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Estudos Socioculturais: Redes Sociais

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11
Capítulo 4
Práticas culturais e processos midiáticos
Elvis Dieni Bardini
As tecnologias de informação e comunicação no século XXI: a 
sociedade em rede 
A Globalização e o advento da sociedade em rede
A globalização contemporânea consiste em um fenômeno impulsionado 
pelo desenvolvimento de tecnologias da informação e da comunicação que 
intensificaram a velocidade e o alcance da interação entre as pessoas ao redor do 
mundo. (GIDDENS, 2005).
Com os avanços das tecnologias de informação e comunicação, houve 
uma profunda transformação na abrangência e na intensidade dos fluxos 
de comunicação. Nunca foi produzida e nem veiculada tanta informação. 
A capacidade de armazenamento de informação em pequenos suportes é 
uma realidade, assim como processadores mais poderosos funcionando em 
dispositivos móveis. A tecnologia a cabo tornou-se mais eficiente e menos 
dispendiosa, e o desenvolvimento de cabos de fibra ótica tem expandido o 
número de canais transmitidos. 
A comunicação por satélite também foi importante para a disseminação das 
comunicações internacionais. Hoje, há uma rede de mais de 200 satélites 
instalados para facilitar a transferência de informação em todo o mundo. A 
globalização tem reflexos na nossa vida cotidiana, mesmo que às vezes nem 
nos demos conta. A internet surgiu como o instrumento de comunicação que 
teve o maior crescimento em todos os tempos. Duas pessoas situadas em 
lados opostos do planeta, além de conversarem em tempo real, podem enviar 
documentos, fotos, imagens, tudo com a ajuda do satélite. Cada vez mais, 
pessoas estão conectando-se por meio dessas tecnologias, mesmo em lugares 
que antes eram isolados. A economia global não é mais predominantemente 
agrícola ou industrial, mas, cada vez mais, ganha força a atividade virtual. Essa 
economia é a única que tem a sua base na informação, como é o caso dos 
softwares de computador.
12
Capítulo 4 
Esse novo contexto da economia tem sido descrito como sociedade pós-industrial, era 
da informação, economia da informação, revolução da microeletrônica e da informática. 
Algo que está relacionado a uma base crescente de consumidores, tecnologicamente 
aptos e que integram, em seus cotidianos, os novos avanços da computação, 
entretenimento e telecomunicações. 
Para serem mais competitivos nas condições globalizantes, os negócios e as 
corporações reestruturam-se a fim de ganharem flexibilidade, fazem parcerias, e 
a participação nas redes de distribuição globais tornou-se essencial para se fazer 
negócios em um mercado em constante mudança.
No plano do fluxo de informações, os indivíduos estão agora mais conscientes 
de sua conectividade com os outros e mais propensos a se identificarem com 
questões e processos globais do que no passado. Como membros de uma 
comunidade global, as pessoas percebem cada vez mais que a responsabilidade 
social não para nas fronteiras nacionais, mas se estende além delas. Os desastres 
e as injustiças que as pessoas enfrentam do outro lado do globo não são somente 
infortúnios que devem ser suportados, mas motivo para ação e intervenção. 
(GIDDENS, 2005). Enquanto no passado os instrumentos da integração foram 
a caravela, o barco à vela, o barco a vapor e o trem, seguidos do telégrafo e do 
telefone, a globalização recente faz-se pelos satélites e pelos computadores 
ligados à internet.
Segundo Giddens (2005), duas das mais influentes forças das recentes 
sociedades modernas, a tecnologia da informação e os movimentos sociais, 
uniram-se produzindo resultados surpreendentes. Os movimentos sociais 
espalhados pelo globo conseguem unir-se em imensas redes regionais e 
internacionais que abrangem organizações não governamentais, grupos religiosos 
e humanitários, associações que lutam pelos direitos humanos, defensores dos 
direitos de proteção ao consumidor, ativistas ambientais e outros que agem em 
defesa do interesse público.
