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Teoria Geral da Administração Antonio Albano B. Moreira Te or ia G er al d a A dm in is tr aç ão A nt on io A lb an o B. M or ei ra 2ª Edição Curitiba 2018 Teoria Geral da Administração Antonio Albano B. Moreira Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 M837t Moreira, Antonio Albano B. Teoria geral da administração / Antonio Albano B. Moreira. – 2. ed. – Curitiba: Fael, 2018. 247 p.: il. ISBN 978-85-5337-010-8 Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 1. Administração 2. Teoria geral da administração (TGA) I. Título CDD 658 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Monique Gonçalves Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Minerva Studio Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Dedicatória A meus filhos Cristina Alexandra, Patrícia Andréa e António Augusto, meus heróis e minhas razões. A elas e a ele dedico esta obra, como incentivo e exemplo de que eles também poderão realizar seus sonhos, o instinto que os levará ao triunfo. Apresentação A Administração é uma ciência universal, utilizada desde a criação humana, na vida pessoal e coletiva, para atingir resulta- dos com recursos que estavam disponíveis sob diversas formas. Os impérios, as migrações, os enriquecimentos e tantos outros fatores deram-se a partir de práticas, rudimentares ou complexas, em que a Administração não era explicitamente registrada. – 6 – Teoria Geral da Administração No final do século XIX, em consequência da Revolução Industrial e com o objetivo de racionalizar os recursos de produção, surgiram as primeiras prá- ticas administrativas. Outras ciências utilizadas pela sociedade tiveram suas aplicações reguladas e fiscalizadas pelos governos a partir do início do século XX. No Brasil, a Administração, profissão e ensino, teve seu reconhecimento legal a partir da segunda metade do mesmo século. A profissão de técnico em administração/administrador foi criada e regulada pela Lei n. 4.769, de 9 de setembro de 1965, e os Conselhos Federal (CFA) e Regional (CRA), pelo Decreto n. 58.670, de 20 de junho de 1966. O ensino da Administração em Curitiba teve seu início nos primeiros anos da década de 60 do século XX, com a criação da Sociedade Paranaense de Estu- dos de Administração (SPEA) em 3 de agosto de 1962. Outros cursos, então, foram criados: a Faculdade de Administração e Economia (FAE), a Faculdade de Educação Superior do Paraná (FESP) e o Departamento de Administração Geral e Aplicada (DAGA) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atualmente existem, no Paraná, registrados no Conselho Regional de Administração (CRA-PR), 138 cursos, sendo 27 na Região Metropolitana de Curitiba. A importância do curso de Administração para as empresas e a economia, de forma global, demonstra-se não apenas por esses números, mas, também, pelas disciplinas do curso, as quais abrangem desde a área de ciências exatas até a psicologia. A aplicação dos conceitos da Administração, em um período no qual a concorrência global é acirrada, é essencial tanto para o aumento da produti- vidade das nossas organizações, quanto para a utilização racional dos recur- sos escassos que temos. Nesse contexto, é necessária a existência de literatura ampliada e atualizada, como é o caso desta obra. De fácil leitura e com muita objetividade nos pontos fundamentais de aplicação da teoria da Administra- ção ao dia a dia das empresas, uma obra como esta será de grande valia para que os futuros administradores possam ter uma visão concisa e atualizada da realidade do administrador. Vivemos uma fase de transições rápidas e radicais em todos os ramos da atividade humana. São tempos difíceis para as organizações, porque mudan- ças sempre são traumáticas e causam perdas para aqueles que não se adaptam aos rápidos e novos tempos. São essenciais o estudo, a reflexão e o forte – 7 – Apresentação embasamento nos princípios e fundamentos da Administração para que as organizações se fortaleçam. Certamente, esta obra vem contribuir para que os administradores estejam preparados e incólumes a este período de grandes desafios de aumentos de produtividade, agilidade e inovação. Ivo Simas Moreira.* * É engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e administrador do Conselho Regional de Administração. Já atuou como docente, consultor em Administração, conselheiro e diretor em várias instituições. Foi Secretário de Estado do Paraná (governo e planejamento) de 1971 a 1974 e, no período entre 23 de outubro de 1987 e 5 de setembro de 1988, assumiu, interinamente, o Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente. É conceituado e reconhecido por ter iniciado o processo de profissionalização da Administração no Governo do Estado do Paraná, sendo um dos fundadores dessa área no mesmo Estado. Sumário Prefácio | 11 1. Introdução à Teoria Geral da Administração (TGA) | 13 2. Visão clássica da Administração | 27 3. Visão humanista da Administração | 59 4. Visão neoclássica da Administração | 87 5. Visão estruturalista da Administração | 115 6. Visão comportamental da Administração | 137 7. Visão sistêmica da Administração | 169 8. Visão contingencial da Administração | 185 9. A moderna gestão | 199 Referências | 245 Prefácio Aceitar um convite para elaborar uma obra como esta, após o sentimento de grande responsabilidade que naturalmente provoca em função da importância que um trabalho desta natu- reza representa, gera, por outro lado, a possibilidade de poder transmitir e deixar registrada uma visão particular sobre a Teoria Geral da Administração, a forma como esse conteúdo é transmi- tido hoje nas faculdades de Administração, como ele é visto pelos alunos – tornando-se o grande terror e fardo dos dois primeiros semestres de qualquer curso da área – o descaso com que a disci- plina de TGA (forma popular como é conhecida a Teoria Geral de Administração entre os administradores e não só) vem sendo tratada. Cria-se, assim, logo ao se pronunciar essas três letrinhas, um clima de antecipada rejeição para os iniciantes nesta nossa tão desafiadora profissão de administradores. – 12 – Teoria Geral da Administração A proposta que aqui deixamos é a de que o estudo da história da Admi- nistração, mediante registro das várias teorias e abordagens que deram corpo ao que hoje se considera ser a Teoria da Administração, é um registro ainda vivo do que foi a evolução do pensamento social e humano e da forma como o homem organizou-se ao longo do tempo e, como tal, não pode ser total- mente desprezado. Isso porque em pleno século XXI, infelizmente, ainda vemos algumas organizações usarem métodos e práticas costumeiras de épo- cas e fases dos primórdios da criação da Administração como ciência e da visão limitada que se tinha dos métodos e processos necessários à formação e ao funcionamento de organizações inovadoras, produtivas e eficazes naquela época. Atualmente, não podemos mais deixar de levar em consideração, nas práticas administrativas, as conclusões e as experiências dos pioneiros no estudo e nas pesquisas das melhores práticas das organizações e do inter-re- lacionamento entre seus componentes humanos. Apesar de, ao contrário do que acontece com muitas outras ciências, ainda ouvirmos gestores e empre- sários dizerem que, na prática, a teoria da gestão é outra, reafirmam-se cada vez mais os postulados e os princípios resultantes das pesquisas e dos estu- dos administrativostestados ao longo desses anos todos, mostrando-nos que a Teoria Geral da Administração está viva, confirmando-se e afirmando-se cada vez mais nas boas práticas de gestão. O autor.* * António Albano B. Moreira é Administrador e Especialista em Gestão Estratégica e em Organização, Informática e Internet, ramo no qual trabalhou, por mais de trinta anos, no cargo de gerência sênior de instituições nacionais e multinacionais. Além disso, é palestrante, professor e consultor de empresas nas áreas de gestão, organização, web marketing, e-commerce e mídias sociais. 1 Introdução à Teoria Geral da Administração (TGA) Temos observado, nos últimos tempos, algumas opiniões contrárias ao estudo da Teoria Geral da Administração, a tradicional TGA, dentro dos cursos de Administração. O principal argumento usado é o fato de que esse estudo versa sobre um passado distante e remonta ao início da formalização das organizações empresariais. – 14 – Teoria Geral da Administração Usando dos mesmos argumentos, poderíamos invalidar, também, o estudo da história ou mesmo dos conceitos mais básicos de qualquer outra ciência tradicional. Por exemplo, poderíamos deixar de estudar as operações aritméticas básicas por estas serem muito antigas e terem sido estabelecidas em um passado distante? A resposta, com certeza, é não, tanto para a mate- mática como para qualquer outra ciência. É por meio das pesquisas e dos estudos que consolidaram conhecimen- tos sobre como as pessoas se organizam em busca de resultados comuns e de como essas organizações podem melhorar sua eficiência e eficácia em busca desses resultados que podemos nos espelhar para melhorar o funcionamento das organizações atuais, fazê-las mais competitivas e, mais importante, poder fazê-las mais duráveis e sólidas. Apesar de todo o avanço que se fez no estudo e na disseminação da Administração, ainda temos índices muito elevados de mortalidade prematura das nossas empresas, causados por falta de aplicação de conceitos administrativos já amplamente estudados e comprovados. 