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LIDIANE_LIMA_DO_AMARAL_ATIVIDADE_DEFESA

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Divinópolis - MG 
2019 
LIDIANE LIMA DO AMARAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE PACIENTES 
PSICÓTICOS NA VISÃO PSICANALÍTICA 
 LIDIANE LIMA DO AMARAL 
 
 
 
 
A EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE PACIENTES 
PSICÓTICOS NA VISÃO PSICANALÍTICA 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao 
Curso de Psicologia da Instituição Faculdade 
Pitágoras de Divinópolis como parte dos requisitos 
para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia. 
Orientador (a): Andresa Gomes / Evaldo Santana / 
Cláudia Leite / Carlos Eduardo Rodrigues. 
 
 
 
 
 
Divinópolis - MG 
2019 
 
LIDIANE LIMA DO AMARAL 
 
 
A EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE PACIENTES 
PSICÓTICOS NA VISÃO PSICANALÍTICA 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao 
Curso de Psicologia da Instituição Faculdade 
Pitágoras de Divinópolis como parte dos requisitos 
para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Cláudia Aparecida de Oliveira Leite 
Prof.(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
Carlos Eduardo Rodrigues 
Prof.(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Prof.(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Divinópolis, 10 de dezembro de 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus 
professores, tutores, em especial a minha 
professora Cláudia Leite. 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço aos meus professores e tutores que me orientaram nessa 
caminhada acadêmica até aqui e a minha professora Cláudia Leite, em especial, 
pela orientação obtida para a realização deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AMARAL, Lidiane Lima do. A Eficiência do Tratamento de Pacientes 
Psicóticos na Visão Psicanalítica. 2019. 26 folhas. Trabalho de Conclusão de 
Curso (Graduação em Psicologia) – Faculdade Pitágoras, Divinópolis, 2019. 
 
RESUMO 
 
O objetivo geral deste trabalho foi estudar os possíveis tratamentos em pacientes 
psicóticos perante a visão psicanalítica. O processo de investigação apresentado 
se classificou como uma revisão bibliográfica, de abordagem qualitativa e 
descritiva, na perspectiva psicanalítica, pautando suas discussões em Freud, 
Lacan e outros autores psicanalíticos, tornando relevante este estudo pela 
importância de como esses pacientes reagem e evoluem diante do tratamento e 
como é o convívio estabelecido entre eles com a sociedade e familiares diante 
de tantos conflitos interiores e dificuldades enfrentadas no dia-a-dia dos 
mesmos, portanto, este estudo é relevante por se tratar de um quadro complexo 
com sintomas que apresentam um grau de periculosidade amplo diante de certos 
comportamentos apresentados por pacientes psicóticos, sendo assim, é de 
grande relevância buscar estudos voltados para formas adequadas de 
tratamentos para pacientes psicóticos e também entender como ocorre a 
inserção social desses pacientes diante de tantos estigmas. 
 
Palavras-chave: Psicanálise; Psicose; Freud; Lacan; Caso Schreber. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AMARAL, Lidiane Lima do Amaral. The Efficiency of Treatment of Psychotic 
Patients in the Psychoanalytic View. 2019. 26 folhas. Trabalho de Conclusão 
de Curso (Graduação em Psicologia) – Faculdade Pitágoras, Divinópolis, 2019. 
 