Essas redes eletrônicas de contatos agora têm uma capacidade, nunca vista, 
de reagir imediatamente aos acontecimentos, de acessar e compartilhar fontes 
de informação, além de pressionar corporações, governos e organismos 
internacionais.
A internet esteve na vanguarda dessas mudanças, embora os telefones celulares, 
o fax e a transmissão via satélite também tenham apressado sua evolução. 
Ao aperto de um botão, histórias locais são disseminadas internacionalmente, 
recursos são compartilhados, experiências são trocadas e as ações são 
coordenadas em conjunto.
13
Estudos Socioculturais
A habilidade de coordenar campanhas políticas internacionais é a mais 
inquietante para os governos e a mais estimulante para aqueles que participam 
dos movimentos sociais. Os movimentos sociais internacionais apresentaram um 
crescimento constante com a difusão da internet, por meio dos protestos a favor 
do cancelamento da dívida do Terceiro Mundo, das campanhas pela proibição 
das minas terrestres explosivas, confirmando a capacidade de unir defensores 
além das fronteiras nacionais e culturais. 
Para alguns observadores, a era da informação está produzindo uma migração 
do poder dos Estados-nações às novas alianças e coalizões não governamentais. 
Existem os movimentos on-line que visam à difusão de informações sobre 
corporações, políticas de governos ou efeitos de acordos internacionais, para 
públicos que poderiam não estar a par desses assuntos. 
Alguns governos, mesmo democráticos, consideram as guerras em rede uma 
ameaça assustadora. Um relatório do exército norte-americano afirma que: uma 
nova geração de revolucionários, radicais e ativistas está começando a gerar 
ideologias da era da informação nas quais as identidades e as lealdades do 
Estado-nação podem ser transferidas para o nível transnacional da sociedade 
global. (CASTELLS, 2055).
Mídia e comunicações de massa: jornais, televisão e internet
A expressão “meios de comunicação de massa” é ampla e refere-se à imprensa 
escrita, à televisão, ao rádio, às revistas, ao cinema, à publicidade, aos 
videogames e aos cds. As palavras “mídia” e “meios” podem ser usadas como 
sinônimo, e ambas se referem ao processo de transmissão de comunicação 
para uma pessoa ou grupo de pessoas, que não é feito diretamente, ou face a 
face, mas necessita de tecnologia para mediar na transmissão de mensagens. A 
palavra “massa” significa que o meio atinge muita gente. 
Jornais
De acordo com Bryn (2006), o primeiro sistema de escrita surgiu no Egito e na 
Mesopotâmia há cerca de 5500 anos. Os jornais no formato moderno começaram 
a circular no século XVIII, e, no século XIX, a imprensa tornou-se de massa, com 
uma tiragem diária lida por milhares de pessoas. 
Os jornais representaram um avanço para a mídia moderna, pois um só veículo 
conseguia concentrar assuntos da atualidade, entretenimento e bens de 
consumo, somando-se a isso a facilidade de reprodução. 
Foi nos Estados Unidos que a população viu surgir o primeiro jornal impresso com 
preços acessíveis à boa parte de seus moradores. 
14
Capítulo 4 
Isso aconteceu no ano de 1830. O diário de “um centavo” foi originado em 
Nova York e rapidamente copiado em outras grandes cidades. No Brasil, foi 
somente com a chegada da família real, em 1808, que foi criada a Imprensa Régia 
Brasileira, e o primeiro jornal a circular foi a Gazeta do Rio de Janeiro, um órgão 
oficial da imprensa portuguesa. (BRYN, 2006). 
Durante mais de meio século, os jornais foram soberanos como principal forma 
de transmitir informação de maneira rápida e abrangente. A maior parte das 
mídias eletrônicas surgiu no século XX. O primeiro sinal de TV foi transmitido em 
1925, quatorze anos depois foi criada a primeira rede de TV, nos Estados Unidos. 
A internet comercial é de 1991. Com o surgimento do rádio, do cinema, da 
televisão e da internet, os jornais diminuíram sua influência. (BRYN, 2006). 
