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AULA 4 TENDÊNCIAS EM TRANSPORTES NACIONAL E INTERNACIONAL Profª Ananda Silva Singh 2 CONVERSA INICIAL Caro(a) aluno(a), Devido ao volume e à complexidade das atividades logísticas, elas acabam impactando a sociedade e o meio ambiente como um todo. Diante disso, esta aula sobre meio ambiente e armazenagem foi estruturada de forma a tratar principalmente dos impactos da logística nessas áreas, bem como as principais funções e equipamentos utilizados na armazenagem (outra atividade-chave da logística que contribui para o atingimento da missão logística das organizações). No Tema 1, apresentamos a logística reversa e sua definição, seu fluxo e seu impacto na competitividade das empresas. As atividades da logística reversa podem não só contribuir para as empresas sobreviverem no mercado em que atuam, por meio do cumprimento de legislações e de ações sustentáveis, como também gerar impactos positivos em sua imagem, contribuindo para que ela obtenha destaque dentre seus concorrentes. No Tema 2, estudaremos a sustentabilidade e o meio ambiente, analisando os impactos que as atividades logísticas podem ter nas esferas econômica, social e ambiental. É interessante que os gestores compreendam os impactos que as atividades logísticas podem acarretar nessas áreas com vistas a contemplá-las em suas atividades de planejamento logístico. Já no Tema 3, abordaremos definições e conceitos relacionados à responsabilidade social e sua relação com a logística. No Tema 4, trataremos das funções da armazenagem, outra atividade-chave da logística, assim como os transportes. No Tema 5, por fim, falaremos sobre os principais equipamentos de movimentação e armazenagem utilizados em depósitos, armazéns e centros de distribuição, além de suas principais aplicações e características. CONTEXTUALIZANDO Diante da crescente preocupação com o bem-estar da sociedade, os impactos ambientais que as operações empresariais acarretam e a viabilidade econômica de ações tomadas por gestores, a sustentabilidade mostra-se um tema de vital importância a ser tratado por pesquisadores e compreendido por gestores de organizações que desejam se manter competitivas no mercado. As decisões relacionadas à logística tomadas por gestores acabam por impactar um ou mais aspectos da sustentabilidade em suas dimensões social, 3 ambiental e econômica. Diante disso, podemos nos questionar: de que forma as atividades logísticas podem contribuir para gerar impactos positivos nas dimensões da sustentabilidade? Saiba mais Para saber mais, esse e outros questionamentos serão delineados no decorrer de nossos estudos nesta aula. Maiores informações sobre o tema podem ser visualizadas nos links a seguir. BERARDI, P.; MONZONI NETO, M. P. Natura: carbono neutro. Revista Brasileira de Casos de Ensino em Administração, p. 3, set. 2010. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/gvcasos/article/view/2963/2091>. Acesso em: 13 jun. 2018. GRUPO BOTICÁRIO. Logística reversa. 4 maio 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RB8mk8d-oOo>. Acesso em: 13 jun. 2018. TEMA 1 – A LOGÍSTICA REVERSA A logística reversa possui diversas definições, sendo uma delas a do Conselho de Profissionais de Gestão da Cadeia de Suprimentos (Council of Supply Chain Management Professionals – CSCMP, 2005): “[...] um segmento especializado da logística que foca o movimento e gerenciamento de produtos e materiais após a venda e após a entrega ao consumidor. Inclui produtos retornados para reparo e/ou reembolso financeiro”. Autores como Rogers e Tibben-Lembke (1998) e Novaes (2007) apresentam, como atividades da logística reversa, o planejamento, a implementação e o controle da eficiência, do custo efetivo do fluxo de matérias-primas, e de estoques em processo, produtos acabados e informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem. Todas essas tarefas são realizadas como o intuito de recuperar valor ou destinar os materiais recolhidos ou devolvidos a destinos apropriados. Apesar de suas diversas definições, a logística reversa é uma atividade complexa, visto que contempla operações relacionadas ao reúso de produtos e materiais, tais quais atividades logísticas de coleta, desmontagem de processos de produtos e/ou materiais e peças usadas, a fim de assegurar uma recuperação sustentável deles que não prejudique o meio ambiente (Revlog, 2005). Entretanto, para que o fluxo da logística reversa