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CAPÍTULO 3 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender a aplicabilidade das ferramentas da qualidade. Entender o funcionamento do programa 5S. Conhecer os métodos de análise da qualidade. Identifi car situações-problema ocorridas nos processos de trabalho. Implantar métodos de solução de problemas nos processos de trabalho. Entender as etapas de melhorias nos processos de trabalho. Compreender a elaboração de documentos da qualidade. Entender o processo de auditoria da qualidade. 46 Gestão da Qualidade Hospitalar 4747 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3 CONTEXTUALIZAÇÃO Nos capítulos anteriores, você estudou sobre a evolução do conceito de qualidade e sua aplicabilidade, tendo por base alguns pesquisadores. Agora, veremos, neste capitulo, as ferramentas de qualidade disponíveis e que podem ser utilizadas para proporcionar a melhoria dos processos de trabalho, alcançando a qualidade total almejada pelas instituições de saúde. Até mesmos as instituições públicas de saúde estão buscando a implantação de programas de qualidade, como, por exemplo, o 5S para alcançar a satisfação dos clientes e melhorar a produtividade das esquipes assistenciais e administrativas. Ao longo deste capitulo, veremos alguns exemplos de como é possível utilizar estas ferramentas. FERRAMENTAS DA QUALIDADE A palavra ferramenta signifi ca um utensilio utilizado pelo trabalhador para desenvolver uma arte e/ou um ofício. No contexto da qualidade, as ferramentas representam um apoio que conduz à manutenção e à melhoria dos processos de trabalho. De acordo com Bohomol (2010), as ferramentas da qualidade são técnicas aplicadas na defi nição, na mensuração, na análise e no monitoramento dos processos, bem como são capazes de propor soluções aos problemas que interferem direta ou indiretamente no desempenho destes. As ferramentas da qualidade podem ser aplicadas pelos diversos níveis da organização, ou seja, operacional, técnico e gerencial, fazendo parte da rotina no desenvolvimento de diversas funções. No decorrer deste capítulo, serão apresentadas diversas ferramentas para prevenir e corrigir possíveis erros ou falhas nos processos. Algumas delas são bem simples de serem aplicadas e outras mais complexas, necessitando de um conhecimento técnico ou de softwares específi cos para processar as informações. (BOHOMOL, 2010; ALVES, 2012). FOLHA DE VERIFICAÇÃO A folha de verifi cação é utilizada para coletar dados sobre diversos fatos que ocorrem com maior frequência na prestação de serviços, em um curto período de tempo, permitindo uma percepção da realidade e minimizando a A folha de verifi cação é utilizada para coletar dados sobre diversos fatos que ocorrem com maior frequência na prestação de serviços. 48 Gestão da Qualidade Hospitalar ocorrência de eventos adversos. A aplicabilidade desta ferramenta está no controle da identifi cação correta dos pacientes, como, por exemplo, a falta de etiquetas de identifi cação em pacientes com risco de queda, ou, ainda, pacientes sem a identifi cação de cabeceira de leito. (ALVES, 2012). A folha de verifi cação pode ser simples, composta de uma lista de itens pré-estabelecidos, como se fosse um check-list. Quadro 8 – Lista de verifi cação simples utilizada na auditoria de identifi cação correta do paciente Item Ótimo Bom Regular Ruim NA Possui pulseira de identifi cação? Possui pulseira de risco de queda? Possui pulseira de alergia? Cabeceira do leito está identifi cada corretamente? Fonte: A autora. Além disso, o gestor da qualidade poderá utilizar a folha de verifi cação para acompanhar e monitorar com que frequência ocorre determinado evento adverso no processo. Podem ser coletados dados de eventos que estejam ocorrendo ou que já ocorreram, formando, assim, uma série histórica dos acontecimentos. Quadro 9 – Modelo de folha de verifi cação de frequência utilizada para aprazamento de medicamentos Ocorrência Frequência Total Medicamento administrado e não checado. IIII IIII IIII IIII 16 Medicamento prescrito e não aprazado. IIII IIII IIII 12 Medicamento não aprazado devido à difi culdade de entendimento da letra. IIII 4 Medicamento prescrito “se necessário” e aprazado em horários fi xos. II 2 Fonte: Adaptado de Alves (2012). Embora pareça uma tarefa fácil registrar os dados nesta ferramenta, lembre-se de que se trata de uma atividade que exige muita atenção, pois o lançamento equivocado acarretará um resultado incorreto e isso poderá prejudicar a melhoria dos processos de trabalho. Geralmente, o diagrama de Pareto é representado por um gráfi co de barras, cujo objetivo é demonstrar, de forma estratifi cada, as várias causas dos efeitos ou falhas no processo, auxiliando na resolução do problema. 