É possível que a comunicaçãoeletrônica leve a uma diminuição na circulação de 
jornais impressos, pois as notícias estão agora disponíveis on-line e atualizadas 
constantemente, ou a “cada minuto”. A maior parte dos jornais de médio e 
grande porte tem suas versões eletrônicas, nas quais a maioria dos acessos são 
gratuitos, mas a quantidade de publicidade é elevada.
Televisão
Junto com a internet, a TV é o grande fenômeno dos meios de comunicação de 
massa nos últimos 50 anos. É possível que uma criança que nasça hoje passe 
mais tempo de sua vida, quando acordado, em frente à TV do que fazendo 
qualquer outra atividade. Praticamente todos os lares brasileiros têm TV e 
ficam ligados por mais de 5 horas diárias. O número de canais de televisão vem 
crescendo com os avanços na tecnologia de satélites e cabos.
Com o advento da globalização, a televisão vem sofrendo mudanças importantes, 
fazendo com que programas de TV atinjam um nível mais global. Lugares em que 
o sistema de programas de televisão e o número de aparelho de TV eram baixos, 
como a antiga União Soviética, partes da África e da Ásia, por exemplo, nos 
últimos anos expandiram sua capacidade de transmissão, sobretudo, importando 
programas de outras redes de televisão. É bastante conhecido do público o 
sucesso das novelas brasileiras em países da África, por exemplo. 
Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas para tentar compreender os efeitos 
dos programas de televisão. Entre os tópicos mais pesquisados, está a forma de 
transmissão de notícias na TV. Como uma grande parte dos indivíduos não tem 
o hábito da leitura de jornais impressos, boa parte da informação sobre o que 
acontece no mundo é recebido por noticiários da TV. De acordo com Giddens 
(2005), as pesquisas mais conhecidas sobre o assunto são as desenvolvidas 
pelo Glasgow Media Group (Grupo de Mídia de Glasgow), da Universidade de 
Glasgow. 
15
Estudos Socioculturais
O grupo publicou uma série de livros sobre a apresentação de notícias. O primeiro 
é baseado na análise de noticiários, dos três canais de TV do Reino Unido da 
época, entre os meses de janeiro e junho do ano de 1975.
Nas palavras de Giddens (2005, p. 372):
O objetivo era oferecer uma análise sistemática e imparcial 
dos conteúdos das notícias e do modo como elas eram 
apresentadas. [...] Bad News conclui que as notícias sobre as 
relações industriais foram sempre apresentadas de maneira 
seletiva e tendenciosa. Termos como ‘desordem’, ‘radical’ e 
‘greve inútil’ sugeriram visões anti-sindicalistas. Os efeitos das 
greves, provocando transtornos para o público, foram bem 
mais relatados que as suas causas. As imagens utilizadas 
faziam muitas vezes com que as atividades dos manifestantes 
parecessem irracionais e agressivas. [...] O livro também chamou 
atenção para o fato de que aqueles que constroem as notícias 
agem como ‘porteiros’ do que entra na agenda – em outras 
palavras, tudo o que o público ouve.
Com um conteúdo tão controverso, esse livro foi motivo de intensos debates. 
Alguns pesquisadores acusaram o grupo da Universidade de Glasgow de estar 
sendo parcial; outra crítica afirmava que a pesquisa não era confiável, pois os 
cinco meses em que o grupo analisou os noticiários não foram representativos. 
De qualquer forma, as pesquisas foram válidas no sentido de mostrar que 
as notícias jornalísticas não são apenas uma ‘descrição’ de um determinado 
fato, mas uma interpretação. E essa interpretação sobre a realidade é a que é 
mostrada ao público.
Internet
A internet é um novo fenômeno de mídia. Não se sabe exatamente o número 
de pessoas que a utilizam, mas há estimativas de que mais de 100 milhões 
de pessoas espalhadas no mundo inteiro podem acessá-la. Seu crescimento 
é de aproximadamente 200% em cada ano, desde 1985. O acesso à internet 
é extremamente desigual tanto em termos de países, como regiões dentro do 
Brasil. 
