidos. Além 
disso, nos últimos anos, o sangue de cordão umbilical humano vem tornando-se 
uma fonte alternativa viável para a obtenção de células tronco hematopoiéticas. 
O seu uso ocorre com frequência em inúmeros centros de transplante em 
todo o mundo para tratar doenças hematológicas, oncohematológicas, 
hereditárias e imunológicas. 
TEMA 2 – DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DO TRANSPLANTE DE CÉLULAS-
TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 
O transplante de células-tronco hematopoiéticas é um procedimento 
realizado há mais de cinquenta anos e com constante evolução. Nos últimos dez 
anos, teve grande avanço no tratamento das complicações relacionadas às 
afecções genéticas, neoplásicas, hematológicas, endócrinas e autoimunes. 
O maior número de transplantes realizados hoje no Brasil, segundo a 
Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, por meio da publicação do 
Registro Brasileiro de Transplantes (2017), é o Estado de São Paulo, com 1.442 
transplantes realizados em 2017. Em relação ao tipo de transplante, predomina 
em todo o território nacional, o transplante autólogo. Foram realizados, em 2016, 
1.126 transplantes alogênicos e 1.668 autólogos, totalizando 2.794 transplantes. 
Hoje, conta-se para a realização dos transplantes em 12 estados, com 67 
equipes atuantes, sendo o Estado de São Paulo com a maior predominância (31 
equipes) seguido do Rio Grande do Sul e Minas Gerais respectivamente (6 
equipes). 
A principal dificuldade na operacionalização e realização dos transplantes 
de células-tronco hematopoiéticas, encontram-se na incompatibilidade genética. 
Apesar de o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME) 
apresentar em 2018, 4.703.976 doadores voluntários cadastrados, em média tem-
se 850 pacientes cadastrados no Registro Nacional de Receptores de Medula 
Óssea (REREME) em busca de um doador não aparentado. 
Dentre as regiões do Brasil com o maior número de cadastrados no 
REDOME, encontra-se o Sudeste e Sul. E quanto aos receptores no REREME 
Sudeste e Nordeste. O perfil dos doares cadastrados do REDOME, são em 
primeiro lugar as mulheres seguidas dos homens, com idade entre 30 e 39 anos. 
 
 
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Sobre os receptores cadastrados no REREME são homens e depois as mulheres, 
com predominância de idade entre 20 e 44 anos. 
Denota-se pelos números que nos últimos cinco anos, ocorreu grande 
variação no cadastro de novos doadores no REDOME, sendo: 
 2013: 230.143 novos doadores; 
 2014: 290.553 novos doadores; 
 2015: 342.330 novos doadores; 
 2016: 330.359 novos doadores; 
 2017: 284.029 novos doadores. 
Porém, com a constante entrada de novos doadores, os números 
aumentam a cada ano, não havendo regressão. Com esses números,é possível 
disponibilizar aproximadamente 70% de doadores compatíveis aos pacientes 
brasileiros. Também é possível realizar a busca na rede que integra os registros 
em diversos outros países, sendo esta busca internacional, com um universo de 
mais de 26 milhões de doadores. O Brasil encontra-se interligado a rede 
Worldwide Network For Blood & Marrow Transplantation (WBMT), que permite a 
busca mundial. 
TEMA 3 – EQUIPE MULTIDISCIPLINAR E MULTIPROFISISONAL NO 
TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 
O transplante de células-tronco hematopoiéticas é um procedimento de 
infusão de células hematopoiéticas do próprio paciente ou de um doador 
compatível, sendo a sua infusão via intravenosa, para os pacientes em tratamento 
de doenças oncológicas, hematológicas, imunológicas e hereditárias. Antes da 
sua infusão, ocorre um preparo do paciente com seções de quimioterapia e 
radioterapia, para ele possa estar condicionado, ou seja, preparado para receber 
o transplante. 
Diante disso, ao longo de todo o processo, o paciente requer cuidados 
específicos, em decorrência do seu comprometimento imunológico, isolamento, 
afastamento da sociedade e necessidades de cuidados frequentes. Para tanto, 
são necessários recursos humanos especializados. 
Durante todo o procedimento de transplante de células-tronco 
hematopoiéticas, o paciente receberá acompanhamento de vários profissionais 
que tem o objetivo de auxiliá-lo e orientá-lo sobre o seu tratamento e recuperação. 
 
