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SAÚDE, GESTÃO E HUMANIDADES IV EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA Estudos Observacionais Aula 1: Estudos Transversais e Ecológicos Profª. Solange Malfacini Profª Mariana d’Ávila MEDICINA 2020.1 Estudos epidemiológicos: Aplicabilidade Diagnóstico local de saúde Avaliação de serviços de saúde (estudos de demanda; avaliação da qualidade da assistência prestada; etc.) Avaliação de eficácia/efetividade de tratamentos individuais e ações de saúde pública Estudo de fatores de risco/proteção para agravos à saúde Estudo de fatores prognósticos Avaliação de acurácia de novos testes diagnósticos Etc... Estudos epidemiológicos A metodologia epidemiológica é uma variante da metodologia científica desenvolvida para ser aplicada à investigação dos processos saúde-doença-cuidado em populações humanas. Problema Hipótese Tipologia dos Desenhos de Investigação em Epidemiologia Tipo Operativo Posição do Investigador Referência Temporal Denominações Correntes Agregado Observacional Recorte Transversal Estudos ecológicos Longitudinal Estudos de tendências ou séries temporais Intervenção Longitudinal Ensaios comunitários Individuado Observacional Recorte Transversal Inquéritos ou surveys Longitudinal Estudos prospectivos (Coorte) Estudos retrospectivos (Caso- controle) Intervenção Longitudinal Ensaios clínicos Fonte: Rouquayrol, 2003. • Estudos observacionais: Permitem que a natureza determine o seu curso: o investigador mede, mas não intervém sobre o objeto de pesquisa. Não há controle sobre a exposição, só observação. Tipologia dos estudos • Estudos experimentais: Também chamados de estudos de intervenção, envolvem a tentativa de controlar / mudar os determinantes de um fenômeno / doença (ex. Tratamento). • Dois grupos são comparados em relação ao fator (tratamento/exposição) que está sendo estudado. Ex.: Um grupo recebe o tratamento e o outro uma terapia alternativa ou placebo. Tipologia dos estudos • Estudos quase-experimentais: dois grupos são comparados para avaliação da eficácia de um tratamento sem que haja randomização. Estes estudos são direcionados a uma ou mais populações. Ex.: Ensaios comunitários. . Tipologia dos estudos Estudo Observacional: forma de tratamento dos dados • Epidemiologia descritiva: • É a simples descrição do constructo a partir de dados rotineiramente coletados na comunidade (dados secundários) ou coletados diretamente por meio de instrumental específico (dados primários); • Os estudos puramente descritivos não se propõem a analisar possíveis interações entre exposição e efeito. • São utilizados, geralmente, para o monitoramento dos fenômenos ex. a detecção de aumento importante na frequência de um evento em um determinado momento é um dos critérios para diagnosticar epidemias. • Epidemiologia Descritiva - Exemplo Este dado permite nortear as prioridades, fomentar estratégias, etc. Estudo Observacional: forma de tratamento dos dados • Epidemiologia analítica: • Aborda de maneira mais aprofundada as correlações entre os resultados obtidos no estudo; • Tem o objetivo básico de avaliar (não apenas descrever) se a ocorrência de um determinado evento é diferente entre indivíduos expostos e não expostos a um determinado fator ou de acordo com as características das pessoas. • Propõe a geração de hipóteses explicativas ou relações de causalidade entre uma exposição e um desfecho. E D Estudo Observacional: forma de tratamento dos dados Epidemiologia Analítica - Exemplo O estudo ainda demonstra outros resultados que apontam para a hipótese de que a obesidade infantil pode ter maior ocorrência em filhos de pais com melhores condições socioeconômicas GUIMARAES LV et al. Fatores associados ao sobrepeso em escolares. Rev. Nutr. [online]. 2006; 19(1):5-17. Estudo Observacional: forma de tratamento dos dados Unid7_exemplos_artigos/artigo.caso.controle.pdf Desenhos: Estudos transversais / seccionais Os estudos transversais ou seccionais medem a prevalência de determinado agravo em determinado momento e, por isso, também podem ser denominados “estudos de prevalência”; São estudos relativamente baratos e de fácil condução, por meio de um instrumental de coleta de dados primários; São úteis na investigação de exposições que são características individuais fixas, tais como aspectos socioeconômicos; Servem também no delineamento de perfis epidemiológicos e, com isso, nas necessidades populacionais. Desenhos: Estudos transversais / seccionais RAFAEL RMR, MOURA ATM. Barreiras na realização da colpocitologia oncótica: um inquérito domiciliar na área de abrangência da Saúde da Família de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública [online]. 