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Microrganismos patogênicos de importância em alimentos Prof. Eliane Almeida Doenças Transmitidas por Alimentos Os alimentos de origem animal ou vegetal, frescos ou processados, incluindo a água, podem transmitir vários microrganismos patogênicos, causando diversas doenças nas pessoas que os consomem: Doenças Transmitidas por Alimentos Doenças Transmitidas por Alimentos são doenças causadas pela ingestão de alimentos ou água que contenham microrganismos (bactérias, bolores, leveduras, protozoários, parasitas) ou toxinas em quantidade suficiente que afetem a saúde de um consumidor ou de um grupo. Agente etiológico bactérias: 83,5% vírus: 14,1% parasitas: 1,1% químicos: 1,3% ignorados: 5,3% Fonte: COVEH/CGDT/DEVEP/SVS/MS As bactérias, pela sua diversidade e capacidade de causar doenças são o grupo microbiano mais importante e mais comumente associado às DTA Principais sintomas de DTA diarreia náuseas vômitos dor de cabeça dor abdominal febre formação de gases fadiga perda de apetite Doenças Transmitidas por Alimentos OMS: as DTA são consideradas como um dos principais problemas de saúde pública no mundo Cerca de 250 DTA Surto alimentar Ocorrência de dois ou mais casos de doença de origem alimentar associados a um único alimento (CDC) Principais causas: falhas de tempo x temperatura contaminação cruzada higiene deficiente contaminação inerente à matéria-prima Doenças Transmitidas por Alimentos OMS estima que atualmente mais de um terço da população adoeçam devido a surto de DTA e somente uma pequena quantidade é notificado. A ocorrência de surtos de DTA tem uma importância social, pois a população pobre é a mais afetada Fonte: WHO, Global Strategy for Food Safety (2002) Magnitude das DTA OMS estima mais de 2 milhões óbitos por Doenças Diarreicas Agudas (DDA) ao ano grande parte atribuídos a ingestão de água e alimentos contaminados Origem da contaminação Mecanismos de defesa Nem todo alimento contaminado com um ou mais microrganismos patogênicos causará uma doença se for consumido... ... isto só ocorrerá se forem derrotados todos os mecanismos de defesa que os indivíduos apresentam Fonte: http://www.atlasdasaude.pt/publico/content/defesas-do-organismo Mecanismos de defesa Acidez estomacal: primeira barreira natural Mucosa intestinal: barreira mecânica a penetração do micro-organismo Muco: secretada pelas células epiteliais do intestino Motilidade intestinal: eliminação do conteúdo do lúmen Microbiota intestinal adaptados ao local: competem com os patógenos Mecanismo de patogenicidade De um modo geral, uma bactéria causa doença quando é capaz de: infectar as superfícies mucosas penetrar no organismo geralmente pelas mucosas multiplicar-se nos tecidos do hospedeiro interferir com os mecanismos de defesa do hospedeiro causar danos aos tecidos do hospedeiro Mecanismo de patogenicidade Algumas bactérias não cumprem todas estas etapas. Outras penetram através de abrasões da pele ou ferimentos. Os fatores de virulência das bactérias expressam-se apenas quando existem condições ambientais favoráveis que são específicas de cada microrganismo. Notificação de surtos É de notificação compulsória Portaria MS nº 104, de 25 de janeiro de 2011 Dever de todo cidadão comunicar o surto à autoridade sanitária. Notificação é obrigatória para: profissionais de saúde (no exercício da profissão); responsáveis por organizações, estabelecimentos públicos e particulares de saúde. Série histórica de surtos de DTA. Brasil, 2000 a 2014* Fatores responsáveis pelos surtos de DTA Fatores % surtos Temperatura de refrigeração inadequada 39,5 Cozimento inadequado 13,7 Equipamento inadequado 13,4 Alimentos de origem duvidosa 5,4 Falhas de higiene pessoal 20,3 Outros 7,7 Classificação das DTA Infecções: são doenças causadas pela ingestão de alimentos contaminados por microrganismos patogênicos, denominados invasivos, com capacidade de penetrar e invadir tecidos. Ex: Salmonella spp, Shigella spp., Yersinia enterocolitica, Campylobacter jejuni Classificação das DTA Intoxicações: são provocadas pela ingestão de toxinas formadas em decorrência da intensa proliferação do microrganismo patogênico no alimento. Os