Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Estratégia Competitiva Anderson Mota 2008 Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br M917 Mota, Anderson. / Estratégia Competitiva. / Anderson Mota. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 284 p. ISBN: 978-85-7638-964-4 1. Concorrência. 2. Administração de empresas. 3. Trustess in- dustriais. I. Título. CDD 338.6048 IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. © 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: IESDE Brasil S.A. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Anderson Mota Especialista em Análise Financeira e de Investi- mentos pelo ICES-GPGA.Graduado em Ciências Econômicas pela PUC-MG. Ocupou cargos de gestão em empresas nacionais e multinacionais. Consultor de empresas, professor e orientador na Fundação Dom Cabral, no IBMEC, e na Fun- dação Getulio Vargas, tendo atuado no Brasil e no exterior. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Ampliando a visão sobre a estratégia competitiva 13 13 | Desenvolvimento da estratégia 18 | A estratégia aplicada aos negócios Análise do ambiente interno 29 29 | Os recursos 32 | As capacidades 33 | As competências essenciais 34 | A cadeia de valor 35 | Os fatores críticos de sucesso 39 | A análise do ambiente interno 40 | Conceitos econômicos para uso de recursos e capacidades 48 | Economias de aprendizagem ou experiência Análise do ambiente externo 55 56 | O ambiente geral 57 | O ambiente da indústria 60 | O ambiente dos concorrentes 61 | Oportunidades e ameaças 62 | Concorrência 69 | Parcerias e alianças Estratégia competitiva e posicionamento 75 77 | Estratégias genéricas 81 | Criação de valor 86 | Valor e posicionamento 88 | O processo de criação de valor 89 | Terceirização, uma forma de ampliar os recursos e criar valor 91 | Análise conjunta das forças e fraquezas, oportunidades e ameaças (swot – strength, weakness, opportunities, threats) Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Estratégia de fusões e aquisições 97 99 | Breve histórico das fusões e aquisições 100 | Diferentes naturezas das fusões e aquisições 102 | Sinergias, um forte argumento para fusões e aquisições 103 | As escolhas da empresa para fusões ou aquisições 107 | Dificuldades inerentes às fusões e aquisições 109 | Reestruturação Governança corporativa 115 116 | Propriedade versus administração 118 | Relações de agência 120 | Concentração da propriedade 123 | Conselhos de direção e de administração 126 | Remuneração executiva 126 | Diferenças da governança corporativa em outros países 126 | Algumas características do modelo praticado na Alemanha 127 | Algumas características do modelo praticado no Japão 128 | Algumas características do modelo praticado na Europa de origem latina 128 | Algumas características do modelo praticado nos Estados Unidos Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Estratégia internacional 135 138 | Identificar oportunidades internacionais 139 | Explorar recursos e capacidades 139 | Usar a competência essencial – formas de entrada 142 | Estratégia multilocal 143 | Estratégia global 144 | Estratégia transnacional 144 | Determinantes da vantagem nacional 146 | Riscos e oportunidades no mercado internacional 147 | Limites da expansão internacional: administrando problemas 148 | A internacionalização de empresas latino-americanas O controle da execução da estratégia 157 158 | O desdobramento das estratégias 160 | O impacto externo das perspectivas 161 | O double loop (duplo laço)uma estrutura para ação estratégica 164 | A perspectiva financeira 166 | A perspectiva de clientes 170 | A perspectiva dos processos internos 173 | A perspectiva do aprendizado e crescimento 179 | A construção de mapas estratégicos A estrutura para a estratégia 189 192 | Os níveis de diversificação organizacional 195 | Os cinco mecanismos de coordenação de Mintzberg 197 | As cinco partes da organização 198 | A estrutura na forma U 200 | A estrutura na forma H 200 | A estrutura na forma M 205 | Estrutura matricial 206 | Estrutura em rede Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Estratégia para o empreendedorismo 213 214 | A quebra do equilíbrio estático walrasiano 216 | A natureza e a importância dos empreendedores 217 | O empreendedor e o intra-empreendedor Liderança na condução da estratégia 233 235 | Estilos de liderança estratégica 239 | Recursos organizacionais 240 | A direção estratégica 242 | Desenvolvimento dos RH 244 | Como é forjada a cultura organizacional 246 | Mudando a cultura Alianças estratégicas e estratégia cooperativa 251 251 | O que é uma aliança estratégica 256 | Formas de alianças 260 | As alianças e a decisão de fazer ou comprar 263 | Alianças internacionais 264 | Estratégia cooperativa Gabarito 273 Referências 277 Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Apresentação E stratégia C om petitiva A relevância do estudo da estratégia dispensa apresentações. No entanto, convém introduzi- la com sendo o caminho previamente indicado pelas diretrizes pretendidas pelas instituições, à busca de obter e sustentar sua vantagem com- petitiva, realizando no dia-a-dia o objetivo do seu negócio que, segundo Peter F. Drucker, é “criar um cliente”. O tema “estratégia”, qualquer que seja a sua forma de abordagem, será sempre instigante, uma vez que remete o analista à busca de sinais concretos manifestados no meio ambiente capazes de possibilitar a interpretação de ten- dências que orientem os próximos passos das instituições. Utilizo aqui o termo instituição em razão do seu significado de amplo espectro, isto é, termo que pode ser aplicado a qualquer es- pécie de organização, com ou sem fins lucrati- vos, governamental ou privada, de serviço ou de manufatura. As origens do termo estratégia estão vinculadas às artes militares, como confirma a etimologia da palavra, que tendo sido derivada do termo grego strategos, significa “a arte do general”, isto é, a arte da guerra, o que inclui a expedição, a campanha ou a tropa em campanha. Na verdade associar a trajetória das organiza- ções, às campanhas militares é uma forma de in- terpretar os confrontos entre empresas, em sua trajetória para conquista de clientes no merca- do, como as muitas escaramuças militares. Assim, em toda a sua dinâmica, a estratégia pro- cura interpretar os movimentos dos diversos agentes econômicos que possam favorecer ou prejudicar a posição assumida pela instituição Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br E stratégia C om petitiva induzindo-a a assumir novosposicionamentos que a favoreçam. Torna-se atraente o risco en- volvido devido às inúmeras possibilidades desse “jogo”, visto que em suas diferentes interpreta- ções, não há duas “jogadas” iguais, tampouco, há duas conseqüências idênticas, ainda que, as “jo- gadas” que lhe deram origem se assemelhem. O presente livro, em sua organização, tem a pre- tensão de examinar as diferentes vertentes desse tema instigante, de uma forma objetiva, procu- rando dar foco aos grandes temas do estudo da estratégia. Desse modo, o Capítulo 1 oferece uma visão geral da estratégia, procurando apre- sentá-la sob a ótica de diferentes e renomados autores. Em seu Capítulo 2, o texto procura mer- gulhar no Ambiente Interno das instituições, abordando os seus diferentes elementos, os quais produzem reflexos nas diversas áreas do negócio, influenciando as suas potencialidades. Em seu Capítulo 3, a abordagem se volta para o Ambiente Externo, indicando os vários meios de interpretá-lo. O Capítulo 4, sob o título de Estra- tégia Competitiva e o Posicionamento, procura abordar o conceito de valor para o cliente, a sua importância para o posicionamento competiti- vo e como o mesmo é criado. O foco dado ao Capítulo 5 tem como alvo as Fusões e Aquisi- ções, as quais têm se mostrado de fundamental importância para concentração e consolidação em indústrias, em sua dinâmica de reorganiza- ção para sustentação da competitividade. No Capítulo 6, o texto procura apresentar os diver- sos elementos associados à Governança Corpo- rativa, voltados para a busca de convergência entre acionistas e dirigentes das instituições. A abordagem feita no Capítulo 7 é dirigida à Es- tratégia Internacional, tema que tem desafia- Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br E stratégia C om petitiva do, principalmente os gestores de empresas de países emergentes que procuram se estabelecer em locais diferentes do seu mercado domésti- co. O Capítulo 8 procurou abordar o Controle da Execução da Estratégia apresentando o Balan- ced Scorecard como instrumento capaz de cons- truir o mapa de estratégia, a sua conversão em objetivos, um plano de ação estratégica e suas medidas de controle, indicadores que permitem monitorar o encaminhamento da estratégia. O Capítulo 9 tem foco na estrutura organizacional como um reflexo da estratégia adotada pela em- presa. O Capítulo 10 procura enfocar a estratégia sob a ótica do empreendedorismo, visto tanto sob a perspectiva do intra-empreendedor como do empreendedor “autônomo”. No Capítulo 11, o enfoque foi dado à liderança e o papel assumi- do pelo líder na condução da organização atra- vés dos desafios da implementação da estraté- gia. Finalmente, no Capítulo 12, a abordagem foi dada às alianças estratégicas e à estratégia co- operativa como forma de vencer os obstáculos mais desafiadores que se pronunciam no novo cenário do século XXI. Finalmente, uma breve recomendação. O aprendizado da estratégia impõe certa dificul- dade, qual seja a de estudar e construir instru- mentos para a sua gestão. Assim, torna-se de grande importância, somar à leitura atenta, a experiência e a maturidade dos participantes. Este é o maior trunfo para a fixação do conte- údo estudado. Para o melhor aproveitamento, torna-se mandatória uma completa preparação para as aulas, por meio da leitura dos capítulos, realização das atividades práticas, assim como assistir às aulas. Desejo-lhes sucesso! Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Ampliando a visão sobre a estratégia competitiva Objetivo: ao final da leitura deste capítulo o aluno deverá ser capaz de compreender os laços que ligam a estratégia militar ao estudo da estraté- gia competitiva, conhecer as diferentes percepções de autores consagrados acerca do seu conceito, assim como as suas diferentes formas assumidas du- rante o seu “ciclo de vida”. A estratégia, como conceito, foi desenvolvida há milênios, embora não fosse conhecida por este nome. Na verdade, os primeiros conceitos e teorias sobre estratégia surgiram na área militar, cujos princípios foram enunciados, dentre outros por Sun Tzu, Alexandre, o Grande e Júlio César, aproximada- mente, entre 600 a.C. e 50 a.C. Durante o século XIX surge também, a impor- tante contribuição elaborada por Carl Phillip Gottlieb Von Clausewitz. Além da literatura estrangeira acerca do tema, pode-se obter na literatura brasilei- ra uma contribuição ao pensamento estratégico militar no livro Os Sertões de Euclides da Cunha, publicado nos primeiros anos do século XX. Sun Tzu, retratou no livro A Arte da Guerra, todo o seu aprendizado obtido durante um período da história da China chamado de “período dos estados guerreiros”. Este momento histórico culminou com a unificação da China. O mais notável, dentre os seus comentários é a atualidade das suas conside- rações como, inicialmente, que “a guerra é uma questão vital para o Estado” (TZU, 2001). Continuando, Sun Tzu explica que a razão da assertiva anterior é “por ser o campo (a guerra) onde se decidem a vida ou a morte, o caminho para a sobrevivência ou para a ruína, torna-se de suma importância estudá- la com muito cuidado em todos os seus detalhes”. Metaforicamente falando, pode-se trazer para o cenário das empresas tais princípios apregoados por Sun Tzu. Assim, a guerra, vista como competição necessária entre as empre- sas, é vital para as mesmas, tendo o campo concorrencial como o teatro de guerra onde se travam os combates pela conquista dos clientes. Desenvolvimento da estratégia O caráter dinâmico da estratégia nos permite dizer, sem sombra de dúvida, tratar-se de um tema inesgotável. Inicialmente no campo militar e, Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 14 Estratégia Competitiva atualmente, também no campo dos negócios é um tema instigante e que mexe com os corações e mentes da humanidade desde os tempos mais remotos. Para avaliá-la mais detidamente, torna-se necessária a avaliação de alguns comentários dos principais autores que a descreveram desde os tempos antigos. Sun Tzu No caso de Sun Tzu há dúvidas da sua real existência, devido a que na China antiga o conceito de autoria era bastante vago. No entanto, o que é certo é que a obra foi escrita durante o período chamado de “estados guer- reiros”, período esse mais ou menos situado em torno de 500 a.C., e que era composta por 13 capítulos. Sabe-se também que foi comentada, posterior- mente por diversos autores chineses que o estudaram. Anteriormente ao período dos “estados guerreiros”, as guerras eram ritu- ais e bastante caóticas, com provas de violência quase macabra antes das batalhas, como suicídios coletivos, para assustar o inimigo. Após esse período, os exércitos evoluíram, tendo sido introduzidos novos conceitos como o de “estado maior” e diversas funções novas dentro dos exércitos, como as de cartógrafos, meteorologistas, engenheiros de minas e demais especialistas. Como já mencionado, Sun Tzu, baseou os seus escritos em muitas lições aprendidas por meio de observação atenta de diversas batalhas ocorridas durante um período bastante tumultuado da história da China antiga. Este período ocorreu aproximadamente em torno de 500 a.C. Estados como Chin, Han, Yen ou Chi, viviam em constante estado de guerra uns com os outros. No entanto, a despeito de todas as controvérsias acerca da autoria e da origem dos textos atribuídos a Sun Tzu, dentre seus notáveis escritos, estão os seguintes comentários: Mestre Sun Tzu (2001) disse: 1 –A guerra é uma questão vital para o Estado. Por ser o campo onde se decidem a vida ou a morte, o caminho para a sobrevivência ou para a ruína, torna-se de suma importância estudá-la com muito cuidado em todos os seus detalhes. 2 – Portanto deve-se avaliá-la nos termos dos cinco fatores: Influência moral (valores); � Clima; � Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Ampliando a visão sobre a estratégia competitiva 15 Terreno; � Comando; � Doutrina (método, regulamentos e instruções). � [...] 11 – Se me disserem qual o governante que possui influência moral, qual o mais hábil dos comandantes, qual exército tira maior vantagem do terreno [...] 14 – Saberei prever qual dos lados será o vitorioso e qual o derrotado. Pelo que se pode ler no texto antecedente, Sun Tzu chamava a atenção para o caráter de extensão entre o Estado e a guerra como meio de sobrevi- vência ou ruína. Além disso, ele chama a atenção para o cenário que chama de cinco fatores. Também, indica a importância da liderança e sua influência moral dos dirigentes. Além desses elementos, em termos de estrutura interna, sobre a autori- dade, Sun Tzu (2001) oferece uma interessante percepção: 1 – Em geral, dirigir muitos é quase igual a dirigir poucos. Depende somente de organização; 2 – E controlar muitos é o mesmo que controlar poucos. É questão de formações e sinais (comunicação); 3 – O fato de um exército agüentar um ataque do inimigo sem ser derrotado depende dos movimentos das tropas especiais e normais (uso de recursos especializados). Von Clausewitz Carl Phillip Gottlieb Von Clausewitz, oficial prussiano durante as guerras napoleônicas do século XIX, escreveu sua obra a partir da observação das estratégias elaboradas por Napoleão e influenciado por seu mestre na Escola Militar, o Marechal General de Campo Helmuth Graf Von Moltke. Dentre os princípios elaborados por Von Clausewitz (1979) estão os seguintes: A guerra não é um fenômeno independente, mas a continuação da política por diferentes sentidos. Dois princípios básicos . . . sublinham todos os planos estratégicos. . . 1 – atuar com a maior concentração (rastreie as últimas substâncias da força do inimigo, as menores fontes possíveis; reduza o ataque a estas fontes às menores ações possíveis; e subordine as menores ações tanto quanto possível). 2 – atuar com a maior velocidade (todo dispêndio desnecessário de tempo e todo atalho desnecessário é um gasto de força; tome a menor estrada possível para a meta). Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 16 Estratégia Competitiva a – A primeira tarefa é, então, no planejamento para a guerra identificar o centro de gravidade do inimigo e se possível reduzir as suas fontes a apenas uma. b – A segunda tarefa é assegurar que as forças que forem utilizadas contra aquele ponto sejam concentradas na ofensiva principal. Como no caso de Sun Tzu, Clausewitz chama a atenção para a continui- dade entre o Estado e a guerra. Ademais, ele nos indica dois atributos na sua condução, quais sejam a concentração e a velocidade. Com a finalidade de obter tais atributos é necessário, segundo Clausewitz identificar o centro de gravidade, onde deve haver concentração de forças. Euclides da Cunha Euclides da Cunha é raramente tratado como referencial no campo dos estudos sobre estratégia competitiva. No entanto, devido à sua percepção de importantes elementos a serem considerados no campo militar, e além disso, por ser um autor que retratou a realidade estratégica militar brasileira, suas idéias estão aqui inscritas. Cunha escreveu o livro Os Sertões, após visitar e conviver com militares e sertanejos no teatro de guerra de Canudos no in- terior da Bahia. Empreendida por Antônio Conselheiro, um visionário e líder religioso, a campanha conquistou muitos seguidores, dentre os sertanejos, impondo seguidas derrotas ao exército da República recém fundada. O texto apresenta a percepção de Cunha do cenário de caos nos primeiros enfren- tamentos, decorrentes, principalmente, do desdém com que foi tratado o grupo de Conselheiro, pelos comandantes militares da época. As seguidas derrotas dessas primeiras missões militares, demonstrou o quanto interfe- riu no desempenho das forças militares, o seu desconhecimento do cenário, da geografia e do homem do sertão, sumariamente falando, como pode ser visto pela forma como Cunha subdivide a sua obra, como segue: a) A terra: Representada pela percepção do ambiente em que se desenrola o teatro de guerra (clima, relevo, vegetação