2010; 26(5): 1045-1050. • Aplicabilidade: magnitude do fenômeno e estimação do perfil Desenhos: Estudos transversais / seccionais Unid7_exemplos_artigos/artigo.transversal2.pdf • Respeitados os princípios de validade, este desenho possibilita a generalização de dados para populações similares gera hipóteses explicativas População Desenhos: Estudos transversais / seccionais ATENÇÃO FALÁCIA ATOMÍSTICA Erro comum entre os pesquisadores iniciantes, quando realizam estudos transversais, é o da falácia atomística; Consiste em conclusões / inferências extraídas de relações no nível individual, refletindo as relações contextuais – de nível macro. Em se tratando de estudos “particularistas” deve-se ter cuidado para não praticar inferências que incorram nesta falácia; EXEMPLO FALÁCIA ATOMÍSTICA Um exemplo de falácia atomística aplica-se à relação entre o nível de renda e a mortalidade por doença coronária cardíaca. Na análise realizada no nível individual, a correlação entre essas duas variáveis é negativa, ou seja, um aumento no nível de renda reduz a probabilidade do indivíduo morrer devido à doença coronária. O problema da falácia atomística irá ocorrer se, com base nesta análise, inferirmos que essa mesma correlação será observada no nível agregado. Nesse caso, iremos erroneamente concluir que um aumento na renda per capita está associado a reduções nas taxas de mortalidade devido a esta doença. Na realidade, no âmbito macro, a correlação entre essas duas variáveis é positiva sugerindo que um aumento na renda per capita aumenta a taxa de mortalidade segundo essa causa. Esse resultado é observado uma vez que, em sociedades mais ricas, devido à maior longevidade da população, as taxas de mortalidade por doenças crônico-degenerativas são mais altas ROUX, A.V.D. A glossary for multilevel analysis. Journal of Epidemiology and Community Health. 2002;56(8):588-94. Unid7_exemplos_artigos/artigo_falácia_atomística.pdf Desenhos: Estudos Ecológicos Desenhos: Estudos Ecológicos Estudo no qual as unidades de observação são as populações ou grupos de pessoas, ao invés de indivíduos; Estes grupos tomam a forma de uma área definida geograficamente Estado, cidade, setor censitário; São estudos mais baratos e com coleta de dados mais rápida utilizam as medidas agregadas presentes nos sistemas de informações (ex.: Datasus, IBGE) http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php Desenhos: Estudos Ecológicos Servem para avaliar o papel do contexto social e ambiental na determinação da saúde medidas coletadas no nível individual muitas vezes não são capazes de refletir adequadamente os processos que ocorrem no nível coletivo (efeitos indiretos) Exemplo: desigualdade socialmaior mortalidade Servem para gerar ou testar hipóteses etiológicas Possibilitam três tipos de mensurações ecológicas: A) Medidas agregadas: medidas resumo de observações feitas em indivíduos (% fumantes, renda média) B) Medidas ambientais: características físicas do lugar onde a população vive C) Medidas globais: atributos de grupos, lugares e organizações (legislação, desorganização social, etc) Desenhos: Estudos Ecológicos ATENÇÃO FALÁCIA ECOLÓGICA O inverso dos erros previstos pela falácia atomísticaé representado pela Falácia Ecológica. • É definida como uma tentativa de estimar associações entre indivíduos a partir de dados agregados. Por exemplo, ao analisar o problema dos atropelamentos, observamos que as taxas são maiores nos municípios mais ricos. Nunca poderíamos concluir que os indivíduos mais ricos é que são atropelados, o que não seria verdade, mas sim, que nos municípios mais ricos, há mais carros, e estes atropelam os pedestres, que são em geral crianças dos estratos mais pobres da população. • Neste caso a observação da existência de uma relação entre duas variáveis a nível populacional não implica necessariamente que a mesma relação se mantenha a nível individual SAÚDE, GESTÃO E HUMANIDADES IV EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA Estudos Observacionais Aula 2 – Estudos Caso-Controle Profª. Solange Malfacini Profª. Mariana d’Ávila MEDICINA 2020.1 Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle • Este desenho de estudo é particularmente importante para doenças raras ou, que por questões éticas, não seja possível estudar a causalidade de outra forma (ex.: Violência); pois busca a relação causal de forma retrospectiva; • Este tipo de estudo se desenvolve a partir da comparação de um grupo de indivíduos com a presença de um fenômeno/evento com um outro grupo de referência sem a presença da variável desfecho; • Avaliamos a probabilidade ou chance de exposição entre os casos e os não casos (controles). Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle • A Investigação parte do EFEITO para chegar às CAUSAS; • Pesquisa RETROSPECTIVA; • Os indivíduos são escolhidos porque tem determinada doença (CASOS) e os indivíduos comparáveis sem a doença (CONTROLES) são investigados para saber se foram expostos aos mesmos fatores de risco que os casos. Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle (Bonita, 2010) • O evento (doença) está de fato relacionado ao fator de exposição em estudo? O que queremos saber? Se o fator de exposição estiver presente em maior proporção no grupo de casos do que no grupo controle, provavelmente é um fator de risco. Se o fator de exposição estiver presente em maior proporção no grupo controle do que no grupo de casos, provavelmente ele é um fator de proteção. • Risco Relativo (RR) – É a razão entre dois Riscos, isto é, compara a Incidência nos Expostos com a Incidência nos Não Expostos. Relembrando... • Odds Ratio (OR) – Razão de Produtos Cruzados ou Razão de Prevalências. Compara a proporção de Expostos entre os Casos com a proporção de Expostos entre os Não Casos. Hoje veremos... • Primeiro, temos que lembrar que chance (odds) é diferente de probabilidade (risco), embora tenhamos o hábito de usar estas palavras como se significassem a mesma coisa. • Por exemplo: Qual a probabilidade (risco) de morte no caso de uma doença em que ocorrem 60 mortes a cada 100 pacientes, durante o seguimento de 1 ano? Resp: 60% (60 / 100) (isso é intuitivo) • Agora, qual a chance de morte? . Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle • Chance = probabilidade / (1 – probabilidade); ou • Chance = probabilidade / complemento da probabilidade; ou • Chance = Probabilidade de morrer / probabilidade de não morrer = 60% = 60% = 1.5 (1-60%) 40% Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle • A chance é 1.5, que pode ser expresso também como 1.5 / 1 (1.5 para 1). • Isso quer dizer que para cada 1 pessoa que sobrevive, ocorrem 1.5 mortes. Ou melhor, para cada 2 pacientes que sobrevivem, 3 pacientes morrem • É possível calcular: Odds (chance) de exposição nos casos = = Odds (chance) de exposição nos controles = = Odds Ratio de exposição (Razão de probabilidade, Razão de Chance) = = Casos Controles Expostos a b Não expostos c d Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle OddsExpCo OddsExpCa Um exemplo clássico: O estudo de Doll & Hill Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle A suspeita de que haveria uma relação causal entre tabagismo e câncer de pulmão foi levantada pela primeira vez nos anos 20, com fundamento em observações clínicas. Para testar essa possível associação, foram conduzidos inúmeros estudos epidemiológicos entre 1930 e 1960. Entre eles, dois foram conduzidos por Doll e Hill, na Grã-Bretanha. O primeiro foi um estudo tipo caso-controle, iniciado em 1947, comparando o hábito de fumar entre pacientes com câncer de pulmão e entre atingidos por outras doenças. O segundo foi um estudo de coorte que começou em 1951, registrando causas de óbitos entre médicos britânicos, relacionando-as com o hábito de fumar. Os dados do estudo tipo caso-controle foram obtidos de pacientes internados em Londres e redondezas, durante um período de 4 anos (abril de 1948 a fevereiro de 1952). Inicialmente, 20 hospitais e, posteriormente, uma quantidade maior dessas unidades, foram solicitados a notificar aos pesquisadores todos os pacientes admitidos com diagnóstico recente de câncer de pulmão. Estes pacientes foram então entrevistados sobre hábitos de fumar. Um grupo controle foi selecionado entre pacientes acometidos por outros agravos, inicialmente não malignos, todos porém, internados no mesmo hospital e em idêntico período. Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle Um número superior a 1.700 casos de câncer de pulmão, todos com idade inferior a 75 anos, foram identificados e, em princípio, considerados enquadráveis nos critérios de inclusão no estudo. No entanto, cerca de 15% não foram entrevistados devido ao óbito, alta gravidade da doença ou inabilidade para falar o inglês. Um grupo adicional de pacientes foi entrevistado, mas excluído mais tarde, quando foi comprovado que o diagnóstico inicial de câncer de pulmão estava incorreto. Ao final o grupo que efetivamente participou do estudo incluiu 1.465 casos dos quais 1.357 eram homens e 108 mulheres. Casos Controles Fumantes 1350 1296 Não-Fumantes 7 61 Total 1357 1357 Tabela 1. Relação entre tabagismo e câncer de pulmão entre casos e controles masculinos. Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle Odds de fumar: • Entre os casos: 1350/7 = 192,8 • Entre os controles: 1296/61 = 21,2 Odds Ratio: 192,8/21,2 = 9,1 Casos Controles Fumantes 1350 1296 Não-Fumantes 7 61 Total 1357 1357 Tabela 1. Relação entre tabagismo e câncer de pulmão entre casos e controles masculinos. Existe alguma relação causal entre tabagismo e câncer de pulmão? Estudando a causalidade: Estudos do tipo Caso-Controle Exercício Será que o número de cigarros consumidos diariamente pode influenciar no risco de câncer de pulmão? Tabela 2. Associação entre câncer de pulmão e intensidade de exposição ao tabagismo. (Doll & Hill) Número diário de cigarros Casos Controles "Odds Ratio" 0 7 61 1,0 (Referência) 1 – 14 565 706 15 – 24 445 408 25 + 340 182 Total de fumantes 1.350 1.296 Total 1.357 1.357 - -
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