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Nutrição em Geriatria - Alterações do aparelho digestivo Prof.ª Me. IRAMAIA BRUNO SILVA Alterações orgânicas, fisiológicas e metabólicas do envelhecimento REFLEXOS NA NUTRIÇÃO DO IDOSO Processo natural de envelhecimento ▪ Redução do apetite, ▪ Redução da massa muscular, ▪ Aumento da massa gordurosa. ▪ Aumento risco de redução significativa de peso. ▪ Desenvolvimento e/ou agravamento de doenças mais prevalentes em idosos. Redução do apetite ▪ Alterações na regulação do apetite ▪ Redução significativa da sensação de fome ▪ Adaptação do organismo ( metabolismo) à redução de massa magra Anorexia fisiológica ou anorexia do envelhecimento Redução da ingestão alimentar ▪ Desencadeada por alterações fisiológicas que facilita os efeitos danosos da anorexia. ▪ Este processo relaciona-se: ➢ ao declínio do ESTADO FUNCIONAL ou CAPACIDADE FUNCIONAL - capacidade de realizas atividades rotineiras normais para manter suas necessidades básicas (AVD); ➢ Prejuízo da função muscular; ➢Redução da massa óssea; ➢Deficiência de micronutrientes ➢Redução da função cognitiva ➢ Aumento do numero de internações hospitalares ➢Mortalidade precoce Redução da ingestão alimentar Pesquisa de Orçamento Familiares 2008-2009 (POF): Menores valores de ingestão energética – IDOSOS – 1.490Kcal ( mulheres) a 1796 Kcal/dia ( homens). 35% não ingeriram nenhum tipo de fruta ou hortaliça por dia, Somente 20% desses idosos ingeriam ao menos 5 alimentos do grupo das hortaliças (atendendo a Organização Mundial de Saúde – OMS/WHO, 2004); A POF revelou - a ingestão inadequada de frutas e hortaliças estava associada fortemente à baixa escolaridade e menores faixas de renda; (IBGE, 2011) Muitas alterações fisiológicas e metabólicas estão associadas ao processo normal do envelhecimento – tornam o idoso vulnerável às alterações da ingestão alimentar, modificações no processo de digestão, absorção e biodisponibilidade de nutrientes e da capacidade funcional; Declínio do Estado Nutricional (EN) adequado ao idoso Outros fatores que alteram o EN Chamados de fatores não fisiológicos ➢Depressão ➢Apatia ➢Distúrbio de humor ➢Isolamento social ➢Pobreza ➢Abandono ➢Uso exagerado de medicamentos (DE BOER et al, 2013) Balanço hídrico no idoso ▪ Perda da sensação de sede – redução da ingestão hídrica, ▪ Alterações na osmolaridade e no volume dos compartimentos dos fluidos corporais, ▪ Aumentando da frequência e da gravidade da hipo e hiperosmolaridade , manifestada com hipo e hipernatremia ( sódio) e hipo e hipervolemia (HODAK , VERBALIS, 2005) Alterações no aparelho digestivo ▪ Alterações estruturais, funcionais e de motilidade ▪ Cavidade oral, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus; ▪ Distúrbio nutricionais – redução da ingestão alimentar, processo digestivo, biodisponibilidade de nutrientes e alterações farmacocinéticas ▪ Mudança das respostas esperadas dos medicamentos – prognóstico negativo Boca ▪ Ausência parcial e total de dentes ( saúde bucal negligenciada – hábitos alimentares errados) ▪ Uso inadequado de próteses ▪ Cáries de doenças periodontais ▪ Xerostomia ou hipossalivação ▪ Prejuízos na mastigação - comprometimento da digestão Esôfago ▪ Alterações da orofaringe e seus componentes da deglutição; ▪ Aumento do tempo do trânsito segmentar e da pressão peristáltica faríngea superior (EER) ▪ Redução do diâmetro do esfíncter esofágico superior e do osso hioide – redução do volume e do fluxo de deglutição; ▪ DISFAGIA - qualquer alteração do processo de deglutição – comprometimento da vedação labial, propulsão do alimento pela ação da língua ou na anatomia do esôfago - risco de pneumonias, graves infecções no sistema respiratório ou até mesmo asfixia; https://www.youtube.com/watch?v=CjLvG7rz684 https://www.youtube.com/watch?v=CjLvG7rz684 Estômago ▪ Envelhecimento