e os seus desafios impostos ao ser humano), isto é, os facilitadores e dificultadores; b) O homem: O ser humano (os diferente tipos constituídos pelos traços físicos, cul- turais e sociais) e a sua influência sobre as forças aliadas e inimigas; Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Ampliando a visão sobre a estratégia competitiva 17 c) A luta: Causas próximas da guerra, os preparativos da ação e reação, o arranjo das forças e os combates. Utilizando como referência a percepção de Cunha sobre a Guerra de Ca- nudos pode-se tomar, metaforicamente: a) A terra: A análise do ambiente externo - oportunidades e ameaças impostas à indústria pelo seu macro ambiente, pelos concorrentes, entrantes, fornecedores, clientes e substitutos; b) O homem: A análise do ambiente interno - forças e fraquezas impostas à firma pelos seus recursos e capacidades; c) A luta: A concorrência entre as empresas – ações e reações pela liderança na indústria em que atua e a luta pelo crescimento sustentável. Charles Darwin Embora não esteja associada à área militar, a abordagem evolucionária de Darwin possibilitou uma importante reflexão sobre os atributos que dife- renciam os seres que são bem sucedidos daqueles que são mal sucedidos no processo evolucionário, principalmente no que concerne à sua adaptabili- dade às mudanças no meio em que vivem. As causas do sucesso no domínio do meio ambiente em que vivem, principalmente no que se refere aos confli- tos pelos recursos naturais, com aqueles que, também, deles necessitam, se aproximam dos conflitos econômicos entre firmas por razões semelhantes. Tais aspectos podem ser observados a seguir, na lógica do pensamento evo- lucionário elaborado por Darwin. Os textos abaixo entre aspas foram reti- rados de http://darwin-online.org.uk/ (THE COMPLETE WORK OF CHARLES DARWIN ONLINE, 2008) e traduzidos pelo autor. O primeiro fato observado por Darwin é o de que “as criaturas vivas se � reproduzem em progressão geométrica (pela multiplicação)”. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 18 Estratégia Competitiva O segundo fato observado é o de que “o número de indivíduos de � qualquer espécie tende a manter-se mais ou menos constante, com o correr do tempo”. Por conseqüência, Darwin concluiu que “a concorrência entre indiví- � duos e entre espécies reduz o número de exemplares vivos (já que os recursos são escassos)”, significando, isto, “a luta pela existência”. O terceiro fato notado por Darwin foi o de que “todos os seres vivos � tendem a variar de modo apreciável. Não há dois indivíduos exata- mente iguais, e alguns são distintamente semelhantes na mesma es- pécie”. Além disso, notou que “embora nem todas as variações sejam transmissíveis pela hereditariedade, as criações experimentais mos- tram que algumas o são”. Assim, Darwin percebeu que “visto haver luta pela existência e não � serem todos os indivíduos semelhantes, algumas variedades sobre- vivem por que suas diferenças lhes dão ligeiramargem de superiori- dade”. Além disso, Darwin inferiu que “as variedades inferiores serão eliminadas”. A isto Darwin deu o nome de “seleção natural”. Como resultado final de sua análise Darwin concluiu a elaboração da � sua teoria refletindo que “prosseguindo de geração em geração, a sele- ção natural tende a acumular pequenas diferenças em quantidade su- ficiente para constituir uma diferença maior”, conduzindo à “evolução”. A estratégia aplicada aos negócios Segundo Grant (1995) os conceitos de estratégia eram bem escassos antes do início da década de 1960. Apesar de algumas divergências quanto a importância da contribuição ofe- recida pela área militar ao campo dos negócios o certo é que, no mínimo ofe- receu insights importantes, como a diferença entre estratégia e tática. Assim, a estratégia é o plano geral para distribuir recursos e estabelecer uma posição favorável (GRANT, 1995). Uma tática é um esquema para uma ação específica. O que atrai os estudiosos e outros interessados pela estratégia compe- titiva é fundamentalmente o estudo das razões do sucesso das empresas. Quando se fala em sucesso, em termos empresariais, está se referindo fun- Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Ampliando a visão sobre a estratégia competitiva 19 damentalmente à lucratividade, visto que a razão de ser das organizações é o lucro. Interpretar os sinais que indicam o caminho para o lucro é crucial para as organizações que desejam alcançá-lo. Portanto, avaliar os sintomas de uma estratégia bem sucedida e desenhar o caminho para se chegar à lu- cratividade sustentável é o principal apelo para o estudo da estratégia. A mudança no foco da estratégia do campo militar para o dos negócios reflete um movimento ao longo do tempo no meio da competição entre nações e grupos empresariais. Até o início do século XX a riqueza das nações e indivíduos era determinada principalmente pela propriedade e controle da terra. A competição entre países envolvia a busca por território que era perse- guida por meio do conflito militar. Segundo Grant (1995), o desenvolvimento industrial e o crescimento do comércio alteraram as bases da competição por terra pela busca por novos clientes. As conseqüências tiveram duplo des- dobramento, entre os quais, primeiro a competição econômica substituiu a rivalidade militar. Em segundo lugar, os agentes da linha de frente na compe- tição global são empresas em vez de governos (GRANT, 1995). O interesse explícito pela estratégia corporativa começou em torno do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, motivado, principalmente, pelo aumento na complexidade e no tamanho das organizações, o qual compro- metia sua coordenação no que tange as decisões individuais e a manuten- ção do amplo controle da alta administração. Por que estudar estratégia? Essa, provavelmente, é uma questão que nos vem à mente no instante em que nos deparamos com o nome da disciplina. É uma pergunta que possui uma resposta de amplo espectro. Qualquer insti- tuição, tenha ela fins lucrativos ou não, seja pública ou privada, tenha atuação local ou global, seja de capital aberto ou fechado, atue no setor de serviços ou de manufatura, deve ter uma clara idéia da direção que pretende tomar na sua trajetória em direção ao futuro. Estes agentes econômicos estão, per- manentemente, submetidos a diversas forças que se impõem e ameaçam a sua existência. Como qualquer pessoa que segue uma trilha em direção a um local de destino, a firma deve ter com clareza a geografia do local, quais os me- lhores caminhos a seguir como também deve evitar desvios ou atalhos que a afastem do seu destino final pretendido. Em um ambiente de negócios cada vez mais dinâmico, em que as mudanças ocorrem com velocidade cada vez maior, as firmas devem agir reativa e proativamente para se manterem com- petitivas. Assim, a firma deve conhecer com clareza, qual o seu destino, qual Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 20 Estratégia Competitiva a direção a ser tomada, que dificuldades e facilidades existem em seu trajeto, que atributos possuídos facilitam ou dificultam a trajetória e quais recursos e capacidades deve possuir para tornar a caminhada mais fácil e rápida. As organizações são sistemas abertos, isto é, mantêm estreita interação com o meio ambiente, no qual estão inseridas. Tal interação ocorre por meio de um ciclo ininterrupto de importação, transformação e exportação para o ambiente. Mediante tal ciclo, é possível afirmar que dependendo do porte da firma, simultaneamente, com maior ou menor intensidade, ela influenciará e será influenciada pelas diversas oscilações ocorridas em seu meio ambiente. Para tanto, o sistema aberto é constituído por cinco elementos inter-agentes e interdependentes, quais sejam, o seu ambiente externo ou geral e do setor, o ambiente interno ou o processo, o canal de entrada ou suprimento, o canal de saída ou distribuição e o canal de retroalimentação ou feedback. O processo, como elemento constitutivo do sistema organizacional, cor- respondente ao ambiente interno, sendo, portanto, o espaço em que ocor- rem as transformações dos fatores importados do seu ambiente externo, em produtos ou serviços. Após a sua transformação, tais produtos ou serviços são exportados para o ambiente externo, através do canal de distribuição, onde serão consumidos. O canal de retroalimentação assume o papel de levar para o interior do sistema, isto é, para o processo, produtos devolvidos, assim como os dados e as informações acerca das ocorrências no ambiente externo. Assim, tais organizações, como sistemas abertos, à busca de sustentação da sua bem sucedida sobrevivência, procuram identificar as melhores fontes de recursos e capacidades (insumos), o melhor arranjo para processá-los (processos), o melhor canal para distribuí-los ao mercado (produtos e ser- viços) e o melhor uso dos dados e informações que emanam do ambiente externo (retroalimentação). Todas essas ações devem ser conduzidas por um plano coerente e consis- tente que, em geral, costuma ser chamado de estratégia. Um dos principais desafios que surgem no momento em que se decide construir e implementar a estratégia está em estabelecer o seu conceito. Evi- dentemente, a bibliografia que