1.1 A Administração atual O estudo histórico da evolução da Administração por meio da sua teoria e das várias concepções e visões surgidas ao longo do tempo, embasados em estudos científicos, nada mais é do que o processo da evolução de uma ciência construindo novos conhecimentos e conceitos em princípios e fundamentos já estabelecidos anteriormente. O fato de, na sua forma tradicional, o estudo da Administração voltar-se, principalmente, à análise das teorias administra- tivas baseadas e estabelecidas em realidades e organizações completamente diferentes das atuais de forma alguma invalida a utilização desses princípios e fundamentos pelas organizações atuais. Essa evolução revela uma ciência viva e em constante atividade e desen- volvimento, provocando, com isso, o grande desafio para os administradores e organizações de aplicarem os princípios e os conceitos de modo que as orga- nizações beneficiem-se e se promova uma melhoria contínua de cada organi- zação de forma específica e da Administração como um todo. 1.1.1 A importância e o papel do administrador A Administração ou gestão e o administrador ou gestor, termos com sentidos sinônimos e utilizações idênticas, na sua atividade, são responsáveis – 15 – Introdução à Teoria Geral da Administração (TGA) por atingir os objetivos dos grupos sob sua responsabilidade e, portanto, estão presentes em todas as organizações, tendo em vista que são um conjunto orga- nizado de recursos humanos, físicos e monetários, trabalhando organizados por meio de um sistema de processos funcionais, valores, políticas, cultura e práticas, para um objetivo comum. É a partir do trabalho do gestor, transformando conhecimento em ganhos, que a organização chega aos seus objetivos. O mundo atual, carac- terizado pela necessidade constante por melhores resultados exigidos às organizações, sejam elas públicas, privadas ou de caráter social, leva à pres- são por uma constante melhoria dos processos organizacionais e da pro- dutividade aos seus gestores. O esforço em atingir esses resultados não é o foco da gestão, mas, sim, o resultado alcançado mediante este esforço (NOBREGA, 2004). Caracteriza-se, então, o papel do administrador, ou gestor, como pode ser denominado, como a busca constante pela melhoria na produtividade e nos resultados das suas organizações ou setores de uma organização, por meio da otimização da utilização de todos os recursos e processos colocados à sua disposição no alcance dos objetivos propostos. Dessa forma geral, verificamos que a presença de um administrador ou gestor se faz necessária em qualquer tipo de organização, organismo ou grupo social definido com um objetivo comum estabelecido. Por isso enfatizamos a importância do estudo dos princípios e fundamen- tos históricos não só para entender o passado, mas, também, para a aplicação de tais elementos, garantindo, assim, resultados semelhantes (NOBREGA, 2004). Sabemos que os princípios básicos de uma ciência são estes: mesmas condições, mesmos processos, mesmos componentes darão o mesmo resul- tado, sob as mesmas condições ambientais. Sob esse enfoque amplo, descrito anteriormente, o papel do adminis- trador adquire importância dentro das empresas, já que é dele que se espera o planejamento das estratégias e das ações empresariais, o acompanhamento diário dessas ações estabelecidas e quanto elas estão contribuindo para os objetivos propostos, a gestão dos recursos financeiros nas suas especificida- des dos recebimentos, pagamentos, financiamentos e aplicações dos recursos materiais, envolvendo máquinas, equipamentos, edifícios e matérias-primas e – 16 – Teoria Geral da Administração a sua compra, manutenção e venda, a gestão de todos os aspectos que envol- vem a gestão dos recursos humanos da organização, seleção, recrutamento, relacionamentos interpessoais, análise da satisfação, treinamento e demissão de funcionários. Portanto, o campo de atuação do administrador é bastante amplo e variado, cabendo, hoje, diversas atividades relacionadas e correlatas a um administrador profissional. De forma mais resumida, podemos afirmar que a Administração trata da condução das organizações lucrativas ou não lucrativas de uma forma racional das suas atividades. E essa condução deve ocorrer mediante o planejamento, a organização, a direção e o controle de todas as atividades que ocorrem em uma organização, decorrentes de uma diferenciação e divisão do trabalho (CHIAVENATO, 2004). Apesar de recentes no Brasil, os cursos de Administração são relativa- mente antigos nos Estados Unidos, tendo ali surgido no fim do século XIX, na Wharton School, em 1881. Enquanto já havia formado-se algo em torno de 50 mil administradores, 4 mil mestres e 100 doutores nos EUA, surgia, em 1952, o início do estudo da Administração no Brasil (FEA-USP, 2012). Não é mera coincidência a criação das escolas de Administração no Brasil e o início dos períodos do processo de desenvolvimento no país. Inicialmente, de forma tímida, no período Vargas, e mais concretamente no governo Juscelino. O início da industrialização e o crescimento das empresas geram uma necessidade muito grande de um contingente de mão de obra qualificada para gerir essas empresas e ocupar cargos inter- mediários de gestão. Essa necessidade de profissionais qualificados gera a necessidade da formação de administradores profissionais, por meio do ensino formal profissional da Administração. O início desse ensino foi marcado pela criação da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da FEA-USP (FEA-USP, 2012). Atualmente, o estudo profissional da Administração está amplamente difundido e solidificado. A profissão de administrador é regulamentada mediante a Lei n. 4.769/1965 e sua atividade registrada e fiscalizadapor meio dos Conselhos profissionais estaduais e o federal, o Conselho Regional de Administração (CRA), em nível estadual, e o Conselho Federal de Adminis- tração (CFA), em nível federal. – 17 – Introdução à Teoria Geral da Administração (TGA) 1.1.2 As organizações atuais e o administrador Se, de alguma forma, a grande diversidade de organizações presentes no mundo atual poderia levar a crer em uma dificuldade de adaptação interna do administrador a cada uma delas e às suas especificidades e heterogeneidades, isso não ocorre devido ao fato de que o papel do administrador é determinado e estabelecido como a definição das estratégias, o diagnóstico das situações e dos problemas, a priorização e a alocação dos recursos, o planejamento da sua aplicação e a criação de diferenciais competitivos, por meio da inovação de processos e produtos (CHIAVENATO, 2004). Mesmo considerando todas as diversificações de tamanho, estrutura, características, tipos de produtos ou processos, as organizações podem ser classificadas em dois grandes grupos: lucrativas, as chamadas empresas pri- vadas, e as não lucrativas, aí incluindo um grande leque de organizações, desde as filantrópicas, ONGs, igrejas, até os serviços públicos, exército, etc. Por outro lado, percebemos que a procura por profissionais competentes da Administração, focados em resultados, aumenta em função da alta compe- tição que o mundo globalizado provocou em todos os setores da economia. Desde as pequenas empresas até os grandes grupos multinacionais, todas as organizações devem buscar suas vantagens competitivas e seus diferenciais sob a liderança de administradores competentes. Dentro desse leque variado e extenso de organizações e cargos nelas exis- tentes, o administrador deve procurar, na sua formação, adquirir determina- das habilidades que o levem a se destacar perante seus pares e a galgar cargos nas estruturas das organizações. Essas habilidades podem ser divididas em três grandes grupos (CHIAVENATO, 2004): Ù Habilidades técnicas – são aquelas decorrentes do conhecimento e da experiência profissional e são a implantação de métodos, técni- cas e processos para a realização das tarefas, é o fazer. Ù Habilidades humanas – relacionadas ao convívio social com seus colegas. É a capacidade de trabalhar em equipe e de propor solu- ções à interação, à liderança e à resolução de conflitos. Ù Habilidade conceitual – refere-se à capacidade de abstração, de visualizar o futuro, de tomar decisões por meio do raciocínio e – 18 – Teoria Geral da Administração do diagnóstico das situações e alternativas disponíveis; de inter- pretar o ambiente, os dados disponíveis, a missão da organi- zação e poder levá-la a novos horizontes e a novos patamares de eficácia e produtividade, otimizando recursos e aproveitando oportunidades. De acordo com o crescimento que o administrador terá dentro da estrutura hierárquica, essas três habilidades serão exigidas de forma dife- rente. Partindo do nível operacional, temos, aqui, um forte predomínio e necessidade das habilidades técnicas, os conhecimentos e os métodos são as exigências dos cargos de supervisão, ainda muito ligados ao acompa- nhamento e ao controle das atividades operacionais e com fraca presença da aplicação das habilidades humanas. Conforme o administrador sobe na escala hierárquica, as atividades operacionais ficam mais distantes e logo ele precisa aplicar suas habilidades humanas de liderança, resolução de confli- tos e de trabalho em equipe. Esse nível caracteriza-se pelos cargos de gerência intermediária, é o cha- mado nível tático da organização. No nível mais alto da organização, a alta direção, temos uma forte presença da necessidade de habilidades conceituais. É o predomínio das ideias, da abstração das tomadas de decisão estratégicas que envolvem toda a organização e uma perspectiva de médio e longo prazo, na sua maioria. Paralelamente ao desenvolvimento dessas habilidades, exige-se do admi- nistrador três tipos de competências no exercício da sua atividade. Essas competências