ABSTRACT 
 
The general objective of this work was to study the possible treatments in 
psychotic patients in the psychoanalytical view. The research process presented 
was classified as a bibliographical review, with qualitative and descriptive 
approach, in the psychoanalytical perspective, guiding their discussions in Freud, 
Lacan and other psychoanalytic authors, making this study relevant because of 
the importance of how these patients react and evolve before treatment. and how 
is the relationship established between them with society and family in the face 
of so many inner conflicts and difficulties faced in their daily lives, therefore, this 
study is relevant because it is a complex picture with symptoms that present a 
degree of It is very dangerous to face certain behaviors presented by psychotic 
patients, so it is of great relevance to look for studies focused on appropriate 
forms of treatment for psychotic patients and also to understand how the social 
insertion of these patients occurs under so many stigmas. 
Key-words: Psychoanalysis; Psychosis; Freud; Lacan; Schreber case. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A angústia surge do momento em que o sujeito está suspenso entre um tempo 
em que ele não sabe mais onde está, em direção a um tempo onde ele será 
alguma coisa na qual jamais se poderá reencontrar”. 
Jacques Lacan 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................10 
2. CONCEITO DE PSICOSE............................................................................12 
3. OS DESAFIOS ENFRENTADOS NO TRATAMENTO DE PSICÓTICOS.....17 
4. MÉTODOS PSICANALÍTICOS ADOTADOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O 
TRATAMENTO DE PACIENTES PSICÓTICOS..............................................................21 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................25 
REFERÊNCIAS.................................................................................................26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://d.docs.live.net/9fa493c65fe7a225/Documents/Pitágoras/9º%20Período/TCC%20I%20-%20Evaldo/LIDIANE_AMARAL_ATIVIDADE3.docx#_Toc503358475
https://d.docs.live.net/9fa493c65fe7a225/Documents/Pitágoras/9º%20Período/TCC%20I%20-%20Evaldo/LIDIANE_AMARAL_ATIVIDADE3.docx#_Toc503358476
https://d.docs.live.net/9fa493c65fe7a225/Documents/Pitágoras/9º%20Período/TCC%20I%20-%20Evaldo/LIDIANE_AMARAL_ATIVIDADE3.docx#_Toc503358480
https://d.docs.live.net/9fa493c65fe7a225/Documents/Pitágoras/9º%20Período/TCC%20I%20-%20Evaldo/LIDIANE_AMARAL_ATIVIDADE3.docx#_Toc503358481
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10 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Temos na atualidade alguns aspectos clínicos que são muito relevantes e 
que devem ser considerados, pois faz toda diferença quanto ao tratamento, ou 
seja, considera-los ou não. Primeiramente, quanto a esses aspectos clínicos, 
aspectos bem voltados para a prática, para a condução do tratamento, o primeiro 
aspecto que se deve chamar bastante atenção, é relativo à psicose, pois o 
psicótico pode e usualmente desenvolve formas próprias de lidar com aquilo que 
se passa com ele. 
Um alcance clínico considerável e na contramão de muito do que se pensa 
acerca da psicose, por exemplo, é em relação ao delírio, pois esse delírio poderá 
ser uma forma de reconstruir o sujeito a partir de um surto que possa acontecer 
futuramente. Esse delírio seria uma forma de invenção psicótica em que o sujeito 
inventa de maneira subjetiva algo que fez uma sutura no delírio, nas alucinações 
dele. 
Este estudo é relevante por se tratar de um quadro complexo com 
sintomas que apresentam um grau de periculosidade amplo diante de certos 
comportamentos apresentados por pacientes psicóticos, sendo assim, é de 
grande relevância buscar estudos voltados para formas adequadas de 
tratamentos para pacientes psicóticos e também entender como ocorre a 
inserção social desses pacientes diante de tantos estigmas. 
O problema de pesquisa é definido trazendo a seguinte questão: Em que 
sentido a psicanálise pode contribuir na eficiência dos tratamentos de pacientes 
psicóticos? 
O objetivo geral foi estudar os possíveis tratamentos em pacientes 
psicóticos perante a visão psicanalítica. Os objetivos específicos foram 
conceituar a psicose pela perspectiva psicanalítica, descrever os desafios 
enfrentados no tratamento de psicóticos e definir métodos psicanalíticos 
adotados quecontribuíram para o tratamento de pacientes psicóticos. 
O processo de investigação apresentado se classificou como uma revisão 
bibliográfica, de abordagem qualitativa e descritiva, na perspectiva psicanalítica, 
pautando suas discussões em Freud, Lacan e outros autores psicanalíticos. 
Possuiu um caráter teórico com o objetivo de contribuir para o meio acadêmico 
na realização de pesquisas futuras a outros investigadores que poderão dar 
11 
 
continuidade ao tema abordado, buscando informações em fontes primárias 
(livros) e fontes secundárias (artigos científicos), cujos autores gozem de 
prestígio no meio científico e acadêmico. 
As etapas consistiram no levantamento bibliográfico, acompanhado, por 
conseguinte da elaboração do plano provisório de onde se construiu a estrutura 
da pesquisa apresentada e de posse destas referências partiu-se para o 
processo de leitura, apenas em idioma Português, segundo os objetivos deste 
trabalho, sendo considerados estudos realizados de 2010 a 2019, incluindo 
clássicos sobre o tema e descritores (Psicanálise, Psicose, Caso Schreber, 
Freud, Lacan, etc.), com pesquisas bibliográficas em livros acadêmicos, revistas 
científicas e sites confiáveis como Pepsic, Scielo, entre outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
2. CONCEITO DE PSICOSE 
 
As síndromes psicóticas caracterizam-se por sintomas típicos como 
alucinações e delírios, pensamento desorganizado e comportamento claramente 
bizarro, como fala e risos imotivados. Os sintomas paranoides são muito 
comuns, como ideias delirantes e alucinações auditivas de conteúdo 
persecutório. Em alguns casos, observa-se uma desorganização profunda da 
vida mental e do comportamento, de qualidade diversa à que ocorre nos quadros 
demenciais, no delirium ou nos quadros de retardo mental grave 
(DALGALARRONDO, 2008). 
O paranoico constitui-se como objeto de investimento, a partir da 
imaginarização de um eu unificado no corpo que opera de maneira especular 
com os outros. A especularidade e a ausência da inscrição da falta no campo do 
simbólico propiciam a subjetivação de um Outro denso, pleno e tirano, na 
paranoia. Assim, comumente, encontramos nesses casos a certeza psicótica 
que implica esse Outro não marcado pela falta, em relação ao qual o paranoico 
se toma como objeto da vontade de seu gozo (GUERRA, 2010). 
De uma forma geral, podemos dizer que Freud (1915) utiliza 
preferencialmente o termo paranoia quando há delírio, mas prefere se referir a 
esquizofrenia ao descrever o distúrbio das associações e o inconsciente a céu 
aberto na psicose. Na verdade, porém, Freud emprega com mais frequência o 
termo psicose, sem distinção do tipo clínico. Lacan segue essa mesma linha, 
utilizando por vezes o termo paranoia para se referir à psicose em geral, sem 
deixar, todavia, de conservar a distinção entre seus tipos clínicos, como 
podemos encontrar em vários momentos de seu ensino (QUINET, 2009). 
Como Freud (1915) o faz em relação ao narcisismo e ao autoerotismo, 
Lacan considera a paranoia como vinculada à imagem alienante do eu do estádio 
do espelho, que é projetada no outro, e a esquizofrenia, tributária das imagens 
do corpo despedaçado (pelas pulsões auto eróticas), que se encontram no 
tempo lógico anterior à constituição da imagem gestáltica e ortopédica do eu a 
partir da imagem do outro (QUINET, 2009). 
Os autores de orientação psicodinâmica tendem a dar ênfase à perda de 
contato com a realidade como dimensão central da psicose. O paciente psicótico, 
nessa perspectiva, passaria a viver fora da realidade, sem ser regido pelo 
13 
 