ocorra, diversas atividades devem ser http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/gvcasos/article/view/2963/2091 https://www.youtube.com/watch?v=RB8mk8d-oOo 4 realizadas pela própria empresa que comercializa o produto ou serviço, ou por empresas terceiras responsáveis. Algumas das principais atividades de fluxo reverso consistem em coleta, separação, embalagem e expedição de itens usados, danificados ou obsoletos “desde os pontos de venda (ou consumo) até os locais de reprocessamento, reciclagem, revenda ou descarte“ (Steven, 2004, citado por Chaves; Batalha, 2006). Tais atividades, bem como o fluxo de materiais na logística reversa, podem ser observadas na Figura 1. Assim como as demais atividades de uma empresa, as atividades componentes da logística reversa também podem representar potenciais fontes de vantagem competitiva. Em aulas anteriores, estudamos que as duas principais formas de criação de valor da logística para os clientes finais têm origem na entrega dos produtos e serviços no tempo e no lugar desejados por esses clientes. A logística reversa também pode contribuir para o sucesso das organizações promovendo suporte aos produtos ofertados após sua venda ou consumo. Assim, os canais de distribuição reversos podem ser separados em canais reversos pós-consumo e canais reversos pós-venda. Figura 1 – Atividades típicas do processo logístico reverso Fonte: Chaves; Batalha, 2006, p. 425. Os canais reversos pós-consumo dizem respeito ao descarte ou destinação de produtos não mais utilizáveis, enquanto os canais reversos pós-venda concernem ao retorno de embalagens e à devolução de produtos aos varejistas ou fabricantes, por exemplo (Novaes, 2007). A necessidade de ter serviços de pós-venda e pós-consumo é evidente em organizações que queiram se manter competitivas no mercado. Outros três 5 motivos merecem destaque no que diz respeito à importância que a logística reversa vem ganhando nas operações das empresas (Lacerda, 2002): 1. crescente preocupação com questões ambientais faz com que as empresas tenham que se tornar cada vez mais responsáveis por todo o ciclo de vida do produto, contemplando seu correto descarte e destinação final; 2. diferenciação obtida com base no tipo de serviço ofertado, uma vez que observa-se que clientes valorizam mais empresas que possuem políticas liberais a respeito do retorno de produtos; 3. redução de custos, dado que tais atividades podem ser fontes de rendimento da empresa, tanto com base no reaproveitamento de materiais para a produção quanto da reutilização de embalagens. Diante do exposto, observamos que o fluxo reverso engloba atividades que demandam planejamento logístico, recursos, gestão de transportes para realizar a coleta dos materiais, entre outros. Tudo isso torna o fluxo reverso complexo e merecedor de atenção, dado que uma logística reversa eficiente pode não só contribuir para a sobrevivência da empresa no mercado e o atendimento às legislações, como também ser uma potencial fonte de vantagem competitiva. Ela também pode contribuir para a redução de custos e geração de receitas (por meio de venda de materiais para a indústria, por exemplo), outro ponto diferencial em comparação a outras atividades logísticas. É bom lembrar que as atividades de logística reversa existem não só pela busca da sustentabilidade, mas também paraatender às legislações vigentes. Um exemplo disso é o respeito às leis quanto ao descarte de pilhas, baterias ou materiais pesados, por exemplo. No tema a seguir, estudaremos mais detalhadamente a sustentabilidade e sua relação com as atividades logísticas, visto que o assunto se tornou uma preocupação para as organizações que desejam sobreviver e se destacar nos mercados em que atuam. TEMA 2 – SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE O desenvolvimento sustentável foi responsável por disseminar a noção de sustentabilidade. Ele pode ser conceituado como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações 6 futuras atenderem às suas próprias necessidades (CMMAD, 1991, p. 46). Essa definição não inclui todos os princípios básicos de sustentabilidade, mas seu foco se mantém na questão do longo prazo que trata os interesses intragerações (Claro; Claro; Amâncio, 2005). Entre as várias definições existentes, a mais difundida é a da Comissão Brundtland (CMMAD, 1988, p. 46), a qual segue a mesma linha das definições anteriores, uma vez que considera que a sustentabilidade deve atender