devem ser duráveis e constituir a base sólida da atuação do profissional, porque as rápidas mudanças a que as empresas são expostas não devem provocar a sua obsolescência (CHIAVENATO, 2004). Para isso, o administrador deve orientar sua competência dentro de linhas mestras durá- veis, o conhecimento, seu referencial, sua base de decisão, sua experiência profissional e não deve estar estagnado e imutável. O profissional deste século deve estar em constante aprendizado e ter a capacidade do aprender a aprender, a habilidade de colocar seu conheci- mento em prática, o saber fazer e aplicar. Deve, ainda, ter a capacidade de identificar, dentro da sua bagagem cognitiva, quais elementos podem ser aplicados em cada caso e em cada desafio da sua carreira e ter a segurança – 19 – Introdução à Teoria Geral da Administração (TGA) nessa aplicação. Por último, é necessária uma competência comportamental ou atitude para poder interagir com o mundo que o rodeia, liderar suas equi- pes no alcance dos objetivos, estabelecer o ritmo e o estilo de trabalho que vai ser observado, imitado e seguido. É a forma como as outras duas habi- lidades anteriores são colocadas para o grupo e os outros. Essas três compe- tências são as guias mestras que nortearão a carreira do administrador rumo ao sucesso e ao topo da organização. Saiba mais Henry Mintzberg, norte-americano, nascido em 2 de setembro de 1939, é Ph.D em Administração. É autor e acadêmico referência na Administração com vários estu- dos e livros relacionados às funções de gerência, admi- nistração e análises sobre as funções dessa área. Para além das competências relacionadas, Mintzberg em seus estudos, identificou e catalogou dez papéis executados pelo admi- nistrador, catalogados em três grupos classificatórios: interpessoais, informacionais e decisórios (apud CHIAVENATO, 2004). Os papéis interpessoais são aqueles que se relacionam com as pessoas, como o próprio nome indica. Eles se referem à forma como o administrador se relaciona com as pessoas e as influencia, em decorrência das suas habilidades humanas. Os papéis informacionais têm a ver com as informações com as quais o administrador lida, com a rede de informações que ele precisa montar, seu desenvolvimento e manutenção, bem como à forma como ele troca essas informações com seus colegas. Os papéis decisórios relacionam-se na forma como o administrador toma decisões, escolhe opções, processa e usa as informações e também como põe em prática suas habilidades humanas e de relacionamento interpessoal. Podemos ver, no quadro 1, os dez papéis do administrador, a classificação desses três grupos de papéis e seus componentes mais simples. – 20 – Teoria Geral da Administração Quadro 1 Os dez papéis do administrador. Categoria Papel Atividade Interpessoal Representação Assume deveres cerimoniais e simbólicos, repre- senta a organização, acompanha visitantes, assina documentos legais. Liderança Dirige e motiva pessoas, treina, aconselha, orienta e se comunica com os subordinados. Ligação Mantém redes de comunicação dentro e fora da organização, usa malotes, telefonemas e reuniões. Informacional Monitoração Manda e recebe informação, lê revistas e relatórios e mantém contatos pessoais. Disseminação Envia informação para os membros de outras orga- nizações, envia memorandos e relatórios, telefone- mas e contatos. Porta-voz Transmite informações para pessoas de fora, através de conversas, relatórios e memorandos. Decisorial Empreendimento Inicia projetos, identifica novas ideias, assume ris- cos, delega responsabilidades de ideias para outros. Resolução de conflitos Toma ação corretiva em disputas ou crise, resolve conflitos entre subordinados, adaptao grupo a crises e mudanças. Alocação de recursos Decide a quem atribui recursos. Programa, orça e estabelece prioridades. Negociação Representa os interesses da organização em nego- ciações com sindicatos, em vendas, compras ou financiamentos. Fonte: Chiavenato (2004, p. 5). 1.2 Origem histórica da Administração Mesmo que só recentemente tenha sido formalizada a profissão de admi- nistrador e a Administração estabelecido-se como uma ciência, as funções e os princípios administrativos já estão presentes desde a formação dos pri meiros – 21 – Introdução à Teoria Geral da Administração (TGA) grupos humanos. Nos diversos registros da história da humanidade, na sua evolução e, principalmente, na sua organização em sociedade, de alguma forma estiveram presentes competências administrativas para que essas ações ou sociedades organizadas tivessem sucesso. 1.2.1 A Administração através dos tempos A necessidade da caçada em grupo dos antigos homens, há milhões de anos, levou-os a organizarem-se de forma a obter o melhor resultado nas suas empreitadas e a registrar suas experiências e táticas para que, em futuras caçadas, usassem os mesmos modelos de sucesso, como ficou registrado em pinturas conservadas em várias cavernas da Europa. Mais recente que nossos ancestrais rupestres, da mesma forma, 4 mil anos a.C., os egípcios demonstraram alta utilização das funções da gestão para o sucesso na construção das suas pirâmides, utilização tão eficaz que até hoje discute-se qual organização e gestão utilizadas e a forma como elas foram construídas, além de se reconhecer que uma alta competência de planejamento, organização e controle da gestão egípcia se fez presente nessas construções. Várias outras demonstrações de conceitos de gestão até hoje usados estão presentes em registros históricos. Na Bíblia, encontramos o registro de Moisés como um gestor, ao vê-lo seguir os conselhos de Jatro, seu sogro, sobre a forma como organizar as tribos judaicas estruturalmente e hierar- quicamente e como funcionaria o processo de comando e de comunicação entre ele, os líderes das tribos e todos os seus componentes. Ali ele já apli- caria os conceitos da delegação, pois concedeu-lhes a autoridade da tomada de decisões, como seus representantes diretos. Limitando a autoridade des- ses chefes a assuntos mais simples, cabendo à autoridade dos assuntos mais complexos a si próprio, por meio de um processo de comunicação na estru- tura hierárquica, estaria ou não Moisés aplicando princípios de estruturação organizacional que muitos séculos depois foram formalizados em manuais, organogramas e fluxogramas até hoje usados em todas as organizações? Com certeza, podemos afirmar que sim. Podemos afirmar, também, que a Admi- nistração da forma como a vemos hoje começou nesses antigos modelos de estruturação e gestão ( CHIAVENATO, 2004). – 22 – Teoria Geral da Administração Várias outras demonstrações da aplicação de princípios e práticas admi- nistrativas foram registradas ao longo dos séculos e em variados lugares do planeta, tendo sempre em comum a preocupação da organização, do con- trole, da produtividade e da maximização dos recursos utilizados. Podemos verificar esses fatos históricos no quadro 2, que trata da linha do tempo da Administração, a seguir. Ao longo do tempo, têm sido sempre muito presentes as funções da Administração, principalmente as militares e religiosas, em que se fazem necessárias organização e hierarquia muito formais, além de uma definição muito clara de funções. A Administração ganhou muito das experiências militar e religiosa e seus conceitos bem-sucedidos. Ainda hoje temos muito presentes nas nossas organizações formas e similaridades herdadas, principal- mente, da organização militar e, mais especificamente, dos exércitos. Individualmente, também observamos essa presença. A partir da neces- sidade da execução da mais simples tarefa humana diária: qual a sequência das tarefas domésticas a executar, como elaborar uma receita culinária ou qual o trajeto a fazer para otimizar minhas tarefas na rua, etc. Algumas das funções básicas da Administração estarão presentes caso o objetivo seja a otimização e o sucesso nessas tarefas, sejam elas o planejamento da sequência correta das tarefas a executar, a verificação sobre se existem os componentes certos da receita e a quantidade certa ou qual o tempo gasto para o deslocamento de um lugar a outro, para poder chegar aos compromissos a tempo. O estudo e a aplicação da gestão estão presentes de forma mais sim- ples nos aspetos mais práticos e corriqueiros da vida humana, a sua aplicação consciente trará imensos benefícios na busca do sucesso pessoal e profissio- nal, mediante planejamento pessoal ou da carreira, organização de tempo e recursos, execução do planejado e, no aspecto mais prático, a otimização de recursos financeiros. Quadro 2 Linha do tempo da Administração. Período e local Evento 3000 a.C., Mesopotâmia Civilização suméria. Escrituração de operações comerciais. Pri- meiros dirigentes e funcionários administrativos profissionais. – 23 – Introdução à Teoria Geral da Administração (TGA) Período e local Evento Século XXVI a.C., Egito Construção da Grande Pirâmide. Evidências de planejamento, organização e controle sofisticados. Século XXIV a.C., China O Imperador Yao usa o princípio da assessoria para dirigir o país de forma descentralizada. Século XVIII a.C., Babilônia Código de Hamurabi. Escrituração meticulosa de operações. Evi- dências de ênfase no controle. Século XVI a.C., Egito Descentralização do reino. Logística militar para a proteção das províncias. Século XII a.C., China Constituição da Dinastia Chow. Século VIII a.C., Roma Começo do Império Romano, que duraria 12 séculos. Os embri- ões de todas as instituições administrativas modernas são criados nesse período. Século VI a.C., China Confúcio expõe uma doutrina sobre o comportamento ético dos cidadãos e dos governantes. Século V a.C., China Mêncio procura sistematizar princípios de administração. Século V a.C., Grécia Democracia, ética, qualidade, método científico, teorização e outras ideias fundamentais. Século IV a.C., China Sun-Tzu prescreve princípios de estratégia e comportamento gerencial. Século III a.C., Roma O exército romano é o modelo para os exércitos nos séculos seguin- tes. Esse modelo influenciaria outros tipos de organizações. 