princípio de realidade, e viveria predominantemente sob a égide do princípio do 
prazer e do narcisismo. Pacientes psicóticos tipicamente têm insight prejudicado 
(precária consciência da doença) em relação aos seus sintomas e à sua 
condição clínica geral (DALGALARRONDO, 2008). 
A principal forma de psicose, por sua frequência e sua importância clínica, 
é certamente a esquizofrenia. Considera-se que alguns sintomas são muito 
significativos para o diagnóstico da esquizofrenia (DALGALARRONDO, 2008). 
Segundo Bleuler (1988) as ideias delirantes dos esquizofrênicos trazem 
geralmente o traço do ilogismo. É assim que representações contraditórias e 
descosidas podem coexistir com ideias delirantes; assim a contradição mais 
flagrante com a realidade pode não ser percebida. Ele indica a tendência à 
assistematização dessas ideias delirantes que podem levar a um “caos 
delirante”. No que concerne a seu conteúdo, elas são predominantemente 
persecutórias, e os pacientes sentem que “eles” estão sempre atrás deles 
xingando-os, denegrindo-os e querendo seu mal (QUINET, 2009). 
O problema da psicose não seria o da perda da realidade, mas o do 
expediente daquilo que vem substituí-la. Em outras palavras, devemos seguir os 
caminhos que o próprio sujeito encontra para tratar daquilo que escapa na sua 
condição de ser falante (GUERRA, 2010). 
As correlações que existem entre um sintoma e a identificação diagnóstica 
supõem a entrada em cena de uma cadeia de procedimentos intrapsíquicos e 
intersubjetivos, que dependem da dinâmica do inconsciente. Esta dinâmica 
jamais se desenvolve no sentido de uma implicação lógica e imediata entre a 
natureza de um sintoma e a identificação da estrutura do sujeito que manifesta 
este sintoma. O conhecimento atual que temos desses procedimentos 
inconscientes invalida, de antemão, uma possibilidade assim, de relação causal 
imediata (DOR, 1991). 
A irrupção da psicose, ou o desencadeamento psicótico, ocorre justo 
quando, acidentalmente, surge uma questão sobre o seu ser, ou seja, quando o 
Nome-do-Pai foracluído, isto é, jamais advindo no lugar do Outro, é ali invocado 
em oposição simbólica ao sujeito, numa posição terceira em uma relação que 
tenha por base a relação imaginária, dual e especular (GUERRA, 2010). 
No nível simbólico, assistimos não a uma decadência dos ideais, como se 
costuma dizer na maioria das vezes, mas a uma fragmentação. Os ideais não 
14 
 
desapareceram, porém são cada vez mais cacofônicos, multiplicando-se ao 
sabor das contingências de lugares e épocas, variáveis conforme os continentes, 
os países, as cidades e até os bairros, aleatórios, portanto, no real, há também 
uma multiplicação dos objetos, dos engodos de satisfação, que chega até à 
pulverização das ofertas de gozo. A essa dispersão do simbólico e a essa 
fragmentação do real vêm somar-se ainda os reflexos plurais do imaginário 
(SOLER, 2007). 
Freud em 1924, em seu escrito “Neurose e Psicose”, ressalta a psicose 
como o desfecho análogo de um distúrbio nas relações entre o ego e o mundo 
externo, o ego, a serviço do id, se afasta de um fragmento da realidade, a perda 
de realidade estaria necessariamente presente. O mundo exterior não é 
percebido de modo algum ou a percepção dele não possui qualquer efeito. O 
ego cria, autocraticamente, um novo mundo externo e interno, e não pode haver 
dúvida quanto a dois fatos: que esse novo mundo é construído de acordo com 
os impulsos desejosos do id e que o motivo dessa dissociação do mundo externo 
é alguma frustração muito séria de um desejo, por parte da realidade, frustração 
que parece intolerável. 
Também em 1924, em seu escrito “A perda da realidade na Neurose e na 
Psicose”, Freud ressalta que em uma psicose, a transformação da realidade é 
executada sobre os precipitados psíquicos de antigas relações com ela, isto é, 
sobre os traços de memória, as ideias e os julgamentos anteriormente derivados 
da realidade e através dos quais a realidade foi representada na mente. Essa 
relação, porém, jamais foi uma relação fechada; era continuamente enriquecida 
e alterada por novas percepções. 
Assim, a psicose também depara com a tarefa de conseguir para si própria 
percepções de um tipo que corresponda à nova realidade, e isso muito 
radicalmente se efetuamediante a alucinação. Sabemos que outras formas de 
psicose, as esquizofrenias, inclinam-se a acabar em uma hebetude afetiva, isto 
é, em uma perda de toda participação no mundo externo (FREUD, 1924). 
A etiologia comum ao início de uma psicose consiste em uma frustração, 
em uma não-realização, de um daqueles desejos de infância que nunca são 
vencidos e que estão profundamente enraizados em nossa organização 
filogeneticamente determinada. Podemos provisoriamente presumir que há elos 
15 
 