as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de futuras gerações de atender às próprias necessidades. Desde a definição da Comissão Brundtland, já surgiram várias outras sobre sustentabilidade e, provavelmente, muitas outras ainda surgirão no futuro. Porém, o ponto comum em todas elas se refere às dimensões que compõem o termo sustentabilidade (Claro; Claro; Amâncio, 2005). A constante busca pela sustentabilidade em três dimensões (social, econômica e ambiental) por parte das organizações tem iniciado uma modificação no modo como o cenário competitivo evolui (Nidumolu et al., 2009). Essas três dimensões constituem o chamado tripé da sustentabilidade ou triple bottom line. A primeira dimensão tem foco na ciência ambiental e inclui ecologia, diversidade do hábitat e florestas; a segunda inclui qualidade do ar e da água (poluição) e diz respeito à proteção da saúde humana por meio da redução da contaminação química e da poluição; a terceira diz respeito à conservação e à administração de recursos renováveis e não renováveis. Esta última pode ser chamada de sustentabilidade de recursos. A sustentabilidade ecológica estimula empresas a considerar o impacto de suas atividades no ambiente, contribuindo para a integração da administração ambiental na rotina de trabalho das organizações (Groot, 2002; Spangerberg; Bonniot, 1998). Nesse cenário, podemos observar claramente a importância da logística, bem como a da logística reversa, em atividades que podem contribuir para a sustentabilidade, como, por exemplo, a utilização de modais de transportes que emitam menos poluentes e sejam movimentados por menos tempo, ajudando na redução da emissão de gases poluentes; e o eficaz e eficiente fluxo reverso, que pode contribuir para que os materiais sejam descartados de forma correta, reduzindo os impactos ambientais. 7 A melhoria de infraestrutura logística de um país como um todo também pode contribuir para a sustentabilidade ecológica. Isso se dá pois rodovias mal conservadas podem demandar a utilização de mais pneus e mais equipamentos de veículos, o que aumenta o descarte de resíduos. A segunda dimensão, a econômica, segundo Silva (1995), refere-se à alocação eficiente de recursos e também a modificações dos mecanismos de orientação dos investimentos. Nessa dimensão, também é possível verificar a importância das decisões logísticas e o impacto que causam. A utilização de tecnologias e modais de transportes mais modernos e eficientes pode contribuir para um uso mais eficiente de recursos nas atividades logísticas, acarretando, consequentemente, impactos positivos na dimensão econômica do tripé da sustentabilidade. A dimensão social da sustentabilidade engloba tanto o ambiente interno da organização quanto seu ambiente externo (Groot, 2002; Spangenberg; Bonniot, 1998). De acordo com Silva (1995), a sustentabilidade social está baseada em um processo de melhoria na qualidade de vida da sociedade com redução de discrepâncias entre opulência e miséria por meio de mecanismos como nivelamento do padrão de renda, acesso a educação e moradia, acesso a alimentação, dentre outros. Também é possível observar, nas atividades logísticas, impactos na dimensão social. São diversos os exemplos de empresas que realizam ações de promoção de reciclagem e destinação correta pós- consumo. Tais programas contribuem para a inclusão de catadores, bem como para o bem-estar da sociedade, por meio da oferta de melhores serviços e produtos e pela promoção de uma melhor qualidade de vida. Diante do exposto, observamos que a logística pode e deve contribuir para a sustentabilidade por meio de ações que impactem positivamente suas três dimensões – ambiental, econômica e social. Dessa maneira, cabe aos gestores incluir no planejamento logístico a preocupação com essas três dimensões com o intuito de minimizar impactos ambientais e otimizar o uso de tecnologias e recursos disponíveis de forma econômica e sustentável, melhorando a qualidade de vida da sociedade. Não são só as ações sustentáveis que merecem destaque no planejamento e na execução de atividades logísticas; as práticas de responsabilidade social também evidenciam-se importantes na contribuição para a construção da imagem 8 e da reputação das organizações, além de fornecerem uma contrapartida para a sociedade. No próximo tema, estudaremos a responsabilidade social e sua relação com as atividades logísticas planejadas e executadas pelas organizações. TEMA 3 – LOGÍSTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL As diversas mudanças relacionadas a alterações em mercados, comércio e novas perspectivas econômicas tendem a exigir das organizações uma nova forma de observar suas práticas para poderem realizar suas atividades de uma forma cada vez melhor. Isso porque é o princípio básico da logística possibilitar a interligação entre a produção e a demanda para que consumidores acessem bens e serviços quando, onde e nas condições que desejarem (Ballou, 1993). Assim, preocupar-se com questões além da empresa tornou-se cada vez mais relevante. As empresas devem articular meios e/ou mecanismos por meio dos quais interliguem-se com seus stakeholders, ou, como destaca Freeman (1984), com todos aqueles que influenciam ou são influenciados pelas organizações devido às práticas que estabelecem frente aos objetivos organizacionais. Então, cabe às empresas desenvolver práticas socialmente responsáveis, que levem em conta “aspectos e necessidades de um maior número de agentes, participantes de seu entorno; dentre trabalhadores, fornecedores, consumidores, investidores, governos, comunidade e meio ambiente” (Karkotli; Aragão, 2004, p. 14). Isso porque, desde o momento em que procuram atender às expectativas das partes com as quais se relacionam, elas tendem a ganhar cada vez mais espaço no mercado e, consequentemente, alcançar seus objetivos estratégicos. Não raro, os aspectos de logística empresarial também se inserem nesse contexto de alterações, uma vez que desenvolver produtos e serviços socialmente responsáveis é papel não apenas de uma organização isolada, mas de toda a cadeia produtiva na qual ela se insere. Diante disso, aspectos que incluam normas éticas e de confiança (Aligreri; Aligreri; Câmara, 2002), como a Responsabilidade Social Empresarial (RSE), devem ser considerados nos processos realizados e nos produtos e serviços ofertados. A RSE “supõe práticas de negócio transparentes e baseadas em valores éticos, integrando nas suas atividades tradicionais a preocupação pelo ambiente e a sociedade” (Dias, 2012, p. 196). Sob essa perspectiva, a RSE consiste na “forma/política e estratégia de gestão das empresas e suas relaçõesde 9 interdependência socioeconômica e ambiental, em uma perspectiva de curto, médio e longo prazo, ou seja, de sustentabilidade” (MPE Brasil, 2014, p. 8). Seguindo essa lógica, ao considerar aspectos como qualidade de vida, equilíbrio ecológico e equidade social, a empresa tenderá a desenvolver posturas éticas por meio das quais poderá vir a sobreviver e tornar-se competitiva, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Desse modo, o que importa na RSE é a obrigação para com a sociedade, de modo a atender aos seus anseios (Donaire, 2013). Isso porque “não há como nominar uma empresa socialmente responsável se o seu fornecedor atua de forma ambientalmente agressiva ou utiliza padrões de conduta antiéticos, bem como se o seu distribuidor pratica discriminação racial ou não apresenta condições mínimas de segurança no trabalho” (Aligreri; Aligreri; Câmara, 2002, p. 7). Assim, mostra-se importante que os diversos membros da cadeia logística atuem de forma a contemplar a RSE em suas práticas, produtos e serviços ofertados. Desenvolver práticas que considerem tanto o ambiente interno quanto o externo podem levar a vantagens para a organização, e a logística pode contribuir significativamente com práticas de responsabilidade socioambiental com base na combinação de esforços para reduzir custos de operações com práticas de RSE (Abreu; Armond-de-Melo; Leopoldino, 2011). Ao desenvolver, acompanhar e avaliar a adesão a essas práticas, contribui- se para uma imagem e uma reputação positivas da organização, contribuindo para a sustentabilidade do negócio (MPE Brasil, 2014). Além disso, conforme o MPE Brasil (2014), ao integrar tal responsabilidade à gestão do negócio, contribui-se para os “sete princípios da responsabilidade social”: 1. responsabilização (tratado pela ISO como accountability); 2. transparência; 3. comportamento ético; 4. respeito pelos interesses das partes interessadas (stakeholders); 5. respeito pelo estado de direito (atendimento aos requisitos legais e outros subscritos pela organização); 6. respeito pelas normas internacionais de comportamento; 7. direito aos humanos. Com isso, desenvolver práticas responsáveis que levem em conta ações que contribuam para a sociedade como um todo pode vir a