 
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O atendimento ao paciente e seus familiares no serviço de transplante de 
células-tronco hematopoiéticas, é multidisciplinar e multiprofissional, sendo que 
os profissionais de enfermagem se encontram presentes em todas as etapas do 
processo de tratamento. 
Os profissionais envolvidos no TCTH na grande maioria dos serviços são: 
enfermeiros, técnicos em enfermagem, assistente social, psicólogo, médicos 
(oncologista, hematologista, imunologista, infectologista), farmacêutico clínico, 
nutricionista, fisioterapeuta, odontólogo e terapeuta ocupacional. A seguir, será 
descrita uma síntese da atribuição de cada profissional no processo de transplante 
de células-tronco hematopoiéticas. 
3.1 Atribuições do enfermeiro e equipe de enfermagem 
Cabe ao enfermeiro realizar a consulta de enfermagem em ambulatório; 
sistematizar as ações relacionadas ao cuidado; realizar procedimentos técnicos 
específicos em ambulatório e no setor de transplante, como acompanhar o 
processo de aspiração e infusão de medula óssea, cordão umbilical e placentário 
e precursores hematopoiéticos de sangue periférico. Acompanhar a realização de 
exames específicos e procedimentos, realizados pela equipe multiprofissional. 
Orientar e executar procedimentos técnicos relacionados ao doador de células-
tronco hematopoiéticas. Além disso, planejar, coordenar, supervisionar e avaliar 
a Sistematização da Assistência de Enfermagem ao paciente submetido ao 
transplante. 
Outro ponto importante e de extrema particularidade na atuação do 
enfermeiro é a relação com o cateter de longa permanecia e os seus cuidados, 
bem como a assistência com a mucosite. Os cuidados com o cateter envolvem 
curativo, heparinização e coleta de sangue. É necessária atenção especial devido 
às principais complicações relacionadas ao cateter de longa permanência, como: 
infecção do sítio de inserção; fratura, obstrução e deslocamento do cateter; 
extravasamento de medicamentos; pneumotórax, hemotórax, hidrotórax; 
trombose venosa; hematoma e arritmia cardíaca. 
Ainda, tem um importante papel para as ações de educação e pesquisa, 
pois cabe a ele promover a educação e a orientação dos pacientes que vão se 
submeter ao procedimento, bem como os seus familiares. É necessário que o 
profissional esteja em constate atualização, realize e participe de treinamentos e 
 
 
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eventos científicos. Cabe ressaltar que, nesta área, também desenvolve e 
participa de pesquisas sobre a temática. 
Aos demais integrantes da equipe de enfermagem, de nível técnico, 
realizam a execução da prescrição médica e de enfermagem, verificação dos 
sinais vitais e balanço hidroeletrolítico, promoção/realização da higiene pessoal 
do paciente. Participa na preparação e administração de medicamentos e 
hemocomponentes; cuidados com acesso venoso central e periférico; 
realiza/orienta alimentação. Participa de programas de treinamento promovidos 
para atualização e capacitação de forma contínua. 
3.2 Atribuições do assistente social 
O assistente social, em virtude da sua inserção socioinstitucional, atua em 
três pontos: na singularidade (fatos ou problemas isolados de tipos de família ou 
comunitários), na universalidade (visão mais ampla e completa de realidade), na 
particularidade (situa o problema apresentado dentro deste universo). Sua 
atuação refere-se às ações socioeducativas, para proporcionar uma rede 
articulada de apoio ao paciente, durante a hospitalização e após. O contato inicia-
se no ambulatório ou na unidade de internação e continua durante todas as fases 
até a sua reinserção na sociedade. 
O paciente e a família passam por uma avaliação socioeconômica, após a 
indicação médica do transplante. Posteriormente; realiza-se uma reunião com a 
equipe multiprofissional de transplante para discussão do procedimento. Caso 
seja necessário, também realiza visita domiciliar para avaliar as condições 
mínimas da residência, relacionadas à infraestrutura para receber o paciente após 
a alta hospitalar. Ainda, esse profissional avalia as condições de permanência de 
um acompanhante confiável, de acomodação e permanência no próprio município 
onde será realizado o transplante. 
Ele realiza orientações gerais e previdenciárias ao paciente e aos 
familiares; apoia e orienta o paciente em suas necessidades socioeconômicas; 
auxiliar na seleção, orientação e apoio ao acompanhante do paciente; cria 
condições para o paciente e seu acompanhante permaneçam na Unidade de 
transplante de células-tronco hematopoiéticas ou próximo dela durante o período 
pós-transplante imediato; busca recursos e cria soluções para assegurar ao 
paciente acesso aos medicamentos após a alta hospitalar; monitoriza e auxiliar a 
reintegração do paciente à sua comunidade de origem. 
 