com doenças que se baseiam em um conflito entre o ego e o superego (FREUD, 
1924). 
A análise nos dá o direito de supor que a melancolia é um exemplo típico 
desse grupo, e reservaríamos o nome de psiconeuroses narcísicas para 
distúrbios desse tipo (FREUD, 1924). 
O novo e imaginário mundo externo de uma psicose tenta colocar-se no 
lugar da realidade, um fragmento diferente daquele contra o qual tem de 
defender-se, e emprestar a esse fragmento uma importância especial e um 
significado secreto que nós chamamos de simbólico. Na psicose interessa a 
questão não apenas relativa a uma perda da realidade, mas também a um 
substituto para a realidade. (FREUD, 1924). 
A tese de que as neuroses e as psicoses se originam nos conflitos do ego 
com as suas diversas instâncias governantes, elas refletem um fracasso ao 
funcionamento do ego, que se vê em dificuldades para reconciliar todas as várias 
exigências feitas a ele, essa tese precisa ser suplementada em mais um ponto. 
Seria desejável saber em que circunstâncias e por que meios o ego pode ter 
êxito em emergir de tais conflitos, que certamente estão sempre presentes, sem 
cair enfermo. Trata-se de um novo campo de pesquisa, onde sem dúvida os mais 
variados fatores surgirão para exame. Dois deles, porém, podem ser acentuados 
em seguida. Em primeiro lugar, o desfecho de todas as situações desse tipo 
indubitavelmente dependerá de considerações econômicas das magnitudes 
relativas das tendências que estão lutando entre si. Em segundo lugar, será 
possível ao ego evitar uma ruptura em qualquer direção deformando-se, 
submetendo-se a usurpações em sua própria unidade e até mesmo, talvez, 
efetuando uma clivagem ou divisão de si próprio. Desse modo as incoerências, 
excentricidades e loucuras dos homens apareceriam sob uma luz semelhante às 
suas perversões sexuais, através de cuja aceitação poupam a si próprios 
repressões (FREUD, 1924). 
Com referência à gênese dos delírios, inúmeras análises nos ensinaram 
que o delírio se encontra aplicado como um remendo no lugar em que 
originalmente uma fenda apareceu na relação do ego com o mundo externo. Se 
essa precondição de um conflito com o mundo externo não nos é muito mais 
observável do que atualmente acontece, isso se deve ao fato de que, no quadro 
clínico da psicose, as manifestações do processo patogênico são amiúde 
16 
 
recobertas por manifestações de uma tentativa de cura ou uma reconstrução 
(FREUD, 1924). 
O diagnóstico da psicose nunca se fecha, ele sempre é um diagnóstico 
em aberto, não se sabe como que o sujeito vai conseguir manejar futuramente o 
delírio, as alucinações, então deve ser feita, de certa maneira, uma anamnese 
desse sujeito que se apresenta com esse quadro, através de um diagnóstico 
diferencial apontando a psicose, pois isso é muito preocupante e o paciente deve 
estar fazendo um acompanhamento psiquiátrico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
3. OS DESAFIOS ENFRENTADOS NO TRATAMENTO DE PSICÓTICOS 
 
Freud (1911) apresenta um relato autobiográfico de um caso de paranoia, 
o caso Schreber. A importância da análise de Schreber, contudo, de maneira 
alguma se restringe à luz que lança sobre o problema da paranoia. A 
investigação psicanalítica da paranoia seria completamente impossível se os 
próprios pacientes não possuíssem a peculiaridade de revelar (de forma 
distorcida) exatamente aquelas coisas que outros neuróticos mantêm 
escondidas como um segredo. 
Sobre a formação do delírio, Lacan afirma que no delírio paranoico trata-
se de um delírio de significação, de modo que tudo que cerca o alienado são 
signos repletos de significação própria, a ele endereçados. Sobre a posição 
delirante de Schreber, Lacan (1955-1956, p. 94-95) afirma: 
 
Ele é violado, manipulado, transformado, falado de todas as 
maneiras, é, eu diria, tagarelado. […] É justamente disso que se 
trata – ele é a sede de todo um viveiro de fenômenos […]. Num 
sujeito como Schreber, as coisas vão tão longe que o mundo 
inteiro está tomado desse delírio de significação, de tal modo 
que se pode dizer que, ao invés de estar só, quase nada há de 
tudo o que o cerca que, de certo modo, ele não seja. 
 