trata do assunto é bastante vasta. Tal amplitude, Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Ampliando a visão sobre a estratégia competitiva 21 muitas vezes, confunde o leitor que se coloca diante das inúmeras aborda- gens apresentadas. Rapidamente, após esta ampla leitura, vem à mente a questão – mas afinal o que é estratégia? Alguns autores tomaram para si a difícil tarefa de conceituá-la e apre- sentaram a sua própria definição. Alfred D. Chandler (1962, apud BESANKO, 2006, p. 25), nos diz que a estratégia é “[...] a determinação das metas e dos objetivos básicos de longo prazo de uma empresa e a adoção de cursos de ação e alocação dos recursos necessários para realizar essas metas.” De acordo com Prahalad; Hamel, (1995, p. 26, 27), a estratégia está [...] menos preocupada em garantir uma adequação total entre metas e recursos e mais preocupada em criar metas que superem os limites e desafiem os funcionários a conseguir o aparentemente impossível [...] vai além da alocação de recursos escassos a projetos que competem entre si; estratégia é a luta para superar as limitações de recursos através de uma busca criativa e infindável da melhor alavancagem de recursos. [...] Esta visão da estratégia reconhece que a competição pela liderança das competências essenciais precede a competição pela liderança de produtos [...] concebe a organização como umportfólio de competências, bem como um portfólio de empresas. [...] ocorre dentro e entre coalizões de empresas e não entre empresas isoladas. Já sob a ótica de Michael Porter (1986, p. 45) uma estratégia competitiva efetiva assume uma ação ofensiva ou defensiva de modo a criar uma posição defensável contra as cinco forças competitivas. De modo amplo, isto compreende uma série de abordagens possíveis: posicionar a empresa [...] contra o conjunto existente de forças competitivas; influenciar o equilíbrio de forças [...]; antecipar as mudanças nos fatores básicos das forças [...] Segundo Schumpeter (apud NAPOLEONI, 1979), para os fins da teoria do desenvolvimento, a característica do estado estacionário Walrasiano a que se deve dar destaque é o fato de que ele é a imagem de um processo de contínua repetição das mesmas coisas, seja no campo da produção, seja no campo do consumo: uma vez que a concorrência tenha impelido o sis- tema para a posição de máximo rendimento, atinge-se uma configuração que se repete indefinidamente em um ciclo sempre idêntico a si mesmo. A conseqüência particular que isto acarreta para o mundo da produção é o fato de que a gestão da unidade produtiva da firma, se reduz a uma gestão de pura rotina: cada firma deve produzir sempre os mesmos tipos e as quantidades de bens, combinando sempre do mesmo modo os fatores necessários à produção. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 22 Estratégia Competitiva Empresário inovador Invenção Fracasso Sucesso Inovação Lucro ImitaçãoDifusão Generalização do Lucro Ciclos contínuos e repetitivos de produção e consumo Figura 1 – O modelo de fluxo circular e o empresário inovador. Assim, de acordo com Schumpeter, a ruptura deste mundo estacionário é, também, o início de um processo de desenvolvimento que ocorre pre- cisamente no âmbito da produção, em conseqüência de eventos que mo- dificam, às vezes profundamente, os velhos sistemas produtivos. Tais modi- ficações são classificadas por Schumpeter da seguinte maneira: Introdução de um novo bem – isto é, não familiar aos consumidores – ou de uma nova qualidade de um certo bem. Em uma segunda fase, a introdução de um novo método de produção, ou seja, de um método ainda não verificado pela expe- riência naquele ramo da indústria em que tal introdução é realizada e que não decorre necessariamente de qualquer descoberta científica, mas que pode simplesmente consistir em um novo método de tratar comercialmente uma mercadoria. Na terceira fase, a abertura de um novo mercado, isto é, de um mercado “novo” para uma determinada indústria, no sentido dos produ- tos desta indústria nunca terem tido acesso, independentemente do fato de Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Ampliando a visão sobre a estratégia competitiva 23 este mercado ter ou não existido anteriormente. A quarta fase representa a conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou de produtos semi-aca- bados, de novo independentemente do fato de esta fonte existir prece- dentemente ou de ter sido criada. E, finalmente, o estabelecimento da nova organização de uma determinada indústria como a criação ou a ruptura de uma posição de monopólio. Tais modificações são em seu conjunto indica- das pelo termo inovações. Introduziu, assim, a famosa noção de destruição criativa a qual constitui o motor que mantém o capitalismo em movimento para frente e quem dirige esse motor é o empreendedor. Para Schumpeter o empreendedor não é necessariamente alguém que investe o capital ini- cial ou inventa o novo produto, mas sim a pessoa com a idéia do negócio. Além disso, chama ato empresarial a introdução de uma inovação no sis- tema econômico e empresário ao que executa este ato. A empresa e o em- presário são fatos específicos do desenvolvimento e de todo inexistentes no estado estacionário, no qual, repetimos, a direção da produção implica apenas uma atividade de rotina que não se distingue de qualquer outro tipo de trabalho. Em outras palavras, “o problema que usualmente é visto é o de como o capitalismo administra as estruturas existentes, enquanto o problema relevante é como ele as cria e as destrói” (SCHUMPETER, apud NAPOLEONI, 1979). A distinção entre empresários e diretores de uma firma é pois fundamen- tal, mesmo que às vezes as duas figuras coexistam na mesma pessoa ou no mesmo órgão. A diferença decisiva entre as duas funções pode ser bem ob- servada quando se reflete na diferença que existe, por exemplo, entre a de- cisão relativa à introdução de um novo processo para a produção de tecido de lã e a decisão relativa à aquisição da quantidade de lã que é necessária no âmbito de um dado processo produtivo. Na visão de W. Chan Kim e Renée Mauborgne (2005) [...] o foco predominante do pensamento estratégico tem convergido para as estratégias do oceano vermelho. [...] as raízes da estratégia empresarial sofrem forte influência da estratégia militar. Portanto, concentrar-se nos oceanos vermelhos é aceitar os principais fatores restritivos da guerra – território limitado e necessidade de derrotar o inimigo para realizar os objetivos – e negar a força diferenciadora do mundo dos negócios: a capacidade de criar novos espaços de mercado inexplorados. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 24 Estratégia Competitiva input Processo output Por exemplo, uma firma pode, inicialmente, ter uma estratégia delibe- rada de “ampliar o seu faturamento em 20%,” no ano seguinte. Durante o ano, no entanto, ao per- seguir a estratégia de am- pliação de faturamento, a empresa, testando o mer- cado, primeiro compra um hotel urbano. Em seguida, adquire um res- taurante. Depois compra um “resort”. Finalmen- te, compra outro hotel urbano com restaurante. Assim, acaba assumindo uma estratégia emer- gente de “diversifica- ção“ do seu portfólio de negócios.feedback Estratégia pretendida Estratégia deliberada Estratégia realizada Estratégia não realizada Estratégia emergente Processo formal de elaboração da estratégia (M IN TZ BE RG , 2 00 0. A da pt ad o. ) Figura 2 – Estágios do ciclo de vida da estratégia. Assim, a partir destes conceitos apresentados, a estratégia começa a ganhar contornos mais tangíveis. Mas ainda é preciso acrescentar algo, isto é, as diferentes fases do que poderia ser chamado de ciclo de vida da estraté- gia, conforme apresentado pelo professor Henry Mintzberg (2000), da McGill University. Na primeira fase a firma assume uma estratégia pretendida, na ver- dade esta é uma abordagem preliminar das diretrizes que a firma preten- de assumir. Em uma segunda fase, após intensa revisão dos planos a partir de questionamentos sobre cenários e recursos e capacidades necessários, a firma assume uma estratégia deliberada, a qual representa o plano a ser seguido para que os objetivos da firma sejam alcançados, isto é, as intenções plenamente descritas. Durante a segunda fase, ocorre o aporte de uma estra- tégia emergente, que representa uma alternativa a uma ou mais diretrizes da estratégia deliberada e que a modificará, devido à ocorrência de mudanças no ambiente interno ou externo, isto é, um padrão realizado não era expres- samente pretendido. Tais mudanças podem ser relativas a oportunidades ou ameaças, ou ainda a reforços ou enfraquecimentos de recursos e capacida- des da firma. Se há uma estratégia emergente, por um lado, há também uma estratégia não-realizada, por outro. A estratégia não-realizada constitui parte da estratégia deliberada que, por alguma razão, foi descartada. Finalmente,Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Ampliando a visão sobre a estratégia competitiva 25 em sua última fase, a estratégia assume a forma de uma estratégia realizada, a qual representa todos os planos conforme foram materializados, bem ou mal sucedidos. A verdade é que, como pode ser observado, há apenas uma e ao mesmo tempo há muitas