 
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3.3 Atribuições do psicólogo 
Realiza avaliações psicológicas, visando à compreensão da psicodinâmica 
do paciente, ou familiar/acompanhante. Pode também elaborar laudos, pareceres 
técnicos, relatórios e outras comunicações profissionais. Realiza intervenção 
individual ou em grupo para orientação, aconselhamento psicológico ou 
psicoterápico. Também participa das ações de ensino e pesquisa. 
3.4 Atribuições da equipe médica 
Além de a equipe médica participar das atividades relacionadas ao ensino 
e à pesquisa na área, ela atua em cinco principais situações: 
 unidade de internação: atendimento intensivo aos pacientes que passaram 
ou passarão pelo procedimento, aos doadores e em situações de 
reinternamento; 
 ambulatório de retornos: atendimento aos pacientes que receberam alta 
hospitalar e encontram-se em nível ambulatorial; 
 ambulatório de novos casos: atendimento ao paciente que passará pelo 
procedimento, desde a descoberta da doença até a definição do tipo de 
transplante que será realizado. No ambulatório, realizam-se os riscos e 
benefícios do transplante e a existência de tratamentos alternativos; 
 ambulatório de falência medular: comumente são atendidos pacientes sem 
doadores compatíveis; 
 coleta de células-tronco hematopoiéticas: realização do procedimento em 
centro cirúrgico para a extração das células-tronco hematopoiéticas do 
doador. 
3.5 Atribuições do farmacêuticoclínico 
O farmacêutico clínico do transplante de células-tronco hematopoiéticas 
vai além do preparo dos antineoplásicos, com o objetivo da manutenção das 
características do produto e não agregar nenhuma carga microbiana. A sua 
atuação refere-se ao auxílio na escolha dos melhores horários para a utilização 
de cada um dos fármacos, de modo a evitar as interações medicamentosas e a 
orientação referente aos efeitos adversos e cuidados com cada fármaco. Atuam 
também na validação da prescrição para evitar erros adversos. 
 
 
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3.6 Atribuições do nutricionista 
O nutricionista realiza orientação referente a dieta em todas as etapas do 
procedimento de transplante de células-tronco hematopoiéticas, ao paciente e aos 
seus familiares. Realiza a avaliação nutricional na internação, durante a 
internação e no ambulatório. Procede a prescrição de dietas conforme as fases 
do tratamento, bem como a via de administração mais indicada segundo as 
condições clínicas do paciente. A avaliação do consumo alimentar ocorre 
diariamente, com estímulo da ingesta oral, em virtude da diminuição da ingestão 
de alimentos e o aumento das necessidades metabólicas do paciente. Eles podem 
apresentar anorexia, náuseas, êmese, mucosite, hipogeusia, disgeusia e diarreia. 
Destaca-se que outro fator importante na atuação desse profissional é a 
garantia de uma alimentação com o mínimo de agentes patogênicos infecciosos, 
e todos os alimentos passam pelo processo de cocção e os líquidos são fervidos 
ou autoclavados. 
No setor de nutrição orienta-se a equipe quanto aos cuidados referentes a 
aquisição, manipulação, conservação, preparo e transporte dos diferentes tipos 
de dietas, de acordo com a prescrição. Esse profissional também participa das 
reuniões multidisciplinares para discussão dos casos, de eventos, pesquisas e 
elabora protocolos referentes à terapia nutricional. 
3.7 Atribuições do fisioterapeuta 
O fisioterapeuta atende às necessidades do paciente em decorrência do 
isolamento protetor e a restrição de atividade física, sendo esta associada à 
toxicidade dos agentes quimioterápicos utilizados durante o regime de 
condicionamento pré-transplante, podendo potencializar os efeitos para o sistema 
cardiopulmonar. 
Assim, os efeitos provocados pela ausência de atividade ou repouso 
prolongado no leito, são prevenidos ou reduzidos, com as ações fisioterápicas. 
São utilizadas principalmente quatro tipos de reabilitação: paliativa, de suporte, 
restauradora e preventiva. O atendimento comumente é realizado no durante a 
hospitalização, no ambulatório e em situações de reinternação. 
O principal objetivo do tratamento é reduzir ou prevenir a atrofia muscular, 
tratamento ou prevenção de infecções respiratórias e microatelectasias de 
pulmão. A fisioterapia é importante para auxiliar no tratamento dos pacientes 
 