1494, Gênova Luca Pacioli divulga o sistema de partidas dobradas para escri- turação contábil no livro Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalità (Obras completas de aritmética, geometria, proporções e proporcionalidades). Século XVI, Veneza O Arsenal de Veneza usa contabilidade de custos, nume- ração de peças inventariadas, peças padronizadas e inter- cambiáveis e técnicas de administração de suprimentos. O Arsenal também utiliza uma linha de montagem para equipar os navios. Em 1574, durante uma visita de Henrique III da França, um navio foi montado, equipado e posto ao mar em uma hora. – 24 – Teoria Geral da Administração Período e local Evento Século XVI, Florença Maquiavel publica O príncipe, um tratado sobre a arte de gover- nar, em que são enunciadas as capacidades do dirigente. Meados do século XVIII, Inglaterra Início da Revolução Industrial. 1776, Inglaterra A riqueza das nações, de Adam Smith, descreve e elogia o prin- cípio da divisão do trabalho e a especialização dos trabalhadores. Final do século XVIII, Europa e Estados Unidos Desenvolve-se a produção baseada em peças padronizadas e intercambiáveis. 1810, Escócia Robert Owen inicia uma experiência de administração humanista na fiação New Lanark. Início do século XIX, França Primeiros sistemas de participação nos resultados paraos traba- lhadores. Início do século XIX, Inglaterra Primeiros sindicatos de trabalhadores. Final do século XIX, Alemanha Wilhelm Wundt cria a psicologia experimental. 1881, Estados Unidos Joseph Wharton funda a primeira faculdade de Administração. Final do século XIX até os anos 10 do século XX, Estados Unidos Movimento da Administração Científica. Fonte: adaptado de Maximiano (2010, p. 15). Da teoria para a prática A necessidade da aplicação dos conceitos e funções da Administração está presente em todos os setores da atividade humana. Isso se torna evi- dente na forma como a aplicação desses conceitos e funções leva ao sucesso determinadas organizações ou atividades ou como a falta ou má execução dessas funções faz com que os resultados pretendidos não sejam alcançados. Para que sejam evidenciadas tais premissas, propomos a verificação, durante – 25 – Introdução à Teoria Geral da Administração (TGA) um período relativamente curto, por exemplo, uma semana, da presença, da necessidade ou mesmo da falta de conceitos e aplicação das funções básicas do administrador – prever, planejar, organizar, controlar e avaliar, por meio da observação de notícias emitidas pelos meios de comunicação de massa, bem como dos resultados apresentados pelas organizações em geral. Podem ser observados, por exemplo, os índices de mortalidade das empresas brasileiras e as suas causas relativas à falta da aplicação tanto de princípios da Administra- ção quanto das funções administrativas. Síntese Mesmo que tenham evoluído ao longo da história do homem em socie- dade, os princípios, fundamentos e conceitos básicos da Administração sem- pre estiveram presentes e exerceram influência sobre a sobrevivência e sucesso das organizações. Em parte ou na sua totalidade, as funções administrativas de prever, planejar, organizar, controlar e avaliar estiveram e ainda estão presen- tes na atividade do administrador. Essas funções, bem como as competências básicas necessárias relativas aos conhecimentos exigidos ao cargo, as habilida- des em transformar esses conhecimentos em prática, o comportamento deter- minado em melhorar e inovar, mais os dez papéis exigidos ao administrador catalogados por Mintzberg nas categorias de papéis da interpessoalidade, da relação informacional e da relativa às tomadas de decisão, são fundamentais a todas as organizações lucrativas ou não lucrativas, para que atinjam os resul- tados pretendidos mediante eficaz utilização de todos os recursos disponibili- zados ao administrador. 2 Visão clássica da Administração Após a solidificação da Revolução Industrial, o panorama econômico no mundo e, principalmente, nos EUA, foi o grande crescimento das indústrias, tanto em número de trabalhadores como na variedade de tamanhos e formas de organização. A mão de obra utilizada era, na sua maioria, de ex-camponeses sem formação para as funções. Aliado a isso, a má utilização do maquinário e a desorganização na forma de trabalho eram grandes, aumentando a baixa produtividade, os desperdícios, a ineficiência e, também, pro- vocando uma insatisfação geral dos operários quanto às condições gerais do trabalho. – 28 – Teoria Geral da Administração A partir dessa situação geral que se vivia no mundo industrial da época, mais a intensa concorrência no mercado, a necessidade de estudos sobre como melhorar tal situação forma uma consequência natural. Assim, surgi- ram, paralelamente, nos EUA, por meio de Frederick Taylor e, na Europa, com Henri Fayol, os primeiros princípios e estudos para o estabelecimento da ciência da Administração. 2.1 Administração Científica A partir da implantação do racionalismo de Descartes, que estabele- cia o poder da razão e do método para a resolução de todos os problemas e negando todo o conhecimento empírico, os ramos da ciência passaram a substituir o conhecimento tradicional pelo racional e, com isso, a formalizar as bases científicas dos diversos ramos do conhecimento. No entanto, o tra- balho industrial ainda não tinha sido atingido pelo processo de racionalização já estabelecido nas outras ciências. Com o panorama geral de insatisfação e desorganização existentes nesse ambiente, estavam estabelecidas as condições para que surgissem esses estudos. A Abordagem Clássica, na sua vertente da Administração Científica, focou seus estudos e observações na busca da eficiência máxima na execução das tarefas fabris e na melhor forma para sua execução. O papel do adminis- trador era, mediante observação dos tempos e movimentos e padronização, achar a eficiência máxima da operação. 2.1.1 Taylor e a ciência da Administração O principal expoente do início da Administração Científica foi o enge- nheiro Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Independente de se conside- rar Taylor como seu criador, o movimento da Administração Científica teve a participação de várias outras pessoas que trabalharam na busca da resolução dos problemas da época, já citados, e na obtenção de eficiência e produtivi- dade, por meio de bases científicas com princípios e técnicas que poderiam ser sistematizadas e utilizadas por todas as organizações (MAXIMIANO, 2010). Apesar de esses estudiosos terem contribuído muito com o desenvolvimento da Administração Científica, todos eles destacavam a liderança de Taylor – 29 – Visão clássica da Administração nesse movimento, a qual foi reforçada pela importância de suas contribuições e estudos no processo de estabelecimento da Administração como ciência. Devemos destacar, também, que algumas das bases do movimento da Administração Científica, como a divisão do trabalho, a especialização das tarefas e os problemas da produção em massa, já tinham sido salientados e detectados por Adam Smith, em seu livro A riqueza das Nações, em 1776. Toda essa base histórica, mais a situação das empresas, encontraram em Taylor a mente brilhante, o espírito de observação e a grande experiência em fábrica capazes de observar e definir os problemas que se viviam nos ambientes fabris da época. Seu gosto por esse ambiente o fez trocar a tradição familiar da advo- cacia e iniciar uma carreira industrial bem-sucedida, que o levou de simples trabalhador a engenheiro chefe em 12 anos. Paralelamente à sua ascensão no trabalho, o gosto pela indústria o levou a estudar, na parte da noite, enge- nharia, área em que teve uma carreira também brilhante, obtendo o título de mestre. Ele chegou a ter várias invenções patenteadas, comprovando o brilhantismo da sua capacidade. Na sua carreira como engenheiro, Taylor pôde observar os proble- mas vividos na época. Sobressaindo, entre vários, os listados a seguir ( MAXIMIANO, 2010). Ù Falta de clareza e noção das responsabilidades entre trabalhadores por parte da Administração e quais tarefas lhe eram atribuídas. Ù Salários fixos que provocavam a desmotivação dos trabalhadores em produzir mais. Ù Trabalhadores deixavam de cumprir suas responsabilidades. Ù Falta de embasamento na tomada de decisão por parte dos admi- nistradores, baseando-se em opiniões e intuição. Ù Falta de coordenação nas atividades interdepartamentais. Ù Trabalhadores não treinados e sem aptidão para as tarefas que lhes eram designadas. Ù Falta de visão estratégica dos gerentes no sentido de que um melhor desempenho e a busca por excelência em todos os níveis levaria a uma melhor performance empresarial e consequentemente a retri- buições a eles e seus operários. – 30 – Teoria Geral da Administração Ù Falta de padrões operacionais provocava conflitos entre operários e capatazes em função de divergência de resultados da produção. Esses problemas, comuns nas empresas da época e que ainda podemos observar em muitas empresas atuais, tornaram-se uma preocupação para Taylor ao longo da sua carreira e o levarama várias observações e experiências no sentido da sua resolução. Reflita Quando são apontados os problemas existentes nas empresas e, mais