A primeira doença de Schreber teve início em 1884, em fins de 1885 
achava-se completamente restabelecido. Durante este período, passou seis 
meses na clínica de Flechsig, que, em relatório formal redigido posteriormente, 
descreveu o distúrbio como sendo uma crise de grave hipocondria (FREUD, 
1911). 
A segunda enfermidade manifestou-se em fins de 1893, com um 
torturante acesso de insônia, forçando-o a retornar à clínica, onde, porém, sua 
condição piorou rapidamente (FREUD, 1911). 
No início de seu internamento, expressava mais ideias hipocondríacas, 
queixava-se de ter um amolecimento do cérebro, de que morreria cedo, etc., mas 
ideias de perseguição já surgiam no quadro clínico, baseadas em ilusões 
sensórias que, contudo, só pareciam ser esporadicamente, no início, enquanto, 
ao mesmo tempo, um alto grau de hiperestesia era observável - grande 
sensibilidade à luz e ao barulho (FREUD, 1911). 
18 
 
Mais tarde, as ilusões visuais e auditivas tornaram-se muito mais 
frequentes e, junto com distúrbios cenestésicos, dominavam a totalidade de seu 
sentimento e pensamento. Acreditava estar morto e em decomposição, que 
sofria de peste; asseverava que seu corpo estava sendo manejado da maneira 
mais revoltante, e, como ele próprio declarava, passou pelos piores horrores que 
alguém possa imaginar, e tudo em nome de um intuito sagrado (FREUD, 1911). 
O paciente estava tão preocupado com estas experiências patológicas, 
que era inacessível a qualquer outra impressão e sentava-se perfeitamente 
rígido e imóvel durante horas (estupor alucinatório). Por outro lado, elas o 
torturavam a tal ponto, que ele ansiava pela morte. Fez repetidas tentativas de 
afogar-se durante o banho e pediu que lhe fosse dado o “cianureto que lhe 
estava destinado”. Suas ideias delirantes assumiram gradativamente caráter 
místico e religioso; achava-se em comunicação direta com Deus, era joguete de 
demônios, via “aparições miraculosas”, ouvia “música sagrada”, e, no final, 
chegou mesmo a acreditar que estava vivendo em outro mundo (FREUD, 1911, 
p. 380). 
Poderíamos partir das próprias declarações delirantes do paciente ou das 
causas ativadoras de sua moléstia. Parece que a pessoa a quem o delírio atribui 
tanto poder e influência, a cujas mãos todos os fios da conspiração convergem, 
é, se claramente nomeada, idêntica a alguém que desempenhou papel 
igualmente importante na vida emocional do paciente antes de sua enfermidade, 
ou facilmente reconhecível como substituto dela. A intensidade da emoção é 
projetada sob a forma de poder externo, enquanto sua qualidade é transformada 
no oposto. A pessoa agora odiada e temida, por ser um perseguidor, foi, n’outra 
época, amada e honrada (FREUD, 1911). 
O principal propósito da perseguição asseverada pelo delírio do paciente 
é justificar a modificação em sua atitude emocional. A característica mais notável 
da formação de sintomas na paranoia é o processo que recebe o nome de 
projeção. Uma percepção interna é suprimida e seu conteúdo, após sofrer certo 
tipo de deformação, ingressa na consciência sob a forma de percepção externa. 
Nos delírios de perseguição, a deformação consiste numa transformação do 
afeto; o que deveriater sido sentido internamente como amor é percebido 
externamente como ódio (FREUD, 1911). 
19 
 
A formação delirante, que presumimos ser o produto patológico, é, na 
realidade, uma tentativa de restabelecimento, um processo de reconstrução. Tal 
reconstrução após a catástrofe é bem-sucedida em maior ou menor grau, mas 
nunca inteiramente. Nas palavras de Schreber, houve uma profunda mudança 
interna no mundo, mas o indivíduo humano recapturou uma relação e, 
frequentemente, uma relação muito intensa, com as pessoas e as coisas do 
mundo, onde anteriormente foi esperançosamente afetuosa (FREUD, 1911). 
Com recorrentes crises hipocondríacas, Schreber se depara com um 
cargo impossível de ocupar, o de representante da lei, dado seu modo peculiar 
de funcionar simbolicamente com o corpo e com a linguagem. Ele passa a ter 
alucinações que ganham um colorido delirante até o ponto em que se estabilizam 
na ideia de como seria bom copular com Deus e ser sua mulher para gerar uma 
nova raça de homens. Delírio que lhe confere uma lógica interna, não partilhada 
pelos demais, mas que, ao mesmo tempo, lhe permite rei vindicar a retomada de 
suas atividades profissionais (GUERRA, 2010). 
Em junho de 1893, Schreber foi informado de sua nomeação. Em 1º de 
outubro do mesmo ano, ele assumiu o cargo e no final desse mesmo mês 
explode com todo vigor a sua loucura. Após a sua nomeação, um belo dia, num 
estado hipnopômpico, ele teve a seguinte fantasia: “Deve ser muito bom ser 
mulher e submeter-se ao ato da cópula.” Essa ideia, diz ele em suas “Memórias”, 
seria tratada com a maior indignação caso surgisse em plena consciência. Essa 
fantasia percorrerá seu caminho até desembocar no delírio de transformação na 
Mulher de Deus. Este ser divinizado, que é o Outro enquanto Deus, gozando de 
seu corpo, o fecundará para dar origem a uma nova raça de homens 
schreberianos (QUINET, 2011). 
A particularidade de o psicótico revelar, embora de forma distorcida, 
aquilo que o neurótico conserva em segredo é o que permitiu a Freud no caso 
Schreber analisar o escrito de um indivíduo que jamais vira. Na psicose é a 
própria estrutura da linguagem do inconsciente que é revelada, e o Outro do 
sujeito aparece desvelado, consistente e absoluto. Tal é o caso do Outro de 
Schreber, esse Deus feito de linguagem e gozo (QUINET, 2011). 
A constituição do Outro de Schreber, seu Deus, é concomitante à 
construção da metáfora delirante de “Mulher de Deus” que vem suprir a 
foraclusão do Nome-do-Pai. É em torno dessa metáfora que Schreber construiu 
20 
 