4949 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3 DIAGRAMA DE PARETO Geralmente, o diagrama de Pareto é representado por um gráfi co de barras, cujo objetivo é demonstrar, de forma estratifi cada, as várias causas dos efeitos ou falhas no processo, auxiliando na resolução do problema. O diagrama de Pareto foi criado pelo economista italiano Vilfredo Pareto, em 1897, inicialmente para demonstrar a desigualdade na distribuição de salários. (LUONGO; ROCHA, 2011). Para a construção do “diagrama de Pareto”, você poderá seguir os seguintes passos, descritos por Alves (2012): • Defi nir o que será analisado; • Selecionar e defi nir o período de tempo da coleta de dados; • Coletar os dados de acordo com o período de tempo defi nido (horas, dias, semanas); • Agrupar os dados em categorias; • Traçar dois eixos (vertical e horizontal); • Colocar os dados em ordem decrescente, com a causa principal vista do lado esquerdo e as causas menores do lado direito do diagrama. Figura 5 – Modelo do gráfi co de Pareto para identifi cação dos problemas com maior relevância no aprazamento de medicamentos Fonte: Alves (2012). 50 Gestão da Qualidade Hospitalar Assim, a utilização do diagrama de Pareto possibilita que os gestores selecionem as situações mais frequentes e busquem soluções para resolver os problemas identifi cados. (LUONGO; ROCHA, 2011). DIAGRAMA DE ISHIKAWA O diagrama de Ishikawa também é chamado de diagrama de causa e efeito ou espinha de peixe, devido ao seu formato. Trata-se de uma ferramenta gráfi ca que possibilita o acesso às informações das causas e efeitos de determinado evento adverso. (ALVES, 2012). O processo reúne as causas que produzem determinados efeitos. Principalmente nos hospitais, cada processo resulta num efeito ou, ainda, em diversos efeitos. Para que o processo seja executado e apresente o efeito desejado, é preciso avaliar cada uma das ações que nele interferem. Essas ações são chamadas de itens de verifi cação, que devem ser analisados para ter a qualidade assegurada. (LUONGO; ROCHA, 2011). Figura 6 – Modelo do diagrama de Ishikawa ou causa e efeito Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/vaOAYw>. Acesso em: 05 ago. 2016. Lembre-se de que para cada um dos efeitos descritos, existem diversas categorias que poderão ser alocadas, como, por exemplo, procedimentos, pessoas, medição e ambiente. 5W2H A partir da construção do diagrama de Ishikawa ou causa e efeito, é possível elaborar um plano de ação do controle do processo, evitando que um novo evento adverso se repita. Geralmente, nesses casos, utiliza-se a ferramenta 5W2H. O diagrama de Ishikawa também é chamado de diagrama de causa e efeito ou espinha de peixe, devido ao seu formato. Trata-se de uma ferramenta gráfi ca que possibilita o acesso às informações das causas e efeitos de determinado evento adverso. 5151 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3O 5W2H é basicamente um check-list que apresenta as atividades as quais precisam ser desenvolvidas para a correção do efeito adverso identifi cado. Trata-se de um mapeamento com a defi nição clara das tarefas dos setores e/ ou cargos envolvidos, bem como dos valores que deverão ser desprendidos pela empresa para tal correção. (MALIK; SCHIESARI, 2011; ALVES, 2012). O nome dessa ferramenta foi assim estabelecido por juntar as primeiras letras dos nomes (em inglês) das diretrizes utilizadas no processo. Veja, na sequência, cada uma delas e o que representam: • What – O que será feito (etapas); • Why – Por que será feito (justifi cativa); • Where – Onde será feito (local); • When – Quando será feito (tempo); • Who – Por quem será feito (responsabilidade); • How – Como será feito (método); • How much – Quanto custará fazer (custo). Figura 7 – Modelo de plano de ação: metodologia 5W2H Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/CHvaOO>. Acesso em: 05 ago. 2016. Você encontrará na literatura diversos modelos de plano de ação. Mas lembre-se de que o melhor modelo é aquele que atende às suas necessidades e que ajude você a concluir e alcançar seus objetivos. Porém não basta apenas elaborar o plano de ação, é necessário realizar o acompanhamento constante de suas ações. 