especificamente, nas indústrias do iní- cio do século passado e que levaram à criação da Ciên- cia da Administração, podemos pensar que esse tipo de problema não existe nas organizações atuais. O que observamos, contudo, é muitas pequenas e microempre- sas – e algumas médias até – viverem ambientes com a configuração de problemas semelhantes aos encontrados por Taylor e seus pares. Já que se estabeleceram alguns princípios, naquela época, para resolver tais problemas, por que não utilizar as mesmas soluções propostas por Taylor nas empresas atuais para solucioná-los? Como não poderia deixar de ser, em função dos problemas da Administra- ção do período serem eminentemente fabris, o movimento da Administração Científica surgiu na Sociedade Americana de Engenheiros, instituição presidida por Taylor em determinada época. A ideia central do movimento da Administração Científica foi a orga- nização racional do trabalho, visando eliminar o empirismo aos diferentes processos de trabalho. Por meio da uniformidade de interesses entre patrões e empregados e da aplicação dos princípios da racionalização do trabalho, ambos poderiam ganhar o máximo possível. As bases conceituais que apoia- ram o movimento são destacadas a seguir. Ù O homem visto como uma máquina, eminentemente racional e que sempre toma as decisões mais apropriadas à solução do – 31 – Visão clássica da Administração p roblema, maximizando assim os resultados. Movido, basica- mente, por incentivos financeiros e recompensas, por isso se esta- beleceriam bases padronizadas de incentivos. É importante referir que, na época, considerava-se o homem como “vadio”, totalmente interesseiro e sem motivação para o trabalho, fazendo-o apenas porque poderia, sem as recompensas salariais e incentivos de pro- dutividade, morrer de fome. Esse conceito é classificado como Homo economicus, ou homem econômico, e vinha provocando um posicionamento, por parte da Administração, em um senti- mento de imputação de culpa ao operário de todos os males que aconteciam nas fábricas e em uma isenção dos gerentes quanto a essa responsabilidade. Ao longo do tempo e com a evolução das outras ciências sociais, principalmente da psicologia, e da evolução do homem em sociedade, poderemos observar a corres- pondente evolução do conceito do homem e seu posicionamento perante as organizações. Ù O estudo minucioso de tempos e movimentos repetitivos execu- tados pelos operários nos seus trabalhos. A partir desse estudo, encontrar a melhor maneira de executar a tarefa, enfocando, quase em totalidade, as tarefas a serem executadas, para construir a partir daí o restante da organização fabril e das recompensas salariais. Ù Criação dos métodos de trabalho que levassem ao desempenho máximo em cada tarefa, incluindo-se nisso as máquinas mais indi- cadas a cada operação. Ù Paralelamente ao estudo das tarefas e do melhor método de execu- tá-las, a análise da fadiga humana decorrente da execução repetitiva e prolongada dessas tarefas. Ù A especialização do operário a partir de uma divisão racional do trabalho a ser executado. Sendo estabelecida a especialização exigida ao trabalhador, a seleção adequada dos trabalhadores seria mais fácil, e o seu treinamento em cada tarefa, uma conse- quência racional. Ù Uma decorrência da divisão do trabalho foi a organização da estru- tura fabril em cargos e a definição das tarefas de responsabilidade – 32 – Teoria Geral da Administração desses cargos, eliminando, assim, alguns dos problemas existentes na época, da indefinição de responsabilidades e falta de comando. Ù Estabelecimento de prêmios de produção e incentivos salariais, em função da definição clara das tarefas, dos métodos de trabalho e tempos e movimentos. Com esses elementos, era possível a defini- ção de padrões de produtividade. Ù Criação das condições ambientais físicas necessárias ao bom anda- mento do trabalho e à sua melhor execução por parte do operário. Em decorrência do estudo dos condicionantes da fadiga humana na tarefa, seriam proporcionadas as melhores condições de conforto físico para que o operário pudesse produzir o máximo possível. Ù Definição da supervisão funcional, com clarificação do alcance e a necessária especialização e conhecimento do supervisor para cada tarefa a ser supervisionada. Essas foram, portanto, as ideias que nortearam e sustentaram a racio- nalização da Administração e estabeleceram um método científico no estudo da área, o que fundamentou o seu reconhecimento como ciência. A busca final da Administração Científica foi a da eficiência máxima das operações mediante a padronização de tempos e movimentos executados pelos operários. A padronização aconteceria por meio da divisão do trabalho mais detalhada possível e do estudo dos tempos e movimentos necessários para a execução das tarefas decorrentes dessa divisão, sempre buscando a mais eficiente forma de execução. A partir dessa padronização ocorreria a seleção, o treinamento e os pagamentos dos incentivos dos operários. 2.1.2 Princípios organizacionais Apesar do foco inicial dos estudos de Taylor e da Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos ser a resolução do problema dos salários, com a evolução dos estudos foi percebido que o problema da remuneração dos operários, sua produtividade e a consequente premiação e incentivo à melho- ria da produção era apenas um daqueles com que se debatiam as indústrias da época. A análise mais profunda da situação vigente permitiu perceber outras variáveis influenciadoras e ampliar a visão do problema. Como pode – 33 – Visão clássica da Administração ser observado na figura 1, que aborda os três momentos da Administração Científica, o movimento para a formação de tal Administração se dividiu em três fases distintas, saindo do enfoque na produtividade e na remune- ração dos operários para o estabelecimento e a consolidação dos princípios norteadores da Administração Científica, substituindo os velhos métodos de trabalho empíricos e, assim, ampliando o enfoque do chão de fábrica, pressu- posto inicial dos estudos, para as organizações como um todo. Por exemplo, a recomendação da dissociação da tarefa de planejar da atividade produtiva, tornando-a mais global e formalizada (MAXIMINIANO, 2006). Figura 1 Três momentos da Administração Científica. Pr im ei ra fa se Se gu nd a fa se Ù Ataque ao problema dos salários. Ù Estudo sistemá- tico do tempo. Ù Definição de tempos padrão. Ù Sistema de administração de tarefas. Ù Aplicação de escopo, da tarefa para a administração. Ù Definição de princípios de administração do trabalho. Ù Consolidação dos princípios. Ù Proposição de divisão de autoridade e responsabilida- des dentro da empresa. Ù Distinção entre técnicas e princípios. Te rc ei ra fa se Fonte: Maximiano (2010, p. 54). Os princípios estabelecidos na época, como a base de toda a Adminis- tração, tiveram a participação de vários estudiosos e formaram muitos outros, mas alguns ficaram mais presentes. Taylor salientou quatro, mas deixou regis- trados muitos outros decorrentes ou complementares a estes: 1. princípio do planejamento – o método empírico usado na época e comandado pela vontade do operário deveria ser substituído por um planejamento rigoroso das tarefas a serem executadas, estabele- cendo um método científico de trabalho para todas as tarefas. – 34 – Teoria Geral da Administração 2. princípio de preparo – a partir do estabelecimento do melhor método para a realização de cada tarefa, o passo seguinte deveria ser a escolha científica do trabalhadormais indicado a executar essa tarefa, de acordo com sua habilidade, e treiná-lo adequadamente para que pudesse atingir a produtividade máxima estabelecida no método determinado. Além da atenção na máxima e melhor exe- cução das tarefas pelos operários, estabeleceu-se, nesse princípio, também, uma atenção na escolha, na preparação e na disposição das máquinas dentro da fábrica da maneira mais científica, para que se pudesse ter a máxima produtividade e a menor perda de tempo entre tarefas e movimentações dos materiais. 3. princípio da execução – a execução das tarefas feita da melhor e mais produtiva maneira exigia que elas fossem distribuídas e as responsabilidades determinadas aos operários. 4. princípio do controle – tendo o método sido estabelecido, os operários bem escolhidos e treinados, as tarefas distribuídas, o passo seguinte mais lógico é a verificação da execução das tare- fas, a qual deve seguir os padrões estabelecidos e o que foi pla- nejado anteriormente. Reflita Será que hoje esses princípios já estão solidificados e amplamente aplicados em todos os ambientes fabris, das micro e pequenas empresas às grandes? Não estariam, aqui, os primórdios das nossas normas de produção com qualidade? Para além desses quatro princípios mais importantes outros foram esta- belecidos e que ou eram essenciais aos quatro principais ou eram sua decor- rência, de forma mais detalhada. 1. Decompor todas as atividades a serem exercidas pelos operários nas suas mais elementares operações, sua análise, estudo e medição dos – 35 – Visão clássica da Administração tempos gastos em cada movimento. O objetivo era estabelecer a melhor maneira com os movimentos mais rápido e econômicos, verificando, assim, a forma como os operários deveriam executar cada tarefa de maneira minuciosa. 2. Selecionar os trabalhadores para cada tarefa a ser executada em função dos tempos e movimentos estabelecidos como padrão, de forma mais científica possível. 3. Especializar, treinar e instruir os trabalhadores de maneira que eles fossem capazes de executar as operações da forma como foram esta- belecidas anteriormente. 