De acordo com o mapa da inclusão da Internet World Usage, os Estados Unidos 
possuem mais de 280 mi de usuários usuários, por volta de 87% da população 
total, enquanto no Brasil, atualmente 58% da população é usuário da internet, 
o que significa pouco mais de 117 milhões de indivíduos com acesso à rede 
mundial de computadores. Há uma variação regional grande, com concentração 
de usuários, ou internautas, nas regiões urbanas do sudeste e sul do país. 
16
Capítulo 4 
Figura 4.1 – Mapa da inclusão
 BRAZIL
BR - 204,259,812 Population (2015) - Country Area: 8,544,418 sq km
Capital City: Brasilia - population 2,593,886 (2012)
117,653,652 Internet users as of Dec/14, 57.6% penetration, per IWS.
202,944,033 Mobile cellular subscribers as of Dec/10, 99.8% penetration, per ITU.
103,000,000 Facebook users on Nov 15/2015, 50.4% penetration rate. 
 UNITED STATES OF AMERICA
US - 321,368,864 Population (2015) - Area: 9,629,047 sq km 
Capital City: Washington D.C. - population 603,860 (2012)
280,742,532 Internet users as of Nov.15, 2015, 87.4% penetration, per IWS.
192,000,000 Facebook subscribers on Nov 15/15, 59.7% penetration rate.
Fonte: Internetworldstats, 2016
 
A exclusão digital representa mais uma forma de exclusão, pois leva à 
desigualdade de oportunidades, já que o acesso a tecnologias de informação e 
comunicação foi a base para a sociedade do conhecimento. 
Outra forma de desigualdade de acesso à internet no Brasil está relacionada 
à questão de cor. Os dados do IBGE apontam que, em 2003, a cor “branca” 
representava 53,74% da população brasileira, seguida de pardos – 38,45%, 
pretos – 6,21%, outras – 0,71%, amarela – 0,45% e indígena – 0,43%. Entre os 
que têm mais acesso à internet estão os amarelos, com 41,66%, seguidos dos 
brancos, com 15,14% de indivíduos conectados à rede; daí em diante estão os 
pardos, com 4,06%; pretos, com 3,97%; indígenas, com 3,72%; e outros, com 
7,25%. Com esses dados, podemos verificar que, no Brasil, um branco tem 
168% a mais de chances do que um não branco de ter acesso à internet! 
As implicações sociais da internet
Nesse momento de mudanças tecnológicas tão surpreendentes, ninguém sabe 
ao certo o que o futuro reserva-nos. Alguns apontam os internautas como 
integrantes do “ciberespaço”, isto é, espaço de interação formado pela rede 
global de computadores que configura a internet. 
17
Estudos Socioculturais
Por vezes, parece que, no ciberespaço, a mensagem é mais importante que 
as pessoas, pois, sem a identificação do usuário, não há como saber se nos 
comunicamos com mulheres, homens, ou em qual lugar do mundo essa pessoa 
está. Giddens (2006, p.382) fala de um famoso cartum, sobre a internet, no Reino 
Unido. O cartum traz um cachorro sentado na frente de um computador e a 
seguinte legenda: “O melhor da internet é que ninguém fica sabendo que você é 
um cachorro.”
Figura 4.2 - Cartum de Peter Steiner 
Fonte: Webmanario, 2009.
A internet trouxe novos desafios de interpretação para os sociólogos. Há 
pesquisadores que a veem de forma entusiástica, apontando que no mundo 
on-line há mais possibilidades de relacionamentos, pois o meio eletrônico 
complementaria as interações face a face. Como não considerar o sucesso de 
sites de relacionamento como o Facebook, o qual muitas vezes possibilita o 
reencontro de colegas antigos, promove encontros e agrupa pessoas com os 
mesmos interesses? 
Há também os teóricos, menos otimistas, os quais apontam que à medida que as 
pessoas dedicam mais tempo a comunicações on-line, elas estariam dedicando 
menos tempo a interações no mundo físico. 