gástrico intrínseco – alterações histológicas e fisiológicas – aumento da fragilidade da mucosa – em decorrência da redução da capacidade de recuperação tecidual após exposição a fatores agressores; ▪ Redução da produção do muco – barreira da mucosa e bicarbonato, produção de prostaglandinas, da produção da enzima oxido nítrico sintetase ( relaxamento adaptativo – redução da dilatação da parede – saciedade precoce) e do fluxo sanguíneo; Estômago ▪ Aumento da suscetibilidade da mucosa gástrica a fatores ambientais – infecção por Helicobacter pylori , uso de medicamentos ( especialmente inibidores da bomba de prótons e anti-inflamatórios não esteroides (Aine) – prejuízo na cicatrização de feridas – ulcera péptica; ▪ Redução da produção de ácido clorídrico e pepsina e aumento do pH gástrico ( má absorção de nutrientes como ac. Fólico e vit. B12, cálcio, ferro e betacaroteno ). Pâncreas ▪ Idosos com e sem doença pancreática – atrofia do pâncreas, fibrose e degeneração gordurosa associadas ao envelhecimento; ▪ Fibrose lobular focal associa-se à hiperplasia papilar ductal – aumento do risco de carcinoma; ▪ Alterações funcionais – redução da secreção de bicarbonato e enzimas – mas o problemas de absorção só aparecem quando há redução de 80 % a 90% da função pancreática - células betapancreáticas - prevalência de diabetes mellitus. Fígado ▪ Diminuição do volume ▪ Redução da capacidade regenerativa ▪ Declínio da metabolização de drogas ▪ Alterações na expressão de proteínas ▪ Redução das funções hepatobiliares ▪ Maior predisposição a doenças hepáticas ▪ Menor sobrevida pós- transplante de fígado Fígado ▪ Envelhecimento normal- associa-se à redução no volume e do tamanho dos telômeros dos hepatócitos - aumentada pelo estresse oxidativo + estado inflamatório crônico ▪ Declínio da produção de sais biliares pelos hepatócitos = queda da secreção dos sais biliares – aumento do colesterol sérico. ▪ Redução da depuração da lipoproteína de alta densidade (HDL-colesterol) – redução do pool de colesterol nos hepatócitos– consequentemente – redução da produção de sais biliares – aumento do colesterol sérico; ▪ Aumento da formação da cálculos biliares – redução da capacidade de contração da vesícula biliar. Fígado ▪ 65% idosos – medicamentos de uso contínuo - regime de polifarmácia; ▪ Enzimas biotransformadoras de drogas no hepatócito diminuídas – redução do clearence hepático com aumento das reações adversas às dorgas Intestino delgado ▪ Morfologia intestinal – mudanças pouco significativa – redução discreta das vilosidades ( altura e densidade). ▪ Motilidade do trato gastrointestinal – irrelevante; mais expressiva nas extremidades - disfagia pela contratilidade esofágica comprometida e nos mecanismos da continência fecal. ▪ O tempo de trânsito intestinal, por sua vez, não indica alterações significativas – alterações na motilidade = a hiperproliferação bacteriana e a decorrente perda de peso em idosos. Intestino delgado ▪ Constipação intestinal – de natureza multifatorial (comorbidades, mobilidade reduzida, menor ingestão de alimentos fontes de fibras e uso de medicamentos). ▪ A função - poucas modificações para carboidratos e proteínas; redução absorção de lipídios, vitamina D, ácido fólico, vitamina B12, cálcio, cobre, zinco e colesterol ▪ Absorção de vitamina A e glicose pode estar aumentada. Intestino delgado ▪ Microbiota intestinal – afetada no envelhecimento – em quantidade e funcionalidade; ▪ A composição pode permanecer semelhante à dos adultos jovens em idosos na faixa etária dos 70 anos – mas – desequilíbrio entre bactérias benéficas e bactérias patogênicas - imunossenescência e a inflamação relacionada à idade; ▪ hábitos alimentares, convivência conjunta, nacionalidade, fragilidade e outras características podem influenciar e/ou ser influenciadas pelo envelhecimento da microbiota