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divertimentos-Descobertas, resenha


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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
Escola de Comunicações e Artes 
 
Resenha Descritiva: 
“Divertimentos-Descobertas: Estudos Criativos para o Desenvolvimento Musical – Sopros e Cordas 
Friccionadas” /Toninho Carrasqueira. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2017. 240p.; 
Primeira Edição 
Gabriela Fiorini, 2020 
 
O livro “Divertimentos- Descobertas: Estudos Criativos para o Desenvolvimento Musical – 
Sopros e Cordas Friccionadas”, escrito pelo Professor Doutor Toninho Carrasqueira, foi pensado para 
auxiliar instrumentistas, de sopros ou cordas friccionadas, amadores ou profissionais, a desenvolver 
sua criatividade pro meio de estudos. O autor apresenta a obra e seu principal objetivo: estimular o 
aprendizado a partir da experimentação e improvisação, com a proposta de tornar o estudo lúdico e 
prazeroso. Toninho fala das possíveis limitações da obra, mas crê no seu potencial de contribuição 
para a formação do músico criativo, capaz de interpretar com respeito e competência músicas de 
períodos distintos. 
No decorrer do trabalho, Toninho explica que a ideia de criar esse livro/método surgiu de seu 
pai, João Dias Carrasqueira (1908-2000), que foi um importante flautista e professor de música 
Brasileiro. Este grande mestre ensinou uma geração de flautistas, e, de acordo com o autor, dizia que 
cada aluno tem o seu método de aprender, e que ensinar exige amor e disponibilidade para o outro. 
Com isso, João escrevia exercícios diferentes para cada um de seus alunos, voltados para as 
necessidades de cada um deles. Essa maneira de ensinar despertou em Toninho a curiosidade sobre 
os processos criativos da aprendizagem de um instrumento. 
Logo em seguida, divagando um pouco sobre o intérprete, o autor chega à conclusão de que 
a música nos revela o mundo exterior e nos faz investigar o mundo interior. A música é capaz de 
exprimir sentimentos que nem sempre as palavras são, e pensando-se nisso, o intérprete deve ser 
capaz, assim como o poeta e o ator, de expressar e interpretar pensamentos de diferentes épocas e 
estilos. Defende ainda que, o bom intérprete se adapta e se molda a fim de conseguir se expressar de 
maneira adequada em cada obra que vai executar. Para o professor doutor, a partitura é um texto 
sem palavras, e, por isso, seu conteúdo é subjetivo. Cada uma de suas sutilezas e ambiguidades 
precisam ser bem compreendidas pelo intérprete, para serem bem enunciadas. Assim como 
entender a sintaxe é essencial para a compreensão de um texto, entender o discurso musical é o que 
faz o mesmo ter sentido. 
No que diz respeito ao ensino musical, o autor crê que este deve ser inserido na escola desde 
o currículo básico, pois se elaborado de maneira que estimule a curiosidade e a reflexão, pode 
ampliar o conhecimento também em outras áreas, expandindo horizontes. Surge, na sequência, uma 
crítica a respeito da difusão musical pelas emissoras de rádio e televisão no Brasil, onde a música é 
tratada apenas como mercadoria, pois só o que importa é o lucro, prejudicando o compromisso com 
a arte, a tradição, a cultura e a memória musical do país, e isto, somado a retirada do ensino musical 
do currículo básico em meados de 1960 nos faz compreender que a formação e as referências 
musicais da população se relacionam com a programação musical dos meios de comunicação, 
enquanto menos cultural as programações se tornam, menos interessada a população permanece. 
A infância e a juventude são períodos cruciais na formação do indivíduo, por isso, é 
importante que o ensino de música nesta fase incentive a criatividade. Infelizmente, segundo 
Toninho, os métodos mais utilizados para o ensino musical prejudicam a criatividade, visto que a 
maior parte dos estudos se baseia na repetição, tornando o aprendizado engessado. Tendo em vista 
que a maior parte dos métodos utilizados foram escritos/editados na segunda metade do séc. XIX e 
primeira metade do séc. XX, é possível relacionar a mecanização dos estudos com o processo da 
Revolução Industrial. 
A mecanização trazida pela Revolução Industrial gerou uma nova estrutura social. Na música, 
ela criou o que conhecemos como “especialização” em cada uma de suas áreas, assim como em uma 
linha de montagem: um músico de orquestra precisa se especializar em seu instrumento, assim como 
um técnico ou trabalhador braçal, tornando-se responsável apenas por um aspecto da produção. 
Como um atleta de alto rendimento, o músico treina os músculos por repetição, desenvolvendo 
habilidades musculares e agilidade. Todo esse treino acaba não estimulando a criatividade do 
músico, já que o estudo se tornou apenas uma “musculação” (repetição de escalas, arpejos, acordes) 
e os aspectos interpretativos foram, por inúmeras vezes, ignorados. Essa especialização gerou, no 
universo musical, uma espécie de hierarquia, onde o intérprete fica em segundo plano. 
O aprendizado consistente pode trazer diferenciais para o músico. O autor pontua três 
aspectos que para ele, auxiliam numa boa base de aprendizado: o aprofundamento da compreensão 
harmônica; o estímulo à criatividade e o uso da improvisação; um maior contato com a música 
Brasileira. 
Em relação à compreensão harmônica, é importante que os instrumentistas melódicos 
adquiram a consciência de que os arpejos, representados graficamente de maneira linear, nada mais 
são do que acordes, geralmente representados graficamente de maneira vertical, na música tonal. 
Com essa conscientização, fica mais fácil entender a interpretação de diversos trechos e os caminhos 
da própria melodia, dando a ela maior profundidade, equilíbrio, afinação, entre outros aspectos 
musicais importantes para a melhor compreensão do texto. 
A importância da criatividade e da improvisação é algo natural à existência humana. Assim 
como esses aspectos são utilizados para a confecção de um discurso oral, por exemplo, a partir da 
combinação de palavras e pontuações, é importante que o músico aprenda a combinar os aspectos 
da linguagem musical para que consiga, de maneira coerente, criar um discurso expressivo e 
coerente e, para que isso se aprimore, é imprescindível que o mesmo pratique e exercite a sua 
criatividade. 
Ao pensar no ensino de música no Brasil, para o autor, é importante perceber que grande 
parte dos alunos dedicam-se apenas a estudar as composições de mestres europeus e, por falta de 
familiaridade com o que é chamado de música popular brasileira (representada por Pixinguinha, 
Joaquim Callado, Jacob do Bandolim, etc.), acabam deixando a desejar na interpretação de 
compositores de música erudita brasileira, que resgatam alguns dos aspectos rítmicos e melódicos da 
música popular em suas composições (pode-se citar Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Edino Krieger, 
etc.). Para Toninho, a prática da música Brasileira enriquecerá a musicalidade dos alunos e 
instrumentistas, trazendo novos signos para a linguagem interpretativa, aumentando o repertório 
estilístico, além de aproximá-los de suas raízes e identidades, tornando-os mais completos e bem 
preparados para a vida de um músico profissional.