estratégias. A estratégia é uma massa maleável de argila, constituída pelo portfólio de recursos e capacidades, que pode ser moldada de acordo com a percepção que os seus “escultores” (administradores) têm dos diferentes cenários que se descortinam à frente do negócio da firma. Há uma estratégia corporativa e várias estratégias funcionais que a apóiam. Há ainda uma estratégia para cada organização, mesmo que pertencentes à mesma indústria ou à mesma cadeia de suprimentos. E há também “nenhuma” estra- tégia, como menciona Robert Grant (1995), para o caso de sucesso da banda de rock The Beatles, em que simplesmente, “as coisas foram acontecendo”. Ampliando seus conhecimentos The Beatles (Grant, 1995. Adaptado.) No alvorecer dos anos 60 a banda de rock’n roll The Beatles era uma banda comum, tocando no Cavern Club, em Liverpool, na Grã Bretanha, e faturando, cada um de seus membros, US$3,00 por apresentação, como várias outras do mesmo gênero. Dois anos depois chegava aos Estados Unidos provocando grande furor no Aeroporto Kennedy. Seus discos haviam alcançado, por cinco vezes, o primeiro lugar no ranking da revista Billboard e influenciaram não só a juventude americana mas toda uma geração. O grupo The Beatles (fab four) possuía importantes atributos de originalidade, entusiasmo e senso de humor, mas mesmo durante o pico do seu sucesso, ocorrido entre 1964 e 1965, não se pode afirmar que fossem os mais brilhantes cantores, instrumentistas ou com- positores. Mas foi capaz de criar um frenesi chamado “Beatlemania”. Na visão de Robert Grant (1995), no caso do The Beatles, não havia uma estratégia, um plano de ação claro, assim como ocorre em muitas organizações bem suce- didas; na verdade, havia principalmente um senso de direção o qual estava fundamentado em três elementos-chave: Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 26 Estratégia Competitiva 1. Objetivos de longo prazo, simples e acordados: a) “ser uma banda maior que Elvis”, segundo Brian Epstein (em- presário do The Beatles). 2. Profunda compreensão do ambiente competitivo: b) Brian Epstein era um caçador de sucessos, assim, possuía intui- ção da combinação da música e da imagem necessária ao apelo dos jovens dos anos 1960; 3. Avaliação objetiva dos recursos: c) a imagem que Epstein estabeleceu para o The Beatles foi cons- tituída sobre a juventude, o senso de humor, a espontaneidade e a irreverência dos seus membros. Epstein e George Martin (produtor) encorajaram o The Beatles a sair do estilo e temas convencionais da música popular americana (até mesmo as roupas com que se apresentavam) e a desenvolver um som que explorasse sua própria criatividade e individualidade. Atividades de aplicação 1. Quais as principais contribuições dos estrategistas militares acerca da estratégia competitiva no campo dos negócios? a) Melhorar o desempenho das empresas fabricantes de armamentos. b) Atuar como suporte às idéias de segurança interna da empresa. c) Oferecer exemplos de estratégias de guerra, aplicáveis à estratégia das empresas. d) Aumentar a disciplina na gestão estratégica das empresas, como nos quartéis. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Ampliando a visão sobre a estratégia competitiva 27 2. Qual o impacto apresentado por Schumpeter em relação aos ciclos econômicos? a) O de que os ciclos acompanham os ciclos de vida dos produtos. b) O de que as firmas se estruturam internamente conforme o propó- sito estratégico. c) De que as guerras nada mais são do que a continuação da política do estado. d) As inovações quebram o ciclo econômico repetitivo, e iniciam um processo novo de desenvolvimento, é a chamada “destruição cria- tiva”. 3. Na visão de Mintzberg, quais são os estágios do ciclo de vida da estra- tégia? a) Estratégia nascente, crescente, madura e morta. b) Estratégias pretendida, deliberada, realizada, não realizada e emer- gente. c) Estratégia inicial, planejada, executada, controlada e concluída. d) Estratégia fundamentada, estruturada e elaborada. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 28 Estratégia Competitiva Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Análise do ambiente interno Objetivo: ao final da leitura deste capítulo o aluno deverá ser capaz de reconhecer os diferentes elementos constitutivos do ambiente interno, a in- teração estabelecida entre tais elementos, assim como, deverá ser capaz de elaborar análise do ambiente interno das organizações. O ambiente interno é constituído por todo o conjunto de recursos e ca- pacidades pertencentes à organização ou disponíveis para seu uso, reunidos e organizados para elaborar, produzir e distribuir produtos ou serviços des- tinados ao seu mercado alvo. A combinação entre recursos e capacidades cria as competências essenciais com as quais a empresa torna únicos seus produtos ou serviços, reinventa a indústria ou cria uma identidade singular para a sua empresa. Recursos, capacidades e competências essenciais, por- tanto, são o tripé que oferece suporte, de alguma forma, a competitividade da firma. Os recursos Recursos assumem duas naturezas distintas, podendo ser classificados como recursos tangíveis ou recursos intangíveis. Tais recursos, mediante os quais a firma cria produtos ou serviços para seus clientes, estão disponíveis tanto para si quanto para seus concorrentes. Os recursos podem incluir desde materiais até pessoas talentosas, ou ainda bens de capital, localiza- ção privilegiada, habilidades e aptidões dos funcionários, marcas, finanças e gerentes talentosos. Tomados isoladamente, os recursos da firma, por mais singulares e valiosos que sejam, não são capazes de criar per si vanta- gem competitiva. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 30 Estratégia Competitiva (G RA N T, 1 99 5. A da pt ad o. ) Figura 1 – Modelo Baseado em Recursos. Estrégia Modelo Baseado em Recursos na Visão de Robert Grant Potencial para a vantagem competitiva sustentável Etapa 1: Identificar os recursos da firma e locali- zar as áreas de força e fraquezas relativas aos concorrentes. Capacidades Recursos Etapa 5: Identificar as lacunas de recursos que pecisam ser preenchidas. Investir no reabastecimento e aumento da base de recursos da firma. Etapa 4: Selecionar uma estratégia que explore melhor as capacidades da firma relativas às oportunidades e ameaças. Etapa 3: Avaliar o potencial de geração de renda dor recursos/capacidades em termos do seu potencial de criar,sustentar e explo- rar as vantagens competitivas. Etapa 2: Identificar as capacidades/competências da firma (o que a firma pode fazer?) O caso da empresa Atmosfera é emblemático no que diz respeito à com- binação de recursos de forma diferente do tradicional e criar produtos dife- renciados. A Atmosfera nasceu na década de 1990, como Mr. Clean, como era chamada, inicialmente, para prestar serviços de lavanderia. Em sua evolução, ela passou a alugar uniformes para a indústria, lavando-os ou substituindo osmais desgastados pelo uso e entregando-os limpos ou novos no início da semana. Também passou a alugar e lavar enxovais para hotéis. A seguir estendeu os serviços de lavagem e esterilização de enxovais hospitalares. Hoje, atende às principais redes hoteleiras, às principais fábricas e hospitais em diversos locais do Brasil. Para tanto possui unidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia e Amazonas. Segundo a des- crição no próprio site na Internet, a mesma “oferece produtos diferenciados e todas as opções de atendimento em locação, higienização especializada, lavanderia em sala limpa, esterilização e gestão” (ATMOSFERA, 2008). Como pode ser visto pelo exemplo, a combinação de recursos disponíveis no mercado para qualquer lavanderia poderia ter sido utilizada em diferen- tes combinações. No entanto, a forma como foram combinados tais recursos ofereceu singularidade aos serviços da Atmosfera, traduzida em competiti- vidade sustentável. Segundo a sua natureza, os recursos podem assumir uma constituição tangível quando podem ser tocados fisicamente, vistos e quantificados. São bens econômicos, ativos etc., que têm existência física. Assim, são considera- dos tangíveis os recursos financeiros, os quais podem ser constituídos pelo capital, pelos fundos financeiros etc. Também são considerados tangíveis os Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Análise do ambiente interno 31 recursos organizacionais, os quais são constituídos pela estrutura formal de comunicação da empresa, seus sistemas de planejamento e controle, entre outros. Além dos já mencionados, ainda são considerados tangíveis os recur- sos físicos constituídos pela localização, grau de sofisticação das instalações e equipamentos, acesso a matérias-primas etc., assim como os recursos tec- nológicos que se constituem do estoque de tecnologia, isto é, as patentes, marcas registradas, direitos autorais, segredos etc. Já os recursos intangíveis são aqueles arraigados à história da empresa e acumulados ao longo do tempo. Os recursos humanos são constituídos pela experiência, capacidade, conhecimento, habilidade etc. Os recursos de inovação: idéias, capacidade científica, capacidade de inovar etc. Os recursos de imagem: reputação junto aos clientes: nome da marca, reconhecimento da