4. Separar as funções operacionais de preparação e operação. 5. Engajar os operários na busca da produtividade e no alcance dos padrões de produção estabelecidos por meio de incentivos e prê- mios de produção maiores, caso estes fossem ultrapassados. 6. Planejar e preparar a produção tanto estabelecendo metas de pro- dução, métodos e processos de execução, tempos de preparação das máquinas como determinando máquinas, ferramentas, equi- pamentos e todos os recursos necessários para a melhor execução da produção. 7. As vantagens resultantes da racionalização do trabalho divididas proporcionalmente a todos os interessados: patrão, operários e clientes. 8. Manter a execução do trabalho nos níveis pretendidos, melhorá-lo e corrigi-lo por meio de controle. 9. Organizar os processos, equipamentos e matérias necessários à pro- dução em uma classificação otimizada ao seu uso. Como pudemos observar, esses princípios se concentram mais no estudo do trabalho e na especialização e controle da melhor maneira de realizar as tarefas. Talvez em decorrência de os estudos terem sido feitos na Sociedade Americana de Engenheiros e mais especificamente por Taylor, um mestre em engenharia, a Abordagem Clássica, na sua vertente da Administração – 36 – Teoria Geral da Administração Científica, ficou, portanto, conhecida como a Abordagem Científica focada nas tarefas e na melhor forma da sua execução. 2.1.3 Avaliação da Administração Científica Não obstante o grande avanço que as empresas obtiveram com a utilização dos princípios da Administração Científica, como não poderia deixar de acon- tecer, esta recebeu pesadas críticas quanto à sua implantação e abordagem. Com a total racionalização da operação fabril foram obtidos enormes ganhos de produtividade, eliminação de desperdícios e redução de custos, além disso, o grande ganho da possibilidade de uma produção em massa, o que contribuía em larga escala para a redução de custos da manufatura. Essa redução de custos permitiu que os bens manufaturados chegassem ao mercado com preços mais baixos sem comprometer os ganhos dos operários, como vinha acontecendo até então. Para se obter um custo mais baixo, o caminho natural vinha sendo baixar os salários dos operários, até então a principal causa de todos os males das organizações. A Administração Científica veio introduzir um novo conceito industrial, a era da máquina e da produção em massa. A total racionalização, mecani- cismo e estudo de tempos e métodos nos mínimos detalhes era a regra geral a ser aplicada para tudo. E quando se falava tudo, incluíam-se, também, os operários, vistos única e simplesmente como recursos fornecedores da mão de obra capaz de fazer funcionar as máquinas ou outros equipamentos e que, consequentemente, deveriam ter comportamentos semelhantes às máquinas, sempre repetidos da mesma forma otimizada e evitar sinais de fadiga que pudessem provocar mudança de ritmo de trabalho ou fazer movimentos fora dos preestabelecidos. Daí o rótulo de “mecanicista” a esse movimento. A empresa e tudo a ela relacionado resumiam-se a uma organização rígida, racional e padronizada em perfeita sincronia, como engrenagens de uma máquina. Aqui notamos que a atenção aos aspectos subjetivos do ser humano, como suas emoções, sentimentos e as necessidades sociais, foi rele- gada a um segundo plano, apenas com foco na produtividade. Como expo- ente crítico nessa priorização da força do trabalho físico do elemento humano das empresas da época temos o filme Tempos modernos, de Charlie Chaplin. – 37 – Visão clássica da Administração Dica de filme Para entender melhor o ambiente em que se vivia na época da implantação dos princípios da Administra- ção Científica, indicamos filme Tempos modernos, de Charlie Chaplin, no YouTube, no link: <http://youtu. be/D_kpovzYBT8>. Observe que um filme produ- zido em 1936 mantém-se atual, confrontando-nos com uma comparação encontrada em algumas empresas, já logo na abertura. Algumas das situações apresentadas e ridicularizadas estão presentes nas observações críticas das posições contrárias aos postulados da Administra- ção Científica. TEMPOS modernos. Disponível em: <http://www. youtube.com/watch?v=D_kpovzYBT8&feature=youtu. be>. Acesso em: 11 jul. 2012. Os próprios operários também começaram a se insurgir, por meio dos sindicatos e com greves, contra os altos tempos-padrão que eram estabeleci- dos como metas de produção, a grande repetição de movimentos e o trabalho apenas mecânico e sem qualquer significação pessoal que eles executavam, fazendo dar errado uma das principais premissas estabelecidas por Taylor de que os princípios da Administração iriam harmonizar as relações entre patrões e operários. Essa revolta tomou proporções tão grandes que o Con- gresso Americano mandou investigar o que estava se passando. Outra crítica feita ao movimento foi a de que, dividindo as tarefas na sua composição de movimentos mais elementares possíveis e treinando os ope- rários nessas pequenas tarefas, estaria provocando-se uma especialização de tal modo detalhada que ao operário não restaria mais nenhuma qualificação da tarefa, bastava ser treinado de forma exclusiva na tarefa que iria executar (MAXIMIANO, 2010). A visão muito elementar do papel do ser humano na organização eli- minava totalmente os elementos sociais inerentes aos funcionários atuando em grupo. O que interessava para a organização era apenas a capacidade – 38 – Teoria Geral da Administração física do operário, posta em atividade em conjunto com as máquinas. Em complemento, levantou-se a crítica de que eram postos de lado os aspectos informais da organização,bem como a vida social dos trabalhadores. Apesar de o próprio nome Administração Científica conter o aspecto ciência na sua composição, foram levantadas muitas críticas de que esse movi- mento não poderia ser considerado uma ciência porque não continha todos os elementos necessários a uma comprovação científica, a pesquisa e a experi- mentação científica de comprovação das teses. Mesmo existindo outros tipos de atividades nas empresas, a limitação do campo de aplicação da Administração Científica no ambiente fabril foi motivo de críticas também. A formação de engenheiro de Taylor e sua expe- riência essencialmente industrial provocaram o estreitamento do foco ao ambiente fabril. O tipo de proposta apresentado pela Administração Científica deu-se, essencialmente, no sentido de estabelecer princípios sobre como deveria fun- cionar a produção. Uma série de receitas, prescrições e normas padronizando a forma como deveria funcionar nada explicou acerca do funcionamento. Para os críticos ao movimento, isto era limitante na maneira como deveriam ser levadas em consideração as prescrições. Limitando-se ao estudo minucioso das tarefas e do método de traba- lho, a Administração Científica deixou de lado as interações da empresa com o meio que a rodeia, considerando-as como sistemas fechados, nos quais o funcionamento das suas partes é determinado e padronizado, não apresentando variações, o que não condiz com a realidade das empresas, que é de sistemas abertos influenciados pelo meio ambiente e imprevisíveis no seu comportamento. Mesmo com todas as críticas que sofreu decorrentes do pioneirismo, é inegável que o movimento da Administração Científica deu início ao desen- volvimento da Administração e melhorou a forma de atuação das empresas da época, com suas inovações em termos de padronização, racionalização e uso de métodos científicos. Foi o primeiro movimento a introduzir os conceitos do aumento de produtividade por meio de métodos científicos e apresentou novos conceitos na forma de se ganhar dinheiro. – 39 – Visão clássica da Administração Resumidamente, é possível afirmar que a Administração Científica teve sua base formada pelas premissas de comando e controle, uma única maneira certa de fazer, mão de obra, e não recursos humanos e segurança nem inse- gurança. Ao estabelecer como função principal da gerência planejamento e controles rígidos e aos operadores a execução das tarefas de forma obediente, estabeleceu-se, também, uma forte relação de comando do supervisor para o operário, de cunho hierárquico semelhante a uma estrutura militar, em que o gerente determina a melhor maneira de executar as tarefas e cabe ao operário utilizar esse método sem questionar e tirar dele o melhor partido no objetivo da máxima produtividade. A visão de que os operários consistem em mão de obra disponível, em contraponto à visão dos trabalhadores como recursos humanos, não estimula nenhum envolvimento, tanto de um lado como do outro nas relações de trabalho. Era desprezado o reconhecimento aos operários, bem como era-lhes vedado o acesso a ter responsabilidades além daquelas já descritas anterior- mente. A empresa não se comprometia com nenhuma lealdade para com os operários, esperando deles uma lealdade funcional. Em contrapartida, elas garantiam uma relativa e pseudo estabilidade e segurança no trabalho. Tudo parecia estabelecido, controlado e estável. Mesmo com as análises feitas e apontados, pelos críticos, pontos negativos à Administração Científica, devemos admitir que uma série de fatos e consequ- ências importantes à Administração atual são decorrência daquela. Uma dessas decorrências é a busca constante, por parte da Administração, de produtividade e rentabilidade. Até hoje a mola propulsora da Administração é essa busca, a constante e necessária renovação de processos e práticas para o aumento da pro- dutividade e da rentabilidade das empresas. Assim, não podemos, de maneira alguma, retirar o mérito de Taylor no desenvolvimento industrial da sua época e consequências decorrentes da implantação das suas ideias, por isso ele é con- siderado o pai da Administração ( CHIAVENATO, 2004). 