mecanismos de ação dessas toxinas em humanos ainda não são bem esclarecidos. Observações em animais sugerem alterações na permeabilidade vascular e inibição da absorção de água e sódio levando as diarreias. Ex: Staphylococcus aureus, Clostridium botulinum, Bacillus cereus (cepa emética) Classificação das DTA Toxinfecções: são causadas por microrganismos toxigênicos, cujo quadro clínico é provocado por toxinas liberadas quando estes se multiplicam, esporula, ou sofrem lise na luz intestinal. Essas toxinas atuam nos mecanismos de secreção/absorção da mucosa do intestino. Ex: E. coli enterotoxigênica, Vibrio cholerae, Vibrio parahaemolyticus, Clostridium perfringens, Bacillus cereus (cepa diarreica) Clostridium botulinum Características do microrganismo: bastonete Gram positivos formadores de esporos anaeróbios estritos produtores de toxinas (A-G) temperatura de multiplicação: 3,5 a 50ºC pH: 4,6 a 9,0 Aa mínima: 0,94 Clostridium botulinum Características da doença: botulismo = botulus (salsicha em latim) 3 formas de botulismo: botulismo alimentar botulismo intestinal (infantil) botulismo de lesões Clostridium botulinum Botulismo alimentar Agente causador toxina pré-formada produzida pelo C. botulinum Transmissão ingestão de alimentos contendo toxinas Sintomas iniciais: náuseas, vômito, fadiga, tonturas o início da ação da neurotoxina botulínica provoca problemas de visão (queda das pálpebras, visão dupla) devido a paralisia dos músculos, secura na boca, dificuldade de deglutição e controle da língua; conforme a doença progride o músculo do peito e diafragma são afetados causando grande dificuldade na respiração e podendo provocar a morte em 3 a 5 dias Clostridium botulinum Reservatório natural no solo, em legumes, verduras, frutas, sedimentos aquáticos e fezes humanas Período de incubação 12 a 36 horas Medidas de controle destruição de células vegetativas e esporos impedir a formação da toxina através da germinação dos esporos e a proliferação das células - tratamento térmico elevado: toxinas são termolábeis sendo destruídas a 80ºC/30 min ou 100ºC/10 min métodos químicos (nitritos e nitratos, redução da Aa, acidificação) que inibem totalmente o desenvolvimento da bactéria *medida preventiva: aquecimento dos alimentos suspeitos a temperatura de fervura por alguns minutos Clostridium botulinum Duração da doença 1 a 10 dias Alimentos envolvidos alimentos de baixa acidez: produtos marinhos, produtos cárneos, conservas vegetais, principalmente caseiras Tratamento soroterapia com anti-soro que neutraliza a toxina livre circulante no sangue, remoção da toxina do estômago ou do intestino através de lavagens ou da ingestão de substâncias eméticas ou catárticas, paralelamente é necessário o reestabelecimento da função respiratória; a soroterapia é bastante eficiente nos primeiros estágios da doença Taxa de mortalidade 30 e 65% Clostridium botulinum Botulismo intestinal (infantil) Agente causador toxina do C. botulinum Transmissão ingestão de esporos de C. botulinum e subsequente germinação, multiplicação e toxigênese no intestino de crianças com menos de 1 ano de idade Alimentos envolvidos mel de abelha (entre 4 e 25% das amostras são contaminadas) Período de incubação 3 a 30 dias Clostridium botulinum Sintomas constipação, letargia, apatia, choro fraco, sono excessivo,pouco controle da cabeça, em casos graves pode ocorrer a falência respiratória e a morte Duração da doença 24 horas até 1 semana após o surgimento dos primeiros sintomas Tratamento bebês com botulismo devem ficar em UTI porque eles com frequência necessitam de ventilação mecânica (mais de 70% dos pacientes necessitam), alimentação por sonda nasogástrica, e fisioterapia; soroterapia Clostridium botulinum Clostridium perfringens Características do microrganismo: bastonete Gram positivos formadores de esporos anaeróbios produtores de toxinas (A-E) temperatura de multiplicação: 15 a 51ºC temperatura ótima: 37 a 45ºC pH: 5,0 a 8,3 Aa mínima: 0,95 Clostridium perfringens Características da doença: 2 formas: clássica enterite necrótica (doença de pig bel) Clostridium perfringens Clássica Agente causador toxina produzida pelo C. perfringens Transmissão ingestão de