52 Gestão da Qualidade Hospitalar OS CINCO SENSOS DA QUALIDADE – 5S Em 1950, o Japão criou o programa 5S como um projeto de qualidade total. A base do programa 5S são cinco palavras japonesas que iniciam com a letra “s” no alfabeto ocidental: seiri, seiton, seiso, seiketsu e shitsuke. O programa possui esse nome por que se trata de um sistema que utiliza cinco conceitos básicos e simples, mas que fazem diferença no dia a dia da organização, uma vez que resultam em mudanças de atitudes e comportamentos. Países como Espanha e Inglaterra adotaram metodologias semelhantes com objetivo de organizar e diminuir o desperdício, mas com outros nomes: “Teoria da escova” e Housekeeping (cuidar da casa). (ALVES, 2012). No Brasil, o programa 5S foi introduzido pela Fundação Cristiano Ottoni em 1991. (NOGUEIRA, 2003). a) Senso da utilização (seiri): O senso da utilização é o primeiro “s” do programa e visa identifi car, selecionar e eliminar os objetos que se encontram no local de trabalho e não são mais utilizados. A mesma separação pode ser feita com o material de uso pessoal: quantas vezes guardamos papéis e documentos que não são mais úteis e só fi cam ocupando espaço? Muitas vezes, o que é inútil para nós pode servir para outra pessoa ou outro departamento da empresa. Você também pode doar, vender ou encaminhar o material para o lixo reciclável quando possível. Lembre-se: É preciso consultar as legislações vigentes da ANVISA para descartar corretamente os materiais e/ou objetos oriundos de instituições de saúde. b) Senso da ordenação (seiton) O senso da ordenação tem por objetivo arrumar os objetos que sobram após a seleção e seu lema é “um lugar para cada coisa e cada coisa no seu lugar”. 5353 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3 A legislação impõe que as instituições de saúde guardem os prontuários dos pacientes por no mínimo 20 anos, pois a qualquer momento eles podem ser solicitados. Imaginem como será difícil encontrá-los se o arquivo não estiver organizado! O senso da ordenação também pode/deve ser utilizado para organizar os arquivos de computador. Colocar os arquivos em pastas facilita seu acesso, bem como organiza o backup para encontrar sempre a versão mais atualizada. c) Senso da limpeza (seiso) Este senso consiste em aplicar regras referentes à limpeza do local de trabalho. Sua principal vantagem está em proporcionar um ambiente agradável, sadio e melhorar a imagem interna e externa da organização. d) Senso da saúde (seiketsu) Este senso compreende a saúde, a higiene e a padronização. Seu objetivo é criar uma cultura de hábitos saudáveis entre os membros da organização e, ainda, a preocupação com a prevenção de acidentes. e) Senso da autodisciplina (shitsuke) Seu objetivo é manter o local de trabalho em ordem. A regra básica consiste em desenvolver as tarefas de forma correta, segundo os padrões e normas da organização. OS DEZ SENSOS DA QUALIDADE – 10S O programa 5S passou por um processo evolutivo e, atualmente, as empresas estão colocando em prática os 10S, ou seja, estão acrescentando mais 5S aos anteriores. a) Senso da constância (shikakhi) Diz respeito à fi rmeza de ânimo, multiplicar o que aprendeu e ajudar quem precisa. 