sua ordem delirante: a erotomania divina. Uma vez estabelecido, o delírio lhe 
permite percorrer no real o caminho de ser pai, até então impossível ao nível 
simbólico devido à carência do significante da paternidade. Seu delírio 
demonstra o traço característico da produção psicótica evidenciado por Lacan: 
o que está foracluído no simbólico retorna no real (QUINET, 2011). 
O advento da metáfora delirante tem como função suprir o Nome-do-Pai 
foracluído do simbólico. Devido a esse suprimento, Schreber se restabelece 
sob a forma de estabilização de seu delírio. Seu mundo não é mais um 
aglomerado de imagens vazias. A indução do significante permite-lhe instituir 
uma ordem, apesar de delirante, e reconstruir o mundo (QUINET, 2011). 
O que a solução delirante da foraclusão nos ensina é que as relações com 
os outros “são perfeitamente compatíveis”, como diz Lacan, “com a relação fora-
do-eixo com o grande Outro e com tudo o que ela comporta de anomalia radical” 
(QUINET, 2009, p.52). 
 Freud vê no delírio a reconstrução do mundo como tentativa de cura, 
como no caso Schreber. Nos delírios esquizofrênicos que se estabilizam a partir 
do advento de uma metáfora delirante, encontramos a figura da assíntota 
destacada por Freud. Ela denota a realização (do que constitui o delírio) apenas 
num futuro, que se prolonga infinitamente, e que o sujeito jamais conhecerá em 
vida. No caso de Schreber, sua transformação em mulher se dará num futuro 
assintótico. Só depois ele efetivamente copulará com Deus, dando origem a uma 
nova raça de homens (QUINET, 2009). 
 Uma tentativa de cura é o delírio, pois ele irá saturar a realidade rompida, 
o sujeito rompendo com a realidade romperá com as relações interpessoais e 
voltará o investimento libidinal para dentro do próprio eu, enquanto ele faz toda 
uma reconstrução disso, a partir do delírio, das alucinações e das construções 
verbais, o sujeito não julgará as coisas com a mesma propriedade consciente 
que tinha antes do surto. Nem todos os pacientes psicóticos tem condições de 
estruturar o delírio, desde o desencadeamento até a primeira exposição, as 
ideias delirantes e até chegar no consentimento do gozo do outro, como é no 
caso de Schreber, quando ele aceita ser a mulher de Deus, possibilitando uma 
construção, produzindo seus delírios, aquilo que faltava na sua constituição 
subjetiva era o nome do pai, marcando o sujeito escrito dentro de uma norma 
simbólica, ele faz essa construção. 
21 
 
4. MÉTODOS PSICANALÍTICOS ADOTADOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA 
O TRATAMENTO DE PACIENTES PSICÓTICOS 
O estudo do delírio de Schreber tem o interesse eminente de nos permitir 
discenir de maneira desenvolvida a dialética imaginária (LACAN, 1955). Ensina-
se, seguindo Freud, que o Outro é o lugar da memória que ele descobriu pelo 
nome de inconsciente, memória que ele considera como objeto de uma questão 
que permanece em aberto, na medida em que condiciona a indestrutibilidade de 
certos desejos (LACAN, 1998). 
No tratamento da psicose, o analista não compreende e também não 
remete o sujeito psicótico à impossibilidade do simbólico. O analista busca, sim, 
testemunhar, sustentar significantes do sujeito psicótico capazes de dar contorno 
ao real, capazes de dar contorno a este sujeito que vive às bordas da loucura e 
que pode, a qualquer momento, despencar no furo da psicose. O analista 
sustenta os significantes do sujeito tendo como princípio ético o respeito àquilo 
que o próprio paciente traz na transferência. O analista não interpola o sujeito 
psicótico com as suas compreensões ou o remete à impossibilidade do 
simbólico, o delírio é visto como o modo particular do sujeito psicótico lidar com 
a própria castração e, assim sendo, relembra-se o fato de que a ética da 
psicanálise não preconiza a remoção do sintoma delírio, mas sim, a possibilidade 
de ressignificação desta experiência delirante, na transferência, como direção de 
tratamento psicanalítico da psicose (LACAN, 1955). 
Observa-se a experiência clínica e percebe-se que o manejo da 
transferência, descrito no Seminário As Psicoses, pode trazer à tona outros 
significantes do sujeito pertinentes para a sua estabilização ou significantes 
pertinentes para dar contorno àquilo que não foi simbolizado e que retorna no 
real. É no próprio delírio do sujeito psicótico que se encontra algo sobre a sua 
verdade pessoal (LACAN, 1955). 
A clínica psicanalítica não é uma clínica descritiva, nem fenomenológica, 
mas é uma clínica estrutural, na medida em que o diagnóstico se estabelece na 
transferência. O que não quer dizer que o diagnóstico seja um diagnóstico sobre 
a transferência do sujeito, considerando a transferência que ele organiza como 
um fenômeno a mais. Não é disso que se trata. Trata-se do fato que na 
transferência que o discurso do paciente organiza, a partir do lugar no qual o 
22 
 