 
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submetidos ao transplante de células-tronco hematopoiéticas, promovendo 
melhorias na função global ou auxiliando no tratamento dos sintomas 
apresentados. 
3.8 Atribuições do odontólogo 
O odontólogo realiza o exame clínico e radiológico para avaliar a presença 
de focos infeciosos, instrui a realização de higiene oral e controle da placa 
bacteriana. Realiza a raspagem e alisamento radicular, remoção de cálculo e 
cemento contaminado, de tecido cariado e confecciona restaurações e próteses 
provisórias. Remove aparelhos ortodônticos e protéticos que possam danificar a 
mucosa dentária durante o período de imunossupressão. 
Ele acompanha diariamente a evolução das lesões da mucosa oral 
durante o período de internação. Monitora as mucosistes e proporciona um 
tratamento adequado para cada grau de envolvimento. Além disso, monitora as 
lesões de origem fúngica ou virais decorrentes da imunossupressão 
desenvolvidas pelo tratamento de quimioterapia e radioterapia. 
Após o transplante, acompanha o paciente e orienta o dentista na cidade 
de origem quanto ao tratamento dentário necessário pós-transplante. Realiza 
procedimentos como gengivectomia de hiperplasia gengival de origem 
medicamentosa, biópsia e glândula salivar menor para confirmação de Doença do 
Enxerto Contra o Hospedeiro (DECH). 
3.9 Atribuições do terapeuta ocupacional 
Ele elabora o diagnóstico terapêutico ocupacional e avaliação cinética-
ocupacional; analisa e estuda as alterações psicossociais e emocionais; orienta 
os espaços físicos, mobiliários e utensílios a serem utilizados no ambiente 
doméstico, para a autonomia nas atividades de vida diária, alimentação higiene, 
vestuário, locomoção e comunicação. 
TEMA 4 – ASPECTOS ÉTICOS VOLTADOS AO TRANSPLANTE DE CÉLULAS-
TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 
Partindo dos conceitos relacionados a Bioética já conhecidos, é necessário 
levar em consideração: a autonomia, o benefício, o não malefício e a justiça. 
 
 
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A autonomia se refere à liberdade de o paciente escolher/optar pelo seu 
tratamento. Inclui a relação entre a equipe e o paciente para a liberdade de tomada 
de decisão ou não da conduta, nesse quesito inclui-se também o consentimento 
para o diagnóstico e tratamento. Para que o paciente possa tomar sua decisão, a 
equipe necessita repassar todas as informações necessárias, para que ele se 
sinta apto a decidir. 
A autonomia, como descrito por Sá e Moureira (2012), decorre da 
possibilidade de o indivíduo assumir uma postura de autodeterminação a qual 
dispensa interferências exteriores, ou seja, ele pode decidir, inclusive para 
determinar configurações de uma vida que lhe é própria. 
O benefício e o não maleficio são a busca de decisões éticas que possam 
garantir o maior benefício, a maior porção do bem em relação ao mal, ou a menor 
maleficência. 
Quando os transplantes iniciaram, a justificativa ética para a realização era 
baseada na intuição. Acreditava-se que se houvesse a possibilidade de alcance 
de resultados promissores, resguardando a vida do paciente no procedimento, 
cabia ao médico encontrar um doador. 
Com o passar do tempo, com os avanços no aprimoramento dos 
transplantes de células-tronco hematopoiéticas, com a descoberta de novos 
fármacos, surgiram também novos questionamentos para a realização do 
transplante. Destaca-se que, nos últimos 40 anos, ocorreu a progressão da 
utilização do transplante partindo de procedimentos com número pequeno de 
resultados para resultados exitosos. 
Nessa evolução, passou-se a utilizar o consentimento informado para o 
receptor, com descrição minuciosa de todos os possíveis riscos e os resultados; 
a liberdade dos familiares e do doador em aceitar ou recusar a conduta 
apresentada; melhoria no processo de comunicação; maior rastreabilidade entre 
possíveis doadores compatíveis, e local adequado para a realização do 
transplante, garantindo, assim, segurança para o doador e receptor durante todo 
o processo. 
No consentimento informado, incluem-se discussões sobre a doação de 
medula óssea, indicação do procedimento, ressuscitação cardiopulmonar, riscos, 
benefícios, complicações, intercorrências, qualidade de vida, alocação de 
recursos e novas terapias, entre outros. 
 