54 Gestão da Qualidade Hospitalar b) Senso do compromisso (shitsukoku) Corresponde à dedicação, à obrigação assumida por todos, ao comprometimento com o sucesso do processo 5S. c) Senso da coordenação (seisho) Diz respeito às questões de liderança e à coordenação do sistema 5S dentro dos setores da empresa. d) Senso da padronização (seido) Corresponde à ação simultânea, aos procedimentos e às normas que regimentem o sistema 5S nas áreas e na empresa. e) Senso de responsabilidade social (sekinin shakai) Trata do compromisso que a organização e as pessoas que dela fazem parte devem ter para com a sociedade. Aqui está incluída toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade. MÉTODOS DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS - MASP O Método de Análise e Solução de Problemas (MASP) é um processo de melhoria que apresenta 8 etapas. Cada uma delas contribui para a identifi cação dos problemas e a elaboração de ações corretivas/preventivas para eliminá- los ou minimizá-los. Esse método auxilia os gerentes na solução de problemas, fornecendo subsídios para analisá-los e priorizá-los, identifi cando situações que não foram bem defi nidas e exigem atenção. Estabelece rápido controle das situações e planeja o trabalho que será realizado, apresentando respostas que ajudam na priorização de problemas que exigem atenção, dividindo-os em partes para serem analisados. 5555 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3 Figura 8 – Sequência de etapas do MASP Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/Pdznt5>. Acesso em: 05 ago. 2016. A ferramenta MASP é importante na tomada de decisão, pois contribui para alcançar resultados positivos nos processos de diagnóstico e avaliação da qualidade. PDCA O PDCA (Plan – Do - Check – Action), também conhecido como “ciclo PDCA”, é uma ferramenta de gestão utilizada para monitorar e melhorar os processos de forma contínua e sem interrupções. O percursor na divulgação do PDCA como ferramenta de apoio para gestão da qualidade foi William Edwards Deming, na década de 1950. (ALVES, 2012). Figura 9 – Etapas do ciclo PDCA Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/uBcreB>. Acesso em: 05 ago. 2016. 56 Gestão da Qualidade Hospitalar O ciclo PDCA inicia pela etapa do planejamento (PLAN) com o levantamento e análise das informações da organização. Em seguida, ocorre a execução (DO), em que são efetivadas todas as atividades planejadas. Na sequência, ocorre a checagem do processo (CHECK), na qual é verifi cado se a execução e o resultado estão conforme o planejado ou se no decorrer do processo ocorreu alguma falha. A última etapa consiste na ação (ACT), na qual ocorre a correção dos problemas e/ou falhas identifi cados na etapa anterior. (MIRANDA, 2011). A ferramenta PDCA pode ser aplicada em qualquer nível de atividade dentro da organização, desde processos assistenciais até as atividades de apoio, como, por exemplo, as administrativas. O PDCA é uma ferramenta muito útil, uma vez que contempla várias etapas para solucionar problemas e planejar a melhoria nos processos de trabalho. PADRONIZAÇÃO DOS DOCUMENTOS A padronização dos documentos é de fundamental importância na gestão da qualidade. A documentação da qualidade é uma ferramenta necessária para que os setores envolvidos possam se comunicar sobre as decisões tomadas, bemcomo fornecer as informações necessárias para que a gestão da qualidade seja implantada de forma clara. (OLIVEIRA, 1994). De acordo com Silva et al. (2010, p. 7): O objetivo principal da documentação do sistema da qualidade é apresentar um modelo que esteja voltado para o desenvolvimento, implementação e melhoria da efi cácia do sistema de gestão da qualidade, tendo como prioridade aumentar a satisfação do cliente através do atendimento de seus requisitos. O documento de maior valor agregado do sistema da qualidade é a política da qualidade. Nela, estabelecem-se as diretrizes que a organização deve seguir, bem como a defi nição da missão, visão e valores da gestão da qualidade dentro da organização. 