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Os efeitos fisiológicos do treinamento Centro Universitário Estácio do Ceará Eva Pollyanna Peixe Laranjeira 1. Visão geral Para compreensão e aplicação de uma metodologia científica do treinamento desportivo é necessário o conhecimento dos principais mecanismos fisiológicos que acorrem nas adaptações funcionais e morfológicas durante a progressão da preparação planejada. O sistema ósseo funcionará como suporte aos outros dois e só irá interessar diretamente ao treinamento quando da reunião de duas ou mais peças formando as articulações e influindo na flexibilidade. Os fundamentos fisiológicos do treinamento neuromuscular são os princípios anatomofisiológicos dos sistemas ósseo, muscular e nervoso. 2. Músculo e estrutura muscular O músculo dentro da fisiologia do esforço é concebido para armazenar grande quantidade de energia química e transformá-la em trabalho mecânico, e cujo trabalho é resultante de ação do músculo ou grupos de músculos contra uma carga ou resistência (MOREHOUSE E MILLER, 1970). O sistema muscular é constituído por 3 tipos de músculos: LISOS, ESTRIADOS e do MIOCÁRDIO. MÚSCULOS LOCALIZAÇÃO CONTRAÇÃO lisos vísceras e vasos sanguíneos e ligadas à vida vegetativa involuntária cardíacos miocárdio involuntária estriados músculos esqueléticos voluntária 2. MÚSCULO E ESTRUTURA MUSCULAR 3. Propriedades dos músculos estriados Os músculos estriados apresentam as seguintes propriedades: 1. A elasticidade: propriedade pela qual o músculo, depois de distendido por uma força exterior, volta ao que era logo ao terminar aquela força. 2. A contratilidade: é a propriedade pela qual o músculo excitado por agentes exteriores se contrai rapidamente, produzindo movimentos. Os movimentos são realizados através dos fenômenos denominados contrações musculares. Existem 3 tipos de contrações musculares. 3. A tonicidade: é a propriedade que permite nos músculos outro tipo de encurtamento, batizado pelo nome tônus muscular. Os músculos permanecem ligeiramente distendidos e levemente contraídos. 3. Propriedades dos músculos estriados CONTRAÇÃO CARACTERÍSTICA PARTICUARIDADES ISOTÔNICAS DINÂMICA PODE SER CONCENTRICA E EXCENTRICA COM ALTERAÇÃO NO CUMPRIMENTO DAS FIBRAS ISOMÉTRICAS ESTÁTICA SEM ALTERAÇÃO NO CUMPRIMENTO DAS FIBRAS ISOCINÉTICAS DINÂMICA VELOCIDADE NO MOVIMENTO NÃO SE ALTERA E A RESISTÊNCIA AUMENTA DE ACORDO COM A FORÇA APLICADA 3. Propriedades dos músculos estriados CONTRAÇÃO ISOTÔNICA: que também é conhecida como contração dinâmica, é aquela que prova movimento de uma parte do corpo diante de uma resistência qualquer. Esse tipo de contração provoca o encurtamento ou alongamento muscular podendo ser: 1. Isotônica concêntrica: quando a força for maior que a resistência ocorre o encurtamento da fibra. 2. Isotônica excêntrica: se a força gerada for menor que a resistência o músculo se alongará durante a contração. 3. Propriedades dos músculos estriados CONTRAÇÃO ISOMÉTRICA: esse tipo de contração é caracterizada por ser realizada sem alteração do comprimento do músculo, pois a resistência é igual a forçada gerada pelo músculo. CONTRAÇÃO ISOCINÉTICA: é ação muscular onde a velocidade angular é constante durante toda a amplitude do movimento. Só é possível em aparelhos especiais os dinamômetros isocinéticos (Guedes Jr., 2006). No início do movimento, acontece a aceleração do movimento a partir de zero grau por segundo até que a velocidade programada seja alcançada (Fleck e Kraemer, 2006). 4. Fibras musculares e suas características Um fator determinante da hereditariedade é a proporção do diferentes tipos de fibras musculares. São dividas como segue abaixo: FIBRAS TIPO PARTICUARIDADES VERMELHAS TIPO I CONTRAÇÃO LENTA E RICA EM O2 BRANCAS TIPO II CONTRAÇÃO RÁPIDA COM ALTA CONCENTRAÇÃO DE ATP-PC E ENZIMAS GLICOLÍTICAS FIBRAS TIPO PARTICUARIDADES BRANCA II A ANAERÓBICO/AERÓBICO BRANCA II B ANAERÓBICO BRANCA II C ANAERÓBICO / AERÓBICO AUMENTANDO A PROPORÇÃO COM O ESTÍMULO ESPECÍFICO (ATÉ 2%) 4. Fibras musculares e suas características As fibras tipo II são capazes de realizar trabalho de alta intensidade com curta duração, o que ocorre dentro de esforços