Outro problema da internet seria a diminuição do limite entre trabalho e vida 
doméstica, já que muitos trabalhadores continuam nas suas casas acessando 
e-mails ou concluindo atividades pendentes, reduzindo, assim, o tempo para 
contatos humanos. Quais dos grupos de teóricos estão com a razão? 
18
Capítulo 4 
Possivelmente os dois e nenhum dos dois, ou seja,existem fundamentos de 
verdade nas duas análises, mas nenhuma delas sozinha é capaz de interpretar 
essa realidade. A internet não é boa nem ruim. Da mesma forma que ocorreu 
anteriormente com o advento da TV, a internet provoca temores e esperanças. Até 
o momento, temos indicadores que não seremos “tragados” do mundo real para 
o mundo virtual.
O ciberespaço
A história está repleta de exemplos de tecnologias que favoreceram a 
comunicação e a interação entre os humanos. As sociedades ocidentais 
desenvolveram-se e transformaram-se com base nessas tecnologias, produzindo 
novas formas de relacionamento social e, consequentemente, alterando desde a 
formação da subjetividade coletiva até a produção cultural e a vida cotidiana.
O alfabeto, inventado na Grécia por volta do século VI a.C., constitui “a base para 
o desenvolvimento da filosofia ocidental e da ciência como conhecemos hoje” 
(CASTELLS, 2005). Isso proporcionou a estrutura mental para a comunicação 
cumulativa baseada em conhecimento.
Na contemporaneidade, está em curso a integração de vários modos de 
comunicação em uma rede interativa. O que se configura nas palavras de Castells 
(2005, p. 413) é “a formação de um hipertexto e uma metalinguagem, que pela 
primeira vez na história integra no mesmo sistema as modalidades escritas, oral, 
e audiovisual da comunicação humana”. Algo que se evidencia nas mudanças 
observadas no caráter da comunicação e na cultura.
Ainda, segundo o autor:
como a cultura é mediada e determinada pela comunicação, as 
próprias culturas, isto é, nossos sistemas de crenças e códigos 
historicamente produzidos são transformados de maneira 
fundamental pelo novo sistema tecnológico e o serão ainda mais 
com o passar do tempo (...) o surgimento de um novo sistema 
eletrônico de comunicação caracterizado pelo alcance global, 
integração de todos os meios de comunicação e interatividade 
potencial está mudando e mudará para sempre nossa cultura. 
(CASTELLS, 2005, p.414).
Mais do que nunca, o início do século XXI (como preconizado pela ficção 
científica, porém, com diferenças pontuais) apresenta uma série de fenômenos 
decorrentes das tecnologias de informação e seus impactos nas sociedades 
contemporâneas.
19
Estudos Socioculturais
Na atualidade, essas tecnologias, denominadas como TICs (tecnologias de 
informação e comunicação), promovem o que Giddens (2005, p. 62) chama de 
“Compressão” do tempo e do espaço. Esse fenômeno caracteriza-se por diminuir 
as fronteiras espaço-temporais ao “encurtar” distâncias com a utilização de 
ferramentas que promovem o fluxo de informação numa velocidade nunca antes 
vista, como imagens em tempo real circulando pelo globo e, consequentemente, 
alterando a forma como percebemos a sociedade e como nos inserimos nela.
Para Castells (1999, p.67-68), essas tecnologias consistem em um “(...) 
conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação 
(software e hardware), telecomunicações/radiodifusão, e optoeletrônica. (...)”, 
desencadeando o processo atual de transformação tecnológica que “expande-
se exponencialmente em razão de sua capacidade de criar uma interface 
entre campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum, na qual a 
informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida”. 
Como todos os processos são mediados por máquinas ou interfaces 1, a 
construção social agora se amplia para outro campo, o mundo virtual, ou como 
também se denomina, o ciberespaço. 