5757 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3 Carpinetti et al. (2007) sustentam que a documentação da qualidade é um conjunto de documentos que serão utilizados pela organização, como, por exemplo, formulários, modelos de manuais e normas que darão suporte para as equipes de trabalho. Esses documentos poderão ser disponibilizados por meio físico ou digital, porém recomenda-se que seja realizado um controle rigoroso das cópias existentes na organização. Geralmente, as empresas optam por disponibilizar os documentos de forma digital, com restrição para impressões. Os documentos impressos recebem uma tarja de “cópia” e são controlados pelo setor da qualidade. Quando há qualquer tipo de alteração, eles são imediatamente recolhidos e substituídos pela versão mais atual do documento. Não existe um modelo padrão para os referidos documentos, porém Tjara (2010, p. 32) esclarece que são necessários os seguintes dados: • Nome do procedimento, rotina de trabalho e instrução de trabalho/manual; • Código do documento (geralmente se usa um número sequencial de controle); • Número de páginas; • Data da elaboração; • Data da revisão; • Número da revisão; • Responsável pela elaboração. Todos os documentos elaborados pela organização deverão passar por revisões constantes. Em geral, os prazos médios das revisões podem variar de 12 a 24 meses, conforme o órgão certifi cador e/ou necessidade da organização. FLUXOS E MAPEAMENTO DO PROCESSO O fl uxograma é uma representação gráfi ca muito utilizada no mapeamento dos processos organizacionais. Processos são maneiras de fazer alguma coisa. Envolvem a transformação de um insumo em produto fi nal. No interior dos processos ocorrem transformações, que incluem as etapas necessárias para a obtenção do produto fi nal com valor agregado. (SCARTEZINI, 2009). O fl uxograma é uma representação gráfi ca muito utilizada no mapeamento dos processos organizacionais. 58 Gestão da Qualidade Hospitalar Entende-se por mapeamento de processos a primeira etapa, que tem por função o estudo e entendimento das lógicas inseridas na cadeia de informações e insumos. (PAVANI JUNIOR; SCUCUGLIA, 2011). Para Scartezini (2009), o mapeamento de processos é uma ferramenta gerencial, analítica e de comunicação, utilizada para melhorar os processos existentes ou, ainda, na implantação de um novo processo, visando à redução das falhas durante a execução, melhorando, assim, a produtividade e a implantação de padronização das atividades de forma simplifi cada e fácil de entender. O fl uxograma é um gráfi co que representa o fl uxo sequencial de um trabalho de maneira analítica ou sintética, facilitando o entendimento das operações e dos membros executores. Analisar o fl uxo do processo com base no fl uxograma é uma das maneiras rápidas, lógicas, simples e efi cientes para perceber oportunidades de melhoria. Fonte: Tjara (2010, p. 89). Geralmente, ao desenvolver um fl uxograma de processo, é necessário que o documento apresente questões básicas em relação ao modo de análise. De acordo com Tjara (2010, p. 90), essas informações são: • O que é? • Quem faz? • Como faz? • Quando faz? Além disso, para melhor entendimento dos usuários, as normas de qualidade exigem que se utilize uma padronização universal na elaboração do fl uxograma de símbolos. Veja no quadro que segue: 5959 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3 Quadro 10 - Os principais símbolos utilizados na elaboração do fl uxograma Símbolos Signifi cados Indica o início e fi m do processo. Indica ação. Indica a tomada de decisão de uma determinada ação. Indica a conexão entre as páginas ou partes de um processo. Indica que o processo está aguardando. Indica que o processo foi arquivado defi nitivamente. Indica a entrada e saída de uma informação a partir de um do- cumento. Indica o caminho a ser seguido no processo. Fonte: Tjara (2010, p. 92). Quanto ao tipo de fl uxograma, você poderá utilizar aquele que atender à necessidade da organização no mapeamento dos processos. Os principais tipos são: • Fluxograma vertical: utilizado para descrever processos simples; • Fluxograma parcial ou descritivo: geralmente utilizado para descrever procedimentos operacionais; • Fluxograma global ou de colunas: utilizado para descrever diversos processos organizacionais e suas interfaces; • Fluxograma pictorial: utiliza símbolos e fi guras de acordo com a necessidade da organização. Para conseguir alcançar todos os resultados previstos com a elaboração do fl uxograma, é importante observar as orientações do quadro a seguir. Veja: 60 Gestão da Qualidade Hospitalar Quadro 11 - Recomendações para elaboração do fl uxograma Faça os fl uxogramas fi nais em formulários próprios, usando o gabarito padrão e baseado nos rascunhos verifi cados ou modifi cados. Os fl uxogramas devem ser