2.2 Teoria Clássica Paralelamente ao desenvolvimento das ideias da Administração Cientí- fica lideradas por Taylor, nos EUA, e focadas, principalmente, na tarefa e no – 40 – Teoria Geral da Administração trabalho, surgia, na mesma época, na França, uma corrente de pensamento um pouco diferente no foco, mas também preocupada em estabelecer as bases e os princípios da Administração. O expoente dessa corrente foi Henry Fayol (1841-1925), que se dedicou a estudar a Administração, dando ênfase à estrutura. Fayol fez toda a sua carreira profissional em uma mesma empresa, a mineradora e metalúrgica francesa Comambault, chegando ao cargo de dire- tor-geral com a empresa em situação desastrosa. Conseguiu, ao longo do tempo, levá-la ao sucesso financeiro e administrativo. Essa carreira exitosa permitiu que, após sua aposentadoria, aos 77 anos, iniciasse a divulgação dos seus princípios baseados na sua experiência profissional de sucesso. Fun- dou o Centro de Estudos Administrativos, que passou a difundir suas ideias por meio de reuniões que congregavam industriais, militares, funcionários de governo e filósofos franceses. Lecionou, também, na Escola Superior de Guerra da França e suas ideias foram adotadas na Marinha francesa. Suas aná- lises sobre as ideias de Taylor o levaram a afirmar que eram complementares às suas (MAXIMIANO, 2010). 2.2.1 A visão de Fayol da Administração e as suas funções Na sua obra Administração geral e industrial, Fayol estabelece que administrar é uma função diferente das outras atividades de uma empresa. Seria algo diferenciado das funções de finanças, produção, comerciais ou técnicas. As funções administrativas estariam acima destas. O autor esta- belece, ainda, que essa função administrativa envolve cinco elementos ou funções básicas inerentes ao trabalho do administrador: prever, organizar comandar, coordenar e controlar. Ele foi o pioneiro em estabelecer que o trabalho de administrar deveria estar desvinculado às demais atividades de uma empresa. Aparentemente, um conceito simples, mas que se des- dobra em várias consequências essenciais ao trabalho e à importância do administrador. Dentro da ótica de Fayol, o dirigente, ao alcançar os postos mais altos na hierarquia da empresa, deveria se desvencilhar dos aspectos técnicos da produção e se dedicar às funções essenciais do administrador, citadas anteriormente. – 41 – Visão clássica da Administração Figura 2 Proporção da função administrativa nos níveis hierárquicos. Funções administrativas Mais altos Mais baixos Outras funções não administrativas Proporcionalidade da função administrativa nos diferentes níveis hierárquicos da empresa Ù Prever ÙOrganizar ÙComandar ÙCoordenar ÙControlar Fonte: adaptado de Chiavenato (2004, p. 64). Essa visão de Fayol é bastante atual e perspicaz, já que, a todo o momento, vemos nas organizações bons técnicos, ao serem promovidos a cargos de níveis acima na estrutura, tornarem-se maus ou totalmente incom- petentes administradores, por não conseguirem se desfazer das habilidades técnicas dos cargos mais operacionais e não conseguirem pensar sob a ótica das funções administrativas necessárias à execução das tarefas administrativas, como pode ser visto na figura 2, que trata da proporcionalidade da função administrativa. Quanto mais altos os cargos na escala hierárquica da empresa, mais a visão do administrador deve se tornar global, no sentido da visão total da empresa, mais as funções de previsão, organização, comando, coordenação e controle da Administração devem ser feitas e menos as habilidades e funções de operação serão necessárias. Fayol tornouclaro e estabeleceu as bases do atual papel dos chamados cargos executivos. Muitas empresas, para tentar minimizar essas dificuldades de adaptação, treinam seus chefes e administradores conforme vão sendo pro- movidos, para exercer as novas funções nos chamados treinamentos de chefia e liderança. Essa dificuldade encontrada pelas empresas não é só vista dentro – 42 – Teoria Geral da Administração das instituições, ao serem feitas as promoções, também podem ser observadas quando um bom técnico resolve montar sua própria empresa e não consegue abandonar seu modo de raciocinar focado na produção e passar a pensar mais administrativa, estratégica e globalmente. A Administração, como uma atividade inclusa em todos os procedimen- tos humanos, seja na família, negócios ou governo, que exigissem, de alguma forma, ações de planejamento, organização, comando, coordenação e con- trole, foi uma das contribuições importantes de Fayol para a solidificação e a expansão da área. Como já visto anteriormente, Fayol apresenta o conceito de que todas as empresas têm seis funções bem definidas e atuando em conjunto, conforme o quadro 1. Quadro 1 Funções administrativas de Fayol. Funções Responsabilidades Administrativa Coordenação das outras funções. Disposição de todos nos objetivos. Financeira Gestão dos capitais. Aplicação de recursos. Busca de recursos. Contábeis Registros e controles de custos e estoques. Balanços. Técnicas Produção de bens e serviços. Comerciais Negociação. Compra. Venda. Segurança de bens e pessoas Preservação. Proteção. Fonte: adaptado de Maximiano (2010, p. 73). A função administrativa é a que exerce o papel essencial da Administra- ção e se coloca na cúpula das outras cinco funções. Com a evolução das ativi- dades econômicas e empresariais, esses conceitos foram mudando os nomes, adaptando-se e tornando-se mais ou menos importantes, como é o caso da – 43 – Visão clássica da Administração função de segurança, por conta da evolução dos conceitos da Administra- ção. Contudo, foi a partir desse conceito inicial que outros pensadores pude- ram evoluir para novos conceitos. Como é o exemplo da função de recursos humanos, incluída nesse rol, pela grande importância para as empresas, do fator humano e da sua gerência. Para além dessa classificação das funções empresariais, Fayol estabeleceu qual o papel e quais as funções do administrador nas empresas. Ele verificou que o processo administrativo estava acima, coordenando todas as outras funções da empresa, e teria em sua composição os cinco elementos destacados a seguir. Ù Planejar: estabelece os objetivos da empresa, especificando, tam- bém, a forma como alcançá-los. A partir de uma visão do futuro, desenvolvendo um plano de ações para atingir as metas traçadas. É a primeira das funções, servirá para operacionalizar as demais fun- ções com a formalização das metas e forma de atuação. Ù Organizar: arranjo de todos os recursos da empresa, sejam huma- nos, financeiros ou materiais, alocando-os da melhor forma possí- vel para atingir o estabelecido. Ù Coordenar: a coordenação dos esforços de toda a empresa é funda- mental para implantar o planejamento e torná-lo viável para atingir as metas traçadas. Ù Comandar: é o processo de executar as tarefas pelos subordinados e que eles façam o que tem de ser feito. Para tal, as relações hierárqui- cas precisam estar bem definidas, suas responsabilidades, amplitude de comando e relações hierárquicas e o grau de participação e cola- boração de cada um para a realização dos objetivos definidos. Ù Controlar: definir os padrões e as medidas de desempenho que permitam assegurar que as atitudes empregadas serão as mais com- patíveis com o que a empresa espera. O controle objetiva assegurar que tudo seja feito o mais igual possível ao que foi estabelecido. Paralelamente, Fayol refletiu sobre os conceitos de Administração e organização e suas diferenças. Para ele, seriam conceitos diferentes, sendo a Administração o mais global, incluindo um conjunto de processos i ntegrados, – 44 – Teoria Geral da Administração abrangendo os aspectos da previsão, comando e controle. Organização é um conceito menos abrangente, envolvendo apenas os aspectos relativos à estru- turação da empresa na sua forma, portanto, fazendo parte do conceito abran- gente da Administração. Para Fayol, a ideia que ele possuía sobre o funcionamento da empresa como um sistema racional de regras e autoridade, justificando sua existência no fornecimento de bens e serviços aos clientes, não se aplicava apenas a organizações industriais, e, sim, a todas as empresas. Na sua visão, após a organização da empresa, os colaboradores precisam de ordens para saber o que fazer e serem coordenados da melhor maneira e com controle, para que sejam atingidos os resultados planejados. Ele criou 16 deveres específicos para os gerentes poderem exercer seu papel, contendo (MAXIMIANO, 2010): 1. preparação e planejamento cuidadosos e execução rigorosa; 2. coerência entre objetivos e recursos da empresa com a organização humana e material; 3. autoridade competente, enérgica, única e construtiva; 4. harmonização das atividades e coordenação dos esforços; 5. decisões estabelecidas de forma precisa, simples e nítida; 6. seleção do pessoal de forma eficiente e organizada; 7. obrigações definidas de forma clara; 8. encorajamento do senso de responsabilidade, bem como da inicia- tiva dos colaboradores; 9. justa e adequada recompensa pelos serviços prestados; 10. uso de sanções para erros e faltas; 11. manutenção da disciplina na organização sob sua responsabilidade; 12. interesses gerais acima dos interesses pessoais; 13. manutenção da unidade de comando; 14. supervisão à ordem material e humana; 15. manutenção do controle de tudo; 16. evitar excessos de burocracia, papéis e regulamentos. – 45 – Visão clássica da Administração 2.2.2 Os princípios da Administração segundo Fayol Completando sua obra de sistematização da Administração, Fayol, esta- beleceu 14 princípios orientadores do administrador, os quais estão listados a seguir. 