De acordo com Pereira e Bernard (2011), o ciberespaço,
pode ser compreendido como um ambiente tecnológico que 
abarca múltiplos contextos de uso e significados culturais. Mais 
de 2 bilhões de pessoas, segundo dados da União Internacional 
de Telecomunicações (UIT) de 2011, alimentam com textos, 
imagens, sons e outros códigos o turbilhão de informações que 
circula pela rede mundial de computadores interconectados. 
A etimologia da palavra remete-nos ao romance de ficção científica Neuromante, 
de Willian Gibson, escrito em 1984, cujo título é um termo imediatamente 
emprestado pelos usuários e criadores de redes digitais. Levy (1999, p. 92) 
define o ciberespaço como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão 
mundial de computadores e de memórias dos computadores”. 
Ainda, para o autor, 
O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da 
interconexão mundial de computadores. O termo especifica não 
apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas 
também o universo oceânico de informações que ela abriga, 
assim como os serres humanos que navegam e alimentam esse 
universo.(LEVY, 1999, p. 17).
1 De acordo com Levy (1999, p.36, todos os aparatos materiais que permitem a interação entre o universo da 
informação digital e o mundo ordinário.
20
Capítulo 4 
Uma de suas principais funções é o acesso a distância aos diversos recursos 
de um computador. “Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e 
interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de 
comunicação e de simulação”. (LEVY, 1999, p. 93).
Várias outras são as funções do ciberespaço, como a transferência de dados e 
upload, troca de mensagens, conferências eletrônicas etc. Ou seja, 
O ciberespaço permite a combinação de vários modos de 
comunicação. Encontramos, em graus de complexidade 
crescente: o correio eletrônico, as conferências eletrônicas, 
o hiperdocumento compartilhado, os sistemas avançados de 
aprendizagem ou de trabalho cooperativo e, enfim, os mundos 
virtuais multiusuários. (LEVY, 1999, p. 104).
O surgimento do ciberespaço deve-se, principalmente, à criação da mais 
avançada mídia da atualidade, a internet. Desenvolvida pela Agência de 
Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA), do Departamento de Defesa dos EUA, 
inicialmente com finalidade militar, a internet hoje é resultado da convergência 
de várias tecnologias eletrônicas no campo da comunicação. Nas palavras de 
Castells (2005, p. 82), “talvez o mais revolucionário meio tecnológico da Era da 
Informação”, a internet é o meio de comunicação com o mais veloz índice de 
penetração entre as pessoas nos EUA. Em apenas três anos superou a marca de 
sessenta milhões, algo só conseguido pela televisão após quinze anos e o rádio 
em pelo menos trinta (CASTELLS, 2005). No entanto, extremamente desigual em 
relação ao acesso entre todas as pessoas do globo.
Figura 4.3 – Globalização na cibercultura
Fonte: Blogrtvi110, 2016.
21
Estudos Socioculturais
As redes sociais digitais
No ciberespaço, o fenômeno mais evidente é o das redes sociais. Objeto 
que desperta o interesse de várias ciências sociais como a Antropologia, a 
Sociologia, a economia etc., haja vista sua potencialidade em termos alteração no 
comportamento dos indivíduos.
Nas redes sociais, novos atores sociais surgem representados por ferramentas 
como weblog, fotolog, facebook, twitter etc.; ou seja, “espaços de interação, 
lugares de fala construídos pelos atores de forma a expressar elementos de sua 
personalidade ou individualidade”. (RECUERO, 2009). 
Como cita Recuero, “Uma rede social é definida por um conjunto de dois 
elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (interações 
ou laços sociais)”. (WASSERMAN & FAUST, 1994 apud RECUERO, 2009, p. 82). 
Assim como a Revolução Industrial do séc. XVIII, a Revolução Tecnológica, que 
caracteriza o que se batizou como a “Era da Informação” (constituída pelas 
tecnologias da informação, processamento e comunicação), impactou de forma 
determinante na economia, nos modos de produção, na sociedade e na cultura. 