anaeróbicos, sendo também chamada devida a alta velocidade de contração destes esforços, de fibras de contração rápida. Já as fibras Vermelhas possuem seu aparato fisiológico adaptado à realização das reservas Aeróbicas, e assim são responsáveis pela contração muscular durante os esforços de baixa intensidade e longa duração. Corredores de fundo de nível internacional possuem aproximadamente 70% a 90% de suas fibras musculares em fibras do tipo I (Fink et al., 1997; Hegedus, 1992). (Powers & Howley, 2014) FIBRAS RÁPIDAS FIBRAS LENTAS CARACTERÍSTICAS TIPO IIx TIPO IIa TIPO I N° de mitocondrias Baixo Alto/moderado Alto Resistência a fadiga Baixa Alta/moderada Alta Sistema energético Predominante Anaeróbico Combinado Aeróbio Atividade ATPase Mais alta Alta Baixa Vmáx (velocidade de encurtamento) Mais alta Alta Baixa Eficiência Baixa Moderada Alta Tensão Específica Alta Alta Moderada 5. Mecanismos energéticos das atividades físicas A energia utilizada para gerar trabalho muscular é oriunda dos alimentos consumidos. Os glicídios, lipídeos e proteínas são agentes que fornecem a energia necessária para os gastos durante a atividade física. METABOLISMO: Chama-se a troca de substâncias e transformações que ocorrem nos seres vivos a partir do momento em que os alimentos são introduzidos pela alimentação até o momento em que o organismo os utiliza como fonte de energia. M E T A B O L I S M O ANABOLISMO é a soma de todas as reações que participam da biossíntese (construção) CATABOLISMO é a degradação dos constituintes celulares, destruindo os alimentos e assim propiciando energia para atividades musculares METABOLISMO 5. Mecanismos energéticos das atividades físicas ALIMENTOS + O2 ENERGIA QUÍMICA OXIDAÇÃO CALOR + ENERGIA MECÂNICA • Os fornecedores de energia dos movimentos do homem são os processos de metabolismo (reações metabólicas) decorrente de um complexo mecanismo molecular do organismo, dos músculos em trabalho e sem trabalho, em particular. • A fonte direta de energia para a contração muscular é adenosinatrifosfato, considerando um composto fosfático de alta energia (macroenergético). • Para as fibras musculares conseguirem uma contração prolongada, será necessário a ressíntese do Adenosinofosfato (ATP) com a mesma velocidade com que se dissocia. • A ressíntese do ATP em um músculo poderá ser realizado por duas vias: Anaeróbico ou Aeróbico. • Para a criação e o aproveitamento do ATP como fonte de energia em um músculo em contração, poderão funcionar 3 mecanismos químicos 5. Mecanismos energéticos das atividades físicas TIPOS DE ALIMENTOS CARBOIDRATO LIPÍDIOS PROTEÍNAS 1. VALOR PARA O ORGANISMO EM TERMO DE ENERGIA provocam a energia para a maior parte das contrações musculares provocam a energia para permitir a sustentação de contrações prolongadas propiciam aminoácidos para a reconstrução dos tecidos 2. IGREDIENTE DE BASE UTILIZADA PELO ORGANISMO Glicose (armazenada nos músculos e fígado como glicogênio) glicerol (maior tempo para a oxidação) Aminoácidos não são fontes de energia habituais para as contrações musculares 3. TAXA APROXIMADA DE ENERGIA PRODUZIDA 4,3 cal/grama 9,5 cal/grama 4,3 cal/grama 4. NECESIDADE APROXIMADA DE OXIGÊNIO PARA OXIDAÇÃO 0,75 por grama 2,03 por grama 0,97 por grama 6. Substratos energéticos SUBSTRATOS ENERGÉTICOS CARBOIDRATOS GORDURAS PROTEÍNAS GLICOSE GLICOGÊNIO •hepático •muscular ÁCIDOS GRAXOS TRIGLICERÍDEOS •musculares •células adiposas NÃO POSSUI RESERVA* AMINOÁCIDOS •músculo 6. Substratos energéticos DEPÓSITOS DE ENERGIA EM UM HOMEM DE 80 KG Substrato Peso (gramas) Energia (kcal) Carboidratos Glicose plasmática 20 80 Glicogênio hepático100 400 Glicogênio muscular 400 1.600 Total (aproximado) 520 2.080 Gorduras Ácido graxo plasmático 0,4 4 Triglicérides plasmáticos 4 40 Tecido adiposo 12.000 108.000 Triglicérides intramusculares 300 2.700 Total (aproximado) 12.300 111.000 Newsholme EA, Leech AR. Biochemistry for the Medical Sciences. Chichester: John Wiley&Sons, 1990. 6. Substratos energéticos GORDURAS VERSUS CARBOIDRATOS COMO COMBUSTÍVEIS DURANTE OS EXERCÍCIOS Combustível Esgotamento ritmo de maratona 400g glicogênio muscular 95 min 300g triglicérides intramuscular 7.140 min 12.000g tecido adiposo McGilvern, 1975; Newsholme & Leech, 1990. 