intestinal, Cólon ▪ Aumento da prevalência de constipação; ▪ Aumento da incidênciade neoplasias e, ▪ Aumento da prevalência de doença diverticular. Cólon Constipação: ▪ fatores extrínsecos (sedentarismo, redução na ingestão de fibras e líquidos, alterações hormonais), ▪ redução dos neurônios do plexo submucoso e mioentérico, ▪ histerectomia, ▪ diminuição da síntese de óxido nítrico neuronal e, ▪ alteração do trânsito colônico Podem ser fatores desencadeantes relacionados ao envelhecimento. Cólon Neoplasias: ➢Diversas teorias - explicam o aumento de sua prevalência com o envelhecimento ➢Exposição da mucosa colônica por longo prazo a agentes carcinogênicos, ➢Alterações do metabolismo carcinogêncio, ➢Hiperproliferação das células crípticas e o aumento da susceptibilidade da mucosa colônica à transformação maligna, Cólon Doença diverticular: ▪ Alterações morfológicas e biomecânicas do cólon, ▪ Comprometimento da resistência da parede colônica a pressões intraluminais elevadas, ▪ Menor distensibilidade e menor resistência em razão de colágeno e elastina submucosos, ▪ Alterações no plexo mioentérico (motilidade - por dois terços de todos os neurônios entéricos) , ▪ Fatores extrínsecos. Reto e ânus Incontinência fecal: Fatores extrínsecos (deficit, cognitivo, impactação fecal, acidentes vasculares cerebrais, neuropatia diabética), Fatores extrínsecos ao envelhecimento. Alterações estruturais do tecido colágeno, promovendo diminuição da força muscular do esfíncter exterior, se somam à lesão crônica dos nervos. Alterações na absorção de nutrientes ▪ Baixa secreção de ácido e pepsina pela mucosa gástrica - afeta a liberação de B12 que constam nas proteínas alimentares ( via alimentação) – depleção das reservas corpóreas de B12; ▪ Hipocloridria ou acloridria (gastrite atrófica) – aumento crescimento bacteriano - deficiência de B12 ▪ Deficiência de B12 - disfunção cognitiva e doenças neurodegenerativas ▪ Deficiência de ferro – hipocloridria e/ou uso de medicamentos ( ác, clorídrico – necessário para a solubilização dos sais de ferro e para a manutenção do ferro na forma ferrosa (F2+ ) > absorção. Alterações na absorção de nutrientes ▪ Absorção de cálcio - afetada pela gastrite atrófica – carbonato de cálcio reage com o ác. Clorídrico – cloreto de cálcio solúvel em água – absorvido no intestino delgado ▪ Gorduras ▪ vitaminas lipossolúveis alterações significativas ▪ Aminoácidos ▪ Absorção de carboidratos ( membrana da borda em escova do intestino delgado - afetada – redução das proteínas transportadoras. ▪ Lactase, sacarase e galactoquinase - redução – causando diarreias, distensão abdominal, catarata e acumulo de galactose invertida ( galactitol – toxicidade elevada) Conclusão ▪ Apesar do aumento de vários distúrbios motores gastrointestinais em idosos, o envelhecimento, por si, parece ter um efeito menor sobre estas alterações em decorrência da capacidade da reserva funcional do trato gastrointestinal. ▪ Embora muitos das alterações fisiológicas do aparelho gastrointestinal sejam menores, estas pequenas mudanças, em seu conjunto, podem colocar a população idosa em grande desvantagem quando ela é exposta a uma doença, principalmente na presença de desnutrição. Referências ▪ BHUTTO, A.; MORLEY, J. The clinical significance of gastrointestinal changes with aging. Curr. Opin. Clin. Nutr. Metab. Care. 11(5): 651-60, 2008. ▪ FARINATTI, Paulo de Tarso Veras. Envelhecimento ? Promoção da saúde e exercício. São Paulo: Manole, 2008. ▪ FREITAS, Elizabete Viana et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. ▪ IBGE.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico de 2010: resultados preliminares do universo. Brasília, 2011 ▪ RAMOS, Luiz Roberto & CENDOROGLO, Maysa Seabra. Geriatria e Gerontologia. São Paulo: Manole, 2ª ed., 2011.
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