legíveis para terceiros. O fato de os fl uxogramas serem exatos não é o bastante. Eles devem ser inteligíveis para um revisor ou para um novo membro da equipe nos anos posteriores. Os fl uxogramas devem ser claros, concisos, logicamente dispostos e sem ambiguidades. Assegure que os fl uxogramas respondem às questões básicas de controle interno. A avaliação do controle interno será demonstrada nos fl uxogramas pelo assistente ao encar- regado e por este ao gerente. Os fl uxogramas devem, conseguintemente, oferecer o suporte necessário para as conclusões sobre o controle interno. O bom senso, naturalmente, deverá ser utilizado na aplicação das técnicas. Inovações pessoais e variações do método adotado são admitidas, mas com ressalvas. Os fl uxogramas serão úteis se forem padronizados e se puderem ser lidos por qualquer pessoa. Símbolos especiais poderão eliminar as vantagens de uma linguagem padrão. Os fl uxogramas podem e devem ser modifi cados, mas apenas quando necessário. Todas as palavras que apareçam nos fl uxogramas devem ser escritas em letras claras e legíveis. Faça fl uxogramas simples e diretos. Evite disposições que levem o leitor através de uma fl oresta de traços e setas. Evite o cruzamento de linhas. Um semicírculo, indicando a independência das linhas ao se cruzarem é um recurso imperfeito. Evite o problema logo de início. Isto normalmente pode ser obtido com uma nova disposição das informações no papel. Coloque os funcionários ou departamentos que tenham grande troca de documentos ou infor- mações entre si em colunas adjacentes. Evite o aparecimento de longas setas que cruzam o papel de um lado para outro sobre colunas não utilizadas. Assegure-se de que o início e o término de um fl uxo são claramente visíveis, de forma que o leitor saiba para onde ir antes de descer aos detalhes. Evite detalhes excessivos, mas assegure-se de cobrir todos os pontos importantes de con- trole. Fonte: Scartezini (2009, p. 15). PAVANI JUNIOR, Orlando; SCUCUGLIA, Rafael. Mapeamento e gestão por processos. São Paulo: M. Books do Brasil, 2011. 6161 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3 O mapeamento de processos é uma atividade que se baseia totalmente no conhecimento da pessoa entrevistada ou responsável pelo setor. Porisso, o conhecimento do negócio e suas etapas é fundamental para obter êxito no mapeamento, bem como evita retrabalhos. AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR A auditoria da qualidade é um exame sistemático e independente das ações e decisões das pessoas em relação à qualidade. Seu objetivo é determinar se as atividades realizadas estão de acordo com as exigências operacionais planejadas e implementadas para alcançar os objetivos iniciais. O processo de auditoria permite avaliar todo o sistema de qualidade por meio de uma atividade documentada. No ambiente hospitalar o sistema de qualidade pode ser observado por meio de um programa de atividades integradas, implantado pela administração para avaliar a efi cácia do sistema existente e identifi car as áreas carentes de correções ou aperfeiçoamentos. (LUONGO, 2011). Você encontrará na literatura diversas técnicas que poderão ser adotadas pelas equipes de auditores. As técnicas mais usuais, de acordo com Luongo (2011), são: • Árvore funcional: meio de garantir que cada função de um setor auditado seja dividida em elementos fundamentais. Cada um dos elementos identifi cados é analisado, buscando saber se a fi nalidade das normas é obedecida; • Fluxograma de decisão: mostra a sequência de eventos dos processos que estão sendo avaliados. As atividades são demonstradas no fl uxograma conforme a sequência em que elas ocorrem, permitindo a identifi cação do nível em que acontecem as falhas; • Rede caminho crítico (PERT – Project evaluation and review technique): é uma ferramenta de controle da programação que pode ser adaptada para análise do fl uxo dos serviços prestados. Mostra cada atividade, A auditoria da qualidade é um exame sistemático e independente das ações e decisões das pessoas em relação à qualidade. 