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EMERGÊNCIAS ONCOLÓGICAS - Psiconcologia

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EMERGÊNCIAS ONCOLÓGICAS,
PSICONCOLOGIA E NUTRIÇÃO
NO PACIENTE COM CÂNCER
Profa.
Erika Maria Monteiro
Santos
Modulo 2 – Psiconcologia
Estresse e Sofrimento Profissional em Oncologia
A enfermagem está sob grande impacto do estresse, que é
consequência do cuidado com os pacientes. O trabalho da enfermagem
está relacionado com a realização de atividade que, na visão da
sociedade, causa medo e são consideradas repulsivas e desgastantes.
Dentre as características da doença que favorecem o aparecimento do
estresse nos profissionais estão a demora para o restabelecimento dos
pacientes; a ausência de resposta favorável, com óbitos; a internação
prolongada; a morte de jovens e crianças; cuidar de pacientes graves
e sem perspectiva de cura; e demandas dos familiares.
Frente a estes aspectos, o profissional de enfermagem necessita equilibrar os
fatores de estresse. A capacidade dele em atingir um ponto de equilíbrio em
relação a estes fatores externos também depende de sua resiliência.
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Desta forma, a enfermagem está sob constante estresse.
O estresse é a resposta do organismo (corpo e mente) às pressões
internas (desejos, ambições, expectativas, conflitos) e externas
(pressões e condições de vida).
O estresse também está relacionado a aspectos organizacionais, às
características da profissão e características da doença.
Dentre os aspectos organizacionais estão: o ritmo de trabalho intenso,
número insuficiente de profissionais, o baixo reconhecimento e a
elevada cobrança.
Além destes fatores, há características da profissão que também são
fontes de estresse: reconhecimento da profissão na sociedade, o que
interfere no papel social da profissão e a inserção socioeconômica,
limitando o acesso aos bens.
A resiliência é a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sort e
ou às mudanças. Na física é definida como a elasticidade. É uma qualidade
considerada como a capacidade rápida de recuperação.
É um aspecto importante, pois pessoas com uma grande capacidade de resiliência
conseguem suportar situações de estresse de uma forma mais adaptativa.
No trabalho, a capacidade o indivíduo de suportar a carga de trabalho também
está diretamente relacionada ao equilíbrio entre as forças chamadas de
demanda e de controle.
Há funções nas quais há uma baixa demanda e um baixo controle. Nestes casos
o desgaste é pequeno.
Para outras a demanda é elevada e o controle também; aqui há um equilíbrio das
forças.
Em outras situações, porém, há uma elevada demanda, e um baixo controle.
E ainda há casos nos quais há uma baixa demanda e um elevado controle. Nestas
situações de desequilíbrio, o estresse pode estar alto, pois o indivíduo não
consegue dar sustentação às suas expectativas.
Há uma patologia chamada Síndrome de Burnout, que consiste na Síndrome do
Esgotamento Profissional; é uma forma de estresse que está relacionado ao
ambiente de trabalho. Neste caso, os profissionais estão expostos de maneira
continuada ao impacto do cuidado em situações de conflito.
Os componentes da Síndrome de Burnout são:
• Exaustão Profissional.
• Despersonalização.
• Realização Profissional Diminuída.
Em oncologia, os fatores que estão associados com
o desenvolvimento de Burnout são:
• A presença de uma doença grave diariamente.
• O contexto emocional dos pacientes e familiares.
• A convivência diária com a morte.
• A cultura profissional de que não se pode reclamar.
• A necessidade de estar bem para os familiares e pacientes.
• Muitos pacientes e pouco tempo para interação.
• Equipe reduzida e sobrecarga de trabalho.
• Problemas de comunicação.
• Baixa moral da equipe.
Impacto Psicossocial do câncer no indivíduo e família
O câncer afeta o indivíduo e toda a sua família. Ele afeta o paciente em
todos os estágios da doença.