qualidade e confiabilidade e reputação junto aos fornecedores: intera- ções, relações de efetividade, suporte e benefício. Um bom exemplo a ser apresentado é o da Gol Linhas Aéreas Inteligentes. Como uma linha aérea de baixo custo, utiliza apenas aviões Boeing 737, como forma de baratear tanto seus custos de aquisição (investimento), quanto seus custos de manutenção (custos operacionais). Quando tomados isoladamente, os recursos da firma, por mais singulares e valiosos que sejam, não são capazes de criar vantagem competitiva susten- tável. Assim, precisam estar integrados de modo a exercer sinergia, por meio de uma combinação o que somente pode ser realizada pela aplicação das capacidades da empresa. A mobilidade é uma importante característica assumida por alguns recur- sos que favorecem a sua incorporação em qualquer tempo ou lugar. Assim, por exemplo, há a possibilidade de compra de matérias-primas em um país e seu consumo em outro (minério de ferro retirado do Brasil e consumido na China), ou ainda, projeto elaborado nos Estados Unidos, produção na China e distribuição na Europa (impressoras Hewllet-Packard). Conforme Wright (2000), a teoria baseada em recursos (resource-based theory) reforça o argumento de que a competitividade é obtida mediante a combinação singular de recursos humanos, organizacionais e físicos de uma empresa. Além disso, à medida que recursos novos adquiridos são incorporados aos já existentes em seu portfólio, sinergias únicas ocorrem entre eles elevando, deste modo, o caráter sustentável da competitividade da firma. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 32 Estratégia Competitiva As capacidades As capacidades decorrem da combinação deliberada de diferentes recur- sos, a fim de criar produtos ou serviços distribuídos ao mercado pela firma. Capacidades constituem as diferentes habilidades da firma de alocar ou rea- locar recursos, integrando-os de maneira efetiva, a fim de alcançar um obje- tivo estratégico desejado. Existem muitos exemplos de capacidade das empresas, entre eles o atendimento eficaz ao cliente (Localiza), utilização eficaz da logística (Mar- tins, Wal-Mart), motivação e retenção de funcionários (a empresa Masa em Você S/A), qualidade e confiabilidade (Toyota), pesquisa e desenvolvimento (Embraer). Figura 2 – Capacidade estratégica e competência. Teste para identificar uma competência essencial: Devem oferecer acesso potencial a � uma gama de mercados; Devem dar uma � contribuição significativa aos bene- fícios percebidos pelos clientes; Devem ser difíceis para os concor- � rentes imitarem. Prahalad e Hamel RECURSOS Insumos do processo de produção de uma empresa. CAPACIDADE Integração de um conjunto de recursos COMPETÊNCIA ESSENCIAL Uma capacidade estratégica Competências Valiosas � Raras � Imitação difícil � Dispendiosa � insubstituíveis � Capacidades Habilidades � Conhecimento � Fonte A capacidade satisfaz aos critérios de vantagem competitiva sustentável? sim não (H IT T, 2 00 8. A da pt ad o. ) CAPACIDADE Um conjunto não estratégico de habilidades A característica de mobilidade possuída pelas capacidades tem levado as firmas a contratá-las em diferentes partes do mundo. Assim, tem sido cada vez mais comum a contratação de recursos e capacidades em outros merca- dos diferentes do mercado doméstico. A Índia tem se destacado na oferta de software, a China em transferência de tecnologia, assim como o Brasil no caso do etanol ou de aviação no caso da Embraer. Coisa impensável a alguns anos atrás. A capacidade de gestão do conhecimento e de distribuí-lo às demais áreas tem sido cada vez mais relevante para o sucesso das organizações. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Análise do ambiente interno 33 Capacidades vão se tornando cada vez mais importantes na media em que, quando combinadas em um arranjo singular a um conjunto de recur- sos, são capazes de criar competências essenciais. Desta forma, criam valor estratégico para a organização, e por via de conseqüência podem conduzir à vantagem competitiva sustentável. As competências essenciais Competências essenciais são, portanto, constituídas por recursos e capa- cidades combinados, de tal forma que podem ser criadores de vantagem competitiva sobre os concorrentes. Neste aspecto, as mesmas são capazes de distinguir, competitivamente, uma empresa de outra e a tornam diferen- te das demais. Alguns especialistas recomendam a identificação de três ou quatro competências, quando da elaboração de ações estratégicas, em torno das quais devem ser constituídas as suas ações estratégicas. Tal conjunto de atividades que habilmente combinam recursos e capacidades, possibilitam que a empresa crie valor percebido pelos seus clientes, especialmente bem, quando comparado aos criados por outras empresas. Além disso, segundo Besanko (2006), a empresa deve possuir “competên- cia dinâmica”, a qual envolve “a capacidade de manter e adaptar as compe- tências que constituem a base de sua vantagem competitiva”. Segundo Hitt (2008), para gerarem vantagem competitiva sustentável, recursos e capacidades devem possuir certas características: serem valiosos (permitem aproveitar oportunidades e neutralizar � ameaças);serem raros (poucos competidores os possuem); � onerosos de imitar (exigem um grande esforço e dispêndio para copiar); � insubstituíveis (são aqueles que não possuem equivalentes). � Já sobre as competências essenciais, Hitt (2008) diz que quando constru- ídas a partir de recursos e capacidades que contemplam as características mencionadas acima, estas provavelmente devem ser capazes de criar: vantagem competitiva; � Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 34 Estratégia Competitiva competitividade estratégica; � habilidade para gerar retornos acima da média. � A cadeia de valor Onde estão alocados os recursos e capacidades da firma? Segundo Mi- chael Porter, na cadeia de valor das empresas. Constituídas por atividades primárias e de apoio, tais cadeias, através da interação dos recursos atribuí- dos a cada uma das atividades, criam valor para os clientes. Porter distingue as atividades primárias como sendo logística interna, operações de produ- ção, logística externa, marketing e vendas e serviços. Também atribui quatro atividades de apoio às organizações, quais sejam a de infra-estrutura da em- presa (por exemplo jurídico, contábil, financeiro etc.), a de gerenciamento de recursos humanos, a de desenvolvimento tecnológico e a de aquisições. É importante lembrar que combinados dentro destas atividades estão recur- sos e capacidades, que pelo seu uso e interação ao mesmo tempo em que criam benefícios, também geram custos. Infra-estrutura organizacional (Finanças, Planejamento etc) Administração de RH Desenvolvimento de Tecnologia Compras Logística de entrada Operações (manufatura) Logística de saída Marketing e vendas Serviços de Pós-vendas M ARGEM M ARGEM Atividades de Apoio Atividades Primárias Figura 3 – Cadeia de Valor. (P O RT ER , 1 98 6. A da pt ad o) Os processos organizacionais (tais como vendas, compras, produção ou distribuição), envolvem a participação de diferentes atividades ou funções. Assim, os mesmos são encaminhados horizontalmente ao longo de todas as atividades ou funções primárias recebendo sistematicamente das atividades ou funções de apoio o suporte necessário à conclusão do processo. É importante lembrar que caso o cliente tenha clara percepção do bene- fício criado e esteja disposto a pagar pelo custo de tal benefício, então está Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Análise do ambiente interno 35 claro que foi criado valor, visto que esta atitude do cliente demonstra ser o custo menor que o benefício recebido. No entanto, caso o cliente não perce- ba o benefício, então foi criado custo maior que o benefício, e não valor. De tudo o que foi descrito, é possível deduzir a importância da interação entre os recursos e as capacidades. Por contribuírem para a criação de bene- fícios para os clientes e por serem raros, valiosos, inimitáveis e insubstituíveis, a sua melhor alocação dentro do negócio contribui para reduzir seus custos de produção e para a criação de benefícios percebidos pelos clientes. Os fatores críticos de sucesso Os fatores críticos de sucesso são condições essenciais que devem ser contempladas, pela gestão da organização, por meio das suas competências essenciais, sendo, portanto, decisivos para que a organização esteja apta a competir, com sucesso, em seu mercado alvo, considerando a sua estraté- gia pretendida. No entanto, podem se manifestar tanto de forma positiva quanto negativa. Assim, quando manifestados positivamente são também chamados de forças, visto que impulsionam a organização e quando mani- festados de forma negativa são chamados de fraquezas, visto que a tornam mais lenta ou inerte. A título de exemplo, caso a estratégia pretendida seja o desenvolvimento de soluções em tecnologia da informação a presença de software e hardware de última geração pode ser identificada como uma força, ao passo que a ausência de uma equipe capacitada, com certificação ou atualizada tecnolo- gicamente pode ser considerada uma fraqueza. Convém, ao analista, realizar o levantamento do portfólio de forças e