 
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Em relação ao período pós-transplantes, também são considerados os 
preceitos éticos relacionados à incompatibilidade, sendo a aceitação ou não do 
organismo, das células enxertadas, o que pode determinar, por exemplo um 
resultado ruim no transplante, porém esse resultado se torna imprevisível no 
momento da escolha e decisão do transplante. 
Um grade e importante passo no Brasil ocorreu em 1997, com a 
promulgação da Lei Federal n. 9.434 e do Decreto n. 2.268, complementado em 
1998 pela Portaria n. 3.407, que fortaleceram o subsídio legal para o transplante 
de órgãos e tecidos.Um ponto importante a ser considerado na legislação, 
encontra-se descrito no artigo 9° da Lei 9.434/1997: 
Art. 9º É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de 
tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou 
para transplantes em cônjuge ou parentes consanguíneos até o quarto 
grau, inclusive, na forma do §4º deste artigo, ou em qualquer outra 
pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à 
medula óssea. 
Diante disso, passou-se a buscar e estabelecer os critérios e as indicações 
para o transplante de células-tronco hematopoiéticas, foram estabelecidos pelo 
National Heart, Lung and Blood Institute and Leukemia Society of America, e atrela 
os critérios ao complexo de histocompatibilidade entre o doador e o receptor, 
principalmente no que se refere aos antígenos leucocitários humanos (HLA). 
Portanto, é possível a disposição de forma gratuita para fins terapêuticos a 
utilização de órgãos de pessoas vivas em benefício de outras, mas somente em 
2001 passou-se a disponibilizar a utilização de órgãos e tecidos de doador vivo 
para receptores sem vínculo de parentesco ou matrimônio sem precedida 
autorização judicial, por meio da Lei n. 10.211/2001. 
Além disso, é importante considerar, por parte da bioética, o paciente em 
seus vários aspectos, por exemplo o psicossocial, além das questões legais, 
sempre alicerçados no suporte familiar, nas condições de moradia, nível cultural 
entre outros. É necessário que sejam criadas alternativas para reflexão e o 
estabelecimento de diretrizes de conduta, principalmente envolvendo os 
profissionais que cuidam dos pacientes submetidos a esse procedimento. 
De modo a alicerçar os conhecimentos, e seguindo uma vertente paralela 
ao que se refere ao transplante de células-tronco hematopoiéticas, os pacientes 
necessitam de repetidas transfusões sanguíneas até a “pega” do enxerto, frente 
a isso existem alguns dilemas éticos em relação a hemotransfusão em 
Testemunhas de Jeová. 
 