A diferença de paradigma situa-se entre as novas fontes de energia emergentes 
com primeira Revolução, em relação à tecnologia da informação na atualidade
As redes sociais são anteriores à internet, que apenas ampliou o “espaço” para 
as interações. Isso só foi possível a partirda criação do aplicativo WWW (World 
Wide Web) no início dos anos noventa do século passado. Essa ferramenta 
possibilitou organizar os conteúdos da rede por sítios de informação, expandindo 
a utilização dessas tecnologias para além dos ambientes militar e científico, que 
as originaram.
Para Castells (1999, p. 565-566),
Redes constituem a nova morfologia das nossas sociedades, e a 
difusão da lógica da rede modifica substancialmente a operação 
e os produtos nos processos de produção, experiência, poder 
e cultura. Enquanto que a forma de rede de organização social 
existiu noutros tempos e noutros espaços, o paradigma da nova 
tecnologia de informação fornece o material de base para sua 
expansão hegemônica por toda a estrutura social. (...) As redes 
são estruturas abertas, com o potencial de se expandirem sem 
limites, integrando novos nós desde que sejam capazes de 
comunicar dentro da rede, nomeadamente desde que partilhem 
os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou 
objetivos de desempenho). Uma estrutura social com base na 
rede é um sistema altamente dinâmico e aberto, susceptível 
de inovar sem ameaçar o seu próprio equilíbrio. Redes são 
instrumentos apropriados para a economia capitalista baseada 
22
Capítulo 4 
na inovação, globalização e concentração descentralizada 
para o trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para a 
flexibilidade e adaptabilidade; para uma cultura de desconstrução 
e reconstrução contínuas (...) e para uma organização social que 
vise a suplantação do espaço e invalidação do tempo.
Numa visão um pouco mais simplificada, Recuero (2009, p. 102) define sítios de 
redes sociais como “sistemas que permitem 1) a construção de uma persona 
através de um perfil ou página pessoal; 2) a interação através de comentários e 3) 
a exposição pública da rede social de cada autor”. 
A partir desses pressupostos, tornam-se evidentes as implicações sociais das 
redes sociais (principalmente a ocidental), que despertam temas relacionados a 
novas formas de sociabilidade e de organização de movimentos sociais. Mais 
especificamente, apresentam-se como passíveis de discussão e análise questões 
como a privacidade no mundo virtual; a segurança nas transações comerciais, a 
exposição pública de informações pessoais e o acesso irrestrito a todo tipo de 
conteúdo. Ou seja, a discussão acerca das redes sociais digitais tem relação com 
diversos temas. Entre os principais podemos destacar: questões relacionadas à 
privacidade, à possibilidade da movimentação e organização política, à segurança 
nas transações realizadas na Internet (bancos e sites de compras), ao uso 
patológico das redes sociais digitais e suas implicações psicológicas (depressão 
e ansiedade), à exposição de informações pessoais, ao acesso irrestrito a todo 
tipo de conteúdo, e até mesmo o contato com pessoas desconhecidas .(PARADA, 
2010).
São temas e questões que permeiam o debate sociológico acerca do ciberespaço 
e que podem ser classificadas (assim como na análise anterior acerca das 
implicações da internet) em duas linhas de análise: uma otimista, na qual se 
elencam os benefícios que as novas tecnologias de informação e comunicação 
promoveram nesta sociedade baseada na informação e no conhecimento; e outra 
mais crítica. Nesta, Egler (2010, p. 210-211), aponta a possibilidade de as TICs e 
a nova organização em rede configurarem um novo formato de dominação dos 
países desenvolvidos sobre os países em desenvolvimento, haja vista o domínio 
tecnológico e a posse do capital informacional dos primeiros. 
O autor também pondera sobre essas duas linhas, expondo que:
Trata-se, portanto, de duas formas de interpretar a sociedade 
da informação, uma primeira que faz a sua crítica associada ao 
desvendamento de estratégias que definem as formas como 
são utilizadas as redes, para ampliar o poder de dominação 
econômica e política. Um segundo posicionamento mais otimista 
que procura analisar seus efeitos sobre a vida cotidiana, a 
formação de identidades, as possibilidades de estabelecer um 
lugar-comum, e observam suas potencialidades na formação de 
novos espaços de cooperação que busquem, na experiência das 
redes, a formação de um novo espaço público de ação coletiva 
que se forma em benefício da emancipação social. (EGLER, 2010, 
p. 210-211).