incrementar a 10 credibilidade da empresa perante a sociedade, assim como melhorar sua imagem e a eficiência de seu processo logístico. Integrar práticas como a RSE no desenvolvimento da estratégia organizacional pode angariar melhorias na interligação entre a produção e a demanda, possibilitando que consumidores acessem bens e serviços quando, onde e nas condições que desejarem, sabendo que a empresa desenvolve ações éticas e respeitosas para com todos os envolvidos. No tema a seguir, estudaremos a armazenagem e suas funções, uma vez que ela consiste em uma das principais atividades logísticas contempladas no planejamento logístico das mais diversas organizações. TEMA 4 – FUNÇÕES DA ARMAZENAGEM Dentre as diversas atividades logísticas, a armazenagem consiste em uma das principais, juntamente com os transportes, contribuindo para o atingimento da missão da logística. A primeira função que nos vem à mente quando pensamos em um armazém relaciona-se com sua função de guardar, ou seja, armazenar produtos. Entretanto, os armazéns têm uma segunda função, outra além da armazenagem propriamente dita: a de manuseio de produtos (operações de carga e descarga, movimentação de materiais de e para áreas de estocagem, e seleção de pedidos – esta, realizada com base na coleta de materiais do armazém segundo os pedidos feitos por clientes). É por isso que essas instalações são tão importantes para as atividades logísticas. Ao traçarmos o fluxo de produtos em um armazém de distribuição (Figura 2), conseguimos distinguir claramente essas duas funções (armazenar e manusear). Figura 2 – Atividades de movimentação e estocagem típicas de distribuição de alimentos 11 Fonte: Ballou, 2010, p. 375. A função de estocagem diz respeito àquilo a que o próprio nome remete: estocar e guardar materiais, ou seja, acumular produtos ao longo do tempo. Já o manuseio de materiais “engloba as atividades de carga e descarga, movimentação dos produtos para e de vários locais no interior do armazém e separação de pedidos” (Ballou, 2010, p. 375-376). No que concerne à estocagem e ao manuseio de materiais, as instalações de estocagem têm quatro funções primárias: manutenção, consolidação, fracionamento de cargas e combinação de estoques. A função de manutenção é a primeira que nos vem à mente quando pensamos em um armazém. Essa função é a mais comum e diz respeito a “proporcionar proteção e manutenção ordenadas dos estoques” (Ballou, 2010, p. 376). A manutenção de materiais e a forma como devem ser estocados são responsáveis por determinar o layout das instalações de estocagem ou armazéns. Materiais podem ser estocados por um longo prazo, e de formas especializada (para o envelhecimento de bebidas, por exemplo), comum (produtos para uso comum) ou temporária (produtos que permanecem estocados por um período de tempo até que um maior volume seja acumulado, de forma a completar a carga a ser transportada por um caminhão, por exemplo). Outra função dos armazéns é realizar a consolidação de cargas. Isso acontece quando se mostra mais econômico estabelecer um ponto de coleta (como o armazém) para consolidar cargas pequenas em cargas maiores, reduzindo o custo total de transporte. Essa função é comumente exercida quando existem compradores cujas aquisições não se dão em volumes suficientes para 12 justificar remessas isoladas de cada uma das fontes. Na consolidação, cargas pequenas de diferentes fontes são enviadas ao armazém, onde são consolidadas em uma única carga para ser transportada ao cliente final. Diferentemente do que ocorre na consolidação de cargas, no fracionamento de volumes o armazém de distribuição é utilizado para fracionar cargas, ou seja, redespachar cargas em quantidades menores do que aquelas que chegaram à instalação. O fracionamento de volumes [...] é comum em armazéns de distribuição ou terminais, especialmente quando as tarifas de transporte de entrada por unidade são menores que as tarifas de transporte de saída por unidade, os clientes fazem seus pedidos em quantidades menores do que carga completa, e são grandes as distâncias entre o fabricante e o cliente (Ballou, 2010, p. 378). Por fim, o armazém de distribuição pode também ser utilizado para combinação de volumes. Cargas de diferentes fabricantes são enviadas para o armazém, onde são combinadas em uma carga única, de forma a enviar todos os produtos desejados pelo cliente. O armazém de distribuição atua, nesse caso, como um ponto no qual remessas