alimentos contendo número elevados de esporos de C. perfrigens ; os esporos germinam e bactéria se multiplica até níveis causadores de enfermidade durante a refrigeração e estocagem; após a ingestão a enterotoxina é produzida no intestino; a enterotoxina é associada à esporulação Sintomas dores abdominais agudas, diarréia com náuseas e febre, sendo os vômitos raros; intoxicação branda raramente causa morte do indivíduo Clostridium perfringens Duração da doença 24 horas Taxa de mortalidade somente para idosos ou pessoas imunodebilitadas Toxina a toxina é formada no intestino durante o processo de esporulação; é pouco provável que a toxina pré-formada em um alimento cause intoxicação pois é necessário grandes quantidades de toxina são necessárias para o desenvolvimento dos sintomas, além disso a toxina não resiste ao pH ácido do trato digestivo e nem a ação das enzimas digestivas Medidas de controle aquecimento a 60ºC inativa células vegetativas e esporos são mais resistentes toxina termolábil: destruída por aquecimento a 60ºC por 10 min Clostridium perfringens Período de incubação 8 a 12 horas Reservatório natural amplamente distribuído na natureza, faz parte da microbiota do solo, comum no conteúdo intestinal do homem e de muitos animais Alimentos envolvidos alimentos crus e processados, carne de porco mal cozida, alimentos a base de carne bovina e de frango; surtos causados por alimentos preparados em grandes quantidades e consumidas várias horas depois mantidos em temperatura inadequada em vez de refrigerados Tratamento hidratação oral ou venosa dependendo da gravidade do caso; antibióticos e outras medidas de suporte nos casos graves com septicemia Clostridium perfringens Enterite necrótica (pig bel) Agente causador toxina produzida pelo C. perfringens Transmissão ingestão de alimentos contendo número elevados de células esporuladas que sintetizam a enterotoxina Sintomas dores abdominais agudas muito intensas, diarreia sanguinolenta, vômitos e inflamação necrótica do intestino delgado sendo freqüentemente fatal Taxa de mortalidade 35 a 40% Tratamento antibióticos e outras medidas de suporte nos casos graves com septicemia e enterite necrótica Bacillus cereus Características do microrganismo: bastonete Gram positivos formadores de esporos Aeróbios facultativo mesófilo produtores de toxinas temperatura de multiplicação: 10 a 48ºC temperatura ótima: 28 a 35ºC pH: 4,9 a 9,3 Aa mínima: 0,95 Bacillus cereus Características da doença: 2 formas de gastrenterite: síndrome diarreica síndrome emética Bacillus cereus Síndrome diarréica Agente causador toxina diarréica produzida por B. cereus Transmissão ingestão de alimentos contaminado com grande quantidade de B. cereus ou dos seus esporos, que proliferam rapidamente e produzem toxinas assim que penetram nos intestinos. A enterotoxina pode ser pré-formada no alimento ou produzida no intestino. Período de incubação 8 a 16 horas Sintomas diarreia intensa, dores abdominais, tenesmos retais, fezes aquosas, raramente ocorrendo vômitos e febre Bacillus cereus Reservatório natural amplamente distribuído na natureza, sendo o solo seu reservatório natural; parte da microbiota fecal de indivíduos normais Alimentos envolvidos pratos à base de cereais, contendo milho e amido de milho, purê de batatas, vegetais, produtos cárneos, pudins, sopas e outros Medidas de controle toxina termolábil: destruída com aquecimento a 55-60ºC por 20 min Duração da doença 12 a 24 horas Bacillus cereus Síndrome emética Agente causador toxina emética produzida por B. cereus Transmissão causada pela ingestão de alimentos contaminados contendo toxina emética Período de incubação 1 a 6 horas Sintomas vômitos em curto período de tempo após a ingestão Alimentos envolvidos pratos a base de arroz, quentes ou frios síndrome do restaurante chinês (arroz) creme pasteurizado, espaguete, purê de batatas e brotos de vegetais Bacillus cereus Alimentos envolvidos vegetais, cereais (arroz), condimentos superfície de carne bovina, suína e frango laticínios (queijos e sorvetes); queijos, farinhas, amidos, alimentos desidratados, carne moída Medidas de controle - cozimento em vapor sob pressão - fritura - assar em forno