Há três fatores que afetam a experiência do paciente com câncer:
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Também há fatores pessoais que favorecem o
desenvolvimento do Burnout:
• Pessoas que tem muito ou pouco envolvimento com os
 pacientes.
• Pessoas que tem dificuldade em pedir ajuda aos amigos,
 familiares.
• Pessoas como dificuldade em ter tempo para outras atividades
 (como lazer, atividades com a família).
• Pessoas que não compartilham pensamentos e emoções.
• Pessoas que apresentam medo, culpa e insatisfação por não
 fazer o que deveria.
• Além disso, pessoas com desejo de mudar de emprego,
 problemas financeiros, que não descansam o suficiente,
 que apresentam problemas sérios no trabalho e vida privada
 ao mesmo tempo também apresentam maior risco de
 desenvolver a Síndrome de Burnout.
• Para a prevenção é necessário saber reconhecer os limites
 pessoais.
• Assim, é necessário reconhecer a necessidade de tempo
 e energia.
• O indivíduo deve desenvolver mecanismos para controlar
 os estressores ocupacionais. Uma boa estratégia é a utilização
 de sistemas de apoio formal (como psicoterapia) e informal
 (amigos, por exemplo). É importante expor as necessidades
 e sugestões para melhorar o ambiente de trabalho.Os gestores
 devem estimular a comunicação entre os profissionais, isto
 pode ser feito por oficinas de planejamento e grupos de reflexão.
 É necessário promover encontros em momentos de crise.
 Deve ser estimulado o desenvolvimento profissional, pois isto
 pode contribuir para a redução da Síndrome de Burnout.
• Tipo de câncer.
• Habilidades de enfrentamento.
• Atitudes da sociedade frente ao câncer.
A Figura 1 apresenta os fatores que afetam os fatores da resposta do
paciente com câncer.
Figura 1 – Fatores que afetam a resposta do paciente com câncer.
É uma doença que está associada com ideações de dor, mutilação,
desfiguramento, sofrimento e medo da morte. As crenças que cercam
a doença contribuem para sua interpretação equivocada; é uma
enfermidade cercada de mitos.
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O câncer provoca rupturas em vários níveis. Leva a uma modificação no estilo
de vida, relacionamentos, produtividade, e papéis.
É uma situação de crise, que interfere no bem-estar emocional. O diagnóstico
de câncer é um desafio ao senso de segurança.
É uma doença que desperta uma série de sentimentos de pesar e angústia,
pois há o medo da dor, sofrimento e morte.
Não há nenhuma doença com um estigma tão negativo quanto o câncer. Há
diversos fatores que determinam a resposta psicológica ao câncer. Estes
fatores são:
• Rompimentos no Ciclo de Vida.
• Separações.
• Desemprego.
• Idade.
• Limitações.
O câncer é uma doença com representação negativa na
sociedade.
Essas crenças que cercam a doença podem provocar o atraso na busca do
diagnóstico e do tratamento, pelo medo da doença em si e da morte.
Um fator que merece atenção é que o medo da morte e do resultado do
tratamento levam a buscas por métodos alternativos.
O diagnóstico do câncer leva ao declínio da função física, psíquica e social.
É uma doença cercada de muita falta de informação. O paciente será
cercado por muitos procedimentos durante o tratamento, tanto para o
diagnóstico da doença, quanto para o seu tratamento.
A doença e o tratamento provocam efeitos devastadores no organismo.
Assim, há diversas interrupções no cotidiano do paciente, que muitas vezes
deixa de assumir papéis que assumiu durante toda uma vida. Dessa forma,
toda a sua trajetória de vida está ameaçada. Por isso é mais do que esperado
a morbidade psicológica. Dentro da morbidade psicológica há as reações que
são normais, os transtornos de adaptação, e os transtornos mentais.
Dentre as reações normais ao câncer, temos:
• Negação.
• Evitação.
• Passividade.
• Culpa.
• Frustração.
• Limitação das atividades.
• Os transtornos de adaptação são definidos como um estado
 intermediário entre o distúrbio mental maior e o enfrentamento normal
 em situação de estresse. São os mesmos sintomas de depressão – mas
 sem critérios de tempo e duração.