de maior volume de componentes da linha de produtos são coletadas e montadas conforme a necessidade e os pedidos de cada cliente. É importante também conhecer quais são os diversos equipamentos que podem ser utilizados para movimentar e armazenar os materiais dentro dos armazéns, assim como suas principais características, como veremos no tema a seguir. TEMA 5 – EQUIPAMENTOS DE MOVIMENTAÇÃO E ARMAZENAGEM Diversos são os equipamentos comumente utilizados para movimentar materiais. Dentre eles, podemos citar empilhadeiras, tratores, correias e esteiras, guinchos ou pontes rolantes, paleteiras e carrinhos transportadores (Ballou, 1993; Bowersox; Closs, 2010). As empilhadeiras são “meios mecânicos para mover materiais cuja operação manual seria muito lenta ou cansativa devido ao peso transportado” (Ballou, 1993, p. 122) e podem ser de diversos tipos, sendo a mais comum delas a empilhadeira mecânica com garfo. As empilhadeiras podem variar de acordo com sua capacidade de carga e altura máxima de elevação, além de capacidade de operar em corredoresestreitos, forma de operação (manual ou motorizada) e velocidade. 13 As paleteiras também podem ser de diversos tipos, dependendo da quantidade de carga que se deseja transportar. A paleteira manual (Figura 3) é capaz de transportar cargas mais pesadas do que a paleteira elevadora (a primeira possui capacidade de carga de 4.500 kg, enquanto a última possui capacidade de carga de 1.400 a 3.600 kg) e pode ter acessórios, como rampas adaptadas. A paleteira elevadora (Figura 4) tem como principal característica o fato de conseguir mover paletes e estrados a alturas baixas. As paleteiras, em geral, são utilizadas em operações de carga e descarga, separação e acumulação de pedidos e transferências de pequenas cargas a maiores distâncias dentro dos depósitos ou armazéns de distribuição (Bowersox; Closs, 2010). Figura 3 – Paleteira manual Figura 4 – Paleteira elevadora Os guinchos ou pontes rolantes também são equipamentos de movimentação de materiais; entretanto, são destinados à movimentação de cargas extremamente pesadas, o que podem fazer de forma ágil e segura. Ademais, esses equipamentos não têm como limitação a necessidade de operar na superfície, não necessitando, portanto, de corredores para operar. Eles são instalados em vias aéreas, para operar sobre as áreas de armazenagem. Atuam no transporte de aço e alumínio, em operações de carga e descarga de navios e em transbordo de carga entre trens e caminhões (Ballou, 1993). As esteiras ou correias transportadoras também são equipamentos de movimentação comumente utilizados, transportando minérios, fertilizantes, materiais para construção, dentre outros. Um conceito comum na logística é o de unitização. A unitização ocorre quando se deseja melhorar a eficiência do equipamento de manuseio de matérias por meio da “consolidação de um número de volumes menores em uma única carga e o consequente manuseio da carga consolidada” (Ballou, 2010, p. 386). Para o autor, a unitização é frequentemente realizada por paletização ou conteinerização. A paletização (Figura 5) facilita a unitização por meio do aumento do peso e do volume dos materiais manuseados por um período de tempo, além 14 de aumentar a utilização do espaço, proporcionando empilhamento mais estável (pilhas mais altas) no estoque. Figura 5 – Unitização de cargas por paletização Já a conteinerização consiste na utilização eficiente do espaço dos contêineres de forma a movimentar o maior volume possível de carga em um determinado período de tempo (Ballou, 2010). Além de paletes e contêineres, outros equipamentos de armazenagem são comumente utilizados para guardar produtos nos depósitos e armazéns de distribuição. Os módulos e as armações também consistem em equipamentos de armazenagem de materiais. Com base no exposto, pudemos observar a importância de conhecer os diversos equipamentos de movimentação e armazenagem disponíveis, de forma a saber de suas funcionalidades e características, o que auxilia os gestores nas decisões de planejamento de atividades logísticas, tornando-as mais eficazes e eficientes. FINALIZANDO O conteúdo estudado nesta aula mostrou os impactos que a logística exerce na sociedade e no meio ambiente, além dos benefícios de que as organizações podem usufruir com base em atividades da logística, como aquelas referentes à logística reversa. Também pudemos conhecemos as funções e os equipamentos utilizados na armazenagem de