62 Gestão da Qualidade Hospitalar identifi cando seu início e fi m. Permite avaliar cada atividade individualmente e outras relacionadas; • Matriz de responsabilidades: este método permite a identifi cação das decisões que devem ser tomadas em diversos procedimentos e situações. É possível avaliar a conformidade entre as ações e os procedimentos determinados pelas instituições; • Tabelas de funções: de acordo com este método, divide-se a instituição em unidades e avaliam-se as funções e responsabilidades de cada uma, buscando as devidas soluções. As instituições podem optar por utilizar o serviço de uma equipe interna de auditores ou, ainda, contratar uma equipe de auditores externos. Independente do modelo adotado, os princípios da auditoria devem ser observados. A auditoria é caracterizada pela confi ança em princípios como a ética, em que a discrição e a confi dencialidade são os pilares para uma boa apresentação, justa e independente. Caro(a) pós-graduando(a), você encontrará várias metodologias para realizar a auditoria da qualidade. Com base nas lições de Rodrigues et al. (2011), a seguir, será apresentado um roteiro que pode ser utilizado e adequado às diferentes necessidades. Veja: • 1ª etapa (planejamento): identifi cação do universo que deve ser auditado e dos documentos necessários (referencial, materiais orientativos e normas técnicas). Análise e cruzamentos de dados, inclusive os indicativos de não conformidade; • 2ª etapa (visita in loco): para verifi car a veracidade das informações coletadas em relatórios gerenciais e assistenciais. Nesta visita, o auditor e/ou equipe de auditoria verifi cará se a disposição dos móveis e equipamentos, bem como a estrutura física estão de acordo com as normas e legislações vigentes. Também verifi cará se as atividades estão sendo executadas dentro das normas e procedimentos operacionais padrões; • 3ª etapa: após visita, a equipe elabora um relatório de auditoria contendo as não conformidades encontradas no processo in loco. 6363 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3 A ISO 19011:2012 não se restringe às auditorias de qualidade/ ambientais e pode ser utilizada por auditores de variados sistemas de gestão, como, por exemplo, empresas de consultoria que implementam sistemas e organizações que necessitam realizar auditorias por razões contratuais ou regulamentares. EQUIPE DE AUDITORIA A equipe de auditores é formada de acordo com o tamanho da instituição que será auditada. Os auditores devem ser neutros para não afetar a objetividade do trabalho. As equipes de trabalho envolvidas com uma auditoria devem respeitar e apoiar a independência dos auditores. Independentemente do tamanho da equipe de auditores, sempre haverá um auditor líder responsável pelo andamento dos serviços. Luongo (2011) sustenta que ter uma equipe de auditores pode garantir melhores resultados na auditoria. Isso porque há possibilidade de discussão entre a equipe, podendo juntos identifi car situações de risco que necessitam de intervenções imediatas, as quais nem sempre seriam identifi cadas caso a auditoria fosse realizada por apenas um indivíduo. INDICADORES DE QUALIDADE Indicadores são dados ou informações numéricas que quantifi cam a entrada/saída de insumos e o desempenho dos processos da organização. Geralmente os indicadores são utilizados para acompanhar e melhorar os resultados ao longo de um período. (FAZENDA; FELDMAN; RUTHES, 2010). Os indicadores possibilitam conhecer verdadeiramente a situação que se deseja modifi car, estabelecer as prioridades, escolher os benefi ciados, identifi car os objetivos e traduzi-los em metas e, assim, melhor acompanhar o andamento dos trabalhos, avaliar os processos, adotar os redirecionamentos necessários e verifi car os resultados e os impactos obtidos. Com isso, aumentam as chances de serem tomadas decisões corretas e de se potencializar o uso dos recursos. (SESI, 2010, p. 10). De acordo com Fazenda, Feldman e Ruthes (2010), os indicadores poderão apresentar algumas características específi cas, como: 64 Gestão da Qualidade Hospitalar • Exatidão: possibilidade mínima de erros; • Confi abilidade: as mesmas medidas podem ser obtidas de formas diferentes diante do mesmo evento; • Simplicidade: registros e medidas claros e objetivos; • Pertinência: está relacionada com o fenômeno ou critério