Buscar

história da cultura afro brasileira e indigena

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Formulário para Atividade Online – AO 02 
 
Nome da Disciplina: História da cultura afro-brasileira e indígena 
Cursista: Roger Conrado Lopes 
Polo: Formosa 
Tutor: Luciano Marques 
Turma: B 
 
Atividade: Religiosidade Afro-brasileira e indígena 
 
Religião é um tema delicado, mas quem foi que disse que não pode ser analisado, discutido? Com 
base no material estudado, elabore um paper fazendo um paralelo entre as religiões indígenas e 
religiões de matrizes africanas, buscando perceber suas possíveis relações e distanciamentos. 
Lembrando que a religião busca respostas para os anseios mais profundos dos indivíduos como: 
quem sou? Por que estou aqui? Para onde vou? Qual é o sentido da vida? O que acontece depois 
da morte? 
 
 
A história de nossa espécie é indissociável da busca pelo conhecimento. Ao se dar conta da 
existência, percebendo-se sapiente do mundo ao seu redor, a espécie humana se inunda de várias 
questões. E, havendo questões, há de haver respostas. Desde as mais mundanas, grosseiras e triviais 
– vai chover amanhã - , até as mais sofisticadas e profundas – qual o sentido da vida, de onde veio e 
para onde vai tudo isso - , a construção de uma visão de mundo se consubstancia. E assim, desde o 
mito primordial, solidifica-se visões de mundo. Aceitando-se que a religião influencia a cultura e 
esta a religião, e que cultura seriam as realizações materiais e imateriais provocadas por nossa 
espécie em sua interação com o meio abiótico, temos um conjunto de construções que são o recorte 
de um modus operandi se relacionar com o mundo real e tangível e com o mundo imaterial, oculto 
das especulações. Este modo de operação terá suas variações de acordo com as condições históricas, 
geográficas, semânticas e, por que não, fisiológicas nas populações humanas. 
Na tradição judaico cristã, com a prevalência do modelo do monoteísmo étnico, por 
exemplo, temos em seus textos canônicos diversos preceitos práticos, como a proibição de certos 
alimentos (eram povos nômades do deserto, logo o consumo de carne suína, por exemplo, associado 
à altas temperaturas, baixa umidade e alta mobilidade no deserto poderiam ser prejudiciais, daí sua 
provável proibição) e diversas outras práticas visando alguma coesão social. Para bem além desta 
ilustração e levando em consideração a complexidade do indivíduo humano, tal modus operandi se 
sofistica, torna-se mais complexo, principalmente em uma espécie carente de ordem e 
sistematização constante. 
É justamente nesta espécie, consagrada por seu alto êxito evolutivo e suas complexas 
relações em comunidade, que ocorre um fenômeno bastante curioso, que é o “eu” ser a medida de 
todas as coisas e o “outro” ser a negação do eu, levando à cisões, guerras e distanciamentos, 
principalmente quando a justificativa para tal é efêmera. 
Na cultura ocidental, hegemônica e helenista, o antropocentrismo pregou uma dessas peças 
ao consolidar a cisão homem/natureza, inaugurando uma dicotomia antagônica dissociativa de 
nossa relação com o meio natural. Nessa perspectiva, em tempos de crise ambiental, chama-nos a 
atenção as chamadas religiões animistas, autóctones e ancestrais, das quais são relevantes para o 
momento as de origem indígena e africana. 
Permanecendo em nossa perspectiva ocidental judaico cristã, temos já no início um 
problema conceitual, pois ao contrário do mito fundamental judaico cristão de sermos expulsos da 
condição perfeita, do paraíso, por desobediência e logo estarmos “separados” do sagrado, 
 
 
precisando de modus operandi para alcançar a religação, nas culturas ameríndias e africanas não há 
esta necessidade de reencontro, religação; religião, enfim. Toda a estrutura conceitual é baseada na 
perspectiva de uma unidade com o todo, uma cosmovisão biogenética em contraposição ao 
antropocentrismo absoluto, com seu paternalismo segregador. Esta visão traduz-se em uma 
perspectiva da indissociabilidade do homem com seu meio natural, com a natureza. Essa íntima 
relação traz um equilíbrio entre o meio intra e extra psíquico, harmonizando a condição humana 
com todo o resto circundante. 
De estrutura bem solidificada e elaborada, ambas as matrizes religiosas – a indígena e a 
africana -, no geral estas religiões caracterizam-se por orbitarem a experiência do sagrado, 
distanciando-se dos cânones teóricos, sendo o próprio cotidiano impregnado por religiosidade. 
Essencialmente de tradições orais, esta relação com o sagrado se dá por meio de ritos, danças, 
práticas culinárias e toda uma sorte de construções culturais indissociáveis do cotidiano e do 
místico. A importância desta oralidade é percebida no locus social ocupado pelos anciões, tratados 
com respeito e por vezes detentores da palavra final. 
A estrutura social e cultural oriunda de tal visão de mundo chocou-se com o universo 
capitalista europeu, que optou por desumanizar tais populações, ora absorvendo para dominar, ora 
simplesmente usando da mais abjeta violência para a consecução de seus objetivos. As 
consequências deste conflito moldaram a forma de vermos o outro, com visões reducionistas 
eivadas do mais puro preconceito e ideologia, atendendo interesses específicos. Tais interesses 
alimentam-se e sustentam-se na não laicidade do Estado, no desdém ao escrutínio da ciência e ao 
rosto ruborizado da história, principalmente quando a aceitação da própria existência do fenômeno 
ancestral humano religioso das matrizes africanas e ameríndias significa a própria resistência destes 
povos em sua cultura, identidade e importância.