produtos. No Tema 1, vimos em que consiste a logística reversa e como as organizações podem utilizar as atividades a ela relacionadas como fontes de vantagem competitiva. No Tema 2, pudemos entender melhor as dimensões ambiental, social e econômica da sustentabilidade e o impacto da logística em cada uma delas. Trabalhando as atividades logísticas de forma eficaz e contemplando o planejamento logístico, os impactos causados na 15 sustentabilidade podem influenciar positivamente em cada uma das dimensões do triple bottom line. No Tema 3, compreendemos os princípios da responsabilidade social e sua relação com a logística. Nos temas 4 e 5 foram apresentados, respectivamente, as funções e os equipamentos utilizados para movimentar e armazenar materiais em depósitos, centros e armazéns de distribuição. Com base nesses temas foi possível conhecer outras funções dos armazéns, além daquela de manutenção, como de combinação, consolidação e fracionamento de volumes. Conhecer melhor os equipamentos de movimentação e armazenagem também contribuem para que os gestores escolham adequadamente os equipamentos a serem utilizados em suas operações com base em características, vantagens e contextos em que se inserem. Com base no conteúdo estudado, podemos finalmente responder à questão levantada no início da aula: de que forma as atividades logísticas podem contribuir para gerar impactos positivos nas dimensões da sustentabilidade? Diante do exposto, observamos que a logística pode contribuir para a dimensão ambiental por meio da escolha consciente dos modais de transporte, por exemplo. Utilizando modais de transporte sustentáveis, como aqueles que emitem menos poluentes, e combinando esses modais (intermodalidade) é possível reduzir o impacto causado no meio ambiente. Ainda, a logística pode contribuir para a dimensão social por meio da promoção de inclusão social, da oferta de melhores serviços e produtos, o que contribui também para o bem-estar social e melhor qualidade de vida. A dimensão econômica pode ser impactada positivamente pelas atividades logísticas pela utilização eficaz de recursos, tecnologias e modais disponíveis. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica DAHER, C. E.; SILVA, E. P. S.; FONSECA, A. P. Logística reversa: oportunidade para redução de custos através do gerenciamento da cadeia integrada de valor. Brazilian Business Review, Vitória, v. 3, n. 1, p. 58-73, jan./jun. 2006. Disponível em: <https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=123016269005>. Acesso em: 13 jun. 2018. Descrição: http://www.redalyc.org/html/1230/123016269005/ https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=123016269005 16 O artigo apresenta oportunidades de redução de custos por meio do gerenciamento da cadeia de valor, enfatizando a maneira como a logística reversa pode ser tratada como uma arma estratégica das organizações em seu planejamento de negócios. O artigo se utiliza de um estudo de caso exploratório de uma empresa de refrigerantes, e a forma como componentes da logística reversa contribuem para a obtenção de oportunidades de redução de custos pelo gerenciamento da cadeia de valor. Texto de abordagem prática VIEIRA, R. Guia EXAME de sustentabilidade analisa empresas brasileiras. Revista Exame, 29 nov. 2017. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/revista- exame/o-mundo-em-2030/>. Acesso em: 13 jun. 2017. Descrição: O artigo analisa como as empresas brasileiras estão aplicando as metas globais ao desenvolvimento sustentável, lançadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005. São analisadas informações sobre a conduta de 173 empresas, com base nas três dimensões da sustentabilidade – econômica, social e ambiental. A reportagem mostra dados referentes ao número de empresas que registram formalmente seus compromissos atrelados a metas ambientais, quantas fazem acompanhamento de seus indicadores de sustentabilidade, quanto é investido em programas sustentáveis, dentre outras informações. https://exame.abril.com.br/revista-exame/o-mundo-em-2030/ https://exame.abril.com.br/revista-exame/o-mundo-em-2030/ 17 REFERÊNCIAS ABREU, J. C. A.; ARMOND-DE-MELO, D. R.; LEOPOLDINO, C. B. Entre fluxos e contrafluxos: um estudo de caso sobre logística e sua aplicação na responsabilidade socioambiental. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (RECADM), v. 10, n. 1,p. 84-97, jan. 2011. 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