examinado; • Validade: medir efetivamente o fenômeno ou critério; • Sensibilidade: detectar as variações no comportamento do fenômeno ou critério. Os indicadores são marcadores da situação de saúde, desempenho dos serviços ou disponibilidade de recursos para monitorar os objetivos. Fazenda, Feldman e Ruthes (2010) dividem os indicadores de saúde em três tipos: • Resultado: situação de saúde; • Processo: assistência à saúde; • Determinante: fatores comportamentais e conhecimento público. Você encontrará diversos tipos de indicadores na literatura que são voltados para a área da saúde ou utilizados pelos órgãos certifi cadores. A metodologia da utilização de indicadores tem sido cada vez mais utilizada pelos programas de qualidade, pois através dela é possível realizar o monitoramento das metas estabelecidas. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Este capítulo proporcionou compreender um pouco sobre as ferramentas de melhoria da qualidade que podem ser aplicadas aos sistemas de qualidade de instituições de saúde, objetivando melhorar a gestão das empresas. Outro aspecto relevante estudado foi o Método de Avaliação e Solução de Problemas, que com o PDCA apresenta excelentes resultados de gestão nas organizações. O objetivo deste capítulo não foi esgotar os assuntos tratados, mas sim fazer com que você entenda que as ferramentas apresentadas estão disponíveis e contribuem muito na gestão da qualidade. Embora a aplicabilidade dessas ferramentas tenha sido inicialmente nas indústrias, com o passar dos anos passaram a ser adotadas, também, no setor de serviços para melhorar os processos de trabalho. 6565 PADRONIZAÇÃO E AUDITORIA DA QUALIDADE HOSPITALAR Capítulo 3 Assim, sugere-se que você aprofundeseus conhecimentos com as leituras indicadas ao longo do capitulo. O próximo capitulo será dedicado à discussão sobre o gerenciamento de risco nas instituições de saúde. REFERÊNCIAS ALVES, V. L. de S. Gestão da qualidade: ferramentas utilizadas no contexto contemporâneo da saúde. São Paulo: Martinari, 2012. BOHOMOL, E. Padrões para avaliação da qualidade da assistência de enfermagem. In: D’ INOCENZZO, M. (Coord.). Indicadores, auditorias, certifi cações: ferramentas de qualidade para gestão em saúde. São Paulo: Martinari, 2010. CARPINETTI, L. C. et al. Gestão da qualidade ISSO 9000:2000: princípios e requisitos. São Paulo: Atlas, 2007. FAZENDA, N. R. dos R.; FELDMAN, L. B.; RUTHES, R. M. Programa de saúde da família: indicadores para a saúde da criança. In: D´ INOCENZZO, M. (Coord.). Indicadores, auditoria, certifi cações: ferramentas de qualidade para gestão em saúde. São Paulo: Martinari, 2010. LUONGO, J. Auditoria da qualidade. In: LUONGO, J. (Org.). Gestão da qualidade em saúde. São Paulo: Rideel, 2011. ______.; ROCHA, M. R. da. Métodos e instrumentos da qualidade. In: LUONGO, J. (Org.). Gestão da qualidade em saúde. São Paulo: Rideel, 2011. MALIK, A. M.; SCHIESARI, L. M. C. Qualidade e acreditação. In: VECINA NETO, G. Gestão em saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. MIRANDA, V. de M. Aspectos históricos da qualidade em Saúde. In: LUONGO, J. Gestão da qualidade em saúde. São Paulo: Rideel, 2011. NOGUEIRA, L. C. L. Gerenciando pela qualidade total na saúde. Belo Horizonte: Desenvolvimento Gerencial, 2003. OLIVEIRA, M. A. L. Documentação para a ISO 9000. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1994. 66 Gestão da Qualidade Hospitalar PAVANI JÚNIOR, O.; SCUCUGLIA, R. Mapeamento e gestão por processos – BPM. São Paulo: M. Books, 2011. RODRIGUES, M. V. et al. Qualidade e acreditação em saúde. Rio de Janeiro: FGV, 2011. SCARTEZINI, L. M. B. Análise e melhoria de processos. Goiânia, 2009. Disponível em: <https://goo.gl/5foH8>. Acesso em: 05 ago. 2016. SESI. Serviço Social da Indústria. Construção e análise de indicadores. Curitiba: [s.n.], 2010. SILVA, A. S. et al. A importância da documentação da qualidade para o setor produtivo: um estudo de caso. 2010. Disponível em: <https://goo.gl/ hgYWpk>. Acesso em: 05 ago. 2016. TJARA, S. F. Gestão estratégica na saúde: refl exões e práticas para uma administração voltada para a excelência. São Paulo: Iátria, 2010.
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