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Estudos Socioculturais
Pierre Levy, em seu livro Cibercultura, procura responder de forma positiva 
algumas das questões que surgem a partir de uma análise mais crítica da 
sociedade em rede. Para o fato de essas novas tecnologias tornarem-se fonte de 
exclusão, o autor aponta caminhos como a necessidade de observar a tendência 
de conexão e não seus números absolutos, considerando o fato de o número de 
pessoas que participam da cibercultura haver aumentado de forma exponencial 
desde o fim dos anos 80, sobretudo entre os jovens. 
Outra questão é a possibilidade de tornar os avanços tecnológicos cada vez mais 
baratos e acessíveis entre os estratos sociais menos favorecidos. 
Em relação a possíveis ameaças à diversidade das línguas e das culturas pelo 
ciberespaço, Levy pondera que: 
certamente seria técnica e politicamente possível reproduzir 
no ciberespaço o dispositivo de comunicação das mídias 
de massa. Porém, parece-me mais importante registrar as 
novas potencialidades abertas pela interconexão geral e pela 
digitalização da informação. (LEVY, 1999, p. 239).
Nesse sentido, ele defende o fim dos monopólios da expressão pública, pois no 
ciberespaço o indivíduo possui a liberdade e os meios para, por exemplo, “propor 
suas sínteses e sua seleção de notícias sobre determinado assunto”. (LEVY, 
1999, p. 240); existe uma crescente variedade de modos de expressão (vide as 
novas formas de escrita); são progressivos a disponibilidade de instrumentos de 
filtragem e de navegação e o desenvolvimento das comunidades virtuais e dos 
contatos interpessoais a distância por afinidade, sendo que o “principal fato a 
ser lembrado é que os freios políticos, econômicos ou tecnológicos à expressão 
mundial da diversidade cultural jamais foram tão fracos quanto no ciberespaço”. 
(LEVY, 1999, p. 240).
Um exemplo que corrobora a tese de Levy evidencia-se no que ficou conhecida 
em 2011 como ”a primavera árabe”, denominação dada aos protestos populares 
contra governos do mundo árabe, mais especificamente Egito, Tunísia, Líbia, 
Iêmen e Barein, que teve na internet, em particular as redes sociais, um poderoso 
suporte para o chamamento e organização da população civil. Para Muzammil 
M. Hussain, professor do Centro de Comunicação e Engajamento Civil da 
Universidade de Washington, “ao contornar as restrições de organização política 
e social no mundo real em regimes autoritários, as mídias sociais fizeram com 
que as pessoas nesses países se sentissem fortes e poderosas para promover 
mudanças no mundo real”. 
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Capítulo 4 
Em consonância com esse fenômeno, Machado (2007, p.268) afirma que:
A possibilidade de comunicação rápida, barata e de grande 
alcance faz atualmente da Internet o principal instrumento de 
articulação e comunicação das organizações da sociedade civil, 
movimentos sociais e grupos de cidadãos. A rede se converteu 
em um espaço público fundamental para o fortalecimento 
das demandas dos atores sociais para ampliar o alcance de 
suas ações e desenvolver estratégias de luta mais eficazes.(...) 
Em suma, a rede é um espaço público que possibilita novos 
caminhos para interação política, social e econômica. 
Mas o tema não se esgota nestas poucas laudas. Longe disso, pelo fato de ser 
um fenômeno em pleno desenvolvimento e ainda com pouca produção analítica, 
as ciências sociais ainda tecem neste momento os possíveis instrumentos 
teóricos e a delimitação de problemas e hipóteses mais precisas para abordar os 
temas que surgem das novas relações sociais mediadas pelas interfacesdigitais.
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