fra- quezas para compor o quadro atual de fatores críticos de sucesso, e compará- lo com o portfólio exigido pela estratégia pretendida. Assim, a lacuna entre ambos pode indicar que fatores críticos de sucesso devem ser adquiridos, ampliados ou mitigados para superar as deficiências apresentadas. Forças e fraquezas Como mencionado, no âmbito interno da organização, interessa ao ana- lista identificar o grupo de forças e fraquezas ou, como também são cha- mados, pontos fortes e fracos que podem sustentar as ações estratégicas Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 36 Estratégia Competitiva pretendidas ou deliberadas pela firma. Uma estratégia pretendida é uma abordagem preliminar das diretrizes que a firma pretende assumir diante de um provável cenário que se descortina à frente do seu negócio. A seguir, após intensa revisão dos planos a partir de questionamentos sobre cenários, recursos e capacidades necessários, a firma converte a estratégia pretendida em estratégia deliberada, a qual representa o plano a ser seguido para que os objetivos da firma sejam alcançados, isto é, as intenções plenamente de- claradas. A estratégia deliberada é, assim, materializada pelo plano estratégi- co que emana da alta administração, no início do exercício. Para a elaboração e condução de uma análise mais efetiva do ambiente interno, é conveniente buscar respostas às seguintes perguntas: Como a firma obtém conjuntos de recursos, capacidades e as compe- � tências essenciais que decorrem da sua interação, para criar valor para os clientes? Como a firma efetivamente administra as suas competências essen- � ciais correntes, isto é, aquelas que já possui, enquanto, simultanea- mente, desenvolve novas? Como a firma aprende a realizar mudanças rapidamente, a fim de ad- � quirir, ampliar ou mitigar fatores críticos de sucesso? As respostas a tais questões podem orientar a elaboração de um mapa, mediante o qual será possível uma percepção mais clara da realidade atual e a necessária a efetivar as diretrizes estratégicas pretendidas, convertendo-as em uma estratégia deliberada. Partindo dessas diferentes condições mencionadas, a análise deve ser ini- ciada com um diagnóstico, mediante o qual serão enumeradas as principais manifestações sintomáticas de problemas ou de melhoria de performance. A principal função da fase de diagnóstico é a identificação tanto de obstácu- los que se interpõem ao bom desempenho organizacional, de forma geral, como, queda nas vendas ou na participação de mercado em determinado segmento (problema), como das ações de superação de obstáculos como aumento do EBTIDA ou EVA da organização (superação de problemas). Como fase preliminar de toda a análise das forças e fraquezas, é manda- tória a definição do portfólio de recursos e capacidades, assim como os seus atributos necessários a oferecer competitividade sustentável à organização. Após essa elaboração, a identificação do gap entre o portfólio e as necessi- Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Análise do ambiente interno 37 dades, pode ser elaborado um plano de desenvolvimento/aquisição. Assim, o ponto de partida é a avaliação da cadeia de valor, como forma de determi- nação das necessidades de recursos e capacidades, assim como seus atribu- tos necessários, em atividades principais e atividades de apoio. Tal portfólio torna-se o parâmetro fundamental, a partir do qual serão determinadasas fraquezas e forças necessárias à competição no seu ambiente. As fraquezas representam a ausência ou deficiências em recursos e em capacidades necessárias a oferecer sustentabilidade competitiva à organi- zação. Alguns sintomas podem ser indicativos da presença de fraquezas na organização. O seu diagnóstico é importante para que ações possam ser pro- movidas a fim de supri-la do que for necessário. Como exemplo de sintomas de problemas (fraquezas), seguem os seguintes: perda de clientes; � insatisfação de clientes; � aumento na necessidade de capital de giro; � salários abaixo da média oferecida pelo mercado; � baixa qualificação da equipe etc. � As forças representam a presença de recursos e capacidades, os quais contenham os atributos necessários a oferecer sustentabilidade competiti- va à organização. É possível detectá-los por meio da avaliação do portfólio construído preliminarmente. Da mesma forma que no caso das fraquezas alguns sintomas podem demonstrar a presença de forças através de proble- mas já superados, como seguem: aumento de participação no mercado; � aumento de fidelização de clientes; � crescimento nas vendas do � mix mais lucrativo; redução no � turn over de funcionários pertencentes a funções-chave etc. Nos casos mencionados pode-se construir um Gráfico de Pareto, dentro do qual podem ser seqüenciadas, as forças e fraquezas identificadas, em ordem decrescente, segundo o custo da sua ocorrência ou a freqüência da sua ocorrência. Deste modo ficaria mais fácil estabelecer o problema prio- ritário quanto à procura das suas causas, e o plano de ação adotado para superar as fraquezas e ampliar as forças. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 38 Estratégia Competitiva A identificação das causas é iniciada logo após o diagnóstico ser conclu- ído. Esta fase pode ser iniciada com o estudo dos casos de sucesso. Assim, para problemas que foram superados (por exemplo o aumento na venda de produtos em determinado mercado), o objetivo da identificação das causas de superação é o de aprendizado das melhores práticas, a fim de padroni- zar e perpetuar o procedimento que funcionam bem dentro do ambiente interno da empresa. Forças (S) Relação de forças Como tirar vantagem Fraquezas (W) Relação de fraquezas Como minimizá-las Figura 4 – Análise ambiental interna: forças e fraquezas. Da mesma forma, quando se trata da identificação das causas de proble- mas (por exemplo a perda de clientes), o objetivo é a solução do mesmo ou a eliminação do obstáculo manifestado na forma de sintoma. Finalmente, em seguida à identificação das causas, deve ser realizada a identificação dos seus efeitos. Como exemplo: Problema – baixa retenção de funcionários em funções-chave; � Causa – forte centralização das tomadas de decisão; � Efeito – perda de conhecimento tácito, experiência e maturidade na � tomada de decisões e descrédito por parte de clientes nas atividades da companhia. A solução de problemas como este poderá conduzir a alterações em procedimentos e aperfeiçoamento contínuo; Fraqueza � – forte centralização das tomadas de decisão. Por outro lado, para o resultado de superação ocorre o seguinte: Superação – aumento de participação no mercado; � Causa – maior intensidade no relacionamento com clientes; � Efeito – maior presença no mercado, maior visibilidade da marca e re- � conhecimento da confiabilidade. Situações de superação como esta Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Análise do ambiente interno 39 poderão ser exemplares das melhores práticas dentro da própria em- presa o que poderá ser aplicado a outros segmentos, com sucesso; Força � – maior intensidade no relacionamento com clientes. Na verdade, como pode ser observado, tanto as fraquezas quanto as forças são resultantes das causas atribuídas aos problemas e as superações, respectivamente. A análise do ambiente interno A análise interna deve se basear em um contexto globalizado no qual estão atuando as organizações, não importando a sua natureza como pres- tador de serviços ou de manufatura. Isto significa que a análise do ambien- te interno deve ser feita à luz das imposições feitas pelo ambiente exter- no globalizado, que não pode ser modificado unilateralmente pela firma. Em um mundo cada vez mais plano, conforme abordado por Friedman (2006), em que o acesso e a mobilidade de fatores é cada vez maior, o am- biente externo é fonte de recursos e capacidades que ajudam a remodelar o seu ambiente interno. Assim, é natural que caiba à firma, por meio da avalia- ção feita pelos seus executivos, identificar os diferentes aspectos do ambien- te interno, de maneira a moldá-lo, adaptando-o às diferentes características de cada país ou de cada mercado em que atua ou pretende atuar. Fo nt e: b as ea do e m H itt , ( 20 08 ) Atributos Descrição Valiosos Permitem à firma explorar oportunidades ou neutralizar ameaças em seu ambiente externo. Raros Possuída por poucas firmas, se é que por algu- ma competidora concorrente e potencial. Dispendiosos de imitar Quando outras firmas não podem obtê-las ou devem obtê-las a um custo muito mais alto le- vando o concorrente a uma desvantagem de custos. Insubstituíveis A firma é organizada apropriadamente para obter todos os benefícios dos recursos (quando não possuem equivalentes estruturais) a fim de conquistar uma vantagem competitiva. Tabela 1 – Quatro atributos de recursos e capacidades. Como já comentado, a combinação dos recursos e das capacidades ine- rentes à empresa constituem o portfólio singular de competências que a diferenciam das demais concorrentes, portfólio este que é construído pelos seus executivos. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 40 Estratégia Competitiva Assim, como ponto-chave para a construção da vantagem competitiva sustentável está, inicialmente, a identificação e aquisição de recursos e capa- cidades valiosos, raros, onerosos de imitar e insubstituíveis. Além disso, deve ser realizada a análise da cadeia de valor com o objetivo de identificar que atividades (principais ou de apoio) podem ser terceirizadas ou não. As organizações adquirem e ordenam recursos e capacidades com o objeti- vo de criar valor que possa ser percebido pelos seus clientes. O valor é constitu- ído pelos atributos inerentes ao produto ou ao serviço oferecido pela empresa, que são utilizados pelos clientes para avaliar a funcionalidade e desempenho do que foi adquirido. Na verdade quanto maior o valor criado maior a probabi- lidade da obtenção de resultados acima da média da indústria. De acordo com Hitt (2008) há três condições que afetam a criação de valor pelas firmas. A primeira delas é a incerteza. Tal condição é criada a partir das circunstâncias que permeiam tanto o ambiente geral quanto o da indústria em que está inserida a firma e também dos movimentos realizados pelas firmas concorrentes e as alterações, cada vez mais freqüentes, nas preferên- cias dos clientes. A segunda é a complexidade, relacionada com as diferentes causas correla- cionadas que são capazes de moldar todo o contexto da firma. Assim, quanto melhor a capacidade da firma de perceber as causas e o quanto se relacionam maior a possibilidade de criar valor que possa ser percebido pelo cliente. A terceira condição que afeta a criação de valor é constituída pelos con- flitos intra-organizacionais resultantes da ausência de alinhamento entre as pessoas que tomam decisões e as que são afetadas pela decisão tomada. Conceitos econômicos para uso de recursos e capacidades Os conceitos econômicossão muito importantes na elaboração da estratégia organizacional. Para uma correta compreensão de alguns desses importantes conceitos econômicos na análise da estratégia competitiva, foi elaborado esse tópico. Demanda e oferta O termo demanda, que é sinônimo de procura, é uma importante função microeconômica que significa a quantidade de um bem ou serviço que o Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Análise do ambiente interno 41 cliente (consumidor) deseja adquirir, por certo preço, em um dado momen- to. Assim, a demanda é a expressão do comportamento do consumidor. Há um conjunto de aspectos que interferem na demanda pelo consumidor, conforme Sandroni (1989), como por exemplo: renda do consumidor (qual o percentual da sua renda será destinado � à compra de cada bem que adquirir); preferência do consumidor (são os gostos do consumidor); � preço do bem demandado; � preço dos outros bens (tanto bens substitutos quanto complementares); � qualidade do bem; � expectativas do consumidor. � Mantidas as condições de preço e quantidade demandada pelo mercado, a curva da função de demanda tende a manter a sua inclinação como nega- tiva, significando que quanto maior o preço praticado pelo mercado, menor a quantidade demandada. A oferta representa a quantidade de certo bem ou serviço colocado, no mercado, à disposição do consumidor, por determinado preço, em deter- minado momento. Muitos fatores interferem no comportamento daquele que oferta o produto, isto é, o fabricante ou prestador do serviço, quais sejam: preço do bem ofertado (normalmente o preço estimula a oferta quan- � do é elevado e vice-versa. é bom fazer a ressalva de que muitas vezes a retenção especulativa da oferta gera aumentos artificiais de preços, como no caso dos monopólios); a tecnologia (visto que esta possibilita ampliação da oferta, como no � caso dos chips de computadores); condições climáticas (altera as condições de oferta e preço de � commo- dities); suprimento de insumos. � Mantidas as condições de preço e quantidade oferecida ao mercado, a curva da função de oferta tende a manter a sua inclinação como positiva, significando que quanto maior o preço praticado pelo mercado maior a oferta do produto. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 42 Estratégia Competitiva Preço $ curva de oferta curva de demanda P1 P2 Q1 Quantidade P3 Q2 Q3 Figura 5 – Curvas de oferta e demanda. Como pode ser observado, a figura 5 representa as curvas de oferta e de- manda de um dado produto, comercializado em um mercado, em um certo momento. Como as curvas têm inclinação com sinais opostos, elas se cruzam em algum ponto. Quando a quantidade ofertada (Q1) é inferior à demanda, o preço praticado (P1) está acima do preço de equilíbrio (P2). Assim, preços mais altos tendem a estimular a oferta, elevando-a ao nível de (Q3), o que com o tempo acaba por abastecer plenamente o mercado provocando, assim, queda nos preços ao nível (P3). Preços tão baixos tendem a desesti- mular a oferta, reduzindo-a ao nível de (Q2).O desabastecimento do merca- do provoca nova elevação nos preços. Assim, devido ao ajuste na oferta, os preços tenderão a subir até ao nível de (P2). Assim ocorrendo, aos poucos os movimentos do mercado levarão preços e quantidades ao ponto em que se cruzam as curvas de oferta e demanda, indicando assim, o preço e a quanti- dade de equilíbrio do mercado. Elasticidade preço da demanda A elasticidade preço da demanda representa a relação entre a variação re- lativa na quantidade demandada de um bem ou serviço e a variação relativa em seu preço. Assim, o coeficiente de elasticidade preço da demanda pode ser obtido pela razão entre a variação relativa da quantidade e a variação relativa nos preços. Caso este coeficiente apresente um resultado maior que 1, a demanda é chamada de elástica, o que significa que uma variação relati- va no preço resulta uma variação relativa maior na quantidade demandada. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br Análise do ambiente interno 43 Se o coeficiente for igual a 1 a demanda possui elasticidade unitária, assim, uma variação relativa no preço resulta a mesma variação relativa na quanti- dade demandada. Quando o coeficiente de elasticidade preço da demanda é menor que 1, então, a demanda é chamada de inelástica, isto significa que uma variação relativa no preço tem como resposta uma variação relativa- mente menor na quantidade demandada. Na figura 6 a curva DA representa uma curva de demanda inelástica, en- quanto que a curva DB representa uma curva de demanda elástica. Nos seus extremos, quando a curva é perpendicular ao eixo das quantidades, diz-se que ela é perfeitamente inelástica, ao passo que quanto paralela ao eixo das quantidades, diz-se que é perfeitamente elástica. Para o estudo da competitividade, alguns aspectos relacionados com a elasticidade preço da demanda são de substancial importância. Em merca- dos de produtos que apresentam menor grau de diferenciação, como no caso de commodities, iniciativas representadas por pequenas reduções nos preços, recebem como resposta grandes aumentos na quantidade deman- dada. Assim é possível inferir que nesses mercados a elasticidade preço da demanda tende a ser elástica. Em mercados de produtos que apresentam maior grau de diferenciação, como no caso dos menos massificados ou mais sofisticados, a sensibilidade a alterações nos preços é menor. Assim, iniciativas representadas por gran- des reduções nos preços, recebem como resposta pequenos aumentos na quantidade demandada. Neste caso, é provável que a elasticidade preço da demanda seja inelástica. Preço $ QuantidadeQ0 DA DB Figura 6 – Demanda: significado da elasticidade. Esse material é parte integrante do Curso de Atualização do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.iesde.com.br 44 Estratégia Competitiva A seguir estão representados os cálculos que permitem determinar o coeficiente de elasticidade-preço de uma curva de demanda. η = (∆Q / Q0) / (∆P / P0) Diante de um aumento nos preços de R$5,00 para R$5,75, a demanda cai de 1000 para 800. η = [(800 – 1000) / 1000] / [(5,75 – 5)] / 5 η = – 0,20 / 0,15 => η = -1,33 η < 1 então a demanda é inelástica η > 1 , então a demanda é elástica Se η = – 0,75 , então se o preço aumentar em 3% a quantidade diminuirá em 3 x – 0,75 = – 2,25%. Se η = -1,25 , então se o preço aumentar em 3% a quantidade diminuirá em 3 x -1,25 = – 3,75%. Custos Inicialmente, o custo contábil se diferencia do custo econômico. O custo contábil é apurado pelo reconhecimento das receitas quando ganhas e as despesas quando incorridas, independentemente do efetivo recebimento das receitas ou do pagamento das despesas, o que é chamado de regime de competência. Os números contábeis precisam ser objetivos e verificáveis por credores e investidores, dentre outros, o que, para tais fins é bem represen- tado pelos custos históricos. O custo econômico é representado pelo benefício decorrente do melhor uso alternativo do ativo gerador de custo, isto é, o custo de oportunida- de. Assim, um bom exemplo pode vir da experiência de uma pessoa que deixa um emprego em que ganha R$8.000,00 por mês para montar o seu negócio. Se o melhor uso alternativo da sua força de trabalho a remunera em R$8.000,00 por mês, então, o seu custo econômico para o empreendi- mento será de R$8.000,00, embora, contabilmente a sua remuneração possa ser de apenas R$3.000,00. Isto significa que apesar da pessoa estar obtendo um ganho positivo de R$3.000,00, seu resultado econômico
Compartilhar