paciente coloca o terapeuta é que um diagnóstico é possível, é que uma clínica 
da psicose é possível (CALLIGARIS, 1989). 
 Em outras palavras, a clínica psicanalítica, por ser estrutural, quer dizer, 
por ser fundada na transferência (com a hipótese que o laço transferencial 
desdobre a estrutura mesma do paciente), permite um diagnóstico de psicose 
mesmo na ausência de fenômenos classicamente psicóticos. Mais 
precisamente, a clínica psicanalítica pode falar de estrutura psicótica,na 
ausência de qualquer crise psicótica e das suas manifestações (CALLIGARIS, 
1989). 
 A partir da evidência clínica do desencadeamento da crise, está certo que 
a psicose aparece como um efeito de forclusão. No desencadeamento da crise 
existe sempre alguma coisa como uma injunção feita ao sujeito psicótico de 
referir-se a uma amarragem central, paterna. Ele não tem possibilidade de 
referir-se a esta amarragem, que não foi simbolizada por ele, e a partir daí 
começa uma crise, com os fenômenos que a psiquiatria clássica descreveu, a 
saber, estado crepuscular, alucinação auditiva, tentativa de constituição de um 
delírio, alucinações cenestésicas, não auditivas, e assim por diante 
(CALLIGARIS, 1989). 
 Poder explicitar, a partir do momento do desencadeamento da crise, 
explicitar publicamente o caminho percorrido para chegar à construção de uma 
metáfora delirante, em muitos casos é algo importante para um sujeito psicótico: 
um momento de socialização da metáfora que está sustentando o sujeito. É um 
momento importante porque é a prova geral da possibilidade para ele de 
sustentar-se socialmente com uma metáfora delirante (CALLIGARIS, 1989). 
 O que pode se apresentar como a tentativa terapêutica de permitir ao 
psicótico fundar-se sem metáfora delirante, na verdade é muito mais, para um 
terapeuta neurótico, a tentativa de reprimir o que ele está aprendendo sobre o 
que funda a sua própria subjetividade. Os apelos terapêuticos à razão do sujeito 
psicótico, são apelos à autonomia do seu eu que o terapeuta quer suscitar para 
confirmar a sua própria (CALLIGARIS, 1989). 
 Confiar no esforço do paciente, não aparecerá tão estranho se 
lembrarmos que a constituição da metáfora delirante é, como Freud mesmo o 
faz notar a propósito de Schreber, um trabalho auto terapêutico (CALLIGARIS, 
1989). 
23 
 
 O caminho de um fim de análise para um psicótico parece dever passar 
por uma experiência Real da contingência da exigência paterna ou diretamente 
talvez do esvaziamento da Demanda imaginária do Outro. Uma experiência 
"Real" no quadro da transferência, como se fosse necessário um encontro no 
qual o analista tenha a possibilidade acidental de destituir a exigência paterna 
ou o Outro imaginário, que ele encarnaria. Talvez por isso, pelo caráter 
efetivamente contingente da experiência, seja tão difícil e, para mim, prematuro 
tentar formalizar mais o que seria fim de análise numa psicose (CALLIGARIS, 
1989). 
 Correlativamente, o restabelecimento, a exemplo do restabelecimento 
final de Schreber, apresenta-se como uma estabilização do mundo imaginário. 
Mas esta se acha ligada, por um lado, ao gozo transsexualista, e, por outro, à 
fantasia da cópula divina. Logo, é induzida pelo que ele chama de “metáfora 
delirante”, nisso retomando a tese freudiana do delírio como cura. O trabalho do 
delírio constrói uma metáfora de substituição. O “serás a mulher”, que Schreber 
realiza, entra no lugar da significação fálica faltante (SOLER, 2007). 
 Sem dúvida, seria preciso estabelecer distinções entre o que acontece 
com um sujeito dito pré-psicótico e um sujeito cuja psicose já se desencadeou. 
Nesse caso, o analista pode considerar incluir-se no trabalho de restauração, 
mas persiste a questão de saber como é possível colocá-lo nessa ligação com o 
sujeito (SOLER, 2007). 
 Ao decifrar Schreber, Freud reconheceu no delírio uma tentativa de cura, 
a qual confundimos, no dizer dele, com a doença. Daí a necessidade de 
distinguir, no próprio seio da psicose, os fenômenos primários da doença e as 
elaborações que se acrescentam a eles, e pelas quais o sujeito reage aos 
fenômenos de que padece (SOLER, 2007). 
 Para o psicanalista, a questão é saber se esse trabalho da psicose pode 
inserir-se no discurso analítico e, em caso afirmativo, de que modo. Certamente, 
estamos seguros da pertinência de nossos referenciais estruturais concernentes 
à psicose, os próprios psiquiatras começam a se aperceber disso, às veze, e 
sabemos que os psicanalistas formados no ensino de Lacan não se recusam a 
enfrentar a psicose, mas resta saber por qual operação (SOLER, 2007). 
 O trabalho da psicose será sempre, portanto, uma maneira de o sujeito 
tratar os retornos no real, de efetuar conversões que civilizem o gozo até torná-
24 
 