 
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Saiba mais 
Para elucidar e melhorar os conceitos, sugere-se a leitura do seguinte 
material: 
FRANÇA, I. S. X.; BAPTISTA, R. S.; BRITO, V. R. S. Dilemas éticos na 
hemotransfusão em testemunhas de Jeová: uma análise jurídico-bioética. Acta 
Paulista de Enfermagem, v. 21, n. 3, p. 498-503, 2008. 
TEMA 5 – HUMANIZAÇÃO EM TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO 
HEMATOPOIÉTICAS 
Em 2001, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de 
Humanização da Assistência Hospitalar, desde então essa necessidade tornou-
se uma demanda continua dentro da assistência prestada pelos serviços de 
saúde. Em 2003, foi criada a Política Nacional de Humanização (PNH) para 
avanço e qualificação da atenção e gestão do Sistema Único de Saúde em todo 
o território nacional. A PNH se pauta em três princípios: a inseparabilidade entre 
a atenção e a gestão dos processos de produção de saúde, transversalidade e 
autonomia e protagonismo dos sujeitos. 
No setor de transplante de células-tronco hematopoiéticas, em virtude da 
complexidade da assistência prestada, e o tempo de hospitalização, o vínculo 
entre profissional de saúde, paciente e familiar. Frente às fragilidades, dor, 
dependência e sofrimento em decorrência das características desses pacientes, 
é necessário que os profissionais possam assisti-los de modo holístico, e não 
somente de forma técnica. 
A humanização no TCTH requer sempre considerar vários aspectos, pois 
os princípios que norteiam a PNH abrangem o atendimento ao paciente, as 
condições de trabalho dos profissionais de saúde e o atendimento às 
necessidades básicas institucionais, ou seja, administrativas, físicas e humanas. 
Considerando que o conceito de humanização está inter-relacionado com 
ao de cuidado, uma vez que, quando se considera a humanização, faz com que 
ela englobe as relações interpessoais éticas em uma dinâmica que envolve 
potencialidades do ser humano. 
Quando o paciente é recebido na unidade de TCTH, são considerados os 
cuidados essenciais para que possam ser protegidas as integridades física e 
psíquica dele. Cada profissional atuante no serviço, seguindo as suas atribuições, 
estabelece uma relação de confiança e cumplicidade com o paciente, firmando o 
 
 
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respeito no trabalho. O diálogo com linguagem simples, adequado à cultura do 
paciente, são características que enaltecem os profissionais de saúde e os 
aproximam dos pacientes. 
Assim, é possível compreender as necessidades do paciente, suas 
capacidades e desejos durante o tratamento, pois é nesse momento que ele está 
ameaçado de sua existência, enquanto que a equipe é o fator mobilizador de 
esperança, e acaba acolhendo-o de forma humana. Durante o período, é 
fundamental orientá-lo em manter a valorização do próprio ser, e cabe ao 
profissional auxiliar nesse quesito fundamentado em um cuidado real com 
atendimento humanizado. 
O decurso da humanização envolve muitos indivíduos e inúmeras práticas 
e técnicas diferentes, que estão dirigidas a um único objetivo comum. Ela está 
além dos profissionais, e inclui também a estrutura física das instituições de 
saúde, pois o ambiente propenso ao conforto e aconchego faz com que o 
atendimento tenha um diferencial. 
A humanização ocorre desde a chegada do paciente ao setor até as 
situações relacionadas a fase final de vida, sendo esta de grande dificuldade para 
aceitação. O tratamento nem sempre segue o percurso desejado pelos 
profissionais, por exemplo, a rejeição do enxerto, estrado de debilitação, entre 
outras intercorrências relacionadas a imunodeficiência decorrente da 
imunossupressão. 
Nessa fase, quando a morte é inevitável, a equipe de saúde deve 
permanecer neutra frente às questões de crenças do paciente e seus familiares. 
Porém, a permanência da equipe é indispensável, para que a assistência possa 
ter continuidade. 
A aceitação da morte pelos familiares e pacientes pode ser considerada um 
momento de grande dificuldade para a equipe, pois surgem sentimentos de 
impotência e incapacidade que, muitas vezes, acentuam-se pelo vínculo afetivo 
que foi criado durante o tratamento. Cabe ressaltar que a superação da morte vem 
com a continuidade da luta pela cura de outros pacientes e pelos 
desenvolvimentos de trabalhos internos de suporte biopsicossocial. Assim, é uma 
atitude favorável ofertar uma assistência humanizada em todas as fases do 
tratamento, independentemente do seu desfecho. 
A humanização é um processo amplo, demorado e complexo, ao qual se 
oferece resistência, pois envolve mudanças de comportamento que normalmente 
 
 
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despertam receios. É uma necessidade iminente e se faz presente em todas as 
instituições de saúde. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS. 
Dimensionamento dos transplantes no Brasil em cada estado (2010-2017). 
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