• São indicadores de falta de adaptação: trabalho, atividades, 
 relacionamentos, prazeres da vida.
• A depressão é um diagnóstico médico.O tempo de manutenção dos
 sintomas é por duas semanas ou mais. Também é definida como cinco
 ou mais sintomas presentes a maior parte do dia.
Já as estratégias baseadas no problema têm como foco a resolução do
fato. Um exemplo é a busca da informação.
A questão é que os indivíduos utilizam as estratégias de enfrentamento
de acordo com a sua estrutura de personalidade, e também de acordo
com suas experiências anteriores com aquele problema vivenciado.
• Pessoas ativas.
• Pessoas otimistas.
• Pessoas flexíveis.
• Pessoas com visão prática.
• Interpretar a doença como um desafio.
• Capacidade criativa para a resolução dos problemas.
• Usa recursos positivos para enfrentar as adversidades.
• Luta para dar novo significado a vida.
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Um aspecto determinante na morbidade psicológica dos pacientes com
câncer é o processo de enfrentamento chamado de coping.
Ele é definido como uma resposta cognitiva ou comportamental ao estresse,
com a finalidade de diminuir seus aspectos negativos.
É uma forma de lidar com os problemas que causam o sofrimento, com o
controle diante dos elementos que o causam.
O enfrentamento é dinâmico e simultâneo, e pode ser utilizado tanto para
facilitar uma adaptação a um estressor como para obstruir.
Assim, há estratégias de enfrentamento que são consideradas adaptativas
e não adaptativas. Não há estratégia boa ou ruim. A depender do momento
e do contexto, é necessário utilizar esta ou aquela estratégia.
A questão é que a manutenção de uma estratégia de enfrentamento pode
prejudicar o tratamento, por exemplo.
Há, basicamente, dois tipos de estratégias: aqueles que são baseadas na
emoção e as baseadas no problema. As estratégias baseadas na emoção
têm como objetivo controlar os sentimentos. Como exemplo, podemos
citar a negação.
As estratégias de enfrentamento são importantes, pois podem ser
sensíveis à psicoterapia, e podem ser trabalhadas para que possam
ser modificadas na busca de estratégias mais adequadas a depender
da situação, possibilitando a redução da angústia.
Pode ser minimizado o potencial das respostas negativas.
Alguns fatores positivos para o enfrentamento do paciente
com câncer:
• Evitar os sentimentos.
• Negar as preocupações.
• Sentir-se incapaz.
Por outro lado há fatores que são negativos:
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• O enfermeiro é membro da equipe multiprofissional. Ele não possui um treinamento específico para o oferecimento do suporte psicológico, porém
 deve ser capaz de reconhecer o paciente em angústia e trabalhar junto aos demais membros da equipe multiprofissional para facilitar a reabilitação
 do paciente e sua família.
Ele deve considerar que o câncer afeta também a família do paciente e, muitas vezes, é a família que mais precisa de apoio. As instituições
necessitam fornecer o cuidado integral ao doente com câncer, e considerar o contexto familiar deste cuidado.
O enfermeiro não possui treinamento e nem conhecimento específico em oncologia para lidar com situações difíceis e enfrentar uma doença que
ainda é vista pela sociedade como um sinônimo de dor e morte. Além da dimensão social, o enfermeiro deve ter a consciência da interferência de
suas próprias crenças no cuidado. Ele também traz suas experiências pessoais para cuidado e precisa avaliar o quanto isto interfere no seu olhar
sobre o doente.
E é de fundamental importância que o enfermeiro tenha plena consciência de suas limitações. Em uma área de muito desgaste físico e mental,
além da pressão institucional, o enfermeiro deve encarar o cuidado do doente com câncer como o oferecer cuidado, o que nem sempre significa
a cura. É no reconhecimento das suas limitações e na finitude do ser humano que o enfermeiro pode exercer a essência do cuidado em
enfermagem.