1 molécula de glicose + 6 O2 ~ 38 ATP 1 molécula de ácido esteático + 26 O2 ~ 147 ATP Fontes Tempo Combustível Metabolismo I – ATP 3” 3” a 8” (ATP + H²O) = ADP + PI + E FOSFOCREATINA ANAERÓBICO ANAERÓBICO 1- ATP –CP II - ATP-CP 2- GLICOLISE ANAERÓBICA 3’ – máx. 5’ GLICOSE ANAERÓBICO 3- SISTEMA OXIGÊNIO > 5’ GLICOSE, ÁCIDOS GRAXOS, AMINOÁCIDOS (proteínas) AERÓBICO 6. Substratos energéticos 6. Substratos energéticos CONTRIBUIÇÃO PARA A PRODUÇÃO DE ENERGIA PELOS PROCESSOS AERÓBIO E ANAERÓBIO TEMPO DE TRABALHO, ESFORÇO MÁXIMO (seg/min.) PROCESSO 10s 1 min. 2 min. 4 min. 10 min. 30 min. 60 min. 120 min. ANAERÓBIO (%) 85 65-70 50 30 10-15 5 2 1 AERÓBIO (%) 15 30-35 50 70 85-90 95 98 99 CORRIDAS (fontes/duração/%metab.)* 100 200 400 800 1.500- 3.200 5.000- 10.000 e 42.195 Duração da atividade ** 10s 20s 45s 1’45” 3’45”- 9’ 14’-29’-135’ Fontes principais de energia (sistemas) ATP – CP ÁCIDO LÁTICO ATP-CP ÁCIDO LÁTICO OXIDATIVO SISTEMA OXIDATIVO Metabolismo (%) aeróbio 0 10 20 25 50-55 80-90e 100 Anaeróbio 100 90 80 75 50-45 20-10 e 0 * Distância em metros / ** tempo em minutos e segundos 6. Substratos energéticos 7. Zonas alvo de treinamento ATIVIDADE MODERADA- regeneração /¨queima¨ de gorduras 50 - 60% FC MÁX. CONTROLE DE PESO 60 – 70% FC MÁX. AERÓBICA (performance) 70 – 80% FC MÁX. LIMIAR ANAERÓBICO 80 – 90 % FC MÁX. ESFORÇO MÁXIMO MAIS DE 90 % FC MÁX. 7. Zonas alvo de treinamento Limiar Anaeróbico??? Refere-se à intensidade de exercício onde o nível de lactato sanguíneo começa a se acumular numa velocidade mais alta do que vinha acontecendo em intensidades de exercício mais leves. A partir desse ponto a velocidade de produção de lactato ultrapassa a velocidade de remoção causando um acúmulo que vai se acentuando cada vez mais. limiar 1: representa o ponto onde a produção de lactato é aumentada, mas ainda existe um equilíbrio entre produção e remoção, as fontes aeróbias de energia continuam sendo predominantes no fornecimento de energia para a atividade; limiar 2: representa o ponto onde a produção de lactato é aumentada desproporcionalmente ao que vinha acontecendo nas intensidades inferiores de exercício, e a fonte energética aeróbia não consegue mais manter "sozinha" (predominantemente) o fornecimento de energia, passando a necessitar de ajuda das fontes anaeróbias, que acentuam o acúmulo de lactato induzindo à fadiga precocemente. 7. Zonas alvo de treinamento VO2máx???? VO2 max, ou volume de oxigênio (O2) máximo é a capacidade máxima do corpo de um indivíduo de transportar e metabolizar oxigênio durante um exercício físico incremental — tipicamente feito em uma esteira ergométrica — sendo a variável fisiológica que melhor reflete a capacidade aeróbica de um indivíduo. Existem 6 zonas diferentes de treinamento que correspondem a diferença de níveis de intensidade de exercício e que se relacionam a vários mecanismos de transporte metabólico e respiratório no organismo: (ACSM - fonte: Filho, José Fernandes, 1999 ) Zona de Frequência FCM VO2 máx Duração Sistema de trabalho Ritmo Máximo Ritmo de Trabalho Atividade Regenerativa (reabilitação) 40-60% até 40% aprox. 20 min Reabilit.cardio- respiratória ou osteomuscular - - ritmo do paciente Zona de atividade moderada 50-60% até 50% + de 30 min Queima de gordura(ácidos graxos) caminhada rápida ritmo fácil Zona de controle de Peso 60-70% até 50% a 60% + de 60 min Cardiorespira-tória maratona trabalho base Zona aeróbica 70-80% até 60% a 75% 8-30 min Aeróbica (performance) 10 km longo Zona de limiar anaeróbico 80-90% 75% a 85% 5-6 min absorção de lactato 3 km a 5 km tempo Zona de esforço máximo 90- 100% 85% a 100% 1-5 min anaeróbico 800m a 1500 m curto 8. Equações para predição da frequência cardíaca máxima (hills et ali, 1998) 9. Indicadores de fadiga • Irritabilidade • Depressão • Insatisfação • Dificuldade de diálogo • Pouca concentração • Insônia • Baixa de rendimento • Falta de criatividade • Perda de peso e apetite • Dores musculares • Taxa de ferretina baixa • Taxa de hemoglobina baixa • Alergias, herpes, etc. • = Lesões
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