1. Divisão do trabalho: divisão das tarefas e especialização de pessoas em um número limitado para realizá-las, de modo a aumentar a eficiência. 2. Autoridade e responsabilidade: autoridade é o direito de dar ordens e o poder de esperar a correspondente obediência. Em con- trapartida à autoridade, vem a responsabilidade de obedecer e pres- tar contas da execução das ordens. O equilíbrio entre a autoridade e a responsabilidade são fundamentais para o êxito da relação. 3. Disciplina: respeito aos acordos estabelecidos entre a empresa e os funcionários, mantendo a obediência a eles. 4. Unidade de comando: a cada empregado corresponde apenas um chefe e só dele deve-se receber ordens. É o princípio da autoridade única. 5. Unidade de direção: uma só orientação e plano para cada grupo de atividades que tenham o mesmo objetivo. 6. Subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais: o interesse da empresa e dos planos sobressai e elimina interesses particulares e opiniões. 7. Remuneração do pessoal: deve ser equitativa e justa, com base em fatores internos e externos e na garantia da satisfação para os empregados e para a organização em termos de retribuição. 8. Centralização: equilíbrio entre a concentração da autoridade no topo da hierarquia da organização, sua capacidade de executar as responsabilidades a contento e a iniciativa dos subordinados. 9. Cadeia escalar: hierarquia da estrutura da empresa. A série de che- fes do primeiro escalão ao último, definindo a linha de autoridade e responsabilidade da empresa. Princípio do comando. – 46 – Teoria Geral da Administração 10. Ordem: um lugar para cada pessoa e cada pessoa noseu lugar. Igualmente para os recursos materiais. 11. Equidade: tratamento de forma idêntica a todos, com benevo- lência e justiça sem deixar de aplicar a energia e o rigor quando necessário. 12. Estabilidade do pessoal: a manutenção das equipes promove seu desenvolvimento e gera maior eficiência, ao contrário dos impactos negativos da rotatividade. 13. Iniciativa: promoção do aumento do zelo e das atividade dos agen- tes e fazê-los ter iniciativas que assegurem o sucesso do planejado, dentro dos limites da autoridade e disciplina. 14. Espírito de equipe: desenvolvimento e manutenção da harmonia e união entre as pessoas da organização, incentivá-las a manter este espírito. Esses princípios foram a base para a criação da Teoria Clássica da Admi- nistração. Da mesma forma como foram lançados os princípios da Adminis- tração Científica, aqui também sobressaem os enfoques normativos e prescri- tivos, indicando ao administrador como deve se comportar e atuar. Sugestão de leitura Sugerimos uma pesquisa sobre os fundamentos e princípios atuais de excelência da gestão no site da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), disponível em: <http://www.fnq.org.br/site/377/default.aspx> (FNQ, 2012b). A partir dessa leitura, será possível verificar a atualidade de alguns dos princípios estabe- lecidos por Fayol. 2.2.3 A Teoria da Administração Mesmo com enfoques diferentes, os autores clássicos pretenderam criar uma teoria administrativa consistente e científica, baseada nos conceitos – 47 – Visão clássica da Administração principais da divisão do trabalho, da especialização nas tarefas e nos trabalha- dores, na coordenação por parte dos superiores hierárquicos e na separação das atividades de linha e staff. Figura 3 Desdobramento da abordagem clássica da Administração. Abordagem clássica Administração Científica Ênfase tarefas Teoria Clássica Ênfase estruturas Fonte: adaptado de Chiavenato (2001a, p. 54). Apesar das visões diferentes resumidas por meio da figura 3, Taylor e Fayol complementaram-se em seus conceitos e abordagens e o conjunto das suas visões deu o corpo necessário à criação da Teoria Administrativa. Como podemos ver no quadro 2, a seguir, nem uma nem outra abordagem seriam suficientes por si só, pois uma atende, preferencialmente, à parte operacional e à outra o restante administrativo, dando o enfoque completo a uma empresa. Quadro 2 Enfoques de Taylor e Fayol. Administração científica Administração clássica Precursor Frederick Taylor. Henri Fayol. Origem Chão de fábrica. Gerência administrativa. Ênfase Adoção de métodos racionais e padronizados; máxima divisão de tarefas. Estrutura formal da empresa; adoção de príncipios administrativos pelos altos escalões. Enfoque Produção. Gerência administrativa. Fonte: adaptado de Chiavenato (2004, p. 74). – 48 – Teoria Geral da Administração Todos os autores da Teoria Clássica foram unânimes em afirmar o estudo e a atenção da Administração cientificamente, em contraponto ao empirismo e à improvisação existente na época, introduzindo a técnica científica. O que se pretendia era a criação da “Ciência da Administração”, exigindo-se, por- tanto, um método de ensino organizado e sistemático para a formação dos administradores, a exemplo das outras profissões baseadas na ciência. Em relação à organização, a Teoria da Administração a estabeleceu como uma série de cargos e órgãos arrumados de forma estruturada, de tal modo dis- postos que as funções organizacionais pudessem ser feitas de maneira a inter- relacionar essas partes separadas entre si e os objetivos globais como um todo. Aqui vemos uma forte influência das antigas estruturas organizacionais, principalmente a militar e a eclesiástica, muito rígidas, tradicionais e hierar- quizadas, mantendo, ainda, uma forte ligação com o passado. Não podemos tirar o mérito das teorias clássicas de salvar as empresas do caos primitivo em que se encontravam, ainda sob forte influência da Revolução Industrial. No entanto, sob o aspecto exclusivamente das organizações e a forma como se reúnem as partes dessa organização em torno do objetivo geral, nada se avançou para além da imitação das estruturas militares e eclesiásticas, com forte ênfase na hierarquia e na cadeia de comando. Podemos entender uma organização como a forma de associação em torno de um objetivo comum na qual os seres humanos correspondem-se. Temos, portanto, a caracterização de uma organização por um fim comum e a forma da associação. Um implica o outro e vice-versa, a forma de associação vai ou não facilitar o atendimento do fim comum. A estrutura organizacional e a forma como é montada dão o tom de como a empresa vai funcionar. É a estrutura que estabelece a cadeia de comando, a linha de autoridade entre as posições da organização, a respon- sabilidade de cada uma na estrutura e as responsabilidades atribuídas a cada posição, a cadeia de comando ou cadeia escalar estabelecida pela estrutura da organização, de acordo com os princípios estabelecidos na época, deve basear- -se no princípio da unidade de comando, um só comando superior para cada nível ou escala inferior. Outro ponto fundamental para a criação da ciência da Administração foi o princípio da especialização e da divisão do trabalho. A divisão clara e – 49 – Visão clássica da Administração definida do trabalho caracteriza uma organização. Essa divisão é a base e a essência da organização e a fonte orientadora para a montagem da estrutura. Ela conduz a uma diferenciação das tarefas e à quebra da homogeneidade. Nesse aspecto, o pensamento da época era de que, quanto maior a divisão do trabalho, maior a possibilidade de treinamento e especialização e, em conse- quência, seria obtida uma maior produtividade e eficiência. Para os clássicos, a divisão do trabalho poderia se dar em duas direções, como veremos a seguir. 1. Vertical, de acordo com os níveis hierárquicos de autoridade e res- ponsabilidade. É a hierarquia quem estabelece os graus de respon- sabilidade de cada cargo. Quanto mais alto na escala hierárquica, maior a responsabilidade. Quanto mais definidas as linhas de auto- ridade, mais eficientes seriam as organizações. Para definir a autori- dade hierárquica e de comando entre um superior e o subordinado, dá-se o nome de autoridade de linha. 2. Horizontal, de acordo com as atividades da organização. Usando o conceito da especialização do trabalho e o princípio da homoge- neidade das tarefas aglutinadas. Em cada nível hierárquico as ativi- dades são designadas para departamentos ou seções específicas de forma homogênea. A divisão do trabalho, na horizontal e de acordo com os critérios de homogeneidade, é chamada de departamentalização e pode ser de vários tipos, como veremos mais adiante (CHIAVENATO, 2004). Um dos elementos incluídos por Fayol no rol dos elementos fundamen- tais para a Administração foi o princípio da coordenação. Para o teórico, a coordenação é a unificação de esforços e atividades, de maneira harmônica, reunindo em torno dos objetivos os esforços comuns. Podemos, ainda, definir coordenação como a orientação de todos os envolvidos na obtenção de um alvo ou de um objetivo a ser alcançado. Para alguns autores, a coordena- ção é obrigatória para o sucesso das organizações. A premissa básica era que, quanto maior fosse a organização da divisão do trabalho, tanto vertical como horizontal, maior seria a necessidade de coordenação para que se conseguisse a eficiência do todo organizacional. – 50 – Teoria Geral da Administração Um ponto enfatizado na Abordagem Clássica da Administração é a estruturação de forma simples da organização, por meio da organização linear. Esse tipo de organização baseia-se em quatro princípios administrati- vos, apresentados a seguir. 1. Unidade
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