lo suportável. Do mesmo modo que podemos fazer a clínica diferencial dos 
retornos no real, conforme se trate de paranóia, esquizofrenia ou mania, 
podemos diferenciar as referidas soluções (SOLER, 2007). 
 Sobre Schreber, o caso que Freud estudou em 1911, em suas “Notas 
psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia”, diríamos, 
no final, que ele se estabilizou, com certeza; mas será que não diríamos o 
mesmo de quem voltasse à inércia do apragmatismo e da abulia (não há nada 
mais estável que o sujeito que permanece confinado ao leito)? Isto é para dizer 
que o termo não é um conceito e que é preciso introduzir um certo rigor (SOLER, 
2007). 
 Freud manifestou interesse pela psicose com certeza, mas um interesse 
prudente, e que acabou por renunciar a incluir a psicose no campo definido por 
sua prática, porque ele julgou reconhecer na psicose uma objeção à libido 
transferencial (SOLER, 2007). 
 Desde o começo, Lacan, que era psiquiatra por formação, como sabemos, 
denunciou a segregação da doença mental. Mas era preciso construir, em ato e 
em doutrina, uma abordagem que, não sendo segregadora, estabelecesse de 
fato uma separação (SOLER, 2007). 
 Enfim, no caso de Schreber, houve uma nomeação, feita por ele próprio, 
não baseado numa informação qualquer, foi feita a partir de um sofrimento pelo 
qual ele passou, de toda uma construção, ou seja, construiu no nome do pai 
aquilo que faltava na vida dele, que é o que nomeia, fazendo isso pela via do 
corpo, uma construção corporal. Quando o paciente chega com essa questão do 
nome, tem toda uma angústia envolvida nesse contexto, portanto, a primeira 
coisa que se deve fazer é pedir que ele fale das possibilidades do que foi que 
causou aquilo, buscando fazer com que o sujeito fale, pois através da fala o 
sujeito tenta simbolizar o sofrimento, simbolizar algo que está produzindo um 
sofrimento, uma angústia, enquanto ele está tentando simbolizar, prestamos 
atenção na subjetividade daquele sujeito, através de seu discurso. 
 
 
 
 
 
25 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Sempre que se menciona o termo psicose logo há alguns 
questionamentos possíveis sobre as causas da psicose e o tratamento realizado 
com esses pacientes. A psicologia vem se deparando, ao longo do tempo, com 
várias questões em relação aos pacientes psicóticos, seus possíveis tratamentos 
e estigmas que esses pacientes sofrem diante da sociedade e as possibilidades 
de reinserção social desses pacientes em seu meio. 
 Os principais pontos abordados ao longo do trabalho foram em relação 
ao termo psicose diante da perspectiva psicanalítica enfatizando os desafios 
enfrentados no tratamento de pacientes psicóticos e os métodos psicanalíticos 
adotados que contribuíram no tratamento desses pacientes. 
No primeiro capítulo surgiu a necessidade de entender a abrangência do 
termo psicose para que fosse possível a compreensão desse transtorno da 
personalidade para posteriormente, nos próximos capítulos, entender por quais 
vias esse transtorno se desencadeava nesses pacientes, procurando entender 
quais sintomas, causas e efeitos se passavam na vida daquele sujeito. Nos 
próximos capítulos isso foi ficando mais claro e foi possível compreender os 
desafios enfrentados no tratamento desses pacientes buscando autores que se 
dedicaram a trabalhar diferentes possibilidades de tratamento relacionado a 
pacientes psicóticos e foi possível, através de métodos psicanalíticos, perceber 
a evolução ao longo do tratamento nesses pacientes com a contribuição obtida 
no relato de casos, como o caso Schreber, que proporcionou uma contribuiçãobastante relevante para o desenvolvimento desse trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. 
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos 
Mentais. 2 Ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 
DOR, Joël. Estruturas e Clínica Psicanalítica. Livrarias Taurus-Timbre 
Editores, Rio de Janeiro,1991. 
FREUD, Sigmund Schlomo. Edição Standard Brasileira das Obras 
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. O Caso Schreber, Artigos 
Sobre Técnica e Outros Trabalhos (1911) – Volume XII. Editora: Imago, 1996. 
FREUD, Sigmund Schlomo. Edição Standard Brasileira das Obras 
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. O Ego e o Id e Outros 
Trabalhos (1924) – Volume XIX. Editora: Imago, 2006. 
GUERRA, Andréa M. C. A Psicose. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. 
LACAN, Jacques-Marie Émile. Escritos. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar. Ed., 1998. (Campo Freudiano no Brasil). 
LACAN, Jacques-Marie Émile. O Seminário: Livro 3 – As Psicoses (1955). 2ª 
Ed. Revista (1988). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Versão brasileira de Aluísio 
Menezes. 
PONTES, Samira; CALAZANS, Roberto. Sobre Alucinação e Realidade: A 
Psicose no CID-10, DSM-IV-TR e DSM-V e o Contraponto Psicanalítico. 
Universidade Federal de São João del-Rei, Programa de Pós-Graduação em 
Psicologia. São João Del Rey, vol. 28, n. 1, p. 108-117, 2017. Disponível em: 
< http://www.scielo.br/pdf/pusp/v28n1/1678-5177-pusp-28-01-00108.pdf> 
QUINET, Antônio. Teoria e Clínica da Psicose. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 2011. 
QUINET, Antônio. Psicose e Laço Social: Esquizofrenia, Paranoia e 
Melancolia. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. 
SOLER, Colette. O Inconsciente a Céu Aberto da Psicose. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar Ed., 2007. 
 
 
http://www.scielo.br/pdf/pusp/v28n1/1678-5177-pusp-28-01-00108.pdf

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