quente - tratamento térmico inferior a 100ºC pode resistente ao aquecimento a 126ºC/ 90 min não ser eficaz para a destruição de todos os esporos de B. cereus Tratamento sintomáticos, reposição hidro-eletrolítica em casos mais graves Staphylococcus aureus Características do microrganismo: cocos Gram positivos aeróbios anaeróbios facultativo mesófilos produtores de toxinas temperatura de multiplicação: 7 a 47,8ºC enterotoxina produzidas entre 10 e 46ºC com ótimo: 40 a 45ºC pH: 4 a 9,8 Aa mínima: 0,86 Staphylococcus aureus Agente causador toxina produzida pelo S. aureus Transmissão ingestão alimentos que apresentam a toxina pré-formada Sintomas náuseas, vômitos, dores abdominais, diarréia e sudorese; podem ocorrer: dores de cabeça, calafrios, queda de pressão arterial e febre quando a quantidade de toxina é grande em casos mais graves causa septicemia, infecção nas vias respiratórias e pneumonia Período de incubação 30 minutos a 8 horas, com média de 2 a 4 horas após a ingestão do alimento contaminado Staphylococcus aureus Temperatura de crescimento 7 a 47,8ºC a toxina é produzida entre 10 a 46ºC com temperatura ótima entre 40 a 45ºC em condições ótimas a toxina torna-se evidente entre 4 a 6 horas Reservatório natural homem: vias aéreas superiores, lesões evidentes nas mãos (furúnculo); Animais Alimentos envolvidos leite e derivados , carnes processadas, recheios cremosos doces, maionese de batata, atum, frango, presunto Staphylococcus aureus Medidas de controle impossível a eliminação do ambiente pois são amplamente disseminados na natureza; toxina termorresistente a 4 horas de fervura; a pasteurização destruirá o microrganismo porém não inativará a toxina; Tratamento raramente é fatal, a menos que o indivíduo esteja debilitado; quando há desidratação é necessária hospitalização para reposição de fluidos e eletrólitos Staphylococcus aureus 4 pessoas de uma mesma família ingeriram queijo contaminado com S. aureus Listeria monocytogenes Características do microrganismo: bastonete Gram positivos não formador de esporos anaeróbio facultativo temperatura de crescimento: 2,5 a 44ºC pH: 4,5 a 9,5 Aa ótima: 0,97 Listeria monocytogenes Listerioses Agente causador microrganismo L. monocytogenes Transmissão ingestão de alimentos contaminados com L. monocytogenes Período de incubação variável casos de surtos apresentaram um período de 3-70 dias após uma simples exposição ao produto implicado período mediano de incubação é estimado em 3 semanas Listeria monocytogenes Sintomas sintomas semelhantes ao da gripe com febre persistente;sintomas gastrointestinais como náusea, vômitos e diarreia, podem preceder ou acompanhar as manifestações mais graves da doença; septicemia, meningite (ou meningoencefalite), encefalite, infecção cervical ou intra-uterina em gestantes, as quais podem provocar aborto (no segundo ou terceiro trimestre) ou nascimento prematuro; outros danos podem ocorrer como: endocardite, lesões granulomatosas no fígado e outros órgãos, abscessos internos ou externos, e lesão cutânea papular ou pustular. a taxa de letalidade em recém-nascidos é de 30%; em adultos (sem gravidez) é de 35%; em torno de 11% para < 40 anos e 63% para > 60 anos; quando ocorre septicemia, a taxa de letalidade é de 50% e com meningite pode chegar a 70% Listeria monocytogenes Reservatório natural amplamente distribuída na natureza; homem e animais (carneiros, gado bovino, cabras, porcos, cavalos, gansos, gaivotas, patos, pombas, perus, galinhas, cachorros e lebres) servem como hospedeiros dessa bactéria Alimentos envolvidos primeiro alimento envolvido foi uma salada de repolho tipo coleslaw; surtos com: leite pasteurizado, queijo mole tipo mexicano; leite cru e pasteurizado, queijos, carne bovina, suína, de aves, peixes, embutidos, produtos cárneos crus e termoprocessados, produtos de origem vegetal e refeições preparadas Listeria monocytogenes Medidas de controle controle no local de processamento do alimento; limpeza e sanitização dos equipamentos; impedir a entrada de animais, poeira e insetos na área de produção; evitar o contato do produto final com a matéria-prima Tratamento antibióticos
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